Muito boa essa montagem. O corte da cena do casal na varanda de sua cabine, querendo chocolate pra moça que faz o bolo, chorando, é maravilhoso.
Um pequeno adendo: as vezes reclamo dos usuários do filmow por alguns hábitos irritantes (do tipo assistir um filme de gênero e reclamar que é de gênero), mas uma galera no letterboxd deu nota baixa pra esse filme porque o casal americano era frívolo... Sinceramente, pessoas... Assim não dá.
Todo domingo minha esposa reclama que escolho um filme para desanuviar e acabamos chorando feito bebês. Nesse não foi diferente. Um dos melhores usos de loop temporal. E olha que tem sido um recurso quase esgotado de tanto uso. Maravilhoso e necessário.
Não dá pra ser muito imparcial quando o assunto retratado é um dos meus pintores favoritos. Mas que experiência interessante. Provavelmente é ainda mais legal em realidade virtual, mas fico satisfeita com um mouse arrastando no vimeo hahah
Clebs retrata um assunto "selvagem" com uma fotografia bastante delicada. A reflexão proposta é muito interessante e muito significativo que o filme consiga atrair atenção para ambas as causas defendidas. A quem se interessou, recomendo o longa de ficção White God.
Embora seja a ideia original, funciona melhor como animação em Paperman. Provavelmente pelas atuações serem um pouco caricatas. Mas um filme leve e bonitinho.
Mesmo que o final fosse completamente diferente, "A Fábrica" ainda teria de mim todas as estrelas possíveis. Uma história simples, não-apelativa, que emociona mais que quaisquer melodramas. A execução é impecável, inclusive a direção e atuação aqui são melhores que muitas das ditas "profissionais". Um filme fundamental para compreender essa realidade tão discrepante da nossa. Principalmente se nos atentarmos ao lado social da questão, ainda se desconsiderarmos o [cativante] desfecho: quem está ali, quem passa por dificuldades para fazer uma visita, quem são essas pessoas, essas famílias, o que elas têm em comum, etc. Sem dúvidas um belo exercício de compaixão e empatia. Somos colocados na pele dos personagens; sentimos os medos, as humilhações, a inquietação, o sacrifício, as angústias... Aliás, não tenho em mente agora filme mais angustiante.
Se você não se emocionar, é bem provável que não tenha nem resquícios de um coração.
Visibilidade com T maiúsculo René Guerra volta a retratar o submundo gay paulistano em grande estilo. O resultado só poderia ser “Babado, confusão e gritaria”.
“Quem tem medo de Cris Negão?” é um curta-documentário que relata a história de Cristiane Jordan (a Cris Negão), uma travesti cafetina que “reinou” nas ruas do centro velho da cidade de São Paulo; uma espécie de Poderoso Chefão desprovido do luxo, mas não com menos glamour. René Guerra torna a fazer um trabalho que rompe as barreiras do cinema para virar um trabalho social. Sim, social. Um cinema que se presta a pôr em tela um povo renegado de suas funções sociais, um povo que em muito não é considerado cidadão, carente em tantos sentidos, sobretudo carente de representação nos meios midiáticos, e portanto, carente de voz: os LGBTs, em especial os Ts. A luta por visibilidade vem há tempos e é árdua para quem tem sua orientação sexual rotulada como abominável e anormal; imagine então para aqueles cuja própria identidade ganha tal rótulo. As informações são escassas, e muitos ainda confundem a transexualidade, ou até o “travestismo” com orientação sexual. A maioria é renegada, posta de lado e acaba por criar uma cultura própria a qual possam pertencer. Guerra mergulha nessa cultura, exibindo sua riqueza e humanizando esses que, quando são representados, são como motivo de piadas preconceituosas ou na pele de assassinos psicóticos. Não bastasse o tema, Guerra também revoluciona na forma. O filme não se apresenta como um documentário qualquer disposto a contar uma história verídica; logo no início, a veracidade dos fatos narrados já são postos em xeque. Como em Jogo de Cena, de Coutinho, somos alertados da presença da câmera e da própria atuação, entrando na velha discussão que ainda move o cinema (não só documental), e as mídias no geral: a manipulação. Interessante atentar para a desromantização do objeto tratado. Cris, assassinada em setembro de 2007, era, acima de tudo humana, e sendo assim possuía diversas faces: o menino de rua, a cafetina, a “valentona” abusiva e até a “mãezona”. Isso tudo é explicitado nos depoimentos. Longe de ser uma visão dicotômica e maniqueísta, Cris não é beatificada a partir de sua morte; sua imagem polêmica e controversa desperta o carinho de muitas e, ainda assim, notável rancor, de outras e até das mesmas que sentem por sua injusta morte. “Quem tem medo de Cris Negão?” é um documentário repleto de momentos de humor (ainda que negro) e dramas, com muitos desses troques de farpas citados anteriormente que fornecem ao filme um ar digno de Almodóvar; um Almodóvar ainda mais renegado (me abstenho do trocadilho com o nome do diretor) da sociedade. As referências, porém, não param por aí. O próprio título já revela parte do que estar por vir; em uma referência não só a “Quem tem medo de Virgínia Woolf?”, mas a todo o subgênero que o acompanha, o Psycho-biddy. Também conhecido como Grande Dame Guignol, ou hagsploitation ou ainda hag horror, tal gênero se caracteriza por uma junção de humor negro, melodrama, vingança e “camp” (um kitsch extremado, geralmente ligado a drag queens), sempre demarcado pela instabilidade psicológica de sua protagonista, geralmente uma mulher mais velha que pode estar em perigo, ou em meio a uma grande intriga com outras, por amargura, rivalidade, inveja, ciúmes ou outros clichés femininos. Os títulos geralmente apresentam similaridades “What Ever Happened to Aunt Alice?”, “What's the Matter with Helen?”, “Whoever Slew Auntie Roo?”, dentre outros. Mas alguns, talvez menos obscuros podem ser englobados ao gênero como “Mamãezinha Querida” e até mesmo “Sunset Boulevard” (um exemplo bem mais pomposo). Embora desconhecido, tal gênero é sempre bem aceito e, em alguns casos como em Baby Jane e Mommie Dearest, idolatrado pela comunidade gay, alcançando o título de cult. “Quem tem medo de Cris Negão?” não só ressuscita o gênero, mas o transpõe com maestria para a contemporaneidade, com todos os elementos que o público alvo deseja ver em tela. Não seria exagero dizer que há um alto potencial de imortalizar-se como cult dentro do nicho a que pertence. Uma obra que deve, sem dúvidas, ser assistida por todos, sem restrições. Aguardemos ansiosos pelo próximo René Guerra, fazendo um trabalho que há muito deveria ser feito pelas “Globos” da vida.
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O Último Cruzeiro
3.3 8 Assista AgoraMuito boa essa montagem. O corte da cena do casal na varanda de sua cabine, querendo chocolate pra moça que faz o bolo, chorando, é maravilhoso.
Um pequeno adendo: as vezes reclamo dos usuários do filmow por alguns hábitos irritantes (do tipo assistir um filme de gênero e reclamar que é de gênero), mas uma galera no letterboxd deu nota baixa pra esse filme porque o casal americano era frívolo... Sinceramente, pessoas... Assim não dá.
O Chapeleiro Maluco
3.3 4Me ganhou na primeira parte. A segunda é boa também, mas a primeira é sensacional!
O Amigo do Meu Tio
3.6 3Como boa criança viada com crushes absurdos, me sinto representada.
Dois Estranhos
4.2 291 Assista AgoraTodo domingo minha esposa reclama que escolho um filme para desanuviar e acabamos chorando feito bebês. Nesse não foi diferente.
Um dos melhores usos de loop temporal. E olha que tem sido um recurso quase esgotado de tanto uso.
Maravilhoso e necessário.
Miss Chazelles
3.4 2Eu tava tão pronta pra favoritar...
Poxa, por que? Estamos em 2021. Pra que esse horroroso clichê? Fiquem juntas no final logo. Que saco.
Saturnism
3.3 2Não dá pra ser muito imparcial quando o assunto retratado é um dos meus pintores favoritos. Mas que experiência interessante. Provavelmente é ainda mais legal em realidade virtual, mas fico satisfeita com um mouse arrastando no vimeo hahah
Cães
3.7 2Clebs retrata um assunto "selvagem" com uma fotografia bastante delicada.
A reflexão proposta é muito interessante e muito significativo que o filme consiga atrair atenção para ambas as causas defendidas.
A quem se interessou, recomendo o longa de ficção White God.
Dawn of the Deaf
4.2 7Eu só quero viver em um mundo em que isso vire um longa com direito a sapatões heroínas e muito sangue.
Eu Tinha um Cachorro Preto
4.2 14Uma metáfora um tanto quanto pobre. Mas útil.
Sinais
4.4 283Embora seja a ideia original, funciona melhor como animação em Paperman. Provavelmente pelas atuações serem um pouco caricatas. Mas um filme leve e bonitinho.
As 7 Mortes de Pedro, o Menino Que Coleciona Crânios …
4.2 54Adoraria ver uma versão com um tratamento de cor um pouco mais bem trabalhado e menos lavado. Fora isso, um curta muito interessante.
O Galinho Ingênuo
4.2 18Duas palavras: Kim Kataguiri.
Hobo with a Shotgun
3.7 8O fake trailer é interessante, mas o longa é sensacional. Machete choraria.
A Fábrica
4.2 63 Assista AgoraMesmo que o final fosse completamente diferente, "A Fábrica" ainda teria de mim todas as estrelas possíveis. Uma história simples, não-apelativa, que emociona mais que quaisquer melodramas. A execução é impecável, inclusive a direção e atuação aqui são melhores que muitas das ditas "profissionais".
Um filme fundamental para compreender essa realidade tão discrepante da nossa. Principalmente se nos atentarmos ao lado social da questão, ainda se desconsiderarmos o [cativante] desfecho: quem está ali, quem passa por dificuldades para fazer uma visita, quem são essas pessoas, essas famílias, o que elas têm em comum, etc.
Sem dúvidas um belo exercício de compaixão e empatia. Somos colocados na pele dos personagens; sentimos os medos, as humilhações, a inquietação, o sacrifício, as angústias... Aliás, não tenho em mente agora filme mais angustiante.
Se você não se emocionar, é bem provável que não tenha nem resquícios de um coração.
Quem Tem Medo de Cris Negão?
3.8 16Visibilidade com T maiúsculo
René Guerra volta a retratar o submundo gay paulistano em grande estilo. O resultado só poderia ser “Babado, confusão e gritaria”.
“Quem tem medo de Cris Negão?” é um curta-documentário que relata a história de Cristiane Jordan (a Cris Negão), uma travesti cafetina que “reinou” nas ruas do centro velho da cidade de São Paulo; uma espécie de Poderoso Chefão desprovido do luxo, mas não com menos glamour.
René Guerra torna a fazer um trabalho que rompe as barreiras do cinema para virar um trabalho social. Sim, social. Um cinema que se presta a pôr em tela um povo renegado de suas funções sociais, um povo que em muito não é considerado cidadão, carente em tantos sentidos, sobretudo carente de representação nos meios midiáticos, e portanto, carente de voz: os LGBTs, em especial os Ts.
A luta por visibilidade vem há tempos e é árdua para quem tem sua orientação sexual rotulada como abominável e anormal; imagine então para aqueles cuja própria identidade ganha tal rótulo. As informações são escassas, e muitos ainda confundem a transexualidade, ou até o “travestismo” com orientação sexual. A maioria é renegada, posta de lado e acaba por criar uma cultura própria a qual possam pertencer.
Guerra mergulha nessa cultura, exibindo sua riqueza e humanizando esses que, quando são representados, são como motivo de piadas preconceituosas ou na pele de assassinos psicóticos. Não bastasse o tema, Guerra também revoluciona na forma. O filme não se apresenta como um documentário qualquer disposto a contar uma história verídica; logo no início, a veracidade dos fatos narrados já são postos em xeque. Como em Jogo de Cena, de Coutinho, somos alertados da presença da câmera e da própria atuação, entrando na velha discussão que ainda move o cinema (não só documental), e as mídias no geral: a manipulação.
Interessante atentar para a desromantização do objeto tratado. Cris, assassinada em setembro de 2007, era, acima de tudo humana, e sendo assim possuía diversas faces: o menino de rua, a cafetina, a “valentona” abusiva e até a “mãezona”. Isso tudo é explicitado nos depoimentos. Longe de ser uma visão dicotômica e maniqueísta, Cris não é beatificada a partir de sua morte; sua imagem polêmica e controversa desperta o carinho de muitas e, ainda assim, notável rancor, de outras e até das mesmas que sentem por sua injusta morte.
“Quem tem medo de Cris Negão?” é um documentário repleto de momentos de humor (ainda que negro) e dramas, com muitos desses troques de farpas citados anteriormente que fornecem ao filme um ar digno de Almodóvar; um Almodóvar ainda mais renegado (me abstenho do trocadilho com o nome do diretor) da sociedade. As referências, porém, não param por aí. O próprio título já revela parte do que estar por vir; em uma referência não só a “Quem tem medo de Virgínia Woolf?”, mas a todo o subgênero que o acompanha, o Psycho-biddy.
Também conhecido como Grande Dame Guignol, ou hagsploitation ou ainda hag horror, tal gênero se caracteriza por uma junção de humor negro, melodrama, vingança e “camp” (um kitsch extremado, geralmente ligado a drag queens), sempre demarcado pela instabilidade psicológica de sua protagonista, geralmente uma mulher mais velha que pode estar em perigo, ou em meio a uma grande intriga com outras, por amargura, rivalidade, inveja, ciúmes ou outros clichés femininos. Os títulos geralmente apresentam similaridades “What Ever Happened to Aunt Alice?”, “What's the Matter with Helen?”, “Whoever Slew Auntie Roo?”, dentre outros. Mas alguns, talvez menos obscuros podem ser englobados ao gênero como “Mamãezinha Querida” e até mesmo “Sunset Boulevard” (um exemplo bem mais pomposo). Embora desconhecido, tal gênero é sempre bem aceito e, em alguns casos como em Baby Jane e Mommie Dearest, idolatrado pela comunidade gay, alcançando o título de cult.
“Quem tem medo de Cris Negão?” não só ressuscita o gênero, mas o transpõe com maestria para a contemporaneidade, com todos os elementos que o público alvo deseja ver em tela. Não seria exagero dizer que há um alto potencial de imortalizar-se como cult dentro do nicho a que pertence. Uma obra que deve, sem dúvidas, ser assistida por todos, sem restrições.
Aguardemos ansiosos pelo próximo René Guerra, fazendo um trabalho que há muito deveria ser feito pelas “Globos” da vida.