O filme é sobre a total desesperança no mundo. Em meio a tanta violência e miséria, o olhar contemplativo de Rosa ultrapassa o período histórico e nos convida pensar que nada mudou desde quando ela era uma menininha no campo de concentração. Os imigrantes ilegais de hoje são tratados de uma forma brutal que se naturaliza no olhar de Momo. A sua explosão violenta não passa de um mecanismo de defesa em um mundo que ele sabe que não é bem-vindo. Madame Rosa apresenta a Momo sua ideia de felicidade: uma fotografia velha de uma casa ao meio de árvores floridas. Pela imagem nem sabemos se de fato aquilo existiu um dia. E quando Momo tenta presentear Rosa com essa ideia de felicidade, ele encontra apenas um ramo falso de plástico. O presente de plástico, a ajuda nos últimos dias, o afeto, a amizade construída naquele ambiente são as coisas boas acontecendo em um mundo onde ninguém tem mais esperança.
Em um certo momento, Marianne Renoir diz que a vida poderia ser ordenada como num livro. A vida é sempre arbitrária, sem lógica e ordem, somos reféns e por mais que tentemos controlar, ela mais parece um trem desgovernado: perdemos emprego, amores, as pessoas morrem e quando relembramos, mesmo assim, é difícil estabelecer uma linearidade. O filme em questão tenta ser arbitrário. Essa é a tentativa. Ele sempre faz questão de mostrar que é um filme, mostrando cenas pastelãs e cenas de ação. Mas nela não há linearidade. O fato nem é possível saber se tudo aquilo é real ou apenas lapsos de sonhos e pensamentos. No inicio do filme, nas festa dos sogros do protagonista, as pessoas tem conversas vazias, supérfluas e sem coloração. Como na maioria dos filmes convencionais de massa, como, também, na vida de modo geral. No caso do filme convencional, as conversas são fúteis e a história é ordenada. Godard subverte tudo ao colocar uma história cheia de arbitrariedades, sem ordem lógica, carregada de cenas de ação, com carros em movimentos, roubos, assaltos e assassinatos, intercalados com conversas profundas, existenciais. Em Pierrot, le fou a loucura está na inversão de dimensões. Não é possível saber o que é real, imaginado ou cinema.
“Não sei se a vida é pouco ou demais para mim. Não sei se sinto de mais ou de menos, não sei (...) Seja o que for, era melhor não ter nascido, Porque, de tão interessante que é a todos os momentos, A vida chega a doer, a enjoar, a cortar, a roçar, a ranger, A dar vontade de dar gritos, de dar pulos, de ficar no chão, de sair Para fora de todas as casas, de todas as lógicas e de todas as sacadas, E ir ser selvagem para a morte entre árvores e esquecimentos” (Fernando Pessoa)
Sentir-se vivendo em absurdo. Saber que não há outra escapatória e perceber que com o fim dos estudos a carreira, o dinheiro, o automóvel lhe aguardam para aprisionar.
Ter a consciência de que isso não irá trazer a felicidade e tampouco explicará o sentido da vida. Então, a decisão mais coerente é correr em direção contrária a isso tudo. Escapar das obrigações, dos laços familiares, dos papéis sociais, das máscaras, em suma, de todas as correntes invisíveis e visíveis que nos envolvem. É um filme sobre um ambicioso e de tão ambicioso que a vida em sociedade não é suficiente. É também sobre a constante fuga porque a cada parada novos laços afetivos e novas despedidas dolorosas. Deixar tudo para trás é um exercício que se renova e requer muita coragem. É a história de alguém que saiu para fora de todas as casas e de todas as lógicas. Que foi ser selvagem entre árvores. Mas que não conseguiu o esquecimento. Tornou-se um mito, um herói, um mártir em que no fundo todos sonham em ser como Alex Supertramp.
"As casas espiam os homens que correm atrás de mulheres. A tarde talvez fosse azul, não houvesse tantos desejos" (Carlos Drummond)
É um filme sobre desejos. Desejos ora reprimidos, ora consumidos. Desejos interrompidos. A tarde desse filme não é azul, é vermelha de desejos. Um desejo que se contrapõe à liberdade.
Julie decide não desejar a mais nada, não se apegar à nada. Isso seria uma vida de suprema liberdade. Sem ao menos desejar, ela se viu livre de todos os papéis, livre de ser mãe, esposa, de possuir laços familiares, livre de ocupar a função de mulher na sociedade. Julie encontrou-se numa encruzilhada: suicidar-se e negar a vida e a liberdade imposta ou agarrar-se ao novo que lhe apresenta sabendo que o preço dessa liberdade é o sofrimento e a responsabilidade de si mesmo. Para vivenciar plenamente a liberdade é preciso conviver com o medo, o medo do desconhecido, da solidão frente à violência das ruas, da natureza e os seus ratos. Para superar isso tudo, será necessário a entrada do outro em sua vida o que implica a ameaça a liberdade.
Filme sobre a luta contra a natureza mesma e contra a natureza humana pela sobrevivência. É preciso superar a dor presente e a dor passada para continuar lutando. É um filme sobre sofrimento físico e sofrimento psicológico. É um filme sobre paixões: dor, fome, raiva, medo, coragem e até mesmo generosidade.
A formação norte-americana ocorreu de certo modo sob o intuito de garantir os direitos individuais. Emigraram da Inglaterra para construir uma nova sociedade comunitária. A fidelidade à comunidade que futuramente constituir-se-á numa fidelidade à pátria e a defesa absoluta ao direito de escolha acarretará num país extremamente nacionalista com seus cidadãos fortemente armados. O imaginário, da época do velho oeste onde todos eram juízes policiais e executores, ainda persiste nas consciências dos americanos. Vemos em Sniper como se constrói uma máquina de guerra fortemente letal. Não estou me referindo à indústria bélica mais poderosa do mundo, trata-se, na realidade, ao Chris Kyle, que foi treinado desde criança a pegar em armas e a ter precisão com elas. Criado num mundo rural, cresceu sem um nível crítico mais aprofundado sobre o papel que seu país tem na política internacional.
Respondendo às adversidades que se apresentam de forma agressiva, Kyle entende que seu país está ameaçado e se voluntaria no exército para defender sua comunidade.
Esse é o mote de Sniper. O filme retrata a sociedade americana muito além do que possivelmente pretende. A vida desse herói nacional acumula uma série de elementos que sintetizam e explicam a sociedade americana. Clint Eastwood não faz uma crítica à guerra diretamente, não apresenta cenas que mostram a contradição da sociedade. No entanto, apresenta elementos cruciais para que o público por ele mesmo entenda quais são os fenômenos formadores daquela nação.
É um filme sobre auto descobrimento. Nada melhor do que a estrada para ensinar. É preciso superar traumas, enfrentar os medos e, sobretudo, buscar um sentido para a vida. Mais importante do que a chegada é a experiência da travessia, como já dizia Guimarães Rosa. Pé na estrada e caderno na mão: não há formula mais simples e eficiente para perceber o quão maravilhoso e ao mesmo tempo milagroso é a vida.
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Rosa e Momo
3.7 302 Assista AgoraMadame Rosa, deitada em sua cama, proclama a máxima central do filme para Momo: “É quando se perde a esperança que coisas boas acontecem”.
O filme é sobre a total desesperança no mundo. Em meio a tanta violência e miséria, o olhar contemplativo de Rosa ultrapassa o período histórico e nos convida pensar que nada mudou desde quando ela era uma menininha no campo de concentração. Os imigrantes ilegais de hoje são tratados de uma forma brutal que se naturaliza no olhar de Momo. A sua explosão violenta não passa de um mecanismo de defesa em um mundo que ele sabe que não é bem-vindo.
Madame Rosa apresenta a Momo sua ideia de felicidade: uma fotografia velha de uma casa ao meio de árvores floridas. Pela imagem nem sabemos se de fato aquilo existiu um dia. E quando Momo tenta presentear Rosa com essa ideia de felicidade, ele encontra apenas um ramo falso de plástico. O presente de plástico, a ajuda nos últimos dias, o afeto, a amizade construída naquele ambiente são as coisas boas acontecendo em um mundo onde ninguém tem mais esperança.
O Demônio das Onze Horas
4.2 430 Assista AgoraEm um certo momento, Marianne Renoir diz que a vida poderia ser ordenada como num livro. A vida é sempre arbitrária, sem lógica e ordem, somos reféns e por mais que tentemos controlar, ela mais parece um trem desgovernado: perdemos emprego, amores, as pessoas morrem e quando relembramos, mesmo assim, é difícil estabelecer uma linearidade.
O filme em questão tenta ser arbitrário. Essa é a tentativa. Ele sempre faz questão de mostrar que é um filme, mostrando cenas pastelãs e cenas de ação. Mas nela não há linearidade. O fato nem é possível saber se tudo aquilo é real ou apenas lapsos de sonhos e pensamentos.
No inicio do filme, nas festa dos sogros do protagonista, as pessoas tem conversas vazias, supérfluas e sem coloração. Como na maioria dos filmes convencionais de massa, como, também, na vida de modo geral. No caso do filme convencional, as conversas são fúteis e a história é ordenada.
Godard subverte tudo ao colocar uma história cheia de arbitrariedades, sem ordem lógica, carregada de cenas de ação, com carros em movimentos, roubos, assaltos e assassinatos, intercalados com conversas profundas, existenciais. Em Pierrot, le fou a loucura está na inversão de dimensões. Não é possível saber o que é real, imaginado ou cinema.
Na Natureza Selvagem
4.3 4,5K Assista Agora“Não sei se a vida é pouco ou demais para mim.
Não sei se sinto de mais ou de menos, não sei
(...)
Seja o que for, era melhor não ter nascido,
Porque, de tão interessante que é a todos os momentos,
A vida chega a doer, a enjoar, a cortar, a roçar, a ranger,
A dar vontade de dar gritos, de dar pulos, de ficar no chão, de sair
Para fora de todas as casas, de todas as lógicas e de todas as sacadas,
E ir ser selvagem para a morte entre árvores e esquecimentos” (Fernando Pessoa)
Sentir-se vivendo em absurdo. Saber que não há outra escapatória e perceber que com o fim dos estudos a carreira, o dinheiro, o automóvel lhe aguardam para aprisionar.
Ter a consciência de que isso não irá trazer a felicidade e tampouco explicará o sentido da vida. Então, a decisão mais coerente é correr em direção contrária a isso tudo. Escapar das obrigações, dos laços familiares, dos papéis sociais, das máscaras, em suma, de todas as correntes invisíveis e visíveis que nos envolvem. É um filme sobre um ambicioso e de tão ambicioso que a vida em sociedade não é suficiente. É também sobre a constante fuga porque a cada parada novos laços afetivos e novas despedidas dolorosas. Deixar tudo para trás é um exercício que se renova e requer muita coragem. É a história de alguém que saiu para fora de todas as casas e de todas as lógicas. Que foi ser selvagem entre árvores. Mas que não conseguiu o esquecimento. Tornou-se um mito, um herói, um mártir em que no fundo todos sonham em ser como Alex Supertramp.
A Liberdade é Azul
4.1 650 Assista Agora"As casas espiam os homens
que correm atrás de mulheres.
A tarde talvez fosse azul,
não houvesse tantos desejos" (Carlos Drummond)
É um filme sobre desejos. Desejos ora reprimidos, ora consumidos. Desejos interrompidos. A tarde desse filme não é azul, é vermelha de desejos. Um desejo que se contrapõe à liberdade.
Julie decide não desejar a mais nada, não se apegar à nada. Isso seria uma vida de suprema liberdade. Sem ao menos desejar, ela se viu livre de todos os papéis, livre de ser mãe, esposa, de possuir laços familiares, livre de ocupar a função de mulher na sociedade. Julie encontrou-se numa encruzilhada: suicidar-se e negar a vida e a liberdade imposta ou agarrar-se ao novo que lhe apresenta sabendo que o preço dessa liberdade é o sofrimento e a responsabilidade de si mesmo. Para vivenciar plenamente a liberdade é preciso conviver com o medo, o medo do desconhecido, da solidão frente à violência das ruas, da natureza e os seus ratos. Para superar isso tudo, será necessário a entrada do outro em sua vida o que implica a ameaça a liberdade.
O Regresso
4.0 3,5K Assista AgoraFilme sobre a luta contra a natureza mesma e contra a natureza humana pela sobrevivência. É preciso superar a dor presente e a dor passada para continuar lutando. É um filme sobre sofrimento físico e sofrimento psicológico. É um filme sobre paixões: dor, fome, raiva, medo, coragem e até mesmo generosidade.
Sniper Americano
3.6 1,9K Assista AgoraA formação norte-americana ocorreu de certo modo sob o intuito de garantir os direitos individuais. Emigraram da Inglaterra para construir uma nova sociedade comunitária. A fidelidade à comunidade que futuramente constituir-se-á numa fidelidade à pátria e a defesa absoluta ao direito de escolha acarretará num país extremamente nacionalista com seus cidadãos fortemente armados. O imaginário, da época do velho oeste onde todos eram juízes policiais e executores, ainda persiste nas consciências dos americanos. Vemos em Sniper como se constrói uma máquina de guerra fortemente letal. Não estou me referindo à indústria bélica mais poderosa do mundo, trata-se, na realidade, ao Chris Kyle, que foi treinado desde criança a pegar em armas e a ter precisão com elas. Criado num mundo rural, cresceu sem um nível crítico mais aprofundado sobre o papel que seu país tem na política internacional.
Respondendo às adversidades que se apresentam de forma agressiva, Kyle entende que seu país está ameaçado e se voluntaria no exército para defender sua comunidade.
Esse é o mote de Sniper. O filme retrata a sociedade americana muito além do que possivelmente pretende. A vida desse herói nacional acumula uma série de elementos que sintetizam e explicam a sociedade americana. Clint Eastwood não faz uma crítica à guerra diretamente, não apresenta cenas que mostram a contradição da sociedade. No entanto, apresenta elementos cruciais para que o público por ele mesmo entenda quais são os fenômenos formadores daquela nação.
Livre
3.8 1,2K Assista AgoraÉ um filme sobre auto descobrimento. Nada melhor do que a estrada para ensinar. É preciso superar traumas, enfrentar os medos e, sobretudo, buscar um sentido para a vida. Mais importante do que a chegada é a experiência da travessia, como já dizia Guimarães Rosa. Pé na estrada e caderno na mão: não há formula mais simples e eficiente para perceber o quão maravilhoso e ao mesmo tempo milagroso é a vida.