Pra vocÊs verem o que é a memória: eu lembrava desse filme como sendo mó denso, bem amarrado, assustador... daí reassisti outro dia e percebi que a motivação de Spence em liberar o T-Virus é ridícula, o modus operandi dele é bizarro, a amnésia dele não faz sentido (a de Alice até faz) e a quantidade de insanidades nas cenas de ação é ridiculamente engraçada. O filme me divertiu mas... né? Não dá pra confiar na memória.
Às vezes a gente esquece que o foco principal de todo filme é, ou deveria ser, contar uma história. E quanto a isso, ninguém pode reclamar de "The Captive": o filme conta a história do sequestro de Cass, o impacto em seus pais, a investigação da polícia e das pessoas envolvidas nessa busca.
O ritmo, indo e voltando na linha do tempo, foi um acerto: uma vez que a gente começa o filme já sabendo que Cass está viva e quem é seu sequestrador, o quebra-cabeças que temos que montar é do que está acontecendo, na verdade. Nesse sentido, o filme ainda "pega leve" com alguns didatismos
- afinal, estamos falando de um thriller que traz um final feliz, a solução de um caso no final, se fosse linear demais a tensão podia se dissipar
.
Gostei de como as cenas curtas e com pouco movimento foram o trabalhadas do jeito certinho pra entregar o que a gente precisa saber das personagens ao mesmo tempo que a história é contada. E as atuações são boas o suficiente pra plantar uma dúvida a
té a respeito do envolvimento de Matt e Jeff com a rede de pedofilia
. Todas as atuações são muito boas, até a falta de informação a respeito dessa rede de criminosos faz com a personalidade doentia de Mika assuste de verdade.
Até o que não costumo gostar em filmes, como o uso da trilha sonorara pra inflar uma cena com emoção, aqui me pareceu cair bem. A falta que senti aqui foi de um trama maior do que a história contada. Digo, gostei de como "The Captive" não fala apenas de como Cassandra é cativa de uma sequestrador, mas de como todos envolvidos no seu caso se tornam cativos de algo também, claro -
Matt da culpa, Tina da dor, Nicole de sua importência diante das crianças que passam pelo que ela sofreu, Jeff da raiva pelos casos que não solucionou... até Mika também, se mostra cativo de seu vazio e de sua solidão (é patética a cena dele buscando um amigo no chefe e parceiro criminoso, Vince)
. Mas essa falta fala menos de uma falha do filme e mais sobre a pretensão que projetei nela, o que é bom. Não se trata do melhor filme do gênero, mas é sem sombra de dúvida um bom filme.
MEUDEUS DO CÉU QUE COMÉDIA ROMÂNTICA MARAVILHOSA! Constrangimento, impulso, vacilo, coincidências, química, boa vontade, risadas e amor. É meio que tudo que a gente espera de um filme do gênero e "Man Up" entrega com perfeição. E com uma mensagem necessária, essa coisa de olhar para o futuro sempre com esperança, né? Simon Pegg ótimo como sempre, e nem tenho o que falar de Lake Bell que mal conheci e já considero pacas. Em uma época em que praticamente toda comédia romântica tem uma base dramática pesada, esse filme trata de seu peso emocional com muito humor autodepreciativo - o que é ótimo, porque se chorar expurga os males, a risada ajuda a afastá-los também, hahaha. Só não dou cinco estrelas porque
Vamo combinar: o raio pode até cair duas vezes no mesmo lugar, mas três já é demais. "First Class" fez o que ninguém esperava ao trazer novos ares à franquia X-Men no cinema, e "Days of Future Past" surpreendeu ainda mais ao elevar o nível da história, amarrando todos os pontos. Uma hora a bola ia cair, e essa hora foi "Apocalypse".
Depois de dois filmes focando na problemática do passado, "Apocalypse" até segue bem a resposta dada no filme anterior, apontando para o futuro. Mas a forma como faz isso é bem aquém do possível:
as novas personagens são pouco desenvolvidas (noves fora a origem da mutação de Scott e o efeito que o despertar de Apocalypse tem em Jean, todo mundo ali é estranho - e isso é um crime quando temos personagens tão complexas como Tempestade e Noturno em tela) e vemos um vilão vazio em termos de personalidade (o que joga no lixo o talento de Oscar Isaac)
. As únicas compreensões mais profundas que conseguimos ter aqui são sobre Charles, Mística e Magneto. Ainda assim, menos pelo filme em si, mais pelo significado dele no arco narrativo dessas personagens que acompanhamos já há três filmes. E isso é pouco pra um filme que envolve tantas personagens e artistas cheias de potencial.
o arco de Erik nesse filme é todo maravilhoso. Do massacre na floresta, passando pela destruição de Auschwitz, não tem como não se arrepiar. Evan Peters também quebra de uma forma ótima o humor característico de seu personagem quando necessário, o impacto da falta do pai é enorme nele. A situação do Charles e toda sua posição ~~conciliadora~~ fizeram mais sentido pra mim diante desse filme. Afinal, se ele tem acesso às mentes, ele consegue ver e sentir os processos emocionais e psiquícos por trás de todos os atos, mesmo os mais abomináveis. Daí a dor dele ser tanta, daí a pena dele ser tanta. Fiquei curioso pra saber o que será de Magneto no futuro, uma vez que a Mística assumiu o que era a bandeira dele na causa mutante, né? Xavier educa a galera pra ser diplomata e controlada, Raven os treina pra serem soldados quando necessários.
De modo geral, o filme é legal, é divertido, as lutas são legais, a chegada de Mercúrio na mansão é maravilhosa, e como eu esperava essa queda de nível nem chega a ser decepcionante. Só me faz pensar que pros X-Men serem tratados propriamente, com a profunidade que tem, a FOX vai precisar se virar pra pensar em formatos - séries, filmes spin-off acompanhando apenas parte da equipe, o que for.
Me surpreendi. O estilo, essa aparência meio reality que o texto, a cinematografia e as interpretações passaram, tudo faz muito sentido para expor o contraste entre a realidade banal, cotidiana, comum do set de filmagem e o resultado poético, extraordinário que filmes geralmente criam em si (e o formato "slice of life" ajuda bastante, fazendo um recorte bem definido de um dia somente, sem muita explicação do que rolou antes nem muita elucubração final sobre o que vai rolar depois). Além disso, toda a situação envolvendo sentimento e atuação, que extrapola o teatro ou cinema, né? A dúvida que Zoe tem depois de ser beijada por Mal nos bastidores certamente bate na cabeça de todo mundo em algum momento da vida, seja depois de um beijo ou não: "será que aquela pessoa tava sendo honesta quando falou/fez aquilo?".
Não achei o ritmo lento, achei na verdade tudo no filme bem real - seja pelo joguete da amiga querendo ver o casal reatando, seja pelas reações pouco lineares de ambas. Contou uma boa história, verossímil, possível e tocante, sem pretensões universalizantes ou irreais. Gostei, mesmo.
O que me incomodou foi a presença exclusiva de pessoas brancas na história, como se não houvessem mulheres negras realizando e produzindo filmes lésbicos nos EUA - noves fora o fato de todo mundo ali ser bem padrãozinho modelo. Mas o filme é legal :)
Que filme gostoso de assistir numa tarde de feriado, hahahaha. Filme B de sci-fi seguindo a receita clássica do gênero: roteiro com furos, poucas personagens, poucos cenários e um monte de cena de ação deliciosamente sem sentido.
Em condições normais, entretanto, o filme pode incomodar muito: aparentemente, os únicos humanos capazes de sobreviver são caucasianos e heterossexuais, e a única ~~língua antiga~~ lembrada é o inglês (ao qual se referem como A LÍNGUA ANTIGA, não "uma" das línguas antigas).
1,5 estrelas pela Kate (porque é legal ver uma personagem feminina nesse lugar de "heroína capaz de tudo", por mais que as cenas sejam mentirosas), pelo Kevin Sorbo e pelo argumento que me cativou até certa altura, rs.
Que comédia gostosa, viu? E o fato de cada ato ser praticamente uma história diferente faz com que você consiga rir de todas as situações sem saturar nenhuma delas, evitando a repetição. Nunca tinha assistido nada de Dany Boon, mas adorei o jeito que ele faz comédia física aqui. A piada do passaporte do Jean Valjean foi sensacional, hahahaha.
Gosto muito de escrever análises sobre as coisas que assisto aqui no Filmow, geralmente conheço gente bacana e travo debates enriquecedores agindo dessa forma. E, caramba, "Lemonade" é uma obra de arte como há tempos não se vê. Só que eu não tenho condições, não tenho estrutura de racionalizar cada sentimento e flash de pensamento que me atravessou ao longo dos 60 minutos desse filme. Acho que nunca vi uma parada tão completa na minha vida: pessoal e coletiva, íntima e pública, destruidora e revigorante, experimental e popular, tudo ao mesmo tempo. Que maravilha. Que maravilha <3
Que problema esse curta. Porque a luta aí não é entre razão e emoção, nem entre "gentileza" e "agressividade" como o poster dá a entender, mas sim entre duas personalidades distintas
- afinal, o que tem de "gentil" em falar sobre gases no primeiro encontro (honestidade, talvez, mas gentileza?) ou de agressivo em convidar pra dançar?
, sendo o lado azul do cérebro do cara o lado mais polido e, ao mesmo tempo, sem trato social, e o lado vermelho é o mais safo e também o mais compulsivo sexualmente. Já a única vez que os lados da mulher aparecem são pra concordar em casar naquele momento, ao que os dois lados do cara respondem querendo FUGIR?
Sério que vocês não vem estereótipos de gênero nisso aí?
1,5 porque o começo bobinho diverte e a animação é bem feita.
Uma coisa que sempre valorizei foram filmes que conseguem abordar situações complexas sem necessariamente precisar de um apêndice pra você entendê-la. Obras com camadas, que falam tanto invidivualmente quanto coletivamente. E "Dear White People" dá uma aula de como fazer isso.
Porque, na verdade, não é um filme sobre racismo. É um filme sobre pessoas negras na universidade, ponto. Foi com essa premissa que o filme foi atrás de financiamento colaborativo pelo Kickstarter, "fazer um college film com personagens negras de verdade". Invariavelmente, o racismo é uma questão que essas personagens lidam, mas não torna o filme sobre ele.
O filme é sobre Sam, Lionel, Coco e Troy. E uma grande vitória dele é não pretender usar essas personagens pra falar por ninguém.
Ele é bem fiel ao estilo de college films, na estética noventista e indie, no humor em alguns momentos bem escrachado (como na cena da bilheteria do cinema) e principalmente ao abordar estereótipos identificáveis, com quem a audiência pode se relacionar ou relacionar pessoas que conhece, mas rompe um pouco ao não encerrar a história com o fim dos acontecimentos da festa, sem apresentar um final feliz para todos. Sam ainda tem suas questões pessoais a tratar e vai lidar com o julgamento de seus colegas de militância, Coco tem um monte de ódio si ainda dentro de seu coração e que ela pelo visto vai conseguir capitalizar, Troy se mantém na corda-bamba de suas contradições convenientes de "ser como eles" ou ser como o pai quer que seja. Por mais que a audiência enfrente situações parecidas, esse filme não se pretende etnográfico, não pretende falar por ninguém.
E isso é ótimo! Porque num mundo em que #BlackLivesMatter e #OscarsSoWhite precisam existir, essa é uma forma necessária de lembrar que cada pessoa é um mundo, e colocar meia dúzia de personagens negras em filmes de uma indústria dominada por pessoas brancas, com um tom de "pronto, se vejam aqui, tá ótimo" não resolve problema nenhum de representatividade.
Em termos de militância, ele bate certo demais nos aspectos identitários.
Porque se a gente encara identidade como uma coisa por si fragmentada, pouco harmonioosa e coerente, no contexto da clivagem racial estadunidense é pior ainda. Sam, militante aguerrida, que não abaixa a cabeça, mas que precisa se proteger dentro de uma carapaça pra dormir à noite - a carapaça que a blinda de questionamentos a respeito de sua negritude através do silenciamento de partes de si. Ou Troy, que trabalha pra construir uma carreira acadêmica e política, e por isso não pode assumir ser um trekker (branco demais pra um líder comunitário negro) nem uma relação com uma mulher negra (negro demais pra um representante institucional burguês).
Aliás, é sensacional a forma como o filme crítica esse modo impessoalizado de se fazer política.
Porque as três figuras que trabalham institucionalmente nesse meio no filme são Sam, Troy e Reggie. Ela, não se conecta pessoalmente com ninguém de sua equipe, nem ninguém que ela devia representar; Troy nem sabe direito porque está ali, só faz o que é mandado porque é conveniente pra suas aspirações pessoas que resumem, basicamente, a ser popular, admirado e famoso; Reggie, que manobrou ilegalmente a votação pra eleger Sam e depois a pressionou pra fazer a manifestação, pouco se importou quando viu a colega na sua frente prestes a cair no choro - a pergunta não foi "você tá bem?", foi "você tá pronta (pro protesto)?". Isso faz muito sentido no contexto acadêmico, porque as pessoas até se aproximam de você pessoalmente, mas só enquanto você aparenta ser um ~~recurso político~~ interessante. A política institucional é feita disso, pelo visto: ou você tem objetivos pouco nobres, ou práticas excusas, ou ambos (e, no processo, nenhum respeito às pessoas de modo geral, nenhuma responsabilidade por seu impacto individual e coletivo sobre elas).
Daí é sensacional que o grande incomodado com a festa tenha sido Lionel. Porque ele, do alto de sua posição apolítica, é que dentro da festa percebe o tamanho daquele disparate e de como não pode ficar parado diante daquilo. E vai fazer o que precisa ser feito. Curioso que, no final das contas, as 4 personagens se sentiram ofendidas com a festa, e cada uma agiu à sua maneira: Troy deu uma forma de capitalizar-se politicamente, Lionel foi a faísca que iniciou a manifestação, Sam botou lenha na fogueira para aumentar a cena e Coco continuou mentindo pra si pra se sentir aceita em uma sociedade que a exclui. Nenhuma das personagens é vilanesca ou donzelesca, e isso é ótimo. São pessoas, com qualidades, defeitos e contradições infinitas, como todo mundo que assiste.
E representatividade é justamente sobre isso, né? Olhar pra tela e pensar "essa não é minha vida, mas poderia muito bem ser"? Belíssima jogada. Aplaudo de pé.
É difícil falar qualquer coisa nova sobre um clássico do cinema, talvez até impossível. O lance de como o suspense é psicológico em Hitchcock, o papel de cúmplice que o espectador assume na história intromissão de Jefferies, a métafora das relações, tudo já foi dito. E o fato de mesmo 50 anos depois de seu lançamento, tendo influenciado uma série de cineastas e filmes, ele ainda tocar quem o assiste, envolvendo em sua narrativa e estética, é um primor. Obra de arte mesmo.
Me chamou atenção o quanto a janela indiscreta do Jefferies tem muito da nossa condição atual nas redes sociais. É um voyeurismo generalizado, sustentado por um exibicionismo sem fim. E todo mundo criando um monte de historinha na cabeça, usando as carinhas do feed de notícias do Facebook como personagem.
Legal a relação metafórica do filme com as relações amorosas que Ari apontou em seu comentário (https://filmow.com/comentarios/4974198/). O que me tocou muito também foi a afirmação de que nenhuma certeza humana é permanente, que o que faz a pessoa e as relações são os momentos e que um segundo pode mudar tudo
: o casal que se amava enlouquecidamente e começa a brigar porque o marido largou o emprego, a bailarina que ~~vivia em excessos~~ até o amor de sua vida voltar do exército, o próprio assassino que em um momento foi tão atencioso com o cachorro da vizinha e depois o assassinou... e, claro, a "Srta. Solitária", que desiste do suicídio ao ouvir a música do vizinho tocando. Sem contar no próprio casal principal, né? Que inicialmente envolve Jefferies com uma perna quebrada, e nem um pouco disposto a casa com Lisa por considerá-la "perfeita demais"... até que ela viola a lei, embarca em suas louca investigação, se muda de vez pra sua casa e fica do seu lado (enquanto ele, quase casado, tá com as duas pernas quebradas, dormindo e alheio à vida dos outros agora que tem satisfação na sua própria vida).
É até difícil comentar, rs. Porque o filme não é nada diferente do que promete: um besteirol baseado em um dos piores filmes dos últimos tempos. Consegue arrancar algumas risadas sim, mas é difícil tirar risadas de diversão escrachando mais ainda a ruindade de uma história que já causa risadas por aversão.
O hype anterior levantou minha sobrancelha e o pau que a crítica desceu no filme na época do lançamento me parecia bem fundamentado. Resultado: assisti o filme com as expectativas sob controle e, gente, não é que curti?
Em "Homem de Aço" Snyder tentou colocar em prática a proposta de criar um universo de super-heróis que fosse também sombrio e verossímil. Lá ele falhou estrondosamente, a meu ver. Aqui, a mão parece ter acertado mais
: as personagens principais FAZEM SENTIDO com seus nortes morais e conflitos, o protagonismo do Batman (não do Bruce Wayne, importante frisar) detetive à moda antiga e a própria atuação de Jesse Eisenberg como um Lex Luthor inteiramente novo e nitidamente psicótico, é tudo bem bom. Ver Batman e Superman, dois super heróis com modos de ação bem distintos, se unindo a partir da dor que compartilham em questões familiares foi bonito também.
A discussão sobre poder que o longa traz é interessante.
Confesso que achei a cena de Bruce ~~flutuando~~ junto aos morcegos no começo bastante irritante e me afastou na primeira vez que tentei assistir. Mas na segunda tentativa passei por cima disso e não me arrependo. A Lois Lane também me irritou, como havia feito em "Homem de Aço". É impressionante como essa personagem é horrível e Amy Adams consegue fazer ela ainda pior. Sorte que a Mulher Maravilha tá aí pra salvar o dia.
Filme bem bacana, divertido, coerente e que cumpre bem sua proposta.
A única coisa que não me desceu muito bem foi a motivação do Luthor. Digo, okay, deu pra sacar que ele tem probleminha mental e quer ver o circo pegar fogo. Mas ele não é um Coringa do Nolan, não é um agente do caos, não é uma entidade - é uma pessoa. Fiquei com a impressão de que vão desenvolver isso melhor depois. E tomara mesmo. Eu, que nunca fui lá grande fã da DC e nem fiquei ansioso pra ver esse filme antes, estarei no aguardo.
É bem comum ver gente definindo o trabalho da galera de História como "fazer fofoca sobre gente morta". E, bom... não é uma conversa de todo errada. Taí "Declínio do Império Americano" pra pongar nessa história de um modo inteligente e divertido - mas também cansativo e muito, mas muito datado e problemático.
Porque é isso que todas as personagens, funcionárias de um Departamento de História de uma Universidade canadense, fazem ao longo de todo filme: f o f o c a. E, de modo bastante cínico e irônico, demonstram o ponto central do título enquanto não levam a sério a existência de uma crise de valores nessa sociedade ocidental oitentista na prática de suas relações pessoais e profissionais.
O transcorrer do filme também leva à risca a máxima de Oscar Wilde - "tudo na vida é sobre sexo... menos o sexo, sexo é sobre poder". Aqui, a forma de lidar com a sexualidade entrega as incoerências e verdades secretas de todos. E é aqui que entra o problema também. A narrativa quebra a dicotomia entre mulher-amor e homem-sexo, e isso é legal. Mas o reforço à ideia de uma suposta natureza poligâmica masculina incomoda, assim como a associação entre homossexualidade e DSTs. A cereja do bolo de problemas é a personagem de Louise: a única personagem que adota abertamente posições feministas é justamente a que relaciona em sua vida privada prazer a submissão. Entendo o quão coerente isso é para apontar as contradições das personagens, sim, mas essas contradições específicas no contexto específico dessa produção, no fim dos anos 80, ganha uma conotação política bem reacionária.
No fim das contas, rende umas risadas e cumpre bem seu propósito de demonstrar a existência dessa tal crise de valores (muito graças às boas interpretações do elenco também). Mas seu compromisso político latente diminuiu bastante meu interesse na obra. Vale a pena, mas não vi essa obra-prima toda que haviam me falado. [visto em 24/07/16]
Uma das coisas mais arrasadoras que o desenvolvimento da Física fez nos últimos 150 anos foi meio que comprovar que o tempo como imaginamos é uma ilusão: que o antes, o agora e o depois são, na verdade, uma dimensão do espaço, material, concreto, e que, sabe-se lá deus como, vai além da nossa limitada percepção dele.
"Vozes de Uma Estrela Distante" trabalha certo ao pegar essa questão temporal e trabalhar lado a lado com um sentimento tão complexo e ao mesmo tempo universal como é o amor.
A forma como a conexão de Mikako e Noboru vai além das limitações físicas, ultrapassa a velocidade da luz e mantém o amor de ambos vivo é bem bonita. Muito curioso também a forma como o transcorrer mais do lento do tempo pra Noboru o leva a tentar desvencilhar-se do sentimento, da espera, do amor, mas não consegue destruir o sentimento. Duvidar e correr do amor é apresentado como análogo a correr em direção a um futuro, enquanto Mikako aceita, abraça e chega a arriscar sua vida em nome desse amor, se mantendo apegada ao presente (e aos 15 anos).
O traço foi um problema pra mim. Não despertou simpatia. O CG dos Tracers também, apesar de levar em consideração que o OVA é de 14 anos atrás. E, meudeus, a voz do Noboru... irrita, viu? O texto é legal, a ideia também, mas não me tocou tanto quando (acho que) poderia. Mas vale a pena :)
: tem personagem principal irreal, tem o grande desafio da história sendo bem bobinho, tem situações ABSURDAS acontecendo com o padrinho de casamento/alívio cômico e tem final feliz pra todo mundo. Divertido, mas bem pouco relacionável. O gênero evoluiu bastante nos últimos dez anos, no sentido de criar histórias mais próximas da realidade da maior parte das pessoas. E de proporcionar elencos mais diversos - peloamordedeus, são 90 minutos de apenas gente branca em cena (contei 3 figurantes negras: o casal recém-casado da terapia de casal no boliche e a organizadora do blind date), que horror.
Sou mais um do grupo de pessoas que passou a curtir os filmes de 007 depois da reformulação que o Martin Campbell promoveu em "Casino Royale", com toda a verossimilhança da ação e o foco no desenvolvimento de Bond como pessoa. Infelizmente os filmes seguintes se perderam no equilíbrio entre esse novo paradigma de filmes de espionagem pós-Identidade Bourne e a velha estética Bondiana. Pensei que "Spectre" fecharia bem o arco, ao amarrar as pontas da quadrilogia e voltar, de um jeito ou de outro, ao primeiro filme. Nossa, como me enganei.
Como em "Skyfall", mais uma vez temos um vilão que cria uma sombra enorme e amedrontadora, mas que fala mais do que faz. Aqui, o caso é ainda pior: diante da relação pessoal que Franz tem com Bond, o efeito que um causa no outro é muito pequeno em nível emocional. As personagens de Monica Belucci e Léa Seydoux também são muito pouco convincentes, e o fim do programa 00 me fez pensar que conseguiria ver M em ação (o que seria certamente um ponto alto do filme, mas não rolou).
O que mais me decepcionou foi a ~~quebra estética~~ construída ao longo dos últimos três filmes.
Afinal, o que mais choca em "Casino Royale" é o final nem um pouco feliz, com Bond perdendo seu grande amor e tendo que lidar com a dor. Dali em diante, só vemos finais felizes, que tem na ~~deserção~~ do 007 seu ápice. Coerente com a tradição Bondiana, talvez, mas completamente incoerente com o tom amargo e verossímil que este arco narrativa parecia estar disposto a adotar no seu primeiro capítulo.
: a equipe Moneypenny-M-Q funciona, a sincronia entre eles é ótima e o desenvolvimento das personagens em torno de Bond nos últimos dois filmes é muito boa. A discussão em torno de privacidade e democracia que o filme levanta, pouco tempo depois do escândalo de espionagem da NSA, é também bem útil e importante. E a interpretação em "Writing's on the Wall" QUASE me fez gostar de Sam Smith, hahaha
.
Então: "Spectre" diverte e entretém, mas só se você desligar o cérebro. Porque para assistir tentando pensar em algo... olha, consegue ser pior que "Quantum of Solace".
No meio de uma crescente mundial fascista, esse argumento se torna ao mesmo tempo interessante e assustador. E a estética de mockumentary que ele assume em alguns momentos é o ponto mais alto do filme, e o que mais incomoda.
Porque você vê um cara vestido de Hitler andando no meio de pontos turísticos e falando com pessoas... e sendo tratado como uma atração por quem passa. Fotos, saudações, piadas. Palavras de apoio. Declarações absurdas de apoio ao ódio. Ao longo de todo o filme somente uma pessoa interpela as gravações para hostilizar a ideia. E mesmo que isso tenha ocorrido mais vezes e retirado da montagem final, o volume de apoio que a personagem percebe em seus trânsitos urbanos já é o suficiente pra dar raiva e medo.
De resto, o filme traz alguns pontos muito legais,
a reflexão sobre a faceta autoritária e irresponsável que todos temos, a busca insana por audiência que os meios produtos de conteúdos empreendem em todos as mídias, a louca hierarquia moral que torna engraçado vociferar ódio contra grupos historicamente desfavorecidos desde que nenhum animal seja machucado no processo e o próprio final de Fabian, sendo internado por passar a se posicionar contra o Hitler lá. Mas, na boa? Esperava mais. Como comédia, acaba dependendo somente da capacidade de Oliver Masucci de ~~improvisar~~ nas entrevistas e encontros, porque a narrativa mesmo da história e das personagens é bem sem graça. Isso sem contar o aspecto ético da coisa: sabendo que estamos numa crescente odiosa no mundo, é válido criar esse tipo de situação mesmo que para denunciar esse fascismo iminente? E as pessoas que sofreram diretamente com o regime nazista e se depararam com esse cara nas ruas de Berlin? E as família que até hoje carregam essa dor? Questões complexas, e que o filme faz questão de ignorar.
Boa ideia, mas não tanto quanto achei inicialmente. O filme é legal, mas é bom assistir sem expectativas.
Childhood's End me surpreendeu, em todos os sentidos. Esperei algo mais galhofeiro, como é comum às produções originais do SyFy, mas encontrei uma ficção científica de raíz, que bota quem assiste pra pensar sobre os limites da humanidade e, também, o quanto do que consideramos "humano" pode ser, de fato, uma característica exclusiva dos seres humanos. E nessa jornada utópico/distópica futurista, quem me chamou mais atenção foram as duas personagens que, ao meu ver, são as protagonistas de toda essa história. E parecem tão próximas ainda que tão distantes.
Ricky ganha os holofotes sendo o escolhido pelo "supervisor da Terra" como porta-voz. E com toda aquela pecha de líder, é, faz sentido. Mas, vamo lá: a primeira imagem que vemos do cara é de um average joe que mora no campo e mente pra esposa fingindo que superou a ex. E, ainda, a posição em que fica diante do mundo? Ele tá lá convencendo o planeta inteiro a seguir recomendações de uma nave especial, sem ter a mínima ideia de aonde isso vai dar.
O que pode ser mais humano e real do que uma pessoa cheia de traumas e que acredita com todas as forças que determina escolha é a melhor, mesmo sem conseguir medir as consequências dessa escolha?
Já Karellen é, de longe, a personagem mais tocante, desde sua primeira aparição. O olhar perdido e cheio de dor intriga - afinal, ele é um ser poderoso, o único que sabe exatamente qual caminho as coisas estão tomando, emana toda aquela expectativa sobre ser um mocinho ou um vilão... e, no final das contas, é o personagem mais próximo de uma pessoa comum.
Porque ele tá ali somente ~~fazendo seu trabalho~~. E nessa labuta, ele se afeiçoa por toda a humanidade, e aí a dor no seu olhar ganha um sentido - ele sabe o que vai acontecer no fim. Ele é tão ~~gente como a gente~~ que até subverte o que pode: esteriliza Ricky pra que ele não conheça a dor de ver sua criança sendo tirada de si, o mata antes do fim da Utopia para que não veja o caos em que a humanidade irá se atirar após o fim da tutela dos Overlords, sugere que Milo permaneça na nave após a extinção da humanidade alegando que é a oportunidade do jovem cientista conhecer tudo que sempre quis mas no fundo desejando apenas a companhia de alguém que o fascina tanto.
Milo é bem interessante, também. A representação de uma curiosidade idealizada, que seria a grande essência da humanidade desde o mito cristão que a culpa pela expulsão dos primeiros humanos do Jardim do Éden.
E que diante da possibilidade de poder conhecer coisas que sequer havia imaginado, escolhe ver o fim do planeta. Afinal, o tal mito fala sobre um conhecimento acerca de "todas as coisas entre o céu e a terra", não é verdade? Até mesmo o fim desse céu e dessa terra.
Não sei o quanto a minisérie se aproxima ou se afasta da obra original. Me incomodou o lance do gênero nas personagens, como as personagens femininas estão sempre associadas a padrões bem rígidos e machistas: são sempre a mãe, a filha, a namorada ou interesse romântico de alguém, nenhuma delas tem uma história própria, a não ser a psicóloga que ~~trata~~ do guri Greggson. Enquanto história de sci-fi, olha, convence e vale a pena.
Assistir filmes sem ter muita noção sobre eles, porque é o que tá passando no cinema na hora, me parece a forma mais genuína de ver filmes. Foi assim que assisti "Terre Battue" e logo de cara recebi uma das melhores sequências iniciais que já assisti.
Porque aquela cena de Jérôme deixando o escritório, se despedindo dos colegas de modo comedido, vendo o peso dos cumprimentos aumentando a cada "até logo, obrigado", chegando ao ápice na salva de palmas dos vendedores que saudam pela última vez seu diretor regional... para isso tudo ser quebrado no momento em que ele atravessa a porta automática e mete a mão no bolso pra buscar a chave do carro, desativar o alarme, abrir a porta do motorista, seguir a vida. O corte brusco no som das palmas parece edição, mas é só a vida mesmo, e essa mania concreta de toda e qualquer catarse emocional ser interrompida pelas buzinas do cotidiano.
Me chamou muito atenção o quanto o protagonista aqui é a epítome do homem branco privilegiado:
ele seria rebaixado dentro da empresa porque o resultado de sua gestão está abaixo do esperado, mas se recusa a aceitar isso por ter essa crença inquestionável em suas capacidades profissionais (que, no final, se mostram insuficientes e defasadas, uma vez que o plano de negócio que apresentou em busca de investimentos é tido como arcaico e defasado); cria um projeto novo do nada, sem ter a menor concretude, contando com um dinheiro que não tem MESMO quando seu contrato de saída da empresa anterior o impedia de tomar parte em qualquer negócio que representasse a menor concorrência que fosse a seu ex-empregador; negliencia tudo e todos ao seu redor em nome daquilo que considera mais importante pra si, desde a paixão espotiva do filho à realização profissional da esposa; e desrespeita tudo e todos em nome de sua própria conveniência (até seu hábito de comprar sapatos par aa esposa entra aqui, pois é algo que ele faz para alimentar sua autoimagem de marido zeloso, mesmo ela demonstrando pouquíssima empolgação com os presentes recebidos).
Nesse ritmo, a atitude de Ugo não foi mais que previsível.
Afinal, seu pai passa por cima de tudo que é concreto e real em nome de sua "paixão" por trabalhar no varejo de sapatos. Então, no primeiro momento em que sua paixão pelo tênis é colocada à prova, ele mimetiza a ação do pai: passa por cima das regras, ignora a humanidade de seu oponente e faz o que fez.
Laura me parece a personagem mais negligenciada pela história.
Porque é uma mulher profissionalmente bem sucedida, cujo sucesso é ignorado pelo marido, que ainda assume às tarefas domésticas sozinha e que percebe que não tem mais condições de continuar naquela relação quando vê seu marido tomando decisões cada vez menos concretas, se importando cada vez menos com o impacto das consequências de seus atos sobre a família. Essa mulher tem uma história, cara, e sentimentos muito maiores do que a frustração em não entender mais o marido e o zelo cego sobre o filho. A redução dessa mulher a um apêndice da vida do marido e do filho foi algo que me incomodou bastante. Ao menos a blindagem em torno do desempenho esportivo de Ugo não é uma responsabilidade somente dela: tanto a ausência de acompanhamento do pai, quanto o comportamento paternalista da treinadora são parte do que mantém o menino em sua zona de conforto quando deveria na verdade estar buscando romper todos os seus limites. O único que de fato o impulsiona nesse sentido é o treinador Sardi, que reforça o quanto perseguir uma paixão envolve muito mais sofrimento e trabalho duro do que prazer. E é por focar no prazer e menosprezar o a importância do sofrimento que tanto Ugo quanto Jérôme se vêem, ao final, impedidos de viver suas paixões. Porque se trata de um pacote completo. E se você só corre atrás da metade, acaba sem nem um pedacinho sequer do bolo inteiro.
No final das contas, o filme me surpreendeu pelas reflexões em que me lançou, sobre o sentimento de paixão, sobre o que significa perseguir uma paixão, sobre o que é necessário para viver de fato a paixão. E a força das sequências iniciais e finais também, uau. Filme bem legal, mesmo.
Desde que "A Bruxa de Blair" inaugurou essa onda de filmes em primeira pessoa que a execução de um longa de ação utilizando essa técnica parece questão de tempo. Acontece que até ontem, eu pelo menos nunca havia visto nenhum (tirando um ou outro cura ou videoclipe), talvez até por toda a lógica "gamer" que mora na utilização desse tipo de quadro pra sequências de ação. Daí "Hardcore Henry" pega essa associação e abraça com força pra entregar um filme de ação que é, no mínimo, divertido.
O enredo é fraco? É. Os alívios cômicos falham na maior parte do tempo? Falham. Tem muita merda misógina? Tem. Mas se o ponto é fazer a audiência se sentir jogando um game de ação, o filme consegue isso muito bem, tanto pelos tropos e clichês narrativos quanto pela própria condução das sequências - os tiroteios são ótimos, as aparições de Jimmy são divertidas e o vilão realmente parece insuperável por quase toda a história.
Dava pra fazer beeeeeem melhor, tanto em termos de conceito quanto de execução (tem uns CGs que, minha nossa...), mas dá pra sacar que o foco da produção aqui não foi fazer um puta filme de ação, e sim fazer um gameplay live action. E até agora tô tentando entender porque gastaram tanta grana pra botar o Tim Roth no filme por uma mísera cena.
Depois de duas temporadas funcionando como desbravadora dos acontecimentos do MCU, Agents of S.H.I.E.L.D. finalmente caminha com suas próprias pernas: trama própria, clima próprio e com os acontecimentos de "Guerra Civil" sendo apenas referenciados e influenciando muito pouco o rumo dos eventos da série. É irônico isso acontecendo justamente depois que Joss Whedon saiu das produções da Marvel, uma vez que ele sempre foi voz dissonante a respeito da série - a Marvel dizia que estava "tudo conectado", ele queria que a série fosse independente... e, no final, das contas, acabaram indo pelo caminho que ele queria (o que caga MUITO o MCU, porque é ridículo ver os heróis se degladiando por conta do Tratado de Sokovia e nada ser mencionado sobre a epidemia de Inumanos, principalmente quando a série já havia mostrado o quanto a comoção positiva e negativa diante deles era generalizada, assim como o discurso de ódio dos Watchdogs).
Esse arco de epidemia Inumana, busca por Inumanos, retorno de Hive, luta contra Hive me satisfez muito como fã de quadrinhos. Não por uma fidelidade ao argumento original das HQs (que não inexiste), mas pela estrutura da narrativa: essa coisa linear, de começo-meio-fim, tudo cheio de reviravoltas e com finais pelos menos aparentemente definitivos são exatamente o tipo de coisa que a Marvel sempre fez. A forma como os episódios passeiam por diversos estilos narrativos são um ponto alto dessa temporada: tem aqui o clássico episódio de séries de espiões dos anos 70, cheios de personagens aparecendo e reaparecendo para ajudar a descobrir os mistérios e lidar com as consequências; tem episódio a la McGyver, em que as personagens tiram coelhos da cartola pra resolver as situação; tem episódios cheios de ação e lutas, como manda a bíblia das séries de sci-fi com superpoderes; e tem espisódios de partir o coração.
Todas essas diferentes experiências tornam o desenvolvimento das personagens ainda mais imprevisível nesta s03, e por isso mesmo mais verossímel. Porque por mais que conhecêssemos as personagens da equipe de Coulson, as situações enfrentadas aqui são do tipo que mexem com as pessoas pra sempre. Super poderes everywhere, gente mandada pra outro planeta, encontro cara-a-cara com o bicho que inspirou quase toda representação mitológica de mal que o ser humano já inventou, ver um amigo se transformando em um monstro azul de 2 metros, ver a amiga quase assassinando seu parceiro... fala sério, por menos que isso a gente perde a sanidade e vira uma pessoa completamente diferente. Então é foda ver o pessoal passando por isso tudo e tendo que dar um jeito de segurar a marimba.
Lincoln vinha me chateando em alguns momentos, achava ele um personagem bem contraditório, e por isso mesmo ele me parecia tão necessário. Seu sacrifício foi uma puta demonstração de amor. E o seu diálogo com Hive esfregou na cara de todo mundo aquela que vem sendo a grande tônica de AoS desde o começo: pessoas são só pessoas. À primeira vista, o Quinjet levou pra fora da Terra o primeiro Inumano, aquele que tem o poder de controlar todos os outros e pretendia extinguir a humanidade da Terra, e um Agente da S.H.I.E.L.D, que acontece de ser Inumano também. Pessoas totalmente opostas? Não tanto. O diálogo final revelou o quanto ambos buscavam a mesma coisa, o mesmo pertencimento. O sofrimento, a experiência de descarte, e a própria finalidade bélica de sua criação fizeram de Hive um assassino megalomaníaco que diante da impossibilidade de se conectar de verdade com alguém, forçava essas conexões; a vivência em Afterlife, a escolha de dedicar sua vida a ajudar os outros através da Medicina e a culpa pelos momentos de descontrole faziam de Lincoln alguém que conhece o que é de fato pertencer a algo e alguém e buscava desesperadamente a oportunidade de viver aquilo de novo. E lá no espaço, no último momento, antes de morrerem, eles se conectaram. De modo genuíno, como nunca antes na vida da Hive. Afinal, eles eram também humanos.
Geralmente, é comum os bons filmes de terror atingirem 1 de 3 perguntas que são colocadas diantes de eles: (1) é visualmente interessante?; (2) tem algo de original/inovador/próprio no roteiro?; (3) dá margem pra leituras profundas da realidade? E o que acontece? "It Follows" recebe as três e responde as três.
O conceito visual do filme se funde justamente com o que traz de original na História - falar do amadurecimento de uma geração que desde cedo caminha na corda-bamba da autoconsciência. Aqui, os adolescentes leem Doistoievski, se questionam sobre o sentido da vida e veem os clássicos da ficção científica do século XX... ao mesmo tempo em que querem foder o vizinho, a amiga de infância, as prostitutas na rua, foder, foder, foder. Visualmente isso se faz presente à medida que a cinematografia foi lá no Tumblr sacar o look and feel e aplicou direitinho aqui. Tudo isso aliado com uma boa construção de pânico permanente que mistura o show off sobrenatural clássico com a tensão psicológica que os asiáticos ensinaram bem na década passada.
A meu ver, o que o roteiro tem de original é justamente sua capacidade de fazer bem o que é a principal proposta do cinema de horror (fornecer uma alegoria que espelha medos reais e com os quais a audiência pode se relacionar) enquanto defende uma leitura psicossocial sobre uma geração e aponta um caminho pra ela.
Porque "it" são as DSTs, é a ideia judaico-cristão de punição pelo sexo que já é em si um clichê no cinema de horror, é o rebuceteio, é a incapacidade emocional de lidar com as mudanças, é o medo de ser adulto, é o medo da morte, é a crise de ansiedade que mistura tudo isso e pode ser engatilhada a qualquer momento em qualquer lugar por qualquer coisa dentro do campo de visão e que te lembra de que você não tá no controle de absolutamente nada pois do nada uma merda colossal pode passar e levar tudo que te sustenta (o processo visual de amadurecimento se faz presente na própria palheta de cores do filme, que começa focando no rosa, marrom e azul em tons claros e termina bem mais pesado e explorando contraste entre branco cinza e preto). E, no fim, o caminho apontado é uma mudança de percepção: em vez de se entregar ao desespero do mal inevitável, que uma hora vai te alcançar, o mais construtivo a fazer é aceitar sua existência e seguir caminhando. Um passo de cada vez.
Resident Evil: O Hóspede Maldito
3.4 1,1K Assista AgoraPra vocÊs verem o que é a memória: eu lembrava desse filme como sendo mó denso, bem amarrado, assustador... daí reassisti outro dia e percebi que a motivação de Spence em liberar o T-Virus é ridícula, o modus operandi dele é bizarro, a amnésia dele não faz sentido (a de Alice até faz) e a quantidade de insanidades nas cenas de ação é ridiculamente engraçada. O filme me divertiu mas... né? Não dá pra confiar na memória.
The Punisher: Dirty Laundry
4.4 97Queria Thomas Jane de volta ao papel na série da Netflix ;-;
Mas o Bernthal arrasou também
À Procura
2.8 283 Assista AgoraÀs vezes a gente esquece que o foco principal de todo filme é, ou deveria ser, contar uma história. E quanto a isso, ninguém pode reclamar de "The Captive": o filme conta a história do sequestro de Cass, o impacto em seus pais, a investigação da polícia e das pessoas envolvidas nessa busca.
O ritmo, indo e voltando na linha do tempo, foi um acerto: uma vez que a gente começa o filme já sabendo que Cass está viva e quem é seu sequestrador, o quebra-cabeças que temos que montar é do que está acontecendo, na verdade. Nesse sentido, o filme ainda "pega leve" com alguns didatismos
, como ao repetir o áudio do diálogo entre Cass e seu pai no carro no momento em que ele entende a dica dada por ela
- afinal, estamos falando de um thriller que traz um final feliz, a solução de um caso no final, se fosse linear demais a tensão podia se dissipar
Gostei de como as cenas curtas e com pouco movimento foram o trabalhadas do jeito certinho pra entregar o que a gente precisa saber das personagens ao mesmo tempo que a história é contada. E as atuações são boas o suficiente pra plantar uma dúvida a
té a respeito do envolvimento de Matt e Jeff com a rede de pedofilia
Até o que não costumo gostar em filmes, como o uso da trilha sonorara pra inflar uma cena com emoção, aqui me pareceu cair bem. A falta que senti aqui foi de um trama maior do que a história contada. Digo, gostei de como "The Captive" não fala apenas de como Cassandra é cativa de uma sequestrador, mas de como todos envolvidos no seu caso se tornam cativos de algo também, claro -
Matt da culpa, Tina da dor, Nicole de sua importência diante das crianças que passam pelo que ela sofreu, Jeff da raiva pelos casos que não solucionou... até Mika também, se mostra cativo de seu vazio e de sua solidão (é patética a cena dele buscando um amigo no chefe e parceiro criminoso, Vince)
[visto em 25/09/16]
(Des)Encontro Perfeito
3.5 173 Assista AgoraMEUDEUS DO CÉU QUE COMÉDIA ROMÂNTICA MARAVILHOSA! Constrangimento, impulso, vacilo, coincidências, química, boa vontade, risadas e amor. É meio que tudo que a gente espera de um filme do gênero e "Man Up" entrega com perfeição. E com uma mensagem necessária, essa coisa de olhar para o futuro sempre com esperança, né? Simon Pegg ótimo como sempre, e nem tenho o que falar de Lake Bell que mal conheci e já considero pacas. Em uma época em que praticamente toda comédia romântica tem uma base dramática pesada, esse filme trata de seu peso emocional com muito humor autodepreciativo - o que é ótimo, porque se chorar expurga os males, a risada ajuda a afastá-los também, hahaha. Só não dou cinco estrelas porque
a postura de Sean com Nancy incomoda demais, o tempo todo, e PORRA, só tem gente branca n Inglaterra, é???
[visto em 24/09/16]
X-Men: Apocalipse
3.5 2,1K Assista AgoraVamo combinar: o raio pode até cair duas vezes no mesmo lugar, mas três já é demais. "First Class" fez o que ninguém esperava ao trazer novos ares à franquia X-Men no cinema, e "Days of Future Past" surpreendeu ainda mais ao elevar o nível da história, amarrando todos os pontos. Uma hora a bola ia cair, e essa hora foi "Apocalypse".
Depois de dois filmes focando na problemática do passado, "Apocalypse" até segue bem a resposta dada no filme anterior, apontando para o futuro. Mas a forma como faz isso é bem aquém do possível:
as novas personagens são pouco desenvolvidas (noves fora a origem da mutação de Scott e o efeito que o despertar de Apocalypse tem em Jean, todo mundo ali é estranho - e isso é um crime quando temos personagens tão complexas como Tempestade e Noturno em tela) e vemos um vilão vazio em termos de personalidade (o que joga no lixo o talento de Oscar Isaac)
Mas, pra não dizer que não falei das flores:
o arco de Erik nesse filme é todo maravilhoso. Do massacre na floresta, passando pela destruição de Auschwitz, não tem como não se arrepiar. Evan Peters também quebra de uma forma ótima o humor característico de seu personagem quando necessário, o impacto da falta do pai é enorme nele. A situação do Charles e toda sua posição ~~conciliadora~~ fizeram mais sentido pra mim diante desse filme. Afinal, se ele tem acesso às mentes, ele consegue ver e sentir os processos emocionais e psiquícos por trás de todos os atos, mesmo os mais abomináveis. Daí a dor dele ser tanta, daí a pena dele ser tanta. Fiquei curioso pra saber o que será de Magneto no futuro, uma vez que a Mística assumiu o que era a bandeira dele na causa mutante, né? Xavier educa a galera pra ser diplomata e controlada, Raven os treina pra serem soldados quando necessários.
De modo geral, o filme é legal, é divertido, as lutas são legais, a chegada de Mercúrio na mansão é maravilhosa, e como eu esperava essa queda de nível nem chega a ser decepcionante. Só me faz pensar que pros X-Men serem tratados propriamente, com a profunidade que tem, a FOX vai precisar se virar pra pensar em formatos - séries, filmes spin-off acompanhando apenas parte da equipe, o que for.
[visto em 24/09/16]
Anatomia de uma Cena de Amor
2.3 97 Assista AgoraMe surpreendi. O estilo, essa aparência meio reality que o texto, a cinematografia e as interpretações passaram, tudo faz muito sentido para expor o contraste entre a realidade banal, cotidiana, comum do set de filmagem e o resultado poético, extraordinário que filmes geralmente criam em si (e o formato "slice of life" ajuda bastante, fazendo um recorte bem definido de um dia somente, sem muita explicação do que rolou antes nem muita elucubração final sobre o que vai rolar depois). Além disso, toda a situação envolvendo sentimento e atuação, que extrapola o teatro ou cinema, né? A dúvida que Zoe tem depois de ser beijada por Mal nos bastidores certamente bate na cabeça de todo mundo em algum momento da vida, seja depois de um beijo ou não: "será que aquela pessoa tava sendo honesta quando falou/fez aquilo?".
Não achei o ritmo lento, achei na verdade tudo no filme bem real - seja pelo joguete da amiga querendo ver o casal reatando, seja pelas reações pouco lineares de ambas. Contou uma boa história, verossímil, possível e tocante, sem pretensões universalizantes ou irreais. Gostei, mesmo.
O que me incomodou foi a presença exclusiva de pessoas brancas na história, como se não houvessem mulheres negras realizando e produzindo filmes lésbicos nos EUA - noves fora o fato de todo mundo ali ser bem padrãozinho modelo. Mas o filme é legal :)
[visto em 17/09/16]
Os Sobreviventes
1.5 36Que filme gostoso de assistir numa tarde de feriado, hahahaha. Filme B de sci-fi seguindo a receita clássica do gênero: roteiro com furos, poucas personagens, poucos cenários e um monte de cena de ação deliciosamente sem sentido.
Em condições normais, entretanto, o filme pode incomodar muito: aparentemente, os únicos humanos capazes de sobreviver são caucasianos e heterossexuais, e a única ~~língua antiga~~ lembrada é o inglês (ao qual se referem como A LÍNGUA ANTIGA, não "uma" das línguas antigas).
1,5 estrelas pela Kate (porque é legal ver uma personagem feminina nesse lugar de "heroína capaz de tudo", por mais que as cenas sejam mentirosas), pelo Kevin Sorbo e pelo argumento que me cativou até certa altura, rs.
[visto em 07/06/16]
Supercondríaco
3.5 18Que comédia gostosa, viu? E o fato de cada ato ser praticamente uma história diferente faz com que você consiga rir de todas as situações sem saturar nenhuma delas, evitando a repetição. Nunca tinha assistido nada de Dany Boon, mas adorei o jeito que ele faz comédia física aqui. A piada do passaporte do Jean Valjean foi sensacional, hahahaha.
[visto em 30/08/16]
Lemonade
4.6 88Gosto muito de escrever análises sobre as coisas que assisto aqui no Filmow, geralmente conheço gente bacana e travo debates enriquecedores agindo dessa forma. E, caramba, "Lemonade" é uma obra de arte como há tempos não se vê. Só que eu não tenho condições, não tenho estrutura de racionalizar cada sentimento e flash de pensamento que me atravessou ao longo dos 60 minutos desse filme. Acho que nunca vi uma parada tão completa na minha vida: pessoal e coletiva, íntima e pública, destruidora e revigorante, experimental e popular, tudo ao mesmo tempo. Que maravilha. Que maravilha <3
[visto em 29/08/16]
Cérebro Dividido
3.6 86Que problema esse curta. Porque a luta aí não é entre razão e emoção, nem entre "gentileza" e "agressividade" como o poster dá a entender, mas sim entre duas personalidades distintas
- afinal, o que tem de "gentil" em falar sobre gases no primeiro encontro (honestidade, talvez, mas gentileza?) ou de agressivo em convidar pra dançar?
, sendo o lado azul do cérebro do cara o lado mais polido e, ao mesmo tempo, sem trato social, e o lado vermelho é o mais safo e também o mais compulsivo sexualmente. Já a única vez que os lados da mulher aparecem são pra concordar em casar naquele momento, ao que os dois lados do cara respondem querendo FUGIR?
1,5 porque o começo bobinho diverte e a animação é bem feita.
[visto em 27/08/16]
Cara Gente Branca
3.8 175 Assista AgoraUma coisa que sempre valorizei foram filmes que conseguem abordar situações complexas sem necessariamente precisar de um apêndice pra você entendê-la. Obras com camadas, que falam tanto invidivualmente quanto coletivamente. E "Dear White People" dá uma aula de como fazer isso.
Porque, na verdade, não é um filme sobre racismo. É um filme sobre pessoas negras na universidade, ponto. Foi com essa premissa que o filme foi atrás de financiamento colaborativo pelo Kickstarter, "fazer um college film com personagens negras de verdade". Invariavelmente, o racismo é uma questão que essas personagens lidam, mas não torna o filme sobre ele.
O filme é sobre Sam, Lionel, Coco e Troy. E uma grande vitória dele é não pretender usar essas personagens pra falar por ninguém.
Ele é bem fiel ao estilo de college films, na estética noventista e indie, no humor em alguns momentos bem escrachado (como na cena da bilheteria do cinema) e principalmente ao abordar estereótipos identificáveis, com quem a audiência pode se relacionar ou relacionar pessoas que conhece, mas rompe um pouco ao não encerrar a história com o fim dos acontecimentos da festa, sem apresentar um final feliz para todos. Sam ainda tem suas questões pessoais a tratar e vai lidar com o julgamento de seus colegas de militância, Coco tem um monte de ódio si ainda dentro de seu coração e que ela pelo visto vai conseguir capitalizar, Troy se mantém na corda-bamba de suas contradições convenientes de "ser como eles" ou ser como o pai quer que seja. Por mais que a audiência enfrente situações parecidas, esse filme não se pretende etnográfico, não pretende falar por ninguém.
Em termos de militância, ele bate certo demais nos aspectos identitários.
Porque se a gente encara identidade como uma coisa por si fragmentada, pouco harmonioosa e coerente, no contexto da clivagem racial estadunidense é pior ainda. Sam, militante aguerrida, que não abaixa a cabeça, mas que precisa se proteger dentro de uma carapaça pra dormir à noite - a carapaça que a blinda de questionamentos a respeito de sua negritude através do silenciamento de partes de si. Ou Troy, que trabalha pra construir uma carreira acadêmica e política, e por isso não pode assumir ser um trekker (branco demais pra um líder comunitário negro) nem uma relação com uma mulher negra (negro demais pra um representante institucional burguês).
Aliás, é sensacional a forma como o filme crítica esse modo impessoalizado de se fazer política.
Porque as três figuras que trabalham institucionalmente nesse meio no filme são Sam, Troy e Reggie. Ela, não se conecta pessoalmente com ninguém de sua equipe, nem ninguém que ela devia representar; Troy nem sabe direito porque está ali, só faz o que é mandado porque é conveniente pra suas aspirações pessoas que resumem, basicamente, a ser popular, admirado e famoso; Reggie, que manobrou ilegalmente a votação pra eleger Sam e depois a pressionou pra fazer a manifestação, pouco se importou quando viu a colega na sua frente prestes a cair no choro - a pergunta não foi "você tá bem?", foi "você tá pronta (pro protesto)?". Isso faz muito sentido no contexto acadêmico, porque as pessoas até se aproximam de você pessoalmente, mas só enquanto você aparenta ser um ~~recurso político~~ interessante. A política institucional é feita disso, pelo visto: ou você tem objetivos pouco nobres, ou práticas excusas, ou ambos (e, no processo, nenhum respeito às pessoas de modo geral, nenhuma responsabilidade por seu impacto individual e coletivo sobre elas).
Daí é sensacional que o grande incomodado com a festa tenha sido Lionel. Porque ele, do alto de sua posição apolítica, é que dentro da festa percebe o tamanho daquele disparate e de como não pode ficar parado diante daquilo. E vai fazer o que precisa ser feito. Curioso que, no final das contas, as 4 personagens se sentiram ofendidas com a festa, e cada uma agiu à sua maneira: Troy deu uma forma de capitalizar-se politicamente, Lionel foi a faísca que iniciou a manifestação, Sam botou lenha na fogueira para aumentar a cena e Coco continuou mentindo pra si pra se sentir aceita em uma sociedade que a exclui. Nenhuma das personagens é vilanesca ou donzelesca, e isso é ótimo. São pessoas, com qualidades, defeitos e contradições infinitas, como todo mundo que assiste.
[visto em 27/08/16]
Janela Indiscreta
4.3 1,2K Assista AgoraÉ difícil falar qualquer coisa nova sobre um clássico do cinema, talvez até impossível. O lance de como o suspense é psicológico em Hitchcock, o papel de cúmplice que o espectador assume na história intromissão de Jefferies, a métafora das relações, tudo já foi dito. E o fato de mesmo 50 anos depois de seu lançamento, tendo influenciado uma série de cineastas e filmes, ele ainda tocar quem o assiste, envolvendo em sua narrativa e estética, é um primor. Obra de arte mesmo.
Me chamou atenção o quanto a janela indiscreta do Jefferies tem muito da nossa condição atual nas redes sociais. É um voyeurismo generalizado, sustentado por um exibicionismo sem fim. E todo mundo criando um monte de historinha na cabeça, usando as carinhas do feed de notícias do Facebook como personagem.
Legal a relação metafórica do filme com as relações amorosas que Ari apontou em seu comentário (https://filmow.com/comentarios/4974198/). O que me tocou muito também foi a afirmação de que nenhuma certeza humana é permanente, que o que faz a pessoa e as relações são os momentos e que um segundo pode mudar tudo
: o casal que se amava enlouquecidamente e começa a brigar porque o marido largou o emprego, a bailarina que ~~vivia em excessos~~ até o amor de sua vida voltar do exército, o próprio assassino que em um momento foi tão atencioso com o cachorro da vizinha e depois o assassinou... e, claro, a "Srta. Solitária", que desiste do suicídio ao ouvir a música do vizinho tocando. Sem contar no próprio casal principal, né? Que inicialmente envolve Jefferies com uma perna quebrada, e nem um pouco disposto a casa com Lisa por considerá-la "perfeita demais"... até que ela viola a lei, embarca em suas louca investigação, se muda de vez pra sua casa e fica do seu lado (enquanto ele, quase casado, tá com as duas pernas quebradas, dormindo e alheio à vida dos outros agora que tem satisfação na sua própria vida).
[visto em 26/08/16]
Cinquenta Tons de Preto
1.6 394É até difícil comentar, rs. Porque o filme não é nada diferente do que promete: um besteirol baseado em um dos piores filmes dos últimos tempos. Consegue arrancar algumas risadas sim, mas é difícil tirar risadas de diversão escrachando mais ainda a ruindade de uma história que já causa risadas por aversão.
Batman vs Superman - A Origem da Justiça
3.4 5,0K Assista AgoraO hype anterior levantou minha sobrancelha e o pau que a crítica desceu no filme na época do lançamento me parecia bem fundamentado. Resultado: assisti o filme com as expectativas sob controle e, gente, não é que curti?
Em "Homem de Aço" Snyder tentou colocar em prática a proposta de criar um universo de super-heróis que fosse também sombrio e verossímil. Lá ele falhou estrondosamente, a meu ver. Aqui, a mão parece ter acertado mais
: as personagens principais FAZEM SENTIDO com seus nortes morais e conflitos, o protagonismo do Batman (não do Bruce Wayne, importante frisar) detetive à moda antiga e a própria atuação de Jesse Eisenberg como um Lex Luthor inteiramente novo e nitidamente psicótico, é tudo bem bom. Ver Batman e Superman, dois super heróis com modos de ação bem distintos, se unindo a partir da dor que compartilham em questões familiares foi bonito também.
A discussão sobre poder que o longa traz é interessante.
E o mais interessante de tudo é ver justamente o Superman ocupando o local da dúvida sobre o que fazer com todo poder que tem.
Confesso que achei a cena de Bruce ~~flutuando~~ junto aos morcegos no começo bastante irritante e me afastou na primeira vez que tentei assistir. Mas na segunda tentativa passei por cima disso e não me arrependo. A Lois Lane também me irritou, como havia feito em "Homem de Aço". É impressionante como essa personagem é horrível e Amy Adams consegue fazer ela ainda pior. Sorte que a Mulher Maravilha tá aí pra salvar o dia.
Filme bem bacana, divertido, coerente e que cumpre bem sua proposta.
A única coisa que não me desceu muito bem foi a motivação do Luthor. Digo, okay, deu pra sacar que ele tem probleminha mental e quer ver o circo pegar fogo. Mas ele não é um Coringa do Nolan, não é um agente do caos, não é uma entidade - é uma pessoa. Fiquei com a impressão de que vão desenvolver isso melhor depois. E tomara mesmo. Eu, que nunca fui lá grande fã da DC e nem fiquei ansioso pra ver esse filme antes, estarei no aguardo.
[visto em 25/07/16]
O Declínio do Império Americano
3.8 82 Assista AgoraÉ bem comum ver gente definindo o trabalho da galera de História como "fazer fofoca sobre gente morta". E, bom... não é uma conversa de todo errada. Taí "Declínio do Império Americano" pra pongar nessa história de um modo inteligente e divertido - mas também cansativo e muito, mas muito datado e problemático.
Porque é isso que todas as personagens, funcionárias de um Departamento de História de uma Universidade canadense, fazem ao longo de todo filme: f o f o c a. E, de modo bastante cínico e irônico, demonstram o ponto central do título enquanto não levam a sério a existência de uma crise de valores nessa sociedade ocidental oitentista na prática de suas relações pessoais e profissionais.
O transcorrer do filme também leva à risca a máxima de Oscar Wilde - "tudo na vida é sobre sexo... menos o sexo, sexo é sobre poder". Aqui, a forma de lidar com a sexualidade entrega as incoerências e verdades secretas de todos. E é aqui que entra o problema também. A narrativa quebra a dicotomia entre mulher-amor e homem-sexo, e isso é legal. Mas o reforço à ideia de uma suposta natureza poligâmica masculina incomoda, assim como a associação entre homossexualidade e DSTs. A cereja do bolo de problemas é a personagem de Louise: a única personagem que adota abertamente posições feministas é justamente a que relaciona em sua vida privada prazer a submissão. Entendo o quão coerente isso é para apontar as contradições das personagens, sim, mas essas contradições específicas no contexto específico dessa produção, no fim dos anos 80, ganha uma conotação política bem reacionária.
No fim das contas, rende umas risadas e cumpre bem seu propósito de demonstrar a existência dessa tal crise de valores (muito graças às boas interpretações do elenco também). Mas seu compromisso político latente diminuiu bastante meu interesse na obra. Vale a pena, mas não vi essa obra-prima toda que haviam me falado.
[visto em 24/07/16]
Vozes de uma Estrela Distante
3.5 54Uma das coisas mais arrasadoras que o desenvolvimento da Física fez nos últimos 150 anos foi meio que comprovar que o tempo como imaginamos é uma ilusão: que o antes, o agora e o depois são, na verdade, uma dimensão do espaço, material, concreto, e que, sabe-se lá deus como, vai além da nossa limitada percepção dele.
"Vozes de Uma Estrela Distante" trabalha certo ao pegar essa questão temporal e trabalhar lado a lado com um sentimento tão complexo e ao mesmo tempo universal como é o amor.
A forma como a conexão de Mikako e Noboru vai além das limitações físicas, ultrapassa a velocidade da luz e mantém o amor de ambos vivo é bem bonita. Muito curioso também a forma como o transcorrer mais do lento do tempo pra Noboru o leva a tentar desvencilhar-se do sentimento, da espera, do amor, mas não consegue destruir o sentimento. Duvidar e correr do amor é apresentado como análogo a correr em direção a um futuro, enquanto Mikako aceita, abraça e chega a arriscar sua vida em nome desse amor, se mantendo apegada ao presente (e aos 15 anos).
O traço foi um problema pra mim. Não despertou simpatia. O CG dos Tracers também, apesar de levar em consideração que o OVA é de 14 anos atrás. E, meudeus, a voz do Noboru... irrita, viu? O texto é legal, a ideia também, mas não me tocou tanto quando (acho que) poderia. Mas vale a pena :)
[visto em 24/07/16]
Amor, Felicidade Ou Casamento
2.5 193Esse filme parece uma comédia romântica dos início dos anos 200 filmada com quase 10 anos de atraso
: tem personagem principal irreal, tem o grande desafio da história sendo bem bobinho, tem situações ABSURDAS acontecendo com o padrinho de casamento/alívio cômico e tem final feliz pra todo mundo. Divertido, mas bem pouco relacionável. O gênero evoluiu bastante nos últimos dez anos, no sentido de criar histórias mais próximas da realidade da maior parte das pessoas. E de proporcionar elencos mais diversos - peloamordedeus, são 90 minutos de apenas gente branca em cena (contei 3 figurantes negras: o casal recém-casado da terapia de casal no boliche e a organizadora do blind date), que horror.
[visto em 17/07/16]
007 Contra Spectre
3.3 1,0K Assista AgoraSou mais um do grupo de pessoas que passou a curtir os filmes de 007 depois da reformulação que o Martin Campbell promoveu em "Casino Royale", com toda a verossimilhança da ação e o foco no desenvolvimento de Bond como pessoa. Infelizmente os filmes seguintes se perderam no equilíbrio entre esse novo paradigma de filmes de espionagem pós-Identidade Bourne e a velha estética Bondiana. Pensei que "Spectre" fecharia bem o arco, ao amarrar as pontas da quadrilogia e voltar, de um jeito ou de outro, ao primeiro filme. Nossa, como me enganei.
Como em "Skyfall", mais uma vez temos um vilão que cria uma sombra enorme e amedrontadora, mas que fala mais do que faz. Aqui, o caso é ainda pior: diante da relação pessoal que Franz tem com Bond, o efeito que um causa no outro é muito pequeno em nível emocional. As personagens de Monica Belucci e Léa Seydoux também são muito pouco convincentes, e o fim do programa 00 me fez pensar que conseguiria ver M em ação (o que seria certamente um ponto alto do filme, mas não rolou).
O que mais me decepcionou foi a ~~quebra estética~~ construída ao longo dos últimos três filmes.
Afinal, o que mais choca em "Casino Royale" é o final nem um pouco feliz, com Bond perdendo seu grande amor e tendo que lidar com a dor. Dali em diante, só vemos finais felizes, que tem na ~~deserção~~ do 007 seu ápice. Coerente com a tradição Bondiana, talvez, mas completamente incoerente com o tom amargo e verossímil que este arco narrativa parecia estar disposto a adotar no seu primeiro capítulo.
Pra não dizer que não falei das flores
: a equipe Moneypenny-M-Q funciona, a sincronia entre eles é ótima e o desenvolvimento das personagens em torno de Bond nos últimos dois filmes é muito boa. A discussão em torno de privacidade e democracia que o filme levanta, pouco tempo depois do escândalo de espionagem da NSA, é também bem útil e importante. E a interpretação em "Writing's on the Wall" QUASE me fez gostar de Sam Smith, hahaha
Então: "Spectre" diverte e entretém, mas só se você desligar o cérebro. Porque para assistir tentando pensar em algo... olha, consegue ser pior que "Quantum of Solace".
[visto em 16/07/16]
Ele Está de Volta
3.8 683No meio de uma crescente mundial fascista, esse argumento se torna ao mesmo tempo interessante e assustador. E a estética de mockumentary que ele assume em alguns momentos é o ponto mais alto do filme, e o que mais incomoda.
Porque você vê um cara vestido de Hitler andando no meio de pontos turísticos e falando com pessoas... e sendo tratado como uma atração por quem passa. Fotos, saudações, piadas. Palavras de apoio. Declarações absurdas de apoio ao ódio. Ao longo de todo o filme somente uma pessoa interpela as gravações para hostilizar a ideia. E mesmo que isso tenha ocorrido mais vezes e retirado da montagem final, o volume de apoio que a personagem percebe em seus trânsitos urbanos já é o suficiente pra dar raiva e medo.
De resto, o filme traz alguns pontos muito legais,
a reflexão sobre a faceta autoritária e irresponsável que todos temos, a busca insana por audiência que os meios produtos de conteúdos empreendem em todos as mídias, a louca hierarquia moral que torna engraçado vociferar ódio contra grupos historicamente desfavorecidos desde que nenhum animal seja machucado no processo e o próprio final de Fabian, sendo internado por passar a se posicionar contra o Hitler lá. Mas, na boa? Esperava mais. Como comédia, acaba dependendo somente da capacidade de Oliver Masucci de ~~improvisar~~ nas entrevistas e encontros, porque a narrativa mesmo da história e das personagens é bem sem graça. Isso sem contar o aspecto ético da coisa: sabendo que estamos numa crescente odiosa no mundo, é válido criar esse tipo de situação mesmo que para denunciar esse fascismo iminente? E as pessoas que sofreram diretamente com o regime nazista e se depararam com esse cara nas ruas de Berlin? E as família que até hoje carregam essa dor? Questões complexas, e que o filme faz questão de ignorar.
Boa ideia, mas não tanto quanto achei inicialmente. O filme é legal, mas é bom assistir sem expectativas.
[visto em 19/06/16]
O Fim Da Infância
3.5 47Childhood's End me surpreendeu, em todos os sentidos. Esperei algo mais galhofeiro, como é comum às produções originais do SyFy, mas encontrei uma ficção científica de raíz, que bota quem assiste pra pensar sobre os limites da humanidade e, também, o quanto do que consideramos "humano" pode ser, de fato, uma característica exclusiva dos seres humanos. E nessa jornada utópico/distópica futurista, quem me chamou mais atenção foram as duas personagens que, ao meu ver, são as protagonistas de toda essa história. E parecem tão próximas ainda que tão distantes.
Ricky ganha os holofotes sendo o escolhido pelo "supervisor da Terra" como porta-voz. E com toda aquela pecha de líder, é, faz sentido. Mas, vamo lá: a primeira imagem que vemos do cara é de um average joe que mora no campo e mente pra esposa fingindo que superou a ex. E, ainda, a posição em que fica diante do mundo? Ele tá lá convencendo o planeta inteiro a seguir recomendações de uma nave especial, sem ter a mínima ideia de aonde isso vai dar.
Já Karellen é, de longe, a personagem mais tocante, desde sua primeira aparição. O olhar perdido e cheio de dor intriga - afinal, ele é um ser poderoso, o único que sabe exatamente qual caminho as coisas estão tomando, emana toda aquela expectativa sobre ser um mocinho ou um vilão... e, no final das contas, é o personagem mais próximo de uma pessoa comum.
Porque ele tá ali somente ~~fazendo seu trabalho~~. E nessa labuta, ele se afeiçoa por toda a humanidade, e aí a dor no seu olhar ganha um sentido - ele sabe o que vai acontecer no fim. Ele é tão ~~gente como a gente~~ que até subverte o que pode: esteriliza Ricky pra que ele não conheça a dor de ver sua criança sendo tirada de si, o mata antes do fim da Utopia para que não veja o caos em que a humanidade irá se atirar após o fim da tutela dos Overlords, sugere que Milo permaneça na nave após a extinção da humanidade alegando que é a oportunidade do jovem cientista conhecer tudo que sempre quis mas no fundo desejando apenas a companhia de alguém que o fascina tanto.
Milo é bem interessante, também. A representação de uma curiosidade idealizada, que seria a grande essência da humanidade desde o mito cristão que a culpa pela expulsão dos primeiros humanos do Jardim do Éden.
E que diante da possibilidade de poder conhecer coisas que sequer havia imaginado, escolhe ver o fim do planeta. Afinal, o tal mito fala sobre um conhecimento acerca de "todas as coisas entre o céu e a terra", não é verdade? Até mesmo o fim desse céu e dessa terra.
Não sei o quanto a minisérie se aproxima ou se afasta da obra original. Me incomodou o lance do gênero nas personagens, como as personagens femininas estão sempre associadas a padrões bem rígidos e machistas: são sempre a mãe, a filha, a namorada ou interesse romântico de alguém, nenhuma delas tem uma história própria, a não ser a psicóloga que ~~trata~~ do guri Greggson. Enquanto história de sci-fi, olha, convence e vale a pena.
40 - Amor
2.7 2Assistir filmes sem ter muita noção sobre eles, porque é o que tá passando no cinema na hora, me parece a forma mais genuína de ver filmes. Foi assim que assisti "Terre Battue" e logo de cara recebi uma das melhores sequências iniciais que já assisti.
Porque aquela cena de Jérôme deixando o escritório, se despedindo dos colegas de modo comedido, vendo o peso dos cumprimentos aumentando a cada "até logo, obrigado", chegando ao ápice na salva de palmas dos vendedores que saudam pela última vez seu diretor regional... para isso tudo ser quebrado no momento em que ele atravessa a porta automática e mete a mão no bolso pra buscar a chave do carro, desativar o alarme, abrir a porta do motorista, seguir a vida. O corte brusco no som das palmas parece edição, mas é só a vida mesmo, e essa mania concreta de toda e qualquer catarse emocional ser interrompida pelas buzinas do cotidiano.
Me chamou muito atenção o quanto o protagonista aqui é a epítome do homem branco privilegiado:
ele seria rebaixado dentro da empresa porque o resultado de sua gestão está abaixo do esperado, mas se recusa a aceitar isso por ter essa crença inquestionável em suas capacidades profissionais (que, no final, se mostram insuficientes e defasadas, uma vez que o plano de negócio que apresentou em busca de investimentos é tido como arcaico e defasado); cria um projeto novo do nada, sem ter a menor concretude, contando com um dinheiro que não tem MESMO quando seu contrato de saída da empresa anterior o impedia de tomar parte em qualquer negócio que representasse a menor concorrência que fosse a seu ex-empregador; negliencia tudo e todos ao seu redor em nome daquilo que considera mais importante pra si, desde a paixão espotiva do filho à realização profissional da esposa; e desrespeita tudo e todos em nome de sua própria conveniência (até seu hábito de comprar sapatos par aa esposa entra aqui, pois é algo que ele faz para alimentar sua autoimagem de marido zeloso, mesmo ela demonstrando pouquíssima empolgação com os presentes recebidos).
Nesse ritmo, a atitude de Ugo não foi mais que previsível.
Afinal, seu pai passa por cima de tudo que é concreto e real em nome de sua "paixão" por trabalhar no varejo de sapatos. Então, no primeiro momento em que sua paixão pelo tênis é colocada à prova, ele mimetiza a ação do pai: passa por cima das regras, ignora a humanidade de seu oponente e faz o que fez.
Laura me parece a personagem mais negligenciada pela história.
Porque é uma mulher profissionalmente bem sucedida, cujo sucesso é ignorado pelo marido, que ainda assume às tarefas domésticas sozinha e que percebe que não tem mais condições de continuar naquela relação quando vê seu marido tomando decisões cada vez menos concretas, se importando cada vez menos com o impacto das consequências de seus atos sobre a família. Essa mulher tem uma história, cara, e sentimentos muito maiores do que a frustração em não entender mais o marido e o zelo cego sobre o filho. A redução dessa mulher a um apêndice da vida do marido e do filho foi algo que me incomodou bastante. Ao menos a blindagem em torno do desempenho esportivo de Ugo não é uma responsabilidade somente dela: tanto a ausência de acompanhamento do pai, quanto o comportamento paternalista da treinadora são parte do que mantém o menino em sua zona de conforto quando deveria na verdade estar buscando romper todos os seus limites. O único que de fato o impulsiona nesse sentido é o treinador Sardi, que reforça o quanto perseguir uma paixão envolve muito mais sofrimento e trabalho duro do que prazer. E é por focar no prazer e menosprezar o a importância do sofrimento que tanto Ugo quanto Jérôme se vêem, ao final, impedidos de viver suas paixões. Porque se trata de um pacote completo. E se você só corre atrás da metade, acaba sem nem um pedacinho sequer do bolo inteiro.
No final das contas, o filme me surpreendeu pelas reflexões em que me lançou, sobre o sentimento de paixão, sobre o que significa perseguir uma paixão, sobre o que é necessário para viver de fato a paixão. E a força das sequências iniciais e finais também, uau. Filme bem legal, mesmo.
[visto em 15/06/16]
Hardcore: Missão Extrema
3.5 383 Assista AgoraDesde que "A Bruxa de Blair" inaugurou essa onda de filmes em primeira pessoa que a execução de um longa de ação utilizando essa técnica parece questão de tempo. Acontece que até ontem, eu pelo menos nunca havia visto nenhum (tirando um ou outro cura ou videoclipe), talvez até por toda a lógica "gamer" que mora na utilização desse tipo de quadro pra sequências de ação. Daí "Hardcore Henry" pega essa associação e abraça com força pra entregar um filme de ação que é, no mínimo, divertido.
O enredo é fraco? É. Os alívios cômicos falham na maior parte do tempo? Falham. Tem muita merda misógina? Tem. Mas se o ponto é fazer a audiência se sentir jogando um game de ação, o filme consegue isso muito bem, tanto pelos tropos e clichês narrativos quanto pela própria condução das sequências - os tiroteios são ótimos, as aparições de Jimmy são divertidas e o vilão realmente parece insuperável por quase toda a história.
Dava pra fazer beeeeeem melhor, tanto em termos de conceito quanto de execução (tem uns CGs que, minha nossa...), mas dá pra sacar que o foco da produção aqui não foi fazer um puta filme de ação, e sim fazer um gameplay live action. E até agora tô tentando entender porque gastaram tanta grana pra botar o Tim Roth no filme por uma mísera cena.
[visto em 30/05/16]
Agentes da S.H.I.E.L.D. (3ª Temporada)
4.1 133 Assista AgoraDepois de duas temporadas funcionando como desbravadora dos acontecimentos do MCU, Agents of S.H.I.E.L.D. finalmente caminha com suas próprias pernas: trama própria, clima próprio e com os acontecimentos de "Guerra Civil" sendo apenas referenciados e influenciando muito pouco o rumo dos eventos da série. É irônico isso acontecendo justamente depois que Joss Whedon saiu das produções da Marvel, uma vez que ele sempre foi voz dissonante a respeito da série - a Marvel dizia que estava "tudo conectado", ele queria que a série fosse independente... e, no final, das contas, acabaram indo pelo caminho que ele queria (o que caga MUITO o MCU, porque é ridículo ver os heróis se degladiando por conta do Tratado de Sokovia e nada ser mencionado sobre a epidemia de Inumanos, principalmente quando a série já havia mostrado o quanto a comoção positiva e negativa diante deles era generalizada, assim como o discurso de ódio dos Watchdogs).
Esse arco de epidemia Inumana, busca por Inumanos, retorno de Hive, luta contra Hive me satisfez muito como fã de quadrinhos. Não por uma fidelidade ao argumento original das HQs (que não inexiste), mas pela estrutura da narrativa: essa coisa linear, de começo-meio-fim, tudo cheio de reviravoltas e com finais pelos menos aparentemente definitivos são exatamente o tipo de coisa que a Marvel sempre fez. A forma como os episódios passeiam por diversos estilos narrativos são um ponto alto dessa temporada: tem aqui o clássico episódio de séries de espiões dos anos 70, cheios de personagens aparecendo e reaparecendo para ajudar a descobrir os mistérios e lidar com as consequências; tem episódio a la McGyver, em que as personagens tiram coelhos da cartola pra resolver as situação; tem episódios cheios de ação e lutas, como manda a bíblia das séries de sci-fi com superpoderes; e tem espisódios de partir o coração.
Todas essas diferentes experiências tornam o desenvolvimento das personagens ainda mais imprevisível nesta s03, e por isso mesmo mais verossímel. Porque por mais que conhecêssemos as personagens da equipe de Coulson, as situações enfrentadas aqui são do tipo que mexem com as pessoas pra sempre. Super poderes everywhere, gente mandada pra outro planeta, encontro cara-a-cara com o bicho que inspirou quase toda representação mitológica de mal que o ser humano já inventou, ver um amigo se transformando em um monstro azul de 2 metros, ver a amiga quase assassinando seu parceiro... fala sério, por menos que isso a gente perde a sanidade e vira uma pessoa completamente diferente. Então é foda ver o pessoal passando por isso tudo e tendo que dar um jeito de segurar a marimba.
O final me quebrou demais.
Lincoln vinha me chateando em alguns momentos, achava ele um personagem bem contraditório, e por isso mesmo ele me parecia tão necessário. Seu sacrifício foi uma puta demonstração de amor. E o seu diálogo com Hive esfregou na cara de todo mundo aquela que vem sendo a grande tônica de AoS desde o começo: pessoas são só pessoas. À primeira vista, o Quinjet levou pra fora da Terra o primeiro Inumano, aquele que tem o poder de controlar todos os outros e pretendia extinguir a humanidade da Terra, e um Agente da S.H.I.E.L.D, que acontece de ser Inumano também. Pessoas totalmente opostas? Não tanto. O diálogo final revelou o quanto ambos buscavam a mesma coisa, o mesmo pertencimento. O sofrimento, a experiência de descarte, e a própria finalidade bélica de sua criação fizeram de Hive um assassino megalomaníaco que diante da impossibilidade de se conectar de verdade com alguém, forçava essas conexões; a vivência em Afterlife, a escolha de dedicar sua vida a ajudar os outros através da Medicina e a culpa pelos momentos de descontrole faziam de Lincoln alguém que conhece o que é de fato pertencer a algo e alguém e buscava desesperadamente a oportunidade de viver aquilo de novo. E lá no espaço, no último momento, antes de morrerem, eles se conectaram. De modo genuíno, como nunca antes na vida da Hive. Afinal, eles eram também humanos.
Corrente do Mal
3.2 1,8K Assista AgoraGeralmente, é comum os bons filmes de terror atingirem 1 de 3 perguntas que são colocadas diantes de eles: (1) é visualmente interessante?; (2) tem algo de original/inovador/próprio no roteiro?; (3) dá margem pra leituras profundas da realidade? E o que acontece? "It Follows" recebe as três e responde as três.
O conceito visual do filme se funde justamente com o que traz de original na História - falar do amadurecimento de uma geração que desde cedo caminha na corda-bamba da autoconsciência. Aqui, os adolescentes leem Doistoievski, se questionam sobre o sentido da vida e veem os clássicos da ficção científica do século XX... ao mesmo tempo em que querem foder o vizinho, a amiga de infância, as prostitutas na rua, foder, foder, foder. Visualmente isso se faz presente à medida que a cinematografia foi lá no Tumblr sacar o look and feel e aplicou direitinho aqui. Tudo isso aliado com uma boa construção de pânico permanente que mistura o show off sobrenatural clássico com a tensão psicológica que os asiáticos ensinaram bem na década passada.
A meu ver, o que o roteiro tem de original é justamente sua capacidade de fazer bem o que é a principal proposta do cinema de horror (fornecer uma alegoria que espelha medos reais e com os quais a audiência pode se relacionar) enquanto defende uma leitura psicossocial sobre uma geração e aponta um caminho pra ela.
Porque "it" são as DSTs, é a ideia judaico-cristão de punição pelo sexo que já é em si um clichê no cinema de horror, é o rebuceteio, é a incapacidade emocional de lidar com as mudanças, é o medo de ser adulto, é o medo da morte, é a crise de ansiedade que mistura tudo isso e pode ser engatilhada a qualquer momento em qualquer lugar por qualquer coisa dentro do campo de visão e que te lembra de que você não tá no controle de absolutamente nada pois do nada uma merda colossal pode passar e levar tudo que te sustenta (o processo visual de amadurecimento se faz presente na própria palheta de cores do filme, que começa focando no rosa, marrom e azul em tons claros e termina bem mais pesado e explorando contraste entre branco cinza e preto). E, no fim, o caminho apontado é uma mudança de percepção: em vez de se entregar ao desespero do mal inevitável, que uma hora vai te alcançar, o mais construtivo a fazer é aceitar sua existência e seguir caminhando. Um passo de cada vez.