Tudo nesse filme é visualmente lindo. Os cenários, a construção do mundo e da guerra, a força da relação dos irmãos, a forma espontânea como eles vêem um abrigo abandonado como a casa ideal para viverem tranquilamente. Tudo, menos a história. É a história mais horrível e dolorosa que possa existir, e é o que é porque se compromete a retratar uma guerra que existiu. E nenhum cenário, nenhuma relação, nenhum desenho e, como a própria história retrata, nenhum irmão pode esconder o que foi a guerra. No fim, o irmão que luta pela sobrevivência da criança na verdade sempre foi uma também.
Parasita é visceral na forma como aborda os paralelos de uma sociedade tomada pela desigualdade. O design de produção faz da ambientação do filme um reflexo da crueldade de um sistema que sustenta os privilégios dos ricos e aperta os pobres em lugares desumanos, além de expor a visão subversiva daqueles que vivem distantes da própria realidade. São os que agem como se a pobreza fosse uma ilusão ou algo inofensivo, pois não a sentem devido a neutralização gerada pela dominância de recursos.
Com uma ação que não é gratuita e uma exposição que se faz necessária ao momento social atual que o país vive, Bacurau não é só um filme politicamente importante, ou com uma crítica social relevante. Ele é isso, e muito mais. É um filme surpreendente, imprevisível, e que possui uma ambientação que impressiona não só pela criação da cidade que dá nome ao filme, mas também pela forma como os personagem que a habitam a tornam a protagonista. É como se cada pessoa formasse um pedaço importante de Bacurau. E quando esses pedaços são colocados juntos, a minúscula cidade que parecia ser uma presa fácil, quase moribunda devido a miséria e a escassez de recursos, se torna voraz e vingativa. É como o mantra de Glauber Rocha: ‘’a mais nobre manifestação cultural da fome é a violência.’’
O protagonista do filme parece alguém entediado quando não está se afogando em uma vida moldada pela arte. Arte essa que pode ser vista como única e perfeccionista, mas que acima disso, é desesperadora. Transmitida por alguém que abomina o tédio, apesar de ser consumido por ele a maior parte do tempo. O trabalho o consome e ele consome pelo trabalho. O seu desejo por todo tipo de porcaria é o ânimo de alguém anestesiado. O fotógrafo que trata o mundo como seus objetos, é arrogante demais a ponto de medir qualquer consequência. A estética perfeita se tornou um vício e o seu trabalho preenche um buraco gigantesco de alguém que vê o tempo como uma grande perda de tempo. Mas ele segue a vida. Não faz sentido não continuar, não há outro lado que ele possa ir senão para frente. E ele segue improvisando com cada situação que o aparece, sempre carregando consigo a sua arte. Não conhecemos Thomas, o Fotógrafo. Conhecemos apenas ‘’O Fotógrafo’’. Alguém que vestiu a sua profissão e que foi lentamente consumido por ela.
Me incomodam no filme a câmera tremida agoniante, algumas conveniências de roteiro, a exposição do monstro que me tira em alguns momentos do filme devido a artificialidade, personagens com atuações rasas e que não conseguem transmitir um grande apego, ao menos pra mim. Mas gostei da produção dos cenários, e a abordagem em found footage, que apesar de extremamente batida, inova mesclando com algo tão fantasioso e dando um ponto de vista interessante a um filme de monstro. Apesar de achar que se alonga demais no final, gosto da resolução, e principalmente da coragem do filme. Transmite bem a sensação de perigo, e a ambientação do caos em NY é sensacional.
Talvez ele nem tenha realmente encontrado a filha e tudo seja uma metáfora pela saudade e a dor do que fez. Talvez ele tenha feito a hipnose porque não conseguia conviver com a culpa de viver pensando no ato abominável que cometeu, e de que preferia viver com ela e como ela, sem saber da verdade. Talvez, o segredo não seja esquecer as relações que teve com a filha, e sim, esquecer que ela era a filha dele ( sim, é extremamente perturbador pensar nisso). O final cabe a interpretação de cada um, e a minha, é de que a cena mostra como é ter que viver com uma culpa incabível a qualquer ser humano, e que mesmo que tentemos esquecê-la e seguir em frente, a dor sempre estará lá para ser sentida.
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Túmulo dos Vagalumes
4.6 2,2KTudo nesse filme é visualmente lindo. Os cenários, a construção do mundo e da guerra, a força da relação dos irmãos, a forma espontânea como eles vêem um abrigo abandonado como a casa ideal para viverem tranquilamente. Tudo, menos a história. É a história mais horrível e dolorosa que possa existir, e é o que é porque se compromete a retratar uma guerra que existiu. E nenhum cenário, nenhuma relação, nenhum desenho e, como a própria história retrata, nenhum irmão pode esconder o que foi a guerra. No fim, o irmão que luta pela sobrevivência da criança na verdade sempre foi uma também.
Parasita
4.5 3,6K Assista AgoraParasita é visceral na forma como aborda os paralelos de uma sociedade tomada pela desigualdade. O design de produção faz da ambientação do filme um reflexo da crueldade de um sistema que sustenta os privilégios dos ricos e aperta os pobres em lugares desumanos, além de expor a visão subversiva daqueles que vivem distantes da própria realidade. São os que agem como se a pobreza fosse uma ilusão ou algo inofensivo, pois não a sentem devido a neutralização gerada pela dominância de recursos.
Bacurau
4.3 2,7K Assista AgoraCom uma ação que não é gratuita e uma exposição que se faz necessária ao momento social atual que o país vive, Bacurau não é só um filme politicamente importante, ou com uma crítica social relevante. Ele é isso, e muito mais. É um filme surpreendente, imprevisível, e que possui uma ambientação que impressiona não só pela criação da cidade que dá nome ao filme, mas também pela forma como os personagem que a habitam a tornam a protagonista. É como se cada pessoa formasse um pedaço importante de Bacurau. E quando esses pedaços são colocados juntos, a minúscula cidade que parecia ser uma presa fácil, quase moribunda devido a miséria e a escassez de recursos, se torna voraz e vingativa. É como o mantra de Glauber Rocha: ‘’a mais nobre manifestação cultural da fome é a violência.’’
Blow-Up: Depois Daquele Beijo
3.9 370 Assista AgoraO protagonista do filme parece alguém entediado quando não está se afogando em uma vida moldada pela arte. Arte essa que pode ser vista como única e perfeccionista, mas que acima disso, é desesperadora. Transmitida por alguém que abomina o tédio, apesar de ser consumido por ele a maior parte do tempo. O trabalho o consome e ele consome pelo trabalho.
O seu desejo por todo tipo de porcaria é o ânimo de alguém anestesiado. O fotógrafo que trata o mundo como seus objetos, é arrogante demais a ponto de medir qualquer consequência. A estética perfeita se tornou um vício e o seu trabalho preenche um buraco gigantesco de alguém que vê o tempo como uma grande perda de tempo. Mas ele segue a vida. Não faz sentido não continuar, não há outro lado que ele possa ir senão para frente. E ele segue improvisando com cada situação que o aparece, sempre carregando consigo a sua arte. Não conhecemos Thomas, o Fotógrafo. Conhecemos apenas ‘’O Fotógrafo’’. Alguém que vestiu a sua profissão e que foi lentamente consumido por ela.
Cloverfield: Monstro
3.2 1,4K Assista AgoraMe incomodam no filme a câmera tremida agoniante, algumas conveniências de roteiro, a exposição do monstro que me tira em alguns momentos do filme devido a artificialidade, personagens com atuações rasas e que não conseguem transmitir um grande apego, ao menos pra mim. Mas gostei da produção dos cenários, e a abordagem em found footage, que apesar de extremamente batida, inova mesclando com algo tão fantasioso e dando um ponto de vista interessante a um filme de monstro. Apesar de achar que se alonga demais no final, gosto da resolução, e principalmente da coragem do filme. Transmite bem a sensação de perigo, e a ambientação do caos em NY é sensacional.
Oldboy
4.3 2,3K Assista AgoraTalvez ele nem tenha realmente encontrado a filha e tudo seja uma metáfora pela saudade e a dor do que fez. Talvez ele tenha feito a hipnose porque não conseguia conviver com a culpa de viver pensando no ato abominável que cometeu, e de que preferia viver com ela e como ela, sem saber da verdade. Talvez, o segredo não seja esquecer as relações que teve com a filha, e sim, esquecer que ela era a filha dele ( sim, é extremamente perturbador pensar nisso). O final cabe a interpretação de cada um, e a minha, é de que a cena mostra como é ter que viver com uma culpa incabível a qualquer ser humano, e que mesmo que tentemos esquecê-la e seguir em frente, a dor sempre estará lá para ser sentida.
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