Apesar do roteiro que não traz praticamente nada de original e da edição apelativa típica da estética dos filmes de ação asiáticos, o filme funciona justamente pela direção quase impecável, aliada a uma montagem muito eficiente, a começar pela cena inicial de mais de 5 minutos de um (quase) plano-sequência em primeira pessoa frenético e sangrento, assim como as demais cenas de ação do filme (muito bem coreografadas, por sinal).
No final eu só consigo pensar no trabalho que esse diretor teve com a decupagem. Uma ótima pedida, principalmente, pra quem curte uma boa película de ação. O longa mostra porque foi aclamado nos Festivais de Cannes e do Rio e desponta como um dos maiores nomes do cinema sul-coreano dessa temporada.
Costuma-se dizer que um grande filme é aquele que faz o espectador refletir por um bom tempo depois e que dê vontade de vê-lo de novo. mother! é esse tipo de filme. Durante suas quase 2h, o longa nos prende e nos leva por uma viagem quase surreal saída da cabeça do diretor e roteirista Darren Aronofsky.
mother! é um filme denso e subversivo. O longa é construído sob alegorias e simbolismos, o que torna difícil explanar muito sem dar algum 'spoiler' ou influenciar a análise pessoal. O fato é que todo o mistério sobre o que o diretor quer nos passar com cada cena, milimetricamente pensada dentro do roteiro, nos prende desde o primeiro até o último segundo, criando uma crescente tensão sem deixar cair o ritmo até o final, algo muito difícil de se fazer.
O enredo começa mostrando o casal (que, assim como todos os personagens do filme, não têm nome) interpretado por Jennifer Lawrence e Javier Bardem, vivendo isolados em uma casa no campo em processo de restauração após um incêndio. Desde o início, a personagem de Lawrence é representada de maneira inocente e submissa e se vê pressionada dentro do ambiente e da relação, enquanto Bardem parece ser dominador e relapso, e se sente muito livre dentro do ambiente (notar principalmente o jogo de câmera que sempre foca no rosto dela, mostrando-a pressionada em tela, enquanto ele é focado em plano aberto se sentindo à vontade no espaço). A câmera subjetiva foca e segue Jennifer praticamente pelo filme todo, nos colocando sob sua perspectiva e, consequentemente, nos passando sua aflição dentro do ambiente misterioso da casa (praticamente todos os planos do filme se passam dentro da casa, nos mantendo sob sua atmosfera pesada), sentimento potencializado pela fotografia em tons quentes.
Ao mesmo tempo que cresce o desconforto da personagem, mostra-se o seu zelo e submissão pela casa, que é tratada como algo quase sagrado e intocável. No entanto, esse sentimento não parece ser compartilhado pelo personagem de Bardem. A situação se complica com a chegada repentina de um casal de estranhos (interpretado por Ed Harris e Michelle Pfeiffer) que passam a se hospedar na casa, se sentindo muito confortáveis no ambiente; e à medida que cresce a intimidade entre os hóspedes e o anfitrião, eventos incomuns e desconcertantes passam a incomodar ainda mais Lawrence.
A partir desse momento, o roteiro vai ganhando cada vez mais tensão, deixando o público tal qual a personagem principal: sem entender o que está acontecendo. A direção ágil de Aronofsky é sufocante e não deixa que o espectador desvie a atenção por nenhum instante. Outro fato que chama a atenção é a quase ausência de trilha sonora. Os rangidos e barulhos da casa são o suficiente para dar a tensão necessária ao roteiro. Além disso, um dos melhores fatores da produção é a atuação de TODO o elenco, com destaque para Bardem, que confere ao seu personagem tom misterioso e autoritário, Pfeiffer com sua atuação sombria e cativante e, obviamente, Lawrence, que nos entrega uma atuação hipnótica com uma personagem completamente densa em uma de suas melhores performances da carreira.
O clímax do filme se dá já próximo ao final, quando o diretor parece nos mastigar, desnecessariamente, a metáfora principal que queria passar: um dos pontos mais fracos de um roteiro brilhante. Outro problema menor foram algumas escolhas gráficas utilizadas durante algumas cenas, que destoam um pouco do resto do filme. Esses fatores, contudo, não estragam o brilhantismo de um filme com um roteiro tão simbólico e denso que parece um quebra-cabeça no qual o público se empenha em montar desde o princípio e, mesmo depois, ainda não consegue solucioná-lo completamente, devido a tantas possíveis interpretações. Um grande filme que já é um dos melhores de Aronofsky e um dos melhores (e mais diferentes) do ano.
Um filme com um roteiro promissor, porém com uma direção péssima. A grande tentativa do filme é fazer o público tomar sustos a qualquer custo e, ao mesmo tempo, rir e simpatizar com o grande elenco mirim, no que tenta ser uma reconstrução da atmosfera da série Stranger Things. Nessa tentativa, acaba por criar incoerências grotescas de continuidade do tipo: corte abrupto de uma cena que envolve grande tensão para uma cena agradável do núcleo infantil com uma trilha sonora que parece ter saído de uma série teen.
Aliás, dois dos maiores problemas do filme são justamente a trilha sonora e a montagem. Esta não ajuda em nada na construção de um clímax para o longa; a trama vai se dividindo de maneira não orgânica entre cenas de tensão e cenas de alívio cômico. Outro problema são os excessivos cortes em um mesmo plano; ou, ainda, uma cena em que o palhaço aparece para uma criança apenas para dar susto no público e é cortada para outra sem que saibamos qual o desfecho daquela cena. Quanto à trilha sonora, principalmente se tratando dos momentos de tensão, não inova em nada e é tão apelativa quanto a maioria dos demais filmes do gênero.
Ao observar o roteiro, há dois pontos a se destacar. A trama geral possui um significado simbólico importante quanto à relação entre os adultos relapsos e seu impacto na vida das crianças, o que origina, em cada subtrama, um medo a ser retratado (do esquecimento, do abuso, da superproteção, etc) e ulteriormente centrado na figura do palhaço Pennywise, que acaba por possuir um significado metafórico. Este é justamente o ponto alto do filme que, no entanto, não desenvolve tão bem o tema e, ainda que houvesse algumas cenas que explicassem ao público um pouco dessa questão, não se sabia até que ponto se poderia refletir sobre, já que o próprio fiilme não se leva a sério ao preferir fazer piadas já batidas acerca da puberdade, etc.
Ainda quanto ao desenvolvimento do roteiro, outro grande fator prejudicial à trama foi o número de crianças no elenco infantil principal, de tal modo que nem todas as subtramas foram bem desenvolvidas e algumas das crianças parecem nem ter propósito no filme, a exemplo do personagem interpretado pelo ator de Stranger Things Finn Wolfhard, que parece ter sido encaixado apenas para ser o engraçadinho da turma e fazer o público rir e simpatizar com o grupo. Uma grata surpresa foi a atriz Sophia Lillis, que mostrou ter talento para um futuro promissor, cuja personagem possui a melhor subtrama e protagoniza a melhor cena do filme (notar para a simbologia da cena do ralo no banheiro).
Por fim, It - A Coisa é um filme que provavelmente vá agradar ao grande público com seus jumpscares e outros elementos típicos do gênero e sua simpática turminha infantil. No entanto, para tal aprece ter sacrificado uma ótima oportunidade para trabalhar temas mais densos de forma simbólica. Um filme que poderia ter sido muito e foi apenas mais do mesmo.
As cinebiografias, recentemente, têm ganhado um importante espaço no cenário cinematográfico nacional. Nesse sentido, Bingo nos traz mais uma história de um artista (Arlindo Barreto), contando sobre sua ascensão, autodestruição e seu desfecho, algo bem parecido com o recente Tim Maia, de 2014.
O que chama atenção em Bingo é justamente o enredo interessante, e desconhecido pela maior parte do público, acerca de um dos intérpretes do famoso palhaço Bozo na década de 80. Além de um bom enredo, se destacam as ótimas e cativantes atuações de Vladimir Brichta (que entrega uma fervorosa performance em um de seus personagens mais complexos até agora), da sempre boa Leandra Leal e do carismático Augusto Madeira, que como melhor amigo de Bingo traz um alívio cômico nas horas certas.
Aliás, o roteiro acerta na hora de mesclar a comicidade com momentos de maior tensão (é um filme para rir e emocionar). No entanto, peca por desenvolver seu clímax muito tardiamente, fazendo com que o terceiro ato fosse rápido demais e deixasse de abordar alguns aspectos interessantes da história do personagem. Tecnicamente, outro fator que deixou a desejar foi a montagem, com cortes excessivos em um único plano.
No entanto, estes fatores não estragam o filme em si, que nos entrega uma boa produção nacional (com uma ótima e nostálgica trilha sonora, vale lembrar), que vale a pena ir prestigiar no cinema.
Durante entrevistas, perguntado como convenceu produtores estadunidenses a fazer um filme sobre soldados britânicos, Nolan revelou que propôs criar um filme com uma verdadeira experiência de imersão, sem 3D.
No ímpeto de realizar seu feito, o diretor basicamente lançou mão de elaborar um roteiro e parece simplesmente nos jogar na praia da cidade de Dunquerque, na França, encurralada pelas forças da Blietzkrieg, junto com cerca de 400 mil soldados britânicos esperando pelo resgate de volta à Grã-Bretanha.
Já na cena inicial o diretor evidencia a falta de roteiro (e poucos diálogos durante todo o filme) com uma tela preta resumindo o exposto acima e ressaltando o quanto os soldados estavam amedrontados e esperançosos pela chegada dos navios que os iriam resgatar (mais uma vez desrespeitando a inteligência do público; na situação dos soldados, ó óbvio que estariam assim).
Após essa breve introdução, o que se segue é uma sequência de tiros e explosões que seguem até o fim do filme, praticamente. Aliás, os efeitos sonoros e a trilha sonora nervosa, porém clichê e apelativa, de Hans Zimmer parecem ser o maior apelo do diretor para a construção de uma experiência de imersão, aliado a um jogo de câmera (na sua maioria subjetiva) confuso e que chega a deixar tonto por algumas vezes, aliado a cortes e uma montagem duvidosa que se divide entre subtramas igualmente fracas de grupos de soldados, visto que simplesmente nenhum personagem durante o filme todo tem uma apresentação ou desenvolvimento decente.
A impressão que passa é que o diretor preferiu rodopiar a câmera no meio de sucessivas explosões e tiros (um problema ainda maior na subtrama do piloto de caça interpretado por Tom Hardy) em vez de nos apresentar os personagens e uma trama decente. Com essas escolhas acabou por prejudicar a fotografia e a performance dos atores (mais uma vez, a exemplo de Tom Hardy, cuja cara e as expressões só podem ser vistos nos minutos finais do filme), pontos que poderiam alavancar o longa.
No mais, o filme não cumpre nem mesmo o que se propõe, devido a escolhas duvidosas do diretor principalmente quanto a enquadramento e jogo de câmeras e efeitos e trilha sonora apelativos na tentativa de nos tentar colocar no campo de guerra. Seria muito mais fácil para despertar empatia no púbico o desenvolvimento da trama e dos personagens.
Uma informação importante a se ter conhecimento antes de assistir o filme é que o roteirista e diretor Edgar Wright escreveu e dirigiu todo o filme baseado em uma playlist pré-concebida. A partir disso, se propôs a fazer praticamente um musical de ação.
É justamente isso que entrega ao público. Um filme divertido, cativante e que contagia desde a primeira cena. Como roteirista executou bem seu trabalho ao construir muito bem o personagem principal (Baby) nos mostrando desde as circunstâncias prévias que o levaram ao estado atual e os dilemas do personagem com o fato de atuar com a máfia.
Os demais personagens também são bem apresentados e convincentes, fatos estes que, aliados a um ótimo domínio de direção, montagem, fotografia viva e envolvente, enquadramento muito eficiente (vide cenas com legendas na tela durante as falas em linguagem de sinais entre o personagem Baby e seu pai adotivo) e, sobretudo, trilha sonora impecável e totalmente casada com os demais elementos da direção (as batidas sonoras seguem a fotografia, as ações dos atores, etc.)
Ainda assim, a direção perde fôlego no terceiro ato. O diretor mostra ter maior domínio em situações cômicas e de ação. Quando se trata de momentos de maior tensão, a direção e a própria trilha sonora perdem sua identidade dentro do conjunto e acabam por dar a impressão de ser apenas algum outro filme de máfia.
No entanto, este fato isolado não prejudica a obra como um todo, que no final diverte e entretém todos os públicos durante seus 113 minutos e se mostrando ser, sobretudo, um filme criativo e já figurando como um dos melhores (na minha humilde opinião, o melhor) do ano até o momento.
O maior problema do filme é o roteiro, bem batido e com final previsível. No entanto, por mais que tenha algumas falhas,a direção é relativamente competente, aliada ao grande ponto forte do filme, que são todas as atuações do elenco.
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A Vilã
3.6 224 Assista AgoraEu tô muito impactado com essa aula de direção.
Apesar do roteiro que não traz praticamente nada de original e da edição apelativa típica da estética dos filmes de ação asiáticos, o filme funciona justamente pela direção quase impecável, aliada a uma montagem muito eficiente, a começar pela cena inicial de mais de 5 minutos de um (quase) plano-sequência em primeira pessoa frenético e sangrento, assim como as demais cenas de ação do filme (muito bem coreografadas, por sinal).
No final eu só consigo pensar no trabalho que esse diretor teve com a decupagem. Uma ótima pedida, principalmente, pra quem curte uma boa película de ação. O longa mostra porque foi aclamado nos Festivais de Cannes e do Rio e desponta como um dos maiores nomes do cinema sul-coreano dessa temporada.
Mãe!
4.0 3,9K Assista AgoraCostuma-se dizer que um grande filme é aquele que faz o espectador refletir por um bom tempo depois e que dê vontade de vê-lo de novo. mother! é esse tipo de filme. Durante suas quase 2h, o longa nos prende e nos leva por uma viagem quase surreal saída da cabeça do diretor e roteirista Darren Aronofsky.
mother! é um filme denso e subversivo. O longa é construído sob alegorias e simbolismos, o que torna difícil explanar muito sem dar algum 'spoiler' ou influenciar a análise pessoal. O fato é que todo o mistério sobre o que o diretor quer nos passar com cada cena, milimetricamente pensada dentro do roteiro, nos prende desde o primeiro até o último segundo, criando uma crescente tensão sem deixar cair o ritmo até o final, algo muito difícil de se fazer.
O enredo começa mostrando o casal (que, assim como todos os personagens do filme, não têm nome) interpretado por Jennifer Lawrence e Javier Bardem, vivendo isolados em uma casa no campo em processo de restauração após um incêndio. Desde o início, a personagem de Lawrence é representada de maneira inocente e submissa e se vê pressionada dentro do ambiente e da relação, enquanto Bardem parece ser dominador e relapso, e se sente muito livre dentro do ambiente (notar principalmente o jogo de câmera que sempre foca no rosto dela, mostrando-a pressionada em tela, enquanto ele é focado em plano aberto se sentindo à vontade no espaço). A câmera subjetiva foca e segue Jennifer praticamente pelo filme todo, nos colocando sob sua perspectiva e, consequentemente, nos passando sua aflição dentro do ambiente misterioso da casa (praticamente todos os planos do filme se passam dentro da casa, nos mantendo sob sua atmosfera pesada), sentimento potencializado pela fotografia em tons quentes.
Ao mesmo tempo que cresce o desconforto da personagem, mostra-se o seu zelo e submissão pela casa, que é tratada como algo quase sagrado e intocável. No entanto, esse sentimento não parece ser compartilhado pelo personagem de Bardem. A situação se complica com a chegada repentina de um casal de estranhos (interpretado por Ed Harris e Michelle Pfeiffer) que passam a se hospedar na casa, se sentindo muito confortáveis no ambiente; e à medida que cresce a intimidade entre os hóspedes e o anfitrião, eventos incomuns e desconcertantes passam a incomodar ainda mais Lawrence.
A partir desse momento, o roteiro vai ganhando cada vez mais tensão, deixando o público tal qual a personagem principal: sem entender o que está acontecendo. A direção ágil de Aronofsky é sufocante e não deixa que o espectador desvie a atenção por nenhum instante. Outro fato que chama a atenção é a quase ausência de trilha sonora. Os rangidos e barulhos da casa são o suficiente para dar a tensão necessária ao roteiro. Além disso, um dos melhores fatores da produção é a atuação de TODO o elenco, com destaque para Bardem, que confere ao seu personagem tom misterioso e autoritário, Pfeiffer com sua atuação sombria e cativante e, obviamente, Lawrence, que nos entrega uma atuação hipnótica com uma personagem completamente densa em uma de suas melhores performances da carreira.
O clímax do filme se dá já próximo ao final, quando o diretor parece nos mastigar, desnecessariamente, a metáfora principal que queria passar: um dos pontos mais fracos de um roteiro brilhante. Outro problema menor foram algumas escolhas gráficas utilizadas durante algumas cenas, que destoam um pouco do resto do filme. Esses fatores, contudo, não estragam o brilhantismo de um filme com um roteiro tão simbólico e denso que parece um quebra-cabeça no qual o público se empenha em montar desde o princípio e, mesmo depois, ainda não consegue solucioná-lo completamente, devido a tantas possíveis interpretações. Um grande filme que já é um dos melhores de Aronofsky e um dos melhores (e mais diferentes) do ano.
It: A Coisa
3.9 3,0K Assista AgoraUm filme com um roteiro promissor, porém com uma direção péssima. A grande tentativa do filme é fazer o público tomar sustos a qualquer custo e, ao mesmo tempo, rir e simpatizar com o grande elenco mirim, no que tenta ser uma reconstrução da atmosfera da série Stranger Things. Nessa tentativa, acaba por criar incoerências grotescas de continuidade do tipo: corte abrupto de uma cena que envolve grande tensão para uma cena agradável do núcleo infantil com uma trilha sonora que parece ter saído de uma série teen.
Aliás, dois dos maiores problemas do filme são justamente a trilha sonora e a montagem. Esta não ajuda em nada na construção de um clímax para o longa; a trama vai se dividindo de maneira não orgânica entre cenas de tensão e cenas de alívio cômico. Outro problema são os excessivos cortes em um mesmo plano; ou, ainda, uma cena em que o palhaço aparece para uma criança apenas para dar susto no público e é cortada para outra sem que saibamos qual o desfecho daquela cena. Quanto à trilha sonora, principalmente se tratando dos momentos de tensão, não inova em nada e é tão apelativa quanto a maioria dos demais filmes do gênero.
Ao observar o roteiro, há dois pontos a se destacar. A trama geral possui um significado simbólico importante quanto à relação entre os adultos relapsos e seu impacto na vida das crianças, o que origina, em cada subtrama, um medo a ser retratado (do esquecimento, do abuso, da superproteção, etc) e ulteriormente centrado na figura do palhaço Pennywise, que acaba por possuir um significado metafórico. Este é justamente o ponto alto do filme que, no entanto, não desenvolve tão bem o tema e, ainda que houvesse algumas cenas que explicassem ao público um pouco dessa questão, não se sabia até que ponto se poderia refletir sobre, já que o próprio fiilme não se leva a sério ao preferir fazer piadas já batidas acerca da puberdade, etc.
Ainda quanto ao desenvolvimento do roteiro, outro grande fator prejudicial à trama foi o número de crianças no elenco infantil principal, de tal modo que nem todas as subtramas foram bem desenvolvidas e algumas das crianças parecem nem ter propósito no filme, a exemplo do personagem interpretado pelo ator de Stranger Things Finn Wolfhard, que parece ter sido encaixado apenas para ser o engraçadinho da turma e fazer o público rir e simpatizar com o grupo. Uma grata surpresa foi a atriz Sophia Lillis, que mostrou ter talento para um futuro promissor, cuja personagem possui a melhor subtrama e protagoniza a melhor cena do filme (notar para a simbologia da cena do ralo no banheiro).
Por fim, It - A Coisa é um filme que provavelmente vá agradar ao grande público com seus jumpscares e outros elementos típicos do gênero e sua simpática turminha infantil. No entanto, para tal aprece ter sacrificado uma ótima oportunidade para trabalhar temas mais densos de forma simbólica. Um filme que poderia ter sido muito e foi apenas mais do mesmo.
Bingo - O Rei das Manhãs
4.1 1,1K Assista AgoraAs cinebiografias, recentemente, têm ganhado um importante espaço no cenário cinematográfico nacional. Nesse sentido, Bingo nos traz mais uma história de um artista (Arlindo Barreto), contando sobre sua ascensão, autodestruição e seu desfecho, algo bem parecido com o recente Tim Maia, de 2014.
O que chama atenção em Bingo é justamente o enredo interessante, e desconhecido pela maior parte do público, acerca de um dos intérpretes do famoso palhaço Bozo na década de 80. Além de um bom enredo, se destacam as ótimas e cativantes atuações de Vladimir Brichta (que entrega uma fervorosa performance em um de seus personagens mais complexos até agora), da sempre boa Leandra Leal e do carismático Augusto Madeira, que como melhor amigo de Bingo traz um alívio cômico nas horas certas.
Aliás, o roteiro acerta na hora de mesclar a comicidade com momentos de maior tensão (é um filme para rir e emocionar). No entanto, peca por desenvolver seu clímax muito tardiamente, fazendo com que o terceiro ato fosse rápido demais e deixasse de abordar alguns aspectos interessantes da história do personagem. Tecnicamente, outro fator que deixou a desejar foi a montagem, com cortes excessivos em um único plano.
No entanto, estes fatores não estragam o filme em si, que nos entrega uma boa produção nacional (com uma ótima e nostálgica trilha sonora, vale lembrar), que vale a pena ir prestigiar no cinema.
Dunkirk
3.8 2,0K Assista AgoraDurante entrevistas, perguntado como convenceu produtores estadunidenses a fazer um filme sobre soldados britânicos, Nolan revelou que propôs criar um filme com uma verdadeira experiência de imersão, sem 3D.
No ímpeto de realizar seu feito, o diretor basicamente lançou mão de elaborar um roteiro e parece simplesmente nos jogar na praia da cidade de Dunquerque, na França, encurralada pelas forças da Blietzkrieg, junto com cerca de 400 mil soldados britânicos esperando pelo resgate de volta à Grã-Bretanha.
Já na cena inicial o diretor evidencia a falta de roteiro (e poucos diálogos durante todo o filme) com uma tela preta resumindo o exposto acima e ressaltando o quanto os soldados estavam amedrontados e esperançosos pela chegada dos navios que os iriam resgatar (mais uma vez desrespeitando a inteligência do público; na situação dos soldados, ó óbvio que estariam assim).
Após essa breve introdução, o que se segue é uma sequência de tiros e explosões que seguem até o fim do filme, praticamente. Aliás, os efeitos sonoros e a trilha sonora nervosa, porém clichê e apelativa, de Hans Zimmer parecem ser o maior apelo do diretor para a construção de uma experiência de imersão, aliado a um jogo de câmera (na sua maioria subjetiva) confuso e que chega a deixar tonto por algumas vezes, aliado a cortes e uma montagem duvidosa que se divide entre subtramas igualmente fracas de grupos de soldados, visto que simplesmente nenhum personagem durante o filme todo tem uma apresentação ou desenvolvimento decente.
A impressão que passa é que o diretor preferiu rodopiar a câmera no meio de sucessivas explosões e tiros (um problema ainda maior na subtrama do piloto de caça interpretado por Tom Hardy) em vez de nos apresentar os personagens e uma trama decente. Com essas escolhas acabou por prejudicar a fotografia e a performance dos atores (mais uma vez, a exemplo de Tom Hardy, cuja cara e as expressões só podem ser vistos nos minutos finais do filme), pontos que poderiam alavancar o longa.
No mais, o filme não cumpre nem mesmo o que se propõe, devido a escolhas duvidosas do diretor principalmente quanto a enquadramento e jogo de câmeras e efeitos e trilha sonora apelativos na tentativa de nos tentar colocar no campo de guerra. Seria muito mais fácil para despertar empatia no púbico o desenvolvimento da trama e dos personagens.
Em Ritmo de Fuga
4.0 1,9K Assista AgoraUma informação importante a se ter conhecimento antes de assistir o filme é que o roteirista e diretor Edgar Wright escreveu e dirigiu todo o filme baseado em uma playlist pré-concebida. A partir disso, se propôs a fazer praticamente um musical de ação.
É justamente isso que entrega ao público. Um filme divertido, cativante e que contagia desde a primeira cena. Como roteirista executou bem seu trabalho ao construir muito bem o personagem principal (Baby) nos mostrando desde as circunstâncias prévias que o levaram ao estado atual e os dilemas do personagem com o fato de atuar com a máfia.
Os demais personagens também são bem apresentados e convincentes, fatos estes que, aliados a um ótimo domínio de direção, montagem, fotografia viva e envolvente, enquadramento muito eficiente (vide cenas com legendas na tela durante as falas em linguagem de sinais entre o personagem Baby e seu pai adotivo) e, sobretudo, trilha sonora impecável e totalmente casada com os demais elementos da direção (as batidas sonoras seguem a fotografia, as ações dos atores, etc.)
Ainda assim, a direção perde fôlego no terceiro ato. O diretor mostra ter maior domínio em situações cômicas e de ação. Quando se trata de momentos de maior tensão, a direção e a própria trilha sonora perdem sua identidade dentro do conjunto e acabam por dar a impressão de ser apenas algum outro filme de máfia.
No entanto, este fato isolado não prejudica a obra como um todo, que no final diverte e entretém todos os públicos durante seus 113 minutos e se mostrando ser, sobretudo, um filme criativo e já figurando como um dos melhores (na minha humilde opinião, o melhor) do ano até o momento.
Neve Negra
3.4 159O maior problema do filme é o roteiro, bem batido e com final previsível. No entanto, por mais que tenha algumas falhas,a direção é relativamente competente, aliada ao grande ponto forte do filme, que são todas as atuações do elenco.