Tal como cantou Mark Linkous: "It's a sad and beautiful world", e Kieslowski traz isso de uma forma tão intensa em seus filmes "Não matarás" e "Não amarás" que me fizeram refletir sobre a dualidade humana na obra e fora desta. Após horas de digestão de tais obras, sinto que é como se o mesmo tentasse compensar a podridão humana através do cuidado e da beleza de seus enquadramentos, cores, trilha e tecelagem do roteiro.
Cada aspecto citado trazem a noção de que a composição do mundo pode ser bela, mesmo em contextos que desnudam nojo, medo e horror - como em cenas de voyeurismo, assassinato ou execução de uma pena de morte. Por outro lado, esse detalhamento e crueza acabam por revelar como todos nós somos podres, sádicos, egoístas e doentes.
Kieslowski traz seu enredo para vida real e coloca o espectador em uma posição ora desconfortável ora reconfortante, uma vez que como bons opinadores estamos sempre muito preocupados em apontar dedos - livrando-nos da responsabilidade do ato que fora julgado com horror - ou comovidos demais com a nuance que alguma personagem nos desperta. E é esse o ponto relevante e fundamental de sua obra, na minha insignificante opinião: somos todos vítimas e algozes (uns mais, outros menos), somos todos belos e imundos. Somos todos particularmente humanos. Olhar tais dimensões no filme e na vida, ao mesmo tempo que me fascina e me faz querer estar de carne, osso, tripas e coração presente nesse mundo, me causa nojo e espanto por ser, fazer e causar tanto sofrimento. Não podemos, e acredito, que não devemos nos enganar: cada criatura humana está potencialmente suja do sangue alheio. Como diria Dostoiévski em 'O sonho de um homem ridículo': Eu amo, eu só posso amar aquela terra que eu deixei, onde ficaram os respingos do meu sangue, quando eu, ingrato, com um tiro no meu coração, extingui a minha vida. Mas jamais, jamais deixei de amar aquela terra, e mesmo naquela noite, ao me separar dela, talvez a amasse com mais tormento do que nunca. [...] Na nossa terra não podemos amar de verdade senão com o tormento e só pelo tormento! De outro modo não sabemos amar e não conhecemos amor diferente. Eu quero o tormento para poder amar. Eu tenho desejo, eu tenho sede, neste exato instante, de beijar, banhado em lágrimas, somente aquela terra que deixei, e não quero, não admito a vida em nenhuma outra!...
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Cidade dos Sonhos
4.2 1,7K Assista AgoraApenas:
"Is all that we see or seem but a dream within a dream?"
Não Matarás
4.1 131 Assista AgoraTal como cantou Mark Linkous: "It's a sad and beautiful world", e Kieslowski traz isso de uma forma tão intensa em seus filmes "Não matarás" e "Não amarás" que me fizeram refletir sobre a dualidade humana na obra e fora desta.
Após horas de digestão de tais obras, sinto que é como se o mesmo tentasse compensar a podridão humana através do cuidado e da beleza de seus enquadramentos, cores, trilha e tecelagem do roteiro.
Cada aspecto citado trazem a noção de que a composição do mundo pode ser bela, mesmo em contextos que desnudam nojo, medo e horror - como em cenas de voyeurismo, assassinato ou execução de uma pena de morte. Por outro lado, esse detalhamento e crueza acabam por revelar como todos nós somos podres, sádicos, egoístas e doentes.
Kieslowski traz seu enredo para vida real e coloca o espectador em uma posição ora desconfortável ora reconfortante, uma vez que como bons opinadores estamos sempre muito preocupados em apontar dedos - livrando-nos da responsabilidade do ato que fora julgado com horror - ou comovidos demais com a nuance que alguma personagem nos desperta. E é esse o ponto relevante e fundamental de sua obra, na minha insignificante opinião: somos todos vítimas e algozes (uns mais, outros menos), somos todos belos e imundos. Somos todos particularmente humanos.
Olhar tais dimensões no filme e na vida, ao mesmo tempo que me fascina e me faz querer estar de carne, osso, tripas e coração presente nesse mundo, me causa nojo e espanto por ser, fazer e causar tanto sofrimento. Não podemos, e acredito, que não devemos nos enganar: cada criatura humana está potencialmente suja do sangue alheio.
Como diria Dostoiévski em 'O sonho de um homem ridículo':
Eu amo, eu só posso amar aquela terra que eu deixei, onde ficaram os respingos do meu sangue, quando eu, ingrato, com um tiro no meu coração, extingui a minha vida. Mas jamais, jamais deixei de amar aquela terra, e mesmo naquela noite, ao me separar dela, talvez a amasse com mais tormento do que nunca. [...] Na nossa terra não podemos amar de verdade senão com o tormento e só pelo tormento! De outro modo não sabemos amar e não conhecemos amor diferente. Eu quero o tormento para poder amar. Eu tenho desejo, eu tenho sede, neste exato instante, de beijar, banhado em lágrimas, somente aquela terra que deixei, e não quero, não admito a vida em nenhuma outra!...