Logo de cara, Beastars chama atenção com sua estética 3D incrivelmente bem trabalhada como pouco se vê em outros animes do gênero, talvez por ter animais antropomorfizados em vez de humanos. Até mesmo a sua icônica abertura mostra-se diferente e original ao usar uma animação stop-motion. Ainda em termos técnicos, a direção também é digna de nota ao compor criativamente tanto cenas importantes quanto banais, tornando a experiência audiovisual consistente do início ao fim.
A qualidade também é perceptível na história. O mundo de Beastars é uma sociedade onde carnívoros e herbívoros tentam coexistir pacificamente, ou seja, há um contrato social que reprime os instintos de uns e os medos de outros. Essa tensão permeia todos os conflitos da história, incluindo o romance entre o protagonista Legoshi (um lobo cinzento) e Haru (uma coelha-anã). Há uma sorte de analogias envolvendo relacionamento, amadurecimento e sexualidade dentro deste romance. E embora boa parte desta primeira temporada tenha um tom de comédia romântica – que é um pouco arrastada –, há várias outras analogias e discussões sociais em jogo trabalhadas de forma bastante interessante neste mundo.
O mangá já foi finalizado, e, se as adaptações continuarem e seguir o mesmo ritmo, poderemos ter o anime completo em 4 temporadas.
Tudo o que eu falei em relação à segunda temporada também vale para a terceira, sobre o legado de ensinamentos e exemplos de uma geração para outra e o paralelo de Kreese com o fascismo (ele diz explicitamente que o objetivo do Cobra Kai é fortalecer essa geração floquinho de neve/mimimi – termo, aliás, que foi erroneamente cortado na dublagem brasileira, semiocultando a camada política que a série se propõe a mostrar). O ritmo nessa temporada, entretanto, é um pouco mais lento que as anteriores, o que não quer dizer que não seja empolgante e até emocionante, principalmente ao revisitar cenários e trazer personagens dos filmes antigos, que contribuem para o desenvolvimento dos personagens de Johnny e Daniel, cujos (des)entendimentos ainda são superdivertidos e edificantes de assistir; o episódio “Miyagi-Do” foi sensacional, e eu nem sou fã de Karatê Kid (mas talvez esteja me tornando)! Com exceção de Kreese e outros, ainda é uma história sem vilões e mocinhos, com cada um tentando encontrar o seu melhor caminho, bebendo de conflitos políticos e culturais envolvendo gerações para apresentar um excelente entretenimento. A direção continua fazendo cortes mostrando paralelos entre jovens e adultos, mas há também cortes apresentando os três posicionamentos ideológicos distintos nos quais cada personagem se encaixa. O final da temporada é previsível, mas é aquela previsibilidade que a gente torce para acontecer desde o início da série. Minha única preocupação, agora, é que estendam a série mais do que o necessário (um dos maiores problemas que faz eu não acompanhar séries em andamento); o ideal é que termine já na próxima temporada, ou, no máximo, em duas.
Entretenimento de qualidade com doses de alegoria política
Nunca me considerei fã do Karatê Kid original, de maneira que a nostalgia em vários momentos do seriado não me atingem com grande intensidade. Entretanto, a dinâmica Daniel-Johnny me convence por evocar tempos de Sessão da Tarde e pela rivalidade divertidamente imatura de dois adultos. Individualmente, a filosofia de vida de cada um deles afeta seus estudantes, e, tal como seus respectivos senseis, mostram-se em espectros cinzentos, sem maniqueísmos, mesmo que haja uma predefinição de quem é bom ou mal. Todavia, a chegada de Kreese começa a mudar essa balança, empurrando personagens mais para um lado ou mais para o outro. Contrapondo-se à filosofia de Kreese, a evolução de Johnny para uma pessoa menos imatura é visível, sendo bastante satisfatório vê-lo crescer como pessoa e personagem.
Um dos principais méritos dessa série é como ela discute redenção e condenação, partindo de vários pontos de vistas. Ao longo da narrativa, opressores se tornam oprimidos e oprimidos se tornam opressores, em um constante conflito de desentendimentos. Nisso, brilha o paralelo de alguns eventos que mostra a geração adulta e a geração adolescente passando pelos mesmos problemas, porém, enquanto os mais jovens se desentendem e alimentam uma espiral de violência; os adultos, embora caiam no mesmo erro, conseguem se entender vez ou outra e, aos poucos, alimentam uma compreensão mútua. Há de se notar também como a extrema direita, que eu poderia enxergar encarnada no “Cobra Kai” de Kreese, se aproveita de toda essa raiva pressurizada e da ausência de diálogo para arrebanhar seguidores descontentes com sua própria vida, prometendo força (bruta) para vencer seus conflitos. Se a história da humanidade é realmente um pêndulo, não é surpresa que os pensamentos extremistas de Kreese tenham retornado numa era de Trump e Bolsonaro, afinal, “Cobra Kai nunca morre”.
Não sei se é porque tenho um pé atrás com produções que tentam reviver clássicos passados, mas tenho que tirar o chapéu para a forma como essa série decidiu requentar o nostálgico Karatê Kid: mostrar a rivalidade entre Daniel LaRusso e Jhonny Lawrence trinta anos depois (com os mesmos atores). Só que, desta vez, acompanhamos a história sob o ponto de vista do antagonista, que tem uma vida de “perdedor”, ao contrário de Daniel, um “vencedor”. A rivalidade soa meio boba, mas junto a alguns clichês, é o que dá a essa série um ar oitentista, mesmo que ambientada em 2018. Apesar do jeito politicamente incorreto de Jhonny, a série não se rende ao maniqueísmo ao mostrar qualidades e defeitos deste e de vários outros personagens secundários, incluindo o próprio LaRusso. A história também dá visibilidade ao novo elenco, que é bem convincente e se encaixa muito bem nessa dinâmica controversa entre os personagens da geração antiga. Obviamente, há várias referências ao filme original, que é revisitado de forma respeitosa e até fundamental para melhor proveito da série como um todo, afinal, ela sabe exatamente a qual público se destina, e eu faço parte dele.
Eu gosto quando um filme permanece assombrando sua cabeça depois de horas, e Coringa é um deles. Tecnicamente impecável em termos cinematográficos, entrega uma experiência inquietante (mas deslumbrante) em partes e no todo. A direção é certeira no que mostrar e como mostrar, de forma a realçar algum aspecto do personagem, pois, acima de tudo, esse filme é um estudo de personagem, o qual é brilhantemente interpretado por Joaquim Phoenix, seja em suas expressões corporais e faciais (certeza que vai ganhar, no mínimo, uma indicação ao Oscar). Destaco também a trilha sonora, que foi particularmente importante para intensificar algumas cenas. E o roteiro é uma delícia, bem redondo e aberto, salpicado de críticas sociais como desigualdade social e descaso por saúde mental (e não vou dizer nada mais aqui pois não quero estragar a surpresa de quem vai descobrir que tipo de estrutura o filme segue).
Nunca liguei para a ponta solta envolvendo o Jesse Pinkman no final de Breaking Bad, pois ela não diminui nem um pouco a experiência de conclusão da série. Uma continuação direta com foco nesse personagem não era necessária, no entanto, se a entrega é algo de qualidade, a questão da necessidade pouco importa. El Camino entrega qualidade equiparável a Breaking Bad, mostrando que Vinci Gilligan não perdeu a mão no roteiro e na linguagem audiovisual, ambos mesclando-se com perfeição, e contando ainda com excelentes atuações. É uma trama simples e objetiva, narrada em um ritmo lento, porém trabalhada de forma estupenda em seus detalhes, adicionando sutilizas aqui e ali e dando aquela tensão de “puta merda” em alguns momentos. Prato cheio para quem é fã da série, mas não recomendaria para quem não a assistiu.
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Didi Quer Ser Criança
1.8 186Assistir esse filme quando adulto é bizarro. Hello, FBI!
Beastars: O Lobo Bom (1ª Temporada)
4.0 88 Assista AgoraDiferenciado e promissor
Logo de cara, Beastars chama atenção com sua estética 3D incrivelmente bem trabalhada como pouco se vê em outros animes do gênero, talvez por ter animais antropomorfizados em vez de humanos. Até mesmo a sua icônica abertura mostra-se diferente e original ao usar uma animação stop-motion. Ainda em termos técnicos, a direção também é digna de nota ao compor criativamente tanto cenas importantes quanto banais, tornando a experiência audiovisual consistente do início ao fim.
A qualidade também é perceptível na história. O mundo de Beastars é uma sociedade onde carnívoros e herbívoros tentam coexistir pacificamente, ou seja, há um contrato social que reprime os instintos de uns e os medos de outros. Essa tensão permeia todos os conflitos da história, incluindo o romance entre o protagonista Legoshi (um lobo cinzento) e Haru (uma coelha-anã). Há uma sorte de analogias envolvendo relacionamento, amadurecimento e sexualidade dentro deste romance. E embora boa parte desta primeira temporada tenha um tom de comédia romântica – que é um pouco arrastada –, há várias outras analogias e discussões sociais em jogo trabalhadas de forma bastante interessante neste mundo.
O mangá já foi finalizado, e, se as adaptações continuarem e seguir o mesmo ritmo, poderemos ter o anime completo em 4 temporadas.
Cobra Kai (3ª Temporada)
4.1 296 Assista AgoraJá é uma das minhas séries preferidas
Tudo o que eu falei em relação à segunda temporada também vale para a terceira, sobre o legado de ensinamentos e exemplos de uma geração para outra e o paralelo de Kreese com o fascismo (ele diz explicitamente que o objetivo do Cobra Kai é fortalecer essa geração floquinho de neve/mimimi – termo, aliás, que foi erroneamente cortado na dublagem brasileira, semiocultando a camada política que a série se propõe a mostrar). O ritmo nessa temporada, entretanto, é um pouco mais lento que as anteriores, o que não quer dizer que não seja empolgante e até emocionante, principalmente ao revisitar cenários e trazer personagens dos filmes antigos, que contribuem para o desenvolvimento dos personagens de Johnny e Daniel, cujos (des)entendimentos ainda são superdivertidos e edificantes de assistir; o episódio “Miyagi-Do” foi sensacional, e eu nem sou fã de Karatê Kid (mas talvez esteja me tornando)! Com exceção de Kreese e outros, ainda é uma história sem vilões e mocinhos, com cada um tentando encontrar o seu melhor caminho, bebendo de conflitos políticos e culturais envolvendo gerações para apresentar um excelente entretenimento. A direção continua fazendo cortes mostrando paralelos entre jovens e adultos, mas há também cortes apresentando os três posicionamentos ideológicos distintos nos quais cada personagem se encaixa. O final da temporada é previsível, mas é aquela previsibilidade que a gente torce para acontecer desde o início da série. Minha única preocupação, agora, é que estendam a série mais do que o necessário (um dos maiores problemas que faz eu não acompanhar séries em andamento); o ideal é que termine já na próxima temporada, ou, no máximo, em duas.
Cobra Kai (2ª Temporada)
4.2 303 Assista AgoraEntretenimento de qualidade com doses de alegoria política
Nunca me considerei fã do Karatê Kid original, de maneira que a nostalgia em vários momentos do seriado não me atingem com grande intensidade. Entretanto, a dinâmica Daniel-Johnny me convence por evocar tempos de Sessão da Tarde e pela rivalidade divertidamente imatura de dois adultos. Individualmente, a filosofia de vida de cada um deles afeta seus estudantes, e, tal como seus respectivos senseis, mostram-se em espectros cinzentos, sem maniqueísmos, mesmo que haja uma predefinição de quem é bom ou mal. Todavia, a chegada de Kreese começa a mudar essa balança, empurrando personagens mais para um lado ou mais para o outro. Contrapondo-se à filosofia de Kreese, a evolução de Johnny para uma pessoa menos imatura é visível, sendo bastante satisfatório vê-lo crescer como pessoa e personagem.
Um dos principais méritos dessa série é como ela discute redenção e condenação, partindo de vários pontos de vistas. Ao longo da narrativa, opressores se tornam oprimidos e oprimidos se tornam opressores, em um constante conflito de desentendimentos. Nisso, brilha o paralelo de alguns eventos que mostra a geração adulta e a geração adolescente passando pelos mesmos problemas, porém, enquanto os mais jovens se desentendem e alimentam uma espiral de violência; os adultos, embora caiam no mesmo erro, conseguem se entender vez ou outra e, aos poucos, alimentam uma compreensão mútua. Há de se notar também como a extrema direita, que eu poderia enxergar encarnada no “Cobra Kai” de Kreese, se aproveita de toda essa raiva pressurizada e da ausência de diálogo para arrebanhar seguidores descontentes com sua própria vida, prometendo força (bruta) para vencer seus conflitos. Se a história da humanidade é realmente um pêndulo, não é surpresa que os pensamentos extremistas de Kreese tenham retornado numa era de Trump e Bolsonaro, afinal, “Cobra Kai nunca morre”.
E que final de temporada, hein!
Cobra Kai (1ª Temporada)
4.3 467 Assista AgoraRevisitando um clássico da forma certa
Não sei se é porque tenho um pé atrás com produções que tentam reviver clássicos passados, mas tenho que tirar o chapéu para a forma como essa série decidiu requentar o nostálgico Karatê Kid: mostrar a rivalidade entre Daniel LaRusso e Jhonny Lawrence trinta anos depois (com os mesmos atores). Só que, desta vez, acompanhamos a história sob o ponto de vista do antagonista, que tem uma vida de “perdedor”, ao contrário de Daniel, um “vencedor”. A rivalidade soa meio boba, mas junto a alguns clichês, é o que dá a essa série um ar oitentista, mesmo que ambientada em 2018. Apesar do jeito politicamente incorreto de Jhonny, a série não se rende ao maniqueísmo ao mostrar qualidades e defeitos deste e de vários outros personagens secundários, incluindo o próprio LaRusso. A história também dá visibilidade ao novo elenco, que é bem convincente e se encaixa muito bem nessa dinâmica controversa entre os personagens da geração antiga. Obviamente, há várias referências ao filme original, que é revisitado de forma respeitosa e até fundamental para melhor proveito da série como um todo, afinal, ela sabe exatamente a qual público se destina, e eu faço parte dele.
Coringa
4.4 4,1K Assista AgoraEu gosto quando um filme permanece assombrando sua cabeça depois de horas, e Coringa é um deles. Tecnicamente impecável em termos cinematográficos, entrega uma experiência inquietante (mas deslumbrante) em partes e no todo. A direção é certeira no que mostrar e como mostrar, de forma a realçar algum aspecto do personagem, pois, acima de tudo, esse filme é um estudo de personagem, o qual é brilhantemente interpretado por Joaquim Phoenix, seja em suas expressões corporais e faciais (certeza que vai ganhar, no mínimo, uma indicação ao Oscar). Destaco também a trilha sonora, que foi particularmente importante para intensificar algumas cenas. E o roteiro é uma delícia, bem redondo e aberto, salpicado de críticas sociais como desigualdade social e descaso por saúde mental (e não vou dizer nada mais aqui pois não quero estragar a surpresa de quem vai descobrir que tipo de estrutura o filme segue).
El Camino: Um Filme de Breaking Bad
3.7 843 Assista AgoraNunca liguei para a ponta solta envolvendo o Jesse Pinkman no final de Breaking Bad, pois ela não diminui nem um pouco a experiência de conclusão da série. Uma continuação direta com foco nesse personagem não era necessária, no entanto, se a entrega é algo de qualidade, a questão da necessidade pouco importa. El Camino entrega qualidade equiparável a Breaking Bad, mostrando que Vinci Gilligan não perdeu a mão no roteiro e na linguagem audiovisual, ambos mesclando-se com perfeição, e contando ainda com excelentes atuações. É uma trama simples e objetiva, narrada em um ritmo lento, porém trabalhada de forma estupenda em seus detalhes, adicionando sutilizas aqui e ali e dando aquela tensão de “puta merda” em alguns momentos. Prato cheio para quem é fã da série, mas não recomendaria para quem não a assistiu.