nubsilva

“O que eu herdei, tendo vindo da África, eu vivi na África até os 12 anos, até essa idade, as histórias mais importantes são contação de histórias (narração). Contaram-me muitas histórias. Assim, toda minha abordagem narrativa tem a ver com minha criação na África. E na África, as histórias não são nem realismo nem não-realismo, não há divisão entre o que é real e o que não é real. Assim, o mundo dos espíritos, ou o que quer que seja, coexiste lado a lado com o mundo real. Não se trata de uma coisa ou outra.
E eu acho que o cinema europeu, ou mesmo afroamericano, está bastante fincado no realismo. Para eles, a narrativa é realismo, então se alguém caminha na rua, é real, tridimensional, e o que se passa no cérebro não pode ser visto.
Se você olhar todos os meus trabalhos (...) há um certo grau de imbricação entre o que chamamos de realidade e de não realidade. (...) Essas coisas são absolutamente compreensíveis para os africanos. Se você pegar a literatura africana, eles lidam com o mundo espiritual lado a lado com o mundo real. (...)
Acho que tem muito a ver com os olhos das pessoas e os estereótipos que elas têm na cabeça. Quer dizer, se você vir uma imagem de uma mulher africana com certo tipo de roupa, ‘é um cinema africano de verdade’. Mas se você vir um filme, como Body Beautiful, por exemplo, é ‘cinema europeu’. Essa lógica é tão ridícula.
Eu acho brilhante haver todas as cerimônias, acho que não há nada de errado com mulheres africanas dançando nuas. As mulheres europeias discutiram muito sobre o que se deve ou não ser mostrado. O que quero dizer é que os europeus estão dispostos a financiar filmes que mostrem africanos nesse contexto, porque é só assim que eles conseguem ver os africanos. É só o que dizem, a única parte dos africanos que veem. E essa é a área que mais facilmente absorve a informação do tipo Discovery Channel ou National Geographic. É assim que eles esperam ver ou estão interessados em ver os africanos, como os liberais olhando para aquela coisa do ‘selvagem nobre’, sabe? ‘Pessoas simples que sabem coisas que não sabemos’, ‘com nossas vidas complicadas’. Ou então, eles apenas esperam ver as africanas nuas. Então quando as veem nuas, combina com a imagem que têm na mente. “ Ngozi Onwurah, diretora Nigeriana

“O problema do mercado é que ele nos atrai para horizontes que não nos aceitam. Nós aprendemos sobre cultura, sabemos tudo sobre a civilização Europeia, mas eles não sabem nada sobre nós e isso não mudará amanhã. Não significa que nossos filmes não são bons, significa que essas pessoas têm um problema de ignorância e deveriam preencher esse vazio. Não preciso provar que tenho cultura para provar que existo”.

“Talvez a primavera de 2011 seja a última que vivemos paralisados e com a consciência de si mesmo apagada. Talvez as primaveras por vir floresçam dentro de nós. É isso que está acontecendo agora. Apesar de toda a dor.
Aliás, houve muitas mulheres que vi à nossa volta, amigas que deixaram seu cabelo embranquecer, como se estivéssemos num velório coletivo. Mas isso tem que acabar”.
Filme para Amal Hawijeh e todos os verdadeiros artistas, presos na marginalidade vivida pelos expatriados.