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Para mim, fica claro que ela
matou o marido. Isso se deve, sobretudo, à cena final, em que aparece a personagem abraçando o cachorro. Nessa linha, podemos perceber que se deve ao cachorro o sucesso de sua empreitada. Foi por conta de um passeio com o cachorro que o filho saiu de casa e ela pôde ficar sozinha com o marido. Foi por conta do cachorro que houve a produção de uma "memória" de um diálogo entre pai e filho, em que o pai compara a morte do cachorro a um possível indício de questões de saúde mental a serem desdobradas no julgamento, para sustentar a hipótese de um suicídio, e não de um assassinato. Importante perceber que tal "memória", que fica em aberto se é "real" ou "inventada", foi o último depoimento do filho, decisivo para o resultado do julgamento. Fiquei instigado a respeito do acidente do filho. Primeiro, um acidente que deixa o filho praticamente cego e depois um "acidente" que mata o marido?
Fiquei me perguntando se esse acidente não teria sido provocado, seja para impossibilitar que o filho "veja" a dissolução de uma família, que já se anuncia há muito tempo, seja por outros motivos, como a construção de uma culpa permanente no pai ou como um artifício para reforçar a produção literária. Se me lembro bem, em certo momento a personagem reforça certa indissociabilidade entre a ficção literária e a "realidade", que não tem nada de real, pois também é ficcionalmente inventada, como o filme pôde transmitir. Essa ficção inerente à realidade aparece no próprio julgamento, que mais parece uma encenação de uma peça de teatro.
O abraço da personagem no cachorro salienta um agradecimento, pois ele foi um dos responsáveis pelo resultado que "beneficiou" Sandra. O fato da personagem ter sido absolvida e, partindo dessa linha de interpretação, mesmo tendo matado o marido, sustenta o objetivo do filme de tratar acerca da parcialidade, e, por que não, da impossibilidade de acesso à verdade de um sujeito.
É interessante acompanhar os elementos que são articulados para defender cada uma das hipóteses, de um suicídio ou de um assassinato. No entanto, a atmosfera elegante e instigante do filme se perdeu, para mim, a partir do excesso de tempo das cenas relativas ao julgamento. Se me lembro bem, foram 1h20min de tempo dedicado às cenas do júri, o que tornou a experiência bastante monótona, massante e desinteressante, ofuscando a atmosfera introspectiva, gelada e atraente da primeira parte do filme. Acho que as cenas do julgamento poderiam ter sido diminuídas, ainda que ocupem uma posição importante no desenrolar da história.
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