É interessante notar que "You" é menos sobre um "serial killer" e mais sobre um "serial monogamist". Joe tem um comportamento compulsivo que envolve eleger uma nova "alma gêmea", entrar no mundo dela sem ser convidado (para descobrir exatamente como se fazer convidado), conquistar, cuidar, proteger, se aproveitar e, quando finalmente consegue evitar o abandono que sempre caracterizou sua vida, se entediar e encontrar outra mulher para obcecar.
Nesta terceira temporada, sua luta - pelo bem do filho e do "time" que ele forma com Love - contra esse padrão de comportamento chega mesmo a se deslocar à frente de sua luta contra seus - e os de Love - instintos assassinos. Mas ele quer mesmo mudar ou, como todo narcisista, busca apenas se convencer de que tentou ser melhor para poder manter imaculada para si e para os outros a imagem inflada que tem de si próprio - escondida por trás da autodepreciação?
Obsessão, conquista, vampirização e descarte. Esta é a dinâmica de Joe em seu comportamento com as mulheres, remetendo ao comportamento de serial killers, porém substituindo o assassinato pela conquista - o primeiro elemento aqui é importante apenas como um meio em busca do segundo - uma tentativa de se controlar seu mundo e a vida das mulheres como ele não conseguia fazer quando garoto --- mulheres que na sua visão não sabem cuidar de si mesmas, como sua mãe e a assistente social do orfanato em que cresceu.
Ao mesmo tempo, o estranhamento e a sensação de isolamento que a vida suburbana estadunidense provoca no casal emocionalmente dependente, traumatizado e viciado em adrenalina - na relação entre violência e sexo - ganha destaque em especial na condição de Love de mãe de família suburbana claramente inspirada no romance de Richard Yates - não por acaso citado por um personagem - "Revolutionary Road" (adaptado para o cinema no filme de 2009 de Sam Mendes conhecido no Brasil como "Foi Apenas um Sonho", com Kate Winslet e Leonardo DiCaprio). Love, portanto, ao mesmo tempo em que se encontra entediada, incompreendida e solitária com a ausência de seu irmão gêmeo, se culpa por não ser feliz tendo tudo o que sempre sonhou.
Mais do que uma história sobre um casal de assassinos, esta temporada acaba por retratar os conflitos atuais de uma geração na tentativa de conciliar a busca por formar uma família e o desejo intermitente de (e aqui teremos um flashback explicativo de origem comportamental) operar um "reboot" na própria vida - em especial amorosa -, situação que se desdobra nas complicações de se buscar um equilíbrio entre consolidar um relacionamento no qual os protagonistas, apesar de tudo, surpreendentemente se sentem em alguma medida confortáveis e a necessidade compulsiva por novas aventuras, uma contradição muito difícil de ser resolvida para quem tem dificuldades em se manter focadx em um relacionamento monogâmico e é ao mesmo codependente e possessivx demais para ter um relacionamento aberto (ou seja, uns 80% dos menores de 40 anos hoje?).
Utilizando-se de referências literárias pontuais para retratar humores e traços de personalidade dos personagens - como "O Grande Gatsby" referenciando o amor obsessivo e platônico -, "You" consegue satisfazer o público médio da Netflix ao mesmo tempo em que se torna interessante para quem busca algo mais estimulante em meio à dinâmica acelerada descartável das séries de streamings hoje. Outra referência literária da temporada é "O Amor nos Tempos do Cólera", de García Márquez", mas falar muito sobre essa ligação pode ser spoiler - tanto da série quanto do romance.
Ao mesmo tempo em que podemos nos identificar com conflitos psicológicos de Joe em vários momentos, os menos ingênuos não perdem de vista que se trata de um feminicida que esconde sua misoginia por trás da necessidade de proteger e cuidar de (não mais que)figuras femininas traumatizadas e idealizadas que podem ser trocadas de "temporada para temporada", como nos antigos filmes de James Bond, a partir do momento em que ele vê como finalizado seu projeto de conquista.
Uma história sobre uma espécie de Chucky & Tiffanny como pano de fundo para um conflito narrativo que consegue alguma originalidade ao tratar do tão batido e banalizado conceito de amores líquidos.
Eu sempre brisei em como seria se eu pudesse voltar no tempo e matar no berço os meus maiores ídolos e lançar as músicas deles como se fossem minhas, os roteiristas desse filme roubaram minha ideia e irão pagar por isso!
Uma boa adaptação de Stephen King, uma má sequência de Kubrick. O filme ganharia com uns 40% de diálogo a menos. Tudo é tão explicado quanto em filmes da Marvel. Aliás, os vilões parecem saídos de X-Men.
A parte final do filme se passa no Hotel Overlook, que desta vez mais parece a Casa do Terror do finado Playcenter, repetindo os mesmos sustos do filme do Kubrick (algo já feito naquela porcaria de filme do Spielberg que eu nem me lembro o nome), só que a tentativa de reencenar aquele ambiente e personagens tenebrosos é um fracasso total. Até eu convenceria de Jack mais do que o ator escalado.
O filme realmente é bastante Stephen King, o que significa uma boa história infanto-juvenil para adultos. O final, aliás, salva a obra em uns 30%. Mas o ponto é que o que fazia de O Iluminado uma obra-prima era exatamente o distanciamento dos clichês do escritor, aquilo que ficava nas entrelinhas e o fato de que é um filme de terror totalmente para adultos, parecendo encarar o espectador e dizer: acredito na sua inteligência. Tudo o que Dr. Sono não faz.
Um filme que ficou historicamente datado, pois hoje sabe-se que Danton recebia dinheiro dos ingleses. No entanto o argumento continua válido, apesar do anticomunismo ferrenho do Wajda tornar o filme maniqueísta demais. Direção de arte e atuações impecáveis e um roteiro que mistura romance histórico e thriller político.
Poderia ter sido um ótimo filme, porém apresenta uma visão por vezes desonesta e apelativa de um dos maiores autores do cinema moderno. De fato é conhecido seu comportamento controlador com as mulheres que passaram por sua vida (vide os relatos de Anna Karina) e o encanto do maoismo fez muitos intelectuais e artistas caírem no ridículo com sua militância nos anos 60, então a "desdivinização" do artista funciona muitas vezes, construindo uma excelente comédia. Mas Hazanavicius retrata uma França de 68 totalmente falseada, como se Maio fosse uma loucura apenas existente na cabeça de Godard e de uns duzentos estudantes, em uma das maiores superficialidades políticas do cinema nos últimos tempos (perde com folga da palhaçada laudatória que foi "A Dama de Ferro"). As frustradas tentativas do quarentão Jean-Luc de incluir-se no movimento dos estudantes são retratadas de forma hilária com pinceladas de tons trágicos, mas infelizmente passando da medida do pastelão em alguns desnecessários momentos. Perde-se a chance da crítica bem-humorada em nome da ridicularização covarde do personagem em situações que obviamente foram exageradas, ainda que se espere um pouco disso em comédias satíricas. As brincadeiras com o estilo de direção da primeira fase da carreira do arrogante cineasta caem bem na obra satírica, entretanto mostra o quanto a carreira do diretor deste filme é feita de "chupar" elementos consagrados do cinema do passado (fórmula que lhe rendeu um Oscar pelo endourado "O Artista"), sem a menor pretensão de originalidade; imitando, jamais criando, o que hoje em dia até "youtubers" fazem. É isso o que torna "O Formidável" um triste produto (também no sentido de feito descaradamente com intensões comerciais, pelo diretor francês mais comercial da atualidade, o inverso do que tem feito Godard, goste-se ou não do resultado, nos últimos 50 anos) do recalque de um pretenso artista que não faz jus à tradição de um dos três cinemas nacionais mais importantes de todos os tempos. Melancólico desperdício de um roteiro bem construído, atuações por vezes brilhantes e um saudável sacrilégio com figuras consagradas.
A cena do quarto é uma das melhores do cinema francês. Só perde pro início de "Hiroshima, Mon Amour", ou a sessão do Antoine Doinel com a psicóloga em "Os Incompreendidos".
Nada melhor que filmes com mulheres arretadas ou delinquentes juvenis...
O episódio 14 é o melhor até agora (descontando o "média" surrealista que foi o 8, lindo de doer), mostrando que o arco está finalmente se fechando.
O que não faz uma direção primorosa! Esteticamente Lynch está no auge. As cenas mais bobas e aparentemente desnecessárias para a narrativa são deliciosamente degustadas, com atuações minuciosas e carismáticas até de atrizes e atores não exatamente super expressivos, e esse fator - somado ao antigo gosto de Lynch por tomadas longas de ações banais e o exagero nos detalhes - evidencia o aprofundamento da tensão entre uma influência estética naturalista e uma dramatização antinaturalista em suas obras, porém desenvolvendo essa espécie de hiper-realismo - realizável graças aos avanços tecnológicos televisivos atuais, algo ausente na época da série original - de forma a causar sempre um profundo estranhamento, tirando-nos de nossa passividade de espectadores de séries de tv muito mais do que já acontecia nas duas temporadas dos anos 90.
Acho altamente recomendável que se veja esta temporada lendo o livro do Frost, "A História Secreta de Twin Peaks". Não é imprescindível, mas potencializa a experiência DEMAIS. As peças estão começando a se encaixar.
Mais uma série que cresce com o tempo, como um filme gigante. Se no cinema é muito mais difícil desenvolver bem personagens sem sacrificar o dinamismo da história, na tv o tempo dilatado permite desenvolver ambas as áreas de equílibrio na trama de uma obra audiovisual, a ação - superestimada cada vez mais por Hollywood - e a profundidade narrativa. "Breaking Bad" é bastante fiel à influência dos dois grandes marcos do início da chamada "era de ouro" da tv americana, "Sopranos" e "Six Feet Under" (não à toa, ambas da HBO), no sentido que também cresce temporada a temporada. Nos envolvemos desde o início, com um bom piloto (aliás, em "BrBA" é como se o piloto fosse a primeira temporada inteira, e não apenas o primeiro episódio) e uma ideia que desperta interesse e curiosidade, mas não imaginamos o impacto que passará a ter em nossas vidas a partir da segunda ou da terceira temporada (por isso arranco os cabelos quando amigos abandonam precocemente essas séries).
Nesse sentido, até mesmo a volta de outra série icônica - "Twin Peaks" - demonstra essa influência que se acentua, com um arco narrativo que exige paciência do espectador até que atinja seu clímax (a 3ª temporada de "Twin Peaks" anda desagradando a muitos fãs antigos - nas temporadas antigas era preciso manter a audiência, bastante heterogênea, em horário nobre episódio a episódio, enquanto a nova, como disse o próprio Lynch, é como se fosse um filme de 18 horas, com um arco narrativo mais "fechado", tendendo a interessar somante aos fãs do universo surrealista lynchiano).
Não é coincidência, portanto, que, ao lembrar das primeiras temporadas da maior parte das minha séries favoritas - "Sopranos", "SFU", "Lost", entre outras - sempre chego à conclusão que não costumam ser nem de longe as melhores, e isso é sintomático dessa tendência de crescimento de uma narrativa pensada e planejada desde o início (o que explica a queda de séries que não sabem quando acabar e precisam se reinventar, como "Dexter") como uma obra singular, além do aprofundamento do arco dos personagens e, consequentemente, da nossa apreciação e até enorme carinho por eles, como em uma saga literária ou um grande romance. Por tudo isso, considero muito melhor assistir a uma série longa já terminada, de uma vez só, do que acompanhar ano a ano, com diversas interrupções.
A alma do Richard Burton não deve estar descansando em paz por conta deste filme. Dois dos maiores atores da história do cinema (ele e Max von Sidow) em um dos piores filmes de todos os tempos, quem diria?
Este filme é uma piada do início ao fim; da pseudo-ciência presente desde o início (com uma espécie de mistura de Freud com Uri Geller) às cenas de possessão, que mais lembram a Reagan de "Todo Mundo em Pânico" (custava utilizar ao menos os apavorantes efeitos de voz do primeiro filme?).
E a versão sensual dela no final do filme? Pazuzu virou o demônio do sexo? Mais um momento de comédia, pelo menos o filme ficou menos chato...
Momentos de susto eu só tive quando me contaram que o Scorsese é um DEFENSOR deste filme, inclusive julgando-o MELHOR que o primeiro! Não, não é o Tarantino e seus gostos duvidosos, é o Scorsese mesmo.
A única coisa que se salva, além da beleza da Linda Blair, é a trilha maravilhosa do Ennio Morricone, um dos maiores compositores da história do cinema. Poderia ser quase tão aterrorizante quanto a do primeiro, se tivesse sido bem usada. Isso os temas de terror. Já a faixa épica e emocionante - ainda que seja maravilhosa - está totalmente fora de lugar, cabendo mais em um dos faroestes que o compositor tão brilhantemente musicou ao longo da vida, como "Era Uma Vez no Oeste", do Sergio Leone. Para nossa sorte, foi finalmente bem aproveitada pelo Tarantino, em "Os Oito Odiados". Enfim, jamais vi uma disparidade tão grande entre filme e trilha.
Esse filme é uma das maiores comédias involuntárias (creio eu...) da história recente do cinema. Indico a qualquer um, pois chega a ser fascinante. A impressão que dá é que o Shyamalan está tirando com a nossa cara. Meu cão atua melhor que o casal de protagonistas. Até hoje, quando quero me divertir, procuro no youtube cenas do Mark Wahlberg nesse filme, como a da conversa com a planta ou a do "What?! No!" "Mark Wahlberg needs a second" virou um clássico.
Parabéns à Zooey Deschanel, cuja presença ilumina por duas vezes o top 10 de piores filmes da minha vida.
Uma aula de cinema: "Como destruir um filme nos 20 minutos finais" ou "Como um estúdio pode destruir uma obra autoral na pós-produção". Por razões comerciais, é claro. Jogaram no lixo uma direção interessante do William Peter Blatty.
Você (3ª Temporada)
3.5 361 Assista AgoraÉ interessante notar que "You" é menos sobre um "serial killer" e mais sobre um "serial monogamist". Joe tem um comportamento compulsivo que envolve eleger uma nova "alma gêmea", entrar no mundo dela sem ser convidado (para descobrir exatamente como se fazer convidado), conquistar, cuidar, proteger, se aproveitar e, quando finalmente consegue evitar o abandono que sempre caracterizou sua vida, se entediar e encontrar outra mulher para obcecar.
Nesta terceira temporada, sua luta - pelo bem do filho e do "time" que ele forma com Love - contra esse padrão de comportamento chega mesmo a se deslocar à frente de sua luta contra seus - e os de Love - instintos assassinos. Mas ele quer mesmo mudar ou, como todo narcisista, busca apenas se convencer de que tentou ser melhor para poder manter imaculada para si e para os outros a imagem inflada que tem de si próprio - escondida por trás da autodepreciação?
Obsessão, conquista, vampirização e descarte. Esta é a dinâmica de Joe em seu comportamento com as mulheres, remetendo ao comportamento de serial killers, porém substituindo o assassinato pela conquista - o primeiro elemento aqui é importante apenas como um meio em busca do segundo - uma tentativa de se controlar seu mundo e a vida das mulheres como ele não conseguia fazer quando garoto --- mulheres que na sua visão não sabem cuidar de si mesmas, como sua mãe e a assistente social do orfanato em que cresceu.
Ao mesmo tempo, o estranhamento e a sensação de isolamento que a vida suburbana estadunidense provoca no casal emocionalmente dependente, traumatizado e viciado em adrenalina - na relação entre violência e sexo - ganha destaque em especial na condição de Love de mãe de família suburbana claramente inspirada no romance de Richard Yates - não por acaso citado por um personagem - "Revolutionary Road" (adaptado para o cinema no filme de 2009 de Sam Mendes conhecido no Brasil como "Foi Apenas um Sonho", com Kate Winslet e Leonardo DiCaprio). Love, portanto, ao mesmo tempo em que se encontra entediada, incompreendida e solitária com a ausência de seu irmão gêmeo, se culpa por não ser feliz tendo tudo o que sempre sonhou.
Mais do que uma história sobre um casal de assassinos, esta temporada acaba por retratar os conflitos atuais de uma geração na tentativa de conciliar a busca por formar uma família e o desejo intermitente de (e aqui teremos um flashback explicativo de origem comportamental) operar um "reboot" na própria vida - em especial amorosa -, situação que se desdobra nas complicações de se buscar um equilíbrio entre consolidar um relacionamento no qual os protagonistas, apesar de tudo, surpreendentemente se sentem em alguma medida confortáveis e a necessidade compulsiva por novas aventuras, uma contradição muito difícil de ser resolvida para quem tem dificuldades em se manter focadx em um relacionamento monogâmico e é ao mesmo codependente e possessivx demais para ter um relacionamento aberto (ou seja, uns 80% dos menores de 40 anos hoje?).
Utilizando-se de referências literárias pontuais para retratar humores e traços de personalidade dos personagens - como "O Grande Gatsby" referenciando o amor obsessivo e platônico -, "You" consegue satisfazer o público médio da Netflix ao mesmo tempo em que se torna interessante para quem busca algo mais estimulante em meio à dinâmica acelerada descartável das séries de streamings hoje.
Outra referência literária da temporada é "O Amor nos Tempos do Cólera", de García Márquez", mas falar muito sobre essa ligação pode ser spoiler - tanto da série quanto do romance.
Ao mesmo tempo em que podemos nos identificar com conflitos psicológicos de Joe em vários momentos, os menos ingênuos não perdem de vista que se trata de um feminicida que esconde sua misoginia por trás da necessidade de proteger e cuidar de (não mais que)figuras femininas traumatizadas e idealizadas que podem ser trocadas de "temporada para temporada", como nos antigos filmes de James Bond, a partir do momento em que ele vê como finalizado seu projeto de conquista.
Uma história sobre uma espécie de Chucky & Tiffanny como pano de fundo para um conflito narrativo que consegue alguma originalidade ao tratar do tão batido e banalizado conceito de amores líquidos.
Yesterday: A Trilha do Sucesso
3.4 1,0KEu sempre brisei em como seria se eu pudesse voltar no tempo e matar no berço os meus maiores ídolos e lançar as músicas deles como se fossem minhas, os roteiristas desse filme roubaram minha ideia e irão pagar por isso!
Doutor Sono
3.7 1,0K Assista AgoraUma boa adaptação de Stephen King, uma má sequência de Kubrick.
O filme ganharia com uns 40% de diálogo a menos. Tudo é tão explicado quanto em filmes da Marvel. Aliás, os vilões parecem saídos de X-Men.
A parte final do filme se passa no Hotel Overlook, que desta vez mais parece a Casa do Terror do finado Playcenter, repetindo os mesmos sustos do filme do Kubrick (algo já feito naquela porcaria de filme do Spielberg que eu nem me lembro o nome), só que a tentativa de reencenar aquele ambiente e personagens tenebrosos é um fracasso total. Até eu convenceria de Jack mais do que o ator escalado.
O filme realmente é bastante Stephen King, o que significa uma boa história infanto-juvenil para adultos. O final, aliás, salva a obra em uns 30%.
Mas o ponto é que o que fazia de O Iluminado uma obra-prima era exatamente o distanciamento dos clichês do escritor, aquilo que ficava nas entrelinhas e o fato de que é um filme de terror totalmente para adultos, parecendo encarar o espectador e dizer: acredito na sua inteligência. Tudo o que Dr. Sono não faz.
Danton: O Processo da Revolução
3.8 73Um filme que ficou historicamente datado, pois hoje sabe-se que Danton recebia dinheiro dos ingleses. No entanto o argumento continua válido, apesar do anticomunismo ferrenho do Wajda tornar o filme maniqueísta demais. Direção de arte e atuações impecáveis e um roteiro que mistura romance histórico e thriller político.
Mas Robespierre guilhotinou foi pouco...
O Formidável
3.7 66 Assista AgoraPoderia ter sido um ótimo filme, porém apresenta uma visão por vezes desonesta e apelativa de um dos maiores autores do cinema moderno. De fato é conhecido seu comportamento controlador com as mulheres que passaram por sua vida (vide os relatos de Anna Karina) e o encanto do maoismo fez muitos intelectuais e artistas caírem no ridículo com sua militância nos anos 60, então a "desdivinização" do artista funciona muitas vezes, construindo uma excelente comédia. Mas Hazanavicius retrata uma França de 68 totalmente falseada, como se Maio fosse uma loucura apenas existente na cabeça de Godard e de uns duzentos estudantes, em uma das maiores superficialidades políticas do cinema nos últimos tempos (perde com folga da palhaçada laudatória que foi "A Dama de Ferro"). As frustradas tentativas do quarentão Jean-Luc de incluir-se no movimento dos estudantes são retratadas de forma hilária com pinceladas de tons trágicos, mas infelizmente passando da medida do pastelão em alguns desnecessários momentos. Perde-se a chance da crítica bem-humorada em nome da ridicularização covarde do personagem em situações que obviamente foram exageradas, ainda que se espere um pouco disso em comédias satíricas. As brincadeiras com o estilo de direção da primeira fase da carreira do arrogante cineasta caem bem na obra satírica, entretanto mostra o quanto a carreira do diretor deste filme é feita de "chupar" elementos consagrados do cinema do passado (fórmula que lhe rendeu um Oscar pelo endourado "O Artista"), sem a menor pretensão de originalidade; imitando, jamais criando, o que hoje em dia até "youtubers" fazem. É isso o que torna "O Formidável" um triste produto (também no sentido de feito descaradamente com intensões comerciais, pelo diretor francês mais comercial da atualidade, o inverso do que tem feito Godard, goste-se ou não do resultado, nos últimos 50 anos) do recalque de um pretenso artista que não faz jus à tradição de um dos três cinemas nacionais mais importantes de todos os tempos. Melancólico desperdício de um roteiro bem construído, atuações por vezes brilhantes e um saudável sacrilégio com figuras consagradas.
Acossado
4.1 510 Assista AgoraA cena do quarto é uma das melhores do cinema francês. Só perde pro início de "Hiroshima, Mon Amour", ou a sessão do Antoine Doinel com a psicóloga em "Os Incompreendidos".
Nada melhor que filmes com mulheres arretadas ou delinquentes juvenis...
Twin Peaks (3ª Temporada)
4.4 621 Assista AgoraO episódio 14 é o melhor até agora (descontando o "média" surrealista que foi o 8, lindo de doer), mostrando que o arco está finalmente se fechando.
O que não faz uma direção primorosa! Esteticamente Lynch está no auge. As cenas mais bobas e aparentemente desnecessárias para a narrativa são deliciosamente degustadas, com atuações minuciosas e carismáticas até de atrizes e atores não exatamente super expressivos, e esse fator - somado ao antigo gosto de Lynch por tomadas longas de ações banais e o exagero nos detalhes - evidencia o aprofundamento da tensão entre uma influência estética naturalista e uma dramatização antinaturalista em suas obras, porém desenvolvendo essa espécie de hiper-realismo - realizável graças aos avanços tecnológicos televisivos atuais, algo ausente na época da série original - de forma a causar sempre um profundo estranhamento, tirando-nos de nossa passividade de espectadores de séries de tv muito mais do que já acontecia nas duas temporadas dos anos 90.
Acho altamente recomendável que se veja esta temporada lendo o livro do Frost, "A História Secreta de Twin Peaks". Não é imprescindível, mas potencializa a experiência DEMAIS. As peças estão começando a se encaixar.
Ps.: Laura Dern é uma grande.
Virgínia
2.3 256 Assista AgoraQuando terminará a fase "Britney careca" do Coppola?
Breaking Bad (1ª Temporada)
4.5 1,4K Assista AgoraMais uma série que cresce com o tempo, como um filme gigante. Se no cinema é muito mais difícil desenvolver bem personagens sem sacrificar o dinamismo da história, na tv o tempo dilatado permite desenvolver ambas as áreas de equílibrio na trama de uma obra audiovisual, a ação - superestimada cada vez mais por Hollywood - e a profundidade narrativa. "Breaking Bad" é bastante fiel à influência dos dois grandes marcos do início da chamada "era de ouro" da tv americana, "Sopranos" e "Six Feet Under" (não à toa, ambas da HBO), no sentido que também cresce temporada a temporada. Nos envolvemos desde o início, com um bom piloto (aliás, em "BrBA" é como se o piloto fosse a primeira temporada inteira, e não apenas o primeiro episódio) e uma ideia que desperta interesse e curiosidade, mas não imaginamos o impacto que passará a ter em nossas vidas a partir da segunda ou da terceira temporada (por isso arranco os cabelos quando amigos abandonam precocemente essas séries).
Nesse sentido, até mesmo a volta de outra série icônica - "Twin Peaks" - demonstra essa influência que se acentua, com um arco narrativo que exige paciência do espectador até que atinja seu clímax (a 3ª temporada de "Twin Peaks" anda desagradando a muitos fãs antigos - nas temporadas antigas era preciso manter a audiência, bastante heterogênea, em horário nobre episódio a episódio, enquanto a nova, como disse o próprio Lynch, é como se fosse um filme de 18 horas, com um arco narrativo mais "fechado", tendendo a interessar somante aos fãs do universo surrealista lynchiano).
Não é coincidência, portanto, que, ao lembrar das primeiras temporadas da maior parte das minha séries favoritas - "Sopranos", "SFU", "Lost", entre outras - sempre chego à conclusão que não costumam ser nem de longe as melhores, e isso é sintomático dessa tendência de crescimento de uma narrativa pensada e planejada desde o início (o que explica a queda de séries que não sabem quando acabar e precisam se reinventar, como "Dexter") como uma obra singular, além do aprofundamento do arco dos personagens e, consequentemente, da nossa apreciação e até enorme carinho por eles, como em uma saga literária ou um grande romance. Por tudo isso, considero muito melhor assistir a uma série longa já terminada, de uma vez só, do que acompanhar ano a ano, com diversas interrupções.
O Exorcista II: O Herege
2.1 306 Assista AgoraA alma do Richard Burton não deve estar descansando em paz por conta deste filme. Dois dos maiores atores da história do cinema (ele e Max von Sidow) em um dos piores filmes de todos os tempos, quem diria?
Este filme é uma piada do início ao fim; da pseudo-ciência presente desde o início (com uma espécie de mistura de Freud com Uri Geller) às cenas de possessão, que mais lembram a Reagan de "Todo Mundo em Pânico" (custava utilizar ao menos os apavorantes efeitos de voz do primeiro filme?).
E a versão sensual dela no final do filme? Pazuzu virou o demônio do sexo? Mais um momento de comédia, pelo menos o filme ficou menos chato...
Momentos de susto eu só tive quando me contaram que o Scorsese é um DEFENSOR deste filme, inclusive julgando-o MELHOR que o primeiro! Não, não é o Tarantino e seus gostos duvidosos, é o Scorsese mesmo.
A única coisa que se salva, além da beleza da Linda Blair, é a trilha maravilhosa do Ennio Morricone, um dos maiores compositores da história do cinema. Poderia ser quase tão aterrorizante quanto a do primeiro, se tivesse sido bem usada. Isso os temas de terror. Já a faixa épica e emocionante - ainda que seja maravilhosa - está totalmente fora de lugar, cabendo mais em um dos faroestes que o compositor tão brilhantemente musicou ao longo da vida, como "Era Uma Vez no Oeste", do Sergio Leone. Para nossa sorte, foi finalmente bem aproveitada pelo Tarantino, em "Os Oito Odiados". Enfim, jamais vi uma disparidade tão grande entre filme e trilha.
A estrela é por ela.
Dançando no Escuro
4.4 2,3K Assista AgoraMúsica e mundo interior como Inspiração surrealista.
Fim dos Tempos
2.5 1,4K Assista AgoraEsse filme é uma das maiores comédias involuntárias (creio eu...) da história recente do cinema. Indico a qualquer um, pois chega a ser fascinante. A impressão que dá é que o Shyamalan está tirando com a nossa cara. Meu cão atua melhor que o casal de protagonistas. Até hoje, quando quero me divertir, procuro no youtube cenas do Mark Wahlberg nesse filme, como a da conversa com a planta ou a do "What?! No!" "Mark Wahlberg needs a second" virou um clássico.
Parabéns à Zooey Deschanel, cuja presença ilumina por duas vezes o top 10 de piores filmes da minha vida.
Enfim... ri por meses.
O Exorcista III
2.6 196 Assista AgoraUma aula de cinema: "Como destruir um filme nos 20 minutos finais" ou "Como um estúdio pode destruir uma obra autoral na pós-produção". Por razões comerciais, é claro.
Jogaram no lixo uma direção interessante do William Peter Blatty.
Lost (6ª Temporada)
3.9 998 Assista AgoraA temporada é um desastre, a única ruim das seis, mas o final salva e é maravilhoso.
Inciando o processo de luto pós-fim-de-série.