Edgar Junior

Esse filme é muito black mirror

Visto que as coisas só vão realmente acontecendo próximo ao final, o filme pode ser um pouco entediante, principalmente para quem gosta de filmes de terror com crianças diabólicas, o que aqui não é o caso. Mas se você parar para pensar na mensagem que ele carrega, ele se torna mais interessante.
Na verdade, o filme procura mostrar consequências que uma infância mal vivida pode fazer a uma criança, no caso deste a psicopatia infantil. Uma vida monótona e sem esperanças de futuro em um ambiente com pouca rotatividade de pessoas e sem possibilidade de formação de vínculos, uma mãe que abandona o lar e um pai que não se preocupa muito com que o filho faz pode mexer com a cabeça de quem ainda está em fase de aprendizagem.
Claro que não se pode generalizar e dizer que o que o garoto vive no filme levaria a todas as crianças a serem psicopatas se também vivessem em situações parecidas. Mas neste filme são estes os elementos que de alguma forma explicam os motivos das ações de Ted.
Enfim, se busca um filme para levar sustos ou ver crianças possuídas fazendo coisas horríveis, este não é o filme. Mas se busca um filme que te cause tensão e reflexão sobre a mente infantil, reserve um pouco de paciência e aproveite.

É muito interessante a maneira como é retratada a mente do Joel na medida que suas memórias estão sendo apagadas, da uma ideia básica de como funciona nossa memória, de como lembranças vão sendo construidas e principalmente relembradas, misturando elementos de lembranças diversas afim de recriar algum acontecimento, além das sensações e sentimentos que trazem junto consigo, como por exemplo quando Joel lembra de sua infância.
Um ponto bom também é a forma como o filme mostra que quando estamos frustrados com algo tomamos medidas desesperadas sem pensar (ex.: casais que se separam em momentos de crise), no caso do casal do filme a alternativa deles foi apagar uma ao outro da memória, mas, como mostra Joel, ao refletirmos melhor sobre a situação e deixarmos de pensar apenas no lado ruins das coisas, ao lembrarmos dos momentos bons, que são o que realmente vale a pena, percebemos que tomar decisões sem avaliar melhor a situação, de "cabeça quente", não é o melhor a se fazer pois resultará em arrependimento e nem sempre pode ser reversível.