As pessoas só têm charme em sua loucura, eis o que é difícil de ser entendido. O verdadeiro charme das pessoas é aquele em que elas perdem as estribeiras, é quando elas não sabem muito bem em que ponto estão. Não que elas desmoronem, pois são pessoas que não desmoronam. Mas, se não captar aquela pequena raiz, o pequeno grão de loucura da pessoa, não se pode amá-la. Não pode amá-la. É aquele lado em que a pessoa está completamente... Aliás, todos nós somos um pouco dementes. Se não se captar o ponto de demência de alguém... Ele pode assustar, mas, quanto a mim, fico feliz de constatar que o ponto de demência de alguém é a fonte de seu charme.
A identidade já não interessa ao "narrador", não é capaz de suportar a (sua) existência; não mais. Permite-se a passagem de um fluxo esquizofrênico (Durden) capaz de romper com a identidade capitalística (em série) que lhe foi concebida ("somos coisas que operam sob a ilusão de ter um eu-próprio, essa acreção de experiência sensorial, e fomos programados para pensar que somos alguém quando, na verdade, todos são ninguém" in True Detective). Quem, se não fosse o outro, me perceberia? O eu depende do outro; que eu é esse que precisa do outro para existir? É uma mera consciência de si, pois nós somos os próprios hábitos (de ser). Ao entrar num processo esquizo (dissipação do eu), numa singularidade, é que o “narrador” se dá conta que sua vida era uma merda. Não mais. Durden.
Agenciamento. Esse conceito é a essência desse grande filme. Se é verdade que ele (Eric Packer) deseja um corte de cabelo, não é menos verdade dizer que desejar é construir um agenciamento. Eu não desejo um corte de cabelo, eu desejo também uma limousine e, à sua volta, pessoas, as quais posso não conhecer, ruas, encontros (dentro e fora do veículo), e sexo; crio uma expectativa e ela não se satisfaz até que se desenrole no contexto dito, senão meu desejo ficará insatisfeito. Desejar é construir um conjunto, é um construtivismo. Por isso que não se deseja algo sozinho (corte de cabelo); deseja-se bem mais, desejo em um conjunto, construo uma região. Vocês nunca desejam algo ou alguém, porque o desejo sempre corre para um agenciamento. Cronenberg sempre trabalhando [novos] conceitos, experimentando, agenciando. Cosmopolis é um filme difícil dele, jamais o subestime.
Último Tango em Paris
3.5 569Fonte do Charme
As pessoas só têm charme em sua loucura, eis o que é difícil de ser entendido. O verdadeiro charme das pessoas é aquele em que elas perdem as estribeiras, é quando elas não sabem muito bem em que ponto estão. Não que elas desmoronem, pois são pessoas que não desmoronam. Mas, se não captar aquela pequena raiz, o pequeno grão de loucura da pessoa, não se pode amá-la. Não pode amá-la. É aquele lado em que a pessoa está completamente... Aliás, todos nós somos um pouco dementes. Se não se captar o ponto de demência de alguém... Ele pode assustar, mas, quanto a mim, fico feliz de constatar que o ponto de demência de alguém é a fonte de seu charme.
Clube da Luta
4.5 4,9K Assista AgoraA identidade já não interessa ao "narrador", não é capaz de suportar a (sua) existência; não mais. Permite-se a passagem de um fluxo esquizofrênico (Durden) capaz de romper com a identidade capitalística (em série) que lhe foi concebida ("somos coisas que operam sob a ilusão de ter um eu-próprio, essa acreção de experiência sensorial, e fomos programados para pensar que somos alguém quando, na verdade, todos são ninguém" in True Detective). Quem, se não fosse o outro, me perceberia? O eu depende do outro; que eu é esse que precisa do outro para existir? É uma mera consciência de si, pois nós somos os próprios hábitos (de ser). Ao entrar num processo esquizo (dissipação do eu), numa singularidade, é que o “narrador” se dá conta que sua vida era uma merda. Não mais. Durden.
Cosmópolis
2.7 1,0K Assista AgoraAgenciamento. Esse conceito é a essência desse grande filme. Se é verdade que ele (Eric Packer) deseja um corte de cabelo, não é menos verdade dizer que desejar é construir um agenciamento. Eu não desejo um corte de cabelo, eu desejo também uma limousine e, à sua volta, pessoas, as quais posso não conhecer, ruas, encontros (dentro e fora do veículo), e sexo; crio uma expectativa e ela não se satisfaz até que se desenrole no contexto dito, senão meu desejo ficará insatisfeito. Desejar é construir um conjunto, é um construtivismo. Por isso que não se deseja algo sozinho (corte de cabelo); deseja-se bem mais, desejo em um conjunto, construo uma região. Vocês nunca desejam algo ou alguém, porque o desejo sempre corre para um agenciamento.
Cronenberg sempre trabalhando [novos] conceitos, experimentando, agenciando. Cosmopolis é um filme difícil dele, jamais o subestime.