"Lion" pode ser facilmente dividido em duas partes: a primeira e que possui muito mais força, mostra como o pequeno Saroo se perdeu e nos deixa angustiados com tudo o que essa criança de apenas 5 anos passou, em meio a pessoas as quais ele nem conseguia entender, por falarem uma língua diferente da sua. Essa primeira metade traz um enorme realismo e nos cativa pela expressividade do pequeno Sunny Pawar, que é o maior destaque do filme e possui um olhar bastante expressivo.
Já na segunda metade, temos Saroo sendo adotado, os anos passando e ele ainda possuindo um enorme bloqueio em seguir em frente por causa desse trauma. Aqui já temos alguns problemas de ritmo, alguns momentos um pouco entediantes e por mais que a atuação do Dev Patel seja competente, ele não parece conseguir nos transmitir toda essa confusão que se passa em sua mente (mesmo a gente conseguindo entendê-la completamente). Essa segunda parte, passa a retomar o fôlego do filme próximo ao final, principalmente com a cena de conversa entre Saroo e sua mãe adotiva, que tem um diálogo formidável sobre adoção e mostra uma ótima atuação da Nicole Kidman, que tá muito bem em todas as suas cenas. Já os momentos finais, são pura catarse e se você não se emocionar, provável ter algum problema.
Em resumo, por mais que "Lion" possua alguns problemas de ritmo entre suas duas principais partes, é uma obra densa, bem desenvolvida, com boas atuações e que consegue nos dar boas lições e fazer refletir.
"Baby Driver" é um dos filmes de ação mais interessantes desse ano e se destaca em meio ao que tem sido lançado, principalmente pela competência do Edgar Wright, que faz um filme que possui uma grande fluidez e constrói uma trama onde a trilha sonora é a protagonista e dita o ritmo da ação, tendo uma sincronia fantástica com tudo o que acontece em cena.
Além da trilha sonora ótima, o trabalho de edição é competente, o humor está no tom certo, os personagens são cativantes, há pouca previsibilidade e o vilão quase indestrutível é também um ponto forte. Saí da sessão já querendo rever e prestar atenção em alguns detalhes que devem ter passado despercebidos em decorrência do ritmo frenético da obra.
O grande mérito de "Mulher-Maravilha" é mostrar ao mundo que uma heroína pode sim ser um grande sucesso comercial, sem precisar sexualizar a personagem e provavelmente a escolha da Patty Jenkins como diretora tenha sido fundamental nesse sentido. O filme em si não sai muito de sua zona de conforto de uma história de origem de super-herói, mas todo o arco de Diana na ilha Temiscira e a contextualização na 2ª Guerra Mundial são bastante interessantes, além das sutis críticas sociais quanto à desigualdade de gênero, que era bem gritante na época em que o filme se passa. Sai da sessão com uma boa impressão da obra e de que dessa vez a DC acertou a mão, mas também com aquela impressão de que o filme poderia ter rendido muito mais, principalmente sem aquele final de enfrentamento megalomaníaco com um CGI que deixou o filme parecendo um jogo de video game. Espero que os estúdios finalmente percebam que super-heroínas podem render bons filmes e fico na expectativa de uma sequência.
Laerte é uma figura emblemática. Antes de qualquer coisa, como cartunista é uma das mais brilhantes profissionais dese Brasil, unindo arte com crítica social de maneira única. Quanto ao documentário, é importante esclarecer que não se trata da biografia de vida de um artista, que se preocupa em fazer um apanhado de toda sua vida. "Larte-se" possui um recorte bem específico sobre sua identidade transgênero e suas reflexões do que é ser mulher.
Falando do documentário em si, apesar de ótimas reflexões da Larte e de podermos acompanhar momentos bastante íntimos, eu terminei a obra com a impressão de que ela poderia ter rendido muito mais e muito mais de Larte poderia ser explorado e isso se dá, ao meu ver, a uma direção ou edição inexperientes, que não delimitaram assuntos para serem tratados de forma mais coesa e que ainda nos deixou curiosos sobre diversos aspectos de uma pessoa que decide assumir sua transsexualidade já madura e faz uma série de questionamentos a si mesma sobre identidade de gênero, transfobia, seus privilégios e seu trabalho artístico.
De minha parte, gostaria de ter visto Larte ter falado mais sobre como foi o período de transição e no que isso tem refletido em seu trabalho artístico. De qualquer forma, é um documentário que deve ser assistido e coloca em xeque o debate sobre identidade de gênero e transsexualidade, assuntos cercados de vários preconceitos. ___ Ps.: Ainda me assustam alguns comentários transfobicos colocados como se fossem "opiniões". Opinião é você preferir sorvete ao invés de picolé, não impôr suas crenças/dogmas aos outros e desrespeitá-los porque fogem da lógica pré-estabelecida na sua mente. A humanidade ainda precisa evoluir bastante.
"Os Encontros de Paris" é a primeira obra do Eric Rohmer e o cineasta já conseguiu me cativar aqui, com um filme leve, mas que em cada episódio consegue nos trazer reflexões interessantes e diálogos primorosos. Particularmente, preferi "Rendezvous at 07:00", com suas casualidades, mas todas as três partes me interessaram ao ponto de querer explorar mais a filmografia do Rohmer.
A segunda temporada de "Sense8" mantém o nível da primeira, com alguns pontos melhores, outros nem tanto e a série adentrando mais pelo caminho da ficção científica consegue despertar bastante nosso interesse. Se na primeira temporada o enfoque é conhecer os personagens principais e suas primeiras conexões, essa temporada adentra bem mais as explicações científicas da origem dos sensates e da BPO. Algo que gostei bastante dessa temporada é que ela já começa em ritmo frenético, diferente da anterior, que demora um pouco a engrenar, te prendendo mais da metade em diante. De modo geral, a temporada me agradou bastante, mas acho que ela ainda peca um pouco no desenvolvimento de alguns personagens principais e consequentemente, algumas histórias são muito mais interessantes do que as outras, o que é normal quando se tem 8 personagens principais. Já aguardo ansiosamente uma próxima temporada e já fico meio deprimido em saber que ela pode demorar tanto quanto essa segunda pra sair.
Ainda tô um pouco anestesiado com esses dois episódios e não admirado da ainda imensa capacidade do Lynch. Fica evidente que ele teve pleno controle de todo o processo criativo e acredito que somente assim ele aceitaria o retorno da série, então mais do que nunca e como em seus últimos trabalhos para o cinema, ele abusa no surrealismo, o que pode não agradar a quem está conhecendo a série agora ou aos fãs antigos e que não conhecem melhor sua filmografia, mas que é extremamente competente e ousado, pois poderia se limitar a um fã service cheio de referências antigas e frases que já conhecemos, mas consegue unir a nossa nostalgia (ver o início, a abertura com a trilha sonora e a Laura Palmer me fizeram lagrimar de emoção) e criar uma trama inovadora,
Assim como Chaplin, Buster Keaton faz um cinema de uma leveza e diversão ímpares, que podem nos soar inocentes hoje em dia, mas que tiram sorrisos sinceros, sem qualquer tipo de apelação. Não à toa "Sherlock Jr." ser considerado um dos melhores filmes do cinema mudo, não apenas pela diversão e pelo personagem adorável do Keaton, mas por toda a parte técnica, que impressiona para a época, principalmente com relação à edição e ao movimento de câmera frenético nas cenas que mesclam a sala de cinema com o que está sendo exibido e nas sequências de perseguição. E alguns anos depois, Woody Allen, fã das obras do Keaton, revisitaria essa trama em seu "A Rosa Purpura do Cairo", que é um de seus melhores filmes.
O bom de assistir a um filme como "Manchester à Beira-Mar" sem ter lido sinopse e sem saber nada sobre a trama é poder se surpreender e se aprofundar na obra sem expectativa alguma. De início, a ótima montagem intercalando de forma repentina passado e futuro na vida de Lee consegue nos deixar instigados em saber o que aconteceu na vida daquele personagem para o mesmo ter tido uma mudança tão abrupta. Conforme os sinais que o filme vai dando, é possível imaginar o que pode ter acontecido, mas não como e o incidente que ocasionou todos os traumas de Lee é angustiante e desesperador.
Assim, "Manchester à Beira-Mar" consegue ser um filme humano e extremamente sensível, com um tom altamente melancólico, mas sem apelar ao melodrama e com atuações ótimas, principalmente a do Casey Affleck, que é o tipo de atuação contida, onde o ator precisa se expressar mais pela postura e pelos olhares do que por diálogos e que, apesar das polêmicas, mereceu a premiação da Academia.
É sempre encantador apreciar um filme novo do Studio Ghibli e não poderia ser diferente com "A Tartaruga Vermelha", apesar de ser uma obra que se destaca dos filmes do estúdio, por ser imensamente contemplativa, sem diálogos e com personagens mais humanos e realistas (no sentido físico mesmo). Pra alguns, a obra pode ser um pouco enfadonha, mas se você se permitir imergir nela, ficará extremamente encantado com os cenários maravilhosos e a história de vida e sobrevivência dos personagens em meio à natureza, com toda a magia e encanto característicos dos filmes do estúdio.
Primeiro filme do Valerio Zurlini que assisto e não é à toa o diretor ser conhecido como "Poeta da Melancolia", com uma obra sensível e existencialista que nos deixa meio anestesiados e não tem pretensão nenhuma de ser feliz. O personagem do Alain Delon é extremamente interessante, com seus diálogos profundos e seu desânimo pela vida. O diálogo mais marcante é o seguinte:
"- Por que a morte é a primeira noite de tranquilidade? - Porque finalmente se dorme sem sonhos."
Entrei no hype de "13 Reasons Why" e acabei me envolvendo bastante com a série. Ok, ela tem um ritmo muitas vezes arrastado, é meio teenager e muitas vezes não consegue lidar com várias questões psicológicas bastante sérias, mas é uma série bastante necessária nessa atualidade onde o maior mal é a depressão, que atinge a todas as faixas etárias e que ainda é vista com pouca importância, sobretudo na fase de adolescência, onde passamos por uma série de mudanças, estamos definindo nossas personalidades e várias situações nos deixam mal. Quem nunca sofreu bullying na escola? Provavelmente todos nós já. Alguns conseguem superar sem maiores consequências, outros superam com vários traumas pela vida e outros, infelizmente, ficam pelo caminho.
Acredito que o maior mérito de "13 Reasons Why" seja abordar temas delicados de uma forma envolvente ao público mais jovem e também mostrar que cada choque que levamos da vida pode ter um impacto muito maior lá pela frente. Se você não é uma Hannah Baker não tem o menor respaldo em afirmar que o que ela passou foi "frescura", um "drama desnecessário" ou que ela "poderia ter superado tudo". Ela passou por algumas das piores violências psicológicas e físicas que uma mulher jovem pode passar e é bastante complicado julgar suas atitudes ou seu desejo de vingança. É preciso ter um pouco de empatia pelo que ela passou.
Falando da série em si, ela possui vários problemas de ritmo. Ao mesmo tempo em que ela nos instiga em saber quais serão os próximos protagonistas das fitas seguintes e o que a pessoa fez para magoar a Hannah, cada episódio tem alguns momentos enfadonhos que nos deixam entediados, talvez por possuir algumas subtramas desnecessárias. De minha parte, fiquei envolvido nas tramas do início ao fim e bastante transtornado com várias passagens; quem possui problema com depressão, deve evitar a série, pois ela possui vários "gatilhos" que podem ser péssimos se você está fazendo algum tratamento psicológico.
E de vários jovens atores, dentre alguns bastante dispensáveis, fiquei bastante satisfeito pelas atuações do Dylan Minnette (que está despontando na carreira), da Katherine Langford (que eu espero ver em mais produções) e da Alisha Boe, que é muito expressiva e consegue transmitir realismo. No final, pensava que a série iria fechar um ciclo e ficar em aberto pra uma nova temporada (afinal, já sabemos os 13 porquês e aparentemente não temos mais histórias de Hannah Baker), mas ela parece ter fôlego pra mais uma temporada, com alguns conflitos surgindo ao final. Vou aguardar ansiosamente novos episódios!
Devido uma criação com divisões de gênero, "A Bela e a Fera" nunca foi um filme marcante na infância, mas também confesso que as animações e histórias com princesas encontrando o príncipe encantado e vivendo um "happy ending" nunca me chamaram muito a atenção. E por mais soe piegas, a história de superação, melhora como pessoa (do Fera) e saber se encantar pelo que as pessoas realmente são, ao invés da aparência física, ainda são boas lições de moral. O filme em sim reproduz muito bem a animação (tanto que falta um pouco de criatividade) e tecnicamente é bem desenvolvido, principalmente com relação à produção de arte. Apesar de ser uma obra que não tenha me tocado muito, vale bastante como forma de entretenimento e pra ver a maravilhosa da Emma Watson despontando cada vez mais na carreira.
"Elle" é um filme que você precisa de um pouco de tempo para digerir. Assisti tem uns dias e saí da sessão encantado e ao mesmo tempo absorto em tudo o que tinha visto, mas com as impressões ainda um pouco confusas. A obra, de fato, consegue ser polêmica e controversa em suas abordagens, sendo que tudo parece ser minimamente planejado para nos deixar confusos e intrigados.
Pra começar, a Isabelle Huppert está excelente no papel de Michèle, que é uma das personagens mais interessantes que eu já vi no cinema. Mesmo tendo passado por um grande trauma no passado, ela não deixou que isso a destruísse, ao ponto de construir uma carreira sólida (em uma área dominada por homens, diga-se de passagem) e ser uma mulher dominadora. Mas ao mesmo tempo em que ela não se deixou abalar por um grande trauma de infância, parece que o episódio acarretou uma mudança ao ponto de suas repressões, desejos, angústias e a forma dura de encarar a vida tenha origem ali.
O filme em si possui inúmeras abordagens e, como telespectador, até fiquei um pouco perdido em alguns momentos. Claro que o grande ponto de discussão e de estranheza é o episódio do
estupro, de como Michèle reage a ele, não como se estivesse superando um trauma, mas passando por mais um rotineiro desafio na vida, contando aos amigos como se contasse um episódio banal do dia-a-dia e sendo instigada a descobrir o seu autor. E claro, nos causa extrema estranheza a relação dela com o psicótico estuprador, por quem Michèle já nutria um desejo (antes de saber que era ele) e acaba se envolvendo naquele jogo sexual. Então essa relação nos causa uma certa repulsa e o filme deve ser visualizado sem muitas amarras morais. Dessa forma, somos imersos em um caldeirão de reações até culminar em seu final de certa forma trágico e libertador. Também é interessante constatar que o grande mistério da identidade do assassino é revelado um pouco depois da metade da obra e em nenhum momento ele perde seu fôlego. Ao contrário disso, ficamos cada vez mais interessados no desenrolar da trama.
Mas além desse ponto, há outras abordagens bastante interessantes, como
a relação dela com seu pai e o crime que este cometeu no passado, que é um pequeno episódio que me deixou muito curioso em saber mais, mas que acaba não sendo tão bem explorado, assim como as reais consequências disso na personalidade de Michèle; eu queria muito ter visto ela conversando com o pai e descarregando todos os seus sentimentos, mas foi uma boa sacada a quebra de nossas expectativas com o seu suicídio. Outro ponto interessante é que além de Michèle ser vítima de várias situações, ela também é vilã em vários outras: a mãe com pouco carinho pelo filho, a amiga que é amante do marido da amiga, a chefe que assedia moralmente os empregados, a vizinha que se insinua pro seu marido, a filha que sente desprezo pelas escolhas da mãe e a ex-mulher que atrapalha as relações do ex-marido.
Por todas essas situações, a personagem é tão rica em nuances e nossa relação de espectador com ela é tão confusa.
Em suma, o filme tecnicamente é ótimo, possui um roteiro coerente e corajoso e intercala bem vários gêneros, como o drama, suspense e até alguns tons de comédia, com seu sarcasmo. É uma obra envolta em tensão do início ao fim e que me deixou ainda mais encantado por Isabelle Huppert e sua atuação visceral, realmente digna de ganhar o Oscar esse ano.
"Depois de Lúcia" é um soco no estômago diante de uma realidade que nos aflige, mas que ao mesmo tempo é bastante corriqueira. O filme não se preocupa em se estabelecer antes do grande evento que foi a morte da Lúcia, apenas enfatizando o que acontece a partir de sua morte (como bem demonstra o nome da obra), mas logo no início podemos ver o quanto o pai e a filha estão abalados psicologicamente e buscam superar a perda da mãe mudando de cidade. Ao longo do filme, eu tive a sensação de ver a Selma de "Dançando no Escuro" na Alejandra, com
uma série de acontecimentos trágicos ocorrendo e minha angústia aumentando, porque as situações passadas pela garota só pioravam.
Ao final do filme, várias reflexões são mostradas e se busca muito mais nos fazer pensar do que dar respostas ou fazer um final "redondo". Talvez o seu grande mote seja a depressão e o quanto a falta de comunicação é prejudicial pra relação em família. Pai e filha parecem ser próximos, são afetuosos, mas ambos escondem um cotidiano caótico, onde ainda não conseguem superar a morte de Lúcia e se veem ainda mais perdidos na nova cidade. Mas as piores situações realmente são com a Alejandra e me deixaram bastante angustiado. A menina parece querer superar a morte da mãe e está aberta a novas amizades na escola, mas encontra uma realidade misógina, machista e de bullying que só fazem com que ela fique mais perdida. Li alguns comentários reclamando sobre o seu silêncio sem refletir e ter muita empatia pela garota, que
tem uma sextape vazada e, diante de uma realidade machista, deve se sentir culpada e, por isso, não conta nada ao pai, também para poupá-lo de mais uma preocupação. Mas a Alejandra é até forte em encarar todos os xingamentos, assédios e agressões que sofre, com muita resiliência (talvez o que mais nos entristece) e até aceitando as tragédias que a vida traz.
O final tem um misto de sentimentos e deixa, propositalmente, muita coisa em aberto:
a melancolia de Alejandra, a tristeza, culpa e vingança do pai (que também nos causa um misto de revolta, repúdio e empatia) e a certeza de que após os créditos finais, não terá "happy ending".
A notícia da produção de "Animais Fantásticos e Onde Habitam" e uma nova incursão nesse mundo fantástico criado pela J. K. Rowling foi uma excelente notícia, já que esse universo é extremamente rico e ainda rende histórias incríveis. Não pude ver no cinema na época da estreia e só assisti recentemente. É nítido que o roteiro não é tão encantador e profundo e que os personagens não são tão carismáticos quanto os de "Harry Potter", mas isso não faz da obra menos interessante, com uma história de certa forma simples, efeitos visuais satisfatórios (mas confesso que em alguns momentos achei o CGI mal desenvolvido) e um tom obscuro promissor, que deve ser melhor desenvolvido em outros filmes. A Escolha do David Yates, que dirigiu os quatro últimos filmes de "Harry Potter" e conhece bem aquele universo é bastante acertada e o elenco de forma geral é bom, apesar de não conseguir visualizar uma total sintonia entre os quatro personagens principais. Enfim, como apreciador de todo o universo criado em "Harry Potter", é muito bom ver esse mundo da magia sendo explorado novamente e aguardo sequências em que os personagens sejam melhor desenvolvidos (acredito que isso ficou reservado pra sequências), assim como a faceta sombria que o personagem Grindlwald traz.
"Kubo e as Cordas Mágicas" nos traz uma animação de qualidade, com um stop motion muito bem executado e personagens adoráveis. Há elementos muito interessantes de fantasia, mas a minha impressão foi de que os 100 minutos de filme não deram conta de explorar um universo tão rico, onde o roteiro poderia ser melhor aproveitado. Mas essa consideração não tira meu encantamento da obra, que é um deleite aos fãs de animações.
"La La Land" é o tipo raro de filme que te faz sair da sessão de cinema encantado com sua ode aos musicais maravilhosos da Era de Ouro de Hollywood e ao Cinema de forma geral e com toda a dedicação a toda a concepção visual da obra e todos os elementos que o tornam um filme grandioso: músicas, números de dança, roteiro (que apesar de simples e não original, é extremamente eficiente) e as inúmeras referências.
Mesmo para quem não é fã de musicais, "La La Land" consegue um desenvolvimento ótimo, já que não inteiramente cantado, mas os números musicais são realmente os pontos fortes, que te transportam para uma realidade de sonhos, como é a Los Angeles da "City os Stars" cantada pelo Sebastian e almejada por ele e pela Mia. Aliás, a sintonia entre os dois protagonistas está incrível e esse é um dos pontos fortes da obra, principalmente pelo carisma, dedicação e talento da Emma Stone, no melhor papel de sua carreira até o momento e que nos encanta do início ao fim do filme.
Exagero de indicações ao Oscar à parte, é inegável que tecnicamente o filme é impecável e houve uma extrema dedicação pra que ele tivesse esse resultado final, com um design de produção maravilhoso, muitas cores e atenção aos detalhes. Eu espero que ele se saia bem na premiação, pois o trabalho da equipe e do Damien Chazelle (esse cara precisa fazer muitos outros filmes!) estão de parabéns.
O filme termina e nos pegamos cantarolando as musicas, revisitando cenários e pensando em seu final um pouco inesperado e nada clichê. Já é um verdadeiro clássico, que pretendo rever muitas outras vezes.
"Animais Noturnos" é o tipo de filme que te prende completamente e que você precisa rever algumas vezes para prestar atenção em todos os seus simbolismos, que vão desde a utilização das cores, fotografia aos objetos em cena e onde ficção e realidade e passado e presente se entrelaçam. E a sequência do incidente do início do livro com a família do Tony provavelmente é uma das que mais me deixou angustiado assistindo a um filme. E claro, é meio redundante falar que a Amy Adams e o Jake Gylenhaal estão impecáveis, já que os dois geralmente mandam muito bem. Provavelmente irei dormir com o filme ressoando na mente.
"Moonlight" é um dos filmes de destaque do cinema atual, com toda a jornada de autoconhecimento do Chiron e a imensa sensibilidade em retratar o seu distanciamento, solidão, descobertas, incertezas, identidade e todos os conflitos que uma pessoa deslocada na infância e adolescência pode passar, principalmente por ser diferente e não se enquadrar em nenhuma "tribo". É incrível como todos os atores que interpretam o Chiron têm um desempenho muito bom e, apesar de incluir elementos diferentes ao personagem, mantém uma forte coesão, que se dá principalmente no olhar melancólico dele. Fora isso, o elenco de forma geral manda muito bem e, pra mim, o grande destaque vai pra atuação da Naomi Harris, que tá espetacular.
"A Chegada" é um filme impactante desses que você não vê com frequência. Apesar de abordar o tema extraterrestres, que já foi mostrado inúmeras vezes e das mais diversas formas no cinema, a obra consegue se diferenciar muito porquê o foco não é uma invasão alienígena e as consequências dela ao planeta (o que também é abordado), mas o autoconhecimento da personagem da Amy Adams e a importância da linguagem para se estabelecer um diálogo (seja entre países diferentes ou seja entre humanos e alienígenas). Tecnicamente o filme é impecável, com uma fotografia deslumbrante e cenários exuberantes, sem contar a trilha sonora angustiante que nos coloca no clima da obra. O tom de melancolia ronda toda a película e ao final você fica um pouco devastado e reflexivo. Sem dúvidas é um dos melhores filmes de 2016 e a Amy Adams cada vez se firma mais como uma atriz de excelência, mesmo tendo sido esnobada pelo Oscar.
"Eu, Daniel Blake" é impactante e extremamente real, até mesmo para nós brasileiros, que não temos a qualidade de vida de um país europeu. A burocracia faz com que as pessoas criem estratagemas para se manterem e nos deixa apreensivos com tanta dificuldade e falta de humanização, onde é preferível seguir o "sistema" do que ter a sensibilidade de buscar entender os problemas que alguém em uma situação extrema como a de Daniel pode estar. Também é retratada a luta diária por sobrevivência por parte de Katie, que precisa ter a sanidade mental de manter uma casa com duas crianças mesmo sem muita perspectiva de vida e acaba se vendo diante de situações constrangedoras. O final é doído é dá aquela sensação de que mesmo diante da luta, é difícil vencer o sistema burocrático, mas fica a a imagem de luta de Daniel com a pichação, o recurso e suas últimas palavras sobre ter o direito a uma vida digna.
Antes de tudo, "Halloween III: A Noite das Bruxas" deve ser visto como uma história à parte da franquia protagonizada pelo Michael Myers e provavelmente essa seja a maior decepção da obra: ser vendida como fazendo parte daquele universo, nos fazer esperar pelo personagem icônico e isso nunca acontecer. Fora essa questão, o filme é um daqueles grandes trashs da década de 80, com situações surreais que mais tiram risadas de nós do que nos fazem ter medo. Se eu não odiasse tanto ter que abandonar filmes pela metade, esse com certeza seria um que teria feito, já que em nenhum momento e em nenhum aspecto ele me empolgou e é desses pra se ver apenas uma vez na vida e nunca mais.
"Capitão Fantástico" é do tipo de filme que começamos a assistir despretensiosamente e rapidamente somos cativados pela história. Eu me senti dividido em diversos momentos pelo tipo de criação que Ben vem dado aos seus filhos, onde ao mesmo tempo em que os prepara para diversas adversidades da vida, os afasta de um ritmo de vida sedentário e predatório que a maioria de nós levamos e os incentiva a terem todo o tipo de conhecimento possível, também os priva da convivência em sociedade, que uma hora acaba fazendo falta.
Também me senti dividido e com algumas reflexões interessantes sobre o nosso modo de vida consumista alienante e que retarda nossa maturidade, como no jantar em que os pais "normais" evitam falar sobre o motivo da morte da mãe das crianças para "preservá-los", assim como as conversas de Ben sem nenhum tipo de tabu com sua filha pequena sobre sexo, por exemplo.
Mas o ponto em que "Capitão Fantástico" mais me tocou foi essa busca de conexão entre as pessoas, que cada vez mais vai se perdendo quando a gente dá mais atenção ao celular do que às conversas reais e passa pela vida das pessoas sem de fato conhecê-las. É uma boa reflexão sobre nosso estilo de vida alienado e que dá uma vontade imensa de largar um pouco essa vida corrida e ir se embrenhar no mato por uns dias sem conexão com o mundo (o que é sempre uma experiência renovadora).
A estrutura do filme em si é ótima e o recorte da história foi acertado, mas eu fiquei com uma enorme vontade de ver o Ben e sua mulher decidindo se "afastar do mundo" e como vão lidando com a criação dos filhos, além da doença dela que leva ao desenrolar da história. São duas horas que passam rápido e que nos fazem querer "viver" no filme por muito mais tempo e isso é sempre um enorme ponto positivo em uma obra cinematográfica.
Lion: Uma Jornada para Casa
4.3 1,9K Assista Agora"Lion" pode ser facilmente dividido em duas partes: a primeira e que possui muito mais força, mostra como o pequeno Saroo se perdeu e nos deixa angustiados com tudo o que essa criança de apenas 5 anos passou, em meio a pessoas as quais ele nem conseguia entender, por falarem uma língua diferente da sua. Essa primeira metade traz um enorme realismo e nos cativa pela expressividade do pequeno Sunny Pawar, que é o maior destaque do filme e possui um olhar bastante expressivo.
Já na segunda metade, temos Saroo sendo adotado, os anos passando e ele ainda possuindo um enorme bloqueio em seguir em frente por causa desse trauma. Aqui já temos alguns problemas de ritmo, alguns momentos um pouco entediantes e por mais que a atuação do Dev Patel seja competente, ele não parece conseguir nos transmitir toda essa confusão que se passa em sua mente (mesmo a gente conseguindo entendê-la completamente).
Essa segunda parte, passa a retomar o fôlego do filme próximo ao final, principalmente com a cena de conversa entre Saroo e sua mãe adotiva, que tem um diálogo formidável sobre adoção e mostra uma ótima atuação da Nicole Kidman, que tá muito bem em todas as suas cenas.
Já os momentos finais, são pura catarse e se você não se emocionar, provável ter algum problema.
Em resumo, por mais que "Lion" possua alguns problemas de ritmo entre suas duas principais partes, é uma obra densa, bem desenvolvida, com boas atuações e que consegue nos dar boas lições e fazer refletir.
Em Ritmo de Fuga
4.0 1,9K Assista Agora"Baby Driver" é um dos filmes de ação mais interessantes desse ano e se destaca em meio ao que tem sido lançado, principalmente pela competência do Edgar Wright, que faz um filme que possui uma grande fluidez e constrói uma trama onde a trilha sonora é a protagonista e dita o ritmo da ação, tendo uma sincronia fantástica com tudo o que acontece em cena.
Além da trilha sonora ótima, o trabalho de edição é competente, o humor está no tom certo, os personagens são cativantes, há pouca previsibilidade e o vilão quase indestrutível é também um ponto forte.
Saí da sessão já querendo rever e prestar atenção em alguns detalhes que devem ter passado despercebidos em decorrência do ritmo frenético da obra.
Mulher-Maravilha
4.1 2,9K Assista AgoraO grande mérito de "Mulher-Maravilha" é mostrar ao mundo que uma heroína pode sim ser um grande sucesso comercial, sem precisar sexualizar a personagem e provavelmente a escolha da Patty Jenkins como diretora tenha sido fundamental nesse sentido. O filme em si não sai muito de sua zona de conforto de uma história de origem de super-herói, mas todo o arco de Diana na ilha Temiscira e a contextualização na 2ª Guerra Mundial são bastante interessantes, além das sutis críticas sociais quanto à desigualdade de gênero, que era bem gritante na época em que o filme se passa.
Sai da sessão com uma boa impressão da obra e de que dessa vez a DC acertou a mão, mas também com aquela impressão de que o filme poderia ter rendido muito mais, principalmente sem aquele final de enfrentamento megalomaníaco com um CGI que deixou o filme parecendo um jogo de video game.
Espero que os estúdios finalmente percebam que super-heroínas podem render bons filmes e fico na expectativa de uma sequência.
Laerte-se
4.0 184Laerte é uma figura emblemática. Antes de qualquer coisa, como cartunista é uma das mais brilhantes profissionais dese Brasil, unindo arte com crítica social de maneira única. Quanto ao documentário, é importante esclarecer que não se trata da biografia de vida de um artista, que se preocupa em fazer um apanhado de toda sua vida. "Larte-se" possui um recorte bem específico sobre sua identidade transgênero e suas reflexões do que é ser mulher.
Falando do documentário em si, apesar de ótimas reflexões da Larte e de podermos acompanhar momentos bastante íntimos, eu terminei a obra com a impressão de que ela poderia ter rendido muito mais e muito mais de Larte poderia ser explorado e isso se dá, ao meu ver, a uma direção ou edição inexperientes, que não delimitaram assuntos para serem tratados de forma mais coesa e que ainda nos deixou curiosos sobre diversos aspectos de uma pessoa que decide assumir sua transsexualidade já madura e faz uma série de questionamentos a si mesma sobre identidade de gênero, transfobia, seus privilégios e seu trabalho artístico.
De minha parte, gostaria de ter visto Larte ter falado mais sobre como foi o período de transição e no que isso tem refletido em seu trabalho artístico.
De qualquer forma, é um documentário que deve ser assistido e coloca em xeque o debate sobre identidade de gênero e transsexualidade, assuntos cercados de vários preconceitos.
___
Ps.: Ainda me assustam alguns comentários transfobicos colocados como se fossem "opiniões". Opinião é você preferir sorvete ao invés de picolé, não impôr suas crenças/dogmas aos outros e desrespeitá-los porque fogem da lógica pré-estabelecida na sua mente. A humanidade ainda precisa evoluir bastante.
Os Encontros de Paris
3.8 6"Os Encontros de Paris" é a primeira obra do Eric Rohmer e o cineasta já conseguiu me cativar aqui, com um filme leve, mas que em cada episódio consegue nos trazer reflexões interessantes e diálogos primorosos. Particularmente, preferi "Rendezvous at 07:00", com suas casualidades, mas todas as três partes me interessaram ao ponto de querer explorar mais a filmografia do Rohmer.
Sense8 (2ª Temporada)
4.3 893 Assista AgoraA segunda temporada de "Sense8" mantém o nível da primeira, com alguns pontos melhores, outros nem tanto e a série adentrando mais pelo caminho da ficção científica consegue despertar bastante nosso interesse. Se na primeira temporada o enfoque é conhecer os personagens principais e suas primeiras conexões, essa temporada adentra bem mais as explicações científicas da origem dos sensates e da BPO.
Algo que gostei bastante dessa temporada é que ela já começa em ritmo frenético, diferente da anterior, que demora um pouco a engrenar, te prendendo mais da metade em diante. De modo geral, a temporada me agradou bastante, mas acho que ela ainda peca um pouco no desenvolvimento de alguns personagens principais e consequentemente, algumas histórias são muito mais interessantes do que as outras, o que é normal quando se tem 8 personagens principais.
Já aguardo ansiosamente uma próxima temporada e já fico meio deprimido em saber que ela pode demorar tanto quanto essa segunda pra sair.
Twin Peaks (3ª Temporada)
4.4 622 Assista AgoraAinda tô um pouco anestesiado com esses dois episódios e não admirado da ainda imensa capacidade do Lynch. Fica evidente que ele teve pleno controle de todo o processo criativo e acredito que somente assim ele aceitaria o retorno da série, então mais do que nunca e como em seus últimos trabalhos para o cinema, ele abusa no surrealismo, o que pode não agradar a quem está conhecendo a série agora ou aos fãs antigos e que não conhecem melhor sua filmografia, mas que é extremamente competente e ousado, pois poderia se limitar a um fã service cheio de referências antigas e frases que já conhecemos, mas consegue unir a nossa nostalgia (ver o início, a abertura com a trilha sonora e a Laura Palmer me fizeram lagrimar de emoção) e criar uma trama inovadora,
que não se limita a Twin Peaks, tem violência, sexo e nudez e nos deixa tão intrigados quanto antes.
Mal posso esperar pelos próximos episódios!
Bancando o Águia
4.5 136 Assista AgoraAssim como Chaplin, Buster Keaton faz um cinema de uma leveza e diversão ímpares, que podem nos soar inocentes hoje em dia, mas que tiram sorrisos sinceros, sem qualquer tipo de apelação. Não à toa "Sherlock Jr." ser considerado um dos melhores filmes do cinema mudo, não apenas pela diversão e pelo personagem adorável do Keaton, mas por toda a parte técnica, que impressiona para a época, principalmente com relação à edição e ao movimento de câmera frenético nas cenas que mesclam a sala de cinema com o que está sendo exibido e nas sequências de perseguição.
E alguns anos depois, Woody Allen, fã das obras do Keaton, revisitaria essa trama em seu "A Rosa Purpura do Cairo", que é um de seus melhores filmes.
Manchester à Beira-Mar
3.8 1,4K Assista AgoraO bom de assistir a um filme como "Manchester à Beira-Mar" sem ter lido sinopse e sem saber nada sobre a trama é poder se surpreender e se aprofundar na obra sem expectativa alguma. De início, a ótima montagem intercalando de forma repentina passado e futuro na vida de Lee consegue nos deixar instigados em saber o que aconteceu na vida daquele personagem para o mesmo ter tido uma mudança tão abrupta. Conforme os sinais que o filme vai dando, é possível imaginar o que pode ter acontecido, mas não como e o incidente que ocasionou todos os traumas de Lee é angustiante e desesperador.
Assim, "Manchester à Beira-Mar" consegue ser um filme humano e extremamente sensível, com um tom altamente melancólico, mas sem apelar ao melodrama e com atuações ótimas, principalmente a do Casey Affleck, que é o tipo de atuação contida, onde o ator precisa se expressar mais pela postura e pelos olhares do que por diálogos e que, apesar das polêmicas, mereceu a premiação da Academia.
A Tartaruga Vermelha
4.1 392 Assista AgoraÉ sempre encantador apreciar um filme novo do Studio Ghibli e não poderia ser diferente com "A Tartaruga Vermelha", apesar de ser uma obra que se destaca dos filmes do estúdio, por ser imensamente contemplativa, sem diálogos e com personagens mais humanos e realistas (no sentido físico mesmo). Pra alguns, a obra pode ser um pouco enfadonha, mas se você se permitir imergir nela, ficará extremamente encantado com os cenários maravilhosos e a história de vida e sobrevivência dos personagens em meio à natureza, com toda a magia e encanto característicos dos filmes do estúdio.
A Primeira Noite de Tranquilidade
4.1 54Primeiro filme do Valerio Zurlini que assisto e não é à toa o diretor ser conhecido como "Poeta da Melancolia", com uma obra sensível e existencialista que nos deixa meio anestesiados e não tem pretensão nenhuma de ser feliz. O personagem do Alain Delon é extremamente interessante, com seus diálogos profundos e seu desânimo pela vida. O diálogo mais marcante é o seguinte:
"- Por que a morte é a primeira noite de tranquilidade?
- Porque finalmente se dorme sem sonhos."
13 Reasons Why (1ª Temporada)
3.8 1,5K Assista AgoraEntrei no hype de "13 Reasons Why" e acabei me envolvendo bastante com a série. Ok, ela tem um ritmo muitas vezes arrastado, é meio teenager e muitas vezes não consegue lidar com várias questões psicológicas bastante sérias, mas é uma série bastante necessária nessa atualidade onde o maior mal é a depressão, que atinge a todas as faixas etárias e que ainda é vista com pouca importância, sobretudo na fase de adolescência, onde passamos por uma série de mudanças, estamos definindo nossas personalidades e várias situações nos deixam mal. Quem nunca sofreu bullying na escola? Provavelmente todos nós já. Alguns conseguem superar sem maiores consequências, outros superam com vários traumas pela vida e outros, infelizmente, ficam pelo caminho.
Acredito que o maior mérito de "13 Reasons Why" seja abordar temas delicados de uma forma envolvente ao público mais jovem e também mostrar que cada choque que levamos da vida pode ter um impacto muito maior lá pela frente. Se você não é uma Hannah Baker não tem o menor respaldo em afirmar que o que ela passou foi "frescura", um "drama desnecessário" ou que ela "poderia ter superado tudo". Ela passou por algumas das piores violências psicológicas e físicas que uma mulher jovem pode passar e é bastante complicado julgar suas atitudes ou seu desejo de vingança. É preciso ter um pouco de empatia pelo que ela passou.
Falando da série em si, ela possui vários problemas de ritmo. Ao mesmo tempo em que ela nos instiga em saber quais serão os próximos protagonistas das fitas seguintes e o que a pessoa fez para magoar a Hannah, cada episódio tem alguns momentos enfadonhos que nos deixam entediados, talvez por possuir algumas subtramas desnecessárias. De minha parte, fiquei envolvido nas tramas do início ao fim e bastante transtornado com várias passagens; quem possui problema com depressão, deve evitar a série, pois ela possui vários "gatilhos" que podem ser péssimos se você está fazendo algum tratamento psicológico.
E de vários jovens atores, dentre alguns bastante dispensáveis, fiquei bastante satisfeito pelas atuações do Dylan Minnette (que está despontando na carreira), da Katherine Langford (que eu espero ver em mais produções) e da Alisha Boe, que é muito expressiva e consegue transmitir realismo.
No final, pensava que a série iria fechar um ciclo e ficar em aberto pra uma nova temporada (afinal, já sabemos os 13 porquês e aparentemente não temos mais histórias de Hannah Baker), mas ela parece ter fôlego pra mais uma temporada, com alguns conflitos surgindo ao final.
Vou aguardar ansiosamente novos episódios!
A Bela e a Fera
3.9 1,6K Assista AgoraDevido uma criação com divisões de gênero, "A Bela e a Fera" nunca foi um filme marcante na infância, mas também confesso que as animações e histórias com princesas encontrando o príncipe encantado e vivendo um "happy ending" nunca me chamaram muito a atenção. E por mais soe piegas, a história de superação, melhora como pessoa (do Fera) e saber se encantar pelo que as pessoas realmente são, ao invés da aparência física, ainda são boas lições de moral.
O filme em sim reproduz muito bem a animação (tanto que falta um pouco de criatividade) e tecnicamente é bem desenvolvido, principalmente com relação à produção de arte. Apesar de ser uma obra que não tenha me tocado muito, vale bastante como forma de entretenimento e pra ver a maravilhosa da Emma Watson despontando cada vez mais na carreira.
Elle
3.8 886"Elle" é um filme que você precisa de um pouco de tempo para digerir. Assisti tem uns dias e saí da sessão encantado e ao mesmo tempo absorto em tudo o que tinha visto, mas com as impressões ainda um pouco confusas. A obra, de fato, consegue ser polêmica e controversa em suas abordagens, sendo que tudo parece ser minimamente planejado para nos deixar confusos e intrigados.
Pra começar, a Isabelle Huppert está excelente no papel de Michèle, que é uma das personagens mais interessantes que eu já vi no cinema. Mesmo tendo passado por um grande trauma no passado, ela não deixou que isso a destruísse, ao ponto de construir uma carreira sólida (em uma área dominada por homens, diga-se de passagem) e ser uma mulher dominadora. Mas ao mesmo tempo em que ela não se deixou abalar por um grande trauma de infância, parece que o episódio acarretou uma mudança ao ponto de suas repressões, desejos, angústias e a forma dura de encarar a vida tenha origem ali.
O filme em si possui inúmeras abordagens e, como telespectador, até fiquei um pouco perdido em alguns momentos. Claro que o grande ponto de discussão e de estranheza é o episódio do
estupro, de como Michèle reage a ele, não como se estivesse superando um trauma, mas passando por mais um rotineiro desafio na vida, contando aos amigos como se contasse um episódio banal do dia-a-dia e sendo instigada a descobrir o seu autor. E claro, nos causa extrema estranheza a relação dela com o psicótico estuprador, por quem Michèle já nutria um desejo (antes de saber que era ele) e acaba se envolvendo naquele jogo sexual. Então essa relação nos causa uma certa repulsa e o filme deve ser visualizado sem muitas amarras morais. Dessa forma, somos imersos em um caldeirão de reações até culminar em seu final de certa forma trágico e libertador. Também é interessante constatar que o grande mistério da identidade do assassino é revelado um pouco depois da metade da obra e em nenhum momento ele perde seu fôlego. Ao contrário disso, ficamos cada vez mais interessados no desenrolar da trama.
Mas além desse ponto, há outras abordagens bastante interessantes, como
a relação dela com seu pai e o crime que este cometeu no passado, que é um pequeno episódio que me deixou muito curioso em saber mais, mas que acaba não sendo tão bem explorado, assim como as reais consequências disso na personalidade de Michèle; eu queria muito ter visto ela conversando com o pai e descarregando todos os seus sentimentos, mas foi uma boa sacada a quebra de nossas expectativas com o seu suicídio. Outro ponto interessante é que além de Michèle ser vítima de várias situações, ela também é vilã em vários outras: a mãe com pouco carinho pelo filho, a amiga que é amante do marido da amiga, a chefe que assedia moralmente os empregados, a vizinha que se insinua pro seu marido, a filha que sente desprezo pelas escolhas da mãe e a ex-mulher que atrapalha as relações do ex-marido.
Em suma, o filme tecnicamente é ótimo, possui um roteiro coerente e corajoso e intercala bem vários gêneros, como o drama, suspense e até alguns tons de comédia, com seu sarcasmo. É uma obra envolta em tensão do início ao fim e que me deixou ainda mais encantado por Isabelle Huppert e sua atuação visceral, realmente digna de ganhar o Oscar esse ano.
Depois de Lúcia
3.8 1,1K"Depois de Lúcia" é um soco no estômago diante de uma realidade que nos aflige, mas que ao mesmo tempo é bastante corriqueira. O filme não se preocupa em se estabelecer antes do grande evento que foi a morte da Lúcia, apenas enfatizando o que acontece a partir de sua morte (como bem demonstra o nome da obra), mas logo no início podemos ver o quanto o pai e a filha estão abalados psicologicamente e buscam superar a perda da mãe mudando de cidade.
Ao longo do filme, eu tive a sensação de ver a Selma de "Dançando no Escuro" na Alejandra, com
uma série de acontecimentos trágicos ocorrendo e minha angústia aumentando, porque as situações passadas pela garota só pioravam.
Ao final do filme, várias reflexões são mostradas e se busca muito mais nos fazer pensar do que dar respostas ou fazer um final "redondo". Talvez o seu grande mote seja a depressão e o quanto a falta de comunicação é prejudicial pra relação em família. Pai e filha parecem ser próximos, são afetuosos, mas ambos escondem um cotidiano caótico, onde ainda não conseguem superar a morte de Lúcia e se veem ainda mais perdidos na nova cidade.
Mas as piores situações realmente são com a Alejandra e me deixaram bastante angustiado. A menina parece querer superar a morte da mãe e está aberta a novas amizades na escola, mas encontra uma realidade misógina, machista e de bullying que só fazem com que ela fique mais perdida. Li alguns comentários reclamando sobre o seu silêncio sem refletir e ter muita empatia pela garota, que
tem uma sextape vazada e, diante de uma realidade machista, deve se sentir culpada e, por isso, não conta nada ao pai, também para poupá-lo de mais uma preocupação. Mas a Alejandra é até forte em encarar todos os xingamentos, assédios e agressões que sofre, com muita resiliência (talvez o que mais nos entristece) e até aceitando as tragédias que a vida traz.
O final tem um misto de sentimentos e deixa, propositalmente, muita coisa em aberto:
a melancolia de Alejandra, a tristeza, culpa e vingança do pai (que também nos causa um misto de revolta, repúdio e empatia) e a certeza de que após os créditos finais, não terá "happy ending".
Animais Fantásticos e Onde Habitam
4.0 2,2K Assista AgoraA notícia da produção de "Animais Fantásticos e Onde Habitam" e uma nova incursão nesse mundo fantástico criado pela J. K. Rowling foi uma excelente notícia, já que esse universo é extremamente rico e ainda rende histórias incríveis. Não pude ver no cinema na época da estreia e só assisti recentemente. É nítido que o roteiro não é tão encantador e profundo e que os personagens não são tão carismáticos quanto os de "Harry Potter", mas isso não faz da obra menos interessante, com uma história de certa forma simples, efeitos visuais satisfatórios (mas confesso que em alguns momentos achei o CGI mal desenvolvido) e um tom obscuro promissor, que deve ser melhor desenvolvido em outros filmes.
A Escolha do David Yates, que dirigiu os quatro últimos filmes de "Harry Potter" e conhece bem aquele universo é bastante acertada e o elenco de forma geral é bom, apesar de não conseguir visualizar uma total sintonia entre os quatro personagens principais.
Enfim, como apreciador de todo o universo criado em "Harry Potter", é muito bom ver esse mundo da magia sendo explorado novamente e aguardo sequências em que os personagens sejam melhor desenvolvidos (acredito que isso ficou reservado pra sequências), assim como a faceta sombria que o personagem Grindlwald traz.
Kubo e as Cordas Mágicas
4.2 635 Assista Agora"Kubo e as Cordas Mágicas" nos traz uma animação de qualidade, com um stop motion muito bem executado e personagens adoráveis. Há elementos muito interessantes de fantasia, mas a minha impressão foi de que os 100 minutos de filme não deram conta de explorar um universo tão rico, onde o roteiro poderia ser melhor aproveitado.
Mas essa consideração não tira meu encantamento da obra, que é um deleite aos fãs de animações.
La La Land: Cantando Estações
4.1 3,6K Assista Agora"La La Land" é o tipo raro de filme que te faz sair da sessão de cinema encantado com sua ode aos musicais maravilhosos da Era de Ouro de Hollywood e ao Cinema de forma geral e com toda a dedicação a toda a concepção visual da obra e todos os elementos que o tornam um filme grandioso: músicas, números de dança, roteiro (que apesar de simples e não original, é extremamente eficiente) e as inúmeras referências.
Mesmo para quem não é fã de musicais, "La La Land" consegue um desenvolvimento ótimo, já que não inteiramente cantado, mas os números musicais são realmente os pontos fortes, que te transportam para uma realidade de sonhos, como é a Los Angeles da "City os Stars" cantada pelo Sebastian e almejada por ele e pela Mia. Aliás, a sintonia entre os dois protagonistas está incrível e esse é um dos pontos fortes da obra, principalmente pelo carisma, dedicação e talento da Emma Stone, no melhor papel de sua carreira até o momento e que nos encanta do início ao fim do filme.
Exagero de indicações ao Oscar à parte, é inegável que tecnicamente o filme é impecável e houve uma extrema dedicação pra que ele tivesse esse resultado final, com um design de produção maravilhoso, muitas cores e atenção aos detalhes. Eu espero que ele se saia bem na premiação, pois o trabalho da equipe e do Damien Chazelle (esse cara precisa fazer muitos outros filmes!) estão de parabéns.
O filme termina e nos pegamos cantarolando as musicas, revisitando cenários e pensando em seu final um pouco inesperado e nada clichê. Já é um verdadeiro clássico, que pretendo rever muitas outras vezes.
Animais Noturnos
4.0 2,2K Assista Agora"Animais Noturnos" é o tipo de filme que te prende completamente e que você precisa rever algumas vezes para prestar atenção em todos os seus simbolismos, que vão desde a utilização das cores, fotografia aos objetos em cena e onde ficção e realidade e passado e presente se entrelaçam. E a sequência do incidente do início do livro com a família do Tony provavelmente é uma das que mais me deixou angustiado assistindo a um filme.
E claro, é meio redundante falar que a Amy Adams e o Jake Gylenhaal estão impecáveis, já que os dois geralmente mandam muito bem.
Provavelmente irei dormir com o filme ressoando na mente.
Moonlight: Sob a Luz do Luar
4.1 2,4K Assista Agora"Moonlight" é um dos filmes de destaque do cinema atual, com toda a jornada de autoconhecimento do Chiron e a imensa sensibilidade em retratar o seu distanciamento, solidão, descobertas, incertezas, identidade e todos os conflitos que uma pessoa deslocada na infância e adolescência pode passar, principalmente por ser diferente e não se enquadrar em nenhuma "tribo".
É incrível como todos os atores que interpretam o Chiron têm um desempenho muito bom e, apesar de incluir elementos diferentes ao personagem, mantém uma forte coesão, que se dá principalmente no olhar melancólico dele. Fora isso, o elenco de forma geral manda muito bem e, pra mim, o grande destaque vai pra atuação da Naomi Harris, que tá espetacular.
A Chegada
4.2 3,4K Assista Agora"A Chegada" é um filme impactante desses que você não vê com frequência. Apesar de abordar o tema extraterrestres, que já foi mostrado inúmeras vezes e das mais diversas formas no cinema, a obra consegue se diferenciar muito porquê o foco não é uma invasão alienígena e as consequências dela ao planeta (o que também é abordado), mas o autoconhecimento da personagem da Amy Adams e a importância da linguagem para se estabelecer um diálogo (seja entre países diferentes ou seja entre humanos e alienígenas).
Tecnicamente o filme é impecável, com uma fotografia deslumbrante e cenários exuberantes, sem contar a trilha sonora angustiante que nos coloca no clima da obra. O tom de melancolia ronda toda a película e ao final você fica um pouco devastado e reflexivo. Sem dúvidas é um dos melhores filmes de 2016 e a Amy Adams cada vez se firma mais como uma atriz de excelência, mesmo tendo sido esnobada pelo Oscar.
Eu, Daniel Blake
4.3 533 Assista Agora"Eu, Daniel Blake" é impactante e extremamente real, até mesmo para nós brasileiros, que não temos a qualidade de vida de um país europeu. A burocracia faz com que as pessoas criem estratagemas para se manterem e nos deixa apreensivos com tanta dificuldade e falta de humanização, onde é preferível seguir o "sistema" do que ter a sensibilidade de buscar entender os problemas que alguém em uma situação extrema como a de Daniel pode estar. Também é retratada a luta diária por sobrevivência por parte de Katie, que precisa ter a sanidade mental de manter uma casa com duas crianças mesmo sem muita perspectiva de vida e acaba se vendo diante de situações constrangedoras.
O final é doído é dá aquela sensação de que mesmo diante da luta, é difícil vencer o sistema burocrático, mas fica a a imagem de luta de Daniel com a pichação, o recurso e suas últimas palavras sobre ter o direito a uma vida digna.
Halloween III: A Noite das Bruxas
2.3 482 Assista AgoraAntes de tudo, "Halloween III: A Noite das Bruxas" deve ser visto como uma história à parte da franquia protagonizada pelo Michael Myers e provavelmente essa seja a maior decepção da obra: ser vendida como fazendo parte daquele universo, nos fazer esperar pelo personagem icônico e isso nunca acontecer.
Fora essa questão, o filme é um daqueles grandes trashs da década de 80, com situações surreais que mais tiram risadas de nós do que nos fazem ter medo. Se eu não odiasse tanto ter que abandonar filmes pela metade, esse com certeza seria um que teria feito, já que em nenhum momento e em nenhum aspecto ele me empolgou e é desses pra se ver apenas uma vez na vida e nunca mais.
Capitão Fantástico
4.4 2,7K Assista Agora"Capitão Fantástico" é do tipo de filme que começamos a assistir despretensiosamente e rapidamente somos cativados pela história. Eu me senti dividido em diversos momentos pelo tipo de criação que Ben vem dado aos seus filhos, onde ao mesmo tempo em que os prepara para diversas adversidades da vida, os afasta de um ritmo de vida sedentário e predatório que a maioria de nós levamos e os incentiva a terem todo o tipo de conhecimento possível, também os priva da convivência em sociedade, que uma hora acaba fazendo falta.
Também me senti dividido e com algumas reflexões interessantes sobre o nosso modo de vida consumista alienante e que retarda nossa maturidade, como no jantar em que os pais "normais" evitam falar sobre o motivo da morte da mãe das crianças para "preservá-los", assim como as conversas de Ben sem nenhum tipo de tabu com sua filha pequena sobre sexo, por exemplo.
Mas o ponto em que "Capitão Fantástico" mais me tocou foi essa busca de conexão entre as pessoas, que cada vez mais vai se perdendo quando a gente dá mais atenção ao celular do que às conversas reais e passa pela vida das pessoas sem de fato conhecê-las. É uma boa reflexão sobre nosso estilo de vida alienado e que dá uma vontade imensa de largar um pouco essa vida corrida e ir se embrenhar no mato por uns dias sem conexão com o mundo (o que é sempre uma experiência renovadora).
A estrutura do filme em si é ótima e o recorte da história foi acertado, mas eu fiquei com uma enorme vontade de ver o Ben e sua mulher decidindo se "afastar do mundo" e como vão lidando com a criação dos filhos, além da doença dela que leva ao desenrolar da história. São duas horas que passam rápido e que nos fazem querer "viver" no filme por muito mais tempo e isso é sempre um enorme ponto positivo em uma obra cinematográfica.