"mother!" definitivamente não é um filme para qualquer pessoa, é controverso e divide opiniões. Pra mim, o Aronofsky é um dos melhores cineastas atualmente (a gente só tenta esquecer "Noé") e é sempre bom poder ver uma obra nova dele, que tem diferencial, é provocativa e nunca parece como mais um filme que a gente já viu antes, apesar de "mother!" possuir semelhanças com obras suas, como "Réquiem para um sonho" e "Cisne Negro".
É impossível sair da sessão de "mother!" alheio ao filme, que é tenso do início ao fim, com sua megalomania e várias situações surrealistas, que nos deixam angustiados, sendo difícil classificá-lo como filme de terror (há alguns pequenos sustos), podendo ser mais enquadrado como um drama psicológico de tensão que dá margem a inúmeras interpretações, que vão
de mostrar uma relação um tanto quanto abusiva em que a mãe ama Ele muito mais do que o oposto, até o processo criativo de um escritor e a paranoia humana. Mas o que mais faz sentido é a metáfora bíblia sobre a criação da humanidade e a degradação do planeta pelo homem em um ciclo que sempre se reinicia. Já tem algumas boas análises pela internet e uma das que mais gostei é a do Pablo Villaça.
Saí da sessão um pouco angustiado com o todo o cenário louco construído pelo Aronofsky e acredito que o que mais incomoda alguns é o fato de o filme
não possuir uma trama tão linear e deixar perguntas e interpretações em aberto, mas também a chocante passagem em que o bebê é morto por aquela multidão ensandecida e em seguida vemos cenas de canibalismo. Realmente é uma passagem bastante tensa que não deixa ninguém indiferente e ela foi necessária pra compôr todo o cenário de estranhamento e tensão do filme, que não possui o objetivo de ser polêmico sem sentido, mas de nos fazer imergir em todo aquele cenário de caos (o que acontece).
Por fim, toda a parte técnica do filme é impecável e ajudar a criar o clima de tensão minimalista e aquela casa também é espetacular e quase um personagem a mais. E claro, não tem como deixar de elogiar as ótimas atuações do Javier Bardem e da Jennifer Lawrence (provavelmente a melhor atuação da carreira dela) e também da Michelle Pfeiffer, que é ótimo ver fazendo bons filmes novamente. ___ Ps.: alguém conseguiu identificar o que representaria/significaria
"Quando as Luzes se Apagam" é um grande exemplo de um filme com uma boa premissa, mas que se perde pelo caminho. A ideia da Entidade que é a Diana aparecer apenas no escuro é muito boa e realmente assusta nos momentos iniciais. Porém, o "jump scare" é utilizado excessivamente e chega um ponto em que ele é completamente previsível, além de o próprio filme se autosabotar com a Diana aparecendo quando tinha alguma luz. Eu achei legal a objetividade do filme, que é curto e não demora a se desenvolver e mostrar cenas dinâmicas, mas isso de certa forma atrapalha um pouco o desenvolvimento da história, que tem um final muito apressado. Eu gostaria de ter
descoberto um pouco mais do passado da Diana e, principalmente, saber como ela matou o pai da Becca (isso só é comentado de forma rápida), além de ver melhor tudo o que tinha naquele porão e no cômodo perto do quarto do Martin, que em duas cenas é pontuado como um lugar misterioso, mas nunca é explorado.
As comédias românticas da Nancy Meyers são das minhas preferidas. Leves, engraçadas, descompromissadas e com a presença de grandes atores - aqui temos os ótimos Meryl Streep, Alec Baldwin e Steve Martin. As reviravoltas na relação de Jane e Jake são ótimas, os personagens carismáticos e as cenas do pós-maconha são hilárias. O tipo de filme leve pra se assistir quando se quer distrair.
Só vim saber da existência de "Dolores Claiborne" a pouco tempo e, de cara, a sinopse, as participações de Kathy Bates e Jennifer Jason Leigh e a inspiração em uma obra do Stephen King me despertaram atenção. Esse é daquelas fortes dramas de várias nuances, em que vamos aos poucos sendo apresentados aos conflitos das personagens para descobrirmos porque a relação mãe-filha terminou tão abalada no presente. A revelação do
suicídio de Vera de certa forma surpreendeu, assim como a forma em que Dolores planejou de forma magnífica a morte do marido canalha, que é mostrada de uma forma muito interessante ao mesmo tempo em que ocorre o eclipse.
Ao final, não tem como não se emocionar com a reaproximação dessas duas fortes mulheres e se angustiar por tudo o que elas passaram. Aliás, esse é um filme de mulheres fortes,
contando com as duas protagonistas e com a interessante Vera, que começa como uma mulher poderosa e vai definhando em meio à velhice e nos faz entender suas motivações.
Realmente uma grande obra dos anos 90 que precisa ser mais conhecida.
"It" é o tipo de filme que dá gosto de ver no cinema. Muito mais do que o elemento terror, há a história de aventura com cara de anos 80 que nos lembra "Conta Comigo", "Goonies" e "Stranger Things" (que claro, bebeu direto na fonte do Stephen King). Por mais que a obra tenha mais de 2h30min de duração, é dinâmica e prende o telespectador do início ao fim. E claro,o Pennywise do Bill Skarsgård tá espetacular e é um dos grandes destaques do filme. Já aguardo ansiosamente o capítulo 2.
Essa versão clássica de "It" é uma obra em que você praticamente só lembra do Pennywise e precisa rever. Eu, particularmente, esperava algo totalmente desinteressante, mas de certa me surpreendi positivamente. É evidente que houve uma grande dificuldade em adaptar o livro e em vários momentos isso é visível, com várias cenas "coladas" sem muita fluidez pra conseguir mostrar passagens importantes, o que é um problema normal ao se adaptar um livro de mais de 1000 páginas, mesmo que em uma telefilme para a TV. Mas eu gostei muito do arco das crianças, que possui todo aquele clima nostálgico do final dos anos 80 e início dos anos 90 e essa é de longe a parte mais interessante do filme. Porém, a segunda metade cai drásticamente, os atores são medíocres, o tom cômico é exagerado, o final é trash demais e as resoluções são muito apressadas. E claro, o mais positivo é o Pennywise do Tim Curry, que é realmente assustador e cômico ao mesmo tempo.
"Camp X-Ray" me surpreendeu positivamente pela trama não ser patriótica e mostrar os dois lados da guerra, mesmo que em um recorte muito limitado, mas pontuando que apesar de todas as diferenças, os detidos supostamente tidos como terroristas devem ser tratados com humanidade. E por mais que não ache a Kristen Stewart das melhores atrizes, é notável que ela vem evoluindo bastante depois dos filmes medíocres da saga "Crepúsculo" e nos traz uma atuação competente, com a sensibilidade necessária ao papel.
"Corpo Elétrico" é um filme episódico, que não possui a pretensão de fazer grandes críticas sociais, reflexões, dar lições de moral ou mostrar o protagonista encontrando seu grande amor e passando a ver sentido na vida. Basicamente vemos um recorte sobre o cotidiano do Elias, que possui uma rotina de trabalho massante, conhece pessoas e explora sua sexualidade. Talvez o roteiro pudesse nos trazer alguns conflitos, mas o objetivo é justamente não ter um grande objetivo e se deixar levar pelas cenas mostradas, os personagens carismáticos e a grande vontade de também ser amigo do Elias. Ao final,
que termina de forma inesperada, ficamos com vontade de ver mais um pouco da vida do Elias, como ele ia explicar sua falta no trabalho e acompanhar um pouco mais de suas aventuras sexuais.
"A Qualquer Custo" é o tipo de filme que pode não lhe chamar a atenção pela sinopse ou pôster, mas em pouco tempo assistindo, você percebe que se trata de uma obra acima da média. Há a fusão de elementos western e policial, mas o que se destaca são os dramas dos personagens, a crítica social e a subversão dos elementos "herói x vilão". Podemos dizer
que o maior "vilão" sejam os bancos e isso é acentuado logo no início, com a pichação sobre as hipotecas, que deixam as pessoas em dívidas eternas. Assim, os "bandidos" são "vítimas" das circunstâncias (diria isso mais do Toby, já que o Tanner é apresentado como alguém que "não tem mais jeito"), o que inclusive nos faz refletir se os fins justificam os meios.
O trabalho de atuação de Jeff Bridges, Ben Foster e Chris Pine (que me surpreendeu, pois ainda não tinha visto ele interpretando um personagem mais complexo) é ótimo e, claro, a direção do David Mackenzie merece elogios, assim como a fotografia, que ressalta cenários magníficos.
"Corpo Fechado" consegue, de forma eficiente, reunir os gêneros drama, ficção e super-herói, com o M. Night Shyamalan em uma boa fase da carreira. Realmente a obra tem um grande problema de ritmo, demorando um pouco pra engrenar e perdendo um pouco a nossa atenção, mas o trabalho de direção é bastante competente e achei muito interessante a movimentação de câmera em várias cenas. É interessante ver a perspectiva de um
"herói em formação" como alguém normal, que tem família, é psicologicamente perturbado, não sabe que tem "poderes" e vai se descobrindo de forma gradual, o que é uma abordagem completamente diferente de filmes de origem de super-heróis,
coisa que não era o foco aqui e que, por isso, tem seu destaque.
Como adaptação "Anjos e Demônios" é relativamente bem sucedido. O problema é justamente em querer mostrar muita coisa do livro (que são passagens importantes) e ele ser "corrido" demais, não permitindo que o telespectador participe melhor do processo de suspense nas descobertas dos mistérios. Mas de qualquer forma, é um filme que cumpre seu papel de entretenimento.
"Fragmentado" é um suspense que não decepciona. Toda a construção da trama é envolvente e tem a habilidade de causar tensão e instigar o telespectador, principalmente se você não leu nenhuma sinopse e não sabe que o(s) seu(s) protagonista(s) sofre(m) de Transtorno Dissociativo de Identidade. Shyamalan é muito competente no manuseio da câmera, principalmente por ela ser perfeita naquele ambiente claustrofóbico e todas as atuações são competentes,mas não tem como não destacar o trabalho magnífico do James McAvoy, pois não deve ser nada fácil pra um ator intercalar personagens diferentes em um mesmo filme e, em determinados momentos, até na mesma cena, tendo a proeza de acentuar a diferença entre eles muito além do figurino, mas na postura, entonação de voz e olhares.
Por mais que alguns se incomodem com a abordagem do Transtorno Dissociativo de Identidade ser irreal, é bom destacar que se trata de uma obra cinematográfica que não tem compromisso integral com a realidade, então é normal usar um elemento real em uma ficção e distorcer para o que o roteiro pede. O que pode incomodar um pouco mais é
a 24ª Identidade, A Besta, que é a reviravolta do filme, mas que de forma alguma me incomodou, principalmente se você se deixar levar pela ideia de que cada identidade possui características próprias, como uma delas ser diabética, o meio em que Kevin estava (um zoológico) e todos os seus transtornos de personalidade ajudarem a criar essa nova Identidade.
Gostaria de ter visto um pouco mais duas abordagens: 1.
o desenvolvimento das outras 23 personalidades do Kevin, mas eu tenho consciência que isso deixaria o filme cansativo e possivelmente mais extenso; 2. e conhecer um pouco mais da infância e situações do passado que ajudaram a desenvolver outras identidades, como na vez em que sua mãe o repreende debaixo da cama. Me pareceu que o filme se preocupou demais em fazer essa abordagem pra enfatizar os traumas futuros de Casey, mas essa mesma abordagem também teria sido bem rica para o Kevin.
Enfim, termino "Fragmentado" com uma ótima impressão do filme e querendo conhecer melhor e rever a filmografia do Shyamalan, principalmente por não ter "sacado" a referência da cena final, por ainda não ter assistido a "Corpo Fechado" (erro que pretendo corrigir com urgência).
Adam Sandler é um ator medíocre e muitos dos filmes que nós gostamos estrelados por ele, são mais "Guilty pleasure" do que filmes relevantes com boa atuação por sua parte. Mas "Embriagado de Amor" consegue extrair uma boa atuação dele, muito pela direção competente do Paul Thomas Anderson, apesar de estar longe de ser uma de suas melhores obras. Assim, o filme subverte um pouco o gênero romance com todas as neuroses de seu protagonista e situações inusitadas que ele passa, sendo um trabalho que merece ser apreciado.
"Logan" foi uma grata surpresa, principalmente se levarmos em consideração os fracos filmes individuais de um dos personagens mais ricos do universo de "X-Men". Aqui temos um Wolverine arrasado pelo tempo e todos os acontecimentos em sua vida e o tom melancólico, dramático e de violência é intenso, abusando bem pouco de CGI em suas (ótimas) cenas de ação e se preocupando pouco em explicar todo aquele cenário de futuro decadente em que os personagens se encontram. Senso assim, "Logan" faz um ótimo trabalho de encerramento de um arco com o Hugh Jackman, que deu vida ao Wolverine ao ponto de não imaginarmos outro ator na pele do emblemático Mutante.
A minha iniciação ao Michelangelo Antonioni foi com um de seus filmes mais emblemáticos e que provavelmente vai decepcionar várias pessoas pelo seu ritmo e as que acham que se trata de uma obra investigativa e que dê respostas claras. Diferente disso, "Blow Up" é muito mais um estudo de personagem, desse fotógrafo, arrogante, insensível, grosseiro, obcecado por seu trabalho e que trata as pessoas com extrema indiferença, mas que passa por uma mudança ao fotografar o casal no parque e ficar neurótico com as imagens reveladas.
O mistério que o filme propõe (que não é seu foco) é dúbio e passível de várias interpretações.
O crime realmente existiu? O corpo foi retirado e as fotos roubadas do estúdio do fotógrafo? Aquela cena do casal sendo fotografado realmente existiu? O protagonista estava neurótico e sua percepção imaginou tudo aquilo? Essa última indagação me parece ser a traçada pelo filme. Thomas ficou tão paranoico com o episodio, principalmente depois de a moça lhe pedir os negativos (será que ela não estava com um amante e as fotos poderiam comprometer os dois?) que sua imaginação tomou os rumos de sua mente e no meio de arbustos ele visualizou um homem com uma arma e posteriormente um corpo no chão? Ao final dessa paranoia, Thomas parece ter despertado de toda a letargia em que se encontrava, conseguindo interagir com os mímicos (diferente do que acontece no início do filme) e passando a apreciar o que via com indiferença.Mas claro,o filme dá ampla possibilidade de interpretações.
Aliás, a cena final com os mímicos é uma das cenas mais belas que eu já assisti, aguçando nossa imaginação, despertando nossos sentidos e com um jogo de câmera espetacular. Preciso conhecer mais a obra do Antonioni agora!
"Florence Foster Jenkins" parecia um filme bobo, mas me conquistou facilmente, com todo o cenário de Nova York da década de 40 e a atuação sempre competente da Meryl Streep, que sabe dar vida a uma personagem de várias nuances como ninguém. Achei o tom cômico na medida certa, na maioria sendo necessário apenas a Florence cantar para conseguir nos tirar risadas, mas a obra trata com muito respeito essa mulher notável e seu marido devotado que tentava cercá-la de todas as formas dos comentários maldosos das pessoas. Ao final, por mais que o filme tenha um recorte de tempo delimitado, fiquei curioso para saber mais da vida da Florence, como foi sua infância, a relação com seu pai, como foi seu primeiro casamento que lhe deixou marcas pra vida toda e como ela conseguiu se blindar de todas as críticas à sua voz.
"Passageiros" é um grande exemplo de filme com ótimo premissa, mas com potencial desperdiçado por um roteiro problemático. A história de mostrar alguém sendo condenado a viver em total isolamento em uma viagem espacial que levará décadas é fascinante e os pouco mais de 20 minutos iniciais, apesar de um pouco extensos, são eficazes em mostrar o James explorando aquele lugar, tentando achar uma maneira de resolver seu problema e consequentemente entrando em paranoia. Mas o que seria a reviravolta da obra, com o personagem
acordando Aurora se torna um romance melodramático, machista e sexista, ao (tentar) nos fazer ter empatia por James e sua decisão desprezível e completamente antiética e que mesmo ao ser revelado que ele realmente foi o responsável por acordar Aurora, tenta se passar como herói, como alguém merecedor de pena e, assim, justificar seus atos. Mesmo com essa problemática, o filme poderia explorar melhor a paranoia da Aurora por viver isolada com alguém que a condenou a morte e solidão, mas a obra muda novamente de rumo com a nave entrando em colapso e os personagens virando pessoas invencíveis.
Outro ponto extremamente problemático é a falta de plausibilidade das cenas finais. É muito razoável as explicações (futuristas) da nave e toda a viagem de 120 anos que ela precisa fazer para chegar ao seu destino. Mas não é plausível o James sobreviver a uma descarga radioativa segurando uma porta de escudo térmico, muito menos ficar sem oxigênio fora da nave enquanto Aurora percorre a mesma, veste a roupa espacial, salta para pegá-lo, carrega até a cabine de tratamento (o que não deve ser fácil, levando em consideração que ele é mais pesado) e o "ressuscita"; pela obra, parece que tudo isso levou apenas 3 minutos, mas por coerência, não levaria menos de 30 minutos. E o final ainda nos faz engolir um "happy ending" forçado, depois de todas essas desventuras pra se salvar a pessoa amada ("se você morrer, eu morro" tenta forçar o diálogo clássico de "Titanic").
No final, o filme deve ser encarado como mero entretenimento, mas todas essas situações me deixaram incomodado com tanto potencial desperdiçado, inclusive com a química dos protagonistas, que são atores extremamente carismáticos.
Apesar da problemática da adaptação da peça de teatro, que aparenta nos mostrar um "filme teatralizado" desenvolvido em poucos ambientes, "Fences" impressiona pela dupla de protagonistas excelentes, diálogos afiados e reflexões sobre o nosso reflexo na vida de nossos filhos e as decepções da vida. Por ser um filme basicamente dialogado e sem cenas de ação, poderia facilmente se tornar massante, o que não acontece justamente pelo carisma e dedicação do Denzel e da Viola, mesmo que tenhamos bons personagens secundários, apesar de pouco desenvolvidos.
De modo geral, "O Filme da Minha Vida" é uma obra contemplativa (o que é realçado pela fotografia maravilhosa), imerso em algumas reflexões e alguns alívios cômicos. Fiquei bastante satisfeito com o trabalho de direção do Selton Mello, com a bela trilha sonora e com os personagens cativantes, mas o filme possui alguns pontos fracos no roteiro, que, apesar de conseguir apresentar bem os personagens, não desenvolve bem alguns, que poderiam ser muito melhor explorados, como é o caso da Petra e da mãe de Tony. Também "O Filme da Minha Vida" apesar de ter vários boas tramas e duas boas revelações ao decorrer da trama, não consegue amarrar bem todas as informações e o final não fica muito coeso e nos deixa com algumas dúvidas, sem contar questionamentos que poderiam ser explorados ao decorrer do filme, como os que envolvem a ótima personagem que é a Petra. Apesar dos poréns, a obra enriquece o cinema nacional e merece ser prestigiada.
Por mais que "Estrelas Além do Tempo" tenha uma certa dose de artificialidade e algumas cenas e diálogos piegas que não parecem espontâneos, a obra coloca em xeque um tema sempre importante a ser debatido, que é o racismo, que se hoje ainda é bastante presente, nos EUA da década de 60 era muito mais, afora uma área de trabalho completamente machista, dominada por homens brancos. Eu realmente não sabia da existência dessas mulheres e da importância de seus trabalhos pra NASA e pra conscientização das pessoas e o filme também foi bastante útil para conhecê-las. O trio de protagonistas consegue nos cativar e prender durante as duas horas de filme e toda a contextualização de época é muito bem desenvolvida.
"Lion" pode ser facilmente dividido em duas partes: a primeira e que possui muito mais força, mostra como o pequeno Saroo se perdeu e nos deixa angustiados com tudo o que essa criança de apenas 5 anos passou, em meio a pessoas as quais ele nem conseguia entender, por falarem uma língua diferente da sua. Essa primeira metade traz um enorme realismo e nos cativa pela expressividade do pequeno Sunny Pawar, que é o maior destaque do filme e possui um olhar bastante expressivo.
Já na segunda metade, temos Saroo sendo adotado, os anos passando e ele ainda possuindo um enorme bloqueio em seguir em frente por causa desse trauma. Aqui já temos alguns problemas de ritmo, alguns momentos um pouco entediantes e por mais que a atuação do Dev Patel seja competente, ele não parece conseguir nos transmitir toda essa confusão que se passa em sua mente (mesmo a gente conseguindo entendê-la completamente). Essa segunda parte, passa a retomar o fôlego do filme próximo ao final, principalmente com a cena de conversa entre Saroo e sua mãe adotiva, que tem um diálogo formidável sobre adoção e mostra uma ótima atuação da Nicole Kidman, que tá muito bem em todas as suas cenas. Já os momentos finais, são pura catarse e se você não se emocionar, provável ter algum problema.
Em resumo, por mais que "Lion" possua alguns problemas de ritmo entre suas duas principais partes, é uma obra densa, bem desenvolvida, com boas atuações e que consegue nos dar boas lições e fazer refletir.
"Baby Driver" é um dos filmes de ação mais interessantes desse ano e se destaca em meio ao que tem sido lançado, principalmente pela competência do Edgar Wright, que faz um filme que possui uma grande fluidez e constrói uma trama onde a trilha sonora é a protagonista e dita o ritmo da ação, tendo uma sincronia fantástica com tudo o que acontece em cena.
Além da trilha sonora ótima, o trabalho de edição é competente, o humor está no tom certo, os personagens são cativantes, há pouca previsibilidade e o vilão quase indestrutível é também um ponto forte. Saí da sessão já querendo rever e prestar atenção em alguns detalhes que devem ter passado despercebidos em decorrência do ritmo frenético da obra.
O grande mérito de "Mulher-Maravilha" é mostrar ao mundo que uma heroína pode sim ser um grande sucesso comercial, sem precisar sexualizar a personagem e provavelmente a escolha da Patty Jenkins como diretora tenha sido fundamental nesse sentido. O filme em si não sai muito de sua zona de conforto de uma história de origem de super-herói, mas todo o arco de Diana na ilha Temiscira e a contextualização na 2ª Guerra Mundial são bastante interessantes, além das sutis críticas sociais quanto à desigualdade de gênero, que era bem gritante na época em que o filme se passa. Sai da sessão com uma boa impressão da obra e de que dessa vez a DC acertou a mão, mas também com aquela impressão de que o filme poderia ter rendido muito mais, principalmente sem aquele final de enfrentamento megalomaníaco com um CGI que deixou o filme parecendo um jogo de video game. Espero que os estúdios finalmente percebam que super-heroínas podem render bons filmes e fico na expectativa de uma sequência.
Laerte é uma figura emblemática. Antes de qualquer coisa, como cartunista é uma das mais brilhantes profissionais dese Brasil, unindo arte com crítica social de maneira única. Quanto ao documentário, é importante esclarecer que não se trata da biografia de vida de um artista, que se preocupa em fazer um apanhado de toda sua vida. "Larte-se" possui um recorte bem específico sobre sua identidade transgênero e suas reflexões do que é ser mulher.
Falando do documentário em si, apesar de ótimas reflexões da Larte e de podermos acompanhar momentos bastante íntimos, eu terminei a obra com a impressão de que ela poderia ter rendido muito mais e muito mais de Larte poderia ser explorado e isso se dá, ao meu ver, a uma direção ou edição inexperientes, que não delimitaram assuntos para serem tratados de forma mais coesa e que ainda nos deixou curiosos sobre diversos aspectos de uma pessoa que decide assumir sua transsexualidade já madura e faz uma série de questionamentos a si mesma sobre identidade de gênero, transfobia, seus privilégios e seu trabalho artístico.
De minha parte, gostaria de ter visto Larte ter falado mais sobre como foi o período de transição e no que isso tem refletido em seu trabalho artístico. De qualquer forma, é um documentário que deve ser assistido e coloca em xeque o debate sobre identidade de gênero e transsexualidade, assuntos cercados de vários preconceitos. ___ Ps.: Ainda me assustam alguns comentários transfobicos colocados como se fossem "opiniões". Opinião é você preferir sorvete ao invés de picolé, não impôr suas crenças/dogmas aos outros e desrespeitá-los porque fogem da lógica pré-estabelecida na sua mente. A humanidade ainda precisa evoluir bastante.
Mãe!
4.0 3,9K Assista Agora"mother!" definitivamente não é um filme para qualquer pessoa, é controverso e divide opiniões. Pra mim, o Aronofsky é um dos melhores cineastas atualmente (a gente só tenta esquecer "Noé") e é sempre bom poder ver uma obra nova dele, que tem diferencial, é provocativa e nunca parece como mais um filme que a gente já viu antes, apesar de "mother!" possuir semelhanças com obras suas, como "Réquiem para um sonho" e "Cisne Negro".
É impossível sair da sessão de "mother!" alheio ao filme, que é tenso do início ao fim, com sua megalomania e várias situações surrealistas, que nos deixam angustiados, sendo difícil classificá-lo como filme de terror (há alguns pequenos sustos), podendo ser mais enquadrado como um drama psicológico de tensão que dá margem a inúmeras interpretações, que vão
de mostrar uma relação um tanto quanto abusiva em que a mãe ama Ele muito mais do que o oposto, até o processo criativo de um escritor e a paranoia humana. Mas o que mais faz sentido é a metáfora bíblia sobre a criação da humanidade e a degradação do planeta pelo homem em um ciclo que sempre se reinicia. Já tem algumas boas análises pela internet e uma das que mais gostei é a do Pablo Villaça.
Saí da sessão um pouco angustiado com o todo o cenário louco construído pelo Aronofsky e acredito que o que mais incomoda alguns é o fato de o filme
não possuir uma trama tão linear e deixar perguntas e interpretações em aberto, mas também a chocante passagem em que o bebê é morto por aquela multidão ensandecida e em seguida vemos cenas de canibalismo. Realmente é uma passagem bastante tensa que não deixa ninguém indiferente e ela foi necessária pra compôr todo o cenário de estranhamento e tensão do filme, que não possui o objetivo de ser polêmico sem sentido, mas de nos fazer imergir em todo aquele cenário de caos (o que acontece).
Por fim, toda a parte técnica do filme é impecável e ajudar a criar o clima de tensão minimalista e aquela casa também é espetacular e quase um personagem a mais. E claro, não tem como deixar de elogiar as ótimas atuações do Javier Bardem e da Jennifer Lawrence (provavelmente a melhor atuação da carreira dela) e também da Michelle Pfeiffer, que é ótimo ver fazendo bons filmes novamente.
___
Ps.: alguém conseguiu identificar o que representaria/significaria
o sangue e buraco no piso, o remédio que a mãe toma quando está tonta e a porta no porão?
Quando as Luzes se Apagam
3.1 1,1K Assista Agora"Quando as Luzes se Apagam" é um grande exemplo de um filme com uma boa premissa, mas que se perde pelo caminho. A ideia da Entidade que é a Diana aparecer apenas no escuro é muito boa e realmente assusta nos momentos iniciais. Porém, o "jump scare" é utilizado excessivamente e chega um ponto em que ele é completamente previsível, além de o próprio filme se autosabotar com a Diana aparecendo quando tinha alguma luz.
Eu achei legal a objetividade do filme, que é curto e não demora a se desenvolver e mostrar cenas dinâmicas, mas isso de certa forma atrapalha um pouco o desenvolvimento da história, que tem um final muito apressado. Eu gostaria de ter
descoberto um pouco mais do passado da Diana e, principalmente, saber como ela matou o pai da Becca (isso só é comentado de forma rápida), além de ver melhor tudo o que tinha naquele porão e no cômodo perto do quarto do Martin, que em duas cenas é pontuado como um lugar misterioso, mas nunca é explorado.
Simplesmente Complicado
3.5 919 Assista AgoraAs comédias românticas da Nancy Meyers são das minhas preferidas. Leves, engraçadas, descompromissadas e com a presença de grandes atores - aqui temos os ótimos Meryl Streep, Alec Baldwin e Steve Martin. As reviravoltas na relação de Jane e Jake são ótimas, os personagens carismáticos e as cenas do pós-maconha são hilárias.
O tipo de filme leve pra se assistir quando se quer distrair.
Eclipse Total
4.0 183 Assista AgoraSó vim saber da existência de "Dolores Claiborne" a pouco tempo e, de cara, a sinopse, as participações de Kathy Bates e Jennifer Jason Leigh e a inspiração em uma obra do Stephen King me despertaram atenção. Esse é daquelas fortes dramas de várias nuances, em que vamos aos poucos sendo apresentados aos conflitos das personagens para descobrirmos porque a relação mãe-filha terminou tão abalada no presente.
A revelação do
suicídio de Vera de certa forma surpreendeu, assim como a forma em que Dolores planejou de forma magnífica a morte do marido canalha, que é mostrada de uma forma muito interessante ao mesmo tempo em que ocorre o eclipse.
Ao final, não tem como não se emocionar com a reaproximação dessas duas fortes mulheres e se angustiar por tudo o que elas passaram. Aliás, esse é um filme de mulheres fortes,
contando com as duas protagonistas e com a interessante Vera, que começa como uma mulher poderosa e vai definhando em meio à velhice e nos faz entender suas motivações.
Realmente uma grande obra dos anos 90 que precisa ser mais conhecida.
It: A Coisa
3.9 3,0K Assista Agora"It" é o tipo de filme que dá gosto de ver no cinema. Muito mais do que o elemento terror, há a história de aventura com cara de anos 80 que nos lembra "Conta Comigo", "Goonies" e "Stranger Things" (que claro, bebeu direto na fonte do Stephen King). Por mais que a obra tenha mais de 2h30min de duração, é dinâmica e prende o telespectador do início ao fim.
E claro,o Pennywise do Bill Skarsgård tá espetacular e é um dos grandes destaques do filme.
Já aguardo ansiosamente o capítulo 2.
It: Uma Obra Prima do Medo
3.5 1,3KEssa versão clássica de "It" é uma obra em que você praticamente só lembra do Pennywise e precisa rever. Eu, particularmente, esperava algo totalmente desinteressante, mas de certa me surpreendi positivamente. É evidente que houve uma grande dificuldade em adaptar o livro e em vários momentos isso é visível, com várias cenas "coladas" sem muita fluidez pra conseguir mostrar passagens importantes, o que é um problema normal ao se adaptar um livro de mais de 1000 páginas, mesmo que em uma telefilme para a TV.
Mas eu gostei muito do arco das crianças, que possui todo aquele clima nostálgico do final dos anos 80 e início dos anos 90 e essa é de longe a parte mais interessante do filme. Porém, a segunda metade cai drásticamente, os atores são medíocres, o tom cômico é exagerado, o final é trash demais e as resoluções são muito apressadas.
E claro, o mais positivo é o Pennywise do Tim Curry, que é realmente assustador e cômico ao mesmo tempo.
Marcados Pela Guerra
3.6 423 Assista Agora"Camp X-Ray" me surpreendeu positivamente pela trama não ser patriótica e mostrar os dois lados da guerra, mesmo que em um recorte muito limitado, mas pontuando que apesar de todas as diferenças, os detidos supostamente tidos como terroristas devem ser tratados com humanidade. E por mais que não ache a Kristen Stewart das melhores atrizes, é notável que ela vem evoluindo bastante depois dos filmes medíocres da saga "Crepúsculo" e nos traz uma atuação competente, com a sensibilidade necessária ao papel.
Corpo Elétrico
3.5 216"Corpo Elétrico" é um filme episódico, que não possui a pretensão de fazer grandes críticas sociais, reflexões, dar lições de moral ou mostrar o protagonista encontrando seu grande amor e passando a ver sentido na vida. Basicamente vemos um recorte sobre o cotidiano do Elias, que possui uma rotina de trabalho massante, conhece pessoas e explora sua sexualidade. Talvez o roteiro pudesse nos trazer alguns conflitos, mas o objetivo é justamente não ter um grande objetivo e se deixar levar pelas cenas mostradas, os personagens carismáticos e a grande vontade de também ser amigo do Elias.
Ao final,
que termina de forma inesperada, ficamos com vontade de ver mais um pouco da vida do Elias, como ele ia explicar sua falta no trabalho e acompanhar um pouco mais de suas aventuras sexuais.
A Qualquer Custo
3.8 803 Assista Agora"A Qualquer Custo" é o tipo de filme que pode não lhe chamar a atenção pela sinopse ou pôster, mas em pouco tempo assistindo, você percebe que se trata de uma obra acima da média. Há a fusão de elementos western e policial, mas o que se destaca são os dramas dos personagens, a crítica social e a subversão dos elementos "herói x vilão". Podemos dizer
que o maior "vilão" sejam os bancos e isso é acentuado logo no início, com a pichação sobre as hipotecas, que deixam as pessoas em dívidas eternas. Assim, os "bandidos" são "vítimas" das circunstâncias (diria isso mais do Toby, já que o Tanner é apresentado como alguém que "não tem mais jeito"), o que inclusive nos faz refletir se os fins justificam os meios.
O trabalho de atuação de Jeff Bridges, Ben Foster e Chris Pine (que me surpreendeu, pois ainda não tinha visto ele interpretando um personagem mais complexo) é ótimo e, claro, a direção do David Mackenzie merece elogios, assim como a fotografia, que ressalta cenários magníficos.
Corpo Fechado
3.7 1,3K Assista Agora"Corpo Fechado" consegue, de forma eficiente, reunir os gêneros drama, ficção e super-herói, com o M. Night Shyamalan em uma boa fase da carreira. Realmente a obra tem um grande problema de ritmo, demorando um pouco pra engrenar e perdendo um pouco a nossa atenção, mas o trabalho de direção é bastante competente e achei muito interessante a movimentação de câmera em várias cenas.
É interessante ver a perspectiva de um
"herói em formação" como alguém normal, que tem família, é psicologicamente perturbado, não sabe que tem "poderes" e vai se descobrindo de forma gradual, o que é uma abordagem completamente diferente de filmes de origem de super-heróis,
Anjos e Demônios
3.5 1,6K Assista AgoraComo adaptação "Anjos e Demônios" é relativamente bem sucedido. O problema é justamente em querer mostrar muita coisa do livro (que são passagens importantes) e ele ser "corrido" demais, não permitindo que o telespectador participe melhor do processo de suspense nas descobertas dos mistérios. Mas de qualquer forma, é um filme que cumpre seu papel de entretenimento.
Fragmentado
3.9 3,0K Assista Agora"Fragmentado" é um suspense que não decepciona. Toda a construção da trama é envolvente e tem a habilidade de causar tensão e instigar o telespectador, principalmente se você não leu nenhuma sinopse e não sabe que o(s) seu(s) protagonista(s) sofre(m) de Transtorno Dissociativo de Identidade. Shyamalan é muito competente no manuseio da câmera, principalmente por ela ser perfeita naquele ambiente claustrofóbico e todas as atuações são competentes,mas não tem como não destacar o trabalho magnífico do James McAvoy, pois não deve ser nada fácil pra um ator intercalar personagens diferentes em um mesmo filme e, em determinados momentos, até na mesma cena, tendo a proeza de acentuar a diferença entre eles muito além do figurino, mas na postura, entonação de voz e olhares.
Por mais que alguns se incomodem com a abordagem do Transtorno Dissociativo de Identidade ser irreal, é bom destacar que se trata de uma obra cinematográfica que não tem compromisso integral com a realidade, então é normal usar um elemento real em uma ficção e distorcer para o que o roteiro pede. O que pode incomodar um pouco mais é
a 24ª Identidade, A Besta, que é a reviravolta do filme, mas que de forma alguma me incomodou, principalmente se você se deixar levar pela ideia de que cada identidade possui características próprias, como uma delas ser diabética, o meio em que Kevin estava (um zoológico) e todos os seus transtornos de personalidade ajudarem a criar essa nova Identidade.
Gostaria de ter visto um pouco mais duas abordagens: 1.
o desenvolvimento das outras 23 personalidades do Kevin, mas eu tenho consciência que isso deixaria o filme cansativo e possivelmente mais extenso; 2. e conhecer um pouco mais da infância e situações do passado que ajudaram a desenvolver outras identidades, como na vez em que sua mãe o repreende debaixo da cama. Me pareceu que o filme se preocupou demais em fazer essa abordagem pra enfatizar os traumas futuros de Casey, mas essa mesma abordagem também teria sido bem rica para o Kevin.
Enfim, termino "Fragmentado" com uma ótima impressão do filme e querendo conhecer melhor e rever a filmografia do Shyamalan, principalmente por não ter "sacado" a referência da cena final, por ainda não ter assistido a "Corpo Fechado" (erro que pretendo corrigir com urgência).
Embriagado de Amor
3.6 479 Assista AgoraAdam Sandler é um ator medíocre e muitos dos filmes que nós gostamos estrelados por ele, são mais "Guilty pleasure" do que filmes relevantes com boa atuação por sua parte. Mas "Embriagado de Amor" consegue extrair uma boa atuação dele, muito pela direção competente do Paul Thomas Anderson, apesar de estar longe de ser uma de suas melhores obras. Assim, o filme subverte um pouco o gênero romance com todas as neuroses de seu protagonista e situações inusitadas que ele passa, sendo um trabalho que merece ser apreciado.
Logan
4.3 2,6K Assista Agora"Logan" foi uma grata surpresa, principalmente se levarmos em consideração os fracos filmes individuais de um dos personagens mais ricos do universo de "X-Men". Aqui temos um Wolverine arrasado pelo tempo e todos os acontecimentos em sua vida e o tom melancólico, dramático e de violência é intenso, abusando bem pouco de CGI em suas (ótimas) cenas de ação e se preocupando pouco em explicar todo aquele cenário de futuro decadente em que os personagens se encontram. Senso assim, "Logan" faz um ótimo trabalho de encerramento de um arco com o Hugh Jackman, que deu vida ao Wolverine ao ponto de não imaginarmos outro ator na pele do emblemático Mutante.
Blow-Up: Depois Daquele Beijo
3.9 370 Assista AgoraA minha iniciação ao Michelangelo Antonioni foi com um de seus filmes mais emblemáticos e que provavelmente vai decepcionar várias pessoas pelo seu ritmo e as que acham que se trata de uma obra investigativa e que dê respostas claras. Diferente disso, "Blow Up" é muito mais um estudo de personagem, desse fotógrafo, arrogante, insensível, grosseiro, obcecado por seu trabalho e que trata as pessoas com extrema indiferença, mas que passa por uma mudança ao fotografar o casal no parque e ficar neurótico com as imagens reveladas.
O mistério que o filme propõe (que não é seu foco) é dúbio e passível de várias interpretações.
O crime realmente existiu? O corpo foi retirado e as fotos roubadas do estúdio do fotógrafo? Aquela cena do casal sendo fotografado realmente existiu? O protagonista estava neurótico e sua percepção imaginou tudo aquilo?
Essa última indagação me parece ser a traçada pelo filme. Thomas ficou tão paranoico com o episodio, principalmente depois de a moça lhe pedir os negativos (será que ela não estava com um amante e as fotos poderiam comprometer os dois?) que sua imaginação tomou os rumos de sua mente e no meio de arbustos ele visualizou um homem com uma arma e posteriormente um corpo no chão?
Ao final dessa paranoia, Thomas parece ter despertado de toda a letargia em que se encontrava, conseguindo interagir com os mímicos (diferente do que acontece no início do filme) e passando a apreciar o que via com indiferença.Mas claro,o filme dá ampla possibilidade de interpretações.
Aliás, a cena final com os mímicos é uma das cenas mais belas que eu já assisti, aguçando nossa imaginação, despertando nossos sentidos e com um jogo de câmera espetacular.
Preciso conhecer mais a obra do Antonioni agora!
Florence: Quem é Essa Mulher?
3.5 351 Assista Agora"Florence Foster Jenkins" parecia um filme bobo, mas me conquistou facilmente, com todo o cenário de Nova York da década de 40 e a atuação sempre competente da Meryl Streep, que sabe dar vida a uma personagem de várias nuances como ninguém. Achei o tom cômico na medida certa, na maioria sendo necessário apenas a Florence cantar para conseguir nos tirar risadas, mas a obra trata com muito respeito essa mulher notável e seu marido devotado que tentava cercá-la de todas as formas dos comentários maldosos das pessoas.
Ao final, por mais que o filme tenha um recorte de tempo delimitado, fiquei curioso para saber mais da vida da Florence, como foi sua infância, a relação com seu pai, como foi seu primeiro casamento que lhe deixou marcas pra vida toda e como ela conseguiu se blindar de todas as críticas à sua voz.
Passageiros
3.3 1,5K Assista Agora"Passageiros" é um grande exemplo de filme com ótimo premissa, mas com potencial desperdiçado por um roteiro problemático. A história de mostrar alguém sendo condenado a viver em total isolamento em uma viagem espacial que levará décadas é fascinante e os pouco mais de 20 minutos iniciais, apesar de um pouco extensos, são eficazes em mostrar o James explorando aquele lugar, tentando achar uma maneira de resolver seu problema e consequentemente entrando em paranoia. Mas o que seria a reviravolta da obra, com o personagem
acordando Aurora se torna um romance melodramático, machista e sexista, ao (tentar) nos fazer ter empatia por James e sua decisão desprezível e completamente antiética e que mesmo ao ser revelado que ele realmente foi o responsável por acordar Aurora, tenta se passar como herói, como alguém merecedor de pena e, assim, justificar seus atos.
Mesmo com essa problemática, o filme poderia explorar melhor a paranoia da Aurora por viver isolada com alguém que a condenou a morte e solidão, mas a obra muda novamente de rumo com a nave entrando em colapso e os personagens virando pessoas invencíveis.
Outro ponto extremamente problemático é a falta de plausibilidade das cenas finais. É muito razoável as explicações (futuristas) da nave e toda a viagem de 120 anos que ela precisa fazer para chegar ao seu destino. Mas não é plausível o James sobreviver a uma descarga radioativa segurando uma porta de escudo térmico, muito menos ficar sem oxigênio fora da nave enquanto Aurora percorre a mesma, veste a roupa espacial, salta para pegá-lo, carrega até a cabine de tratamento (o que não deve ser fácil, levando em consideração que ele é mais pesado) e o "ressuscita"; pela obra, parece que tudo isso levou apenas 3 minutos, mas por coerência, não levaria menos de 30 minutos. E o final ainda nos faz engolir um "happy ending" forçado, depois de todas essas desventuras pra se salvar a pessoa amada ("se você morrer, eu morro" tenta forçar o diálogo clássico de "Titanic").
No final, o filme deve ser encarado como mero entretenimento, mas todas essas situações me deixaram incomodado com tanto potencial desperdiçado, inclusive com a química dos protagonistas, que são atores extremamente carismáticos.
Um Limite Entre Nós
3.8 1,1K Assista AgoraApesar da problemática da adaptação da peça de teatro, que aparenta nos mostrar um "filme teatralizado" desenvolvido em poucos ambientes, "Fences" impressiona pela dupla de protagonistas excelentes, diálogos afiados e reflexões sobre o nosso reflexo na vida de nossos filhos e as decepções da vida. Por ser um filme basicamente dialogado e sem cenas de ação, poderia facilmente se tornar massante, o que não acontece justamente pelo carisma e dedicação do Denzel e da Viola, mesmo que tenhamos bons personagens secundários, apesar de pouco desenvolvidos.
O Filme da Minha Vida
3.6 500 Assista AgoraDe modo geral, "O Filme da Minha Vida" é uma obra contemplativa (o que é realçado pela fotografia maravilhosa), imerso em algumas reflexões e alguns alívios cômicos. Fiquei bastante satisfeito com o trabalho de direção do Selton Mello, com a bela trilha sonora e com os personagens cativantes, mas o filme possui alguns pontos fracos no roteiro, que, apesar de conseguir apresentar bem os personagens, não desenvolve bem alguns, que poderiam ser muito melhor explorados, como é o caso da Petra e da mãe de Tony. Também "O Filme da Minha Vida" apesar de ter vários boas tramas e duas boas revelações ao decorrer da trama, não consegue amarrar bem todas as informações e o final não fica muito coeso e nos deixa com algumas dúvidas, sem contar questionamentos que poderiam ser explorados ao decorrer do filme, como os que envolvem a ótima personagem que é a Petra.
Apesar dos poréns, a obra enriquece o cinema nacional e merece ser prestigiada.
Estrelas Além do Tempo
4.3 1,5K Assista AgoraPor mais que "Estrelas Além do Tempo" tenha uma certa dose de artificialidade e algumas cenas e diálogos piegas que não parecem espontâneos, a obra coloca em xeque um tema sempre importante a ser debatido, que é o racismo, que se hoje ainda é bastante presente, nos EUA da década de 60 era muito mais, afora uma área de trabalho completamente machista, dominada por homens brancos. Eu realmente não sabia da existência dessas mulheres e da importância de seus trabalhos pra NASA e pra conscientização das pessoas e o filme também foi bastante útil para conhecê-las.
O trio de protagonistas consegue nos cativar e prender durante as duas horas de filme e toda a contextualização de época é muito bem desenvolvida.
Lion: Uma Jornada para Casa
4.3 1,9K Assista Agora"Lion" pode ser facilmente dividido em duas partes: a primeira e que possui muito mais força, mostra como o pequeno Saroo se perdeu e nos deixa angustiados com tudo o que essa criança de apenas 5 anos passou, em meio a pessoas as quais ele nem conseguia entender, por falarem uma língua diferente da sua. Essa primeira metade traz um enorme realismo e nos cativa pela expressividade do pequeno Sunny Pawar, que é o maior destaque do filme e possui um olhar bastante expressivo.
Já na segunda metade, temos Saroo sendo adotado, os anos passando e ele ainda possuindo um enorme bloqueio em seguir em frente por causa desse trauma. Aqui já temos alguns problemas de ritmo, alguns momentos um pouco entediantes e por mais que a atuação do Dev Patel seja competente, ele não parece conseguir nos transmitir toda essa confusão que se passa em sua mente (mesmo a gente conseguindo entendê-la completamente).
Essa segunda parte, passa a retomar o fôlego do filme próximo ao final, principalmente com a cena de conversa entre Saroo e sua mãe adotiva, que tem um diálogo formidável sobre adoção e mostra uma ótima atuação da Nicole Kidman, que tá muito bem em todas as suas cenas.
Já os momentos finais, são pura catarse e se você não se emocionar, provável ter algum problema.
Em resumo, por mais que "Lion" possua alguns problemas de ritmo entre suas duas principais partes, é uma obra densa, bem desenvolvida, com boas atuações e que consegue nos dar boas lições e fazer refletir.
Em Ritmo de Fuga
4.0 1,9K Assista Agora"Baby Driver" é um dos filmes de ação mais interessantes desse ano e se destaca em meio ao que tem sido lançado, principalmente pela competência do Edgar Wright, que faz um filme que possui uma grande fluidez e constrói uma trama onde a trilha sonora é a protagonista e dita o ritmo da ação, tendo uma sincronia fantástica com tudo o que acontece em cena.
Além da trilha sonora ótima, o trabalho de edição é competente, o humor está no tom certo, os personagens são cativantes, há pouca previsibilidade e o vilão quase indestrutível é também um ponto forte.
Saí da sessão já querendo rever e prestar atenção em alguns detalhes que devem ter passado despercebidos em decorrência do ritmo frenético da obra.
Mulher-Maravilha
4.1 2,9K Assista AgoraO grande mérito de "Mulher-Maravilha" é mostrar ao mundo que uma heroína pode sim ser um grande sucesso comercial, sem precisar sexualizar a personagem e provavelmente a escolha da Patty Jenkins como diretora tenha sido fundamental nesse sentido. O filme em si não sai muito de sua zona de conforto de uma história de origem de super-herói, mas todo o arco de Diana na ilha Temiscira e a contextualização na 2ª Guerra Mundial são bastante interessantes, além das sutis críticas sociais quanto à desigualdade de gênero, que era bem gritante na época em que o filme se passa.
Sai da sessão com uma boa impressão da obra e de que dessa vez a DC acertou a mão, mas também com aquela impressão de que o filme poderia ter rendido muito mais, principalmente sem aquele final de enfrentamento megalomaníaco com um CGI que deixou o filme parecendo um jogo de video game.
Espero que os estúdios finalmente percebam que super-heroínas podem render bons filmes e fico na expectativa de uma sequência.
Laerte-se
4.0 184Laerte é uma figura emblemática. Antes de qualquer coisa, como cartunista é uma das mais brilhantes profissionais dese Brasil, unindo arte com crítica social de maneira única. Quanto ao documentário, é importante esclarecer que não se trata da biografia de vida de um artista, que se preocupa em fazer um apanhado de toda sua vida. "Larte-se" possui um recorte bem específico sobre sua identidade transgênero e suas reflexões do que é ser mulher.
Falando do documentário em si, apesar de ótimas reflexões da Larte e de podermos acompanhar momentos bastante íntimos, eu terminei a obra com a impressão de que ela poderia ter rendido muito mais e muito mais de Larte poderia ser explorado e isso se dá, ao meu ver, a uma direção ou edição inexperientes, que não delimitaram assuntos para serem tratados de forma mais coesa e que ainda nos deixou curiosos sobre diversos aspectos de uma pessoa que decide assumir sua transsexualidade já madura e faz uma série de questionamentos a si mesma sobre identidade de gênero, transfobia, seus privilégios e seu trabalho artístico.
De minha parte, gostaria de ter visto Larte ter falado mais sobre como foi o período de transição e no que isso tem refletido em seu trabalho artístico.
De qualquer forma, é um documentário que deve ser assistido e coloca em xeque o debate sobre identidade de gênero e transsexualidade, assuntos cercados de vários preconceitos.
___
Ps.: Ainda me assustam alguns comentários transfobicos colocados como se fossem "opiniões". Opinião é você preferir sorvete ao invés de picolé, não impôr suas crenças/dogmas aos outros e desrespeitá-los porque fogem da lógica pré-estabelecida na sua mente. A humanidade ainda precisa evoluir bastante.