Futuro clássico da Sessão da Tarde, sim ou claro?! E isso não é demérito algum! Filme muito bom, cativante demais e onde tudo funciona com perfeição. E esse elencão?! Jacob Tremblay é um talento, um fenômeno... Se ele já tinha deixado o mundo de queixo caído com O quarto de Jack, aqui ele consegue o feito extraordinário (inevitável, pois é) de transparecer toda a angústia e doçura de Auggie debaixo de uma maquiagem também extraordinária (rs). Desejo do fundo do coração que este garoto siga surpreendendo a cada novo trabalho e ganhe um Oscar antes dos 20 anos de idade. Julia maravilhosa no papel de mãe e Owen sendo Owen... Adorei a narrativa e acho que isso foi um diferencial e tanto, no sentido de mostrar o quanto a deformidade do menino afetava a todos, direta ou indiretamente, muitas vezes sem uma aparente ligação com um determinado personagem secundário. Belo final, que me remeteu ao telefilme biográfico Temple Grandin.
Bom thriller psicológico, que foge dos clichês e até subverte os mesmos. Joel Edgerton sai-se bem na direção e na atuação, com um personagem ameaçador e doentio na medida. A trama prende a atenção apesar de ser pouco dinâmica, já que alguns dos desdobramentos do encontro entre o casal e Gordo são inesperados. Fui pego de surpresa por alguns sustos, genuínos e eficientes, e também pelo desfecho com a vingança em si. Ah, aquele prato que se come frio!
Eis que o final aberto deixa o espectador na dúvida se o bebê seria o último presentinho de Gordo para o seu casal favorito... Já quero uma sequência com o resultado do exame de DNA, rs.
Enfim, nada genial ou memorável, mas certamente acima da média e diferente do que temos visto por aí em termos de suspense, com ideias requentadas e resultados previsíveis. Isso sem contar que as consequências do bullying sempre dão pano pra manga e pra reflexão, não é mesmo?!
William Hurt tá fantástico e levou um merecido prêmio da Academia. Inicialmente, e mesmo tendo conhecimento sobre o contexto histórico, político, cultural e cinematográfico do Brasil nos anos 80, causa um certo estranhamento o fato do longa ser falado em inglês com uma constelação de coadjuvantes globais surgindo a todo instante, rs. Babenco dirigiu com alma e coração essa história de cumplicidade e sofrimento durante a Ditadura, inserindo a Sétima Arte como uma deliciosa fuga para tempos difíceis (uma das razões que justificam nosso amor pelos filmes, não é mesmo?!). Raul Julia mostrou aqui o grande ator que era para além de Gomez Addams e nos faz lamentar ter partido tão cedo... E Sônia Braga surge encantadora e conquistando o mundo como a Mulher-Aranha do título. Triste, forte, inesperado e relevante ao tratar da homossexualidade, foi o mais próximo do Oscar que o Brasil conseguiu chegar até hoje. E lá se foram mais de três décadas...
É uma bela obra e diria que fiquei surpreso com a fluidez da narrativa, envolvente e coerente diante de todas as passagens de tempo. Confesso que fui assistir pela linda da Claire Danes, mas todos estão tão bem em seus respectivos papéis que fica até difícil decidir qual o maior destaque da produção: Liam Neeson tá ótimo como protagonista e Geoffrey Rush implacável como vilão, além da presença de Uma Thurman na pele da sofredora Fantine e deixando sua marca mesmo sem muito tempo de tela. Longa requintado que eu devia ter visto ainda nos anos 90 e, apesar de gostar de musicais, não faço a menor questão de conferir a versão de Tom Hooper para este clássico da literatura! Ainda assim, tiro meia estrela devido ao desfecho de Valjean e Javert, que não me convenceu tanto quanto as outras duas horas de filme...
Que tem fixação pela mãe e arranca o seu seio a dentadas depois que zumbifica. Que sutileza, não?!
A maquiagem dos mortos-vivos até é boa e algumas mortes ficaram legais, com destaque para a decapitação de uma das personagens. Mas como era um fiapo de roteiro, deveriam ter se empenhado nas cenas em que o pessoal era atacado: tudo muito tosco, com gente que prefere gritar e arregalar os olhos ao invés de tentar escapar. O sangue é tão falso que serve pra lembrar o espectador de não levar o longa a sério em momento algum e o desfecho pessimista também deixou a desejar... Filme pouco expressivo dentro do subgênero, na minha humilde opinião.
Como já havia sido dito, filme ótimo sobre um filme ruim. Uma das comédias mais engraçadas que eu vi nos últimos anos, e que baita performance a do Franco! Senti pena, senti raiva, senti alguma empatia grande parte pela composição do ator/diretor, e me diverti muito com as situações absurdas em torno dos bastidores de The Room (que é ridiculamente impagável e merece ser visto numa sessão dupla com Artista do Desastre).
Já comecei a gargalhar logo no começo, com tamanha entrega de Wiseau ao interpretar Marlon Brando em Uma Rua Chamada Pecado, hahaha. Mas o auge, com certeza, foi a gravação de uma das cenas de sexo mais constrangedoras de que se tem notícia!
No fim, não é apenas um longa engraçado, mas também uma história de amizade e perseverança. Isso sem contar a metalinguagem e as participações especiais, o surgimento dos diálogos mais malucos e das sequências mais desconexas do cult movie de 2003. Enfim, é imperdível e funciona maravilhosamente bem.
Muito difícil de avaliar. O filme é ruim?! Em todos os sentidos. Eu poderia dizer que mais parece uma mistura de Cine Band Privé e novela mexicana, com pitadas de uma sitcom fracassada, mas seria uma descrição rasa pra uma obra dessa magnitude, hahaha. Poderia dar uma estrelinha pelos aspectos técnicos (!) ou cinco por ter me feito rir como há muito tempo uma comédia não era capaz (pelo menos até Artista do Desastre, que assisti em sequência e achei hilariante). Então lá vão três estrelas já que, apesar de ter me divertido muito, chega uma hora em que o fato do longa ser tão repetitivo começa a cansar o espectador. Até a risadinha do mito Wiseau passa a irritar. Mas o que são esses pequenos defeitos diante de tantas falas icônicas, cenas antológicas e falta de noção?! Os créditos vieram e eu ainda tava rindo... Vale uma segunda sessão de The Room, sim ou claro?! Aposto que esse marco na história do cinema só melhora com o tempo, rs.
Outro que figura entre os melhores filmes do ano passado e não teve a atenção que merecia nas premiações, apesar da consagração e do Oscar para Allison Janney. Realmente, LaVona entra pra aquele seleto grupo de mães execráveis do cinema junto com a da Preciosa, da Carrie e outras. Margot Robbie também tá brilhante, digna de todos os elogios e indicações. Apesar de todos os abusos e da violência, ri (ainda que de nervoso) em vários momentos e achei genial a narrativa intercalada por depoimentos de todos os envolvidos no fatídico incidente que marcou a história de Tonya Harding. Particularmente, curti muito as cenas de patinação e também a trilha sonora, na forma como fora inserida no longa. Envolvente, inacreditável, tragicômico e excepcional longa, diga-se de passagem.
Ótimo drama com interpretações de altíssimo nível. Ainda que meu coração torcesse pela Sally Hawkins, não dá pra dizer que a Frances badass não merecia o seu segundo Oscar de atriz, já que ela literalmente destrói tudo com a desorientação, o sofrimento e a revolta de Mildred. E temos Sam Rockwell finalmente sendo reconhecido pela Academia com um personagem difícil e de muitas camadas. A direção de Martin McDonagh é outro grande trunfo da produção e o mesmo era para ter sido indicado. Mas devo dizer que achei o roteiro bem irregular: ao mesmo tempo em que temos uma trama forte, impactante e com temáticas bastante atuais, vemos também algumas soluções folhetinescas que enfraqueceram a história da mãe inconformada e durona, do policial racista e de todos que os cercavam.
Achei aquela sequência em que Dixon fica sabendo sobre o estupro no bar um tanto forçada, aceitável em uma novela das 9, mas difícil de engolir em um longa com uma proposta realista e livre de clichês, como o desfecho apontou a seguir... Também não comprei 100% a cena do incêndio na delegacia pelas mesmas razões.
Mesmo assim, não deixa de ser um dos melhores filmes de 2017! Gostei muito do humor negro e das transformações que os personagens vão sofrendo diante do caos, da negligência e da violência.
Licença poética numa poesia em forma de filme ou em uma produção realista?! Tô de olho em você que reclama de Elisa ter livre acesso ao laboratório secreto em que trabalhava enquanto ignora as incoerências e barras forçadas no roteiro de Três Anúncios Para um Crime, o que supostamente é mais filme e deveria ter levado o Oscar. A Forma da Água é encantador, doce, triste, humano e talvez seu maior defeito seja os tempos cínicos em que fora lançado. Sally Hawkins é puro carisma e talento, sem necessitar de uma palavrinha sequer! Os coadjuvantes também estão sensacionais, com destaque para Richard Jenkins e Michael Shannon, dois grandes ladrões de cenas. Minhas expectativas tavam altas e, sinceramente, não tenho do que reclamar. O design da criatura impressiona, a trilha sonora é marcante e os cenários são maravilhosos. Sem entrar no mérito das acusações de plágio, vejo o longa como uma fábula bem sucedida ao misturar diversos gêneros cinematográficos, jamais propondo-se em ser extremamente original ou revolucionário. É uma ode ao diferente, à comunicação, à solidão, ao amor e ao cinema. Satisfeito com o prêmio máximo da Academia como há muitos anos não me sentia.
Um bom filme e uma história que mereceu (e muito) ser contada. Mas eu vou falar de Oscar sim! É fato que o prêmio só foi dado devido à importância da temática, já que como realização cinematográfica Spotlight não traz nada de tão marcante ou extraordinário. O ritmo é arrastado a ponto de fazer o espectador se distrair e perder o fio da meada, como dizem. E isto é algo que não ocorre com os incríveis O Quarto de Jack e Mad Max - Estrada da Fúria. Agora, vou me ater às qualidades do longa de Tom McCarthy. O elenco é fantástico e tal entrosamento mostra-se bastante palpável: há química e todos ali brilham quase que igualmente, com um leve destaque para o versátil Mark Ruffalo. A trilha sonora contribui para o tom aflitivo da obra em meio a algumas descobertas da equipe de jornalistas e a direção é bastante sóbria, desviando dos clichês de produções baseadas em fatos verídicos sempre que possível. De qualquer modo, gostaria de ter achado um filmaço e não foi o caso...
Nunca acompanhei a série, apesar de ter visto um ou outro episódio ao longo dos anos e, mesmo assim, me senti familiarizado aos personagens e à acidez da maioria das piadas. Em South Park, a zoeira não tem limites, para o bem e para o mal! A começar pelo subtítulo do filme, num duplo sentido hilariante, e nas críticas sempre pertinentes ao american way of life, à política mundial e às celebridades. É bem verdade que a produção pesa a mão na escatologia (e isto é algo que, de fato, me desagrada), mas até dá pra relevar quando não há espaço para o politicamente correto e a ousadia torna-se um de seus maiores trunfos. Afinal de contas, Saddam Hussein morreu muitos anos depois deste longa ter sido lançado, sendo que o tórrido caso de amor entre o ditador e o Capeta acaba por ofuscar os garotos protagonistas da história, rs. Curti as musiquinhas grudentas e a forma como a animação satiriza a si própria, através do polêmico filme de Terrance & Phillip.
La La Land é mais filme do que Moonlight, isso é um fato. O Oscar foi mais político do que nunca e teve toda aquela confusão no instante do anúncio do vencedor, mas nada disso tira os méritos deste drama honesto, sutil e repleto de sentimentos. Primeiramente, adorei o modo como a história se desenrola e a personalidade de Black vai sendo formada aos olhos do espectador com muitas entrelinhas de um segmento para o outro. Você pode até acusar o terceiro ato de ser inferior aos dois anteriores ou dizer que o desfecho é frustrante e tudo mais, mas caso tenha sido tocado pela trajetória de vida do personagem durante todo o filme, vai achar ainda mais admirável e significativa essa quebra de clichês. Mahershala Ali possui fortíssima presença em cena e foi digno dos prêmios que ganhou. Todo o elenco merece aplausos, bem como a fotografia que é extraordinária. E mil vezes Moonlight ter levado a estatueta máxima neste ano do que Spotlight no ano passado, rs.
Uma ideia bem executada, o que resultou num thriller eficiente ainda que supervalorizado. E não há nada de tão mirabolante e original no roteiro de Corra!
Muitos citam A Chave Mestra, mas lembrei bastante do sensacional Quero Ser John Malkovich (e olha que nem associei à presença da sempre ótima Catherine Keener com personagens dissimuladas em ambos os filmes).
A abordagem do racismo é realmente um diferencial dentro da história. Há perspicácia na forma como o tema foi conduzido pelo diretor, onde a discriminação velada vai dando lugar ao discurso de exaltação das qualidades da raça negra, como que homenageando-a paralelamente. Daniel Kaluuya defende muito bem o seu protagonista, com aqueles grandes e expressivos olhos. Confesso que senti aflição toda vez que os empregados misteriosos apareciam! O desfecho me deixou satisfeito, apenas. O alívio cômico, representado pelo amigo policial de Chris, é dispensável e ajuda a quebrar o clima de tensão. Bom, de qualquer forma.
Há de se reconhecer o empenho de Refn em criar algo bem diferente sobre o submundo da moda, abusando de simbolismos e utilizando uma estética que se sobrepõe ao próprio roteiro. Demônio de Neon consegue ser tão belo quanto repulsivo, enigmático e também um teste de paciência para o espectador. O ritmo é excessivamente arrastado até para uma produção que se pretenda experimental/conceitual como esta. Particularmente, gostei da trilha sonora sintética e estranha, além do visual estonteante (literalmente) dos cenários por onde Jesse e as outras beldades circulavam e fotografavam. Aliás, devo dizer, Elle Fanning é uma atriz bem mais interessante e ousada do que a irmã, hein?! Certamente, o futuro reserva muita coisa boa para ela se continuar com as escolhas nada óbvias que tem feito. Jena Malone também tá ótima como a misteriosa Ruby, enquanto Keanu Reeves e seu personagem pouco acrescentam à trama. Outro que nem deveria estar ali é Karl Glusman, ator limitado de uma expressão só. Confesso que curti o desfecho doentio e a forma inventiva como a inveja, a superficialidade e até a bulimia foram retratadas nesse ínterim.
Comédia romântica charmosa e inteligente que merecia mais reconhecimento. No início, até achei que o Elliot se tornaria um daqueles personagens irritantes e implicantes típicos, mas ainda bem que eu tava enganado! Dreyfuss esbanja carisma e faz rir a toda hora com os hábitos excêntricos do ator que interpreta, onde se destaca a sua performance sensacional na peça sobre Ricardo III, rs. Marsha Mason também tá adorável e a química entre eles funciona maravilhosamente bem, coisa rara de se ver nos romances de hoje em dia. Uma curiosidade: a então garotinha Quinn Cummings, a Lucy, foi indicada ao Oscar de atriz coadjuvante pelo longa, completando o trio de talentos que elevaram o nível em A Garota do Adeus e fizeram desta divertida produção um pequeno clássico do gênero. Os diálogos são um show à parte e o desfecho é pra estampar um sorriso de orelha a orelha.
Tocante ao extremo! Preenche com louvor a vaga de filme que leva às lágrimas no Oscar de cada ano e, juntamente com La La Land, meu favorito da safra 2017. Se você não desabou no final, melhor consultar um cardiologista, rs. A história, por ser verídica, já é impactante por si só, mas é potencializada pelo talento de todos os envolvidos. Nicole Kidman brilha mais uma vez com sua versatilidade e conquista a todos com a simplicidade e nobreza de sua personagem Sue. Não tem como ficar indiferente à cena em que ela e Saroo discutem sobre adoção, demonstrando toda a sensibilidade do roteiro. Dev Patel tá muito bem, mas o destaque fica por conta do gigantesco carisma de Sunny Pawar: esperamos todos que ele não pare por aí! Direção convencional e competente, sendo que em momento algum a produção apela pro piegas ou se torna cansativa. As duas horas voaram e senti uma profunda gratidão por conhecer essa arrebatadora lição de perseverança. Gostaria muito de adquirir o DVD, mas o filme foi direto pra Netflix e não lançaram. Alguém sabe se tem previsão pros próximos meses?!
Manchester à Beira-Mar divide opiniões, mas eu achei justa a atenção recebida nas premiações desse ano. De fato, não é um filme fácil e nem o roteiro de Lonergan preocupa-se em tornar a experiência algo confortável para o espectador. É tudo muito denso e implacável, num choque de realidade em que não há espaço para clichês, redenção e o que possa amenizar tal dor. Apesar da longa duração e do ritmo lento, me mantive interessado todo o tempo no retorno de Lee à sua cidade natal, na interação com o sobrinho e, principalmente, no trauma que o levou a mudar de forma tão drástica. Impossível não sofrer junto com o personagem depois que você compreende a desesperança profunda que o acompanhava. Michelle Williams tá incrível nos poucos minutos em que aparece na tela e Lucas Hedges revela-se uma promessa futura, mas o grande destaque é Casey Affleck. Ele é a alma (destroçada) do filme e a Academia fez bem em agraciá-lo com a estatueta de ator, mostrando que uma ótima performance deve sempre se sobrepor à qualquer fator secundário que envolva o nome de seu intérprete. Merecido sim.
Guarda algumas semelhanças com o Death Ship de 1980, mesmo não sendo considerado um remake deste. O fato é que as poucas qualidades e os muitos defeitos são praticamente os mesmos: ambos iniciam a viagem de forma empolgante e vão afundando desastrosamente à medida que a trama avança. Aliás, a sequência de abertura de Navio Fantasma é nada menos do que memorável, sinistra e merecedora de todos os elogios dentro do gênero. Gabriel Byrne e Julianna Margulies trazem alguma credibilidade, mas estão pouco à vontade em seus papéis. A ambientação é o que há de melhor no longa, mas a direção ruim acaba por atrapalhar qualquer tentativa de causar apreensão no público. O mistério todo não convence, o verdadeiro vilão da história é previsível (alguns minutos e você já sabe de quem se trata) e a última cena consegue a proeza de tornar o filme ainda mais descartável.
Falar da(s) inspiradíssima(s) performance(s) de James McAvoy é chover no molhado, já que o ator é praticamente uma unanimidade. Então, vamos às outras qualidades que o longa possui! O roteiro é muito inteligente, original e nada ali é aleatório. Fragmentado é intrigante do início ao fim que, aliás, não me decepcionou.
O surgimento d'A Besta foi surpreendente e deu aquele tom fantástico que tava faltando pra ser uma legítima obra do controverso diretor, por mais que pareça destoar num primeiro momento. A convivência com os animais do zoológico e o meio como fatores determinantes na evolução da 24ª identidade deram um toque de genialidade ao desfecho. E a referência ao cultuado Corpo Fechado entusiasma até mesmo quem não é fã de heróis, quadrinhos e possíveis elementos de um universo compartilhado.
Um thriller divertido e muito bem construído que, apesar de ser entretenimento puro, cativa ainda mais por manter um dos pés na realidade.
Além do Transtorno Dissociativo de Identidade e distúrbios psicológicos em geral, a produção aborda diversos assuntos sempre pertinentes de serem discutidos como o poder da mente, a pedofilia e a empatia entre vítimas de abusos e traumas.
Anya Taylor-Joy é promissora e a veterana Betty Buckley destaca-se como coadjuvante, mas nós sabemos quem domina aqui: o multifacetado protagonista e o grande contador de histórias que, felizmente, não perdeu sua capacidade de envolver o público. Shyamalan vive!
São duas atuações poderosíssimas e complementares. De um lado, Anne Bancroft dá vida à personagem-título com precisão, autenticidade e sem excessos. Do outro está Patty Duke, numa das maiores interpretações infanto-juvenis de que se tem notícia. Fiquei totalmente impressionado com a garota e esse talento absurdo. Mas também me senti incomodado, aflito, tocado e, em certos momentos, me peguei rindo de nervoso tamanho o desafio que era para a professora em fazer Helen libertar-se das limitações e da falta de entendimento. A direção de Arthur Penn é firme e jamais renega a origem teatral da obra, onde a casa dos Keller é praticamente o único cenário que temos, os embates entre as protagonistas chegam a ser coreográficos e o texto é primoroso, com diálogos que ecoam na mente muito tempo após o término do filme. A sequência da sala de jantar desestabiliza qualquer um e o desfecho é inesquecível. A superproteção e despreparo da família com relação à deficiência de Helen é algo tão presente até hoje, o que faz de O Milagre de Anne Sullivan uma produção atemporal e de suma importância. Assistam!
Eis um filme de essência feminista que não se rende a pedantismos e banalizações, assim como alguns que abordam essa causa. É tudo passado com muita naturalidade, o que acaba por cativar o espectador enquanto acompanha-se o amadurecimento das irmãs, a convivência no âmbito familiar e as adversidades enfrentadas. E que elenco fabuloso é esse?! Winona imprime uma personalidade radiante à sua Jo e demonstra o porquê de ter feito tanto sucesso nas décadas de 80 e 90. Mais uma excelente interpretação! A sempre ótima e talentosa Claire Danes comove sem muito esforço, mesmo sendo coadjuvante. Kirsten Dunst ainda criança, Susan Sarandon, Christian Bale, Eric Stoltz e Gabriel Byrne completam essa constelação apaixonante, todos brilhando em seus respectivos papéis. Certamente, um dos melhores romances de época que eu já tive o prazer de assistir.
Em um primeiro momento, também achei que Laurie e Jo deveriam ter ficado juntos, mas ela era tão à frente de seu tempo e madura para a idade que nada como um homem mais velho tal qual Bhaer para entrar nesse páreo. Sem contar que compartilhavam muitas afinidades e ele tinha um espírito incentivador. Ah, e a cena do reencontro na chuva é uma beleza!
Como pude conferir este clássico recém agora, mais de duas décadas após o seu lançamento?! Encantador define.
Tão maravilhoso! E parece que virou modinha desmerecer essa ode ao cinema e aos grandes musicais de antigamente... Entendo que a produção tenha seguido uma fórmula infalível e conveniente para fazê-la funcionar, mas que mal há nisso?! Primeiramente, achei o Oscar de direção pro Chazelle um dos mais justos dos últimos anos. Só pela sequência inicial no engarrafamento ele já merecia o prêmio, mas seu árduo trabalho vai bem além disso. Gosto bastante do gênero, mas costumo torcer o nariz para filmes excessivamente 'cantados e dançados'. Mais um ponto para o diretor, que trouxe o equilíbrio perfeito entre fantasia, romance, drama, os tais números musicais e as discussões/diálogos entre a dupla de protagonistas. Aliás, a química entre eles é incrível e já penso em assistir aos outros dois longas em que atuaram juntos. Ryan Gosling e Emma Stone estão igualmente ótimos e carismáticos, mas nada que justifique a Academia tê-la agraciado como melhor atriz (a francesa Huppert merecia ter levado e todos sabemos disso). Quanto aos aspectos técnicos, La La Land é uma obra de encher os olhos: cinematografia, cenários e figurinos lindos, mas nunca extravagantes. A atmosfera retrô é irresistível e o desfecho, memorável.
Daqueles que chegam ao fim e te deixam na dúvida sobre ter gostado ou não, enquanto os créditos passam. O filme é cru, difícil e incômodo, por vezes intragável. É diferente de qualquer outra produção sobre o Holocausto e isso é um feito e tanto. A câmera é eficiente e desconcertante ao evitar o horror explícito e literalmente apoia-se na enigmática persona de Saul, muito bem defendida por Géza Röhrig. O diretor não almeja emocionar ou chocar, apenas contar uma história de sobrevivência sob um viés de fuga da realidade que o protagonista experimentava. Tudo isso sem respostas fáceis e sem julgamentos acerca das motivações que conduziam o prisioneiro em sua obstinada (obsessiva, talvez) jornada.
E o filho, que dá a entender nem ser seu, serviria como força motriz para ele seguir seu curso diante do caos.
Um longa pra se ver uma única vez na vida. E quanto ao Oscar de filme em língua estrangeira, creio que tenha levado mais pela temática do que por ser excepcional.
Extraordinário
4.3 2,1K Assista AgoraFuturo clássico da Sessão da Tarde, sim ou claro?! E isso não é demérito algum! Filme muito bom, cativante demais e onde tudo funciona com perfeição. E esse elencão?! Jacob Tremblay é um talento, um fenômeno... Se ele já tinha deixado o mundo de queixo caído com O quarto de Jack, aqui ele consegue o feito extraordinário (inevitável, pois é) de transparecer toda a angústia e doçura de Auggie debaixo de uma maquiagem também extraordinária (rs). Desejo do fundo do coração que este garoto siga surpreendendo a cada novo trabalho e ganhe um Oscar antes dos 20 anos de idade. Julia maravilhosa no papel de mãe e Owen sendo Owen... Adorei a narrativa e acho que isso foi um diferencial e tanto, no sentido de mostrar o quanto a deformidade do menino afetava a todos, direta ou indiretamente, muitas vezes sem uma aparente ligação com um determinado personagem secundário. Belo final, que me remeteu ao telefilme biográfico Temple Grandin.
As referências à saga Star Wars foram sensacionais e a presença de Chewbacca foi a cereja no topo do bolo!
O Presente
3.4 832 Assista AgoraBom thriller psicológico, que foge dos clichês e até subverte os mesmos. Joel Edgerton sai-se bem na direção e na atuação, com um personagem ameaçador e doentio na medida. A trama prende a atenção apesar de ser pouco dinâmica, já que alguns dos desdobramentos do encontro entre o casal e Gordo são inesperados. Fui pego de surpresa por alguns sustos, genuínos e eficientes, e também pelo desfecho com a vingança em si. Ah, aquele prato que se come frio!
Eis que o final aberto deixa o espectador na dúvida se o bebê seria o último presentinho de Gordo para o seu casal favorito... Já quero uma sequência com o resultado do exame de DNA, rs.
Enfim, nada genial ou memorável, mas certamente acima da média e diferente do que temos visto por aí em termos de suspense, com ideias requentadas e resultados previsíveis. Isso sem contar que as consequências do bullying sempre dão pano pra manga e pra reflexão, não é mesmo?!
O Beijo da Mulher-Aranha
3.9 256 Assista AgoraWilliam Hurt tá fantástico e levou um merecido prêmio da Academia. Inicialmente, e mesmo tendo conhecimento sobre o contexto histórico, político, cultural e cinematográfico do Brasil nos anos 80, causa um certo estranhamento o fato do longa ser falado em inglês com uma constelação de coadjuvantes globais surgindo a todo instante, rs. Babenco dirigiu com alma e coração essa história de cumplicidade e sofrimento durante a Ditadura, inserindo a Sétima Arte como uma deliciosa fuga para tempos difíceis (uma das razões que justificam nosso amor pelos filmes, não é mesmo?!). Raul Julia mostrou aqui o grande ator que era para além de Gomez Addams e nos faz lamentar ter partido tão cedo... E Sônia Braga surge encantadora e conquistando o mundo como a Mulher-Aranha do título. Triste, forte, inesperado e relevante ao tratar da homossexualidade, foi o mais próximo do Oscar que o Brasil conseguiu chegar até hoje. E lá se foram mais de três décadas...
Os Miseráveis
4.0 263 Assista AgoraÉ uma bela obra e diria que fiquei surpreso com a fluidez da narrativa, envolvente e coerente diante de todas as passagens de tempo. Confesso que fui assistir pela linda da Claire Danes, mas todos estão tão bem em seus respectivos papéis que fica até difícil decidir qual o maior destaque da produção: Liam Neeson tá ótimo como protagonista e Geoffrey Rush implacável como vilão, além da presença de Uma Thurman na pele da sofredora Fantine e deixando sua marca mesmo sem muito tempo de tela. Longa requintado que eu devia ter visto ainda nos anos 90 e, apesar de gostar de musicais, não faço a menor questão de conferir a versão de Tom Hooper para este clássico da literatura! Ainda assim, tiro meia estrela devido ao desfecho de Valjean e Javert, que não me convenceu tanto quanto as outras duas horas de filme...
A Noite do Terror
3.3 96Vale pelas bizarrices todas, com zumbis organizados e mais inteligentes que os humanos e, é claro, Michael, o menino-anão...
Que tem fixação pela mãe e arranca o seu seio a dentadas depois que zumbifica. Que sutileza, não?!
A maquiagem dos mortos-vivos até é boa e algumas mortes ficaram legais, com destaque para a decapitação de uma das personagens. Mas como era um fiapo de roteiro, deveriam ter se empenhado nas cenas em que o pessoal era atacado: tudo muito tosco, com gente que prefere gritar e arregalar os olhos ao invés de tentar escapar. O sangue é tão falso que serve pra lembrar o espectador de não levar o longa a sério em momento algum e o desfecho pessimista também deixou a desejar... Filme pouco expressivo dentro do subgênero, na minha humilde opinião.
Artista do Desastre
3.8 554 Assista AgoraComo já havia sido dito, filme ótimo sobre um filme ruim. Uma das comédias mais engraçadas que eu vi nos últimos anos, e que baita performance a do Franco! Senti pena, senti raiva, senti alguma empatia grande parte pela composição do ator/diretor, e me diverti muito com as situações absurdas em torno dos bastidores de The Room (que é ridiculamente impagável e merece ser visto numa sessão dupla com Artista do Desastre).
Já comecei a gargalhar logo no começo, com tamanha entrega de Wiseau ao interpretar Marlon Brando em Uma Rua Chamada Pecado, hahaha. Mas o auge, com certeza, foi a gravação de uma das cenas de sexo mais constrangedoras de que se tem notícia!
No fim, não é apenas um longa engraçado, mas também uma história de amizade e perseverança. Isso sem contar a metalinguagem e as participações especiais, o surgimento dos diálogos mais malucos e das sequências mais desconexas do cult movie de 2003. Enfim, é imperdível e funciona maravilhosamente bem.
The Room
2.3 492Muito difícil de avaliar. O filme é ruim?! Em todos os sentidos. Eu poderia dizer que mais parece uma mistura de Cine Band Privé e novela mexicana, com pitadas de uma sitcom fracassada, mas seria uma descrição rasa pra uma obra dessa magnitude, hahaha. Poderia dar uma estrelinha pelos aspectos técnicos (!) ou cinco por ter me feito rir como há muito tempo uma comédia não era capaz (pelo menos até Artista do Desastre, que assisti em sequência e achei hilariante). Então lá vão três estrelas já que, apesar de ter me divertido muito, chega uma hora em que o fato do longa ser tão repetitivo começa a cansar o espectador. Até a risadinha do mito Wiseau passa a irritar. Mas o que são esses pequenos defeitos diante de tantas falas icônicas, cenas antológicas e falta de noção?! Os créditos vieram e eu ainda tava rindo... Vale uma segunda sessão de The Room, sim ou claro?! Aposto que esse marco na história do cinema só melhora com o tempo, rs.
Eu, Tonya
4.1 1,4K Assista AgoraOutro que figura entre os melhores filmes do ano passado e não teve a atenção que merecia nas premiações, apesar da consagração e do Oscar para Allison Janney. Realmente, LaVona entra pra aquele seleto grupo de mães execráveis do cinema junto com a da Preciosa, da Carrie e outras. Margot Robbie também tá brilhante, digna de todos os elogios e indicações. Apesar de todos os abusos e da violência, ri (ainda que de nervoso) em vários momentos e achei genial a narrativa intercalada por depoimentos de todos os envolvidos no fatídico incidente que marcou a história de Tonya Harding. Particularmente, curti muito as cenas de patinação e também a trilha sonora, na forma como fora inserida no longa. Envolvente, inacreditável, tragicômico e excepcional longa, diga-se de passagem.
Três Anúncios Para um Crime
4.2 2,0K Assista AgoraÓtimo drama com interpretações de altíssimo nível. Ainda que meu coração torcesse pela Sally Hawkins, não dá pra dizer que a Frances badass não merecia o seu segundo Oscar de atriz, já que ela literalmente destrói tudo com a desorientação, o sofrimento e a revolta de Mildred. E temos Sam Rockwell finalmente sendo reconhecido pela Academia com um personagem difícil e de muitas camadas. A direção de Martin McDonagh é outro grande trunfo da produção e o mesmo era para ter sido indicado. Mas devo dizer que achei o roteiro bem irregular: ao mesmo tempo em que temos uma trama forte, impactante e com temáticas bastante atuais, vemos também algumas soluções folhetinescas que enfraqueceram a história da mãe inconformada e durona, do policial racista e de todos que os cercavam.
Achei aquela sequência em que Dixon fica sabendo sobre o estupro no bar um tanto forçada, aceitável em uma novela das 9, mas difícil de engolir em um longa com uma proposta realista e livre de clichês, como o desfecho apontou a seguir... Também não comprei 100% a cena do incêndio na delegacia pelas mesmas razões.
Mesmo assim, não deixa de ser um dos melhores filmes de 2017! Gostei muito do humor negro e das transformações que os personagens vão sofrendo diante do caos, da negligência e da violência.
A Forma da Água
3.9 2,7KLicença poética numa poesia em forma de filme ou em uma produção realista?! Tô de olho em você que reclama de Elisa ter livre acesso ao laboratório secreto em que trabalhava enquanto ignora as incoerências e barras forçadas no roteiro de Três Anúncios Para um Crime, o que supostamente é mais filme e deveria ter levado o Oscar. A Forma da Água é encantador, doce, triste, humano e talvez seu maior defeito seja os tempos cínicos em que fora lançado. Sally Hawkins é puro carisma e talento, sem necessitar de uma palavrinha sequer! Os coadjuvantes também estão sensacionais, com destaque para Richard Jenkins e Michael Shannon, dois grandes ladrões de cenas. Minhas expectativas tavam altas e, sinceramente, não tenho do que reclamar. O design da criatura impressiona, a trilha sonora é marcante e os cenários são maravilhosos. Sem entrar no mérito das acusações de plágio, vejo o longa como uma fábula bem sucedida ao misturar diversos gêneros cinematográficos, jamais propondo-se em ser extremamente original ou revolucionário. É uma ode ao diferente, à comunicação, à solidão, ao amor e ao cinema. Satisfeito com o prêmio máximo da Academia como há muitos anos não me sentia.
Spotlight - Segredos Revelados
4.1 1,7K Assista AgoraUm bom filme e uma história que mereceu (e muito) ser contada. Mas eu vou falar de Oscar sim! É fato que o prêmio só foi dado devido à importância da temática, já que como realização cinematográfica Spotlight não traz nada de tão marcante ou extraordinário. O ritmo é arrastado a ponto de fazer o espectador se distrair e perder o fio da meada, como dizem. E isto é algo que não ocorre com os incríveis O Quarto de Jack e Mad Max - Estrada da Fúria. Agora, vou me ater às qualidades do longa de Tom McCarthy. O elenco é fantástico e tal entrosamento mostra-se bastante palpável: há química e todos ali brilham quase que igualmente, com um leve destaque para o versátil Mark Ruffalo. A trilha sonora contribui para o tom aflitivo da obra em meio a algumas descobertas da equipe de jornalistas e a direção é bastante sóbria, desviando dos clichês de produções baseadas em fatos verídicos sempre que possível. De qualquer modo, gostaria de ter achado um filmaço e não foi o caso...
South Park: Maior, Melhor e Sem Cortes
3.9 316 Assista AgoraNunca acompanhei a série, apesar de ter visto um ou outro episódio ao longo dos anos e, mesmo assim, me senti familiarizado aos personagens e à acidez da maioria das piadas. Em South Park, a zoeira não tem limites, para o bem e para o mal! A começar pelo subtítulo do filme, num duplo sentido hilariante, e nas críticas sempre pertinentes ao american way of life, à política mundial e às celebridades. É bem verdade que a produção pesa a mão na escatologia (e isto é algo que, de fato, me desagrada), mas até dá pra relevar quando não há espaço para o politicamente correto e a ousadia torna-se um de seus maiores trunfos. Afinal de contas, Saddam Hussein morreu muitos anos depois deste longa ter sido lançado, sendo que o tórrido caso de amor entre o ditador e o Capeta acaba por ofuscar os garotos protagonistas da história, rs. Curti as musiquinhas grudentas e a forma como a animação satiriza a si própria, através do polêmico filme de Terrance & Phillip.
Moonlight: Sob a Luz do Luar
4.1 2,4K Assista AgoraLa La Land é mais filme do que Moonlight, isso é um fato. O Oscar foi mais político do que nunca e teve toda aquela confusão no instante do anúncio do vencedor, mas nada disso tira os méritos deste drama honesto, sutil e repleto de sentimentos. Primeiramente, adorei o modo como a história se desenrola e a personalidade de Black vai sendo formada aos olhos do espectador com muitas entrelinhas de um segmento para o outro. Você pode até acusar o terceiro ato de ser inferior aos dois anteriores ou dizer que o desfecho é frustrante e tudo mais, mas caso tenha sido tocado pela trajetória de vida do personagem durante todo o filme, vai achar ainda mais admirável e significativa essa quebra de clichês. Mahershala Ali possui fortíssima presença em cena e foi digno dos prêmios que ganhou. Todo o elenco merece aplausos, bem como a fotografia que é extraordinária. E mil vezes Moonlight ter levado a estatueta máxima neste ano do que Spotlight no ano passado, rs.
Corra!
4.2 3,6K Assista AgoraUma ideia bem executada, o que resultou num thriller eficiente ainda que supervalorizado. E não há nada de tão mirabolante e original no roteiro de Corra!
Muitos citam A Chave Mestra, mas lembrei bastante do sensacional Quero Ser John Malkovich (e olha que nem associei à presença da sempre ótima Catherine Keener com personagens dissimuladas em ambos os filmes).
A abordagem do racismo é realmente um diferencial dentro da história. Há perspicácia na forma como o tema foi conduzido pelo diretor, onde a discriminação velada vai dando lugar ao discurso de exaltação das qualidades da raça negra, como que homenageando-a paralelamente. Daniel Kaluuya defende muito bem o seu protagonista, com aqueles grandes e expressivos olhos. Confesso que senti aflição toda vez que os empregados misteriosos apareciam! O desfecho me deixou satisfeito, apenas. O alívio cômico, representado pelo amigo policial de Chris, é dispensável e ajuda a quebrar o clima de tensão. Bom, de qualquer forma.
Demônio de Neon
3.2 1,2K Assista AgoraHá de se reconhecer o empenho de Refn em criar algo bem diferente sobre o submundo da moda, abusando de simbolismos e utilizando uma estética que se sobrepõe ao próprio roteiro. Demônio de Neon consegue ser tão belo quanto repulsivo, enigmático e também um teste de paciência para o espectador. O ritmo é excessivamente arrastado até para uma produção que se pretenda experimental/conceitual como esta. Particularmente, gostei da trilha sonora sintética e estranha, além do visual estonteante (literalmente) dos cenários por onde Jesse e as outras beldades circulavam e fotografavam. Aliás, devo dizer, Elle Fanning é uma atriz bem mais interessante e ousada do que a irmã, hein?! Certamente, o futuro reserva muita coisa boa para ela se continuar com as escolhas nada óbvias que tem feito. Jena Malone também tá ótima como a misteriosa Ruby, enquanto Keanu Reeves e seu personagem pouco acrescentam à trama. Outro que nem deveria estar ali é Karl Glusman, ator limitado de uma expressão só. Confesso que curti o desfecho doentio e a forma inventiva como a inveja, a superficialidade e até a bulimia foram retratadas nesse ínterim.
A Garota do Adeus
3.9 55 Assista AgoraComédia romântica charmosa e inteligente que merecia mais reconhecimento. No início, até achei que o Elliot se tornaria um daqueles personagens irritantes e implicantes típicos, mas ainda bem que eu tava enganado! Dreyfuss esbanja carisma e faz rir a toda hora com os hábitos excêntricos do ator que interpreta, onde se destaca a sua performance sensacional na peça sobre Ricardo III, rs. Marsha Mason também tá adorável e a química entre eles funciona maravilhosamente bem, coisa rara de se ver nos romances de hoje em dia. Uma curiosidade: a então garotinha Quinn Cummings, a Lucy, foi indicada ao Oscar de atriz coadjuvante pelo longa, completando o trio de talentos que elevaram o nível em A Garota do Adeus e fizeram desta divertida produção um pequeno clássico do gênero. Os diálogos são um show à parte e o desfecho é pra estampar um sorriso de orelha a orelha.
No final das contas, é um La La Land com final feliz!
Pode ser coisa da minha cabeça, mas lembrei do musical mais de uma vez durante o filme.
Lion: Uma Jornada para Casa
4.3 1,9K Assista AgoraTocante ao extremo! Preenche com louvor a vaga de filme que leva às lágrimas no Oscar de cada ano e, juntamente com La La Land, meu favorito da safra 2017. Se você não desabou no final, melhor consultar um cardiologista, rs. A história, por ser verídica, já é impactante por si só, mas é potencializada pelo talento de todos os envolvidos. Nicole Kidman brilha mais uma vez com sua versatilidade e conquista a todos com a simplicidade e nobreza de sua personagem Sue. Não tem como ficar indiferente à cena em que ela e Saroo discutem sobre adoção, demonstrando toda a sensibilidade do roteiro. Dev Patel tá muito bem, mas o destaque fica por conta do gigantesco carisma de Sunny Pawar: esperamos todos que ele não pare por aí! Direção convencional e competente, sendo que em momento algum a produção apela pro piegas ou se torna cansativa. As duas horas voaram e senti uma profunda gratidão por conhecer essa arrebatadora lição de perseverança. Gostaria muito de adquirir o DVD, mas o filme foi direto pra Netflix e não lançaram. Alguém sabe se tem previsão pros próximos meses?!
Manchester à Beira-Mar
3.8 1,4K Assista AgoraManchester à Beira-Mar divide opiniões, mas eu achei justa a atenção recebida nas premiações desse ano. De fato, não é um filme fácil e nem o roteiro de Lonergan preocupa-se em tornar a experiência algo confortável para o espectador. É tudo muito denso e implacável, num choque de realidade em que não há espaço para clichês, redenção e o que possa amenizar tal dor. Apesar da longa duração e do ritmo lento, me mantive interessado todo o tempo no retorno de Lee à sua cidade natal, na interação com o sobrinho e, principalmente, no trauma que o levou a mudar de forma tão drástica. Impossível não sofrer junto com o personagem depois que você compreende a desesperança profunda que o acompanhava. Michelle Williams tá incrível nos poucos minutos em que aparece na tela e Lucas Hedges revela-se uma promessa futura, mas o grande destaque é Casey Affleck. Ele é a alma (destroçada) do filme e a Academia fez bem em agraciá-lo com a estatueta de ator, mostrando que uma ótima performance deve sempre se sobrepor à qualquer fator secundário que envolva o nome de seu intérprete. Merecido sim.
Navio Fantasma
2.8 824 Assista AgoraGuarda algumas semelhanças com o Death Ship de 1980, mesmo não sendo considerado um remake deste. O fato é que as poucas qualidades e os muitos defeitos são praticamente os mesmos: ambos iniciam a viagem de forma empolgante e vão afundando desastrosamente à medida que a trama avança. Aliás, a sequência de abertura de Navio Fantasma é nada menos do que memorável, sinistra e merecedora de todos os elogios dentro do gênero. Gabriel Byrne e Julianna Margulies trazem alguma credibilidade, mas estão pouco à vontade em seus papéis. A ambientação é o que há de melhor no longa, mas a direção ruim acaba por atrapalhar qualquer tentativa de causar apreensão no público. O mistério todo não convence, o verdadeiro vilão da história é previsível (alguns minutos e você já sabe de quem se trata) e a última cena consegue a proeza de tornar o filme ainda mais descartável.
Fragmentado
3.9 3,0K Assista AgoraFalar da(s) inspiradíssima(s) performance(s) de James McAvoy é chover no molhado, já que o ator é praticamente uma unanimidade. Então, vamos às outras qualidades que o longa possui! O roteiro é muito inteligente, original e nada ali é aleatório. Fragmentado é intrigante do início ao fim que, aliás, não me decepcionou.
O surgimento d'A Besta foi surpreendente e deu aquele tom fantástico que tava faltando pra ser uma legítima obra do controverso diretor, por mais que pareça destoar num primeiro momento. A convivência com os animais do zoológico e o meio como fatores determinantes na evolução da 24ª identidade deram um toque de genialidade ao desfecho. E a referência ao cultuado Corpo Fechado entusiasma até mesmo quem não é fã de heróis, quadrinhos e possíveis elementos de um universo compartilhado.
Um thriller divertido e muito bem construído que, apesar de ser entretenimento puro, cativa ainda mais por manter um dos pés na realidade.
Além do Transtorno Dissociativo de Identidade e distúrbios psicológicos em geral, a produção aborda diversos assuntos sempre pertinentes de serem discutidos como o poder da mente, a pedofilia e a empatia entre vítimas de abusos e traumas.
Anya Taylor-Joy é promissora e a veterana Betty Buckley destaca-se como coadjuvante, mas nós sabemos quem domina aqui: o multifacetado protagonista e o grande contador de histórias que, felizmente, não perdeu sua capacidade de envolver o público. Shyamalan vive!
O Milagre de Anne Sullivan
4.4 217 Assista AgoraSão duas atuações poderosíssimas e complementares. De um lado, Anne Bancroft dá vida à personagem-título com precisão, autenticidade e sem excessos. Do outro está Patty Duke, numa das maiores interpretações infanto-juvenis de que se tem notícia. Fiquei totalmente impressionado com a garota e esse talento absurdo. Mas também me senti incomodado, aflito, tocado e, em certos momentos, me peguei rindo de nervoso tamanho o desafio que era para a professora em fazer Helen libertar-se das limitações e da falta de entendimento. A direção de Arthur Penn é firme e jamais renega a origem teatral da obra, onde a casa dos Keller é praticamente o único cenário que temos, os embates entre as protagonistas chegam a ser coreográficos e o texto é primoroso, com diálogos que ecoam na mente muito tempo após o término do filme. A sequência da sala de jantar desestabiliza qualquer um e o desfecho é inesquecível. A superproteção e despreparo da família com relação à deficiência de Helen é algo tão presente até hoje, o que faz de O Milagre de Anne Sullivan uma produção atemporal e de suma importância. Assistam!
Adoráveis Mulheres
3.8 231 Assista AgoraEis um filme de essência feminista que não se rende a pedantismos e banalizações, assim como alguns que abordam essa causa. É tudo passado com muita naturalidade, o que acaba por cativar o espectador enquanto acompanha-se o amadurecimento das irmãs, a convivência no âmbito familiar e as adversidades enfrentadas. E que elenco fabuloso é esse?! Winona imprime uma personalidade radiante à sua Jo e demonstra o porquê de ter feito tanto sucesso nas décadas de 80 e 90. Mais uma excelente interpretação! A sempre ótima e talentosa Claire Danes comove sem muito esforço, mesmo sendo coadjuvante. Kirsten Dunst ainda criança, Susan Sarandon, Christian Bale, Eric Stoltz e Gabriel Byrne completam essa constelação apaixonante, todos brilhando em seus respectivos papéis. Certamente, um dos melhores romances de época que eu já tive o prazer de assistir.
Em um primeiro momento, também achei que Laurie e Jo deveriam ter ficado juntos, mas ela era tão à frente de seu tempo e madura para a idade que nada como um homem mais velho tal qual Bhaer para entrar nesse páreo. Sem contar que compartilhavam muitas afinidades e ele tinha um espírito incentivador. Ah, e a cena do reencontro na chuva é uma beleza!
Como pude conferir este clássico recém agora, mais de duas décadas após o seu lançamento?! Encantador define.
La La Land: Cantando Estações
4.1 3,6K Assista AgoraTão maravilhoso! E parece que virou modinha desmerecer essa ode ao cinema e aos grandes musicais de antigamente... Entendo que a produção tenha seguido uma fórmula infalível e conveniente para fazê-la funcionar, mas que mal há nisso?! Primeiramente, achei o Oscar de direção pro Chazelle um dos mais justos dos últimos anos. Só pela sequência inicial no engarrafamento ele já merecia o prêmio, mas seu árduo trabalho vai bem além disso. Gosto bastante do gênero, mas costumo torcer o nariz para filmes excessivamente 'cantados e dançados'. Mais um ponto para o diretor, que trouxe o equilíbrio perfeito entre fantasia, romance, drama, os tais números musicais e as discussões/diálogos entre a dupla de protagonistas. Aliás, a química entre eles é incrível e já penso em assistir aos outros dois longas em que atuaram juntos. Ryan Gosling e Emma Stone estão igualmente ótimos e carismáticos, mas nada que justifique a Academia tê-la agraciado como melhor atriz (a francesa Huppert merecia ter levado e todos sabemos disso). Quanto aos aspectos técnicos, La La Land é uma obra de encher os olhos: cinematografia, cenários e figurinos lindos, mas nunca extravagantes. A atmosfera retrô é irresistível e o desfecho, memorável.
Outro ponto para Chazelle, que foi capaz de quebrar nossas expectativas (e corações) com o final desolador dessa história de amor e de sonhos...
Ps.: Também não há mal algum em ser romântico. Vai para os favoritos!
O Filho de Saul
3.7 254 Assista AgoraDaqueles que chegam ao fim e te deixam na dúvida sobre ter gostado ou não, enquanto os créditos passam. O filme é cru, difícil e incômodo, por vezes intragável. É diferente de qualquer outra produção sobre o Holocausto e isso é um feito e tanto. A câmera é eficiente e desconcertante ao evitar o horror explícito e literalmente apoia-se na enigmática persona de Saul, muito bem defendida por Géza Röhrig. O diretor não almeja emocionar ou chocar, apenas contar uma história de sobrevivência sob um viés de fuga da realidade que o protagonista experimentava. Tudo isso sem respostas fáceis e sem julgamentos acerca das motivações que conduziam o prisioneiro em sua obstinada (obsessiva, talvez) jornada.
E o filho, que dá a entender nem ser seu, serviria como força motriz para ele seguir seu curso diante do caos.
Um longa pra se ver uma única vez na vida. E quanto ao Oscar de filme em língua estrangeira, creio que tenha levado mais pela temática do que por ser excepcional.