Fábio Muniz

Uma abordagem (Mas não a única) metafórica sobre a dinâmica, história e conceitos cristãos.
Grace (A Graça) representa Jesus. Bondosa, justa, generosa, benevolente... Foi dada a Dogville como uma dádiva, um presente, contrariando o pensamento do próprio Tom de que a cidade não era do tipo onde presentes caíam do céu. Ao chegar, a Graça (divina) é vista com desconfiança, cautela, como não necessária... Mas gradativamente vai se mostrando "boa" para a cidade. Atenciosa e prestativa, começa a dar outras perspectivas aos moradores, além de ajudá-los e fazer aquilo que não precisava ser feito.
Com o tempo, Grace conquista a todos. De alguma forma forma sua presença torna a vida de todos um pouco melhor, torna a comunidade de Dogville melhor. No entanto, com o passar do tempo, tudo aquilo que "não precisava ser feito" torna-se imprescindível aos moradores da cidade, tornando-os mesquinhos e abusivos, some-se a isso o fato dela estar sendo procurada e depender da compaixão deles.
Grace, assim como o messias, passa por seu calvário. É abusada, explorada, violentada... E mesmo assim se mantém resignada, passiva, bondosa e crente que ainda há bondade naquelas pessoas, como quem diz "Perdoe-os, pai. Eles não sabem o que fazem.".
No fim, com a ameaça do perigoso e TODO PODEROSO "perseguidor" de Grace, que é uma menção de uma figura que remete a temor e autoridade, e com a exposição da face nefasta de todos os cidadãos da cidade por Grace em seu "julgamento final", eles decidem que é melhor rechaçá-la, livrarem-se dele, ignorar sua "mensagem", Inclusive Thomas Edison (O "inventor" da lâmpada, o iluminado intelectualmente, o pensador, o racional).
O diálogo final entre a graça misericordiosa e o todo poderoso é fantástico e justifica toda a construção do filme. Uma visão é austera, dura, vingativa, furiosa e superior (Antigo testamento), já a outra é amorosa, piedosa, compreensiva e esperançosa na virtude humana (Novo testamento). Um acusa o outro de arrogância, ambos apresentam seus pontos.... E na conclusão entre piedade e punição, A Graça se dá conta que não há mais salvação ali, não sobrou nenhuma virtude, não adianta. Então, diferente do proposto pela mitologia cristã, Grace decide que Dogville deve ser eliminada, e em um final catártico, onde o espectador se sente vingado, todo o mal daquele lugar é varrido do mundo.
Vale ressaltar também alguns detalhes do filme como, por exemplo, o todo poderoso não poder ser visto por ninguém, ele aparece para os cães daquela cidade (Como ele mesmo se refere) como uma representação de um grande poder, grande autoridade, mas nunca fisicamente, a sua imagem é intangível aos meros mortais. Outro ponto interessante também é que o único sobrevivente do extermínio, aquele que descerá das montanhas após ter testemunhado "encontro" com o todo poderoso é justamente Moisés. O fato de Grace ter mencionado, em sua primeira conversa com Tom, "Não tenho família, só tive um pai..." vale ser observado.

A ausência de paredes e afins mostra que todos ali partilham de uma mesma vida, não há segredos, todos, de uma forma ou de outra, sabem o que acontece ali. Isso fica muito claro com os estupros de Grace, todos sabem, todos veem, mas preferem ser hipócritas a isso e fingir que nada acontece.

tem um ar realmente angelical e sereno, algo divino.

Após o termino do seu casamento, o Bruno entrou em um processo de tristeza que fez com que ele fosse gradativamente deixando de se importar/perceber com as coisas ao seu redor, das coisas/pessoas menos importantes (Como um desconhecido fazendo uma pergunta no ponto de ônibus e um motorista de táxi), passando pelas coisas/pessoas com importância moderada na sua vida (Alguns colegas que estavam na festinha com ele e pessoas do trabalho), até as coisas/pessoas mais importantes (Como o melhor amigo e até mesmo sua mãe, que ele não viu caída na sala).
Após a morte da mãe, ele entra mais ainda nesse processo quando tudo mais deixa de ter importância, inclusive sua própria vida.
Ele ter enxergado a prostituta no fim representa uma esperança,