Últimas opiniões enviadas
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Muito interessante o experimentalismo de Reichenbach nesse filme. Ele utiliza de diversas fontes para tecer uma atualização do mito de Fausto, desde as mudanças sociais e políticas do século XX, na figura da contracultura, até a mitologia grega, apropriando-se do mito grego de Faetonte. O monólogo final, aliás, é muito condizente com a história de Faetonte, que era filho do Deus Apolo e ousou montar na carruagem do deus sol por um dia.
O resultado é parecido com o de Fausto no longa, Faetonte lançou-se ao redor do mundo e - ousando ser deus por um dia - ateou fogo no mundo ao perder o controle da carruagem, tendo seu término ao ser fulminado por um raio de Zeus e se tornando uma estrela envolta em chamas, caindo no rio Reno. Sua queda certamente nos remete a Lúcifer e toda a temática de Fausto entre deus e o diabo, conhecimento e tradição religiosa, valores, costumes e progesso. Assim, a crise espitirual do protagonista serve como um símbolo para as dicotomias presentes na espécie humana contemporânea.
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A cada vez que revisito esse filme ele parecer melhorar. Isso é a marca de uma grande obra, que cresce e adquire novos significados com tempo. Acho que das primeiras vezes que vi, tive a tendência de enxergar o Andrew apenas como uma vítima de diversos abusos e cujo desejo de grandeza e perfeição é praticamente ilimitado.
Não creio mais que seja apenas isso, agora o personagem me pareceu mais sombrio e perturbador, na essência não acho que ele seja tão distinto de Fletcher. Há um sadismo dentro de ambos, embora em Andrew tal tendência sádica apareça como um sentimento de altivez em relação a si próprio, ao passo que em Fletcher expõe-se na manipulação e humilhação de terceiros.
Últimos recados
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Carlos me pareceu representar uma espécie de protótipo da humanidade pós-segunda guerra, no período que geralmente chamado de capitalismo tardio. Trata-se de um homem sem destino, de certa forma, ou ao menos fadado a agonizante falta de algo, ou alguma ideia inescrutável.
Carlos é o homem secularizado, que substituiu os valores e dogmas religiosos pelo saber técnico-científico, preso em uma lógica experimental de eterna produção e produtos fadados ao perecimento. Na metrópole não existe qualquer tipo de valoração e nem espaço para o aparecimento de qualquer aspecto essencial da realidade, tudo se perde nas infindáveis e egocêntricas tarefas de cada indivíduo em prol de um sistema sem alma.