Carlos me pareceu representar uma espécie de protótipo da humanidade pós-segunda guerra, no período que geralmente chamado de capitalismo tardio. Trata-se de um homem sem destino, de certa forma, ou ao menos fadado a agonizante falta de algo, ou alguma ideia inescrutável.
Carlos é o homem secularizado, que substituiu os valores e dogmas religiosos pelo saber técnico-científico, preso em uma lógica experimental de eterna produção e produtos fadados ao perecimento. Na metrópole não existe qualquer tipo de valoração e nem espaço para o aparecimento de qualquer aspecto essencial da realidade, tudo se perde nas infindáveis e egocêntricas tarefas de cada indivíduo em prol de um sistema sem alma.
Muito interessante o experimentalismo de Reichenbach nesse filme. Ele utiliza de diversas fontes para tecer uma atualização do mito de Fausto, desde as mudanças sociais e políticas do século XX, na figura da contracultura, até a mitologia grega, apropriando-se do mito grego de Faetonte. O monólogo final, aliás, é muito condizente com a história de Faetonte, que era filho do Deus Apolo e ousou montar na carruagem do deus sol por um dia.
O resultado é parecido com o de Fausto no longa, Faetonte lançou-se ao redor do mundo e - ousando ser deus por um dia - ateou fogo no mundo ao perder o controle da carruagem, tendo seu término ao ser fulminado por um raio de Zeus e se tornando uma estrela envolta em chamas, caindo no rio Reno. Sua queda certamente nos remete a Lúcifer e toda a temática de Fausto entre deus e o diabo, conhecimento e tradição religiosa, valores, costumes e progesso. Assim, a crise espitirual do protagonista serve como um símbolo para as dicotomias presentes na espécie humana contemporânea.
A cada vez que revisito esse filme ele parecer melhorar. Isso é a marca de uma grande obra, que cresce e adquire novos significados com tempo. Acho que das primeiras vezes que vi, tive a tendência de enxergar o Andrew apenas como uma vítima de diversos abusos e cujo desejo de grandeza e perfeição é praticamente ilimitado.
Não creio mais que seja apenas isso, agora o personagem me pareceu mais sombrio e perturbador, na essência não acho que ele seja tão distinto de Fletcher. Há um sadismo dentro de ambos, embora em Andrew tal tendência sádica apareça como um sentimento de altivez em relação a si próprio, ao passo que em Fletcher expõe-se na manipulação e humilhação de terceiros.
Um filme com muitas camadas e possibilidades de reflexão. A mais explícita é que se trata de uma narrativa sobre os males do preconceito e dos estereótipos, algo que o filme trabalha muito bem com seus personagens oriundos de diferentes profissões, educação e condições econômicas. O ponto central é a justiça, figurada na decisão de condenar ou não o garoto, porém interpreto esse caso particular como uma espécie de símbolo para a noção de justiça social, neste caso o garoto representaria uma classe social marginalizada pela mentalidade de grupo permeada no contexto de macartismo da época nos EUA.
Indo mais além, achei muito frutífera a discussão a nível epistemológico envolvida na narrativa, na qual noções de causalidade são relativizadas, assim como certezas fundadas na mera crença subjetiva.
Zona de interesse não é um filme típico sobre o Holocausto, não se trata de uma narrativa com ênfase na violência chocante e cruel perpetrada pelo nazismo, tampouco há depoimentos de sobreviventes relatando os horrores da fome, do frio e do cansaço. Todavia, o longa se destaca como uma denúncia profunda não apenas dos perigos do fascismo, mas da própria humanidade. A decisão de contar a história sob a perspectiva dos perpetradores e praticamente de forma neutra, nos convida a julgar por nós mesmos. A família nazista nem sequer reconhece sua vileza, não há nem mesmo uma ponderação sobre os barulhos e gritos escutados do outro lado do muro.
Nessa via, enquanto a família conduz sua rotina tranquilamente, é inevitável ao espectador deixar passar despercebido uma sensação de vazio, algo análogo a falta de sentido, reiterado pela artificialidade do lar e convivência da família Hoss. Se na maior parte do tempo nossas ações são neutras do ponto de vista moral, na medida em que não há julgamento moral em nossos afazeres domésticos, como: lavar roupa, louças ou comer, tais ações simples são totalmente imorais e dignas de repúdio ao nossos olhos quando contemplamos a vida da família Hoss. Se chegamos a esse ponto, no qual as ações simples da vida se tornam imorais, significa que a humanidade se degradou ao ponto de não reconhecer o mal em si mesma, quem dirá o mal que se causa a outros.
A possibilidade de ignorar o mal e de se viver de forma tranquila pelo alto escalão nazista é dada por um senso de dever completamente distorcido, o próprio Eichmann foi capaz de dizer que seus crimes eram justificados pelo imperativo categórico de Kant, uma distorção total e grotesca da ética kantiana. A família retratada aqui segue a mesma linha, assim como os burocratas genocidas na sala de reunião decidindo a logística de extermínio de um povo como se fosse algo trivial. Chamo a atenção para a mãe da personagem da matriarca que parecia conivente com todo o contexto, mas ao ouvir os sons de Auschwitz fugiu. Fica a questão da motivação para a fuga, seria culpa, arrependimento? De todo modo, é muito pouco.
Para quem pensou que a jornada de Odisseu foi dura, espere até ver a noite fatídica de Paul, um herói caído e constantemente flagelado pelos próprios desejos. O filme têm diversas camadas: explora a sexualidade, o papel da arte, o trabalho e tudo isso com uma boa dose de humor.
As histórias a cada apartamento e personagem encontrados pelo protagonista, por si só já tem imenso valor e significado. A cinematografia e a atuação de Griffin Dunne fazem o longa parecer um frenesi seguido da privação do protagonista. Nesse sentido, creio que um dos temas do filme seja criticar a noção de trabalho no contexto urbano, na medida em que Paul, no início do filme, demonstra total desinteresse nas aspirações profissionais de seu colega de trabalho, buscando alívio em um possível encontro sexual. O personagem se mostra explorado durante o filme todo, lutando contra o sono e em diversos momentos se apresenta preocupado com sua aparência - indo até o espelho lavar o rosto e ajeitar as roupas -, comportamentos estes que muito tem a ver com nossa cultura de trabalho.
Além disso, no final do terceiro ato, na cena em que Paul dança com a senhora e diz a ela: "Eu só quero viver" reforça o ponto de que todos os acontecimentos da noite tem um sentido simbólico. Ser perseguido por um multidão amorfa, sentir-se sozinho e desesperado, sem dinheiro e à mercê de um mundo sem ordem tendo, ainda por cima, a obrigação de ir trabalhar no dia seguinte é algo muito presente no modo de vida urbano da modernidade.
Há outros temas ricos presentes no filme, a questão da escultura de jornal e das vítimas queimaduras lembram os corpos preservados da erupção do Vesúvio em Pompéia.
"Nossas vidas são como casas construídas sobre areia. Um vento forte e tudo é levado."
Um dos melhores filmes que eu já assisti. Fiquei hipnotizado com o enquadramento, como é visualmente lindo! As temáticas são tão densas e ricas que demandam uma revisita no futuro. O mais impressionante é como a o enredo faz um eco com a história do Japão, especialmente no tema do orgulho que teve grandes consequências até Segunda Guerra. Entretanto, aquilo que mais chamou minha atenção foi abordagem da pobreza, do abandono das instituições ao indivíduo, trata-se de uma mensagem universal e triste, presente até hoje.
Sinceramente não entendi qual era a pretensão do Scott com esse filme. Um roteiro desconexo, totalmente confuso nas suas ideias e até mesmo nos fatos históricos. A falta de coesão da narrativa é tão grande que reflete até nas atuações, nunca vi Joaquim Phoenix em uma interpretação tão caricata. O longa é cômico em estilo satírico, porém falta profundidade na mensagem. Se a intenção era descontruir o arquétipo de magnificência de uma figura histórica, Scott o faz de um modo muito superficial e bidimensional. As fragilidades pessoais e particulares de Napoleão como indivíduo são indissociáveis de sua trajetória política e militar, todavia o filme não se aprofunda nas últimas, tampouco explora suficientemente bem o aspecto psicológico de Napoleão. O roteiro fica no meio do caminho em uma tentativa de narrar e situar o espectador na história, pulando de um período a outro precipitadamente, ao passo que tenta em vão demonstrar que tipo de ilusão habitava a mente de Napoleão.
A temática do filme por si só é muito sensível, tendo vista que a sobrevivência dos passageiros dependeu totalmente de se alimentar da carne dos próprios amigos. Todavia, o filme consegue expor e aprofundar os dilemas morais envolvidos nessa decisão, assim como demonstra que se tratava de uma decisão feita por cada um, mas sempre pensando na sobrevivência grupo. Quando eles voluntariam seus corpos aos amigos para que estes possam seguir em frente, fica muito claro que a coisa vai muito além da carne, trata-se de algo transcendente, uma oferta de vida através da morte. O filme elimina a linha fixa que separa vida e morte, mostrando que a morte está presente mesmo naqueles que ainda respiram.
O tom do filme é bastante humanista, isso fica exposto na fala do personagem Arturo quando este diz que deus é, em essência, seus amigos presos naquela situação terrível. De fato, formaram ali uma sociedade baseada na comunhão e solidariedade, provavelmente uma das poucas ocorrências de tal evento na história recente da humanidade.
As atuações, por sua vez, são excelentes e é nítido que todo o elenco tem um entrosamento muito forte. A cinematografia é linda e desoladora, evoca sentimentos tão diversos, às vezes de infinidade, outras de poder, ou ainda de indiferença.
É raro atualmente assistir a um filme no qual os personagens se respeitam tanto. A narrativa é linda e cheia de reflexões e emoções, a parte visual segue a mesma linha.
As atuações dos protagonistas são excelentes, mas a que mais me chamou atenção foi a do John Magaro.
Muita coisa desnecessária visualmente e no roteiro, também. É nítido a tentativa de utilizar de artificialidades para que o filme pareça sofisticado e elevado. Pra mim, a única demonstração de veracidade é a atuação da Carey Mulligan, no final, é ela quem dá vida ao filme.
Achei que a narrativa simplificou muito momentos históricos complexos, pareceu-me uma crítica rasa e maniqueísta. Óbvio que todo tipo de repressão à liberdade e direito de existir é algo ruim, mas o modo como se aborda tais temáticas não pode se basear na obviedade desta premissa. Parece que o filme fica no meio do caminho entre uma história de amor e uma crítica social.
Tendo em vista que muita gente já falou dos aspectos positivos do filme, vou falar do negativo:
Hollywood continua criando mitos que estão acima de tudo e de todos. Oppenheimer deixa seu bebê com um amigo e passam pano dizendo que de sua genialidade vem sacrifícios, ou seja, ele abandona seu recém-nascido e ainda sai como herói.
Não gostei tanto do filme, por mais que as atuações e o filme em si sejam comoventes, sinto que não há espaço para fantasias quando se trata do horror do Holocausto. Talvez, a minha impressão seja essa porque recentemente tenho lido livros de sobreviventes e as memórias destes, claramente mostram que não havia possibilidade de oposição quanto ao extermínio sistemático e industrial do terceiro Reich.
A história proposta por Roberto Benigni começa cômica, torna-se trágica e conclui-se com a "vitória" de Josué. A realidade seria bem mais cruel. Josué e sua mãe provavelmente seria exterminados em uma câmara de gás ao chegar no campo, ao passo que o pai teria o destino de trabalhar até eventualmente se esvair ou, na melhor das hipóteses, seria o único sobrevivente de sua família; história esta a de muitos homens que sobreviveram ao impossível, mas que, na cruel máquina de eliminação nazista, perderam tudo e aqueles que lhes eram mais queridos.
Impressionante! Em 1h30 Eisenstein avançou o cinema em décadas. É difícil acreditar que se trata de um filme de 1925, o modo com o qual o diretor usa as imagens para transmitir suas ideias e sentimentos é quase sobrenaturalmente contemporâneo.
Achei o filme muito inteligente para uma produção comercial hollywoodiana. Há uma certa relação entre o mundo perfeito de "Dreamland" e a corrupção do "Mundo Real" com a teoria das Formas platonista. Dreamland e Barbie servem como formas perfeitas, isto é, modelos para um mundo real de sombras imperfeitas daquelas Ideias.
O filme não se decide entre abordar o drama nos bastidores ou a carreira dentro do ringue de George Foreman. A sensação é de que correram com a história. Talvez fosse mais interessante fazer um recorte menos amplo, focado em um período específico.
Bresson funde a técnica furtiva de Michel com a técnica cinematográfica de montar um filme. Se os roubos seguem um processo lógico-sequencial, também a montagem do filme passa pelo mesmo processo.
Oshima demonstra total controle de cada quadro do filme, com muita precisão o diretor varia entre quadros distantes e closes nos rostos do casal, o que instiga não só o erotismo de uma paixão infinita, mas um amor que pretende unir dois corpos em um só, uma f espécie de recomposição do cordão umbilical freudiana transvestida no ato sexual.
A palavra "Reino" no título do filme é pontual, de fato, o casal cria um reino próprio e separado de toda a realidade, onde o prazer nunca pode cessar. Se Ulisses esteve preso em uma ilha dividindo o leito com a insaciável ninfa Calipso e suas servas conflituoso entre os prazeres da ilha e saudade da esposa, do filho e da pátria; Kichi, em contrapartida, abandona tudo e prende-se voluntariosamente à Sada e, como se ambos cultuassem religiosa e ritualisticamente a uma divindade, eles se entregam e se dissolvem não apenas às volúpias de seus corpos, mas ao estado puro do prazer.
São Paulo Sociedade Anônima
4.2 172Carlos me pareceu representar uma espécie de protótipo da humanidade pós-segunda guerra, no período que geralmente chamado de capitalismo tardio. Trata-se de um homem sem destino, de certa forma, ou ao menos fadado a agonizante falta de algo, ou alguma ideia inescrutável.
Carlos é o homem secularizado, que substituiu os valores e dogmas religiosos pelo saber técnico-científico, preso em uma lógica experimental de eterna produção e produtos fadados ao perecimento. Na metrópole não existe qualquer tipo de valoração e nem espaço para o aparecimento de qualquer aspecto essencial da realidade, tudo se perde nas infindáveis e egocêntricas tarefas de cada indivíduo em prol de um sistema sem alma.
Filme Demência
4.1 42 Assista AgoraMuito interessante o experimentalismo de Reichenbach nesse filme. Ele utiliza de diversas fontes para tecer uma atualização do mito de Fausto, desde as mudanças sociais e políticas do século XX, na figura da contracultura, até a mitologia grega, apropriando-se do mito grego de Faetonte. O monólogo final, aliás, é muito condizente com a história de Faetonte, que era filho do Deus Apolo e ousou montar na carruagem do deus sol por um dia.
O resultado é parecido com o de Fausto no longa, Faetonte lançou-se ao redor do mundo e - ousando ser deus por um dia - ateou fogo no mundo ao perder o controle da carruagem, tendo seu término ao ser fulminado por um raio de Zeus e se tornando uma estrela envolta em chamas, caindo no rio Reno. Sua queda certamente nos remete a Lúcifer e toda a temática de Fausto entre deus e o diabo, conhecimento e tradição religiosa, valores, costumes e progesso. Assim, a crise espitirual do protagonista serve como um símbolo para as dicotomias presentes na espécie humana contemporânea.
Whiplash: Em Busca da Perfeição
4.4 4,1K Assista AgoraA cada vez que revisito esse filme ele parecer melhorar. Isso é a marca de uma grande obra, que cresce e adquire novos significados com tempo. Acho que das primeiras vezes que vi, tive a tendência de enxergar o Andrew apenas como uma vítima de diversos abusos e cujo desejo de grandeza e perfeição é praticamente ilimitado.
Não creio mais que seja apenas isso, agora o personagem me pareceu mais sombrio e perturbador, na essência não acho que ele seja tão distinto de Fletcher. Há um sadismo dentro de ambos, embora em Andrew tal tendência sádica apareça como um sentimento de altivez em relação a si próprio, ao passo que em Fletcher expõe-se na manipulação e humilhação de terceiros.
12 Homens e Uma Sentença
4.6 1,2K Assista AgoraUm filme com muitas camadas e possibilidades de reflexão. A mais explícita é que se trata de uma narrativa sobre os males do preconceito e dos estereótipos, algo que o filme trabalha muito bem com seus personagens oriundos de diferentes profissões, educação e condições econômicas. O ponto central é a justiça, figurada na decisão de condenar ou não o garoto, porém interpreto esse caso particular como uma espécie de símbolo para a noção de justiça social, neste caso o garoto representaria uma classe social marginalizada pela mentalidade de grupo permeada no contexto de macartismo da época nos EUA.
Indo mais além, achei muito frutífera a discussão a nível epistemológico envolvida na narrativa, na qual noções de causalidade são relativizadas, assim como certezas fundadas na mera crença subjetiva.
Zona de Interesse
3.6 582 Assista AgoraZona de interesse não é um filme típico sobre o Holocausto, não se trata de uma narrativa com ênfase na violência chocante e cruel perpetrada pelo nazismo, tampouco há depoimentos de sobreviventes relatando os horrores da fome, do frio e do cansaço. Todavia, o longa se destaca como uma denúncia profunda não apenas dos perigos do fascismo, mas da própria humanidade. A decisão de contar a história sob a perspectiva dos perpetradores e praticamente de forma neutra, nos convida a julgar por nós mesmos. A família nazista nem sequer reconhece sua vileza, não há nem mesmo uma ponderação sobre os barulhos e gritos escutados do outro lado do muro.
Nessa via, enquanto a família conduz sua rotina tranquilamente, é inevitável ao espectador deixar passar despercebido uma sensação de vazio, algo análogo a falta de sentido, reiterado pela artificialidade do lar e convivência da família Hoss. Se na maior parte do tempo nossas ações são neutras do ponto de vista moral, na medida em que não há julgamento moral em nossos afazeres domésticos, como: lavar roupa, louças ou comer, tais ações simples são totalmente imorais e dignas de repúdio ao nossos olhos quando contemplamos a vida da família Hoss. Se chegamos a esse ponto, no qual as ações simples da vida se tornam imorais, significa que a humanidade se degradou ao ponto de não reconhecer o mal em si mesma, quem dirá o mal que se causa a outros.
A possibilidade de ignorar o mal e de se viver de forma tranquila pelo alto escalão nazista é dada por um senso de dever completamente distorcido, o próprio Eichmann foi capaz de dizer que seus crimes eram justificados pelo imperativo categórico de Kant, uma distorção total e grotesca da ética kantiana. A família retratada aqui segue a mesma linha, assim como os burocratas genocidas na sala de reunião decidindo a logística de extermínio de um povo como se fosse algo trivial. Chamo a atenção para a mãe da personagem da matriarca que parecia conivente com todo o contexto, mas ao ouvir os sons de Auschwitz fugiu. Fica a questão da motivação para a fuga, seria culpa, arrependimento? De todo modo, é muito pouco.
Garra de Ferro
3.9 108Vibes de The Wrestler, porém mais dark.
Depois de Horas
4.0 453 Assista AgoraPara quem pensou que a jornada de Odisseu foi dura, espere até ver a noite fatídica de Paul, um herói caído e constantemente flagelado pelos próprios desejos. O filme têm diversas camadas: explora a sexualidade, o papel da arte, o trabalho e tudo isso com uma boa dose de humor.
As histórias a cada apartamento e personagem encontrados pelo protagonista, por si só já tem imenso valor e significado. A cinematografia e a atuação de Griffin Dunne fazem o longa parecer um frenesi seguido da privação do protagonista. Nesse sentido, creio que um dos temas do filme seja criticar a noção de trabalho no contexto urbano, na medida em que Paul, no início do filme, demonstra total desinteresse nas aspirações profissionais de seu colega de trabalho, buscando alívio em um possível encontro sexual. O personagem se mostra explorado durante o filme todo, lutando contra o sono e em diversos momentos se apresenta preocupado com sua aparência - indo até o espelho lavar o rosto e ajeitar as roupas -, comportamentos estes que muito tem a ver com nossa cultura de trabalho.
Além disso, no final do terceiro ato, na cena em que Paul dança com a senhora e diz a ela: "Eu só quero viver" reforça o ponto de que todos os acontecimentos da noite tem um sentido simbólico. Ser perseguido por um multidão amorfa, sentir-se sozinho e desesperado, sem dinheiro e à mercê de um mundo sem ordem tendo, ainda por cima, a obrigação de ir trabalhar no dia seguinte é algo muito presente no modo de vida urbano da modernidade.
Há outros temas ricos presentes no filme, a questão da escultura de jornal e das vítimas queimaduras lembram os corpos preservados da erupção do Vesúvio em Pompéia.
Harakiri
4.6 179"Nossas vidas são como casas construídas sobre areia. Um vento forte e tudo é levado."
Um dos melhores filmes que eu já assisti. Fiquei hipnotizado com o enquadramento, como é visualmente lindo! As temáticas são tão densas e ricas que demandam uma revisita no futuro. O mais impressionante é como a o enredo faz um eco com a história do Japão, especialmente no tema do orgulho que teve grandes consequências até Segunda Guerra. Entretanto, aquilo que mais chamou minha atenção foi abordagem da pobreza, do abandono das instituições ao indivíduo, trata-se de uma mensagem universal e triste, presente até hoje.
Napoleão
3.1 321 Assista AgoraSinceramente não entendi qual era a pretensão do Scott com esse filme. Um roteiro desconexo, totalmente confuso nas suas ideias e até mesmo nos fatos históricos. A falta de coesão da narrativa é tão grande que reflete até nas atuações, nunca vi Joaquim Phoenix em uma interpretação tão caricata. O longa é cômico em estilo satírico, porém falta profundidade na mensagem. Se a intenção era descontruir o arquétipo de magnificência de uma figura histórica, Scott o faz de um modo muito superficial e bidimensional. As fragilidades pessoais e particulares de Napoleão como indivíduo são indissociáveis de sua trajetória política e militar, todavia o filme não se aprofunda nas últimas, tampouco explora suficientemente bem o aspecto psicológico de Napoleão. O roteiro fica no meio do caminho em uma tentativa de narrar e situar o espectador na história, pulando de um período a outro precipitadamente, ao passo que tenta em vão demonstrar que tipo de ilusão habitava a mente de Napoleão.
A Sociedade da Neve
4.2 713 Assista AgoraA temática do filme por si só é muito sensível, tendo vista que a sobrevivência dos passageiros dependeu totalmente de se alimentar da carne dos próprios amigos. Todavia, o filme consegue expor e aprofundar os dilemas morais envolvidos nessa decisão, assim como demonstra que se tratava de uma decisão feita por cada um, mas sempre pensando na sobrevivência grupo. Quando eles voluntariam seus corpos aos amigos para que estes possam seguir em frente, fica muito claro que a coisa vai muito além da carne, trata-se de algo transcendente, uma oferta de vida através da morte. O filme elimina a linha fixa que separa vida e morte, mostrando que a morte está presente mesmo naqueles que ainda respiram.
O tom do filme é bastante humanista, isso fica exposto na fala do personagem Arturo quando este diz que deus é, em essência, seus amigos presos naquela situação terrível. De fato, formaram ali uma sociedade baseada na comunhão e solidariedade, provavelmente uma das poucas ocorrências de tal evento na história recente da humanidade.
As atuações, por sua vez, são excelentes e é nítido que todo o elenco tem um entrosamento muito forte. A cinematografia é linda e desoladora, evoca sentimentos tão diversos, às vezes de infinidade, outras de poder, ou ainda de indiferença.
Vidas Passadas
4.2 729 Assista AgoraÉ raro atualmente assistir a um filme no qual os personagens se respeitam tanto. A narrativa é linda e cheia de reflexões e emoções, a parte visual segue a mesma linha.
As atuações dos protagonistas são excelentes, mas a que mais me chamou atenção foi a do John Magaro.
Maestro
3.1 260Muita coisa desnecessária visualmente e no roteiro, também. É nítido a tentativa de utilizar de artificialidades para que o filme pareça sofisticado e elevado. Pra mim, a única demonstração de veracidade é a atuação da Carey Mulligan, no final, é ela quem dá vida ao filme.
A Felicidade Não Se Compra
4.5 1,2K Assista AgoraEntrou pros meus favoritos e acho que tenho um novo filme para assistir no fim de ano.
Uma História de Amor e Fúria
4.0 657Achei que a narrativa simplificou muito momentos históricos complexos, pareceu-me uma crítica rasa e maniqueísta. Óbvio que todo tipo de repressão à liberdade e direito de existir é algo ruim, mas o modo como se aborda tais temáticas não pode se basear na obviedade desta premissa. Parece que o filme fica no meio do caminho entre uma história de amor e uma crítica social.
Oppenheimer
4.0 1,1KTendo em vista que muita gente já falou dos aspectos positivos do filme, vou falar do negativo:
Hollywood continua criando mitos que estão acima de tudo e de todos. Oppenheimer deixa seu bebê com um amigo e passam pano dizendo que de sua genialidade vem sacrifícios, ou seja, ele abandona seu recém-nascido e ainda sai como herói.
A Bruxa de Blair
3.1 1,6KDetestei, não é porque um filme é "experimentalista" que é bom.
Passagens
3.4 79 Assista AgoraTalvez muito francês pra mim...
A Vida é Bela
4.5 2,7K Assista AgoraNão gostei tanto do filme, por mais que as atuações e o filme em si sejam comoventes, sinto que não há espaço para fantasias quando se trata do horror do Holocausto. Talvez, a minha impressão seja essa porque recentemente tenho lido livros de sobreviventes e as memórias destes, claramente mostram que não havia possibilidade de oposição quanto ao extermínio sistemático e industrial do terceiro Reich.
A história proposta por Roberto Benigni começa cômica, torna-se trágica e conclui-se com a "vitória" de Josué. A realidade seria bem mais cruel. Josué e sua mãe provavelmente seria exterminados em uma câmara de gás ao chegar no campo, ao passo que o pai teria o destino de trabalhar até eventualmente se esvair ou, na melhor das hipóteses, seria o único sobrevivente de sua família; história esta a de muitos homens que sobreviveram ao impossível, mas que, na cruel máquina de eliminação nazista, perderam tudo e aqueles que lhes eram mais queridos.
A Greve
4.1 62 Assista AgoraImpressionante! Em 1h30 Eisenstein avançou o cinema em décadas. É difícil acreditar que se trata de um filme de 1925, o modo com o qual o diretor usa as imagens para transmitir suas ideias e sentimentos é quase sobrenaturalmente contemporâneo.
Barbie
3.9 1,6K Assista AgoraAchei o filme muito inteligente para uma produção comercial hollywoodiana. Há uma certa relação entre o mundo perfeito de "Dreamland" e a corrupção do "Mundo Real" com a teoria das Formas platonista. Dreamland e Barbie servem como formas perfeitas, isto é, modelos para um mundo real de sombras imperfeitas daquelas Ideias.
Carne Trêmula
4.0 582A sensualidade nos filmes do Almodóvar é algo sublime
George Foreman: Sua História
3.4 15 Assista AgoraO filme não se decide entre abordar o drama nos bastidores ou a carreira dentro do ringue de George Foreman. A sensação é de que correram com a história. Talvez fosse mais interessante fazer um recorte menos amplo, focado em um período específico.
O Batedor de Carteiras
3.9 117Bresson funde a técnica furtiva de Michel com a técnica cinematográfica de montar um filme. Se os roubos seguem um processo lógico-sequencial, também a montagem do filme passa pelo mesmo processo.
O Império dos Sentidos
3.3 304 Assista AgoraOshima demonstra total controle de cada quadro do filme, com muita precisão o diretor varia entre quadros distantes e closes nos rostos do casal, o que instiga não só o erotismo de uma paixão infinita, mas um amor que pretende unir dois corpos em um só, uma f espécie de recomposição do cordão umbilical freudiana transvestida no ato sexual.
A palavra "Reino" no título do filme é pontual, de fato, o casal cria um reino próprio e separado de toda a realidade, onde o prazer nunca pode cessar. Se Ulisses esteve preso em uma ilha dividindo o leito com a insaciável ninfa Calipso e suas servas conflituoso entre os prazeres da ilha e saudade da esposa, do filho e da pátria; Kichi, em contrapartida, abandona tudo e prende-se voluntariosamente à Sada e, como se ambos cultuassem religiosa e ritualisticamente a uma divindade, eles se entregam e se dissolvem não apenas às volúpias de seus corpos, mas ao estado puro do prazer.