Falar sobre a vida e obra da filósofa Hannah Arendt (1906-1975) não é uma tarefa fácil tampouco simples. Tudo porque em grande medida Hannah foi pouco compreendida em sua época e, por tabela, ainda temos dificuldade de entender a força da sua escrita e sua grande contribuição para o pensamento Ocidental, sobretudo, no que diz respeito à política e à compreensão da chamada condição humana.
A biografia da própria Hannah também é marcada por esta gama de complexidades que envolvem seus escritos. Ela que em suas inúmeras entrevistas sempre preferiu ser chamada de cientista política à filósofa, debateu temas variados como educação, o espaço público, autoritarismo, totalitarismo, sobretudo, nestes últimos temas é que encontramos a maior expressão da força de sua escrita. Em sua trajetória, Hannah dialogou com diversos ramos do saber como História, Psicologia, Direito, Pedagogia, Ciências Sociais e a Filosofia. É inegável sua marca na história do século XX.
Mas afinal, quem foi Hannah Arendt, e de que maneira um filme que aborde uma parte de sua trajetória pode nos ajudar a compreender as questões de gênero? Bem, como pensadora da política e, sobretudo, da liberdade, é a partir dos escritos, e da própria vida da filósofa judia, que entenderemos aquilo que a disciplina se propôs a discutir. Primeiro, Hannah foi uma mulher e intelectual do século XX que testemunhou em sua própria vida as limitações que a sua identidade feminina infligia. Nascida na Alemanha, na época da II Guerra Mundial (1939-1945), Hannah foi mandada para um campo de concentração, mas conseguiu fugir e se instalar nos Estados Unidos, ainda em 1941. Permaneceu dez anos sem direitos políticos, exilada e apátrida, obtendo sua cidadania americana em 1951, quando passou a dar aulas em universidades de Chicago e Nova York. Na política, Hannah foi criada como liberal fruto da influência materna (a mãe de Hannah era uma entusiasta das ideias da social- democracia), por isto apoiava um sistema de democracia direta, criticando abertamente o sistema de democracia representativa tão cara para alguns setores da esquerda, com quem Hannah divergiu em muitos momentos.
Em grande medida, o que se vê na própria biografia da Hannah é esta defesa a uma política ativa, plural e, sobretudo, cuja liberdade seja a essência das decisões. Exatamente neste sentido, sua máxima contribuição para o pensamento Ocidental do século XX foi ter mostrado que os horrores do campo de concentração ou do totalitarismo (da Alemanha nazista, da Itália fascista ou da Rússia comunista) não foi uma ação do excesso de política, já que tais regimes, segundo Hannah (*Origens do Totalitarismo) são o resultado do esvaziamento da liberdade, que é o sentido prático da política. A política, na compreensão de Arendt é uma experiência de liberdade. E é sobre esta sua percepção da política enquanto liberdade que encontramos a sua luta, aqui detalhada no filme de Margarethe Von Trotta (2013), onde uma das histórias mais polêmicas da biografia da Hannah Arendt é trazida ao conhecimento do público. Trata-se, portanto, da publicação de seus escritos conhecido como “o caso Eichmann”, publicado posteriormente (em 1963), com o título de *Eichmann em Jerusalém: um relato sobre a banalidade do mal. O livro é considerado por muitos sua obra prima, e o filme aborda justamente os bastidores do processo de produção dos escritos contidos no livro. Na ocasião, em 1961, Hannah foi convidada por um jornal americano para cobrir o julgamento de Eichmann, oficial nazista, em Jerusalém. Hannah então recebeu a tarefa de apenas contar o que aconteceu no julgamento, uma espécie de repórter da revista New Yorker.
Foram cinco grandes reportagens feitas por Hannah, e cujo resultado esperado era que Hannah cumprisse o pedido do editor do jornal, e explorasse apenas o cotidiano do julgamento. O que vemos (sobretudo na leitura atenta do livro) é a mais poderosa reflexão sobre os acontecimentos da II Guerra Mundial. Hannah disseca a mediocridade do pensamento moderno, cuja obediência e superficialidade recaem no que a filósofa chamou de “banalização do mal”. Arendt se nega a endossar o discurso do homem moderno ao chamar o oficial nazista de monstro, o qual ela prefere chamar de pessoa normal, um ninguém, um burocrata cumprindo sua função. Esta tese é apresentada no livro citado. Como mostrado no filme, a tese foi mal recebida, mesmo sendo a coisa mais impactante em termos de compreensão sobre o totalitarismo e a modernidade. Hannah já havia trazido indagações sobre o “fenômeno do mal”, iniciada em “Origens do Totalitarismo” (outra de suas grandes obras). Particularmente,
a parte em que Hannah expõe a defesa de seu pensamento em sala de aula é brilhante (um dos pontos altos do filme, que realmente empolga e nos tira do nosso lugar de acomodação). A própria Hannah alega que esperava encontrar um perverso, um fanático político cujas ações foram influenciadas por sua ideologia.
O que ela encontrou foi um homem desprovido de qualquer comportamento que o diferenciasse dos demais, apenas sua incapacidade de pensar. Um homem organizado, eficiente em suas obrigações, normal e medíocre.
Hannah é brilhante ao separar os atos cometidos por Eichmann, como oficial, e o homem. Para Hannah, os atos de Eichmann poderiam ser chamados de monstruosos, mas Eichmann era apenas um homem comum. Nada em seu comportamento endossava o discurso da perversidade. Em suma, o que motivara Eichmann era a ambição, o sucesso na carreira profissional, não uma motivação ideológica, um ódio aos judeus.
O filme, portanto, aborda brilhantemente as reações à tese de Hannah Arendt sobre a banalidade do mal. Outra tese abordada no filme, e que também gerou muitos desafetos ao longo da trajetória de Hannah, foi a sua menção às vítimas que, para Hannah, por terem negociado com os nazistas havia, de algum modo, propiciado a extensão do Holocausto
. Por causa de sua ousadia, de não submeter seu pensamento, o raciocínio, à mediocridade do pensamento coletivo, ela pagou um alto preço. Foi rejeitada pelos amigos, familiares, reconhecida por todas como uma “vadia nazista” (frase de um dos bilhetes entregues a ela), esquecendo que a própria Hannah havia experimentado na pele os horrores do nazismo, e que ela era judia. Creio que o mais impactante no filme, além dos brilhantes diálogos, é ver a força desta pensadora pulsando em cada movimento.
O filme inicia e termina com Hannah sozinha, fumando e exercitando aquilo que ela mesma afirmou numa de suas frases icônicas: “pensar é um ato solitário”.
Em Hannah Arendt, o filme, vemos na tela a força de um pensamento, de uma mulher que não se submeteu aos padrões normativos que a sociedade delegou ao feminino. Uma mente brilhante, e tal como Simone de Beauvoir, uma força intelectual inspiradora para as mulheres do século XX e do presente século.
PS. Ontem foi aniversário da Hannah, aí lembrei que não tinha comentando este excelente filme.Então, vamos lá [um pouco extenso este comentário, mas qualquer texto sobre Hannah merece acompanhar a profundidade de seu pensamento]. Hannah vive. o/
Ainda não compreendi como este filme não levou a estatueta de melhor filme. Certamente, uma das grandes injustiças do Oscar deste ano.
Um filme inteligente (ainda que peque em sua "licença poética", mas que filme de ficção científica nunca abusou da "liberdade criativa"?), e que se propõe a fazer aquilo que é esperado. O grande trunfo do Cuarón é entregar ao telespectador aquilo que ele prometeu. Sem enrolação. Por isto, também não entendo quando afirmam que o filme possui uma narrativa lenta. Para mim, foram 90 minutos que não desgrudei meus olhos um segundo da tela e passei por toda a sensação claustrofóbica que o longa sugere.
Os efeitos técnicos são um show à parte - como foi dito por muitos aqui. Gostei, sobretudo, dos vários planos usados pelo diretor
a cena em que somos colocados na visão da doutora Ryan (Bullock), dentro de seu capacete e ficamos perdidos, desesperados com a personagem foi espetacular. Ou a cena do seu renascimento, depois de superar algumas dificuldades iniciais, quando ela descansa em posição fetal.
Achei que o filme fosse cair no clichê de romance (não entendo pra quê colocar romance em filme de ficção científica - apenas minha opinião), e nisto o Cuarón também triunfou, por fugir do clichê. O filme, para além de seu brilhantismo técnico, ainda dialoga com questões fatalmente existenciais: medo, solidão, espiritualidade.
Por maiores que sejam nossas capacidades, nosso conhecimento, nossa fragilidade diante daquilo que não conseguimos controlar é absurdamente inegável. Outra questão que vale nota sobre o filme é que ele também foge do cliche de "donzela salva pelo herói" que existe em boa parte dos filmes do gênero. Aqui, o que vemos é uma mulher que enfrenta seu destino, seus medos,
e que busca sozinha a luta por sua própria sobrevivência. Ter uma mulher como protagonista (legítima) de sua própria história, ainda mais num filme de ficção científica, não é algo que vemos todos os dias.
Mais um ponto positivo entre os inúmero já existentes sobre a obra.
Também é importante ressaltar a mensagem não só da luta por sobrevivência (a doutora Ryan sentiu na pele os efeitos da "maldição da lei de Murphy" (rs), mas a metáfora genial sobre a evolução humana e nossas limitações enquanto espécie. Trata-se, portanto, de uma obra (prima) filosófica.
Vale muito a pena assistir e, de preferência, em blue- ray 3D.
A atmosfera do filme, sua fotografia, a excelente atuação de Sam Riley, a maravilhosa trilha sonora (Supersister, Iggy Pop, Lou Reed, David Bowie, New Order e Joy Division, claro - entre tantos outros). Tudo no filme é sublime, tal como deveria ser qualquer coisa que mencione um dos ícones de uma das melhores bandas de rock de todos os tempos (bem, sou fã da banda, por isto, suspeita).
Ressalvo que o filme é a versão da esposa do Ian Curtis (Debby) sobre ele, mas nem por isso deixa de ser um ponto de vista autentico, que desnuda, até certo ponto, um pouco da personalidade deste grande artista.
Seus conflitos, medos, estão retratados em cada cena e reforçados, até certo ponto, pela estética melancólica do longa (o filme é totalmente em preto e branco, o que nos ajuda a mergulhar na existência conflituosa de Ian).
Impossível não chorar - e cantar junto todas as músicas que tocam ao longo do filme.
Eu não li os livros. Não sei se em algum momento da minha vida terei espaço para ler algum dos livros que inspiraram a "Saga Crepúsculo", e não sei até que ponto a leitura dos livros mudariam minha análise sobre o filme.
O roteiro é fraquíssimo. A fotografia deixa muito a desejar. As atuações não são nenhum pouco brilhantes - e aqui ressalto que o roteiro não ajudou muito aos atores, neste sentido.
Se há algo positivo que eu posso dizer sobre o filme é que a trilha sonora está em plena harmonia com a proposta do filme. Fora isto, não é o tipo de filme que vale a pena assistir . A narrativa é cansativa, os efeitos especiais (que deveriam ser a "cereja do bolo") são abaixo do esperado para uma produção cuja temática é o envolvimento de uma adolescente (humana) e um vampiro.
Ok. Entendo que boa parte das pessoas que assistiram ao filme foram cativadas pela história de amor, e este deve (ria) ser o grande trunfo do filme. Porém, o filme deixou a desejar até na forma como apresentou esta história de amor. O que vemos na tela são todos os clichês "água com açúcar". Frases feitas que beiram aos pastelões da Televisa.
O problema aqui não é a história em si que, até certo ponto, seria interessante. O problema é como este tema foi desenvolvido. A personagem Bella (interpretada por Kristen Stewart, linda e péssima atriz) não é cativante. Edward Cullen (o vampiro interpretado por Robert Pattinson - que fez uma boa atuação em "Lembrança" [2010] ) não é convincente.
Enfim, para quem curte filmes adolescentes à la novelas como "Malhação", "Rebeldes", que está acostumado com o convencional, é uma boa pedida. Para quem procura romances que, de fato, façam vibrar, chorar e torcer pelo casal no final (o que é esperado em toda boa história de amor), então, assistam "Casablanca", "Bonequinha de luxo", "Fim de caso", e tantos outros filmes cuja narrativa são bem mais empolgantes que este aqui.
A primeira coisa que deve ser dita sobre este filme é que ele não é recomendado para pessoas extremamente sensíveis. Trata-se de uma trama psicológica, dura, difícil até mesmo para os que estão acostumados com termos próprios da psicologia ou acostumados com narrativas que tratam do tema "psicopatia". A segunda coisa que deve ser dita sobre o filme é que estamos diante de um filme perturbador, chocante mesmo. E não é a história do filho, o Kelvin, que produz esta sensação de desconforto, mas a história da Eva, a mãe. A mulher a quem recaí a culpa pelas ações cometidas pelo filho.
Há inúmeras qualidades que saltam à vista assim que começamos a acompanhar sua narrativa. A primeira é a primorosa atuação da inglesa Tilda Swinton. [spoiler]É revoltante o modo como a sua personagem conduz sua própria vida. Diante do desfecho terrível que sucede o crime cometido na escola, com os olhares de reprovação, de culpa que apontam Eva, a mãe, como única responsável pelas ações do filho
É Eva que é agredida, apontada nas ruas. É a Eva que acusam. Não vemos, em nenhum momento, uma reação de Eva. Ela não reluta. Ela aceita o fardo da culpa. Ela acredita ser a real culpada pela tragédia. Os recortes que conectam a narrativa presente com outros detalhes da vida de Eva são colocados para que nós, enquanto telespectadores, possamos mergulhar no misto de sensações que envolvem sua personagem. Não são recortes que ajudam apenas a compreender a narrativa em si, mas compreender os sentimentos das personagens.
São nestes recortes que percebemos detalhes que aguçam nosso olhar, que nos ajudam a ter empatia com Eva. É quando sabemos que Eva não desejou esta gravidez, e só a levou adiante porque era um desejo do seu marido. Que ela abdicou de seus sonhos, desejos para realizar os desejos do marido. Que ela, motivada pela culpa interior, acaba por dedicar seus dias a corrigir o que ela acreditou ser um erro. Por isto ela suporta a dor, as acusações, as humilhações sociais. Isto fica muito claro logo no início, quando ela, num impulso diante da provocação do garoto, joga-o contra parede, e ele fratura o braço. Ela se sente culpada, e diante das chantagens do filho, que conscientemente expõe aos olhos da mãe seu erro, ela cede.
O mesmo acontece depois. Diante da tragédia, o olhar de Eva para o filho, sem entender bem o que aconteceu, o que o levou a planejar e matar a sangue frio seus colegas de escola, sua irmã mais nova e seu pai. A revelação final que, aliás, pouco nos ajuda a compreender os motivos de Kevin (já que nem ele parece entender seus motivos), tudo isto apenas tornam claro a complexidade desta película que vale muito a pena ver.
Atriz de uma beleza inigualável e de um talento admirável, Rita Hayworth rouba todas as cenas, todas as falas. Sua atuação neste filme, de fato, é o grande trunfo deste que poderia ter sido um ótimo filme, mas falhou em vários aspectos. A cena da dança de 7 véus, onde Rita esbanja sensualidade, figura entre um dos momentos memoráveis da história do cinema (Gilda e Salomé, definitivamente, marcaram o nome desta diva na história do cinema mundial). Se o filme não chegou a ser um completo desastre é porque contou com um elenco de peso (Stewart Granger está maravilhoso). No mais, trata-se de um filme mediano, com uma narrativa cansativa, e um roteiro desastroso.
Hannah Arendt - Ideias Que Chocaram o Mundo
4.0 196Falar sobre a vida e obra da filósofa Hannah Arendt (1906-1975) não é uma tarefa fácil tampouco simples. Tudo porque em grande medida Hannah foi pouco compreendida em sua época e, por tabela, ainda temos dificuldade de entender a força da sua escrita e sua grande contribuição para o pensamento Ocidental, sobretudo, no que diz respeito à política e à compreensão da chamada condição humana.
A biografia da própria Hannah também é marcada por esta gama de complexidades que envolvem seus escritos. Ela que em suas inúmeras entrevistas sempre preferiu ser chamada de cientista política à filósofa, debateu temas variados como educação, o espaço público, autoritarismo, totalitarismo, sobretudo, nestes últimos temas é que encontramos a maior expressão da força de sua escrita. Em sua trajetória, Hannah dialogou com diversos ramos do saber como História, Psicologia, Direito, Pedagogia, Ciências Sociais e a Filosofia. É inegável sua marca na história do século XX.
Mas afinal, quem foi Hannah Arendt, e de que maneira um filme que aborde uma parte de sua trajetória pode nos ajudar a compreender as questões de gênero? Bem, como pensadora da política e, sobretudo, da liberdade, é a partir dos escritos, e da própria vida da filósofa judia, que entenderemos aquilo que a disciplina se propôs a discutir. Primeiro, Hannah foi uma mulher e intelectual do século XX que testemunhou em sua própria vida as limitações que a sua identidade feminina infligia. Nascida na Alemanha, na época da II Guerra Mundial (1939-1945), Hannah foi mandada para um campo de concentração, mas conseguiu fugir e se instalar nos Estados Unidos, ainda em 1941. Permaneceu dez anos sem direitos políticos, exilada e apátrida, obtendo sua cidadania americana em 1951, quando passou a dar aulas em universidades de Chicago e Nova York. Na política, Hannah foi criada como liberal fruto da influência materna (a mãe de Hannah era uma entusiasta das ideias da social- democracia), por isto apoiava um sistema de democracia direta, criticando abertamente o sistema de democracia representativa tão cara para alguns setores da esquerda, com quem Hannah divergiu em muitos momentos.
Em grande medida, o que se vê na própria biografia da Hannah é esta defesa a uma política ativa, plural e, sobretudo, cuja liberdade seja a essência das decisões. Exatamente neste sentido, sua máxima contribuição para o pensamento Ocidental do século XX foi ter mostrado que os horrores do campo de concentração ou do totalitarismo (da Alemanha nazista, da Itália fascista ou da Rússia comunista) não foi uma ação do excesso de política, já que tais regimes, segundo Hannah (*Origens do Totalitarismo) são o resultado do esvaziamento da liberdade, que é o sentido prático da política. A política, na compreensão de Arendt é uma experiência de liberdade. E é sobre esta sua percepção da política enquanto liberdade que encontramos a sua luta, aqui detalhada no filme de Margarethe Von Trotta (2013), onde uma das histórias mais polêmicas da biografia da Hannah Arendt é trazida ao conhecimento do público. Trata-se, portanto, da publicação de seus escritos conhecido como “o caso Eichmann”, publicado posteriormente (em 1963), com o título de *Eichmann em Jerusalém: um relato sobre a banalidade do mal. O livro é considerado por muitos sua obra prima, e o filme aborda justamente os bastidores do processo de produção dos escritos contidos no livro. Na ocasião, em 1961, Hannah foi convidada por um jornal americano para cobrir o julgamento de Eichmann, oficial nazista, em Jerusalém. Hannah então recebeu a tarefa de apenas contar o que aconteceu no julgamento, uma espécie de repórter da revista New Yorker.
Foram cinco grandes reportagens feitas por Hannah, e cujo resultado esperado era que Hannah cumprisse o pedido do editor do jornal, e explorasse apenas o cotidiano do julgamento. O que vemos (sobretudo na leitura atenta do livro) é a mais poderosa reflexão sobre os acontecimentos da II Guerra Mundial. Hannah disseca a mediocridade do pensamento moderno, cuja obediência e superficialidade recaem no que a filósofa chamou de “banalização do mal”. Arendt se nega a endossar o discurso do homem moderno ao chamar o oficial nazista de monstro, o qual ela prefere chamar de pessoa normal, um ninguém, um burocrata cumprindo sua função. Esta tese é apresentada no livro citado. Como mostrado no filme, a tese foi mal recebida, mesmo sendo a coisa mais impactante em termos de compreensão sobre o totalitarismo e a modernidade. Hannah já havia trazido indagações sobre o “fenômeno do mal”, iniciada em “Origens do Totalitarismo” (outra de suas grandes obras). Particularmente,
a parte em que Hannah expõe a defesa de seu pensamento em sala de aula é brilhante (um dos pontos altos do filme, que realmente empolga e nos tira do nosso lugar de acomodação). A própria Hannah alega que esperava encontrar um perverso, um fanático político cujas ações foram influenciadas por sua ideologia.
Hannah é brilhante ao separar os atos cometidos por Eichmann, como oficial, e o homem. Para Hannah, os atos de Eichmann poderiam ser chamados de monstruosos, mas Eichmann era apenas um homem comum. Nada em seu comportamento endossava o discurso da perversidade. Em suma, o que motivara Eichmann era a ambição, o sucesso na carreira profissional, não uma motivação ideológica, um ódio aos judeus.
O filme, portanto, aborda brilhantemente as reações à tese de Hannah Arendt sobre a banalidade do mal. Outra tese abordada no filme, e que também gerou muitos desafetos ao longo da trajetória de Hannah, foi a sua menção às vítimas que, para Hannah, por terem negociado com os nazistas havia, de algum modo, propiciado a extensão do Holocausto
O filme inicia e termina com Hannah sozinha, fumando e exercitando aquilo que ela mesma afirmou numa de suas frases icônicas: “pensar é um ato solitário”.
Em Hannah Arendt, o filme, vemos na tela a força de um pensamento, de uma mulher que não se submeteu aos padrões normativos que a sociedade delegou ao feminino. Uma mente brilhante, e tal como Simone de Beauvoir, uma força intelectual inspiradora para as mulheres do século XX e do presente século.
PS. Ontem foi aniversário da Hannah, aí lembrei que não tinha comentando este excelente filme.Então, vamos lá [um pouco extenso este comentário, mas qualquer texto sobre Hannah merece acompanhar a profundidade de seu pensamento]. Hannah vive. o/
Notas Sobre um Escândalo
4.0 539 Assista AgoraAtuações brilhantes.Um roteiro instigante e um final criativo.Vale a pena.
Gravidade
3.9 5,1KAinda não compreendi como este filme não levou a estatueta de melhor filme. Certamente, uma das grandes injustiças do Oscar deste ano.
Um filme inteligente (ainda que peque em sua "licença poética", mas que filme de ficção científica nunca abusou da "liberdade criativa"?), e que se propõe a fazer aquilo que é esperado. O grande trunfo do Cuarón é entregar ao telespectador aquilo que ele prometeu. Sem enrolação. Por isto, também não entendo quando afirmam que o filme possui uma narrativa lenta. Para mim, foram 90 minutos que não desgrudei meus olhos um segundo da tela e passei por toda a sensação claustrofóbica que o longa sugere.
Os efeitos técnicos são um show à parte - como foi dito por muitos aqui. Gostei, sobretudo, dos vários planos usados pelo diretor
a cena em que somos colocados na visão da doutora Ryan (Bullock), dentro de seu capacete e ficamos perdidos, desesperados com a personagem foi espetacular. Ou a cena do seu renascimento, depois de superar algumas dificuldades iniciais, quando ela descansa em posição fetal.
Achei que o filme fosse cair no clichê de romance (não entendo pra quê colocar romance em filme de ficção científica - apenas minha opinião), e nisto o Cuarón também triunfou, por fugir do clichê. O filme, para além de seu brilhantismo técnico, ainda dialoga com questões fatalmente existenciais: medo, solidão, espiritualidade.
Por maiores que sejam nossas capacidades, nosso conhecimento, nossa fragilidade diante daquilo que não conseguimos controlar é absurdamente inegável. Outra questão que vale nota sobre o filme é que ele também foge do cliche de "donzela salva pelo herói" que existe em boa parte dos filmes do gênero. Aqui, o que vemos é uma mulher que enfrenta seu destino, seus medos,
e que busca sozinha a luta por sua própria sobrevivência. Ter uma mulher como protagonista (legítima) de sua própria história, ainda mais num filme de ficção científica, não é algo que vemos todos os dias.
Também é importante ressaltar a mensagem não só da luta por sobrevivência (a doutora Ryan sentiu na pele os efeitos da "maldição da lei de Murphy" (rs), mas a metáfora genial sobre a evolução humana e nossas limitações enquanto espécie. Trata-se, portanto, de uma obra (prima) filosófica.
Vale muito a pena assistir e, de preferência, em blue- ray 3D.
Controle: A História de Ian Curtis
4.3 714A atmosfera do filme, sua fotografia, a excelente atuação de Sam Riley, a maravilhosa trilha sonora (Supersister, Iggy Pop, Lou Reed, David Bowie, New Order e Joy Division, claro - entre tantos outros). Tudo no filme é sublime, tal como deveria ser qualquer coisa que mencione um dos ícones de uma das melhores bandas de rock de todos os tempos (bem, sou fã da banda, por isto, suspeita).
Ressalvo que o filme é a versão da esposa do Ian Curtis (Debby) sobre ele, mas nem por isso deixa de ser um ponto de vista autentico, que desnuda, até certo ponto, um pouco da personalidade deste grande artista.
Seus conflitos, medos, estão retratados em cada cena e reforçados, até certo ponto, pela estética melancólica do longa (o filme é totalmente em preto e branco, o que nos ajuda a mergulhar na existência conflituosa de Ian).
Impossível não chorar - e cantar junto todas as músicas que tocam ao longo do filme.
Vale muito a pena!
Submarine
4.0 1,6KNão sei o que é mais poético: o filme ou a trilha sonora. <3
Indico.
Teus Olhos Meus
4.0 577Surpreendentemente encantador.
Léo e Bia
4.2 146Poético, absurdamente poético.
É filme para ver, ouvir, tatear.
Diálogos inteligentes. Atuações memoráveis. Roteiro incrível. Para fechar, uma trilha sonora divina.
Recomendo!
Crepúsculo
2.5 4,1K Assista AgoraEu não li os livros. Não sei se em algum momento da minha vida terei espaço para ler algum dos livros que inspiraram a "Saga Crepúsculo", e não sei até que ponto a leitura dos livros mudariam minha análise sobre o filme.
O roteiro é fraquíssimo. A fotografia deixa muito a desejar. As atuações não são nenhum pouco brilhantes - e aqui ressalto que o roteiro não ajudou muito aos atores, neste sentido.
Se há algo positivo que eu posso dizer sobre o filme é que a trilha sonora está em plena harmonia com a proposta do filme. Fora isto, não é o tipo de filme que vale a pena assistir . A narrativa é cansativa, os efeitos especiais (que deveriam ser a "cereja do bolo") são abaixo do esperado para uma produção cuja temática é o envolvimento de uma adolescente (humana) e um vampiro.
Ok. Entendo que boa parte das pessoas que assistiram ao filme foram cativadas pela história de amor, e este deve (ria) ser o grande trunfo do filme. Porém, o filme deixou a desejar até na forma como apresentou esta história de amor. O que vemos na tela são todos os clichês "água com açúcar". Frases feitas que beiram aos pastelões da Televisa.
O problema aqui não é a história em si que, até certo ponto, seria interessante. O problema é como este tema foi desenvolvido. A personagem Bella (interpretada por Kristen Stewart, linda e péssima atriz) não é cativante. Edward Cullen (o vampiro interpretado por Robert Pattinson - que fez uma boa atuação em "Lembrança" [2010] ) não é convincente.
Enfim, para quem curte filmes adolescentes à la novelas como "Malhação", "Rebeldes", que está acostumado com o convencional, é uma boa pedida. Para quem procura romances que, de fato, façam vibrar, chorar e torcer pelo casal no final (o que é esperado em toda boa história de amor), então, assistam "Casablanca", "Bonequinha de luxo", "Fim de caso", e tantos outros filmes cuja narrativa são bem mais empolgantes que este aqui.
Sem nota.
Precisamos Falar Sobre o Kevin
4.1 4,2KA primeira coisa que deve ser dita sobre este filme é que ele não é recomendado para pessoas extremamente sensíveis. Trata-se de uma trama psicológica, dura, difícil até mesmo para os que estão acostumados com termos próprios da psicologia ou acostumados com narrativas que tratam do tema "psicopatia". A segunda coisa que deve ser dita sobre o filme é que estamos diante de um filme perturbador, chocante mesmo. E não é a história do filho, o Kelvin, que produz esta sensação de desconforto, mas a história da Eva, a mãe. A mulher a quem recaí a culpa pelas ações cometidas pelo filho.
[/spoiler]
Há inúmeras qualidades que saltam à vista assim que começamos a acompanhar sua narrativa. A primeira é a primorosa atuação da inglesa Tilda Swinton. [spoiler]É revoltante o modo como a sua personagem conduz sua própria vida. Diante do desfecho terrível que sucede o crime cometido na escola, com os olhares de reprovação, de culpa que apontam Eva, a mãe, como única responsável pelas ações do filho
É Eva que é agredida, apontada nas ruas. É a Eva que acusam. Não vemos, em nenhum momento, uma reação de Eva. Ela não reluta. Ela aceita o fardo da culpa. Ela acredita ser a real culpada pela tragédia. Os recortes que conectam a narrativa presente com outros detalhes da vida de Eva são colocados para que nós, enquanto telespectadores, possamos mergulhar no misto de sensações que envolvem sua personagem. Não são recortes que ajudam apenas a compreender a narrativa em si, mas compreender os sentimentos das personagens.
São nestes recortes que percebemos detalhes que aguçam nosso olhar, que nos ajudam a ter empatia com Eva. É quando sabemos que Eva não desejou esta gravidez, e só a levou adiante porque era um desejo do seu marido. Que ela abdicou de seus sonhos, desejos para realizar os desejos do marido. Que ela, motivada pela culpa interior, acaba por dedicar seus dias a corrigir o que ela acreditou ser um erro. Por isto ela suporta a dor, as acusações, as humilhações sociais. Isto fica muito claro logo no início, quando ela, num impulso diante da provocação do garoto, joga-o contra parede, e ele fratura o braço. Ela se sente culpada, e diante das chantagens do filho, que conscientemente expõe aos olhos da mãe seu erro, ela cede.
O mesmo acontece depois. Diante da tragédia, o olhar de Eva para o filho, sem entender bem o que aconteceu, o que o levou a planejar e matar a sangue frio seus colegas de escola, sua irmã mais nova e seu pai. A revelação final que, aliás, pouco nos ajuda a compreender os motivos de Kevin (já que nem ele parece entender seus motivos), tudo isto apenas tornam claro a complexidade desta película que vale muito a pena ver.
Salomé
3.6 19Atriz de uma beleza inigualável e de um talento admirável, Rita Hayworth rouba todas as cenas, todas as falas. Sua atuação neste filme, de fato, é o grande trunfo deste que poderia ter sido um ótimo filme, mas falhou em vários aspectos. A cena da dança de 7 véus, onde Rita esbanja sensualidade, figura entre um dos momentos memoráveis da história do cinema (Gilda e Salomé, definitivamente, marcaram o nome desta diva na história do cinema mundial). Se o filme não chegou a ser um completo desastre é porque contou com um elenco de peso (Stewart Granger está maravilhoso). No mais, trata-se de um filme mediano, com uma narrativa cansativa, e um roteiro desastroso.
Amar Foi Minha Ruína
4.1 122 Assista AgoraUma narrativa envolvente. Uma fotografia belíssima. Um roteiro impecável e uma das melhores vilãs da história do cinema. Eis uma obra prima.