Não há muito o que dizer contra essa série. O fato é que, há muito, já se procurava a versão completa dela (hoje disponibilizada no Youtube pelo próprio programa) e que, depois de assistir a todas as temporadas, só se pode dizer que vale muito a pena... ”31 Minutos” é uma série irreverente, contagiante e de um humor finíssimo, sobretudo em relação ao contexto econômico-social do Chile. O uso de regionalismos, gírias e discretas citações aos outros países da América Latina enriquecem todo o percurso também. Trata-se de uma produção leve, engraçada e ágil, com sacadas adultas e bastante específicas. Para além disso, há inequívocos pontos altos: a adaptação de Dom Quixote, as Notícias Verdes de Bodoque, as canções super bem escritas, os especiais de Natal, enfim... Dá pra ficar falando um monte sobre como a série acerta em praticamente tudo, mas o ideal é mesmo buscar assistir e favorecer a APLAPLAC, que conseguiu construir um legado que se retroalimenta à medida que o tempo passa. É uma daquelas produções que nunca vai ficar velha! Incrível. Mesmo.
“Tulio y sus amigos: Yo nunca vi televisión porque es muy fome...”
A aclamada e polêmica “YOU”, com todas as suas falhas, ainda se apresenta um olhar no mínimo interessante sobre um fenômeno social ainda pouco explorado... Toda vez que a NETFLIX assina a produção de algo, é costume que pegue um hype, e que morra quase tão rápido quanto estourou. Pelo que parece, não é este o caso desta série que, prestes a ganhar uma terceira temporada, marcou bastante o imaginário dos aficcionados pelo formato. A produção, estrelada pelo galã Penn Badgley, conta a história de um stalker que se apaixona por uma aspirante a escritora. A série procura apresentar um perseguidor de maneira a questionar, como disse o protagonista, “quanto a nossa sociedade é capaz de passar pano para crimes de um homem com o meu tom de pele, e que se pareça comigo”. Isso, de fato, ela faz muito bem. Ignorando os vários furos que o roteiro apresenta (e que ficam ainda piores na segunda temporada), dá para perceber um alto grau de consciência por parte dos roteiristas em não apologizar a violência contra a mulher, ou tentar “suavizar” os aspectos mais doentes do personagem. Ainda que alguns núcleos (como o de Paco) sirvam mais para humanizar que retratar como que um assediador seria, na realidade, o resultado sai mais satisfatório do que o esperado - e pode servir como um excelente alerta ao seu público-alvo, meninas jovens, sobre quais os métodos e, principalmente, o quê caracteriza um acossador, um invasor de privacidade, e um potencial feminicida.
“Joe Goldberg : Olá, quem é você? Todas as suas contas são públicas. Você quer que eles te vejam, quer que te conheçam. E eu te agradeço por isso."
E nossa série finalmente encontra seu destino... “3%”, distopia tupiniquim que se passa numa República das Bananas infelizmente muito real, encontra seu desfecho em 2020, numa quarta instalação que faz jus a tudo que veio antes. Por causa do inesperado sucesso que alcançou a primeira temporada, pessoas do mundo todo conheceram um pouco do nosso idioma, da nossa gente e da dura realidade em que vivemos. Escrevo “nossa série” porque, de fato, esta produção honra com todos os méritos a Brasilidade, nas suas infinitas beleza e corrupção. “3%” é um experimento social num Brasil menor, reduzido a um Continente e um Maralto, dois polos que se complementam (e se podem destruir) com a mesma facilidade com que as democracias latino-americanas se rendem ao fascismo e o superam com o passar dos anos. A narrativa político-social que se encontra no roteiro desta última temporada vale ouro. O sentido da ocupação na tomada dos territórios simbólicos, o poder de uma população conscientizada, a utopia do bem-comum, enfim, são inúmeros elementos que tornam o assistir valer a pena. Tem os seus problemas de atuação e condução? Claro, como tantas outras séries da Netflix que os brasileiros idolatram, mas o que há de representatividade aqui, para a nossa gente, realmente não tem preço... Menção honrosa para a impecável atuação de Bianca Comparato e as participações de Chico César e Ney Matogrosso, igualmente irretocáveis. Assista sem medo. Vale muito a pena chegar ao final!
”Ezequiel: Você é o criador do seu próprio mérito.”
Aqui, realmente, a coisa desandou. LAS CHICAS DEL CABLE, que tinha sido um retumbante sucesso nas suas primeiras duas instalações (ambas ainda em 2017), reencontra em sua terceira temporada problemas que já tinha, e dessa vez com origens novas... Os comprometimentos que a produção vinha apresentando, especialmente no roteiro e em algumas atuações, só ficam mais evidentes e chamativos. A maldade “irreal” e “desproporcional” da vilã Carmen simplesmente torna os acontecimentos pouco críveis, junto de uma série de novas situações que são difíceis de acreditar (como todo o arco do irmão gêmeo de Pablo e o improvável novo romance que vive Ángeles). Esses são alguns dos maiores defeitos que apresenta a terceira temporada, que para além disso, se estende por tempo demais demais no triângulo amoroso central (que nunca parece se resolver) e traz várias discussões importantes (como o aborto e a transsexualidade) de maneira superficial e pouco debatida de fato. Tais características “novelescas” são a delícia de alguns, mas para outros, realmente incomodam. É por motivos como esses que pessoas abandonam séries que chegam a ter seis temporadas inteiras com episódios de uma hora cada. Não veria de novo, e não indico.
”Alba: Não podemos mudar o passado, mas podemos ser pacientes e aprender a viver com ele, embora não seja uma tarefa fácil.”
Apesar dos visíveis esforços em conjunto, aqui temos uma temporada consideravelmente inferior à sua antecessora... LAS CHICAS DEL CABLE, primeira produção da Netflix completamente em espanhol, havia estreado ainda naquele ano de 2017, tendo aproveitado o momentum de seu êxito para rapidamente produzir uma sequência à sua história. Tal sequência, que resultou nesta segunda temporada, não se apresenta com o mesmo vigor da anterior, ainda que entretenha de maneira aceitável. Os furos roteirísticos, a falta de lógica de algumas atitudes (que não condizem com os núcleos das personagens) e algumas atuações medianas (em especial, nos trabalhos de Martiño Rivas e Ana Polvorosa) tornam o assistir a esta série um pouco enfadonho. Soma-se a isso uma antagonista absolutamente repetitiva, e irrealisticamente má, na personagem Carmen, e alguns episódios simplesmente “encheção de linguiça”, como os mais ao meio da temporada. Todos esses aspectos contribuem para que a série decline cada vez mais, nas temporadas que seguem, a medida que os problemas não se consertam e só seguem aumentando... Ainda que eu tenha assistido à produção seguinte, não indicaria. Como uma visita melhor, e ainda hispânica, em seu lugar, assistam à “Vis a Vis” - me parece muito mais proveitoso. Não indico.
"Carmen: Deixe-me te dar um conselho. Não espere nunca que um homem te solucione a vida."
O patriotismo exagerado que alguns brasileiros têm em relação aos Estados Unidos encontra em produções como essa um desafio muito grande com o qual lidar. Ao deixar-nos sem palavras, "A Máfia dos Tigres”, assinada por Rebecca Chaiklin põe em xeque nossas considerações sobre o que é “normal”, “legal” e “ético” no que tange a cultura estadunidense (tida por muitos como a maior referência de sucesso e prosperidade do mundo). De fato, TIGER KING não mede esforços em chocar seu público. Trabalhando com uma temática inusitada, e protagonizada por personagens absurdos (que facilmente poderiam ter saído de algum mocumentário norte-americano), “A Máfia dos Tigres” representa o que há de mais estranho e intenso na dita maior potência do mundo. Corrupção, mentiras, motivações escusas e tigres, muitos tigres esperam o espectador que, desatento, não dá nada pela série que, surpreendentemente, vai ficando cada vez mais esquisita. As personalidades excêntricas que compõem esta disputa territorial e capital têm, todas, seus esqueletos no armário, e Chaiklin não hesita em apresentá-los um a um, a cada episódio que passa. Sem perder o fôlego, e não parando de surpreender mesmo no último episódio, TIGER KING se apresenta uma série imperdível pelo ineditismo de sua temática, e ainda mais pela sua execução, que, primorosa, honra o nome das clássicas formas roteirísticas de prender o espectador em seu assento... Quem curte uma boa bizarrice não vai sair ileso. Assista!
“Doc Antle: Com certeza, Carole Baskin matou seu marido e o deu aos tigres. Na minha opinião.”
A série espanhola LAS CHICAS DEL CABLE deu o que falar na época de sua estreia; a primeira produção em espanhol da Netflix aborda o movimento feminista (ou o Feminismo como instituição incipiente) nos anos 20, numa Madrid retrógrada e difícil, sobretudo para as mulheres que, então, começavam a entrar no mercado de trabalho. Neste contexto, o cargo de telefonista era muito visado, no que se via uma possibilidade de crescimento e manutenção própria - a independência que, historicamente, tanto custou quanto custa hoje a mulheres de diversas regiões do mundo. Cenograficamente, e na indumentária de todas as personagens, “As Telefonistas” acerta e muito; entretanto, em questão de roteiro, ela não vai muito longe. A série aborda um tema amplo, mas num contexto específico, o que confere a ela certo ineditismo, embora a sua execução não esteja à altura da qualidade estética que ela apresenta... Há, aqui, alguns furos no roteiro, e absurdos que simplesmente passam despercebidos, em momentos que claramente a equipe de roteiristas se esqueceu de alguns personagens e situações... Mesmo assim, como um esforço em conjunto - próprio do movimento social de que se vale -, esta primeira temporada se sai bem e justifica a espera de uma segunda instalação. Para assistir sem suspender a ficção.
“Alba: Es hora de hacer las cosas a nuestra manera.”
A bem-realizada comédia estadunidense Brooklyn Nine-Nine chega a sua segunda temporada em 2014, dando continuidade a suas instalações no formato sitcom e divertindo praticamente todas as pessoas que a assistem. Dirigida por uma boa equipe e escrita de maneira até bastante responsável, a turma de Jake Peralta segue chamando atenção por sua irreverência e diversidade, com personagens tão distintos entre si quanto seja possível, ainda que dentro de certos padrões de protagonismo. Nesta segunda temporada, por vezes, vemos um humor etarista e capacitista, que escapa das bocas desses queridos personagens ainda que em momentos cada vez mais espaçados. O desenvolvimento de determinado romance, no meio desta temporada, soa natural e cheio de química, e a apresentação do pano de fundo do capitão Holt é um dos elementos que mais chama atenção no roteiro em geral. É uma série leve e divertida, embora seja cada dia mais notável que a polícia estadunidense da realidade está muito longe desta utopia de empatia e compreensão pelas minorias sociais (e talvez caminhe justo na direção contrária disso). Contudo, é uma baita série! Mandem ver que vale a pena.
“Gina Linetti: A língua inglesa não pode traduzir completamente a complexidade e profundidade dos meus pensamentos, então estou incorporando emojis na minha fala para me expressar melhor. Carinha piscando.”
A tão aguardada (e um pouco tardia) segunda temporada de FLEABAG chega em 2019 para sacudir a boa confusão da anterior e garantir, mais uma vez, um entretenimento irreverente e de ótima qualidade. Já era sabido que Phoebe Waller-Bridge era uma excelente roteirista, e o seu sucesso, também promovido pela emergente Amazon Prime, reapresentou a seus assinantes um tipo de humor muito específico, característico das comédias do Reino Unido dos anos 90. A sátira “chique”, o deboche velado, as situações constrangedoras e seus silêncios ainda mais, e o “companheirismo” que sentimos ao identificarmo-nos com Fleabag são alguns dos elementos que caracterizam tanto a série quanto o humor (revigoradíssimo) que ela retoma daquelas antigas comédias inglesas. O recurso da quebra da quarta parede, e a chegada de um elemento religioso bastante polêmico, roubam a cena e fazem com que cada episódio seja mais aguardado que o anterior. Por ser também tão curta, dá para assisti-la de uma vez só, tão fácil que é ser carregado por sua narrativa. Torna muito especial o fato de que, segundo a própria protagonista-roteirista, esta temporada é a última, e que nela, Phoebe disse tudo que queria dizer com o projeto. Vale muito a pena investir o pouco tempo que ela pede para apreciá-la - podendo ser revisitada sempre, e sempre com um bom fôlego! Assista sem receios!
“Fleabag: Não me faça uma otimista, você vai arruinar minha vida.”
O minimalista, mas nada simplório humor deste que é um dos acontecimentos mais ricos da Inglaterra dos últimos anos... FLEABAG, uma série escrita, produzida, e estrelada pela incrível Phoebe Waller-Brigde, narra a história da protagonista de mesmo nome lidando com os problemas comuns às mulheres jovens-adultas: os relacionamentos, as decepções, as mudanças e a maturidade. Bastante curta, a primeira temporada velozmente nos apresenta a Fleabag e nos convida a acompanhá-la em suas situações esdrúxulas e involuntariamente cômicas (aquele tipo de comicidade que vem de uma cena de vergonha alheia ou de absoluto desconforto). Projetada como um humor “voltado ao universo feminino”, mas não se detendo a isso, esta produção utiliza muito bem o efeito da quebra da quarta parede, aliado a uma linguagem popular e super acessível, nas gírias, nas atuações e nos cenários. Valeria a pena só pela fineza do humor inglês, aqui tão desenvolto, mas a série é muito mais que isso e, certamente, pode falar por si só. Assista sem medo!
“Fleabag: Eu não sou obcecada com sexo, só não consigo parar de pensar nisso. Na sua performance. Na sua estranheza. No seu drama.”
Esta aqui, para alguns, não parece ter dado muito certo. DARK chega a sua conclusão numa terceira temporada que divide opiniões. Há quem diga que tudo se encerra de maneira realmente esplêndida, e quem tenha se cansado da quantidade de reviravoltas e mudanças um pouco... drásticas na trama e no destino dos personagens... A verdade é que aqui, na terceira instalação de DARK, ainda dirigida e produzida pela mesma equipe, há a adição de elementos não antes vistos, e que, mais uma vez, alteram todo o curso da coisa. Se antes já estava complicado seguir e compreender todas as linhas temporais de pessoas que iam e voltavam no tempo, umas ficando no passado, outras avançando e vivendo somente no futuro, e etc, agora, realmente, a coisa dá uma guinada inesperada e que passa a ser utilizada a todo momento... A centralização da trama em determinado romance, por quase todos os episódios, marca demais e se torna um tanto quanto previsível, e o elemento da profecia auto-realizadora se repete tantas vezes, que acaba cansando parte do público, que tão avidamente consumiu as temporadas anteriores. Tal cansaço é perceptível mesmo no mais dedicado espectador, sobretudo depois de horas assistindo aos intricados episódios desta última instalação. Contudo, para o que é, e o que representa para a Alemanha, DARK se despede como uma produção incrível, e que merece, sim, uma chance de todo mundo. É certo de que não agradará a todas as pessoas da mesma forma, mas é, definitivamente, um marco cultural para o povo alemão e, sendo bastante sincero, um marco ainda mais importante para a Netflix, que poucas vezes apresentou, desde o seu início, produções com este nível de complexidade e riqueza para o seu público. Assistam!
“H. G. Tannhaus: E se tudo que veio do passado foi influenciado pelo futuro?”
Baran Bo Odar assina, em 2019, a segunda instalação da aclamada série alemã DARK, no que parece ser a mais bem-dirigida e suspensiva das três temporadas. Seguindo a lógica da produção anterior, DARK convida seus espectadores a destrinchar seu labirinto detidamente trabalhado, com suas ranhuras e rachaduras propositais no tempo. O sumiço do protagonista Jonas, do episódio anterior, é sucedido por uma série de reviravoltas (muitas interessantes, outras nem tanto), e por ressignificações de cenas anteriores, no que pode representar a mais longa lista de subtramas escritas em cima de um mesmo personagem (ou de seu núcleo). É raro que uma produção altere tanto a sua estrutura e mesmo assim consiga vestir o que está escrevendo, mas é o que ocorre aqui: DARK consegue fechar várias pontas soltas e deixar um número suficiente de dúvidas para justificar uma terceira visita. Seu elenco segue trabalhando com a mesma primazia e o roteiro não deixa para menos - é, para muitos, o ponto alto de toda a produção. Saliento que, apesar de compreender a estrutura básica, não sei dizer se, com menos reviravoltas e cliffhangers, a série não se tornaria, na mesma medida, mais acessível e até mais desfrutável; é inegável que, mesmo maratonando, é preciso fazer um esforço para além do comum para compreendê-la, e nem todas as pessoas terão o tempo nem a paciência para fazê-lo. Segue sendo boa aqui, entretanto. Vale a conferida!
"Adam: Nós não temos livre-arbítrio no que fazemos porque não somos livres no que desejamos."
Essa série é tudo de bom, ainda que com algumas ressalvas... O gênero estadunidense de comédia sitcom, que ganhou força nos anos 70 e revigorou-se nos 90, ainda precisava, para esta década, de uma reinvenção. Tendo sido método para absolutos sucessos, como “Friends”, “The Big Bang Theory” e até “Two and a Half Man”, já se percebia então a necessidade de uma nova cara, um respiro para comédia norte-americana; o fato é que, nessas e noutras produções, a piada numa sitcom vinha mais por um preconceito (e pela sua manutenção) do que pela situação em si. Daí, surgiram temporadas inteiras de sitcons absolutamente machistas, homofóbicas e segregacionistas - a risada da pessoa diferente “porque ela é diferente”, e não pelo que acontece com ela. É no contexto da resposta a essas produções que BROOKLYN 99 é lançada, em 2013, desconstruindo padrões e rompendo com as “narrativas tradicionais” sobre a polícia estadunidense. Ainda que, em partes, pareça apologista às forças armadas dos EUA (que, há de se convir, são muito mais violentas e desonestas na vida real do que a turma de Jake Peralta), e ainda apresente piadas gordofóbicas e etaristas (sobretudo na maneira como Scully e Hitchcock são tratados pelo restante do elenco “desconstruído”), num geral a série se sai muito bem ao fazer humor às custas de, realmente, situações engraçadas, estranhas e inesperadas; tudo que uma boa comédia deve fazer. Evitando a manutenção de estereótipos e preconceitos, BROOKLYN 99 vale a pena não só por divertir, mas por fazer calar os ciclos de violência verbal e imagética que incessantemente se repetem na vida das pessoas 'fora da tela’, o que é extremamente importante nos dias de hoje. Ansioso pela próxima temporada!
Apesar de ser brasileira, é uma série bastante mediana. ONISCIENTE é a nova aposta do produtor Pedro Aguilera, roteirista da bem-sucedida “3%”, também da Netflix. Aqui e ali, em vários momentos, vemos decisões de direção/figurino/cenário que lembram o Processo, a Causa e outros elementos da série – embora, tirando a ficção científica, ambas não tenham tanto assim em comum. “Onisciente” tem um bom gancho inicial, que estabelece uma dúvida e vontade de assistir genuínas, mas que vai, aos poucos, se desintegrando no percurso da série. Para além das obviedades do roteiro (sobretudo o final absolutamente previsível), ONISCIENTE tem vários momentos desnecessários, como aquela cena íntima de Olívia e todo aquele rolê do Daniel, lá para o meio da produção. A sensação que há, apesar de a série ser curta, é que ela poderia ser ainda menor, e não perderia nada – o roteiro não vai tão longe e se torna desinteressante quase que nos primeiros três episódios. Junte-se a isso as péssimas atuações, principalmente dos irmãos protagonistas; quase não há verdade ali, e é tudo caricato demais para que empatizemos com a sua situação... Enfim, não vale a pena. É melhor mesmo assistir às temporadas de 3%, porque pelo menos movimentos narrativos e reviravoltas ocorrem de fato. Esta aqui não rolou, infelizmente.
Fantástico! Indo na contramão das séries da Netflix anteriores (como a irresponsável “13 Reasons Why”), SEX EDUCATION chega à sua segunda temporada revitalizada, mais madura e ainda mais divertida. Cada cena daqui é uma maneira inclusiva e natural de apresentar questões importantes da sexualidade humana – e denota, como sempre, a importância da informação no contexto dos tabus do sexo e da expressividade das pessoas. Sexo homoafetivo, heteronormativo e na idade mais avançada; abortos, assédios, ISTs; repressão da sexualidade, vergonha e orgulho – SEX EDUCATION cobre vários temas de maneira responsável e acessível, tornando a compreensão de temas delicados tranquila e acima de tudo necessária. Cada arco de personagem é construído com o cuidado de um artesão e os resultados, ao final, são incríveis para dizer o mínimo. Não sou o público-alvo disto aqui, mas quem for certamente vai curtir tanto quanto eu. SEX EDUCATION está no sinal verde para uma terceira temporada ainda mais bacana e tenho certeza de que assistirei também. Vale a pena, mesmo que seja só para reforçar o que você já sabe sobre o tema central – as tramas paralelas são bem legais de acompanhar também... Para mim, é uma das melhores séries que a Netflix produziu. Representa muita coisa boa para esta geração, e isto deve ser reconhecido. Não deixe de assistir! Boa demais.
“Eric: Eu tive que trabalhar muito duro para me amar e não vou voltar a me esconder agora.”
Não é uma série sobre um divórcio, é sobre a evolução do amor. THE AFFAIR encontra seu final desconcertante nesta quinta e última temporada. Sendo a única escrita somente por Hagai Levi, a série se passa cerca de 30 anos depois dos acontecimentos da anterior, quando Joanie (num arco, diga-se de passagem, tedioso e desnecessário) busca descobrir o verdadeiro destino de sua mãe que, segundo ela crê, não se matou como todos lhe disseram. Isto é o estopim para um último retorno a Montauk, para desenterrar os ossos daqueles que carregavam seus pecados e reencontrar as saídas possíveis que a vida apresentou. THE AFFAIR chama a atenção por ser um seriado tão falho, tão inexato e por isso mesmo tão humano, transmitindo a beleza e a fraqueza real que existem ao ser quem somos – e quem devemos ser. Sim, ela começou com um caso extraconjugal – mas trata-se de muito mais que isso. THE AFFAIR é uma série sobre as escolhas das pessoas, sobre como um lida com o outro, e com a sua ausência, e com a sua permanência, e por aí vai... Escrever uma quinta vez sobre como a série é bem construída é chover no molhado. THE AFFAIR, com seus múltiplos pontos de vista (alguns, inclusive, inéditos até então) é simplesmente uma das produções mais maduras e interessantes que houve na televisão nos últimos anos – difícil assistir à primeira temporada e não ficar embasbacado com o abismo que é o pensar e sentir de pessoas que vivem uma mesma experiência aqui. THE AFFAIR possibilitou que conhecêssemos esses pensamentos e sensações, e ainda de maneira plural, multifacetada e independente... Embora não seja a temporada mais engajadora ou misteriosa, esta quinta instalação é a confirmação de que vale a pena assistir a tudo, e pensar em todas as relações que se dão ali e nas nossas próprias vidas, tirando de suas reflexões o que pudermos (e quisermos) tirar. Não é uma série sobre um divórcio, é sobre a evolução do amor. Tá pra surgir uma produção da SHOWTIME que chegue no nível desta aqui no quesito profundidade de personagens. THE AFFAIR estará sempre no coração de quem curte roteiros complexos e bem feitos, com direito a tudo que nos traz de volta à humanidade que em nós (por vezes) descansa. É uma baita série. Assistam!
“Whitney: Não quero mais ser olhada. Quero ser aquela que olha os outros. Andrea: É aí que reside o poder.”
Uma série divertida (e um pouco sem noção), mas que não perde o ritmo até entregar o último capítulo. VIS A VIS é um drama de sucesso da televisão espanhola produzido pela Globomedia. Dirigida por Sandra Gallego e Jesús Colmenar, trata sobre o cárcere privado feminino, mostrando a vida e as relações que se dão entre as mulheres nessas circunstâncias. Nesta primeira temporada acompanhamos o drama de Macarena Ferreiro, condenada por um crime que não admite ter cometido, e a sua evolução como presidiária na prisão de Cruz del Sur. Todo o mote da série gira em torno dela e de Zulema, sua inimiga “auto-declarada” (sem grandes justificativas) e em suas frustradas tentativas de sair da situação em que se encontra. Apesar de toda a temporada ser instigante, com bons pontos de virada e cliffhangers aos finais dos capítulos, VIS A VIS cai em certos furos sem vergonha alguma – uma equipe técnica minúscula para a quantidade de presas de Cruz del Sur, problemas de segurança injustificáveis mesmo para a filosofia “inovadora” da instituição e a dubiedade ‘ética’ de várias presas, em especial Saray e Anabel. Estes furos, quando são muitos e ocorrem demais, passam a sensação de que a obra foi pouco planejada, pelo menos para este primeiro momento. Ao final da temporada, a série se mostra satisfatória, apesar dos trancos e barrancos, e promete revirar toda a trama de cabeça para baixo com o seu final inacreditável... Tomara que tenham conseguido. Como uma primeira temporada, “Vis a Vis” tem uma boa primeira impressão. Resta saber se ela se mantém por mais três...
A aposta da Netflix na ficção científica brasileira começa a apresentar claros sinais de esgotamento... 3%, série produzida pelo maior serviço de streaming do mundo, chega a sua terceira temporada com mais falhas que acertos. A produção tem êxito principalmente na parte técnica: colorismo, fotografia, cenários e indumentária seguem bastante bem, alcançando aí um patamar no nível das novelas da Globo, se dá pra colocar assim. A trilha e edição de som idem, apesar de chamarem menos atenção agora. Os problemas são dois: o elenco e o roteiro. O elenco, capitaneado pela Bianca Comparato [Michele], ostenta maniqueísmos e atuações caricatas demais para ser levado a sério. Vaneza Oliveira, a Joana, parece só saber estar inconformada e gritar o tempo todo. Rodolfo Valente [Rafael] e Cynthia Senek [Gloria] têm muito destaque mas performances sofríveis – mais ele do que ela –, e isso faz com que o único que tenha realmente estofo, e seja tolerável de assistir e seguir seu arco até o fim, é o Rafael Lozano [Marco], até pelas reviravoltas que rolam com ele. No mais, os quase-figurantes não chamam atenção e tudo fica meio que por isso mesmo. O roteiro se sedimenta em bases frágeis. Todo o movimento do Maralto em relação à Concha é questionável – por quê toda a temporada gira em torno de um lugar que não interessa ao Maralto, e principalmente não o afeta de nenhuma forma? Pessoas rejeitadas ou que rejeitaram o Processo, e que passaram a viver fora de seus contornos, representam ameaça tal que precise ser monitorada assim? As atitudes “em manada”, de todo o povo da Concha contra qualquer coisa que represente tanto a Michele quanto o Maralto soam como uma crítica à polarização esquerda-direita que elegeu o Bolsonaro neste país, mas esta crítica é um subtexto raso e até insuficiente para justificar assistir à esta produção... Além disso tudo, mesmo os fãs das primeiras duas (excelentes) temporadas parecem ter sentido os sinais de esgotamento de ideias daqui. Talvez tenha a ver com a Dani Libardi, diretora solo nesta temporada, que nas anteriores trabalhou em quarteto para dirigir os episódios (com Daina Giannecchini, Jotagá Crema e Philippe Barcinski). A série, segundo a própria Netflix, ganhou a confirmação da quarta (e última) temporada recentemente. Poderá ser um suspiro impressionado ou aliviado: impressionado por um final impactante, que resolva todas as questões abertas pela história, ou aliviado por ter acabado antes de virar uma franquia de quinze temporadas (como ocorre com algumas produções na Netflix)... Esta daqui não desceu. Bateu até uma vergonha... Tomara que melhorem até o ano que vem!
“Michele: Eu não fui justa. Não existe um processo justo.”
E vamos de volta a Gilead... THE HANDMAID’S TALE chegou com o pé na porta dois anos atrás com a história de June, uma mulher que é capturada por uma teocracia em crescimento que toma conta dos Estados Unidos. Futurista, alarmante e gravíssima, a série tem ganhado audiência no mundo todo, e aumentado a popularidade da Hulu, a plataforma de streaming que tem se lançado como concorrência principal da Netflix nos últimos anos (junto da HBO). Com a exceção de um episódio (o nono), esta temporada segue implacável e impecável como as anteriores. A dura realidade distópica de Gilead tanto para Aias quanto (agora) para esposas e comandantes parece intransponível, mas germina nas mulheres um mundo novo, que-há-de-vir, em que a esperança e a paz hão de reinar para sempre. June, desta vez não mais “Ofjoseph” ou qualquer outro nome de posse, passa gradativamente a responder a ofensas e ordens de quem estiver pela frente. Nesta temporada, diferentemente de tudo que veio antes, June começa a fortalecer laços com suas aliadas e efetivamente criar um movimento contrário à ditadura teocrática de seu país. Margaret Atwood está lançando mundialmente a sequência do livro “O Conto da Aia”, que em breve chegará às livrarias do Brasil, e me pergunto o quanto da série já está no livro e o quanto só saberemos ao lê-lo de fato. Em entrevista ao El País no mês passado, ela disse que “sentiu que precisava escrever uma sequência [para ‘O Conto da Aia’] porque os problemas das mulheres hoje não são os mesmos que eram nos anos 80”. Na opinião da autora, a mulher ocupa hoje outro papel na sociedade, e embora tenhamos avançado em termos de direitos igualitários, certas estruturas se perpetuaram e – pior – se adaptaram à nova conjuntura. Como muito na série que é revisto e retorna ainda mais opressivo, Atwood escreveu talvez a obra ficional mais importante sobre o problema da mulher da nossa década. Creio que seguirá (infelizmente) atual, necessária e importante. Esta temporada é um exemplo exímio do que é destreza ao escrever sobre o sofrimento alheio. Super vale a pena. É duro, mas será pelo melhor. Pelo melhor para elas.
“Comandante Lawrence: Eu fiz a minha escolha. June: Não é sua escolha. Homens, patológicos do caralho... Você não está no comando. Eu estou. Então vai para a porra do seu escritório e acha um mapa pra mim. Obrigada. Comandante Lawrence: Ainda é a minha casa! Minha casa, senhorita. June: Você realmente acha que esta ainda é a sua casa?”
Agora sim! Em sua penúltima temporada, a série estadunidense THE AFFAIR retoma o fôlego perdido na anterior e entrega uma narrativa complexa e suficientemente íntegra – beirando a qualidade do primeiro roteiro. Aqui e ali se percebem excessos, sobretudo numa personagem nova que é inserida no arco de Noah, mas a produção, num geral, supera os fracassos da temporada anterior com bastante folga. Talvez a entrada de Sarah Sutherland no time de roteiristas Hagai Levi, Sarah Treem e Sharr White tenha surtido um efeito positivo. Falo do roteiro porque esta produção, em específico, tem uma dedicação especial à complexidade da narrativa, expandindo-a para os pontos de vista dos personagens para além do casal do “affair”. As perspectivas sempre foram a premissa básica e o diferencial da série, que na instalação passada não foram tão bem aproveitadas... Mas aqui, com toda a certeza, vemos novidade e frescor para os desdobramentos do caso entre Alison e Noah. Sim, há despedidas, há desfechos pouco claros e há becos sem saída, mas a série certamente voltou ao patamar original de boa condução e bom fluxo narrativo. Embora o episódio final não tenha tanta “cara” de finalização, o conjunto se justifica e também justifica a conferida à quinta, que ainda está sendo exibida pelo ShowTime. Assistam! Se curtiram as duas primeiras, com certeza esta quarta vale a pena!
“Noah: Por que estamos sentados aqui embaixo? Há um banco perfeito ali do lado! Helen: Eu quero ficar no nível do chão.”
Então... Reconheço e aprecio imensamente o esforço de Charlie Brooker de continuar escrevendo para a série britânica-estadunidense BLACK MIRROR, que encontrou ali pela terceira/quarta temporadas seu auge de popularidade e, nos últimos anos, tem caído em desaprovação popular e crítica, apesar de conquistar aqui e ali prêmios internacionais importantes (Emmy, GLAAD e British Academy, pra citar alguns). Reconheço mesmo, apesar de pensar a experiência total da série como, a esta altura, mais desfavorável que favorável pela quantidade de episódios/filmes que gerou. A quinta temporada vem no contexto do lançamento, no finalzinho do ano passado, de “Bandersnatch”. Agora a NETFLIX já comprou até os pensamentos de Brooker e pode estar com uma cópia digital dele produzindo este material, que não saberemos a diferença. Retornando ao tamanho original de três episódios por temporada, BLACK MIRROR aborda (com extrema inteligência) a fluidez da sexualidade humana em dois homens negros, os efeitos de uma rede social gigantesca sobre o desespero de uma pessoa, e os processos criativos (e autodestrutivos) que envolvem a fama, a cultura pop e o capital, num episódio que debate bioética e o conceito do que é “verdadeiro”. Embora entenda que os temas são sempre urgentes, penso que a direção e construção das tramas não ficou tão boa – o destaque recai sobre o episódio “Stricking Vipers”, pelo flerte inédito com as quebras da Teoria Queer, e o ponto mais baixo fica sendo “Rachel, Jack and Ashley Too”, apesar dos esforços em ir mais longe. Gradativamente, a série de Brooker foi dando mais espaço para tramas mais “objetivas”, sobre “como as coisas vão acontecer” ou “onde vão dar”, e menos sobre “qual a profundidade do problema” e “de que maneira nossa sociedade pode chegar a ele”. Em suma, ela perdeu a mão da pegada crítica que ajudou a construir (e da qual até agora nenhuma outra conseguiu se aproximar em termos de diversidade temática). Sigo acreditando que B.M. estaria em melhores mãos se seguisse sendo produzida pelo Channel 4 e vendida para a NETFLIX, mas isto não podemos mudar, não é mesmo? Uma temporada mediana, infelizmente.
Aqui, os sinais de inchaço se apresentam ainda mais firmes. THE AFFAIR começou como uma série instigante ao apresentar os diferentes pontos de vista que Noah e Alison, dois amantes, tinham ao viver o caso e participar de um episódio brutal de violência, até então desconhecido, que resultou na morte de um dos personagens. Ao longo do tempo, vamos sendo apresentados a outras perspectivas de personagens centrais e a trama fica mais complexa, culminando no desfecho chocante da segunda temporada. Aqui, na terceira instalação dos roteiristas Hagai Levi e Sarah Treem, vemos mais firmes os sinais de inchaço pelos quais passou a série na segunda temporada. Começando com um episódio substancialmente diferente – mais parecido com um terror que um suspense –, a temporada decai em encheções de linguiça e arcos pouco interessantes para os quatro protagonistas. Há, aqui e ali, lembranças das primeiras temporadas na abordagem dos pontos de vista, mas os episódios, majoritariamente, perdem a pegada “individualista” e como que contam um "panorama dos quatro" sem se importar tanto com detalhes narrativos. O charme que o ponto de vista de cada um trouxe à série é substituído gradualmente por affairs diferentes, sem as óticas opostas, e por conflitos de interesse menos impactantes e substanciais – quase não vemos os filhos de Noah em relação à quantidade de vezes que os novos casos aparecem na tela, por exemplo. É, de forma geral, uma temporada aquém da antecessora e bastante aquém à primeira, que foi disruptiva e primordial para tudo o que se seguiu. Tenho a intenção de acompanhar as últimas duas produções quase só para ver aonde vai dar esta estória – mas com pouca esperança de efetivamente receber um enredo que vá mais longe do que já foi. Não tá sendo tudo isso...
"Alison: Todo mundo pensa que a vida já está dada, mas nós duas sabemos que não está. Nós duas sabemos que o fôlego pode acabar, por isso sabemos que a vida é um presente. Você vai sentir falta da Dawn, mas vai manter sua memória viva. A partir de hoje, você vai viver por vocês duas."
Inovadora, e uma delícia de narrativa quebrada... Fui assistir a THE AFFAIR com aquele pé atrás – nenhum ator/atriz conhecido, diretores com poucos trabalhos relevantes, roteiristas quase anônimos, mas... Caramba... Tá aí uma série surpreendentemente bem feita. THE AFFAIR explora os pós de um caso extra-conjugal que parece ter resultado na morte de uma pessoa. Nada sabemos até percebermos que toda a série é estruturada sob o ponto de vista de cada um – uma vez é o Noah, o “maridão” da cidade, escritor com quatro filhos nas costas, e outra é a Allison, a “esposa” da casa de veraneio, casada com o dono de um rancho da cidade. Ambas as partes deste caso têm detalhes, mas o que chama mais atenção é a maneira como estão dispostas essas informações: muitas vezes, o mesmo dia se passa sob a perspectiva de Noah e de Allison, e são praticamente dias diferentes, por causa da diferença de ponto de vista. É notável a sexualização e o egocentrismo exacerbados que jorram da perspectiva de Noah, um homem que, em essência, só quer saber do que lhe interessa, que é uma boa transa e nenhuma responsabilidade. Da parte de Allison, percebemos como ela é muito mais profunda e complexa, não se bastando no sexo e tendo muitos “motivos” para escolher os caminhos que escolhe na série. Tudo faz sentido dentro de seu contexto e a produção, apesar de ter um desenvolvimento lento, consegue entregar satisfatoriamente uma narrativa instigante e inovadora, que vai surpreendendo a cada detalhe adicionado, para confundir mais a gente... O final disso aqui, inclusive, é absurdo. Deem uma chance! Duvido não gostarem dessa temporada...
“Noah (dando aula): Então, o que Shakespeare está tentando dizer é que um amor perfeito não se sustenta num mundo imperfeito.”
Aqui, como já falei em outros casos, começam a aparecer os sinais de cansaço... THE AFFAIR veio com o pé na porta apresentar a problemática do caso extra-conjugal de Noah com Allison, e todos os pormenores que envolveram a morte de uma pessoa que eles conheciam em comum. Porém, ao contrário da temporada anterior, esta começa a apresentar sinais de falta de ideias, com cliffhangings menos fortes e mais “encheção de linguiça”, se dá pra falar assim. Não é de todo ruim: nesta segunda temporada, mais perspectivas são adicionadas à narrativa, fazendo-nos trafegar livremente pelas impressões dos quatro protagonistas que vivem este caos. As informações novas fortalecem impressões antigas e reafirmam como esta série é inovadora ao contar uma história que “muda” de acordo com quem a vive – uma mesma cena para Noah quase nunca é igual para Allison, mesmo tendo os mesmos diálogos e sendo no mesmo lugar. É de uma riqueza enorme conferir este trabalho por este diferencial, que não me recordo ter visto em outras produções recentes. O caminhar do programa segue o mesmo ritmo lento, mas aqui há mais explicações e finalmente uma solução para o problema central, que é o fio condutor da trama. O encerramento, mais chocante que o da primeira temporada, dá a entender que o que virá depois será ainda pior (se isso for possível) do que o que veio antes. Não enche a ponto de desistir de assistir à terceira, mas certamente algumas pessoas encontrarão barrigas em episódios aqui. Sigo assistindo, mas não tão animado assim... Uma boa temporada.
31 minutos (1ª Temporada)
4.6 13Não há muito o que dizer contra essa série.
O fato é que, há muito, já se procurava a versão completa dela (hoje disponibilizada no Youtube pelo próprio programa) e que, depois de assistir a todas as temporadas, só se pode dizer que vale muito a pena...
”31 Minutos” é uma série irreverente, contagiante e de um humor finíssimo, sobretudo em relação ao contexto econômico-social do Chile. O uso de regionalismos, gírias e discretas citações aos outros países da América Latina enriquecem todo o percurso também. Trata-se de uma produção leve, engraçada e ágil, com sacadas adultas e bastante específicas. Para além disso, há inequívocos pontos altos: a adaptação de Dom Quixote, as Notícias Verdes de Bodoque, as canções super bem escritas, os especiais de Natal, enfim...
Dá pra ficar falando um monte sobre como a série acerta em praticamente tudo, mas o ideal é mesmo buscar assistir e favorecer a APLAPLAC, que conseguiu construir um legado que se retroalimenta à medida que o tempo passa.
É uma daquelas produções que nunca vai ficar velha!
Incrível. Mesmo.
“Tulio y sus amigos: Yo nunca vi televisión porque es muy fome...”
Você (1ª Temporada)
3.7 916 Assista AgoraA aclamada e polêmica “YOU”, com todas as suas falhas, ainda se apresenta um olhar no mínimo interessante sobre um fenômeno social ainda pouco explorado...
Toda vez que a NETFLIX assina a produção de algo, é costume que pegue um hype, e que morra quase tão rápido quanto estourou. Pelo que parece, não é este o caso desta série que, prestes a ganhar uma terceira temporada, marcou bastante o imaginário dos aficcionados pelo formato.
A produção, estrelada pelo galã Penn Badgley, conta a história de um stalker que se apaixona por uma aspirante a escritora. A série procura apresentar um perseguidor de maneira a questionar, como disse o protagonista, “quanto a nossa sociedade é capaz de passar pano para crimes de um homem com o meu tom de pele, e que se pareça comigo”. Isso, de fato, ela faz muito bem.
Ignorando os vários furos que o roteiro apresenta (e que ficam ainda piores na segunda temporada), dá para perceber um alto grau de consciência por parte dos roteiristas em não apologizar a violência contra a mulher, ou tentar “suavizar” os aspectos mais doentes do personagem. Ainda que alguns núcleos (como o de Paco) sirvam mais para humanizar que retratar como que um assediador seria, na realidade, o resultado sai mais satisfatório do que o esperado - e pode servir como um excelente alerta ao seu público-alvo, meninas jovens, sobre quais os métodos e, principalmente, o quê caracteriza um acossador, um invasor de privacidade, e um potencial feminicida.
“Joe Goldberg : Olá, quem é você? Todas as suas contas são públicas. Você quer que eles te vejam, quer que te conheçam. E eu te agradeço por isso."
3% (4ª Temporada)
4.0 128E nossa série finalmente encontra seu destino...
“3%”, distopia tupiniquim que se passa numa República das Bananas infelizmente muito real, encontra seu desfecho em 2020, numa quarta instalação que faz jus a tudo que veio antes. Por causa do inesperado sucesso que alcançou a primeira temporada, pessoas do mundo todo conheceram um pouco do nosso idioma, da nossa gente e da dura realidade em que vivemos.
Escrevo “nossa série” porque, de fato, esta produção honra com todos os méritos a Brasilidade, nas suas infinitas beleza e corrupção. “3%” é um experimento social num Brasil menor, reduzido a um Continente e um Maralto, dois polos que se complementam (e se podem destruir) com a mesma facilidade com que as democracias latino-americanas se rendem ao fascismo e o superam com o passar dos anos.
A narrativa político-social que se encontra no roteiro desta última temporada vale ouro. O sentido da ocupação na tomada dos territórios simbólicos, o poder de uma população conscientizada, a utopia do bem-comum, enfim, são inúmeros elementos que tornam o assistir valer a pena. Tem os seus problemas de atuação e condução? Claro, como tantas outras séries da Netflix que os brasileiros idolatram, mas o que há de representatividade aqui, para a nossa gente, realmente não tem preço...
Menção honrosa para a impecável atuação de Bianca Comparato e as participações de Chico César e Ney Matogrosso, igualmente irretocáveis.
Assista sem medo. Vale muito a pena chegar ao final!
”Ezequiel: Você é o criador do seu próprio mérito.”
As Telefonistas (3ª Temporada)
4.0 105 Assista AgoraAqui, realmente, a coisa desandou.
LAS CHICAS DEL CABLE, que tinha sido um retumbante sucesso nas suas primeiras duas instalações (ambas ainda em 2017), reencontra em sua terceira temporada problemas que já tinha, e dessa vez com origens novas...
Os comprometimentos que a produção vinha apresentando, especialmente no roteiro e em algumas atuações, só ficam mais evidentes e chamativos. A maldade “irreal” e “desproporcional” da vilã Carmen simplesmente torna os acontecimentos pouco críveis, junto de uma série de novas situações que são difíceis de acreditar (como todo o arco do irmão gêmeo de Pablo e o improvável novo romance que vive Ángeles).
Esses são alguns dos maiores defeitos que apresenta a terceira temporada, que para além disso, se estende por tempo demais demais no triângulo amoroso central (que nunca parece se resolver) e traz várias discussões importantes (como o aborto e a transsexualidade) de maneira superficial e pouco debatida de fato.
Tais características “novelescas” são a delícia de alguns, mas para outros, realmente incomodam. É por motivos como esses que pessoas abandonam séries que chegam a ter seis temporadas inteiras com episódios de uma hora cada.
Não veria de novo, e não indico.
”Alba: Não podemos mudar o passado, mas podemos ser pacientes e aprender a viver com ele, embora não seja uma tarefa fácil.”
As Telefonistas (2ª Temporada)
4.2 119 Assista AgoraApesar dos visíveis esforços em conjunto, aqui temos uma temporada consideravelmente inferior à sua antecessora...
LAS CHICAS DEL CABLE, primeira produção da Netflix completamente em espanhol, havia estreado ainda naquele ano de 2017, tendo aproveitado o momentum de seu êxito para rapidamente produzir uma sequência à sua história. Tal sequência, que resultou nesta segunda temporada, não se apresenta com o mesmo vigor da anterior, ainda que entretenha de maneira aceitável.
Os furos roteirísticos, a falta de lógica de algumas atitudes (que não condizem com os núcleos das personagens) e algumas atuações medianas (em especial, nos trabalhos de Martiño Rivas e Ana Polvorosa) tornam o assistir a esta série um pouco enfadonho. Soma-se a isso uma antagonista absolutamente repetitiva, e irrealisticamente má, na personagem Carmen, e alguns episódios simplesmente “encheção de linguiça”, como os mais ao meio da temporada.
Todos esses aspectos contribuem para que a série decline cada vez mais, nas temporadas que seguem, a medida que os problemas não se consertam e só seguem aumentando... Ainda que eu tenha assistido à produção seguinte, não indicaria.
Como uma visita melhor, e ainda hispânica, em seu lugar, assistam à “Vis a Vis” - me parece muito mais proveitoso.
Não indico.
"Carmen: Deixe-me te dar um conselho. Não espere nunca que um homem te solucione a vida."
A Máfia dos Tigres (1ª Temporada)
4.0 219O patriotismo exagerado que alguns brasileiros têm em relação aos Estados Unidos encontra em produções como essa um desafio muito grande com o qual lidar. Ao deixar-nos sem palavras, "A Máfia dos Tigres”, assinada por Rebecca Chaiklin põe em xeque nossas considerações sobre o que é “normal”, “legal” e “ético” no que tange a cultura estadunidense (tida por muitos como a maior referência de sucesso e prosperidade do mundo).
De fato, TIGER KING não mede esforços em chocar seu público. Trabalhando com uma temática inusitada, e protagonizada por personagens absurdos (que facilmente poderiam ter saído de algum mocumentário norte-americano), “A Máfia dos Tigres” representa o que há de mais estranho e intenso na dita maior potência do mundo.
Corrupção, mentiras, motivações escusas e tigres, muitos tigres esperam o espectador que, desatento, não dá nada pela série que, surpreendentemente, vai ficando cada vez mais esquisita. As personalidades excêntricas que compõem esta disputa territorial e capital têm, todas, seus esqueletos no armário, e Chaiklin não hesita em apresentá-los um a um, a cada episódio que passa.
Sem perder o fôlego, e não parando de surpreender mesmo no último episódio, TIGER KING se apresenta uma série imperdível pelo ineditismo de sua temática, e ainda mais pela sua execução, que, primorosa, honra o nome das clássicas formas roteirísticas de prender o espectador em seu assento...
Quem curte uma boa bizarrice não vai sair ileso. Assista!
“Doc Antle: Com certeza, Carole Baskin matou seu marido e o deu aos tigres. Na minha opinião.”
As Telefonistas (1ª Temporada)
4.2 228 Assista AgoraA série espanhola LAS CHICAS DEL CABLE deu o que falar na época de sua estreia; a primeira produção em espanhol da Netflix aborda o movimento feminista (ou o Feminismo como instituição incipiente) nos anos 20, numa Madrid retrógrada e difícil, sobretudo para as mulheres que, então, começavam a entrar no mercado de trabalho.
Neste contexto, o cargo de telefonista era muito visado, no que se via uma possibilidade de crescimento e manutenção própria - a independência que, historicamente, tanto custou quanto custa hoje a mulheres de diversas regiões do mundo.
Cenograficamente, e na indumentária de todas as personagens, “As Telefonistas” acerta e muito; entretanto, em questão de roteiro, ela não vai muito longe. A série aborda um tema amplo, mas num contexto específico, o que confere a ela certo ineditismo, embora a sua execução não esteja à altura da qualidade estética que ela apresenta... Há, aqui, alguns furos no roteiro, e absurdos que simplesmente passam despercebidos, em momentos que claramente a equipe de roteiristas se esqueceu de alguns personagens e situações...
Mesmo assim, como um esforço em conjunto - próprio do movimento social de que se vale -, esta primeira temporada se sai bem e justifica a espera de uma segunda instalação.
Para assistir sem suspender a ficção.
“Alba: Es hora de hacer las cosas a nuestra manera.”
Brooklyn Nine-Nine (2ª Temporada)
4.4 187 Assista AgoraA bem-realizada comédia estadunidense Brooklyn Nine-Nine chega a sua segunda temporada em 2014, dando continuidade a suas instalações no formato sitcom e divertindo praticamente todas as pessoas que a assistem.
Dirigida por uma boa equipe e escrita de maneira até bastante responsável, a turma de Jake Peralta segue chamando atenção por sua irreverência e diversidade, com personagens tão distintos entre si quanto seja possível, ainda que dentro de certos padrões de protagonismo. Nesta segunda temporada, por vezes, vemos um humor etarista e capacitista, que escapa das bocas desses queridos personagens ainda que em momentos cada vez mais espaçados. O desenvolvimento de determinado romance, no meio desta temporada, soa natural e cheio de química, e a apresentação do pano de fundo do capitão Holt é um dos elementos que mais chama atenção no roteiro em geral.
É uma série leve e divertida, embora seja cada dia mais notável que a polícia estadunidense da realidade está muito longe desta utopia de empatia e compreensão pelas minorias sociais (e talvez caminhe justo na direção contrária disso).
Contudo, é uma baita série! Mandem ver que vale a pena.
“Gina Linetti: A língua inglesa não pode traduzir completamente a complexidade e profundidade dos meus pensamentos, então estou incorporando emojis na minha fala para me expressar melhor. Carinha piscando.”
Fleabag (2ª Temporada)
4.7 889 Assista AgoraA tão aguardada (e um pouco tardia) segunda temporada de FLEABAG chega em 2019 para sacudir a boa confusão da anterior e garantir, mais uma vez, um entretenimento irreverente e de ótima qualidade.
Já era sabido que Phoebe Waller-Bridge era uma excelente roteirista, e o seu sucesso, também promovido pela emergente Amazon Prime, reapresentou a seus assinantes um tipo de humor muito específico, característico das comédias do Reino Unido dos anos 90. A sátira “chique”, o deboche velado, as situações constrangedoras e seus silêncios ainda mais, e o “companheirismo” que sentimos ao identificarmo-nos com Fleabag são alguns dos elementos que caracterizam tanto a série quanto o humor (revigoradíssimo) que ela retoma daquelas antigas comédias inglesas.
O recurso da quebra da quarta parede, e a chegada de um elemento religioso bastante polêmico, roubam a cena e fazem com que cada episódio seja mais aguardado que o anterior. Por ser também tão curta, dá para assisti-la de uma vez só, tão fácil que é ser carregado por sua narrativa.
Torna muito especial o fato de que, segundo a própria protagonista-roteirista, esta temporada é a última, e que nela, Phoebe disse tudo que queria dizer com o projeto. Vale muito a pena investir o pouco tempo que ela pede para apreciá-la - podendo ser revisitada sempre, e sempre com um bom fôlego!
Assista sem receios!
“Fleabag: Não me faça uma otimista, você vai arruinar minha vida.”
Fleabag (1ª Temporada)
4.4 627 Assista AgoraO minimalista, mas nada simplório humor deste que é um dos acontecimentos mais ricos da Inglaterra dos últimos anos...
FLEABAG, uma série escrita, produzida, e estrelada pela incrível Phoebe Waller-Brigde, narra a história da protagonista de mesmo nome lidando com os problemas comuns às mulheres jovens-adultas: os relacionamentos, as decepções, as mudanças e a maturidade. Bastante curta, a primeira temporada velozmente nos apresenta a Fleabag e nos convida a acompanhá-la em suas situações esdrúxulas e involuntariamente cômicas (aquele tipo de comicidade que vem de uma cena de vergonha alheia ou de absoluto desconforto). Projetada como um humor “voltado ao universo feminino”, mas não se detendo a isso, esta produção utiliza muito bem o efeito da quebra da quarta parede, aliado a uma linguagem popular e super acessível, nas gírias, nas atuações e nos cenários. Valeria a pena só pela fineza do humor inglês, aqui tão desenvolto, mas a série é muito mais que isso e, certamente, pode falar por si só.
Assista sem medo!
“Fleabag: Eu não sou obcecada com sexo, só não consigo parar de pensar nisso. Na sua performance. Na sua estranheza. No seu drama.”
Dark (3ª Temporada)
4.3 1,3KEsta aqui, para alguns, não parece ter dado muito certo.
DARK chega a sua conclusão numa terceira temporada que divide opiniões. Há quem diga que tudo se encerra de maneira realmente esplêndida, e quem tenha se cansado da quantidade de reviravoltas e mudanças um pouco... drásticas na trama e no destino dos personagens...
A verdade é que aqui, na terceira instalação de DARK, ainda dirigida e produzida pela mesma equipe, há a adição de elementos não antes vistos, e que, mais uma vez, alteram todo o curso da coisa. Se antes já estava complicado seguir e compreender todas as linhas temporais de pessoas que iam e voltavam no tempo, umas ficando no passado, outras avançando e vivendo somente no futuro, e etc, agora, realmente, a coisa dá uma guinada inesperada e que passa a ser utilizada a todo momento...
A centralização da trama em determinado romance, por quase todos os episódios, marca demais e se torna um tanto quanto previsível, e o elemento da profecia auto-realizadora se repete tantas vezes, que acaba cansando parte do público, que tão avidamente consumiu as temporadas anteriores. Tal cansaço é perceptível mesmo no mais dedicado espectador, sobretudo depois de horas assistindo aos intricados episódios desta última instalação.
Contudo, para o que é, e o que representa para a Alemanha, DARK se despede como uma produção incrível, e que merece, sim, uma chance de todo mundo. É certo de que não agradará a todas as pessoas da mesma forma, mas é, definitivamente, um marco cultural para o povo alemão e, sendo bastante sincero, um marco ainda mais importante para a Netflix, que poucas vezes apresentou, desde o seu início, produções com este nível de complexidade e riqueza para o seu público.
Assistam!
“H. G. Tannhaus: E se tudo que veio do passado foi influenciado pelo futuro?”
Dark (2ª Temporada)
4.5 897Baran Bo Odar assina, em 2019, a segunda instalação da aclamada série alemã DARK, no que parece ser a mais bem-dirigida e suspensiva das três temporadas.
Seguindo a lógica da produção anterior, DARK convida seus espectadores a destrinchar seu labirinto detidamente trabalhado, com suas ranhuras e rachaduras propositais no tempo. O sumiço do protagonista Jonas, do episódio anterior, é sucedido por uma série de reviravoltas (muitas interessantes, outras nem tanto), e por ressignificações de cenas anteriores, no que pode representar a mais longa lista de subtramas escritas em cima de um mesmo personagem (ou de seu núcleo).
É raro que uma produção altere tanto a sua estrutura e mesmo assim consiga vestir o que está escrevendo, mas é o que ocorre aqui: DARK consegue fechar várias pontas soltas e deixar um número suficiente de dúvidas para justificar uma terceira visita. Seu elenco segue trabalhando com a mesma primazia e o roteiro não deixa para menos - é, para muitos, o ponto alto de toda a produção.
Saliento que, apesar de compreender a estrutura básica, não sei dizer se, com menos reviravoltas e cliffhangers, a série não se tornaria, na mesma medida, mais acessível e até mais desfrutável; é inegável que, mesmo maratonando, é preciso fazer um esforço para além do comum para compreendê-la, e nem todas as pessoas terão o tempo nem a paciência para fazê-lo.
Segue sendo boa aqui, entretanto. Vale a conferida!
"Adam: Nós não temos livre-arbítrio no que fazemos porque não somos livres no que desejamos."
Brooklyn Nine-Nine (1ª Temporada)
4.3 437 Assista AgoraEssa série é tudo de bom, ainda que com algumas ressalvas...
O gênero estadunidense de comédia sitcom, que ganhou força nos anos 70 e revigorou-se nos 90, ainda precisava, para esta década, de uma reinvenção. Tendo sido método para absolutos sucessos, como “Friends”, “The Big Bang Theory” e até “Two and a Half Man”, já se percebia então a necessidade de uma nova cara, um respiro para comédia norte-americana; o fato é que, nessas e noutras produções, a piada numa sitcom vinha mais por um preconceito (e pela sua manutenção) do que pela situação em si. Daí, surgiram temporadas inteiras de sitcons absolutamente machistas, homofóbicas e segregacionistas - a risada da pessoa diferente “porque ela é diferente”, e não pelo que acontece com ela.
É no contexto da resposta a essas produções que BROOKLYN 99 é lançada, em 2013, desconstruindo padrões e rompendo com as “narrativas tradicionais” sobre a polícia estadunidense. Ainda que, em partes, pareça apologista às forças armadas dos EUA (que, há de se convir, são muito mais violentas e desonestas na vida real do que a turma de Jake Peralta), e ainda apresente piadas gordofóbicas e etaristas (sobretudo na maneira como Scully e Hitchcock são tratados pelo restante do elenco “desconstruído”), num geral a série se sai muito bem ao fazer humor às custas de, realmente, situações engraçadas, estranhas e inesperadas; tudo que uma boa comédia deve fazer.
Evitando a manutenção de estereótipos e preconceitos, BROOKLYN 99 vale a pena não só por divertir, mas por fazer calar os ciclos de violência verbal e imagética que incessantemente se repetem na vida das pessoas 'fora da tela’, o que é extremamente importante nos dias de hoje.
Ansioso pela próxima temporada!
“Jake Peralta: Title of your sex tape.”
Onisciente (1ª Temporada)
3.4 74 Assista AgoraApesar de ser brasileira, é uma série bastante mediana.
ONISCIENTE é a nova aposta do produtor Pedro Aguilera, roteirista da bem-sucedida “3%”, também da Netflix. Aqui e ali, em vários momentos, vemos decisões de direção/figurino/cenário que lembram o Processo, a Causa e outros elementos da série – embora, tirando a ficção científica, ambas não tenham tanto assim em comum.
“Onisciente” tem um bom gancho inicial, que estabelece uma dúvida e vontade de assistir genuínas, mas que vai, aos poucos, se desintegrando no percurso da série. Para além das obviedades do roteiro (sobretudo o final absolutamente previsível), ONISCIENTE tem vários momentos desnecessários, como aquela cena íntima de Olívia e todo aquele rolê do Daniel, lá para o meio da produção. A sensação que há, apesar de a série ser curta, é que ela poderia ser ainda menor, e não perderia nada – o roteiro não vai tão longe e se torna desinteressante quase que nos primeiros três episódios. Junte-se a isso as péssimas atuações, principalmente dos irmãos protagonistas; quase não há verdade ali, e é tudo caricato demais para que empatizemos com a sua situação...
Enfim, não vale a pena. É melhor mesmo assistir às temporadas de 3%, porque pelo menos movimentos narrativos e reviravoltas ocorrem de fato.
Esta aqui não rolou, infelizmente.
Sex Education (2ª Temporada)
4.3 592 Assista AgoraFantástico!
Indo na contramão das séries da Netflix anteriores (como a irresponsável “13 Reasons Why”), SEX EDUCATION chega à sua segunda temporada revitalizada, mais madura e ainda mais divertida. Cada cena daqui é uma maneira inclusiva e natural de apresentar questões importantes da sexualidade humana – e denota, como sempre, a importância da informação no contexto dos tabus do sexo e da expressividade das pessoas.
Sexo homoafetivo, heteronormativo e na idade mais avançada; abortos, assédios, ISTs; repressão da sexualidade, vergonha e orgulho – SEX EDUCATION cobre vários temas de maneira responsável e acessível, tornando a compreensão de temas delicados tranquila e acima de tudo necessária. Cada arco de personagem é construído com o cuidado de um artesão e os resultados, ao final, são incríveis para dizer o mínimo.
Não sou o público-alvo disto aqui, mas quem for certamente vai curtir tanto quanto eu. SEX EDUCATION está no sinal verde para uma terceira temporada ainda mais bacana e tenho certeza de que assistirei também. Vale a pena, mesmo que seja só para reforçar o que você já sabe sobre o tema central – as tramas paralelas são bem legais de acompanhar também...
Para mim, é uma das melhores séries que a Netflix produziu. Representa muita coisa boa para esta geração, e isto deve ser reconhecido. Não deixe de assistir!
Boa demais.
“Eric: Eu tive que trabalhar muito duro para me amar e não vou voltar a me esconder agora.”
The Affair: Infidelidade (5ª Temporada)
3.8 43 Assista AgoraNão é uma série sobre um divórcio, é sobre a evolução do amor.
THE AFFAIR encontra seu final desconcertante nesta quinta e última temporada. Sendo a única escrita somente por Hagai Levi, a série se passa cerca de 30 anos depois dos acontecimentos da anterior, quando Joanie (num arco, diga-se de passagem, tedioso e desnecessário) busca descobrir o verdadeiro destino de sua mãe que, segundo ela crê, não se matou como todos lhe disseram.
Isto é o estopim para um último retorno a Montauk, para desenterrar os ossos daqueles que carregavam seus pecados e reencontrar as saídas possíveis que a vida apresentou. THE AFFAIR chama a atenção por ser um seriado tão falho, tão inexato e por isso mesmo tão humano, transmitindo a beleza e a fraqueza real que existem ao ser quem somos – e quem devemos ser. Sim, ela começou com um caso extraconjugal – mas trata-se de muito mais que isso. THE AFFAIR é uma série sobre as escolhas das pessoas, sobre como um lida com o outro, e com a sua ausência, e com a sua permanência, e por aí vai...
Escrever uma quinta vez sobre como a série é bem construída é chover no molhado. THE AFFAIR, com seus múltiplos pontos de vista (alguns, inclusive, inéditos até então) é simplesmente uma das produções mais maduras e interessantes que houve na televisão nos últimos anos – difícil assistir à primeira temporada e não ficar embasbacado com o abismo que é o pensar e sentir de pessoas que vivem uma mesma experiência aqui. THE AFFAIR possibilitou que conhecêssemos esses pensamentos e sensações, e ainda de maneira plural, multifacetada e independente...
Embora não seja a temporada mais engajadora ou misteriosa, esta quinta instalação é a confirmação de que vale a pena assistir a tudo, e pensar em todas as relações que se dão ali e nas nossas próprias vidas, tirando de suas reflexões o que pudermos (e quisermos) tirar. Não é uma série sobre um divórcio, é sobre a evolução do amor.
Tá pra surgir uma produção da SHOWTIME que chegue no nível desta aqui no quesito profundidade de personagens. THE AFFAIR estará sempre no coração de quem curte roteiros complexos e bem feitos, com direito a tudo que nos traz de volta à humanidade que em nós (por vezes) descansa.
É uma baita série. Assistam!
“Whitney: Não quero mais ser olhada. Quero ser aquela que olha os outros.
Andrea: É aí que reside o poder.”
Vis a Vis (1ª Temporada)
4.1 184 Assista AgoraUma série divertida (e um pouco sem noção), mas que não perde o ritmo até entregar o último capítulo.
VIS A VIS é um drama de sucesso da televisão espanhola produzido pela Globomedia. Dirigida por Sandra Gallego e Jesús Colmenar, trata sobre o cárcere privado feminino, mostrando a vida e as relações que se dão entre as mulheres nessas circunstâncias.
Nesta primeira temporada acompanhamos o drama de Macarena Ferreiro, condenada por um crime que não admite ter cometido, e a sua evolução como presidiária na prisão de Cruz del Sur. Todo o mote da série gira em torno dela e de Zulema, sua inimiga “auto-declarada” (sem grandes justificativas) e em suas frustradas tentativas de sair da situação em que se encontra.
Apesar de toda a temporada ser instigante, com bons pontos de virada e cliffhangers aos finais dos capítulos, VIS A VIS cai em certos furos sem vergonha alguma – uma equipe técnica minúscula para a quantidade de presas de Cruz del Sur, problemas de segurança injustificáveis mesmo para a filosofia “inovadora” da instituição e a dubiedade ‘ética’ de várias presas, em especial Saray e Anabel. Estes furos, quando são muitos e ocorrem demais, passam a sensação de que a obra foi pouco planejada, pelo menos para este primeiro momento.
Ao final da temporada, a série se mostra satisfatória, apesar dos trancos e barrancos, e promete revirar toda a trama de cabeça para baixo com o seu final inacreditável... Tomara que tenham conseguido.
Como uma primeira temporada, “Vis a Vis” tem uma boa primeira impressão. Resta saber se ela se mantém por mais três...
3% (3ª Temporada)
3.7 127A aposta da Netflix na ficção científica brasileira começa a apresentar claros sinais de esgotamento...
3%, série produzida pelo maior serviço de streaming do mundo, chega a sua terceira temporada com mais falhas que acertos. A produção tem êxito principalmente na parte técnica: colorismo, fotografia, cenários e indumentária seguem bastante bem, alcançando aí um patamar no nível das novelas da Globo, se dá pra colocar assim. A trilha e edição de som idem, apesar de chamarem menos atenção agora. Os problemas são dois: o elenco e o roteiro.
O elenco, capitaneado pela Bianca Comparato [Michele], ostenta maniqueísmos e atuações caricatas demais para ser levado a sério. Vaneza Oliveira, a Joana, parece só saber estar inconformada e gritar o tempo todo. Rodolfo Valente [Rafael] e Cynthia Senek [Gloria] têm muito destaque mas performances sofríveis – mais ele do que ela –, e isso faz com que o único que tenha realmente estofo, e seja tolerável de assistir e seguir seu arco até o fim, é o Rafael Lozano [Marco], até pelas reviravoltas que rolam com ele. No mais, os quase-figurantes não chamam atenção e tudo fica meio que por isso mesmo.
O roteiro se sedimenta em bases frágeis. Todo o movimento do Maralto em relação à Concha é questionável – por quê toda a temporada gira em torno de um lugar que não interessa ao Maralto, e principalmente não o afeta de nenhuma forma? Pessoas rejeitadas ou que rejeitaram o Processo, e que passaram a viver fora de seus contornos, representam ameaça tal que precise ser monitorada assim? As atitudes “em manada”, de todo o povo da Concha contra qualquer coisa que represente tanto a Michele quanto o Maralto soam como uma crítica à polarização esquerda-direita que elegeu o Bolsonaro neste país, mas esta crítica é um subtexto raso e até insuficiente para justificar assistir à esta produção...
Além disso tudo, mesmo os fãs das primeiras duas (excelentes) temporadas parecem ter sentido os sinais de esgotamento de ideias daqui. Talvez tenha a ver com a Dani Libardi, diretora solo nesta temporada, que nas anteriores trabalhou em quarteto para dirigir os episódios (com Daina Giannecchini, Jotagá Crema e Philippe Barcinski).
A série, segundo a própria Netflix, ganhou a confirmação da quarta (e última) temporada recentemente. Poderá ser um suspiro impressionado ou aliviado: impressionado por um final impactante, que resolva todas as questões abertas pela história, ou aliviado por ter acabado antes de virar uma franquia de quinze temporadas (como ocorre com algumas produções na Netflix)...
Esta daqui não desceu. Bateu até uma vergonha...
Tomara que melhorem até o ano que vem!
“Michele: Eu não fui justa. Não existe um processo justo.”
O Conto da Aia (3ª Temporada)
4.3 596 Assista AgoraE vamos de volta a Gilead...
THE HANDMAID’S TALE chegou com o pé na porta dois anos atrás com a história de June, uma mulher que é capturada por uma teocracia em crescimento que toma conta dos Estados Unidos. Futurista, alarmante e gravíssima, a série tem ganhado audiência no mundo todo, e aumentado a popularidade da Hulu, a plataforma de streaming que tem se lançado como concorrência principal da Netflix nos últimos anos (junto da HBO).
Com a exceção de um episódio (o nono), esta temporada segue implacável e impecável como as anteriores. A dura realidade distópica de Gilead tanto para Aias quanto (agora) para esposas e comandantes parece intransponível, mas germina nas mulheres um mundo novo, que-há-de-vir, em que a esperança e a paz hão de reinar para sempre. June, desta vez não mais “Ofjoseph” ou qualquer outro nome de posse, passa gradativamente a responder a ofensas e ordens de quem estiver pela frente. Nesta temporada, diferentemente de tudo que veio antes, June começa a fortalecer laços com suas aliadas e efetivamente criar um movimento contrário à ditadura teocrática de seu país.
Margaret Atwood está lançando mundialmente a sequência do livro “O Conto da Aia”, que em breve chegará às livrarias do Brasil, e me pergunto o quanto da série já está no livro e o quanto só saberemos ao lê-lo de fato. Em entrevista ao El País no mês passado, ela disse que “sentiu que precisava escrever uma sequência [para ‘O Conto da Aia’] porque os problemas das mulheres hoje não são os mesmos que eram nos anos 80”. Na opinião da autora, a mulher ocupa hoje outro papel na sociedade, e embora tenhamos avançado em termos de direitos igualitários, certas estruturas se perpetuaram e – pior – se adaptaram à nova conjuntura. Como muito na série que é revisto e retorna ainda mais opressivo, Atwood escreveu talvez a obra ficional mais importante sobre o problema da mulher da nossa década.
Creio que seguirá (infelizmente) atual, necessária e importante. Esta temporada é um exemplo exímio do que é destreza ao escrever sobre o sofrimento alheio.
Super vale a pena.
É duro, mas será pelo melhor. Pelo melhor para elas.
“Comandante Lawrence: Eu fiz a minha escolha.
June: Não é sua escolha. Homens, patológicos do caralho... Você não está no comando. Eu estou. Então vai para a porra do seu escritório e acha um mapa pra mim. Obrigada.
Comandante Lawrence: Ainda é a minha casa! Minha casa, senhorita.
June: Você realmente acha que esta ainda é a sua casa?”
The Affair: Infidelidade (4ª Temporada)
4.2 83 Assista AgoraAgora sim!
Em sua penúltima temporada, a série estadunidense THE AFFAIR retoma o fôlego perdido na anterior e entrega uma narrativa complexa e suficientemente íntegra – beirando a qualidade do primeiro roteiro. Aqui e ali se percebem excessos, sobretudo numa personagem nova que é inserida no arco de Noah, mas a produção, num geral, supera os fracassos da temporada anterior com bastante folga.
Talvez a entrada de Sarah Sutherland no time de roteiristas Hagai Levi, Sarah Treem e Sharr White tenha surtido um efeito positivo. Falo do roteiro porque esta produção, em específico, tem uma dedicação especial à complexidade da narrativa, expandindo-a para os pontos de vista dos personagens para além do casal do “affair”. As perspectivas sempre foram a premissa básica e o diferencial da série, que na instalação passada não foram tão bem aproveitadas...
Mas aqui, com toda a certeza, vemos novidade e frescor para os desdobramentos do caso entre Alison e Noah. Sim, há despedidas, há desfechos pouco claros e há becos sem saída, mas a série certamente voltou ao patamar original de boa condução e bom fluxo narrativo. Embora o episódio final não tenha tanta “cara” de finalização, o conjunto se justifica e também justifica a conferida à quinta, que ainda está sendo exibida pelo ShowTime.
Assistam! Se curtiram as duas primeiras, com certeza esta quarta vale a pena!
“Noah: Por que estamos sentados aqui embaixo? Há um banco perfeito ali do lado!
Helen: Eu quero ficar no nível do chão.”
Black Mirror (5ª Temporada)
3.2 959Então...
Reconheço e aprecio imensamente o esforço de Charlie Brooker de continuar escrevendo para a série britânica-estadunidense BLACK MIRROR, que encontrou ali pela terceira/quarta temporadas seu auge de popularidade e, nos últimos anos, tem caído em desaprovação popular e crítica, apesar de conquistar aqui e ali prêmios internacionais importantes (Emmy, GLAAD e British Academy, pra citar alguns). Reconheço mesmo, apesar de pensar a experiência total da série como, a esta altura, mais desfavorável que favorável pela quantidade de episódios/filmes que gerou.
A quinta temporada vem no contexto do lançamento, no finalzinho do ano passado, de “Bandersnatch”. Agora a NETFLIX já comprou até os pensamentos de Brooker e pode estar com uma cópia digital dele produzindo este material, que não saberemos a diferença. Retornando ao tamanho original de três episódios por temporada, BLACK MIRROR aborda (com extrema inteligência) a fluidez da sexualidade humana em dois homens negros, os efeitos de uma rede social gigantesca sobre o desespero de uma pessoa, e os processos criativos (e autodestrutivos) que envolvem a fama, a cultura pop e o capital, num episódio que debate bioética e o conceito do que é “verdadeiro”.
Embora entenda que os temas são sempre urgentes, penso que a direção e construção das tramas não ficou tão boa – o destaque recai sobre o episódio “Stricking Vipers”, pelo flerte inédito com as quebras da Teoria Queer, e o ponto mais baixo fica sendo “Rachel, Jack and Ashley Too”, apesar dos esforços em ir mais longe. Gradativamente, a série de Brooker foi dando mais espaço para tramas mais “objetivas”, sobre “como as coisas vão acontecer” ou “onde vão dar”, e menos sobre “qual a profundidade do problema” e “de que maneira nossa sociedade pode chegar a ele”.
Em suma, ela perdeu a mão da pegada crítica que ajudou a construir (e da qual até agora nenhuma outra conseguiu se aproximar em termos de diversidade temática). Sigo acreditando que B.M. estaria em melhores mãos se seguisse sendo produzida pelo Channel 4 e vendida para a NETFLIX, mas isto não podemos mudar, não é mesmo?
Uma temporada mediana, infelizmente.
Ashley O: “I’m going down in history”.
The Affair: Infidelidade (3ª Temporada)
3.6 53 Assista AgoraAqui, os sinais de inchaço se apresentam ainda mais firmes.
THE AFFAIR começou como uma série instigante ao apresentar os diferentes pontos de vista que Noah e Alison, dois amantes, tinham ao viver o caso e participar de um episódio brutal de violência, até então desconhecido, que resultou na morte de um dos personagens. Ao longo do tempo, vamos sendo apresentados a outras perspectivas de personagens centrais e a trama fica mais complexa, culminando no desfecho chocante da segunda temporada.
Aqui, na terceira instalação dos roteiristas Hagai Levi e Sarah Treem, vemos mais firmes os sinais de inchaço pelos quais passou a série na segunda temporada. Começando com um episódio substancialmente diferente – mais parecido com um terror que um suspense –, a temporada decai em encheções de linguiça e arcos pouco interessantes para os quatro protagonistas. Há, aqui e ali, lembranças das primeiras temporadas na abordagem dos pontos de vista, mas os episódios, majoritariamente, perdem a pegada “individualista” e como que contam um "panorama dos quatro" sem se importar tanto com detalhes narrativos.
O charme que o ponto de vista de cada um trouxe à série é substituído gradualmente por affairs diferentes, sem as óticas opostas, e por conflitos de interesse menos impactantes e substanciais – quase não vemos os filhos de Noah em relação à quantidade de vezes que os novos casos aparecem na tela, por exemplo. É, de forma geral, uma temporada aquém da antecessora e bastante aquém à primeira, que foi disruptiva e primordial para tudo o que se seguiu.
Tenho a intenção de acompanhar as últimas duas produções quase só para ver aonde vai dar esta estória – mas com pouca esperança de efetivamente receber um enredo que vá mais longe do que já foi.
Não tá sendo tudo isso...
"Alison: Todo mundo pensa que a vida já está dada, mas nós duas sabemos que não está. Nós duas sabemos que o fôlego pode acabar, por isso sabemos que a vida é um presente. Você vai sentir falta da Dawn, mas vai manter sua memória viva. A partir de hoje, você vai viver por vocês duas."
The Affair: Infidelidade (1ª Temporada)
4.0 110 Assista AgoraInovadora, e uma delícia de narrativa quebrada...
Fui assistir a THE AFFAIR com aquele pé atrás – nenhum ator/atriz conhecido, diretores com poucos trabalhos relevantes, roteiristas quase anônimos, mas...
Caramba... Tá aí uma série surpreendentemente bem feita.
THE AFFAIR explora os pós de um caso extra-conjugal que parece ter resultado na morte de uma pessoa. Nada sabemos até percebermos que toda a série é estruturada sob o ponto de vista de cada um – uma vez é o Noah, o “maridão” da cidade, escritor com quatro filhos nas costas, e outra é a Allison, a “esposa” da casa de veraneio, casada com o dono de um rancho da cidade. Ambas as partes deste caso têm detalhes, mas o que chama mais atenção é a maneira como estão dispostas essas informações: muitas vezes, o mesmo dia se passa sob a perspectiva de Noah e de Allison, e são praticamente dias diferentes, por causa da diferença de ponto de vista.
É notável a sexualização e o egocentrismo exacerbados que jorram da perspectiva de Noah, um homem que, em essência, só quer saber do que lhe interessa, que é uma boa transa e nenhuma responsabilidade. Da parte de Allison, percebemos como ela é muito mais profunda e complexa, não se bastando no sexo e tendo muitos “motivos” para escolher os caminhos que escolhe na série.
Tudo faz sentido dentro de seu contexto e a produção, apesar de ter um desenvolvimento lento, consegue entregar satisfatoriamente uma narrativa instigante e inovadora, que vai surpreendendo a cada detalhe adicionado, para confundir mais a gente...
O final disso aqui, inclusive, é absurdo.
Deem uma chance! Duvido não gostarem dessa temporada...
“Noah (dando aula): Então, o que Shakespeare está tentando dizer é que um amor perfeito não se sustenta num mundo imperfeito.”
The Affair: Infidelidade (2ª Temporada)
4.3 82 Assista AgoraAqui, como já falei em outros casos, começam a aparecer os sinais de cansaço...
THE AFFAIR veio com o pé na porta apresentar a problemática do caso extra-conjugal de Noah com Allison, e todos os pormenores que envolveram a morte de uma pessoa que eles conheciam em comum. Porém, ao contrário da temporada anterior, esta começa a apresentar sinais de falta de ideias, com cliffhangings menos fortes e mais “encheção de linguiça”, se dá pra falar assim.
Não é de todo ruim: nesta segunda temporada, mais perspectivas são adicionadas à narrativa, fazendo-nos trafegar livremente pelas impressões dos quatro protagonistas que vivem este caos. As informações novas fortalecem impressões antigas e reafirmam como esta série é inovadora ao contar uma história que “muda” de acordo com quem a vive – uma mesma cena para Noah quase nunca é igual para Allison, mesmo tendo os mesmos diálogos e sendo no mesmo lugar. É de uma riqueza enorme conferir este trabalho por este diferencial, que não me recordo ter visto em outras produções recentes.
O caminhar do programa segue o mesmo ritmo lento, mas aqui há mais explicações e finalmente uma solução para o problema central, que é o fio condutor da trama. O encerramento, mais chocante que o da primeira temporada, dá a entender que o que virá depois será ainda pior (se isso for possível) do que o que veio antes.
Não enche a ponto de desistir de assistir à terceira, mas certamente algumas pessoas encontrarão barrigas em episódios aqui.
Sigo assistindo, mas não tão animado assim...
Uma boa temporada.
“Whitney: Dad?! WHAT THE FUCK??”