As pinturas iconoclastas de Bacon, as quais remetem imediatamente a este filme: ele nos lança o real na cara, a merda na cara, trazendo a violência (penetrando no sistema nervoso) e a brutalidade dos fatos mostrada em O Encouraçado Potemkin (ele viu o filme por volta de vinte vezes); a cena mais presente: no filme, o povo foge das tropas através da escadaria de Odessa; a cena da mulher ensanguentada, com as lentes dos óculos fincadas e com a boca desmesurada, tem semelhança com o papa de 1952 de Bacon - Study for the Head of a Screaming Pope, que traz um sentimento de morte, a saber, o medo de ser engolido pela boca do papa enclausurado, sozinho, angustiado, torturado. O filme influenciou diversas obras de Bacon.
"Antes, o futuro era apenas a continuação do presente e avistavam-se transformações no horizonte. Mas agora o futuro e o presente se fundiram."
O futuro e o passado não passam de dimensões que a imaginação constrói no presente. Porém, o tempo múltiplo, diferentemente daquele que é uma pobre linha cronológica, é muito presente no filme na medida (mas não necessariamente apenas) em que os personagens vão entrando na Zona, o que remete imediatamente a Heráclito falando que ao atravessarmos um riacho, nunca mais o atravessaremos pelo mesmo lugar; somos engolidos pelo encontro com o novo, pelo o que está por vir, devir-riacho que nos deixa desesperados ao depararmos com o desconhecido, deixando-nos sem território, ou melhor, um processo pelo qual nos inventamos, um processo que a todo instante está em territorialização e desterritorialização, pois o devir não tem território fixo feito raízes de uma árvore, é puro rizoma, é órfão, é nômade, é aliança, é ligação, sem, entretanto, ser filiação, ser amarração.
Da minha parte, o Jodo é um xamã. Ele recruta sempre seres sensíveis às forças, às energias e à sua circulação. "Fando e Lis" é um filme difícil dele, e nem por isso fica aquém, por exemplo, de "El Topo" ou "Santa Sangre"... É o primeiro longa dele. Enfim, é um filme simples e, entretanto, difícil.
Que falar desse filme? Que filme é esse? Como esse diretor trabalha? Ignorância e mito em Apichatpong Weerasethakul. É importante lembrar que na primeira parte do longa ele trabalha com a ignorância (não saber ler é uma delas). Também seria um erro jogar? Não, pois o maior inimigo do pensamento não é o erro, mas a ignorância, o seu principal negativo, não permitindo o pensamento se exercitar: acomodamento. Em outras palavras, quanto mais aumentarmos a nossa capacidade de entendimento, mais nos afastamos das forças (negativas) da ignorância: a superstição, os mitos (vistos mais intensamente na segunda parte); levando a vida à fatalidade (tigre?). Então, quando se aumenta a potência de compreensão, deixamos de ser sujeitos de narrativas enganosas, de mitos, de superstição. Seriam esses o “mal dos trópicos”?
Haneke pega o quebra-cabeça (que se encaixa, que tem que ter uma explicação - fílmica e social, os assassinatos seguido de suicídio) e o joga ao acaso social, cultural, político etc., para, através desses fragmentos, fazer o desfecho que é antecipado no início. Se o pensamento possui uma imagem, uma geografia, estou certo que esta não se constrói da mesma forma que um quebra-cabeças. É uma marca de seu cinema não fazer quebra-cabeças. Nesse filme ele explica por quê; pois, há aqueles que acreditam que montando suas peças terão um espectro clarividente de suas ideias e ideais, de sua práxis inconstante, do que lhes rodeia. Por isso que, para Haneke, um sopro ao acaso é mais complexo que um quebra-cabeças de 71 mil peças; e é nesse sopro que ele justifica os atos do jovem.
Bullying. Tradução para nossa língua? Alguma? Uma doce palavra de um tempo distante que quer dizer: microfascismo. Tão em alta hoje dia, no nosso cotidiano. Está aí, na nossa cara. O monstro não morreu, não ficou nos escombros, como dizia Alain Resnais. "Nós que fingimos acreditar que isto tudo pertence a um único tempo e a um único país e que não olhamos à nossa volta; e que não ouvimos que se grita sem fim."
Como começa um delírio? É possível que o cinema seja capaz de apreender o movimento da loucura, precisamente porque ele não é analítico nem regressivo, mas explora um campo global de coexistência. Este filme de Nicholas Ray representa supostamente a formação de um delírio com cortisona: um pai excessivamente cansado, professor de colégio, que faz horas extras numa estação de rádio táxi, é tratado por ter perturbações cardíacas. Ele começa a delirar sobre o sistema de educação em geral, a necessidade de restaurar uma raça pura, a salvação da ordem moral e social, passando depois à religião, à oportunidade de um retorno à Bíblia, Abraão. Mas o que foi que Abraão fez? Ora, o que ele fez foi justamente matar ou pretender matar seu filho, e talvez o único erro de Deus tenha sido deter seu braço. Mas o herói do filme, ele próprio, não tem um filho? Ora, ora. O que o filme mostra tão bem, para vergonha dos psiquiatras, é que todo delírio é, primeiramente, investimento de um campo social, econômico, político, cultural, racial e racista, pedagógico, religioso: o delirante aplica à sua família e ao seu filho um delírio que os excede por todos os lados.
Impossível dormir nesse filme, ficamos tão ligados quanto Aguirre delirando El Dorado. O mundo do delírio é: "Eu sou a cólera dos deuses!", sobreviverei na selva, a tudo, conquistarei o mundo. O delírio é geográfico-político. A grandeza desse filme só foi possível graças a Herzog; porque se fosse um diretor qualquer dormiríamos.
P.S.: Não sei se alguém reparou, mas aquela passagem que eles são atacados por índios me lembrou muito Apocalypse Now, bem no final do filme, onde são atacados por "inimigos" - que tão na selva - e vão morrendo um a um enquanto estão navegando, assim como aconteceu com Aguirre.
Aquela cara do professor, após o "choque", tipo: "Que ironia, tão me prendendo por aquilo que vocês fazem todos os dias. Vocês deveriam se prender." Em outras palavras, ele se dá conta, após o período de "choque", que "A Onda" não acabou (mesmo que seja "passivamente"). Ela já estava implantada há muito tempo até os dias de hoje, não podemos fingir que não!
A crueldade nada tem a ver com uma violência qualquer ou com uma violência natural, com que se explicaria a história do homem; ela é o movimento da cultura que se opera nos corpos e neles se inscreve, cultivando-os. É isto que significa crueldade. Esta cultura não é o movimento da ideologia: ao contrário, é à força que ela põe a produção no desejo e, inversamente, é à força que ela insere o desejo na produção e reprodução sociais. Com efeito, até a morte, o castigo e os suplícios são desejados, e são produções. Faz dos homens e dos seus órgãos peças e engrenagens da máquina social.
Ela
4.2 5,8K Assista AgoraOK Computer.
O Labirinto do Fauno
4.2 2,9KQue lindeza, quanta criação literária e fílmica para um filme só!
Maurice Blanchot
4.1 2Blanchot é o pensamento sem imagem. Ele é um segredo de nós.
Homens Que Fizeram O Cinema: Samuel Fuller
4.2 1Samuel Fulleiro.
Sonic Youth - Corporate Ghost: Videos, 1990-2002
4.7 1Faltou experimentar na experimentação!
O Encouraçado Potemkin
4.2 342 Assista AgoraAs pinturas iconoclastas de Bacon, as quais remetem imediatamente a este filme: ele nos lança o real na cara, a merda na cara, trazendo a violência (penetrando no sistema nervoso) e a brutalidade dos fatos mostrada em O Encouraçado Potemkin (ele viu o filme por volta de vinte vezes); a cena mais presente: no filme, o povo foge das tropas através da escadaria de Odessa; a cena da mulher ensanguentada, com as lentes dos óculos fincadas e com a boca desmesurada, tem semelhança com o papa de 1952 de Bacon - Study for the Head of a Screaming Pope, que traz um sentimento de morte, a saber, o medo de ser engolido pela boca do papa enclausurado, sozinho, angustiado, torturado. O filme influenciou diversas obras de Bacon.
Stalker
4.3 503 Assista Agora"Antes, o futuro era apenas a continuação do presente e avistavam-se transformações no horizonte. Mas agora o futuro e o presente se fundiram."
O futuro e o passado não passam de dimensões que a imaginação constrói no presente. Porém, o tempo múltiplo, diferentemente daquele que é uma pobre linha cronológica, é muito presente no filme na medida (mas não necessariamente apenas) em que os personagens vão entrando na Zona, o que remete imediatamente a Heráclito falando que ao atravessarmos um riacho, nunca mais o atravessaremos pelo mesmo lugar; somos engolidos pelo encontro com o novo, pelo o que está por vir, devir-riacho que nos deixa desesperados ao depararmos com o desconhecido, deixando-nos sem território, ou melhor, um processo pelo qual nos inventamos, um processo que a todo instante está em territorialização e desterritorialização, pois o devir não tem território fixo feito raízes de uma árvore, é puro rizoma, é órfão, é nômade, é aliança, é ligação, sem, entretanto, ser filiação, ser amarração.
Fando e Lis
3.9 61Da minha parte, o Jodo é um xamã. Ele recruta sempre seres sensíveis às forças, às energias e à sua circulação. "Fando e Lis" é um filme difícil dele, e nem por isso fica aquém, por exemplo, de "El Topo" ou "Santa Sangre"... É o primeiro longa dele. Enfim, é um filme simples e, entretanto, difícil.
Jovens, Loucos e Rebeldes
3.7 447 Assista AgoraQue filme! Que filme elétrico! Que energia louca veio ao meu encontro quando o vi!
A Constelação Jodorowsky
3.8 6O mago do audiovisual.
Burden of Dreams
4.2 19I believe in Werner Herzog.
Bicho de Sete Cabeças
4.0 1,1K Assista AgoraA psiquiatria quer nos impor falsos transtornos mentais:
https://www.youtube.com/watch?v=yDhV4a4hPiE
Meu Melhor Inimigo
4.2 30O título não poderia ser melhor.
Duna de Jodorowsky
4.5 143Como um documentário sobre um filme pode ser tão bom assim? Está aí a prova que Dune não seria menos que uma obra-prima, menos do que 2001.
Vício Inerente
3.5 554 Assista AgoraO melhor de tudo é saber que Pynchon estava no set e é - muito provável mesmo - quase certo ele aparecer no filme! :P
Mal dos Trópicos
4.0 85Que falar desse filme? Que filme é esse? Como esse diretor trabalha? Ignorância e mito em Apichatpong Weerasethakul. É importante lembrar que na primeira parte do longa ele trabalha com a ignorância (não saber ler é uma delas). Também seria um erro jogar? Não, pois o maior inimigo do pensamento não é o erro, mas a ignorância, o seu principal negativo, não permitindo o pensamento se exercitar: acomodamento. Em outras palavras, quanto mais aumentarmos a nossa capacidade de entendimento, mais nos afastamos das forças (negativas) da ignorância: a superstição, os mitos (vistos mais intensamente na segunda parte); levando a vida à fatalidade (tigre?). Então, quando se aumenta a potência de compreensão, deixamos de ser sujeitos de narrativas enganosas, de mitos, de superstição. Seriam esses o “mal dos trópicos”?
71 Fragmentos de uma Cronologia do Acaso
3.7 74 Assista AgoraHaneke pega o quebra-cabeça (que se encaixa, que tem que ter uma explicação - fílmica e social, os assassinatos seguido de suicídio) e o joga ao acaso social, cultural, político etc., para, através desses fragmentos, fazer o desfecho que é antecipado no início. Se o pensamento possui uma imagem, uma geografia, estou certo que esta não se constrói da mesma forma que um quebra-cabeças. É uma marca de seu cinema não fazer quebra-cabeças. Nesse filme ele explica por quê; pois, há aqueles que acreditam que montando suas peças terão um espectro clarividente de suas ideias e ideais, de sua práxis inconstante, do que lhes rodeia. Por isso que, para Haneke, um sopro ao acaso é mais complexo que um quebra-cabeças de 71 mil peças; e é nesse sopro que ele justifica os atos do jovem.
Hoje Eu Quero Voltar Sozinho
4.1 3,2K Assista AgoraBullying. Tradução para nossa língua? Alguma? Uma doce palavra de um tempo distante que quer dizer: microfascismo. Tão em alta hoje dia, no nosso cotidiano. Está aí, na nossa cara. O monstro não morreu, não ficou nos escombros, como dizia Alain Resnais. "Nós que fingimos acreditar que isto tudo pertence a um único tempo e a um único país e que não olhamos à nossa volta; e que não ouvimos que se grita sem fim."
Delírio de Loucura
3.9 36Como começa um delírio? É possível que o cinema seja capaz de apreender o movimento da loucura, precisamente porque ele não é analítico nem regressivo, mas explora um campo global de coexistência. Este filme de Nicholas Ray representa supostamente a formação de um delírio com cortisona: um pai excessivamente cansado, professor de colégio, que faz horas extras numa estação de rádio táxi, é tratado por ter perturbações cardíacas. Ele começa a delirar sobre o sistema de educação em geral, a necessidade de restaurar uma raça pura, a salvação da ordem moral e social, passando depois à religião, à oportunidade de um retorno à Bíblia, Abraão. Mas o que foi que Abraão fez? Ora, o que ele fez foi justamente matar ou pretender matar seu filho, e talvez o único erro de Deus tenha sido deter seu braço. Mas o herói do filme, ele próprio, não tem um filho? Ora, ora. O que o filme mostra tão bem, para vergonha dos psiquiatras, é que todo delírio é, primeiramente, investimento de um campo social, econômico, político, cultural, racial e racista, pedagógico, religioso: o delirante aplica à sua família e ao seu filho um delírio que os excede por todos os lados.
Vocês, Os Vivos
3.9 74 Assista Agora"Na aglomeração humana, solidões se esbarram sem ninguém perceber."
Tatuagem
4.2 923 Assista AgoraEsse filme é um cu de bom! Que maravilha!
Aguirre, a Cólera dos Deuses
4.1 159Impossível dormir nesse filme, ficamos tão ligados quanto Aguirre delirando El Dorado. O mundo do delírio é: "Eu sou a cólera dos deuses!", sobreviverei na selva, a tudo, conquistarei o mundo. O delírio é geográfico-político.
A grandeza desse filme só foi possível graças a Herzog; porque se fosse um diretor qualquer dormiríamos.
P.S.: Não sei se alguém reparou, mas aquela passagem que eles são atacados por índios me lembrou muito Apocalypse Now, bem no final do filme, onde são atacados por "inimigos" - que tão na selva - e vão morrendo um a um enquanto estão navegando, assim como aconteceu com Aguirre.
A Onda
4.2 1,9KAquela cara do professor, após o "choque", tipo: "Que ironia, tão me prendendo por aquilo que vocês fazem todos os dias. Vocês deveriam se prender." Em outras palavras, ele se dá conta, após o período de "choque", que "A Onda" não acabou (mesmo que seja "passivamente"). Ela já estava implantada há muito tempo até os dias de hoje, não podemos fingir que não!
A Fita Branca
4.0 756 Assista AgoraA crueldade nada tem a ver com uma violência qualquer ou com uma violência natural, com que se explicaria a história do homem; ela é o movimento da cultura que se opera nos corpos e neles se inscreve, cultivando-os. É isto que significa crueldade. Esta cultura não é o movimento da ideologia: ao contrário, é à força que ela põe a produção no desejo e, inversamente, é à força que ela insere o desejo na produção e reprodução sociais. Com efeito, até a morte, o castigo e os suplícios são desejados, e são produções. Faz dos homens e dos seus órgãos peças e engrenagens da máquina social.