Infância (Infância), 2014 – Direção de Domingos de Oliveira | Nota: 3/5
Infância é uma bagunça. Incoerente, estranho e, devo dizer, muito divertido.
O filme acompanha um dia de família rica em plenos anos 50. A matriarca é Dona Mocinha (Fernanda Montenegro), uma mulher arrogante, controladora e fã do jornalista Carlos Lacerda. Nesse dia - aniversário da morte de seu marido - ela reúne a família em sua enorme casa, e, aos poucos, o caos se instaura e os podres daquela família ficam evidentes.
Por mais que seja uma ideia pouco original, visto que existem incontáveis filmes com a mesma temática familiar, Infância consegue tomar como sua força maior as situações nas quais a família se encontra toda junta, como na sequência da mesa do almoço, que se mostra divertidíssima e muito bem escrita e conduzida como o verdadeiro caos: Uns discutem política, enquanto diversas acusações e provocações são disparadas de um lado para o outro da mesa - como no momento em que Dona Mocinha fala mal de sua ex-nora por ter permitido que o marido pedisse divórcio e saísse de suas mãos, expondo a lógica absurda do pensamento da classe alta nos anos 50 de que a mulher serve apenas para ser esposa e agradar o marido - e o neto Rodriguinho (Raul Guaraná) pergunta indignado sobre sua cachorra, que sumiu.
É uma pena que em meio a toda essa bagunça que é a família, o filme também se mostre esquizofrênico, adotando uma narração em off que some e volta muito tempo depois sem a menor justificativa; ou, em um momento, o filme toma um ar de documentário e coloca dois personagens dando depoimento para a câmera - um comportamento que jamais é retomado. Além disso, é possível perceber em diversos momentos que a câmera lenta usada pelo diretor não havia sido planejada e foi concebida na pós-produção, com um resultado horrível.
Apesar de seus problemas e ainda sendo prejudicado por parecer ser mais longo do que parece em seu desfecho, Infância ainda conta com sequências divertidíssimas e atuações teatrais e "exageradas" que contribuem para que, ao final, o saldo do filme seja positivo.
Por: Luiz Moura
A Cura de Yalom (Yalom's Cure), 2014 – Direção de Sabine Gisiger | Nota: 3/5
Trata-se de um documentário-sessão-de-terapia. O documentário acompanha algumas atividades do cotidiano de Irvin D. Yalom, e através dos olhos de uma interessantíssima câmera você chega até a ficar um pouco íntimo daquele homem.
A câmera é incisiva, ela está analisando, como o protagonista, um psicoterapeuta que admite: “nós, psicoterapeutas, estamos a vida toda em análise”, a câmera não deixa por menos e faz ela este trabalho. Em algumas cenas do documentário, Yalom fica quase desnudado, em alma à flor da pele. O zoom capta o brilho de seus olhos e o espectador consegue quase ler a sua mente.
No entanto, não vá assistir com sono. Como a sessão que tive a oportunidade de aproveitar, que era às 20h50 depois de um cansativo dia de trabalho. O ritmo lento e a voz do protagonista, o tempo todo fazendo apontamentos sobre a vida, sobre a mente humana e sobre o seu próprio passado, mas num tom monocórdio e relaxante... ZZZZZ.
Não é o que desmeritiza um filme que tem mais pontos positivos do que um ou outro negativo. Se não correr o perigo de dar umas cochiladas inconvenientes que atrapalham a sua atenção, você certamente será levado a pensar e a um intenso processo de reflexão. Vai, invariavelmente, pensar na sua própria vida.
O documentário é uma sessão de terapia de mão dupla: ao mesmo tempo em que, você, espectador, tem a chance de ver aquele homem, famoso escritor, bem sucedido psicoterapeuta, pai, avô, marido (aliás, linda relação de parceria e história de amor verdadeiro que lembra o casal de protagonistas de “Mais Um Ano”) e um simpático e introspectivo senhorzinho de quase 80 anos (que o vigor não deixa transparecer) através das lentes de uma câmera analítica, ele, com suas palavras, com suas histórias, e as belas cenas do local paradisíaco onde mora com a esposa e encontra a grande família em agradáveis festas, também está te analisando e te fazendo pensar.
Por: Guilherme Augusto Ramos Alves
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