Depois de meses de boatos, é oficial: Scarface irá ganhar uma nova versão.
Antes de muita gente começar a atirar pedras, vamos explicar melhor. Não se tratará de um remake ou de uma continuação, mas uma nova história abordando um imigrante – desta vez, mexicano – que se torna um grande nome do crime nos Estados Unidos. A direção ficará a cargo de David Yates.
Vale lembrar que o aclamado Scarface, estrelado por Al Pacino em 1983, já era a segunda versão da trama que gira em torno de uma versão “distorcida” do sonho americano. O longa era baseado em Scarface – A Vergonha de uma Nação, dirigido por Howard Hawks, no qual o protagonista era um imigrante italiano, algo muito mais condizente com a época em que o filme foi feito, no início dos anos 30.
Agora, vale lembrar que se hoje o público conhece a versão antiga – ou, ao menos, sabe que ela existe –, isso se deve ao enorme sucesso do longa assinado por Brian De Palma. Sim, amantes de cinema clássico certamente conheciam a versão de Hawks, mas sem a versão estrelada por Al Pacino, o filme original a esta altura já teria sido esquecido pelo grande público.Afinal, não é segredo para ninguém que tanto o personagem Tony Montana como diversos outros elementos do filme (em especial as frases “The World is Yours” e “Say Hello to my Little Friends”) passaram a integrar a cultura popular e resistiram ao tempo. Hoje, é seguro dizer que Montana divide quase o mesmo espaço que Michael Corleone na galeria de criminosos renomados que Pacino criou no cinema, ao mesmo em termos de fama.
E com isto em mente é que podemos começar a questionar se uma nova versão da história é necessária. Claro que um protagonista mexicano faz mais sentido atualmente, mas, mesmo assim, Scarface (o de 1983) se tornou para muitos a versão definitiva da história – e ter ressuscitado o filme de 1932 apenas endossa isso.
Assim, o filme parece seguir o mesmo caminho do remake de Psicose, assinado por Gus Van Sant, já nascendo com ares de “desnecessário”. Se Hollywood vive uma crise criativa e precisa constantemente reaproveitar boas ideias do passado, o mais correto seria escolher como base filmes que foram esquecidos trazendo algo “inédito” para o público – exatamente o que de Palma e Oliver Stone (que assina o roteiro de Scarface) fizeram em 1983, revitalizando uma trama com mais de cinquenta anos que poucos conheciam.
Esta fórmula normalmente deu certo - junto ao público casual - desde que os estúdios não mexam em filmes considerados "intocáveis".
Exemplos para isso não faltam. Bravura Indômita reapresentou ao público uma trama que somente os fãs de John Wayne conheciam; O Falcão Maltês, longa que transformou Humphrey Bogart em astro, foi nada menos que a terceira versão da trama. Alguns diretores se arriscaram até mesmo a refilmar obras suas e com sucesso. A versão norte-americana de Alfred Hitchcock para O Homem Que Sabia Demais, lançada mais de vinte anos após o original inglês que ele mesmo realizou, foi extremamente bem sucedida.
Por outro lado, produzir uma nova versão de uma história que se tornou parte do imaginário popular e conta com milhões de admiradores em todo o mundo, é correr um risco desnecessário e pedir para que chovam críticas comparando-o ao original, já que ninguém gosta de ver seus filmes preferidos sendo refeitos. Provavelmente, é o que irá acontecer com este novo Scarface, independente da qualidade da trama.
Enfim, se colocar como totalmente contrários a remakes e novas versões hoje, soa inútil. Hollywood continuará reaproveitando cada vez mais ideias que se já se mostraram aprovadas pelo público como modo de encher seus cofres. Assim, queremos deixar uma pergunta para vocês responderem nos comentários:
Qual filme que você acha que valeria a pena ser refilmado?