O que deu errado em Dexter?
A reação ao final da série foi praticamente unânime: os fãs detestaram (clique aqui e veja os comentários dos usuários do Filmow sobre o desfecho). As críticas na internet foram pesadas e até mesmo surpreendentes para um personagem que, poucos anos atrás, era tão querido pelo público.
Mas a verdade é que Dexter não foi uma série boa que teve um final mal feito; na verdade, já fazia bastante tempo que a série estava se perdendo. Nas redes sociais, muitos fãs criticavam os roteiros ou as mudanças de rumo a respeito de alguns personagens. Como a situação não melhorou, logo aconteceu a pior coisa que pode acontecer com um seriado hoje em dia: Dexter desapareceu das redes sociais.
Hoje, uma série que não está sendo comentada nas redes sociais não está sendo assistida. Dexter desapareceu, dando espaço para outros pesos-pesados, sobretudo Breaking Bad. A série deixou de “ser moda”? Sim, as redes sociais vivem do gosto do momento, é verdade. Mas Dexter simplesmente deixou de ser boa.
O empenho dos atores e o capricho técnico continuava o mesmo, mas os roteiros começaram a trilhar caminhos que desagradavam aos espectadores, por criar situações e relacionamentos claramente improváveis dentro do universo criado com tanto esmero nos primeiros anos. Os roteiristas simplesmente não sabiam o que fazer com os personagens.
E este fato tem um motivo claro, cujo nome é “quarta temporada”. Considerada por dez entre dez fãs o melhor ano da série – e com um desfecho que deixou o público boquiaberto – a quarta temporada de Dexter foi o auge da série em todos os termos possíveis: ideia, desenvolvimento, conclusão. Foi um dos pontos altos da televisão nos últimos anos e elevou à popularidade de Dexter de forma intensa, junto a público e crítica.
Isso aconteceu na quarta temporada de Dexter. O problema é que a melhor coisa que pode acontecer com um seriado é terminar em seu auge, como aconteceu com Família Soprano e está acontecendo exatamente agora com Breaking Bad. Quando o seriado se encerra no auge, deixando os fãs arrepiados com o encerramento, a série imediatamente garante seu lugar na história da televisão.
Se Dexter tivesse se encerrado na quarta temporada – algo que poderia ter acontecido, visto que o grande acontecimento final daria margem a isso, desde que lapidado para tal – a série hoje seria lembrada como um marco da televisão. Porém, ela continuou por mais quatro anos, decaindo (como acontece com qualquer produção que passe pelo auge), com temporadas cada vez mais irregulares e aquele clima de “não há mais nada para ser contado”.
Quando a série surgiu, em 2006, foi considerada uma aposta arriscada da emissora CBS. Por mais que seriados sobre anti-heróis não eram mais novidade (desde o início da década, a grande sensação de crítica na telinha era o mafioso Tony Soprano), colocar um psicopata como personagem central da trama – e, pior, fazê-lo simpático ao público – era um desafio e tanto.
A ideia deu certo. Logo, Dexter Morgan começou a ganhar popularidade, não somente pela qualidade de seus roteiros – tanto no que diz respeito ao desenvolvimento da trama de cada personagem como pelos diálogos afiados, sobretudo as narrações em off que mostram os pensamentos de Dexter – como pelo carisma do ator Michael C. Hall, que encarnou o personagem de forma brilhante.
Dexter cresceu e se tornou febre na internet. Hall foi transformado em símbolo sexual – e dificilmente será possível olhar para ele novamente sem associá-lo ao psicopata – e mesmo os atores que interpretam os coadjuvantes se beneficiaram da qualidade da série, que angariava cada vez mais fãs.
Os fãs mais apaixonados certamente se lembrarão disso. Infelizmente, para o público casual, Dexter será lembrado como mais um seriado que não soube a hora de acabar e se perdeu totalmente em seus últimos anos.
Não é a primeira vez que isso acontece, e nem será a última. Mas é uma pena que tenha acontecido com Dexter.