Pensei muito em três coisas assistindo esse filme: que ele me parece ter sido feito com olhar antropológico, muito pela escolha em contrapor a todo tempo com os pensamentos dos mais velhos e dos que conheciam Toritama de outra época, como o narrador; pensei muito em como o filme ressalta o quão contraditório todo o sistema de produção capitalista é, uma exploração absurda que tem vingado por tanto tempo: como, gente?; e, por último, pensei em como a resposta que as pessoas dão pra esse sistema absurdo sempre passa por um tipo de criação, nesse caso, mantendo repetitivamente um ideal meio utópico do carnaval. a resposta pro absurdo não deixa de ser ela mesma um tipo de absurdo, por isso a ideia deles de carnaval, que é todo um empreendimento, tem um quê de absurdo também. mais à beira, quase imperceptível, fica outra resposta ao sistema, aquela que dão os que veem no trabalho da terra a fonte da vida e de qualquer riqueza que valha a pena. isso eu achei massa. é em torno do apoio à luta dessas populações para manterem suas terras e modos de vida que um tipo de resistência que preze pela independência das pessoas se forma.
Sinceramente, esse filme junto com Los Silencios foram as produções mais delicadas e bonitas que eu vi nos últimos tempos. "Morar e viver na luta", nos dizeres de Stella Paterniani, aqui é transmitido levando em conta a complexidade de cada personagem. As cenas são simples, honestas e bem humoradas. Esse filme é como um carinho muito sério.
Bem lembrado pelo Eduardo Escorel na Piauí que a tradução mais justa de Den skyldige seria "os culpados" - afinal, skyldige é plural de skyldig. Lembrou tb as intenções do diretor que eram de brincar com o 'certo' e o 'errado', propondo um terceiro caminho (meio que "steering a middle course" a la kant e deixando claro que o tema da culpa é mais complexo do que parece ser). Além dessa temática que eles souberam trabalhar de uma forma que nao ficasse superficial em uma hora e meia, o filme surpreende com a leveza da atuação do Jakob Cedergren nos planos longos e fechados. Fizeram um trabalho de qualidade excelente em apenas 13 dias pra uma proposta dificílima. Que isso.
Ora o que temos aqui é um Haneke a la Amour, dessa vez titubeando entre duas linhas de ação principais (de um lado a parte da nova tecnologia nas relações e do outro as relações em si) que, pra mim, por serem cada uma muito intensas não ficaram bem estudadas e nem sequer conversaram muito entre si. Haneke, como um bom explorador, quis casar as duas ideias, mas acabou por não ultrapassar a mera exposição dos problemas de cada parte, e arrisco dizer que ele pecou muito em alguns personagens que eram bons, como o personagem filho da Anne Laurent e a esposa do Thomas, mas ficaram sem profundidade, só não estavam deslocados porque estavam cumprindo papel de nexo da historia. Sei que ficar nas expectativas dos contrafactuais por vezes tira o mérito da obra, mas sabe como é...você senta pra ver um filme do haneke e espera a bigorna...
É plasticamente bem bonito, mas fiquei um pouco decepcionada. Pela escolha temática, não sei bem qual a real pretensão da obra, mas pra mim ficou claro que se trata de um fenômeno estético. A camera quase sempre ajustada num zoom macro tirou a experiência que eu realmente queria ter, que era ver o plano no qual os detalhes das cenas estavam inclusos. O meu problema não foi com a escolha de foco, mas com a prioridade que deram pro zoom demais. Não entendi porque escolheram limitar tanto os caminhos dos meus olhos, quiseram causar desconforto por me inserir demais na cena? conseguiram, mas não pelas razoes certas. As vezes eu queria ver o todo, e não tinha como.
Depois de Synecdoche, tava na fé que o Kaufman podia mandar mais que nada me abalaria. Tava certa. Mas o filme é mesmo genialzinho pelos recursos, pela vibe do orçamento coletivo e thumbs up pelas críticas, que são mais claras e precisas e te fazem ver que na real fomos todos Anomalisa ou no caso dos piores, o Michael hehhe
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Estou Me Guardando Para Quando o Carnaval Chegar
4.3 209Pensei muito em três coisas assistindo esse filme: que ele me parece ter sido feito com olhar antropológico, muito pela escolha em contrapor a todo tempo com os pensamentos dos mais velhos e dos que conheciam Toritama de outra época, como o narrador; pensei muito em como o filme ressalta o quão contraditório todo o sistema de produção capitalista é, uma exploração absurda que tem vingado por tanto tempo: como, gente?; e, por último, pensei em como a resposta que as pessoas dão pra esse sistema absurdo sempre passa por um tipo de criação, nesse caso, mantendo repetitivamente um ideal meio utópico do carnaval. a resposta pro absurdo não deixa de ser ela mesma um tipo de absurdo, por isso a ideia deles de carnaval, que é todo um empreendimento, tem um quê de absurdo também. mais à beira, quase imperceptível, fica outra resposta ao sistema, aquela que dão os que veem no trabalho da terra a fonte da vida e de qualquer riqueza que valha a pena. isso eu achei massa. é em torno do apoio à luta dessas populações para manterem suas terras e modos de vida que um tipo de resistência que preze pela independência das pessoas se forma.
Era o Hotel Cambridge
4.2 99Sinceramente, esse filme junto com Los Silencios foram as produções mais delicadas e bonitas que eu vi nos últimos tempos. "Morar e viver na luta", nos dizeres de Stella Paterniani, aqui é transmitido levando em conta a complexidade de cada personagem. As cenas são simples, honestas e bem humoradas. Esse filme é como um carinho muito sério.
Culpa
3.9 356 Assista AgoraBem lembrado pelo Eduardo Escorel na Piauí que a tradução mais justa de Den skyldige seria "os culpados" - afinal, skyldige é plural de skyldig. Lembrou tb as intenções do diretor que eram de brincar com o 'certo' e o 'errado', propondo um terceiro caminho (meio que "steering a middle course" a la kant e deixando claro que o tema da culpa é mais complexo do que parece ser). Além dessa temática que eles souberam trabalhar de uma forma que nao ficasse superficial em uma hora e meia, o filme surpreende com a leveza da atuação do Jakob Cedergren nos planos longos e fechados. Fizeram um trabalho de qualidade excelente em apenas 13 dias pra uma proposta dificílima. Que isso.
Happy End
3.5 93 Assista AgoraOra o que temos aqui é um Haneke a la Amour, dessa vez titubeando entre duas linhas de ação principais (de um lado a parte da nova tecnologia nas relações e do outro as relações em si) que, pra mim, por serem cada uma muito intensas não ficaram bem estudadas e nem sequer conversaram muito entre si. Haneke, como um bom explorador, quis casar as duas ideias, mas acabou por não ultrapassar a mera exposição dos problemas de cada parte, e arrisco dizer que ele pecou muito em alguns personagens que eram bons, como o personagem filho da Anne Laurent e a esposa do Thomas, mas ficaram sem profundidade, só não estavam deslocados porque estavam cumprindo papel de nexo da historia. Sei que ficar nas expectativas dos contrafactuais por vezes tira o mérito da obra, mas sabe como é...você senta pra ver um filme do haneke e espera a bigorna...
Híbridos, os espíritos do Brasil
4.0 12É plasticamente bem bonito, mas fiquei um pouco decepcionada.
Pela escolha temática, não sei bem qual a real pretensão da obra, mas pra mim ficou claro que se trata de um fenômeno estético. A camera quase sempre ajustada num zoom macro tirou a experiência que eu realmente queria ter, que era ver o plano no qual os detalhes das cenas estavam inclusos. O meu problema não foi com a escolha de foco, mas com a prioridade que deram pro zoom demais. Não entendi porque escolheram limitar tanto os caminhos dos meus olhos, quiseram causar desconforto por me inserir demais na cena? conseguiram, mas não pelas razoes certas. As vezes eu queria ver o todo, e não tinha como.
Anomalisa
3.8 497 Assista AgoraDepois de Synecdoche, tava na fé que o Kaufman podia mandar mais que nada me abalaria. Tava certa. Mas o filme é mesmo genialzinho pelos recursos, pela vibe do orçamento coletivo e thumbs up pelas críticas, que são mais claras e precisas e te fazem ver que na real fomos todos Anomalisa ou no caso dos piores, o Michael hehhe