Felipe Brazentus

Um filme muito bom, com enredo merecido e extremamente simples, que nos coloca em um jogo inglório - e pouco musicado - de um indivíduo que se depara com uma sociedade transformada e um Estado burocrático, ineficiente e despiedado. É um filme que deve ser analisado observando suas influências, sobretudo estéticas, para não passar simplesmente como uma crítica social pouco envolvente e com um desfecho seco, mas uma história com abordagem realista e que preserva os traços ideológicos de seu diretor.

O filme faz uma boa jogada com a expectativa de quem assiste. Se esperar uma solução fácil para as questões que envolvem o machismo, ou o patriarcalismo, será frustrado. É preciso entendê-lo muito mais como uma metacrítica do próprio cinema, e como ele tem tratado por tanto tempo a questão (ou não tratado, mas reproduzido determinados valores). Talvez aqui não seja o espaço para discutir cenas e situações que comprovem isso. No mais, o filme não apresenta grandes feitos no que se refere ao seu enredo, fotografia, etc. Mas tem muito valor quanto à escolha dos personagens e a atuação dos atores, também pelo bom humor que coloca em alguns detalhes, sobretudo se você olhar o fato de que ali há uma crítica do próprio "olhar" cinematográfico, e não a um tema já "mastigado". É preciso olhar por muitas lentes os filmes bons.

A metáfora da metáfora simplesmente não rola. Não vou fazer um texto explicando o porquê de não dar o Oscar a este filme, como aqui fazem os bons críticos. Até achei, de início, que seria um bom suspense. O desenvolvimento destruiu minha expectativa.