Não é minha pretensão que esse texto seja uma “resenha crítica tradicional”, até porque seria um tanto irônico fazer uma resenha desse tipo sobre um filme que, dentre outras coisas, problematiza o papel da crítica cinematográfica. Portanto, vou considerar esse texto como apenas um apanhado de impressões pessoais, considerações particulares sobre uma obra de arte. E não seriam isso as resenhas críticas, afinal? Produtos subjetivos de alguém que escreve baseado em suas interpretações (ainda que aqui ou acolá se ancore em pontos mais ou menos objetivos)? É sempre um tanto problemático pensar a crítica à arte, especialmente numa perspectiva normativista – que muitos ainda insistem em aplicar. Woody Allen, por exemplo, nunca comparece às premiações do Oscar, quando indicado. Segundo ele, não é possível julgar um filme com bases valorativas definidas a ponto de se premiar ou não a obra. Ele diz que numa corrida, por exemplo, existem regras muito bem claras para que o vencedor seja eleito – você vê claramente quem correu mais e melhor e, por conseguinte, chegou em primeiro lugar. Mas, em se tratando de arte, qual o critério? Por isso, torno a dizer: essas são minhas impressões pessoais, sem a mínima pretensão de bocejar uma verdade absoluta sobre Birdman ou (A Inesperada Virtude da Ignorância), a obra vencedora na categoria de melhor filme do Oscar 2015. Como eu havia dito acima, Birdman ou (A Inesperada Virtude da Ignorância), trata de assuntos diversos através de sua metalinguaguem e semiótica: a necessidade/importância de ser alguém na vida (no sentido profissional e existencial da expressão), a dinâmica do mercado cinematográfico, o valor da arte e do artista no mundo contemporâneo e o papel da crítica no campo das artes. Dois momentos sensacionais do filme ilustram bem este último ponto. Primeiro, quando o personagem de Edward Norton (Mike), citando Flaubert, diz: "Um homem torna-se um crítico quando ele não pode ser um artista da mesma maneira que um homem se torna um informante quando ele não pode ser soldado.” Touché! Eis o primeiro golpe de misericórdia feito à crítica – obviamente àquela crítica mesquinha, desonesta, parcial, insincera, se é que existe um outro tipo. Quero crer que sim. O segundo momento de crítica à crítica virá mais adiante, prossigamos. “Qual a importância da arte no mundo de hoje?” é outra questão que o longa levanta. O protagonista da história (Riggan Thomson), interpretado por Michael Keaton, foi um ator de sucesso no passado, ao fazer o papel do super herói Birdman em diversos filmes. Com o passar dos anos, tentando recuperar a glória de outrora e desejando evoluir como artista, Riggan Thomson escreve e dirige uma peça teatral mais séria e mais adulta. Ele quer, a todo custo, provar seu valor no mundo da arte (para além do entretenimento e do banal), sem no entanto conseguir o mesmo sucesso que tinha quando fazia seus filmes de ação e aventura. O protagonista é então constantemente assombrado pelo passado, perguntando-se se não deveria voltar a fazer os filmes do herói Birdman, que era o que realmente rendia fama, dinheiro e reconhecimento do público. Eis aqui um dilema enfrentado por qualquer artista sincero: fazer o que rende sucesso e visibilidade ou fazer arte séria e comprometida? Riggan Thomson começa a lembrar de cenas dos seus antigos filmes de super herói e a voz sussurra em sua mente: “Olhe para eles, para os olhos deles... Eles estão brilhando. Eles amam sangue, amam ação. Nada dessa conversa depressiva e filosófica.” O protagonista percebe, então, que não adianta tentar produzir uma obra que leve à reflexão, à construção do pensamento e do senso estético em pleno século XXI, na era do Twitter e do Facebook, quando todos só querem distrações fugazes, material enlatado, de fácil e rápido consumo. Aliás, em uma das cenas do filme, o protagonista sai por acidente pelas ruas de Nova York apenas de cueca. Os transeuntes o filmam, o vídeo cai na internet e em poucas horas consegue mais sucesso que a peça séria e cheia de valores artísticos. Que mundo deprimente, não? O que estamos valorizando mais hoje em dia? Que diabos... Mas engana-se quem pensa que com isso o filme critica de forma unilateral e um tanto batida a cultura de massa, a cultura pop, a arte de entretenimento e a indústria. Há alguns momentos em que se questiona também se esse tipo de arte de massa não teria também seu valor e como lidamos com a arte dita mais erudita – pois é comum que as pessoas ostentem certos gostos artísticos “refinados” somente como um mero adorno de vaidade. Prova disso é a fala da personagem de Emma Stone (Sam): “Você faz uma peça baseada em um livro escrito há 60 anos para pessoas brancas, velhas e ricas, que só se preocupam com o lugar que vão tomar café com bolo quando acabar.” Oh, céus! Será que tudo é assim tão descartável? Será que é só isso? Será que os artistas estão perdendo tempo, só perdendo tempo, tentando trazer algo mais para esse mundo enquanto as pessoas só estão preocupadas com o restaurante depois do espetáculo (e com o registro devidamente fotografado de que estiveram lá)? Mas há sim momentos em que a cultura de massa, as obras de entretenimento são valorizadas. Não importa se Birdman era só um filme popular de super heróis, o protagonista percebe que havia muito amor, esforço e empenho nas produções e que aquilo tinha seu valor – pois as pessoas amavam aqueles filmes que davam a elas um pouco de diversão, relaxamento e alguma esperança num mundo cada vez mais problemático. Com isso, o roteiro foge do senso comum e do discurso ultrapassado do “anticomercial”, evidenciando as múltiplas facetas e a complexidade do assunto. E ao invés de promover uma visão de que a cultura pop é apenas lixo, afirma que ela também tem seu valor. Uma cena que corrobora isso: o protagonista Riggan Thomson encontra uma crítica de cinema em um bar. Ela prepara uma resenha jornalística que irá difamar e destruir a peça dele, mesmo sem ela nem ainda tê-la assistido. Segue o diálogo: “- Vou destruir você e tudo o que você representa. Intitulados, egoístas e crianças mimadas. Totalmente destreinados, desconhecedores e despreparados para produzir arte de verdade. - O que tem que acontecer na vida de uma pessoa para acabar se tornando um crítico? Isso não passa de etiquetas. Você só sabe etiquetar tudo. Você é uma filha da mãe preguiçosa. Você é preguiçosa. Você sabe o que é isso? (mostra uma flor para a crítica)Você nem sabe o que é isso, não sabe. Sabe por quê? Você não pode ver isso se não rotulá-la. Você confunde esses sons na sua cabeça com verdadeiro conhecimento. - Acabou? - Não, não acabei. Não há nada aqui sobre técnica, sobre estrutura, nada sobre intensidade. Só opiniões de merda feita por comparações de merda. Você escreve alguns parágrafos... Sabe do quê? Nada disso custou nada a você. Você não está arriscando nada, nada. Eu sou a porra de um ator. Essa peça me custou tudo.” BANG! Eis o segundo e fulminante ponto de crítica à crítica. É muito fácil detonar um trabalho que levou investimento de tempo, de finanças, de suor e de afeto sentadinho confortavelmente na sua cadeira, o único esforço sendo o dos dedos para digitar no seu computador, não é? Ainda não assisti aos demais filmes que concorreram ao Oscar, por isso estou sem bases comparativas pra poder dizer se Birdman ou (A Inesperada Virtude da Ignorância) foi realmente merecedor do prêmio de melhor filme – embora isso seja muito subjetivo, como eu disse no início. Mas com certeza gostei bastante dele, achei-o um ótimo filme, que levanta muitas outras questões além das que destaquei aqui. Não agradará a todos, é certo, ele tem um ritmo mais lento (pra contrastar com a ação fulminante dos filmes de super heróis blockbusters) e uma estética diferente do habitual para os padrões de Hollywood (por exemplo, sua trilha sonora composta quase que exclusivamente por compassos de bateria free jazz ou sua filmagem em plano sequência). No fim, acredito que Birdman cumpre com sua proposta e que consegue, por algumas horas, fazer a mente do telespectador voar.
Agora há pouco assisti "O Nevoeiro" pela segunda vez. Mesmo já sabendo como o filme ia acabar, a angústia e o choque não foram menores do que na primeira vez em que vi a película. Acho até que foram maiores, já que eu sabia a todo momento aonde a coisa toda ia culminar e esperava pelo clímax com aflição redobrada. "O Nevoeiro" é um dos contos de Stephen King mais bem adaptados para o cinema - também pudera, a direção é de Frank Darabont, responsável por outras duas excelentes adaptações de livros do mestre: "Um Sonho de Liberdade" e "À Espera de Um Milagre". "O Nevoeiro" é também um dos filmes com o final mais impactante que eu já vi. Você precisará de pelo menos algumas horas até se recuperar totalmente do desfecho da trama e acreditar que os personagens foram conduzidos àquele fim. Normal, coisa de Stephen King. King não é considerado o mestre do terror literário à toa. Seus livros possuem uma perspectiva muito peculiar e moderna acerca do gênero terror. Isso porque Stephen King é um analista do comportamento nato. Não, ele não é formado em psicologia, mas disseca como ninguém os aspectos psicológicos de seus personagens e, por conseguinte, de toda raça humana. Em "O Nevoeiro", por exemplo, King mostra o comportamento humano em sua essência ao narrar a história de um grupo de sobreviventes de uma pequena cidade que se exila em um supermercado, tentando escapar de um misterioso nevoeiro que chega de repente, trazendo ameaças em forma de criaturas monstruosas e um tanto lovecraftianas. Mas os piores monstros são os humanos. A clausura e o medo revelam a verdadeira face insana (ou seria a face real?) das pessoas. A trama faz cair por terra a ideia de que somos "bons por natureza". Em um dos diálogos do filme, um personagem afirma que "enquanto houver máquinas, luz elétrica e um telefone para chamar a polícia", todos serão minimamente civilizados. Mas tire tudo isso, coloque as pessoas no escuro, confinadas e amedrontadas - o que sobra é o homem reduzido à sua natureza básica, à sua composição primária primitiva. Em "O Nevoeiro" é isso que vemos: pessoas lutando por sua sobrevivência. E quando isso acontece, tudo pode acontecer. Os personagens da história estão dispostos a fazer qualquer coisa por suas vidas - inclusive sacrificar a vida do seu próximo. Fanatismo religioso, o sistema militar norte-americano e as possibilidades e limites da ciência são outros tópicos discutidos tanto no conto quanto no filme. Stephen King é excelente em trazer questões desse tipo dentro da ficção e, especialmente, com o terror como pano de fundo para diversos debates. O conto é muito bom, porém tem um final diferente do filme - que possui um desfecho ainda melhor. Portanto, se você curte ou não curte o gênero terror, fica a dica: "O Nevoeiro". E pode assistir sem medo. Afinal, os piores monstros não estão à espreita debaixo da cama, estão dormindo em cima delas.
Belo filme! Uma história singela, mas cativante e emocionante. O belo trabalho de fotografia evidenciou ainda mais as belezas naturais das locações. E a trilha sonora nem se fala: um deleite para os ouvidos.
Melhor que imaginar a vida é vivê-la - essa é a grande lição que tiro da história desse filme. Sonhar a vida é preciso, mas perder a vida acontecendo enquanto se sonha é como projetar algo que nunca sairá do papel. Que os sonhos sejam só parte de um projeto maior: viver.
O filme mais bonito que assisti em 2014 - até agora. Merecidamente levou o Oscar de melhor roteiro original. E que história! Delicada, sensível, imersiva, cativante. Um enredo riquíssimo que aborda a fragilidade das relações humanas e da existência como um todo, a incomunicabilidade entre os sujeitos apesar de um mundo onde a tecnologia da comunicação se faz cada vez mais presente, a mudança de paradigmas e subjetividades com a crescente presença do virtual no real, os novos tipos de afetos e relacionamentos que podem surgir decorrentes desse "admirável mundo novo." Ademais, uma bela fotografia aliada a uma trilha sonora etérea deram a tônica belíssima à direção de Spike Jonze e às atuações magistrais.
Fotografia diferenciada que pode estranhar em um primeiro momento, mas encantar logo em seguida. Um história linda e rica, habilmente transposta dos quadrinhos para a tela. Incrível como toda a magia surreal da narrativa de Gaiman e a estética não menos onírica de McKean que vemos nas revistas permanece com a mesma atmosfera no filme.
Há uma série de filmes que parecem ter sido feitos para nós e/ou sobre nós. Poderia apontar vários, aqui, e certamente os longas de Woody Allen estariam na lista largamente. Sim, esse é mais um filme do cineasta em que penso a cada cena: isso é sobre mim, isso é para mim! Roteiro genial repleto de metalinguagem e referências, diálogos perfeitos! Woody Allen ainda é a melhor terapia.
Como me recuperar desse filme? Não sei, muitas pessoas o consideram um tanto clichê ou com um enredo muito comum. Não me pareceu assim, talvez, reconheço, pela grande carga de identificação com o protagonista e a trama em si e pelo alto nível de afeto que o longa criou em mim. E que mal há nisso? Qual o problema se não for um filme digno de um Oscar ou um Cannes? Manoel de Barros é quem diz que devemos medir o grau das coisas pelo nível de encantamento que estas produzem em nós. Por isso, adorei Ruby Sparks. A tradução brasileira com o acréscimo de um subtítulo à la Sessão da Tarde me deixou meio desconfiado a princípio, tanto é que apenas recentemente vim assistir o filme. A história cativa, os personagens são carismáticos, os conflitos da ficção nunca soaram tão reais. Talvez seja preciso passar ou ter passado por todos os dilemas apresentados para que de fato uma empatia pela história seja gerada, ou ter algo como que uma pré-disposição existencial melancólica e tortuosa pra se identificar com os conflitos. Um filme muito sensível, bonito e divertido, versa sobre nossos sonhos, anseios, idealizações, medos, frustrações, perdas. Versa sobre a vida.
Desde a primeira cena já fica explicitado que o que temos à frente é um filme denso e tenso - densidade essa que se constitui por meio de uma assombrosa viagem às camadas mais profundas do ser humano. E o que encontramos lá não é nada bom. Aliás, o prólogo do filme é angustiante, desconfortante, mas ao mesmo tempo muito poético e bonito. E é essa sensação desconcertante e nauseante que acompanha o receptor durante todo o longa. Dotado de uma linguagem simbólica intensa, Anticristo é uma overdose de subjetividade - mas nem por isso deixa de falar sobre algo extremamente real e assustador: nós mesmos. Não é por menos que os personagens não possuem nomes no filme - na ficha técnica são identificados apenas como "ele" e "ela". De fato, poderiam ser qualquer um de nós. É incrível como Lars Von Trier consegue falar da velha dicotomia razão X natureza de uma forma bastante original, pois esse é um tema já bastante discutido em diversas áreas do conhecimento, um tanto "surrado". Aliás, esse contraste é bem visível na constituição do casal protagonista. Ele, um psicanalista racional, equilibrado mesmo nas adversidades; ela, uma escritora ninfomaníaca (?) e passional. No entanto, mesmo o mais racional dos homens sucumbe num momento ou outro à sua dimensão mais primitiva.
Por exemplo, quando o personagem de Willem Dafoe foge em prol da conservação de sua vida e tenta matar o corvo que poderia deletá-lo. Aliás, uma vez que o corvo representa o desespero no filme e essa cena se passa dentro do capítulo "desespero", há de se pensar que esse ato também pode representar uma tentativa do personagem de "matar o desespero", de fugir de toda aquela situação que colocava sua vida em risco.
Outras tantas análises poderiam ser feitas durante horas e mesmo assim as variáveis interpretativas não se esgotariam. E é assim que é uma boa obra de arte - nunca se esgota, ao contrário, propicia mais releituras a cada leitura executada. Anticristo é um ótimo filme. Certamente não será bem digerido por muitos, especialmente pra quem ainda está habituado a ver cinema apenas nos moldes hollywoodianos. Todavia, é uma experiência que recomendo a todos, fazer essa viagem e esse mergulho. No fim, é possível descobrir pelo menos uma coisa: o anticristo somos nós.
Sinceramente, esperava mais do filme. Espero que o livro seja melhor que a adaptação cinematográfica. A meu ver, o cachorrinho Spider cativou mais minha atenção do que qualquer outra interpretação no filme. rsrs Com exceção do final, que surtiu algum impacto, o resto do filme é fraco.
Assim que li as três edições no formato mangá fui assistir o longa com aquela típica desconfiança de quem irá se deparar com adaptações. Porém, para minha surpresa, ainda que os traços da arte animada sejam diferentes dos utilizados na revista, o roteiro ficou bastante fidedigno entre ambas as mídias (aliás, ainda estou em dúvida sobre qual foi criado primeiro: o filme ou o mangá). A história, apesar do fundo levemente apocalíptico com toques de FC aposta é mesmo em personagens cativantes, acontecimentos repletos de reviravoltas, o resgate de diversos valores há muito perdidos na civilização ocidental e um enredo singelo, simples. E por isso mesmo é que "Summer Wars" funcionou tão bem.
Uma pequena grande epopeia sobre a vida e seu ciclo inevitável, embargado de dor e beleza. Pelos olhos do pequeno ao adulto Forrest, vemos o tempo passar e com ele acontecimentos e lições valorosas. Uma história cativante e emocionante, muito bem incorporada pela atuação de Tom Hanks e embalada por uma trilha sonora requintada, que inclui nomes como Bob Dylan, Elvis Presley, The Doors, Creedence, Beach Boys, Jimi Hendrix, Simon & Garfunkel, Jefferson Airplane, Lynyrd Skynyrd, dentre outros. A narrativa ao bom estilo "contação de histórias" é sempre uma boa pedida, e veio bem a calhar juntamente ao contexto histórico nacional (dos EUA) e mundial que foi traçada paralelamente às questões íntimas, particulares ao indivíduo.
Eis aí um filme que me marcou profundamente, em diversos níveis. Da excelente fotografia, passando pela atuação magistral até o cerne do enredo - uma obra de arte cativante que gerou grande emoção em mim (é, tive que engolir o choro mais de uma vez, enquanto assistia). Estava esperando o início do programa "Altas Horas", despretensiosamente, a fim de ver o duo entre Zakk Wylde e Andreas Kisser - aliás, foi ótimo. Nesse meio tempo, o filme "Um Olhar do Paraíso" começou a ser exibido na Rede Globo. Dei uma rápida olhada na sinopse, na internet e, num primeiro olhar não esperava grande coisa do longa. Isso pois, já tinha visto diversas obras com a temática "postmortem" e dentro de uma estrutura narrativa similar, na qual o protagonista morto conta sua história - na literatura, temos um equivalente a isso com "Memórias Póstumas de Brás Cubas", do sempiterno Machado de Assis. Mas, o que eu havia subestimado virou o jogo contra mim. A começar pela fotografia lindamente maravilhosa, perfeita, transcendental... um banquete aos olhos e às almas. A linguagem poética, simbólica, cheia de metáforas fantásticas que foi utilizada para contar a história fez toda a diferença em inovar um enredo, em sua essência profunda, se super dissecado, já convencional. Os simbolismos na construção e nas passagens das cenas (aliás, ótima edição o filme teve) me fizeram pensar o tempo todo: "Porra! Quem é o gênio do diretor desse filme?" Para minha surpresa, ao final da película, quando os créditos são exibidos, eis que vejo o nome de ninguém mais, ninguém menos que PETER JACKSON. Claro! Quem mais poderia ter produzido uma obra de arte tão inigualável? Vale ressaltar que sua participação também no roteiro foi deveras significativa, garantindo um olhar especial à trama. E que trama, hein? Personagens cativantes, apresentados num ritmo aprazível (para aqueles que sabem apreciar a vagareza deliciosa de uma boa narração) e um contexto confortante e comovente até mesmo para os mais empedernidos. Cada detalhe, muito bem trabalhado, corroborou em prol do longa. Nenhum detalhe aparecia em vão. Por exemplo, numa das cenas finais, quando "O Mouro" estava vendo uma série de discos de vinil e, passa sutil e rapidamente pelo primeiro álbum da banda Black Sabbath. Particularmente, como fã do grupo, eu achei sensacional. E não apenas pela referência, mas, por aquilo que a cena, mesmo que rápida e discretamente, revelou. O contexto histórico, relacionado ao período em que o álbum foi lançado, revelava uma situação pós-guerra que as nações estavam vivenciando, onde a negridão e o pessimismo pairava sobre a população. Serviu também como referência ao estado de espírito dos personagens em questão, envoltos pelas sombras dos acontecimentos recentes - sombras essas que se dissipariam com a luz eminente da esperança, representada por Susie Salmon. A fala final da protagonista, resume bem toda a história e dá a tônica central do filme: "Desejo a todos uma vida plena e feliz."
A premissa de "Ted", ainda que interessante, não fez do longa um grande filme - ou, ao menos, não o tornou grande para mim. Com algumas sacadas, piadas, referências e frases de efeito realmente boas, o enredo que oscila mais para um clichê holywoodiano, pastelão, besteirol perde um pouco do vigor da ideia central que, se bem dissecada renderia uma produção mais homogênea em qualidade. Não vi nada demais também no alarde feito em relação à suposta "acidez" do filme. Claro que trata-se de uma película bem "boca suja", mas nem é para tanto. Já vi coisas "piores" apenas lendo Bukowski ou Henry Miller. Há um certo charme, uma certa poesia nos palavrões, quando bem usados. Mas, Sulkin e MacFarlane lançaram mão desse recurso de forma errônea e, a impressão que se tem com as pilherias proferidas no filme é a de mera apelação ineficaz. Confesso que fiquei um tanto emocionado com o final - apesar do "grande final" em si ter quebrado esse lapso de emoção que conseguiram provocar. A despeito disso, achei interessante e válida a ideia dos vínculos de amizade, dos laços que atam o homem à sua infância (bem representados pela figura do ursinho Ted), as escolhas e transições para a vida adulta e o embate que temos, obrigatoriamente, que travar com o lado de criança que todo homem possui. Um paradoxo se acendeu em minha mente, ao observar essas questões: ao tempo em que há todo um discurso social para que mantenhamos nossa "criança interior", na prática social nos vemos forçados a abandonarmos essa postura, no máximo reservá-las a momentos raros e mínimos. Por mais que o mundo nos diga o contrário, ele nos obriga a crescer. No geral, esperava mais. Uma pena que esse rico panorama tenha se afogado um pouco na trama.
Definitivamente, "Não Estou Lá" é um filme feito por um cineasta fã de Bob Dylan para fãs de Bob Dylan. Quem não conhece a vida e obra do profeta/poeta/rebelde e visionário músico, que oscilou em várias variáveis, navegando por facetas e contextos distintos, dificilmente apreciará ou entenderá o filme em sua plenitude. Portanto, para que uma degustação melhor seja feita, recomendo aos interessados uma prévia pesquisa biográfica sobre Dylan - um ótimo complemento seria o documentário "No Direction Home". A película é densa, dota de simbolismos vários e uma linguagem poética digna dos melhores autores surrealistas. De fato, um filme biográfico que foge dos padrões burlescamente narrativo-descritivo que tanto se convencionou. Longe de ser mero relato documental, "Não Estou Lá" é uma obra de arte - e das boas!
Warren Ellis: Captured Ghosts
4.0 1Alguém encontrou legendado?
Birdman ou (A Inesperada Virtude da Ignorância)
3.8 3,4K Assista AgoraAVISO: Esse post é dos grandes, leia por sua conta e risco.
Não é minha pretensão que esse texto seja uma “resenha crítica tradicional”, até porque seria um tanto irônico fazer uma resenha desse tipo sobre um filme que, dentre outras coisas, problematiza o papel da crítica cinematográfica. Portanto, vou considerar esse texto como apenas um apanhado de impressões pessoais, considerações particulares sobre uma obra de arte. E não seriam isso as resenhas críticas, afinal? Produtos subjetivos de alguém que escreve baseado em suas interpretações (ainda que aqui ou acolá se ancore em pontos mais ou menos objetivos)? É sempre um tanto problemático pensar a crítica à arte, especialmente numa perspectiva normativista – que muitos ainda insistem em aplicar. Woody Allen, por exemplo, nunca comparece às premiações do Oscar, quando indicado. Segundo ele, não é possível julgar um filme com bases valorativas definidas a ponto de se premiar ou não a obra. Ele diz que numa corrida, por exemplo, existem regras muito bem claras para que o vencedor seja eleito – você vê claramente quem correu mais e melhor e, por conseguinte, chegou em primeiro lugar. Mas, em se tratando de arte, qual o critério? Por isso, torno a dizer: essas são minhas impressões pessoais, sem a mínima pretensão de bocejar uma verdade absoluta sobre Birdman ou (A Inesperada Virtude da Ignorância), a obra vencedora na categoria de melhor filme do Oscar 2015.
Como eu havia dito acima, Birdman ou (A Inesperada Virtude da Ignorância), trata de assuntos diversos através de sua metalinguaguem e semiótica: a necessidade/importância de ser alguém na vida (no sentido profissional e existencial da expressão), a dinâmica do mercado cinematográfico, o valor da arte e do artista no mundo contemporâneo e o papel da crítica no campo das artes. Dois momentos sensacionais do filme ilustram bem este último ponto. Primeiro, quando o personagem de Edward Norton (Mike), citando Flaubert, diz: "Um homem torna-se um crítico quando ele não pode ser um artista da mesma maneira que um homem se torna um informante quando ele não pode ser soldado.” Touché! Eis o primeiro golpe de misericórdia feito à crítica – obviamente àquela crítica mesquinha, desonesta, parcial, insincera, se é que existe um outro tipo. Quero crer que sim. O segundo momento de crítica à crítica virá mais adiante, prossigamos.
“Qual a importância da arte no mundo de hoje?” é outra questão que o longa levanta. O protagonista da história (Riggan Thomson), interpretado por Michael Keaton, foi um ator de sucesso no passado, ao fazer o papel do super herói Birdman em diversos filmes. Com o passar dos anos, tentando recuperar a glória de outrora e desejando evoluir como artista, Riggan Thomson escreve e dirige uma peça teatral mais séria e mais adulta. Ele quer, a todo custo, provar seu valor no mundo da arte (para além do entretenimento e do banal), sem no entanto conseguir o mesmo sucesso que tinha quando fazia seus filmes de ação e aventura. O protagonista é então constantemente assombrado pelo passado, perguntando-se se não deveria voltar a fazer os filmes do herói Birdman, que era o que realmente rendia fama, dinheiro e reconhecimento do público. Eis aqui um dilema enfrentado por qualquer artista sincero: fazer o que rende sucesso e visibilidade ou fazer arte séria e comprometida? Riggan Thomson começa a lembrar de cenas dos seus antigos filmes de super herói e a voz sussurra em sua mente: “Olhe para eles, para os olhos deles... Eles estão brilhando. Eles amam sangue, amam ação. Nada dessa conversa depressiva e filosófica.” O protagonista percebe, então, que não adianta tentar produzir uma obra que leve à reflexão, à construção do pensamento e do senso estético em pleno século XXI, na era do Twitter e do Facebook, quando todos só querem distrações fugazes, material enlatado, de fácil e rápido consumo. Aliás, em uma das cenas do filme, o protagonista sai por acidente pelas ruas de Nova York apenas de cueca. Os transeuntes o filmam, o vídeo cai na internet e em poucas horas consegue mais sucesso que a peça séria e cheia de valores artísticos. Que mundo deprimente, não? O que estamos valorizando mais hoje em dia? Que diabos...
Mas engana-se quem pensa que com isso o filme critica de forma unilateral e um tanto batida a cultura de massa, a cultura pop, a arte de entretenimento e a indústria. Há alguns momentos em que se questiona também se esse tipo de arte de massa não teria também seu valor e como lidamos com a arte dita mais erudita – pois é comum que as pessoas ostentem certos gostos artísticos “refinados” somente como um mero adorno de vaidade. Prova disso é a fala da personagem de Emma Stone (Sam): “Você faz uma peça baseada em um livro escrito há 60 anos para pessoas brancas, velhas e ricas, que só se preocupam com o lugar que vão tomar café com bolo quando acabar.”
Oh, céus! Será que tudo é assim tão descartável? Será que é só isso? Será que os artistas estão perdendo tempo, só perdendo tempo, tentando trazer algo mais para esse mundo enquanto as pessoas só estão preocupadas com o restaurante depois do espetáculo (e com o registro devidamente fotografado de que estiveram lá)?
Mas há sim momentos em que a cultura de massa, as obras de entretenimento são valorizadas. Não importa se Birdman era só um filme popular de super heróis, o protagonista percebe que havia muito amor, esforço e empenho nas produções e que aquilo tinha seu valor – pois as pessoas amavam aqueles filmes que davam a elas um pouco de diversão, relaxamento e alguma esperança num mundo cada vez mais problemático. Com isso, o roteiro foge do senso comum e do discurso ultrapassado do “anticomercial”, evidenciando as múltiplas facetas e a complexidade do assunto. E ao invés de promover uma visão de que a cultura pop é apenas lixo, afirma que ela também tem seu valor. Uma cena que corrobora isso: o protagonista Riggan Thomson encontra uma crítica de cinema em um bar. Ela prepara uma resenha jornalística que irá difamar e destruir a peça dele, mesmo sem ela nem ainda tê-la assistido. Segue o diálogo:
“- Vou destruir você e tudo o que você representa. Intitulados, egoístas e crianças mimadas. Totalmente destreinados, desconhecedores e despreparados para produzir arte de verdade.
- O que tem que acontecer na vida de uma pessoa para acabar se tornando um crítico? Isso não passa de etiquetas. Você só sabe etiquetar tudo. Você é uma filha da mãe preguiçosa. Você é preguiçosa. Você sabe o que é isso? (mostra uma flor para a crítica)Você nem sabe o que é isso, não sabe. Sabe por quê? Você não pode ver isso se não rotulá-la. Você confunde esses sons na sua cabeça com verdadeiro conhecimento.
- Acabou?
- Não, não acabei. Não há nada aqui sobre técnica, sobre estrutura, nada sobre intensidade. Só opiniões de merda feita por comparações de merda. Você escreve alguns parágrafos... Sabe do quê? Nada disso custou nada a você. Você não está arriscando nada, nada. Eu sou a porra de um ator. Essa peça me custou tudo.”
BANG! Eis o segundo e fulminante ponto de crítica à crítica. É muito fácil detonar um trabalho que levou investimento de tempo, de finanças, de suor e de afeto sentadinho confortavelmente na sua cadeira, o único esforço sendo o dos dedos para digitar no seu computador, não é?
Ainda não assisti aos demais filmes que concorreram ao Oscar, por isso estou sem bases comparativas pra poder dizer se Birdman ou (A Inesperada Virtude da Ignorância) foi realmente merecedor do prêmio de melhor filme – embora isso seja muito subjetivo, como eu disse no início. Mas com certeza gostei bastante dele, achei-o um ótimo filme, que levanta muitas outras questões além das que destaquei aqui. Não agradará a todos, é certo, ele tem um ritmo mais lento (pra contrastar com a ação fulminante dos filmes de super heróis blockbusters) e uma estética diferente do habitual para os padrões de Hollywood (por exemplo, sua trilha sonora composta quase que exclusivamente por compassos de bateria free jazz ou sua filmagem em plano sequência).
No fim, acredito que Birdman cumpre com sua proposta e que consegue, por algumas horas, fazer a mente do telespectador voar.
O Nevoeiro
3.5 2,6K Assista AgoraAgora há pouco assisti "O Nevoeiro" pela segunda vez. Mesmo já sabendo como o filme ia acabar, a angústia e o choque não foram menores do que na primeira vez em que vi a película. Acho até que foram maiores, já que eu sabia a todo momento aonde a coisa toda ia culminar e esperava pelo clímax com aflição redobrada.
"O Nevoeiro" é um dos contos de Stephen King mais bem adaptados para o cinema - também pudera, a direção é de Frank Darabont, responsável por outras duas excelentes adaptações de livros do mestre: "Um Sonho de Liberdade" e "À Espera de Um Milagre". "O Nevoeiro" é também um dos filmes com o final mais impactante que eu já vi. Você precisará de pelo menos algumas horas até se recuperar totalmente do desfecho da trama e acreditar que os personagens foram conduzidos àquele fim. Normal, coisa de Stephen King.
King não é considerado o mestre do terror literário à toa. Seus livros possuem uma perspectiva muito peculiar e moderna acerca do gênero terror. Isso porque Stephen King é um analista do comportamento nato. Não, ele não é formado em psicologia, mas disseca como ninguém os aspectos psicológicos de seus personagens e, por conseguinte, de toda raça humana.
Em "O Nevoeiro", por exemplo, King mostra o comportamento humano em sua essência ao narrar a história de um grupo de sobreviventes de uma pequena cidade que se exila em um supermercado, tentando escapar de um misterioso nevoeiro que chega de repente, trazendo ameaças em forma de criaturas monstruosas e um tanto lovecraftianas. Mas os piores monstros são os humanos. A clausura e o medo revelam a verdadeira face insana (ou seria a face real?) das pessoas. A trama faz cair por terra a ideia de que somos "bons por natureza". Em um dos diálogos do filme, um personagem afirma que "enquanto houver máquinas, luz elétrica e um telefone para chamar a polícia", todos serão minimamente civilizados. Mas tire tudo isso, coloque as pessoas no escuro, confinadas e amedrontadas - o que sobra é o homem reduzido à sua natureza básica, à sua composição primária primitiva. Em "O Nevoeiro" é isso que vemos: pessoas lutando por sua sobrevivência. E quando isso acontece, tudo pode acontecer. Os personagens da história estão dispostos a fazer qualquer coisa por suas vidas - inclusive sacrificar a vida do seu próximo.
Fanatismo religioso, o sistema militar norte-americano e as possibilidades e limites da ciência são outros tópicos discutidos tanto no conto quanto no filme. Stephen King é excelente em trazer questões desse tipo dentro da ficção e, especialmente, com o terror como pano de fundo para diversos debates.
O conto é muito bom, porém tem um final diferente do filme - que possui um desfecho ainda melhor. Portanto, se você curte ou não curte o gênero terror, fica a dica: "O Nevoeiro". E pode assistir sem medo. Afinal, os piores monstros não estão à espreita debaixo da cama, estão dormindo em cima delas.
Sharknado 2: A Segunda Onda
2.4 221 Assista AgoraPlágio de "Tubarões Voadores", de Luiz Gê e Arrigo Barnabé? Hahaha
https://www.youtube.com/watch?v=qTLlnY4WSSY
A Vida Secreta de Walter Mitty
3.8 2,0K Assista AgoraBelo filme! Uma história singela, mas cativante e emocionante. O belo trabalho de fotografia evidenciou ainda mais as belezas naturais das locações. E a trilha sonora nem se fala: um deleite para os ouvidos.
Melhor que imaginar a vida é vivê-la - essa é a grande lição que tiro da história desse filme. Sonhar a vida é preciso, mas perder a vida acontecendo enquanto se sonha é como projetar algo que nunca sairá do papel. Que os sonhos sejam só parte de um projeto maior: viver.
Ela
4.2 5,8K Assista AgoraO filme mais bonito que assisti em 2014 - até agora. Merecidamente levou o Oscar de melhor roteiro original. E que história! Delicada, sensível, imersiva, cativante. Um enredo riquíssimo que aborda a fragilidade das relações humanas e da existência como um todo, a incomunicabilidade entre os sujeitos apesar de um mundo onde a tecnologia da comunicação se faz cada vez mais presente, a mudança de paradigmas e subjetividades com a crescente presença do virtual no real, os novos tipos de afetos e relacionamentos que podem surgir decorrentes desse "admirável mundo novo." Ademais, uma bela fotografia aliada a uma trilha sonora etérea deram a tônica belíssima à direção de Spike Jonze e às atuações magistrais.
Máscara da Ilusão
3.8 114 Assista AgoraFotografia diferenciada que pode estranhar em um primeiro momento, mas encantar logo em seguida. Um história linda e rica, habilmente transposta dos quadrinhos para a tela.
Incrível como toda a magia surreal da narrativa de Gaiman e a estética não menos onírica de McKean que vemos nas revistas permanece com a mesma atmosfera no filme.
Tudo Pode Dar Certo
4.0 1,1KHá uma série de filmes que parecem ter sido feitos para nós e/ou sobre nós. Poderia apontar vários, aqui, e certamente os longas de Woody Allen estariam na lista largamente. Sim, esse é mais um filme do cineasta em que penso a cada cena: isso é sobre mim, isso é para mim!
Roteiro genial repleto de metalinguagem e referências, diálogos perfeitos!
Woody Allen ainda é a melhor terapia.
Ruby Sparks - A Namorada Perfeita
3.8 1,4KComo me recuperar desse filme?
Não sei, muitas pessoas o consideram um tanto clichê ou com um enredo muito comum. Não me pareceu assim, talvez, reconheço, pela grande carga de identificação com o protagonista e a trama em si e pelo alto nível de afeto que o longa criou em mim. E que mal há nisso? Qual o problema se não for um filme digno de um Oscar ou um Cannes? Manoel de Barros é quem diz que devemos medir o grau das coisas pelo nível de encantamento que estas produzem em nós. Por isso, adorei Ruby Sparks.
A tradução brasileira com o acréscimo de um subtítulo à la Sessão da Tarde me deixou meio desconfiado a princípio, tanto é que apenas recentemente vim assistir o filme. A história cativa, os personagens são carismáticos, os conflitos da ficção nunca soaram tão reais. Talvez seja preciso passar ou ter passado por todos os dilemas apresentados para que de fato uma empatia pela história seja gerada, ou ter algo como que uma pré-disposição existencial melancólica e tortuosa pra se identificar com os conflitos.
Um filme muito sensível, bonito e divertido, versa sobre nossos sonhos, anseios, idealizações, medos, frustrações, perdas. Versa sobre a vida.
Um Amigo para Algernon
3.4 8Alguém tem o link pra baixar ou ver online legendado ou dublado?
Anticristo
3.5 2,2K Assista AgoraDesde a primeira cena já fica explicitado que o que temos à frente é um filme denso e tenso - densidade essa que se constitui por meio de uma assombrosa viagem às camadas mais profundas do ser humano. E o que encontramos lá não é nada bom. Aliás, o prólogo do filme é angustiante, desconfortante, mas ao mesmo tempo muito poético e bonito. E é essa sensação desconcertante e nauseante que acompanha o receptor durante todo o longa.
Dotado de uma linguagem simbólica intensa, Anticristo é uma overdose de subjetividade - mas nem por isso deixa de falar sobre algo extremamente real e assustador: nós mesmos.
Não é por menos que os personagens não possuem nomes no filme - na ficha técnica são identificados apenas como "ele" e "ela". De fato, poderiam ser qualquer um de nós.
É incrível como Lars Von Trier consegue falar da velha dicotomia razão X natureza de uma forma bastante original, pois esse é um tema já bastante discutido em diversas áreas do conhecimento, um tanto "surrado". Aliás, esse contraste é bem visível na constituição do casal protagonista. Ele, um psicanalista racional, equilibrado mesmo nas adversidades; ela, uma escritora ninfomaníaca (?) e passional. No entanto, mesmo o mais racional dos homens sucumbe num momento ou outro à sua dimensão mais primitiva.
Por exemplo, quando o personagem de Willem Dafoe foge em prol da conservação de sua vida e tenta matar o corvo que poderia deletá-lo. Aliás, uma vez que o corvo representa o desespero no filme e essa cena se passa dentro do capítulo "desespero", há de se pensar que esse ato também pode representar uma tentativa do personagem de "matar o desespero", de fugir de toda aquela situação que colocava sua vida em risco.
Outras tantas análises poderiam ser feitas durante horas e mesmo assim as variáveis interpretativas não se esgotariam. E é assim que é uma boa obra de arte - nunca se esgota, ao contrário, propicia mais releituras a cada leitura executada.
Anticristo é um ótimo filme. Certamente não será bem digerido por muitos, especialmente pra quem ainda está habituado a ver cinema apenas nos moldes hollywoodianos. Todavia, é uma experiência que recomendo a todos, fazer essa viagem e esse mergulho. No fim, é possível descobrir pelo menos uma coisa: o anticristo somos nós.
O Iluminado
4.3 4,0K Assista AgoraComo obra cinematográfica é um grande filme. Como adaptação de um grande livro, é fraco.
A Mulher de Preto
3.0 50Sinceramente, esperava mais do filme. Espero que o livro seja melhor que a adaptação cinematográfica.
A meu ver, o cachorrinho Spider cativou mais minha atenção do que qualquer outra interpretação no filme. rsrs
Com exceção do final, que surtiu algum impacto, o resto do filme é fraco.
Guerras de Verão
4.0 104 Assista AgoraAssim que li as três edições no formato mangá fui assistir o longa com aquela típica desconfiança de quem irá se deparar com adaptações. Porém, para minha surpresa, ainda que os traços da arte animada sejam diferentes dos utilizados na revista, o roteiro ficou bastante fidedigno entre ambas as mídias (aliás, ainda estou em dúvida sobre qual foi criado primeiro: o filme ou o mangá).
A história, apesar do fundo levemente apocalíptico com toques de FC aposta é mesmo em personagens cativantes, acontecimentos repletos de reviravoltas, o resgate de diversos valores há muito perdidos na civilização ocidental e um enredo singelo, simples. E por isso mesmo é que "Summer Wars" funcionou tão bem.
Forrest Gump: O Contador de Histórias
4.5 3,8K Assista AgoraUma pequena grande epopeia sobre a vida e seu ciclo inevitável, embargado de dor e beleza.
Pelos olhos do pequeno ao adulto Forrest, vemos o tempo passar e com ele acontecimentos e lições valorosas. Uma história cativante e emocionante, muito bem incorporada pela atuação de Tom Hanks e embalada por uma trilha sonora requintada, que inclui nomes como Bob Dylan, Elvis Presley, The Doors, Creedence, Beach Boys, Jimi Hendrix, Simon & Garfunkel, Jefferson Airplane, Lynyrd Skynyrd, dentre outros.
A narrativa ao bom estilo "contação de histórias" é sempre uma boa pedida, e veio bem a calhar juntamente ao contexto histórico nacional (dos EUA) e mundial que foi traçada paralelamente às questões íntimas, particulares ao indivíduo.
Um Olhar do Paraíso
3.7 2,7K Assista AgoraEis aí um filme que me marcou profundamente, em diversos níveis. Da excelente fotografia, passando pela atuação magistral até o cerne do enredo - uma obra de arte cativante que gerou grande emoção em mim (é, tive que engolir o choro mais de uma vez, enquanto assistia).
Estava esperando o início do programa "Altas Horas", despretensiosamente, a fim de ver o duo entre Zakk Wylde e Andreas Kisser - aliás, foi ótimo. Nesse meio tempo, o filme "Um Olhar do Paraíso" começou a ser exibido na Rede Globo. Dei uma rápida olhada na sinopse, na internet e, num primeiro olhar não esperava grande coisa do longa. Isso pois, já tinha visto diversas obras com a temática "postmortem" e dentro de uma estrutura narrativa similar, na qual o protagonista morto conta sua história - na literatura, temos um equivalente a isso com "Memórias Póstumas de Brás Cubas", do sempiterno Machado de Assis.
Mas, o que eu havia subestimado virou o jogo contra mim. A começar pela fotografia lindamente maravilhosa, perfeita, transcendental... um banquete aos olhos e às almas.
A linguagem poética, simbólica, cheia de metáforas fantásticas que foi utilizada para contar a história fez toda a diferença em inovar um enredo, em sua essência profunda, se super dissecado, já convencional. Os simbolismos na construção e nas passagens das cenas (aliás, ótima edição o filme teve) me fizeram pensar o tempo todo: "Porra! Quem é o gênio do diretor desse filme?" Para minha surpresa, ao final da película, quando os créditos são exibidos, eis que vejo o nome de ninguém mais, ninguém menos que PETER JACKSON. Claro! Quem mais poderia ter produzido uma obra de arte tão inigualável? Vale ressaltar que sua participação também no roteiro foi deveras significativa, garantindo um olhar especial à trama. E que trama, hein?
Personagens cativantes, apresentados num ritmo aprazível (para aqueles que sabem apreciar a vagareza deliciosa de uma boa narração) e um contexto confortante e comovente até mesmo para os mais empedernidos.
Cada detalhe, muito bem trabalhado, corroborou em prol do longa. Nenhum detalhe aparecia em vão. Por exemplo, numa das cenas finais, quando "O Mouro" estava vendo uma série de discos de vinil e, passa sutil e rapidamente pelo primeiro álbum da banda Black Sabbath. Particularmente, como fã do grupo, eu achei sensacional. E não apenas pela referência, mas, por aquilo que a cena, mesmo que rápida e discretamente, revelou. O contexto histórico, relacionado ao período em que o álbum foi lançado, revelava uma situação pós-guerra que as nações estavam vivenciando, onde a negridão e o pessimismo pairava sobre a população. Serviu também como referência ao estado de espírito dos personagens em questão, envoltos pelas sombras dos acontecimentos recentes - sombras essas que se dissipariam com a luz eminente da esperança, representada por Susie Salmon.
A fala final da protagonista, resume bem toda a história e dá a tônica central do filme:
"Desejo a todos uma vida plena e feliz."
Ted
3.1 3,4K Assista AgoraA premissa de "Ted", ainda que interessante, não fez do longa um grande filme - ou, ao menos, não o tornou grande para mim. Com algumas sacadas, piadas, referências e frases de efeito realmente boas, o enredo que oscila mais para um clichê holywoodiano, pastelão, besteirol perde um pouco do vigor da ideia central que, se bem dissecada renderia uma produção mais homogênea em qualidade.
Não vi nada demais também no alarde feito em relação à suposta "acidez" do filme. Claro que trata-se de uma película bem "boca suja", mas nem é para tanto. Já vi coisas "piores" apenas lendo Bukowski ou Henry Miller. Há um certo charme, uma certa poesia nos palavrões, quando bem usados. Mas, Sulkin e MacFarlane lançaram mão desse recurso de forma errônea e, a impressão que se tem com as pilherias proferidas no filme é a de mera apelação ineficaz.
Confesso que fiquei um tanto emocionado com o final - apesar do "grande final" em si ter quebrado esse lapso de emoção que conseguiram provocar.
A despeito disso, achei interessante e válida a ideia dos vínculos de amizade, dos laços que atam o homem à sua infância (bem representados pela figura do ursinho Ted), as escolhas e transições para a vida adulta e o embate que temos, obrigatoriamente, que travar com o lado de criança que todo homem possui. Um paradoxo se acendeu em minha mente, ao observar essas questões: ao tempo em que há todo um discurso social para que mantenhamos nossa "criança interior", na prática social nos vemos forçados a abandonarmos essa postura, no máximo reservá-las a momentos raros e mínimos. Por mais que o mundo nos diga o contrário, ele nos obriga a crescer.
No geral, esperava mais. Uma pena que esse rico panorama tenha se afogado um pouco na trama.
Não Estou Lá
3.9 497 Assista AgoraDefinitivamente, "Não Estou Lá" é um filme feito por um cineasta fã de Bob Dylan para fãs de Bob Dylan. Quem não conhece a vida e obra do profeta/poeta/rebelde e visionário músico, que oscilou em várias variáveis, navegando por facetas e contextos distintos, dificilmente apreciará ou entenderá o filme em sua plenitude. Portanto, para que uma degustação melhor seja feita, recomendo aos interessados uma prévia pesquisa biográfica sobre Dylan - um ótimo complemento seria o documentário "No Direction Home". A película é densa, dota de simbolismos vários e uma linguagem poética digna dos melhores autores surrealistas. De fato, um filme biográfico que foge dos padrões burlescamente narrativo-descritivo que tanto se convencionou. Longe de ser mero relato documental, "Não Estou Lá" é uma obra de arte - e das boas!