Particularmente, é impossível elaborar uma crítica. O filme me tocou de um modo tão forte, como algo que esperei a vida toda para ver. Até entendo as críticas negativas, apesar de algumas só serem reprodução de histeria coletiva, porém não posso avaliar tecnicamente ou por qualquer outro método. Foi apenas emocionante para mim. Nesse ponto fica dificil não pensar em um polarização sobre DC e Marvel, uma vez que a diferença está justamente no tom, como sempre foi nos quadrinhos, o modo como se retrata os super seres, detalhe que pode ser muito bem observado no libro "superdeuses" do Grant Morrison. Na minha infância no interior, com exceção do homem aranha, sempre tive mais acesso a quadrinhos da DC, fui crescendo e admirando os roteiros densos e quase tragicos aos moldes gregos, principalmente sobre Batman e Superman. De fato, aquele que, como eu, se sente acolhido por esse tom da DC, que tem uma memória afetiva, que gosta ainda de quadrinhos de super herois, por mais que encontre muita qualidade em quadrinhos mais "sérios", encontra nesse filme uma experiência perfeita, um misto de nostalgia, conforto e emoção, Zack Snyder é um fanboy, ele é expansivo, claro, mas porque gosta desse tom dramático e fantasioso, e sinceramente, era tudo que eu precisava ver. Pra mim foi apenas um momento a ser vivenciado, foi a melhor experiência de cinema que tive na vida.
Não se trata apenas de uma crítica, mas sim de uma densa estrutura que abrange, com uma acidez impecável, a hipocrisia e o desespero de determinados indivíduos de erguer um arquétipo burguês como uma experiência desesperada de manutenção de status quo. O caos e a repetição, próprio do cinema de Buñuel, são mais do que nunca necessários para afirmar categoricamente o sentimento angustiado de manutenção de uma persona por aqueles sujeitos envolvidos no eterno retorno da construção de um ideal.
Os episódios oníricos são a representação da fragilidade daquele conceito que os envolvidos forçam em levantar. Não há como conviver com tamanha responsabilidade de manter a educação e os desejos, a cultura e a ignorância, a pompa e a vergonha, etc. Todas as antípodas são apresentadas na confusão da realidade e dos sonhos. Buñuel é sempre genial em seus exageros, e neles que encontramos uma realidade muito sensível.
O filme é primoroso, se aplica a todos os tempos em que há necessidade de se reproduzir padrões massificados que se manifestam, justamente, por gestos de diferenciação, que fazem reconhecer, ainda, classes sociais.
Há uma importância muito pontual neste filme que claramente está subvalorizado para prêmios na academia. Não se trata apenas de mais uma cinebiografia ou uma história sobre o macarthismo, ou apenas uma mancha americana de propaganda. Trumbo demonstra a irracionalidade sobre opinião. O medo ao comunismo é algo muito conhecido quando se trata da sociedade americana, da mesma forma que a quase ilógica busca por conspirações acompanham essa história. Todavia, a repetição desse processo de bestializar pensamentos está retornando cada vez mais forte, não somente ao medo sobre o comunismo, mas em tantas outras frentes, que são resumidas as chamadas "bandeiras de esquerda". Esta obra tem, ao mesmo tempo que um alívio ideológico para aqueles que estão sobre esse medo, por se tratar de um comunismo sob o viés americano, que no fim das contas tem muito mais uma mensagem social democrata, mas também aparece como a revelação do absurdo que se torna o medo das opiniões diversas, que o detentor de um pensamento não se trata de inimigo, mas sim de um homem. Nesse ponto o filme bem aborda essa condição muito humana de todas as partes envolvidas, tanto o medo e inseguranças de Trumbo, que o levam a momentos de irracionalidade, até sua antípoda ideológica, a personagem de Helen Mirren,
com seu olhar aterrorizado pela aprovação do presidente Kennedy
. O medo da ideologia é cego, as posições diversas servem, como sempre apontado pelo personagem de Cranston, para melhorar a realidade. E isso que tal filme merece atenção. Ao lado de spotlight, certamente é o filme com a temática mais importante, presente nas premiações de 2015.
O tempo como temática que envolve essa sequência se mistura uma cadência que lembra uma espécie de torre de babel, as várias linguas que se misturam no filme confundem a capacidade humana de comunicação, assim como o silêncio dos anjos. Como se tudo fosse inacessível, o tempo, a vida a eternidade. Restando apenas a ação imediata que tanto transforma Cassiel em homem como o devolve a seu lugar. De fato uma continuação, que pode ser apresentada de forma independente. Dificil, por essa independencia, dizer se supera ou não Asas do Desejo.
A intensidade do filme traduz o que significa pensar sobre a história dos oprimidos. Vê-se muitas criticas sobre o que seria a atuação de uma "esquerda extrema". Mas é na oitava tese de Walter Benjamin, que nos roga a resgatar a história completa dos oprimidos e todos os sacrifícios que os padrões do poder ao longo dos tempos se revelam que começamos a sentir a angustia e a confusão que o filme bem aborda. Pensar para além dos padrões tem a mesma angústia revolucionária que o filme passa ao espectador. O filme é mais que um retrato de uma história real, é uma poética visual que retrata o sentimento confuso ao ter-se revelada a opressão.
Infelizmente me desagradou muito o filme, muito se fala da Técnica de Iñarritu, mas o que vejo é um desespero por uma personalidade forçada. A tal técnica perde o proposito durante o filme. O início com as cenas abertas e vertiginosas chega a nos colocar no cenário, porém com o passar do tempo isso perde completamente o sentido e começa a ficar enfadonho. Uma bela fotografia, de fato, mas nada tão marcante nem que possa ser chamado de original, creio que inclusive quem gostou concorda com isso, é inegavelmente bonito, mas não chega a ser marcante. já foi feito e repetido, neve, sol, sofrimento, enfim. Iñarritu pode ser brilhante, porém ele parece acreditar ser genial, coisas que são muito diferentes, por isso seus filmes me parecem arrogantes. O ultimo ato me pareceu desnecessário e extremamente cansativo. A ultima cena ainda sim me agradou. Confesso que posso já ter ido com certo preconceito o que prejudicou minha diversão, porém o filme me pareceu uma forçação de barra, uma genialidade comprada. De fato DiCaprio está muito bom, mas certamente merecia muito mais qualquer premiação relacionada ao lobo de wall street, que extraiu dele toda sua atuação, do que nesse, que não é seu trabalho mais genial, mais pela direção do que por ele mesmo.
Vi hoje o filme. Creio que, apesar de alguns problemas, principalmente ligados ao modo como é filmado e até mesmo um certo exagero em tentar datá-lo, é um dos roteiros mais importantes do ano, que deve ser levantado sempre o aparente esquecimento retornar. Certamente é muito mais importante que "o regresso"
Já espero de Rosa von Praunheim um filme político, eis que é nessa obra que encontro o escopo político mais abrangente, conquanto o título leve o homossexual no nome. Mas digo isso não em relação a abranger o filme a outras causas, uma vez que fica muito clara a atualidade do filme nessa seara. Porém digo aqui sobre a estética burguesa, ou melhor a produção e reprodução ideológica que se manifesta em todas as áreas da prática social. É a convergencia da ideologia em corpo, inclusive na tentativa de contestá-la, eis uma preocupação que o filme me despertou. Não se trata mais dos aparelhos ideológicos althusserianos, mas sim as práticas sociais, no modelo mais próximo possível de Foucault. A estética burguesa é a atual reprodução ideológico em todas as práticas sociais, e são estas que devem ser observadas no discurso, como faz brilhantemente o autor no diálogo final os seis homens. É a percepção da estética ideológica. A primeira vista esse filme pode parecer perigoso em mãos erradas, porém é a lupa para observarmos nossa própria reprodução do poder burgues em nossos atos, para a partir de então despertarmo-nos para um verdadeira reflexão de mudança. Enfim, quanto a causa principal do filme, insisto como a maioria dos comentários aqui, é de uma atualidade de causar perplexidade.
O título já havia me deixado desconfortável, que se trata da repetição do apocalipse de João e é justamente nele que me encontrei no filme. Não se trata de um filme de guerra, mas sim de uma experiencia sobre o limite entre o ser humano politicamente qualificado e a carcaça vazia que não se encontra mais no quadro normativo que o categoriza como ser, em termos agambenianos, definitivamente a vida nua. O filme é talvez um dos mais originais das ultimas décadas, a metamorfose de Florya não se trata do sofrimento de guerra, mas sim do exaurimento de sua humanidade. Não que isso o distancie de sua espécie, mas de sua alma. A questão da localidade do filme importa muito, pois pensamos que o espaço de anomia que transforma os prisioneiros nos muçulmanos (aqui não toca a religião, mas a analogia do ser curvado como é narrado nas obras de Primo Levi, como por exemplo, "é isto um homem?") vai além das fronteiras. O Soberano necessita do sacrifício, e é este homem, Florya, que nos obriga a sermos mantidos sob o mito. Para que nunca cheguemos a ser aquele não-homem que o homem o tornou.
Tantas vezes que vi essa obra, resolvi vê-la novamente nessa tarde quente. Dá fotografia magnífica de Sven Nykvist até o angustiante Bach, a doença me parece um plano de fundo para o verdadeiro silêncio que Bergman apresenta em uma família, já criada e com seus vícios bem apontados. Não é a fraqueza do Marido, a mesquinhez do Pai, ou a relação complexa entre os irmãos. Mas vejo a patologia como o limiar entre o grito e o silêncio. A interpretação de Harriet Andersson é clara quanto a isso, seus momentos de lucidez parecem plenos em contraste com seus familiares. E quando chega o momento em que sua patologia se declara, percebemos que ela só é doente pois não pode mais esconder; Todos ali poderiam ser patológicos, entretanto é somente Karin, que não pode mentir sobre sua verdade que está presa no mito da loucura. E também, é a unica que quebra o silêncio da lucidez. A frase final do filme, dita pelo jovem Minus, resume tal silêncio patológico: "papai, falou comigo".
Certamente o filme mais complexo e completo, tanto da série quando de Miller. Por mais que muitos tenham insistido na ausência de roteiro, vejo que o filme não se apega no modelo contemporâneo de narrativa enfadonha. Porém é no mito, na imagem e na energia que o filme vai construindo um universo repleto de problemas a serem observados por nossa própria sociedade. Fé, sexismo, sustentabilidade, enfim, dos problemas mais básicos até traços psicológicos de uma sociedade tão contemporânea que se torna pós-apocalíptica.
Batman vs Superman - A Origem da Justiça
3.4 5,0K Assista AgoraParticularmente, é impossível elaborar uma crítica. O filme me tocou de um modo tão forte, como algo que esperei a vida toda para ver. Até entendo as críticas negativas, apesar de algumas só serem reprodução de histeria coletiva, porém não posso avaliar tecnicamente ou por qualquer outro método. Foi apenas emocionante para mim. Nesse ponto fica dificil não pensar em um polarização sobre DC e Marvel, uma vez que a diferença está justamente no tom, como sempre foi nos quadrinhos, o modo como se retrata os super seres, detalhe que pode ser muito bem observado no libro "superdeuses" do Grant Morrison. Na minha infância no interior, com exceção do homem aranha, sempre tive mais acesso a quadrinhos da DC, fui crescendo e admirando os roteiros densos e quase tragicos aos moldes gregos, principalmente sobre Batman e Superman. De fato, aquele que, como eu, se sente acolhido por esse tom da DC, que tem uma memória afetiva, que gosta ainda de quadrinhos de super herois, por mais que encontre muita qualidade em quadrinhos mais "sérios", encontra nesse filme uma experiência perfeita, um misto de nostalgia, conforto e emoção, Zack Snyder é um fanboy, ele é expansivo, claro, mas porque gosta desse tom dramático e fantasioso, e sinceramente, era tudo que eu precisava ver. Pra mim foi apenas um momento a ser vivenciado, foi a melhor experiência de cinema que tive na vida.
O Discreto Charme da Burguesia
4.1 282 Assista AgoraNão se trata apenas de uma crítica, mas sim de uma densa estrutura que abrange, com uma acidez impecável, a hipocrisia e o desespero de determinados indivíduos de erguer um arquétipo burguês como uma experiência desesperada de manutenção de status quo. O caos e a repetição, próprio do cinema de Buñuel, são mais do que nunca necessários para afirmar categoricamente o sentimento angustiado de manutenção de uma persona por aqueles sujeitos envolvidos no eterno retorno da construção de um ideal.
Os episódios oníricos são a representação da fragilidade daquele conceito que os envolvidos forçam em levantar. Não há como conviver com tamanha responsabilidade de manter a educação e os desejos, a cultura e a ignorância, a pompa e a vergonha, etc. Todas as antípodas são apresentadas na confusão da realidade e dos sonhos. Buñuel é sempre genial em seus exageros, e neles que encontramos uma realidade muito sensível.
Trumbo: Lista Negra
3.9 374 Assista AgoraHá uma importância muito pontual neste filme que claramente está subvalorizado para prêmios na academia. Não se trata apenas de mais uma cinebiografia ou uma história sobre o macarthismo, ou apenas uma mancha americana de propaganda. Trumbo demonstra a irracionalidade sobre opinião. O medo ao comunismo é algo muito conhecido quando se trata da sociedade americana, da mesma forma que a quase ilógica busca por conspirações acompanham essa história. Todavia, a repetição desse processo de bestializar pensamentos está retornando cada vez mais forte, não somente ao medo sobre o comunismo, mas em tantas outras frentes, que são resumidas as chamadas "bandeiras de esquerda". Esta obra tem, ao mesmo tempo que um alívio ideológico para aqueles que estão sobre esse medo, por se tratar de um comunismo sob o viés americano, que no fim das contas tem muito mais uma mensagem social democrata, mas também aparece como a revelação do absurdo que se torna o medo das opiniões diversas, que o detentor de um pensamento não se trata de inimigo, mas sim de um homem. Nesse ponto o filme bem aborda essa condição muito humana de todas as partes envolvidas, tanto o medo e inseguranças de Trumbo, que o levam a momentos de irracionalidade, até sua antípoda ideológica, a personagem de Helen Mirren,
com seu olhar aterrorizado pela aprovação do presidente Kennedy
Tão Longe, Tão Perto
4.0 91O tempo como temática que envolve essa sequência se mistura uma cadência que lembra uma espécie de torre de babel, as várias linguas que se misturam no filme confundem a capacidade humana de comunicação, assim como o silêncio dos anjos. Como se tudo fosse inacessível, o tempo, a vida a eternidade. Restando apenas a ação imediata que tanto transforma Cassiel em homem como o devolve a seu lugar. De fato uma continuação, que pode ser apresentada de forma independente. Dificil, por essa independencia, dizer se supera ou não Asas do Desejo.
O Grupo Baader Meinhof
4.0 174A intensidade do filme traduz o que significa pensar sobre a história dos oprimidos. Vê-se muitas criticas sobre o que seria a atuação de uma "esquerda extrema". Mas é na oitava tese de Walter Benjamin, que nos roga a resgatar a história completa dos oprimidos e todos os sacrifícios que os padrões do poder ao longo dos tempos se revelam que começamos a sentir a angustia e a confusão que o filme bem aborda. Pensar para além dos padrões tem a mesma angústia revolucionária que o filme passa ao espectador. O filme é mais que um retrato de uma história real, é uma poética visual que retrata o sentimento confuso ao ter-se revelada a opressão.
O Regresso
4.0 3,5K Assista AgoraInfelizmente me desagradou muito o filme, muito se fala da Técnica de Iñarritu, mas o que vejo é um desespero por uma personalidade forçada. A tal técnica perde o proposito durante o filme. O início com as cenas abertas e vertiginosas chega a nos colocar no cenário, porém com o passar do tempo isso perde completamente o sentido e começa a ficar enfadonho. Uma bela fotografia, de fato, mas nada tão marcante nem que possa ser chamado de original, creio que inclusive quem gostou concorda com isso, é inegavelmente bonito, mas não chega a ser marcante. já foi feito e repetido, neve, sol, sofrimento, enfim. Iñarritu pode ser brilhante, porém ele parece acreditar ser genial, coisas que são muito diferentes, por isso seus filmes me parecem arrogantes. O ultimo ato me pareceu desnecessário e extremamente cansativo. A ultima cena ainda sim me agradou.
Confesso que posso já ter ido com certo preconceito o que prejudicou minha diversão, porém o filme me pareceu uma forçação de barra, uma genialidade comprada. De fato DiCaprio está muito bom, mas certamente merecia muito mais qualquer premiação relacionada ao lobo de wall street, que extraiu dele toda sua atuação, do que nesse, que não é seu trabalho mais genial, mais pela direção do que por ele mesmo.
Spotlight - Segredos Revelados
4.1 1,7K Assista AgoraVi hoje o filme. Creio que, apesar de alguns problemas, principalmente ligados ao modo como é filmado e até mesmo um certo exagero em tentar datá-lo, é um dos roteiros mais importantes do ano, que deve ser levantado sempre o aparente esquecimento retornar. Certamente é muito mais importante que "o regresso"
Não é o Homossexual que é Perverso, mas a Situação …
4.1 46Já espero de Rosa von Praunheim um filme político, eis que é nessa obra que encontro o escopo político mais abrangente, conquanto o título leve o homossexual no nome. Mas digo isso não em relação a abranger o filme a outras causas, uma vez que fica muito clara a atualidade do filme nessa seara. Porém digo aqui sobre a estética burguesa, ou melhor a produção e reprodução ideológica que se manifesta em todas as áreas da prática social. É a convergencia da ideologia em corpo, inclusive na tentativa de contestá-la, eis uma preocupação que o filme me despertou. Não se trata mais dos aparelhos ideológicos althusserianos, mas sim as práticas sociais, no modelo mais próximo possível de Foucault. A estética burguesa é a atual reprodução ideológico em todas as práticas sociais, e são estas que devem ser observadas no discurso, como faz brilhantemente o autor no diálogo final os seis homens. É a percepção da estética ideológica. A primeira vista esse filme pode parecer perigoso em mãos erradas, porém é a lupa para observarmos nossa própria reprodução do poder burgues em nossos atos, para a partir de então despertarmo-nos para um verdadeira reflexão de mudança. Enfim, quanto a causa principal do filme, insisto como a maioria dos comentários aqui, é de uma atualidade de causar perplexidade.
Vá e Veja
4.5 754 Assista AgoraO título já havia me deixado desconfortável, que se trata da repetição do apocalipse de João e é justamente nele que me encontrei no filme. Não se trata de um filme de guerra, mas sim de uma experiencia sobre o limite entre o ser humano politicamente qualificado e a carcaça vazia que não se encontra mais no quadro normativo que o categoriza como ser, em termos agambenianos, definitivamente a vida nua. O filme é talvez um dos mais originais das ultimas décadas, a metamorfose de Florya não se trata do sofrimento de guerra, mas sim do exaurimento de sua humanidade. Não que isso o distancie de sua espécie, mas de sua alma. A questão da localidade do filme importa muito, pois pensamos que o espaço de anomia que transforma os prisioneiros nos muçulmanos (aqui não toca a religião, mas a analogia do ser curvado como é narrado nas obras de Primo Levi, como por exemplo, "é isto um homem?") vai além das fronteiras. O Soberano necessita do sacrifício, e é este homem, Florya, que nos obriga a sermos mantidos sob o mito. Para que nunca cheguemos a ser aquele não-homem que o homem o tornou.
Através de um Espelho
4.3 249Tantas vezes que vi essa obra, resolvi vê-la novamente nessa tarde quente. Dá fotografia magnífica de Sven Nykvist até o angustiante Bach, a doença me parece um plano de fundo para o verdadeiro silêncio que Bergman apresenta em uma família, já criada e com seus vícios bem apontados. Não é a fraqueza do Marido, a mesquinhez do Pai, ou a relação complexa entre os irmãos. Mas vejo a patologia como o limiar entre o grito e o silêncio. A interpretação de Harriet Andersson é clara quanto a isso, seus momentos de lucidez parecem plenos em contraste com seus familiares. E quando chega o momento em que sua patologia se declara, percebemos que ela só é doente pois não pode mais esconder; Todos ali poderiam ser patológicos, entretanto é somente Karin, que não pode mentir sobre sua verdade que está presa no mito da loucura. E também, é a unica que quebra o silêncio da lucidez. A frase final do filme, dita pelo jovem Minus, resume tal silêncio patológico: "papai, falou comigo".
Mad Max: Estrada da Fúria
4.2 4,7K Assista AgoraCertamente o filme mais complexo e completo, tanto da série quando de Miller. Por mais que muitos tenham insistido na ausência de roteiro, vejo que o filme não se apega no modelo contemporâneo de narrativa enfadonha. Porém é no mito, na imagem e na energia que o filme vai construindo um universo repleto de problemas a serem observados por nossa própria sociedade. Fé, sexismo, sustentabilidade, enfim, dos problemas mais básicos até traços psicológicos de uma sociedade tão contemporânea que se torna pós-apocalíptica.