Uma abordagem atípica do luto: aqui, acompanhamos a vivência dele por parte de quem morreu. É estranho, mas é como se mostrasse que é mais difícil passar por ele quando se torna espectador da vida, ou do que ela costumava ser, enquanto que uma experimentação mais equilibrada exige um momento de aceitação da perda daquilo mesmo que se perdeu. O movimento dela é, então, imposto; o tempo do luto para aqueles que se tornam espectadores é o tempo do outro, o tempo dos que não pararam (infelizmente ou não) e a sentença daqueles que se aprisionam a estruturas tão frágeis -quanto uma casa de madeira- é um caminho opressivo de escolhas tomadas por terceiros.
Linda, sensível, extraordinária descrição do processo de luto; a experimentação daquilo que resta quando parece que não há nada mais para ir embora, enquanto que parece ser necessário desfazer-se dos laços restantes por perceber a finitude e o azul das memórias antes boas, mas que agora beiram o insuportável. Por trás disso tudo, o medo. No fim, um presente de paz conseguido pela coragem de aceitar o passado.
Uma descrição cirúrgica das mazelas materiais que assolam a existência feminina. A protagonista tenta resistir às imposições ao gênero, mas sucumbir é parte fundamental do projeto de sobrevivência. Não parece haver escape, se não pelas vias próprias de opressão, que é o casamento (as estruturas não nos darão as ferramentas necessárias para destruí-las). De qualquer forma: enquanto existirem Cabírias, nenhuma de nós será livre.
Esmiúça, de forma muito particular, o retrato desse indivíduo que, frente à incompletude, parece buscar partes de si em um lugar determinado, ou numa história que não a sua, em meio a um cenário masculino de problemáticas muito bem elaboradas, mesmo que carentes de resolução. As mulheres, porém, aparecem como apêndices a esse falo-centro e, como muito bem estereotipadas, permeiam pelo real, quase convencendo-nos de sua veracidade. No mais, parece que a solidão é o que resta àqueles que tentam estancar as feridas com experiências variadas e inéditas: perdem seus contornos e dissolvem-se no vasto.
Ao contrário do que se viu no realismo socialista, o filme traz um tipo de contestação que outrora redentora, agora é condenada -o trabalhador que já não pode mais contra o Estado-. Sensível, também, a forma como é tratado o desmantelamento da subjetividade do indivíduo moderno através do protagonista, embora a personagem de sua esposa seja malfeita e pouco reagente (as consequências de se ver pela ótica masculinista).
Vera dirige filmes que tratam de temáticas femininas sem necessariamente restringi-las às mazelas da realidade material que cercam as mulheres; retrata-nos como seres sencientes, que interagem e reagem aos acontecimentos, de uma forma poética não-masculinista. Produz um tipo de cinema surrealista, que, no entanto, não se limita à arte pela arte e vai além: é feito para e por mulheres. <3
mostra, de forma muito sensível, o movimento de emancipação de uma mulher daquilo que ela acreditava ser essencial (e não é), embora doloroso; o que Beauvoir chamaria de "transcendência de si", de uma dada realidade inicial, a partir da experimentação do novo. <3
Sombras da Vida
3.8 1,3K Assista AgoraUma abordagem atípica do luto: aqui, acompanhamos a vivência dele por parte de quem morreu.
É estranho, mas é como se mostrasse que é mais difícil passar por ele quando se torna espectador da vida, ou do que ela costumava ser, enquanto que uma experimentação mais equilibrada exige um momento de aceitação da perda daquilo mesmo que se perdeu. O movimento dela é, então, imposto; o tempo do luto para aqueles que se tornam espectadores é o tempo do outro, o tempo dos que não pararam (infelizmente ou não) e a sentença daqueles que se aprisionam a estruturas tão frágeis -quanto uma casa de madeira- é um caminho opressivo de escolhas tomadas por terceiros.
A Liberdade é Azul
4.1 649 Assista AgoraLinda, sensível, extraordinária descrição do processo de luto; a experimentação daquilo que resta quando parece que não há nada mais para ir embora, enquanto que parece ser necessário desfazer-se dos laços restantes por perceber a finitude e o azul das memórias antes boas, mas que agora beiram o insuportável. Por trás disso tudo, o medo.
No fim, um presente de paz conseguido pela coragem de aceitar o passado.
Noites de Cabíria
4.5 381 Assista AgoraUma descrição cirúrgica das mazelas materiais que assolam a existência feminina. A protagonista tenta resistir às imposições ao gênero, mas sucumbir é parte fundamental do projeto de sobrevivência. Não parece haver escape, se não pelas vias próprias de opressão, que é o casamento (as estruturas não nos darão as ferramentas necessárias para destruí-las).
De qualquer forma: enquanto existirem Cabírias, nenhuma de nós será livre.
Nostalgia
4.3 185Esmiúça, de forma muito particular, o retrato desse indivíduo que, frente à incompletude, parece buscar partes de si em um lugar determinado, ou numa história que não a sua, em meio a um cenário masculino de problemáticas muito bem elaboradas, mesmo que carentes de resolução. As mulheres, porém, aparecem como apêndices a esse falo-centro e, como muito bem estereotipadas, permeiam pelo real, quase convencendo-nos de sua veracidade.
No mais, parece que a solidão é o que resta àqueles que tentam estancar as feridas com experiências variadas e inéditas: perdem seus contornos e dissolvem-se no vasto.
Leviatã
3.8 299 Assista AgoraAo contrário do que se viu no realismo socialista, o filme traz um tipo de contestação que outrora redentora, agora é condenada -o trabalhador que já não pode mais contra o Estado-. Sensível, também, a forma como é tratado o desmantelamento da subjetividade do indivíduo moderno através do protagonista, embora a personagem de sua esposa seja malfeita e pouco reagente (as consequências de se ver pela ótica masculinista).
Fruto do Paraíso
4.1 33 Assista AgoraVera dirige filmes que tratam de temáticas femininas sem necessariamente restringi-las às mazelas da realidade material que cercam as mulheres; retrata-nos como seres sencientes, que interagem e reagem aos acontecimentos, de uma forma poética não-masculinista. Produz um tipo de cinema surrealista, que, no entanto, não se limita à arte pela arte e vai além: é feito para e por mulheres. <3
Tempo de Decisão
3.2 38 Assista Agorao sentimento de desencaixe: já não pertenço à universidade e tampouco à vida fora dela (a angústia de já não ser mais o suficiente, o deslocamento).
Midsommar: O Mal Não Espera a Noite
3.6 2,8K Assista Agoramostra, de forma muito sensível, o movimento de emancipação de uma mulher daquilo que ela acreditava ser essencial (e não é), embora doloroso; o que Beauvoir chamaria de "transcendência de si", de uma dada realidade inicial, a partir da experimentação do novo. <3
Mistress America
3.5 210é também sobre a urgência de sair de si mesmo e dobrar a própria identidade; transformar a potência em acontecimento.