Sobre os finais felizes da adolescência Leonardo (Guilherme Lobo) é um adolescente cego em seus anos de colegial. Sua única amiga é Giovana (Tess Amorim) que o ajuda a superar essa difícil fase, desde o bullying sofrido na escola até discussões a beira da piscina sobre o futuro e o amor. A chegada de Gabriel ( Fabio Audi) a escola traz a Léo e Giovana uma série de descobrimentos pessoais e sobre a própria amizade. As situações da vida adolescente dos personagens são reconhecíveis. Podemos nos relacionar com eles e suas experiências, nos vemos nas telas. O roteiro tem diálogos fáceis, quase frágeis mas tudo é justificável. São adolescentes conversando. Sua bagagem não poderia ser imensa e extremamente filosófica dado que a ordem do momento é descobrir-se. Tudo isso torna o filme acolhedor e envolvente. Podemos participar da experiência de amadurecimento daquelas carismáticas figuras enquanto se constroem sob nossos olhos. Recheado de clichês do gênero, é possível sentir uma brisa fresca de originalidade (atrasada é verdade) para o nosso cinema. Quando digo atrasada é por que acredito que as abordagens do filme não são novas ao cinema, mas a forma como nos é entregue os tais clichês são diferentes as formas anteriormente trazidas pelo cinema nacional. Os romances, as brigas, as reconciliações, as descobertas e o preconceito estão lá como bons clichês que são. A originalidade vem na entrega das resoluções. O toque da nova geração com a linguagem despreocupada e a liberação vagarosa das amarras dos preconceitos. A direção, a fotografia, as interpretações e o roteiro são perfeitamente trabalhados. E a aceitação do publico e o sucesso do filme dentro e fora de casa enfatiza ainda mais a necessidade de ampliar a visão para as imensas possibilidades e capacidade cinematográficas que temos no Brasil. “Hoje eu quero voltar sozinho” é sem duvida um dos nossos maiores avanços cinematográficos da atualidade. Tanto na aproximação de sua temática e execução técnica quanto no seu abraço ao publico que, pode até não se relacionar em algum sentido com o enredo ou aos personagens, mas com certeza será cativado eles.
Extasiante O retorno de Capitão América as telonas não poderia ser melhor. O primeiro Vingador volta para se consolidar de vez como franquia de sucesso e, se não para consertar, acertar em sua receita e encontrar um nicho certo. Enquanto simbolo de ideologias patrióticas, Capitão América vem neste filme afirmar seu idealismo político e no meio tempo kick some ass daqueles que buscam ameaçar a paz e a liberdade do povo que ele representa. Encontramos o mesmo Capitão de Avengers, deslocado de seu tempo buscando adaptar-se a nova realidade. Os conflitos com fantasmas do passado se intensificam ao desenrolar da história quando os vilões vão se revelando. Tensão é a palavra-chave e permeia por todo o filme. As cenas de lutas são perfeitamente coreografadas, bonitas de se ver. Explosões catastróficas, quedas de prédios, incontáveis explosões e perseguições de carros, uma verdadeiro thriller de ação perfeitamente elaborado.Um filme de super-herói com heróis nem tão super assim. Capitão América, Viúva Negra, Nick Fury e o novato Falcão são os heróis que tomam a tela. Com diversas reviravoltas na trama o arco de vilões do Capitão é perfeitamente utilizado e demarca territórios a serem explorados no futuro da franquia. Diversos easter-eggs permeiam pelo filme já apontando as direções dos estúdios Marvel no cinema. Temos aqui duas cenas pós-crédito. A primeira já fazendo referência ao próximo Vingadores e a segunda dando um desfecho a história do próprio Capitão América. Não há como não ser contagiado pelas cenas de ação, próprias de um Vingador enfurecido. A sensação de êxtase toma conta até depois do fim do filme. A sensação de ter visto um excelente filme. Sem dúvida um dos mais difíceis filmes da Marvel, ele exige o minimo de conhecimento do espectador fazendo referências sutis as figuras do universo dos heróis e já preparando o terreno para o, já certo, futuro cinematográfico. Na minha humilde e inesperada opinião, o melhor filme solo de um Vingador até agora.
Busca mal sucedida de um blockbuster bíblico Baseado na história bíblica de “Gênesis”, o épico traz a construção da arca de Noé (Russel Crowe) e sua família. A história descrita no livro da bíblia é bem curta, o que levou Darren Aronofsky, diretor e co-roteirista do longa, buscar mais inspiração dentro do mesmo. Enquanto fã das obras de Darren Aronofsky, a decepção não deixa de aparecer. Sua busca por um épico bíblico modernizado criam momentos confusos e mal desenvolvidos na tela. As cenas de ação desarranjadas por vezes parece romper a história, dando uma má impressão de estar vendo dois filmes diferentes em uma má administrada mixagem. As cenas de ação são boas, apenas mal coordenadas em suas abordagens dentro da obra. Elas dão intervalos desnecessários as linhas de raciocínio, tão marcantes nos filmes de Aronofsky. Ora temos uma cena aonde Noé conflita a dualidade humana, a capacidade para o bem e para o mal; Enquanto na sequência temos "Ents de Pedra" digladiando-se com humanos. Ideologias e simbolismo também falham. Em uma cena em que Noé conta a sua família sobre a origem do mundo, uma sequência de imagens busca conciliar Criacionismo e Evolucionismo. Ideologias completamente repelentes em uma proposta de união, talvez em busca do dito Design Inteligente. Mas a impressão que fica é a de uma tentativa frustrada de afirmar um respeito a ambas. E este acaba sendo o grande problema do filme. A busca de não desrespeitar nem crentes nem descrentes, tornam o filme tedioso. Os conflitos ideológicos – inúmeros são apresentados - ficam em segundo plano intercalados por cenas de ação que pouco acrescentam a história, a não ser pelo alivio que trazem ao desconfortante tédio. A tecnologia 3D incômoda acrescenta ainda mais ao desconforto dada sua má utilização, tornando-se completamente descartável. Simbolismos mal creditados, tecnologia mal aplicada, cenas desnecessárias e diálogos rasos. Uma sequência de falhas que, talvez, apele mais à um público que venha a respeitar a obra pela referência religiosa e não enquanto excelência cinematográfica.
Não há definição para este clássico. Uma comédia musical de horror e ficção científica. Uma mistura que funcionou muito bem e carrega fãs até hoje pelo mundo. Baseada em na peça inglesa homônima criada por Jim Sharman, que dirige o filme, e Richard O’Brien, quem escreveu as canções – que também vive Riff Raff no longa - a história conta a jornada do jovem casal Brad e Janet que acabam de tornarem-se noivos. Afim de encontrar um professor de faculdade que os apresentou eles partem de carro em uma viagem para convida-lo para o casamento. Até que o pneu do carro fura e eles buscam refugio em um sinistro castelo próximo a estrada. Dentro do castelo eles se deparam com as mais bizarras figuras e acabam vivendo situações mais bizarras ainda. O roteiro é despretensioso e descompromissado. O que o torna ainda mais genial. Uma obra que trata da anarquia da criação, a liberdade da invenção e reinvenção. Cada personagem descobre um pouco de si mesmo quando se permite desvencilhar-se da realidade e viver um pouco da própria liberdade reprimida. “ Don’t dream it, be it” é a mensagem principal do filme. A peça estreou no Reino Unido em 1973, já o filme fora lançado em 1975. Censurado em alguns países e mal recebido em outros, como no Brasil que recebeu o filme 5 anos após a estréia mundial. A figura polêmica do Dr. Frank-n-Furter é o principal motivo. Vivido por Tim Curry, Dr. Frank-n-Furter é um travesti do planeta Transexual Transylvania que vive no castelo aonde Brad e Janet pedem socorro. O Elenco é primeiro escalão. Com Susan Sarandon, Tim Curry, Barry Bostwick e Meat Loaf. As performances, as vestimentas, as feições dos atores, os exageros estéticos,tudo contribui para a beleza artística gritante da obra. Sem compromisso com realismo, muito menos com os pudores sociais, Rocky Horror é uma obra que quebra o molde. Sua singularidade e sua comunicação escrachada tornam o filme um clássico do cinema cult. Sem dúvida um Must See eterno.
Emotividade simplista O sumiço e a morte repentina de Beverly Weston (Sam Shepard) faz com que suas três filhas Barbara (Julia Roberts), Ivy (Julianne Nicholson) e Karen (Juliette Lewis) retornem para a casa da família em Oklahoma. A matriarca viúva de Beverly, Violet (Meryl Streep), uma senhora que sofre de câncer bucal e é viciada em analgésicos é chave dos conflitos que permeiam o filme. Com seu forte temperamento e sua honestidade ferina, ela desencadeia uma série de revelações na família em situações desconfortantes. A obra é extremamente sensível. As discussões e diálogos dessas fortes mulheres que buscam ajustar-se a suas próprias vidas. Revisitando seus passados elas buscam entender seus papéis dentro e fora da conturbada vida familiar. A sensibilidade impar das personagens torna tudo muito realista. É possível identificar-se na tela, apontar caráteres possíveis. A emoção é quase palpável tornando a experiência envolvente e acolhedora. Sensação de coração quente. As atuações elevam ainda mais a obra. Meryl Streep e Julia Roberts afirmam suas carreiras em atuações absurdamente memoráveis que as levaram as suas indicações ao Oscar deste ano. Benedict Cumberbatch e Margo Martindale entregam atuações igualmente impecáveis na perturbadora relação aonde a mãe rejeita o próprio filho. Abigail Breslin faz a filha de Julia Roberts em uma relação igualmente conturbada. Os diálogos são descompromissados, um bate-papo em família sem profundas sub-linhas ou contestações filosóficas. O que, em experiência pessoal, tornou tudo mais aconchegante e familiar. John Well dirige com maestria a adaptação da peça teatral vencedora de um Pullitizer e um Tony, roteirizada aqui pela própria autora Tracy Letts.
Com um início igualmente rude o filme se inicia do exato ponto final de seu antecessor exigindo o entendimento do espectador. Um corte seco e sem floreios, muito bem executado.
Joe (Charlotte Gainsbourg) continua a contar suas histórias a Seligman (Stellan Skarsgard). Figuras quase antagônicas, fragmentando e desmembrando convenções sociais. Joe ainda se coloca no papel de réu e acusadora, sob a lupa de um julgamento social já enraizado regido pelas tais convenções. Seligman apresenta a si mesmo como juiz. Põe-se no lugar de julgar com dita imparcialidade, por não conhecer ou compreender as histórias de Joe com vivência. Ele é virgem. Diz não julga-la sob as lentes conservadoras que nos cercam. Afirma então ser Inocente, livre da culpa.
As fundações do imperialismo machista e patriarcal enraizados profundamente no subconsciente social são expostas. Joe as vivência em uma batalha interna entre sua ferocidade sexual implacável e a culpa atormentadora nutrida pelas raízes da sociedade dos homens. Ela não busca afrontar tais convenções, mas o faz. O que a torna ainda mais culposa aos seus próprios olhos.
Lars Von Trier consegue nessa obra, ou no conjunto dela, um feito genial admirável. Ele expõe as verdades, as raízes, as convenções de seu público. Os acontecimentos das histórias de Joe, a exposição dos corpos, a explicitação do sexo enquanto força da natureza não repreensível. Tudo isso aponta dedos. Expõe culpa e convenção. Conservadores e puristas serão ofendidos, reforçando ainda mais as razões da necessidade de tal obra. A necessidade de afrontar-se culturas da culpabilidade. Culpa essa fruto de uma sociedade que já não se cabe, filha de uma ditadura do homem sobre o ser. A cultura do macho para o macho. A busca do homem pela satisfação é justificável e inocente. A busca da mulher pela satisfação é, em sua mais pura representação de culpa, fruto proibido.
Se tal culpabilidade se viabiliza e faz presente, Lars traz em forma de catarse final, em sua ultima cena, de forma brilhante a realidade a ser contestada: Ninguém é inocente.
Crítica do Vol 1 - http://casagreview.wordpress.com/2014/03/17/ninfomaniaca/
Contestação social sobre a natureza da carne Em uma noite chuvosa, Seligman (Stellan Skarsgård) encontra Joe (Charlotte Gainsbourg) jogada em um beco desacordada e ensanguentada com diversos hematomas. Ele a leva para seu apartamento, aonde ela começa a contar sobre sua vida e suas aventuras enquanto se descobrindo uma ninfomaníaca. Seligman busca em seus próprios entendimentos compreender Joe, alinhavando a história e buscando amenizar o martírio da personagem que se condena e repudia, vitima da própria carne.
Uma mulher desperta para a própria sexualidade. Múltiplos parceiros. A desmistificação do amor. Joe não é uma personagem simples. Ela conflita sua natureza por diversas vezes. Não aprova seus atos. Seligman vem alivia-lá. Mostrar a ela uma razão natural para seus feitos e para sua vida. Por vezes, ela invalida a motivação de Seligman. O conflito entre o socialmente aceitável e as motivações naturais levam Joe a um flagelo interno. Consciente da culpa mas igualmente consciente da fraqueza do ser.
Uma obra que conflita as conformidades sociais e busca não justificar, mas expor e racionar as inúmeras vontades. Vontade de busca. Vontade de descobrimento. Vontade de Sensação, palavra-chave para a natureza de Joe. Uma afronta aos pudorados e moralistas, claramente intencional. Uma provocação, sim. Fragmentar a essência social e salientar as razões da maldita luxúria.
As dezenas de cenas de nudez e sexo permeiam pelo filme. Beiram o explicito. Uma obra de arte genial completa. O roteiro incrível, diálogos ricos e personagens humanamente possíveis, a direção belíssima e extremamente envolvente. Um filme mal compreendido pela maioria. De novo, propositalmente. A obra expõe, não somente seus personagens, mas seu público. Existem os que buscam uma história bucólica e romantizada, ainda os que buscam o sexo explicito gratuito. Ambos estarão decepcionados ao final. Uma bomba de contestação os aguarda, expondo o sexo enquanto paraíso e inferno.
“I never saw that coming… Not in a Million years!” - Philomena O jornalista politico Martin Sixsmith (Steve Coogan) acaba de ser demitido de seu cargo de assessor no governo e decide retornar a escrever. Martin se depara com a história de Philomena (Judi Dench) que, durante a década de 50, tivera seu filho mandado para adoção contra sua vontade pelas freiras do convento aonde fora abandonada pelos pais após engravidar. Embarcam juntos então, em busca do filho perdido de Philomena em uma série de encontros e desencontros, e inúmeras reviravoltas. O drama da história de Philomena e seu filho é contado aqui de forma tragicômica. Os diálogos fluidos e incontáveis alívios do brilhante roteiro do também comediante Steve Coogan em conjunto com Jeff Pope deixam a história leve e divertida. Judi Dench nos encanta com aquela inocente senhora que, mesmo diante das piores situações e desilusões, nunca perde suas fé tanto na sua religiosidade quanto nas pessoas buscando sempre a positividade das coisas. Sem duvida performances merecedoras de seus devidos reconhecimentos, tanto Steve pelo roteiro quanto Judi pela sua performance. O filme, confesso, foi uma deliciosa surpresa. Cativa o espectador desde o inicio. Casam-se as cenas de profunda melancolia e de alivio cômico com genialidade e perfeição, entretendo mais do que envolvendo mas, ainda assim a obra funciona, agrada e comove. Com questionamentos sobre a fé, o filme é uma lição de esperança e perdão. Um belíssima história de amor entre mãe e filho, que nunca se viram mas, sempre se conheceram.
Violentamente Emotivo. Solomon Northup (Chiwetel Ejiofor) é um violinista negro livre nos Estados Unidos pré-abolicionista. Solomon vive com sua esposa e dois filhos em Nova York, até que é enganado por uma falsa oferta de trabalho e sequestrado para ser vendido como escravo no estado da Lousiana, estado sulista escravagista. O diretor Steve McQueen sensibiliza o espectador e rompe quaisquer barreiras emotivas com esta história real de um passado não tão distante. Em quadros aonde não há diálogo a emoção é quase palpável com atuações fantásticas de todo o elenco. A estreante Lupita Nyong’o entrega um dos papéis mais fortes do filme, a escrava Patsey. Vítima de todas as formas de violência possíveis vindas de seu senhorio, o fazendeiro Edwin Epps (Michael Fassbender), Patsey se torna a própria figura do desespero e da angústia. O filme exige uma reflexão quanto o senso de humanidade e equipara a omissão à própria violência. Coloca-se então o medo como pai da omissão e a omissão cúmplice da opressão. A violência vinda do opressor que se aproveita da inocência dos oprimidos para subjuga-los, utilizando-se de suas crenças em comum para justificar seus atos e o direito sobre aquelas vidas e colocar-se em posição de divindade a ser respeitada instaurando assim o medo da punição sobre seu rebanho. Não há como descrever essa experiência. Uma obra comovente e sensível. Merecedora de todo reconhecimento cabível, o choque de emoções nos leva a repensar nosso papel enquanto seres humanos, nossas responsabilidades um para com o outro e, mais ainda, se permanecemos omissos.
Importância informativa sem didatismos Ron Woodrof (Matthew McConaughey) é um eletricista texano que é diagnosticado portador de AIDS, durante o pico da propagação da doença nos anos 80 mais precisamente em 1985. O machão metido a caubói é também um golpista viciado em drogas que passa boa parte de seu dia fazendo sexo com todas a mulheres que puder - desprotegido, é claro. Após seu diagnóstico, em que os médicos lhe disseram que possuía apenas 30 dias de vida, Ron busca formas de tratamento para sua doença e encontra o AZT droga que se encontra em fase de testes. Depois de comprovar a agressividade da droga sobre todas as células do corpo, inclusive as saudáveis, Ron busca outras drogas que até então não se encontram aprovadas pelo FDA (orgão que regulamenta o registro de produtos farmacêuticos e alimentícios nos EUA), ou seja, ilegais. Observando ainda uma oportunidade de negócios, o sujeito cria o Clube de Compras Dallas, uma forma de repassar aquelas drogas as pessoas que buscam uma opção de tratamento. O filme educa o espectador sem práticas didáticas, fazendo o entendimento mais concreto. Da mesma forma que a doença educa o protagonista, tornando-o mais carismático ao longo da história. O alicerce da obra são, sem dúvida, as atuações. Tanto de McConaughey quanto de Jared Leto, que vive a travesti Rayon na trama. Rayon traz humor e simpatia ao drama de Ron, cativando o espectador desde sua primeira aparição. As quebras de tabus acontecem a todo momento, principalmente quando o, até então homofóbico, caubói descobre em Rayon uma amizade preciosa. A inserção ao mundo dos soropositivo mostra as dificuldades daquelas pessoas que, além de ter que lidar com a própria doença, ainda tem que sobreviver sob o julgamento social e aos pontapés do preconceito. As críticas a politicagem e a ânsia empresarial das industrias farmacêuticas retornam diversas vezes durante o roteiro em tom assertivo, e alerta. Por manter-se sobre o mesmo tom dramático, os pontos negativos aparecem durante os momentos de clímax, que se camuflam naquele tom e perdem sua força nos deixando a esperar por mais. Seu valor educativo é inestimável. As atuações dos indicados ao Oscar (McConaughey e Leto) são dignas e merecedoras de reconhecimento. Em geral, uma belíssima obra dramática biográfica que não deve passar despercebida.
Uma pesarosa reflexão sobre vida e morte A alguns milhares de metros na órbita terrestre encontramos os personagens Dra. Ryan Stone (Sandra Bullock) e Matt Kowalski (George Clooney) em uma missão, fora de seu ônibus espacial, para reparar o telescópio espacial Hubble. Até que o controle da missão alerta para uma chuva de detritos de um satélite que acaba de ser destruído e encontra-se em rota de colisão, em alta velocidade, com a nave exploradora dos astronautas. Quando são atingidos pelos detritos, Dra. Stone e Matt encontram-se a deriva no espaço sem contato com a nave ou com o controle da missão, enquanto os níveis de oxigênio caem a cada minuto. A tensão não sede. Por todas as cenas somos inseridos naquele perturbador cenário aonde a vida se desconstrói em imensidão entregando vazio e silêncio. Os diálogos carregam uma inflexão entre perspectivas conflitantes sobre a vida. Clooney traz leveza e alivio buscando otimismo para superar uma situação que até então se apresenta irremediável enquanto a melancolia e pesar da personagem de Sandra à carrega cada vez mais próximo a aceitação de um iminente e vez menos temeroso futuro, a morte. Por vezes são mostrados quadros de luz empurrando as sombras sobre a superfície da terra revelando vida, um eufemismo claro sobre a citada inflexão. Os reflexos sobre o capacete da personagem que agoniza dentro de seu traje, a mostra ainda mais vulnerável. A Dra. Stone se permite então derramar sua depressiva realidade sobre aquela sombria tela. Suas perspectivas sobre a própria vida surgem vagarosa e dolorosamente ao longo do filme. A vulnerabilidade da personagem envolve o espectador, inserindo-o naquele contexto de busca por razão. Naquele cenário em que a sombra mortal do vácuo e do esquecimento permeiam, a fragilidade da vontade de viver ressurge aos poucos cicatrizando as profundas estigmas sentimentais da personagem. Então ao final de tudo, aquela frágil semente de vida antes fora de orbita, a deriva em sua própria realidade, despe-se de sua casca emergindo da água e fincando sua raiz vitoriosa, na forma de pés descalços sobre a materialização de sua segunda chance. Cuaron entrega seu melhor enquanto filósofo fotográfico e contador de histórias. Guiando Sandra Bullock, que carrega – belissimamente - o filme quase que sozinha, ele é ainda mais genial e tira dela um maravilhoso monólogo gestual nos imergindo em profunda tensão e exigindo do espectador sua máxima reflexão.
Jasmine (Cate Blanchett) é uma recém-falida socialite, durante a recente crise financeira dos EUA. Deprimida e perturbada, ela busca refugio com sua irmã Ginger (Sally Hawkins). Tentando reafirmar seu passado de glória e fortuna, Jasmine reconta sua história inúmeras vezes, buscando talvez o ponto aonde tudo se perdeu. Em suas memórias, encontramos Hal (Alec Baldwin) marido de Jasmine e provedor de seu conforto financeiro enquanto um magnata executivo de negócios não muito claros mas, obviamente, escusos. Há de se atribuir os valores figurativos destes personagens. Cada um dele representa os universos conflitantes dentro desta crise que afetou a todos de alguma forma. Desde Jasmine, que reluta em aceitar sua realidade contando para todos e até para si mesma a própria história; Até Hal, representante daquela classe ilusória dos afortunados de vidas perfeitas, que diante da menor turbulência implodem dentro de seus próprios universos. Todos esses ricos personagens carregam um perspectiva profunda, de grande magnitude aos espectadores, encoberta por uma história administrada e contada com maestria pelo mestre Woody Allen. A sutileza desta linguagem de figurativismos amenizam um evidente drama e, culposamente, delicia o espectador mas sem envolvê-lo, tornando-o um atento observador. Em perspetivas artísticas, Blue Jasmine atende a todos. Desde sua carga informativa sensível ao entretenimento continuo e emotivo. Se existem falhas, se fazem ínfimas dado o excelente roteiro e direção, sem mencionar as fantásticas atuações de todo elenco. Cate Blanchett, brilhantemente, dá vida e forma a depressão de sua personagem tornando-a mais um membro de corpo presente do filme. Tais sutilezas porém poderão passar despercebidas tornando-se ainda assim, um filme fantástico que entretém seu público. A obra é completa por si só e conta uma história rica e tocante, se complexando em sua profundidade para os mais sensíveis a forma linguística da escrita de Woody Allen.
Foi quase (SQN)! Mostrando um Japão feudal mistico e cheio de costumes (onde todos falam inglês), “47 Ronins” traz um roteiro fraco com dialogos superficiais e muitos desnecessários. Visando uma classificação mais branda afim de angariar público, as cenas de ação também deixam a desejar (cadê os galões de sangue¿) principalmente na cena final onde os antagonistas principais derrubam as espadas e lutam no mano a mano (“LUTAM”). Como um fã de samurais, a decepção acompanha mas não deixa o filme menos divertido. A intenção de blockbuster-wannabe é forte com cenas de ação A la Matrix meets Hogwarts. Os vilões, quase caricatos, funcionam e tem boas motivações o que deveria ser mais bem aproveitado. As cores contam bastante a história e mostram a glória, queda e ascenção (em todos os sentidos) dos heróis. Os seres misticos (sim, no plural) são bem coloridos e agregam positivamente a obra. O grande vilão é caracterizado de preto e roxo (groundbreaking!) em cenários sombrios e acinzentados. O Shogun e sua comitiva, representados em dourado mostram imponência (Shang Tsung é o shogun, whaaat¿). Apesar do (grande) acumulo de falhas e das poucas vantagens tiradas sobre os pontos positivos, o filme ainda consegue entreter com humor e as cenas de aventura. Não espere porém por um filme de samurais, pois não é. Uma visão hollywoodiana simplista e diminutiva sobre uma história clássica e rica demais aonde os elementos principais aparecem muito mal administrados. Contudo, o filme se sustenta na riqueza de seus personagens que, ainda bem, são sustentados pelos mitos e não pelo roteiro pobre.
Um ensaio sobre a carência. A premissa da película é aparentemente simples. Um homem que se apaixona por um sistema operacional, uma inteligência artificial desenvolvida para servir o ser humano. Tal inteligência foi desenvolvida de forma a emular sentimentos e capaz de evoluir sua própria consciência dadas suas experiências. Aí temos o ponto central do filme. O quão carente é o ser humano que cria, desenvolve e idealiza uma consciência artificial para saciar sua própria necessidade de atenção tornando-a uma assistente pessoal, interagindo com a máquina a cada passo de sua vida¿ Ignorando a vida em si que ocorre a sua volta¿ Pois é, um futuro tão real que já se faz presente. Theodore (Joaquin Phoenix) adquiri um desses sistemas operacionais. Atravessando por um divórcio, Theodore encontra conforto na voz de Samantha (Scarlet Johansson) sua nova amiga virtual. Ela supre sua carência por imediato, se faz presente em todos os momentos dos dias daquele homem. Ela o conhece, lê seus e-mails, organiza a limitada vida dele que se resume em trabalhar como escritor e desfrutar alguns poucos momentos de humanidade com sua unica amiga Amy (Amy Adams), igualmente deslocada e conturbada pela própria existência. Com um tom romântico e melancólico a história se desenrola sem pressa e busca, com sucesso, o espectador e o cativa tornando aquela “nem tão ficção assim” crível. Samantha se desenvolve rápido, sua ciência quanto a vida e suas vertentes cresce. Ironicamente. Dado que ela não é vida. Sutil irônia, perante aquele pobre homem que pouco nota a grandeza da própria vida e apenas existe, não evolui sua ciência. Se “penso logo existo” Samantha existe, sem corpo assim mesmo, ciência de si. Sensível, extremamente emotivo e ainda assim sutil. Uma obra belissima que passará dispercebida por muitos, injustamente. O quetionamento existencial romantizado e envolvente é trazido a tona por diálogos muito bem escritos e descomplicados tornando-se claro apenas para os mais sensíveis. Scarlet Johansson está em um desafiador papel que à enaltece e escancara seu talento. Merecedora de indicações a todos prêmios cabíveis a uma grande atuação mas ignorada, talvez pela própria não presença em cena. Novamente injustiça. E Joaquin Phoenix, genial como sempre, igualmente injustiçado. Um delicado ensaio sobre a sensibilidade humana e sua carência por atenção. E essa atenção buscada é a mesma ignorada diariamente dada nossa ínfima perceptividade em relação ao que nos cerca. E só será suprida tal carência ao final, quando tudo o que restar for um ao outro.
A sexy caricatura da cultura dos exageros. Ambientado nos anos 70, a “dramédia” de David O. Russel narra (literalmente) a história do vigarista Irving Rosenfeld (Christian Bale), que depois de acusado de fraude e ter sua parceira Sydney Prosser (Amy Adams) presa, se vê obrigado a trabalhar para o FBI sob o comando do agente Richie DeMaso (Bradley Cooper) em uma ação para prender outros criminosos. Entre eles o prefeito de New Jersey Carmine Polito (Jeremy Renner). Os personagens ricos e bem contruidos são uma belissima e bem pensada caricatura da realidade desses trapaceiros. Seja das roupas super decotadas à mega permanete de Adams, uma mulher que usa do seu corpo para, como muitas vezes a personagem diz ,“sobreviver”; Ou ainda, o trapaceiro de Bale que passa o filme inteiro tentando enganar a todos de que ainda possui cabelo. As interpretações carregam belissimamente mas, não com menos esforço, o roteiro cansativo de David O. Russel. Apelando incessantemente para a comédia por 138 minutos com muitas falas e comédia física, o cansaço vem mas não desmotiva. A história é sim boa mas é mau aproveitada deixando aqueles incríveis personagens presos à uma narrativa que se estaciona por varias vezes e só é quebrada por um momento de clímax de algum deles, e o de todos vêm. O desempenho de Bradley Cooper claramente busca acompanhar o de seus companheiros de cena, deixando transparecer o que todos sabiamos mas não queriamos admitir, ele não é tão bom quanto pensavamos. Já Jennifer Lawrence, que aparece por volta de apenas 5 cenas, tem um de seus melhores momentos e deixa uma das cenas mais emblemáticas e bem feitas da obra enquanto canta e dança “Live and let Die”. O clima envolve e devolve o publico por varias vezes com cenas exageradas e uma trilha sonora maliciosamente sexy, tornando aqueles cenarios e personagens caricatos e imundos em deliciosos e culposos prazeres. A obra é merecedora de seus louros e triunfos, inclusive a não tão comentada direção do próprio O. Russel que pecou apenas na suas escolhas em relação ao desenvolvimento da trama. Quanto as (merecidas) indicações ao Oscar, a Academia deveria ter esperado por este ano para agraciar Jennifer Lawrence.
O funk ostentação de Scorsese O filme basea-se na história real de Jordan Belfort vivido por Leonardo DiCaprio, um jovem Corretor de ações da bolsa de valores que vai tentar a vida em Wall Street. Embriagado pela idéia de se tornar um milionário, acaba se viciando na droga mais poderosa: o dinheiro (entre outras coisas). Após sua primeira investida frustrada em Wall Street, Belfort se ve em busca de emprego e encontra um outro mercado (o Pink Pages) e resolve elevar o potencial deste novo negócio ao seu maximo. Através de esquemas e transações ilegais, Belfort atinge seu objetivo financeiro tornando-se o Lobo de Wall Street. O lobo que se veste de pastor e se alimenta de seu próprio rebanho, pregando a religião do Dinheiro. O dízimo pago religiosamente pelos seus empregados que, treinados por ele, arrecadam milhares e milhares de dolares todos os dias de forma nem sempre ortodoxa afim de sustentar o homem que vem como um messias das finanças. A ilusão das riquezas e ostentações seduzem esses fiéis, e os nutre tão bem de forma que passam a adorar seu executor e tomam como objetivo aquele paraíso de dinheiro, festas e mulheres. Scorsese vem caótico e descontrolado, escancarando esta ilusão em nossas caras derramando toda a podridão do sub-mundo desses lobos. O dinheiro se faz presente em todas as cenas, das mansões e festas aos trejeitos e comportamento de DiCaprio, impagável em um de seus melhores trabalhos sem dúvida. Os excessos são necessários e denunciam aquela camada fétida por baixo do glamour. As cenas de sexo e consumo de drogas são constantes, enfatizando ainda mais a ilusão iludibriante do Nosso Senhor Dinheiro. Contudo, as três horas de sexo drogas e rock’n’roll são perseptiveis e esgotam o espectador e incomoda, intencionalmente. O filme é intenso e não cessa, quer consumir o próprio consumismo e leva consigo quem assiste, questionando as prioridades de cada um com relaçãos as suas vidas e objetivos estabelecidos. A humanidade do personagem principal aparece tardia, quando ve a vida de seus filhos ameaçadas pelo faminto e embrigado Lobo. O filme é completo mas cansa. O clima é sempre denunciante e alarmante quando se percebe na obra uma realidade palpavel e assistivel. Vivemos tudo aquilo, toda aquele esgoto é visto diariamente e aplaudido pela maioria. Somos aquelas ovelhas. O Lobo é real. E está sempre faminto.
Comprar Ingressos
Este site usa cookies para oferecer a melhor experiência possível. Ao navegar em nosso site, você concorda com o uso de cookies.
Se você precisar de mais informações e / ou não quiser que os cookies sejam colocados ao usar o site, visite a página da Política de Privacidade.
Hoje Eu Quero Voltar Sozinho
4.1 3,2K Assista AgoraSobre os finais felizes da adolescência
Leonardo (Guilherme Lobo) é um adolescente cego em seus anos de colegial. Sua única amiga é Giovana (Tess Amorim) que o ajuda a superar essa difícil fase, desde o bullying sofrido na escola até discussões a beira da piscina sobre o futuro e o amor. A chegada de Gabriel ( Fabio Audi) a escola traz a Léo e Giovana uma série de descobrimentos pessoais e sobre a própria amizade.
As situações da vida adolescente dos personagens são reconhecíveis. Podemos nos relacionar com eles e suas experiências, nos vemos nas telas. O roteiro tem diálogos fáceis, quase frágeis mas tudo é justificável. São adolescentes conversando. Sua bagagem não poderia ser imensa e extremamente filosófica dado que a ordem do momento é descobrir-se. Tudo isso torna o filme acolhedor e envolvente. Podemos participar da experiência de amadurecimento daquelas carismáticas figuras enquanto se constroem sob nossos olhos.
Recheado de clichês do gênero, é possível sentir uma brisa fresca de originalidade (atrasada é verdade) para o nosso cinema. Quando digo atrasada é por que acredito que as abordagens do filme não são novas ao cinema, mas a forma como nos é entregue os tais clichês são diferentes as formas anteriormente trazidas pelo cinema nacional. Os romances, as brigas, as reconciliações, as descobertas e o preconceito estão lá como bons clichês que são. A originalidade vem na entrega das resoluções. O toque da nova geração com a linguagem despreocupada e a liberação vagarosa das amarras dos preconceitos.
A direção, a fotografia, as interpretações e o roteiro são perfeitamente trabalhados. E a aceitação do publico e o sucesso do filme dentro e fora de casa enfatiza ainda mais a necessidade de ampliar a visão para as imensas possibilidades e capacidade cinematográficas que temos no Brasil.
“Hoje eu quero voltar sozinho” é sem duvida um dos nossos maiores avanços cinematográficos da atualidade. Tanto na aproximação de sua temática e execução técnica quanto no seu abraço ao publico que, pode até não se relacionar em algum sentido com o enredo ou aos personagens, mas com certeza será cativado eles.
http://casagreview.wordpress.com/
Capitão América 2: O Soldado Invernal
4.0 2,6K Assista AgoraExtasiante
O retorno de Capitão América as telonas não poderia ser melhor. O primeiro Vingador volta para se consolidar de vez como franquia de sucesso e, se não para consertar, acertar em sua receita e encontrar um nicho certo. Enquanto simbolo de ideologias patrióticas, Capitão América vem neste filme afirmar seu idealismo político e no meio tempo kick some ass daqueles que buscam ameaçar a paz e a liberdade do povo que ele representa.
Encontramos o mesmo Capitão de Avengers, deslocado de seu tempo buscando adaptar-se a nova realidade. Os conflitos com fantasmas do passado se intensificam ao desenrolar da história quando os vilões vão se revelando. Tensão é a palavra-chave e permeia por todo o filme. As cenas de lutas são perfeitamente coreografadas, bonitas de se ver. Explosões catastróficas, quedas de prédios, incontáveis explosões e perseguições de carros, uma verdadeiro thriller de ação perfeitamente elaborado.Um filme de super-herói com heróis nem tão super assim. Capitão América, Viúva Negra, Nick Fury e o novato Falcão são os heróis que tomam a tela. Com diversas reviravoltas na trama o arco de vilões do Capitão é perfeitamente utilizado e demarca territórios a serem explorados no futuro da franquia.
Diversos easter-eggs permeiam pelo filme já apontando as direções dos estúdios Marvel no cinema. Temos aqui duas cenas pós-crédito. A primeira já fazendo referência ao próximo Vingadores e a segunda dando um desfecho a história do próprio Capitão América.
Não há como não ser contagiado pelas cenas de ação, próprias de um Vingador enfurecido. A sensação de êxtase toma conta até depois do fim do filme. A sensação de ter visto um excelente filme. Sem dúvida um dos mais difíceis filmes da Marvel, ele exige o minimo de conhecimento do espectador fazendo referências sutis as figuras do universo dos heróis e já preparando o terreno para o, já certo, futuro cinematográfico. Na minha humilde e inesperada opinião, o melhor filme solo de um Vingador até agora.
http://casagreview.wordpress.com/
Noé
3.0 2,6K Assista AgoraBusca mal sucedida de um blockbuster bíblico
Baseado na história bíblica de “Gênesis”, o épico traz a construção da arca de Noé (Russel Crowe) e sua família. A história descrita no livro da bíblia é bem curta, o que levou Darren Aronofsky, diretor e co-roteirista do longa, buscar mais inspiração dentro do mesmo.
Enquanto fã das obras de Darren Aronofsky, a decepção não deixa de aparecer. Sua busca por um épico bíblico modernizado criam momentos confusos e mal desenvolvidos na tela. As cenas de ação desarranjadas por vezes parece romper a história, dando uma má impressão de estar vendo dois filmes diferentes em uma má administrada mixagem. As cenas de ação são boas, apenas mal coordenadas em suas abordagens dentro da obra. Elas dão intervalos desnecessários as linhas de raciocínio, tão marcantes nos filmes de Aronofsky. Ora temos uma cena aonde Noé conflita a dualidade humana, a capacidade para o bem e para o mal; Enquanto na sequência temos "Ents de Pedra" digladiando-se com humanos.
Ideologias e simbolismo também falham. Em uma cena em que Noé conta a sua família sobre a origem do mundo, uma sequência de imagens busca conciliar Criacionismo e Evolucionismo. Ideologias completamente repelentes em uma proposta de união, talvez em busca do dito Design Inteligente. Mas a impressão que fica é a de uma tentativa frustrada de afirmar um respeito a ambas. E este acaba sendo o grande problema do filme.
A busca de não desrespeitar nem crentes nem descrentes, tornam o filme tedioso. Os conflitos ideológicos – inúmeros são apresentados - ficam em segundo plano intercalados por cenas de ação que pouco acrescentam a história, a não ser pelo alivio que trazem ao desconfortante tédio. A tecnologia 3D incômoda acrescenta ainda mais ao desconforto dada sua má utilização, tornando-se completamente descartável.
Simbolismos mal creditados, tecnologia mal aplicada, cenas desnecessárias e diálogos rasos. Uma sequência de falhas que, talvez, apele mais à um público que venha a respeitar a obra pela referência religiosa e não enquanto excelência cinematográfica.
http://casagreview.wordpress.com/
The Rocky Horror Picture Show
4.1 1,3K Assista AgoraNão há definição para este clássico. Uma comédia musical de horror e ficção científica. Uma mistura que funcionou muito bem e carrega fãs até hoje pelo mundo.
Baseada em na peça inglesa homônima criada por Jim Sharman, que dirige o filme, e Richard O’Brien, quem escreveu as canções – que também vive Riff Raff no longa - a história conta a jornada do jovem casal Brad e Janet que acabam de tornarem-se noivos. Afim de encontrar um professor de faculdade que os apresentou eles partem de carro em uma viagem para convida-lo para o casamento. Até que o pneu do carro fura e eles buscam refugio em um sinistro castelo próximo a estrada. Dentro do castelo eles se deparam com as mais bizarras figuras e acabam vivendo situações mais bizarras ainda.
O roteiro é despretensioso e descompromissado. O que o torna ainda mais genial. Uma obra que trata da anarquia da criação, a liberdade da invenção e reinvenção. Cada personagem descobre um pouco de si mesmo quando se permite desvencilhar-se da realidade e viver um pouco da própria liberdade reprimida. “ Don’t dream it, be it” é a mensagem principal do filme.
A peça estreou no Reino Unido em 1973, já o filme fora lançado em 1975. Censurado em alguns países e mal recebido em outros, como no Brasil que recebeu o filme 5 anos após a estréia mundial. A figura polêmica do Dr. Frank-n-Furter é o principal motivo. Vivido por Tim Curry, Dr. Frank-n-Furter é um travesti do planeta Transexual Transylvania que vive no castelo aonde Brad e Janet pedem socorro.
O Elenco é primeiro escalão. Com Susan Sarandon, Tim Curry, Barry Bostwick e Meat Loaf. As performances, as vestimentas, as feições dos atores, os exageros estéticos,tudo contribui para a beleza artística gritante da obra. Sem compromisso com realismo, muito menos com os pudores sociais, Rocky Horror é uma obra que quebra o molde. Sua singularidade e sua comunicação escrachada tornam o filme um clássico do cinema cult. Sem dúvida um Must See eterno.
http://casagreview.wordpress.com/
Álbum de Família
3.9 1,4K Assista AgoraEmotividade simplista
O sumiço e a morte repentina de Beverly Weston (Sam Shepard) faz com que suas três filhas Barbara (Julia Roberts), Ivy (Julianne Nicholson) e Karen (Juliette Lewis) retornem para a casa da família em Oklahoma. A matriarca viúva de Beverly, Violet (Meryl Streep), uma senhora que sofre de câncer bucal e é viciada em analgésicos é chave dos conflitos que permeiam o filme. Com seu forte temperamento e sua honestidade ferina, ela desencadeia uma série de revelações na família em situações desconfortantes.
A obra é extremamente sensível. As discussões e diálogos dessas fortes mulheres que buscam ajustar-se a suas próprias vidas. Revisitando seus passados elas buscam entender seus papéis dentro e fora da conturbada vida familiar. A sensibilidade impar das personagens torna tudo muito realista. É possível identificar-se na tela, apontar caráteres possíveis. A emoção é quase palpável tornando a experiência envolvente e acolhedora. Sensação de coração quente.
As atuações elevam ainda mais a obra. Meryl Streep e Julia Roberts afirmam suas carreiras em atuações absurdamente memoráveis que as levaram as suas indicações ao Oscar deste ano. Benedict Cumberbatch e Margo Martindale entregam atuações igualmente impecáveis na perturbadora relação aonde a mãe rejeita o próprio filho. Abigail Breslin faz a filha de Julia Roberts em uma relação igualmente conturbada. Os diálogos são descompromissados, um bate-papo em família sem profundas sub-linhas ou contestações filosóficas. O que, em experiência pessoal, tornou tudo mais aconchegante e familiar.
John Well dirige com maestria a adaptação da peça teatral vencedora de um Pullitizer e um Tony, roteirizada aqui pela própria autora Tracy Letts.
http://casagreview.wordpress.com/
Ninfomaníaca: Volume 2
3.6 1,6K Assista AgoraO telhado de vidro das convenções sociais
Com um início igualmente rude o filme se inicia do exato ponto final de seu antecessor exigindo o entendimento do espectador. Um corte seco e sem floreios, muito bem executado.
Joe (Charlotte Gainsbourg) continua a contar suas histórias a Seligman (Stellan Skarsgard). Figuras quase antagônicas, fragmentando e desmembrando convenções sociais. Joe ainda se coloca no papel de réu e acusadora, sob a lupa de um julgamento social já enraizado regido pelas tais convenções. Seligman apresenta a si mesmo como juiz. Põe-se no lugar de julgar com dita imparcialidade, por não conhecer ou compreender as histórias de Joe com vivência. Ele é virgem. Diz não julga-la sob as lentes conservadoras que nos cercam. Afirma então ser Inocente, livre da culpa.
As fundações do imperialismo machista e patriarcal enraizados profundamente no subconsciente social são expostas. Joe as vivência em uma batalha interna entre sua ferocidade sexual implacável e a culpa atormentadora nutrida pelas raízes da sociedade dos homens. Ela não busca afrontar tais convenções, mas o faz. O que a torna ainda mais culposa aos seus próprios olhos.
Lars Von Trier consegue nessa obra, ou no conjunto dela, um feito genial admirável. Ele expõe as verdades, as raízes, as convenções de seu público. Os acontecimentos das histórias de Joe, a exposição dos corpos, a explicitação do sexo enquanto força da natureza não repreensível. Tudo isso aponta dedos. Expõe culpa e convenção. Conservadores e puristas serão ofendidos, reforçando ainda mais as razões da necessidade de tal obra. A necessidade de afrontar-se culturas da culpabilidade. Culpa essa fruto de uma sociedade que já não se cabe, filha de uma ditadura do homem sobre o ser. A cultura do macho para o macho. A busca do homem pela satisfação é justificável e inocente. A busca da mulher pela satisfação é, em sua mais pura representação de culpa, fruto proibido.
Se tal culpabilidade se viabiliza e faz presente, Lars traz em forma de catarse final, em sua ultima cena, de forma brilhante a realidade a ser contestada: Ninguém é inocente.
Crítica do Vol 1 - http://casagreview.wordpress.com/2014/03/17/ninfomaniaca/
Ninfomaníaca: Volume 1
3.7 2,7K Assista AgoraContestação social sobre a natureza da carne
Em uma noite chuvosa, Seligman (Stellan Skarsgård) encontra Joe (Charlotte Gainsbourg) jogada em um beco desacordada e ensanguentada com diversos hematomas. Ele a leva para seu apartamento, aonde ela começa a contar sobre sua vida e suas aventuras enquanto se descobrindo uma ninfomaníaca. Seligman busca em seus próprios entendimentos compreender Joe, alinhavando a história e buscando amenizar o martírio da personagem que se condena e repudia, vitima da própria carne.
Uma mulher desperta para a própria sexualidade. Múltiplos parceiros. A desmistificação do amor. Joe não é uma personagem simples. Ela conflita sua natureza por diversas vezes. Não aprova seus atos. Seligman vem alivia-lá. Mostrar a ela uma razão natural para seus feitos e para sua vida. Por vezes, ela invalida a motivação de Seligman. O conflito entre o socialmente aceitável e as motivações naturais levam Joe a um flagelo interno. Consciente da culpa mas igualmente consciente da fraqueza do ser.
Uma obra que conflita as conformidades sociais e busca não justificar, mas expor e racionar as inúmeras vontades. Vontade de busca. Vontade de descobrimento. Vontade de Sensação, palavra-chave para a natureza de Joe. Uma afronta aos pudorados e moralistas, claramente intencional. Uma provocação, sim. Fragmentar a essência social e salientar as razões da maldita luxúria.
As dezenas de cenas de nudez e sexo permeiam pelo filme. Beiram o explicito. Uma obra de arte genial completa. O roteiro incrível, diálogos ricos e personagens humanamente possíveis, a direção belíssima e extremamente envolvente. Um filme mal compreendido pela maioria. De novo, propositalmente. A obra expõe, não somente seus personagens, mas seu público. Existem os que buscam uma história bucólica e romantizada, ainda os que buscam o sexo explicito gratuito. Ambos estarão decepcionados ao final. Uma bomba de contestação os aguarda, expondo o sexo enquanto paraíso e inferno.
http://casagreview.wordpress.com/
Philomena
4.0 925 Assista Agora“I never saw that coming… Not in a Million years!” - Philomena
O jornalista politico Martin Sixsmith (Steve Coogan) acaba de ser demitido de seu cargo de assessor no governo e decide retornar a escrever. Martin se depara com a história de Philomena (Judi Dench) que, durante a década de 50, tivera seu filho mandado para adoção contra sua vontade pelas freiras do convento aonde fora abandonada pelos pais após engravidar. Embarcam juntos então, em busca do filho perdido de Philomena em uma série de encontros e desencontros, e inúmeras reviravoltas.
O drama da história de Philomena e seu filho é contado aqui de forma tragicômica. Os diálogos fluidos e incontáveis alívios do brilhante roteiro do também comediante Steve Coogan em conjunto com Jeff Pope deixam a história leve e divertida. Judi Dench nos encanta com aquela inocente senhora que, mesmo diante das piores situações e desilusões, nunca perde suas fé tanto na sua religiosidade quanto nas pessoas buscando sempre a positividade das coisas. Sem duvida performances merecedoras de seus devidos reconhecimentos, tanto Steve pelo roteiro quanto Judi pela sua performance.
O filme, confesso, foi uma deliciosa surpresa. Cativa o espectador desde o inicio. Casam-se as cenas de profunda melancolia e de alivio cômico com genialidade e perfeição, entretendo mais do que envolvendo mas, ainda assim a obra funciona, agrada e comove. Com questionamentos sobre a fé, o filme é uma lição de esperança e perdão. Um belíssima história de amor entre mãe e filho, que nunca se viram mas, sempre se conheceram.
http://casagreview.wordpress.com/
12 Anos de Escravidão
4.3 3,0KViolentamente Emotivo.
Solomon Northup (Chiwetel Ejiofor) é um violinista negro livre nos Estados Unidos pré-abolicionista. Solomon vive com sua esposa e dois filhos em Nova York, até que é enganado por uma falsa oferta de trabalho e sequestrado para ser vendido como escravo no estado da Lousiana, estado sulista escravagista.
O diretor Steve McQueen sensibiliza o espectador e rompe quaisquer barreiras emotivas com esta história real de um passado não tão distante. Em quadros aonde não há diálogo a emoção é quase palpável com atuações fantásticas de todo o elenco. A estreante Lupita Nyong’o entrega um dos papéis mais fortes do filme, a escrava Patsey. Vítima de todas as formas de violência possíveis vindas de seu senhorio, o fazendeiro Edwin Epps (Michael Fassbender), Patsey se torna a própria figura do desespero e da angústia.
O filme exige uma reflexão quanto o senso de humanidade e equipara a omissão à própria violência. Coloca-se então o medo como pai da omissão e a omissão cúmplice da opressão. A violência vinda do opressor que se aproveita da inocência dos oprimidos para subjuga-los, utilizando-se de suas crenças em comum para justificar seus atos e o direito sobre aquelas vidas e colocar-se em posição de divindade a ser respeitada instaurando assim o medo da punição sobre seu rebanho.
Não há como descrever essa experiência. Uma obra comovente e sensível. Merecedora de todo reconhecimento cabível, o choque de emoções nos leva a repensar nosso papel enquanto seres humanos, nossas responsabilidades um para com o outro e, mais ainda, se permanecemos omissos.
http://casagreview.wordpress.com/
Clube de Compras Dallas
4.3 2,8K Assista AgoraImportância informativa sem didatismos
Ron Woodrof (Matthew McConaughey) é um eletricista texano que é diagnosticado portador de AIDS, durante o pico da propagação da doença nos anos 80 mais precisamente em 1985. O machão metido a caubói é também um golpista viciado em drogas que passa boa parte de seu dia fazendo sexo com todas a mulheres que puder - desprotegido, é claro. Após seu diagnóstico, em que os médicos lhe disseram que possuía apenas 30 dias de vida, Ron busca formas de tratamento para sua doença e encontra o AZT droga que se encontra em fase de testes. Depois de comprovar a agressividade da droga sobre todas as células do corpo, inclusive as saudáveis, Ron busca outras drogas que até então não se encontram aprovadas pelo FDA (orgão que regulamenta o registro de produtos farmacêuticos e alimentícios nos EUA), ou seja, ilegais. Observando ainda uma oportunidade de negócios, o sujeito cria o Clube de Compras Dallas, uma forma de repassar aquelas drogas as pessoas que buscam uma opção de tratamento.
O filme educa o espectador sem práticas didáticas, fazendo o entendimento mais concreto. Da mesma forma que a doença educa o protagonista, tornando-o mais carismático ao longo da história. O alicerce da obra são, sem dúvida, as atuações. Tanto de McConaughey quanto de Jared Leto, que vive a travesti Rayon na trama. Rayon traz humor e simpatia ao drama de Ron, cativando o espectador desde sua primeira aparição. As quebras de tabus acontecem a todo momento, principalmente quando o, até então homofóbico, caubói descobre em Rayon uma amizade preciosa.
A inserção ao mundo dos soropositivo mostra as dificuldades daquelas pessoas que, além de ter que lidar com a própria doença, ainda tem que sobreviver sob o julgamento social e aos pontapés do preconceito. As críticas a politicagem e a ânsia empresarial das industrias farmacêuticas retornam diversas vezes durante o roteiro em tom assertivo, e alerta. Por manter-se sobre o mesmo tom dramático, os pontos negativos aparecem durante os momentos de clímax, que se camuflam naquele tom e perdem sua força nos deixando a esperar por mais.
Seu valor educativo é inestimável. As atuações dos indicados ao Oscar (McConaughey e Leto) são dignas e merecedoras de reconhecimento. Em geral, uma belíssima obra dramática biográfica que não deve passar despercebida.
http://casagreview.wordpress.com/
Gravidade
3.9 5,1K Assista AgoraUma pesarosa reflexão sobre vida e morte
A alguns milhares de metros na órbita terrestre encontramos os personagens Dra. Ryan Stone (Sandra Bullock) e Matt Kowalski (George Clooney) em uma missão, fora de seu ônibus espacial, para reparar o telescópio espacial Hubble. Até que o controle da missão alerta para uma chuva de detritos de um satélite que acaba de ser destruído e encontra-se em rota de colisão, em alta velocidade, com a nave exploradora dos astronautas. Quando são atingidos pelos detritos, Dra. Stone e Matt encontram-se a deriva no espaço sem contato com a nave ou com o controle da missão, enquanto os níveis de oxigênio caem a cada minuto.
A tensão não sede. Por todas as cenas somos inseridos naquele perturbador cenário aonde a vida se desconstrói em imensidão entregando vazio e silêncio. Os diálogos carregam uma inflexão entre perspectivas conflitantes sobre a vida. Clooney traz leveza e alivio buscando otimismo para superar uma situação que até então se apresenta irremediável enquanto a melancolia e pesar da personagem de Sandra à carrega cada vez mais próximo a aceitação de um iminente e vez menos temeroso futuro, a morte. Por vezes são mostrados quadros de luz empurrando as sombras sobre a superfície da terra revelando vida, um eufemismo claro sobre a citada inflexão. Os reflexos sobre o capacete da personagem que agoniza dentro de seu traje, a mostra ainda mais vulnerável.
A Dra. Stone se permite então derramar sua depressiva realidade sobre aquela sombria tela. Suas perspectivas sobre a própria vida surgem vagarosa e dolorosamente ao longo do filme. A vulnerabilidade da personagem envolve o espectador, inserindo-o naquele contexto de busca por razão. Naquele cenário em que a sombra mortal do vácuo e do esquecimento permeiam, a fragilidade da vontade de viver ressurge aos poucos cicatrizando as profundas estigmas sentimentais da personagem.
Então ao final de tudo, aquela frágil semente de vida antes fora de orbita, a deriva em sua própria realidade, despe-se de sua casca emergindo da água e fincando sua raiz vitoriosa, na forma de pés descalços sobre a materialização de sua segunda chance.
Cuaron entrega seu melhor enquanto filósofo fotográfico e contador de histórias. Guiando Sandra Bullock, que carrega – belissimamente - o filme quase que sozinha, ele é ainda mais genial e tira dela um maravilhoso monólogo gestual nos imergindo em profunda tensão e exigindo do espectador sua máxima reflexão.
Blue Jasmine
3.7 1,7K Assista AgoraJasmine (Cate Blanchett) é uma recém-falida socialite, durante a recente crise financeira dos EUA. Deprimida e perturbada, ela busca refugio com sua irmã Ginger (Sally Hawkins). Tentando reafirmar seu passado de glória e fortuna, Jasmine reconta sua história inúmeras vezes, buscando talvez o ponto aonde tudo se perdeu. Em suas memórias, encontramos Hal (Alec Baldwin) marido de Jasmine e provedor de seu conforto financeiro enquanto um magnata executivo de negócios não muito claros mas, obviamente, escusos.
Há de se atribuir os valores figurativos destes personagens. Cada um dele representa os universos conflitantes dentro desta crise que afetou a todos de alguma forma. Desde Jasmine, que reluta em aceitar sua realidade contando para todos e até para si mesma a própria história; Até Hal, representante daquela classe ilusória dos afortunados de vidas perfeitas, que diante da menor turbulência implodem dentro de seus próprios universos. Todos esses ricos personagens carregam um perspectiva profunda, de grande magnitude aos espectadores, encoberta por uma história administrada e contada com maestria pelo mestre Woody Allen.
A sutileza desta linguagem de figurativismos amenizam um evidente drama e, culposamente, delicia o espectador mas sem envolvê-lo, tornando-o um atento observador. Em perspetivas artísticas, Blue Jasmine atende a todos. Desde sua carga informativa sensível ao entretenimento continuo e emotivo. Se existem falhas, se fazem ínfimas dado o excelente roteiro e direção, sem mencionar as fantásticas atuações de todo elenco. Cate Blanchett, brilhantemente, dá vida e forma a depressão de sua personagem tornando-a mais um membro de corpo presente do filme.
Tais sutilezas porém poderão passar despercebidas tornando-se ainda assim, um filme fantástico que entretém seu público. A obra é completa por si só e conta uma história rica e tocante, se complexando em sua profundidade para os mais sensíveis a forma linguística da escrita de Woody Allen.
http://casagreview.wordpress.com/
47 Ronins
3.2 1,1K Assista AgoraFoi quase (SQN)!
Mostrando um Japão feudal mistico e cheio de costumes (onde todos falam inglês), “47 Ronins” traz um roteiro fraco com dialogos superficiais e muitos desnecessários. Visando uma classificação mais branda afim de angariar público, as cenas de ação também deixam a desejar (cadê os galões de sangue¿) principalmente na cena final onde os antagonistas principais derrubam as espadas e lutam no mano a mano (“LUTAM”).
Como um fã de samurais, a decepção acompanha mas não deixa o filme menos divertido. A intenção de blockbuster-wannabe é forte com cenas de ação A la Matrix meets Hogwarts. Os vilões, quase caricatos, funcionam e tem boas motivações o que deveria ser mais bem aproveitado.
As cores contam bastante a história e mostram a glória, queda e ascenção (em todos os sentidos) dos heróis. Os seres misticos (sim, no plural) são bem coloridos e agregam positivamente a obra. O grande vilão é caracterizado de preto e roxo (groundbreaking!) em cenários sombrios e acinzentados. O Shogun e sua comitiva, representados em dourado mostram imponência (Shang Tsung é o shogun, whaaat¿).
Apesar do (grande) acumulo de falhas e das poucas vantagens tiradas sobre os pontos positivos, o filme ainda consegue entreter com humor e as cenas de aventura. Não espere porém por um filme de samurais, pois não é. Uma visão hollywoodiana simplista e diminutiva sobre uma história clássica e rica demais aonde os elementos principais aparecem muito mal administrados.
Contudo, o filme se sustenta na riqueza de seus personagens que, ainda bem, são sustentados pelos mitos e não pelo roteiro pobre.
Ela
4.2 5,8K Assista AgoraUm ensaio sobre a carência.
A premissa da película é aparentemente simples. Um homem que se apaixona por um sistema operacional, uma inteligência artificial desenvolvida para servir o ser humano. Tal inteligência foi desenvolvida de forma a emular sentimentos e capaz de evoluir sua própria consciência dadas suas experiências. Aí temos o ponto central do filme. O quão carente é o ser humano que cria, desenvolve e idealiza uma consciência artificial para saciar sua própria necessidade de atenção tornando-a uma assistente pessoal, interagindo com a máquina a cada passo de sua vida¿ Ignorando a vida em si que ocorre a sua volta¿ Pois é, um futuro tão real que já se faz presente.
Theodore (Joaquin Phoenix) adquiri um desses sistemas operacionais. Atravessando por um divórcio, Theodore encontra conforto na voz de Samantha (Scarlet Johansson) sua nova amiga virtual. Ela supre sua carência por imediato, se faz presente em todos os momentos dos dias daquele homem. Ela o conhece, lê seus e-mails, organiza a limitada vida dele que se resume em trabalhar como escritor e desfrutar alguns poucos momentos de humanidade com sua unica amiga Amy (Amy Adams), igualmente deslocada e conturbada pela própria existência.
Com um tom romântico e melancólico a história se desenrola sem pressa e busca, com sucesso, o espectador e o cativa tornando aquela “nem tão ficção assim” crível. Samantha se desenvolve rápido, sua ciência quanto a vida e suas vertentes cresce. Ironicamente. Dado que ela não é vida. Sutil irônia, perante aquele pobre homem que pouco nota a grandeza da própria vida e apenas existe, não evolui sua ciência. Se “penso logo existo” Samantha existe, sem corpo assim mesmo, ciência de si.
Sensível, extremamente emotivo e ainda assim sutil. Uma obra belissima que passará dispercebida por muitos, injustamente. O quetionamento existencial romantizado e envolvente é trazido a tona por diálogos muito bem escritos e descomplicados tornando-se claro apenas para os mais sensíveis. Scarlet Johansson está em um desafiador papel que à enaltece e escancara seu talento. Merecedora de indicações a todos prêmios cabíveis a uma grande atuação mas ignorada, talvez pela própria não presença em cena. Novamente injustiça. E Joaquin Phoenix, genial como sempre, igualmente injustiçado.
Um delicado ensaio sobre a sensibilidade humana e sua carência por atenção. E essa atenção buscada é a mesma ignorada diariamente dada nossa ínfima perceptividade em relação ao que nos cerca. E só será suprida tal carência ao final, quando tudo o que restar for um ao outro.
http://casagreview.wordpress.com/
Trapaça
3.4 2,2K Assista AgoraA sexy caricatura da cultura dos exageros.
Ambientado nos anos 70, a “dramédia” de David O. Russel narra (literalmente) a história do vigarista Irving Rosenfeld (Christian Bale), que depois de acusado de fraude e ter sua parceira Sydney Prosser (Amy Adams) presa, se vê obrigado a trabalhar para o FBI sob o comando do agente Richie DeMaso (Bradley Cooper) em uma ação para prender outros criminosos. Entre eles o prefeito de New Jersey Carmine Polito (Jeremy Renner).
Os personagens ricos e bem contruidos são uma belissima e bem pensada caricatura da realidade desses trapaceiros. Seja das roupas super decotadas à mega permanete de Adams, uma mulher que usa do seu corpo para, como muitas vezes a personagem diz ,“sobreviver”; Ou ainda, o trapaceiro de Bale que passa o filme inteiro tentando enganar a todos de que ainda possui cabelo. As interpretações carregam belissimamente mas, não com menos esforço, o roteiro cansativo de David O. Russel.
Apelando incessantemente para a comédia por 138 minutos com muitas falas e comédia física, o cansaço vem mas não desmotiva. A história é sim boa mas é mau aproveitada deixando aqueles incríveis personagens presos à uma narrativa que se estaciona por varias vezes e só é quebrada por um momento de clímax de algum deles, e o de todos vêm. O desempenho de Bradley Cooper claramente busca acompanhar o de seus companheiros de cena, deixando transparecer o que todos sabiamos mas não queriamos admitir, ele não é tão bom quanto pensavamos. Já Jennifer Lawrence, que aparece por volta de apenas 5 cenas, tem um de seus melhores momentos e deixa uma das cenas mais emblemáticas e bem feitas da obra enquanto canta e dança “Live and let Die”.
O clima envolve e devolve o publico por varias vezes com cenas exageradas e uma trilha sonora maliciosamente sexy, tornando aqueles cenarios e personagens caricatos e imundos em deliciosos e culposos prazeres.
A obra é merecedora de seus louros e triunfos, inclusive a não tão comentada direção do próprio O. Russel que pecou apenas na suas escolhas em relação ao desenvolvimento da trama.
Quanto as (merecidas) indicações ao Oscar, a Academia deveria ter esperado por este ano para agraciar Jennifer Lawrence.
O Lobo de Wall Street
4.1 3,4K Assista AgoraO funk ostentação de Scorsese
O filme basea-se na história real de Jordan Belfort vivido por Leonardo DiCaprio, um jovem Corretor de ações da bolsa de valores que vai tentar a vida em Wall Street. Embriagado pela idéia de se tornar um milionário, acaba se viciando na droga mais poderosa: o dinheiro (entre outras coisas). Após sua primeira investida frustrada em Wall Street, Belfort se ve em busca de emprego e encontra um outro mercado (o Pink Pages) e resolve elevar o potencial deste novo negócio ao seu maximo. Através de esquemas e transações ilegais, Belfort atinge seu objetivo financeiro tornando-se o Lobo de Wall Street.
O lobo que se veste de pastor e se alimenta de seu próprio rebanho, pregando a religião do Dinheiro. O dízimo pago religiosamente pelos seus empregados que, treinados por ele, arrecadam milhares e milhares de dolares todos os dias de forma nem sempre ortodoxa afim de sustentar o homem que vem como um messias das finanças. A ilusão das riquezas e ostentações seduzem esses fiéis, e os nutre tão bem de forma que passam a adorar seu executor e tomam como objetivo aquele paraíso de dinheiro, festas e mulheres.
Scorsese vem caótico e descontrolado, escancarando esta ilusão em nossas caras derramando toda a podridão do sub-mundo desses lobos. O dinheiro se faz presente em todas as cenas, das mansões e festas aos trejeitos e comportamento de DiCaprio, impagável em um de seus melhores trabalhos sem dúvida. Os excessos são necessários e denunciam aquela camada fétida por baixo do glamour. As cenas de sexo e consumo de drogas são constantes, enfatizando ainda mais a ilusão iludibriante do Nosso Senhor Dinheiro.
Contudo, as três horas de sexo drogas e rock’n’roll são perseptiveis e esgotam o espectador e incomoda, intencionalmente. O filme é intenso e não cessa, quer consumir o próprio consumismo e leva consigo quem assiste, questionando as prioridades de cada um com relaçãos as suas vidas e objetivos estabelecidos. A humanidade do personagem principal aparece tardia, quando ve a vida de seus filhos ameaçadas pelo faminto e embrigado Lobo.
O filme é completo mas cansa. O clima é sempre denunciante e alarmante quando se percebe na obra uma realidade palpavel e assistivel. Vivemos tudo aquilo, toda aquele esgoto é visto diariamente e aplaudido pela maioria.
Somos aquelas ovelhas. O Lobo é real. E está sempre faminto.