A Hora Mais Escura narra a busca do terrorista Osama bin Laden, a partir do ponto de vista e motivações da agente da CIA Maya (Chastain). Logo nos primeiros minutos do longa, há cenas de torturas (bem estilo Tropa de Elite) que chocam, o que considero uma qualidade, pois demonstra a realidade, não a maquia, mostrando o exército americano como uma instituição perversa e suja. A trama falha pela prolixidade (duas horas e meia gastas para uma premissa relativamente rasa), e pela lentidão, sobretudo na primeira metade. Há muito tempo perdido antes da localização do terrorista e depois dela ocorrer, há, novamente, tempo gasto na discussão se a missão deve ser executada ou não (devido à falta de evidências de que Osama estaria morando naquela casa). No momento do tão aguardado plano (mais de duas horas!), não há nenhuma simples explicação à equipe de invasão (logo o mesmo ao espectador), causando uma tremenda confusão. A equipe está dividida em três, mas não sabemos qual o objetivo de cada, e isso acaba por derrubar todo o entusiasmo que deveria acompanhar a cena. Outro simples detalhe que incomoda: o rosto do famoso terrorista não é mostrado explicitamente (apenas sua barba aparece), o que muitos esperam ver. As atuações são eficientes, e somente isso, nada tão grandioso. A Jessica Chastain pode até merecer a indicação de Melhor Atriz no Oscar desse ano, mas não tem condições de vitória. Quando for assistir a A Hora Mais Escura, faça-o com baixas expectativas, caso contrário, terá uma gigante decepção.
A trama gira em torno de Pat (Cooper), que ficou em um hospital psiquiátrico por meses, por ter sido diagnosticado como bipolar e por agredir, quase até a morte, o amante na esposa. Após sair da instituição, foi convidado para um jantar, onde lá conheceu Tiffany (Lawrence), uma viúva que não soube lidar com a morte do marido, tornando-se transtornada e instável. O grande mérito do longa é a dinâmica, composta de diálogos e corte rápidos, que a princípio causa um incômodo, mas com o desenrolar da história, torna-se natural e orgânico. A premissa é muito frágil e relativamente fácil de se cair em um melodrama chato e insuportável, mas David O. Russel, consegue conduzir a história de forma cômica, com diálogos repletos de sarcasmos. Bradley Cooper e Jennifer Lawrence põem na tela uma química que não via há tempos em um filme. E com uma baita participação de De Niro, interpretando o pai do protagonista e que sofre de TOC, crê em superstições e é viciado em apostas, a atuação dele foi tão intensa que me lembrou, em alguns momentos, o Jake LaMotta, de Touro Indomável. O Lado Bom da Vida, mesmo com alguns clichês, é adorável, engraçado, emocionante e memorável.
P.S.: A cena da dança é muito bem executada e engraçada, e me lembrou de Pequena Miss Sunshine.
O perigo de se fazer um filme do gênero História e Biografia é o de ser entediante e não empolgar, o que, infelizmente, acontece na maior parte do tempo, em Lincoln. O filme narra a história do presidente Abraham Lincoln (Day-Lewis), a partir do momento em que ele deve pôr um fim na Guerra da Secessão. Soando muitas vezes como um filme-aula, Lincoln não é capaz de pôr o espectador em total êxtase, mas tem méritos por prender a atenção, sobretudo nos debates na câmara e nas histórias contadas pelo presidente. Spielberg não foi um completo ufanista (ainda bem!), retratando o tão adorado Lincoln não como um modelo de político e pessoa, mas um ser manipulador e que tem problemas familiares. A fotografia, com tons cinzas, é bela, conseguindo transmitir toda aquela sensação de tenebridade vivida pelo período de guerra. Os figurinos, os cenários e as maquiagens são dignos de menção. Impossível reclamar das atuações. Daniel Day-Lewis simplesmente fantástico, conseguiu pôr um tom de voz impressionantemente doce e hipnotizante (aquele de parar tudo o que você está fazendo só para ouvir uma história narrada por aquela voz). Destaques também para Tommy Lee Jones. Lincoln, para aqueles que conseguirem relevar a lentidão da trama, é perfeito e memorável.
Django Livre tem todas as características dos filmes do Tarantino: violência, humor ácido, trilha sonora impecável e excelentes atuações. Django (Foxx) é um escravo apaixonado. Separado de sua amada, pelos cruéis donos (Irmãos Brittle), e posto à venda, Django cruza-se com o alemão Dr. King Schultz (Waltz), um caçador de recompensa, que está a procura do escravo, para ajudá-lo na missão de matar os Brittle. Desde o primeiro encontro, eles tiveram um bom entrosamento, juntaram-se e realizaram diversas caças de procurados pela justiça, até partirem para uma jornada particular: recuperar a esposa de Django, Broomhilda (Washington), propriedade do temido Calvin J. Candie (DiCaprio). A transformação do protagonista, feita de formal gradual e bem interessante, absorvendo o poder de persuasão do mentor, Dr. Schultz, e o “sangue frio” (destaque para o diálogo da cena em que Django deve matar um homem, que estava acompanhado de seu filho), é perfeita e naturalmente executada, enriquecendo a trama. Assim como em Kill Bill, aqui Tarantino não hesita em escancarar a violência, seja em cenas de “punição” aos escravos, seja as marcas nas costas de Broomhilda, ela está sempre presente.
Nas cenas do tiroteio, há enormes jatos de sangue para todos os lados, e quando a irmã de Calvin leva um tiro, ela voa para trás, como se tivesse sido puxada, esses exageros do diretos chegam a ser cômicos (aliás, é a assinatura do Tarantino).
O longa conta com uma trilha sonora peculiar, músicas atuais (ou pelo menos de gêneros atuais) são empregadas na composição, o que, a princípio, soa estranho, mas acaba por funcionar, e causa grande entusiasmo no espectador, aumentando ainda mais a excitação. Melhores atuações não poderiam ter sido entregues, porque isso já beiraria o impossível. Destaques para Jamie Foxx (superou minhas expectativas), Christoph Waltz, que cativa desde a primeira aparição, e DiCaprio, mas quem rouba a cena é, sem dúvidas, Samuel L. Jackson, com um personagem que provoca raiva e simpatia, ao mesmo tempo. Menção honrosa para a pequena partição do diretor e roteirista Quentin Tarantino. Django Livre consegue, incrivelmente, prender a atenção de qualquer espectador, mesmo com suas quase três horas de duração, e, mais importante, não sendo entediante nem por poucos segundos.
O grande problema de roteiros baseados em um história real é que, inevitavelmente, apelam para as coincidências, sendo quase impossível evitar que o espectador indague-se sobre a veracidade daqueles fatos. Em Argo, infelizmente, o mesmo acontece. O longa ambienta-se no Irã, final da década de 70, no auge do Poder Revolucionário, e acompanha o plano elaborado pelo agente Tony Mendez (Affleck), da CIA, para resgatar seis diplomatas americanos que conseguiram fugir da invasão dos rebeldes à embaixada americana, e estavam abrigados na casa do embaixador canadense. O plano de fuga consiste em fazer com que o grupo se passe por uma equipe de produção de um filme (chamado Argo), e tem a ajuda do maquiador John Chambers (Goodman) e do produtor Lester Siegel (Arkin), que ficariam em Hollywood, comandando o fictício estúdio de cinema. Nos primeiros minutos, há uma contextualização do que se passou naquela época, explicando o porquê da revolta do povo, feita em estilo de revista em quadrinhos, extremamente importante para o desenrolar da história, mas sendo breve e de fácil compreensão, e isso é bom para a narrativa. É evidente a existência de dois extremos no filme: o de Hollywood e do Irã, ressaltados pela fotografia (no primeiro, as cores frias prevalecem, e no segundo, cores quentes). Na conclusão, o filme falha por tentar criar tensão no espectador através de elementos inverossímeis, o que é totalmente desnecessário, já que, sendo uma história real, o desfecho é conhecido por todos. O longa contém um elenco mais que excelente, com destaques para o protagonista e diretor Ben Affleck, soando sempre confiante em seu plano, e para Bryan Cranston, sobretudo na cena em que desempenha papel chave para o sucesso da fuga, além de John Goodman e Alan Arkin, que têm boa química e funcionam muito bem como alívio cômico. Argo é uma grata surpresa vinda de um promissor diretor, que conta com uma história interessante, uma ótima trilha sonora e excelentes atuações, mas com um tropeço, a leve distorção do real.
Solitário e introvertido, Norman é visto como um estranho por onde passa, na escola e até dentro de casa. Ele é um garoto com um dom especial, ver e se comunicar com espíritos daqueles que já se foram. Este dom se transformará em responsabilidade, já que somente ele poderá acalmar o espírito de uma garotinha (que, no passado, foi condenada à morte, injustamente) que quer destruir a pequena cidade. Feito em stop motion, o longa tem um belo visual. As expressões faciais transmitem sentimentos ao espectador (e evidenciam os dos personagens, como os olhos sempre tristes de Norman), graças à perfeição estética da animação. Há quem diga que o filme é arrastado, por não empolgar totalmente aqueles que o assistem, e, em parte, essas pessoas estão certas. As investidas em humor funcionam sempre que aparecem (destaque para a cena em que um rapaz compra um saco de salgadinho em uma daquelas máquinas de lanche, quando repara que zumbis estão indo em sua direção, mas não sabe se deve correr ou esperar pelo saco cair no vão da máquina), tornando a animação engraçada e divertida. ParaNorman, com seus defeitos e qualidade, consegue entreter facilmente e, sem dúvidas, merece a indicação de Melhor Filme de Animação ao Oscar.
Em um fliperama, Detona Ralph é o vilão do jogo Conserta Felix Jr.. Cansado de ser excluído das celebrações, por aqueles com quem divide a máquina, da vida solitária que leva, da falta de reconhecimento e do temor sentido por aqueles que o rodeiam, Ralph revolta-se e decide migrar para outros games, com o objetivo de conquistar uma medalha (simbolismo de benevolência e competência) e provar que pode tornar-se um “herói”. É no jogo Sugar Rush que conhece Vanellope, e lá, estabelece uma relação de amizade com a garota (vista como um “bug” pelos outros) e a ajuda a ganhar uma corrida, gerando um conflito com o cruel Rei Candy, para poder tornar-se respeitada. O longa encanta pelo brilhantismo da animação (à la Pixar), que é cheia de detalhes, preservando a forma dos jogos antigos, como o jeito de andar de alguns personagens (em linha reta) e os movimentos do vilão de Pac-Man. A forma como se dá a migração de uma máquina para outra é bem engenhosa, as extensões elétricas são usadas como grandes estações de metrôs. O filme investe em humor metalinguístico, ao invés do referencial (destaque para a exclamação do Felix ao encontrar-se com uma personagem de um jogo mais moderno: “Olha a alta definição do seu rosto!”), o que torna a experiência muito mais agradável. Vale notar os quadros com cores mais escuras, usados no mundo habitado pelos “vírus”, que salientam a tensão e infelicidade presentes naquela região. Em contra partida, no mundo do Sugar Rush, as cores que prevalecem são o rosa (ou salmão, como insiste o rei) e o branco, evidenciando sentimentos contrários do primeiro. Detona Ralph é tocante, divertido e, esteticamente falando, belíssimo.
A Pixar é conhecida por quebrar paradigmas de animações infantis (e adultas). Um bom exemplo: Wall-e, um filme mudo em grande parte do tempo, com uma trilha sonora ambicioso (La Vie En Rose, de Louis Armstrong, faz parte da composição) e um temática densa. No entanto, em Valente, o tão aclamado estúdio falha e incomoda. Merida (primeira protagonista feminina da Pixar) é um princesa que, desde quando ganhou um arco do pai, apaixonou-se por aventuras e pela liberdade, mas sempre sendo repreendida pela mãe, que buscava torna-la um dama. Anos depois, descobre que sua mão será ofertada em casamento para um dos filhos dos clãs aliados. Ela revolta-se, mas sua mãe insiste na ideia, e a princesa apela para uma bruxa, que transforma a rainha em um urso. O filme investe nos velhos clichês de filmes infantis, como números musicais (chatos e desnecessários, vale ressaltar) e o já batido “prazo limite”, para o feitiço ser desfeito. Há a tentativa de usar os irmãos da princesa como o alívio cômico da trama, mas não funciona. O temido vilão pouco aparece, e quando o faz é pouco significante. Esteticamente falando, o longa é simplesmente fantástico. Os cenários são bem trabalhados e cheios de detalhes. O cabelo da protagonista, com belos tons vermelhos, parecem reais, os pêlos do cavalo, as feições do rei, enfim, todo a película é excelente neste requisito (destaque para quando a princesa atira uma flecha no meio de outra, partindo-a no meio, cena recheada de detalhes). Valente pode ser considerado um pequeno deslize da Pixar. Uma história rasa, mas com um belíssimo visual (resta-me torcer para que o filme não ganhe o Oscar, então, assim, o estúdio voltará para os trilhos).
Uma das maiores qualidades do diretor Tim Burton é a capacidade de criar universos sombrios, aterrorizantes e, até mesmo, bizarros (vide o curta Vincent e os longas Beetlejuice, Edward Scissorhands e The Nigtmare Before Christmas, este último como produtor, mas tendo influência), que conseguem prender a atenção do espectador, e mais que isso, causam um estranho fascínio, e neste A Lenda do Cavaleiro Sem Cabeça não seria diferente. No filme, Ichabod Crane (Depp) é um investigados a frente de seu tempo, ele defende o estudo meticuloso (baseado na lógica e razão) de crimes, afim de entender sua causa, desenvolvimento e motivação daquele que o cometeu, para então o bandido ser posto à julgamento. Contrariado pelos seus superiores, é mandado para Sleepy Hollow, um pequeno vilarejo, com o objetivo de investigar crimes (assassinatos onde as vítimas tinha suas cabeças decepadas) que as autoridades daquela região não conseguiram desvendar, em forma de castigo por sua ideologia. Característico dos filmes de Burton, nesse longa a fotografia é escura (o tempo está sempre nublado, o figurino do protagonista é preto e há névoas na maioria dos planos), na maior parte da película, com a finalidade de provocar medo no espectador. Todavia, nos pesadelos do protagonista a fotografia torna-se muita clara, uma grande sacada do diretor para demonstrar que o mundo real é muito mais obscuro e amedrontador que estes sonhos desagradáveis. A mescla de gêneros presente no longa também acaba por tornar a experiência melhor ainda, passando por investigação, mistério e até terror, sempre com um toque de romance. Todo o elenco funciona bem, com destaque, obviamente, para Johnny Depp. Uma partição mais que especial de Christopher Lee, que em pouco tempo de aparição, conseguiu brilhar. Uma Lenda do Cavaleiro Sem Cabeça é Tim Burton em sua mais pura essência, e isso é esplêndido.
Janela Secreta narra o conflito entre Mort Raiyne (Depp), um escritor que passa por um momento conturbado em sua vida pessoal, por ter se separado da esposa Amy, e John Shooter (Turturro), um caipira que, certo dia, bate à porta do escritor e acusa-o de plágio.
O filme falha por ser arrastado, como se estivesse apenas esperando o tempo passar ou preparando o espectador para uma grande surpresa que será apresentado ao final, porém falha, pois a previsibilidade é gritante no longa. Nos 20 minutos iniciais, já é possível saber qual será o desfecho (parcialmente, pelo menos), e o longa não tenta ao menos pôr dúvidas na cabeça daqueles que o assistem (aliás, tenta fazer o namorado atual da antiga esposa do escritor parecer suspeito, mas não investe nisto).
Apesar de tudo, Janela Secreta consegue fazer o que propõe, sendo um suspense, que é chocar e assustar, em alguns trechos (com uma grande ajuda a trilha sonora). O filme também aproveita a bela paisagem do local em que a história se passa, principalmente durante os créditos iniciais, com um traveling e plano geral sobre um rio e adentrando a floresta até a casa do protagonista, e quando o escritor joga um carro sobre um penhasco. Méritos também para os atores que compuseram o longa, destaque para Depp (de cara limpa, sem as extravagantes maquiagens do Tim Burton), que convence, mais ainda nas cenas pós-revelação, e para Turturro, soando amedrontador sempre que presente. Janela Secreta, mesmo com todos os defeitos e previsibilidades que tem, consegue ser um bom filme e prender a atenção.
O filme conta a história de Dora (Montenegro), que escreve cartas para analfabetos em uma estação de trem, a partir do momento em que se vê envolvida com o recém órfão de mãe Josué, que a perdeu para um atropelamento em frente à estação. Sem nenhum parente na cidade, Josué fica perambulando pelo local onde Dora trabalha e decide procurar pelo pai, e, assim, tem-se o início da relação entre a mulher e o garoto. O roteiro trabalha muito bem alguns aspectos do país, como a violência e o sofrimento do povo. O primeiro é evidenciado pela brutalidade executada pelos guardas, que deveriam zelar pelo respeito e ordem, quando estes matam um sujeito por ele ter roubado uma aparelho de rádio, e pela “compra“ de crianças, afim de tomarem-lhes os órgãos. O segundo torna-se explicito por aqueles que usam do serviço de Dora (como uma prostituta e um rapaz que havia sido vítima de um golpe), pela disputa de um lugar para sentar no trem e, mais importante, pela apresentação do sertão brasileiro. A fotografia, sempre em uma tonalidade amarelada, e a trilha sonora, juntamente com as atuações, ajudam a salientar os aspectos citados, sobretudo o sofrimento do povo. Fernanda Montenegro dá um show de interpretação, conseguindo soar como uma velha infeliz e rabugenta, mas que, no fundo, tem um carinho materno pela criança (mesmo desconhecendo o trabalho das atrizes com quem Fernanda disputou a Academy Awards de de 1999, posso afirmar que foi uma tremenda injustiça sua derrota). Outro que merece ressalto é o Vinícius de Oliveira, que põe na tela um garoto totalmente sincero e honesto, de forma muito orgânica. Central do Brasil pode ser considerados por muitos como o melhor filme já produzido no Brasil, e com toda a razão.
Em Psicose, Marion Crane trabalha em uma empresa imobiliária. Quando seu patrão a confia 40 mil dólares para ela depositar no banco, ela rouba o dinheiro, para poder casar-se com o namorado, e foge. Na estrada, após despistar um policial, resolve passar a noite em um hótel, devido a chuva intensa. Lá, conhece Norman Bates, filho da dona do estabelecimento.
Hitchcock, brilhantemente, prega uma peça (das várias presentes) no espectador, dando a entender que o filme focaria em Marion (tanto é que, enquanto ela dirige, ouvimos o que se passa em outro local, na empresa em que ela trabalhava, especificamente, mesmo que a câmera esteja focada em suas feições), até, antes que o longo complete uma hora de duração, seu assassinato no banheiro do quarto que estava hospedada (uma das cenas mais conhecidas da história do cinema, diga-se). A forma com que ele constrói a tensão e a dúvida no espectador é magnífica. Ele opta por planos relâmpagos, plongês e contra-plongês, sempre preservando a identidade do(a) assassino(a), acompanhados por uma trilha sonora que provoca calafrios. Hitchcock derruba todas as teorias criados por aqueles que assistem ao longa sobre quem seria o(a) grande homicida, como na cena em que o detetive conversa com Bates e avista a mãe do rapaz na janela da casa. Nada no filme é por acaso ou sem um significado, como, por exemplo, o policial que aborda Marion na estrada. Muitos acham aquilo desnecessário, mas é essencial para a narrativa, pois representa o estado de tensão e medo da personagem, de forma natural (que atriz, Janet Leigh, executa de forma primorosa, por sinal). Anthony Perkins realizou o trabalho da carreira em Psicose, pondo na tela um Norman Bates simpático e enigmático. Destaque também para Leigh, que nos planos próximos foi extremamente competente ao passar a tensão, preocupação e medo da personagem, sobretudo nas cenas da estrada e do assassinato do banheiro. Psicose é um dos maiores suspenses da história do cinema e tem tudo que um filme precisa: um diretor genial, uma trilha sonora impecável, atores que convencem e grandes reviravoltas.
Scrooge (Carrey) é um velho ranzinza, mesquinho e mal-humorado. Na véspera do Natal, recebe a visita da alma do falecido amigo e ex-sócio (Marley), dizendo que três espíritos apareceriam para ele: um do passado, um do presente e outro do futuro. Marley diz também que Scrooge deve se redimir, para não ser castigado após a morte. É interessante notar que o diretor escolhe por uma fotografia escura, para representar o estado de espírito do protagonista (infelicidade) e que vai ficando mais clara, à medida que o personagem tornar-se uma pessoa melhor. Destaque para os planos-sequência que apresentam a cidade-cenário do longa, Londres. Jim Carrey emprega acertadamente um tom de voz mais pesado para o personagem. Os Fantasmas de Scrooge pode não ser a melhor animação que há, mas possui uma história legal e interessante, sendo bastante divertido e servindo até para a reflexão.
Cisne Negro narra a conquista de Nina (Portman) ao posto mais concorrido e desejo no ballet: o papel da Rainha Cisne, personagem ambíguo, Cisne Branco (puro, inocente, casto) e Cisne Negro (provocante, sensual, malicioso). O conflito da protagonista começa dentro de casa, com sua mãe, que trata-a como se ainda fosse uma criança (impondo horários de ir para cama, proibindo passeios, privando a filha de privicidade). A mãe transmite ainda uma certa energia negativa (pessismo), e até inveja da filha por ter conseguido o que ela mesma nunca conseguiu, através do uso constante de roupas pretas. Essa opressão da mãe acarreta na impossibilidade de Nina soltar-se e deixar seu lado sexy se manifestar, provocando um outro conflito, com Thomas e com ela mesma. Essa perturbação, ao longo do longa, só ascende, e se expressa através de alucinações, sobretudo após a chegado de Lily (Kunis), que Nina passa a invejar por ter todas as características que faltam em sua personalidade (espontaneidade, maturidade, sensualidade).
A forma como o longa desenvolve a obsessão de Nina (ela chega a criar, inconscientemente, uma dupla personalidade, sendo uma metade ela mesma, buscando a perfeição, e a outra Lily, sendo espontânea), a encarnação em um só corpo (através do suposto assassinato de Lily, absorvendo aquilo que falta em si) e a metamorfose de mulher para cisne foram primorosas.
Para demonstrar a complexidade e a delicadeza do ballet, Darren Aronofsky optou por planos fechados nós pés das bailarinas, para demonstrar a impureza (como trocar favores sexuais por papeis em peças) daquele meio optou por cores escuras, exceto no quarto de Nina, que é todo rosa, salientando a ingenuidade e infantilidade da personagem. As atuações foram brilhantes, sobretudo de Natalie Portman, que encarna perfeitamente uma pessoa fraca (voz sutil, corpo quase que esquelético) e pura (quem não sentiu dor quando em uma cena ela arranca um pedaço de pele do dedo?) e de Mila Kunis, que coloca na tela um poder de conquista nunca visto antes (quem não se apaixonou por aquele sorriso?). Uma belíssima trilha sonora, cheia de pianos e violins, acompanha os passos, dramas e medos da protagonista, causando diversas emoções no espectador (o que já era de se esperar). Cisne Negro é simplesmente excelente, inteligente, emocionante, e mais importante, instigante.
Walter sente-se como um estranho no ninho em sua cidade natal e acaba por se identificar com um grupo de artistas da televisão, Os Muppets. A grande aventura de sua vida começa quando ele descobre que visitará, junto com o irmão e cunhada, os antigos estúdios do grupo que tanto idolatrava. Chegando lá, decepciona-se por se deparar com galpões abandonados, ao invés dos tão esperados estúdios, e descobre, sem querer, os planos do Richman, homem que compraria o terreno com o falso pretexto de que preservaria a história de Os Muppets em um museu na mesma aréa que os estúdios, quando na verdade, extrairia petróleo sob o solo. O longa destaca-se por conseguir conduzir a história de maneira que agrada tanto o público infantil (por ser de fácil compreensão e divertido) quanto o adulto (através do uso da metalinguagem, evidente nos trechos que um dos muppets fala sobre a montagem do filme e quando, nos minutos finais, o vilão fala que certa música já havia sido interpretada no início do longa, e de referências a outros filmes, como O Diabo Veste Prada). Com partições mais que especiais de várias celebridades (destaque para Jack Black, este sendo mais fundamental e Jim Parsons, com os trejeitos do seu personagem de uma série de tv), uma trilha sonora bem eclética (indo de AC/DC até Cee Lo Green) e músicas originais que não só entretêm como provocam o riso, Os Muppets apresenta-se como uma grata surpresa. Ignorem a falta de capacidade de dançar e cantar do Jason Segel, e divirtam-se com o musical.
O Impossível narra a luta pela sobrevivência de uma família em meio à uma das maiores catástrofes naturais dos últimos tempos. Acompanhamos desde a chegada da família na Tailândia, passando pela noite de Natal até a manhã seguinte, quando ocorre o desastre. Na cena onde as crianças (Lucas, Thomas e Simon) abrem os presentes, o diretor usou um found footage, demonstrando a união e amor presentes naquela família, o que soou muito espontâneo, natural. Bayona, todavia, falhou quando, na tragédia em si, optou por fazer cortes no auge da excitação (exemplificando: na cena onde as ondas estão indo com tudo em direção à Maria, e o espectador está prestes a saber o que acontecerá, o diretor corta para um plano totalmente preto), jogando todo aquele entusiasmo (criado pouco antes pelas quedas das árvores e pelo barulho das águas) fora. O diretor redime-se logo em seguida, ao imergir o espectador naquele drama vivido por aquelas pessoas, totalmente, através de planos muitos rápidos, dentro d’água, causando a sensação de confusão (não ter ideia do que fazer) e vulnerabilidade (ficando à mercê das ondas), os mesmos sentimentos dos personagens, creio. Isso tudo acompanhado por um excelente design de som e trilha sonora. Algum tempo depois, quando a água “acalma-se“, Bayona usa planos fechados nos ferimentos, especialmente nos de Maria, salientando a gravidade do tsunami, e, ouso dizer, para testar a força do espectador em se adaptar àquelas situações. E aqui vai meus parabéns para a direção de arte, pela perfeição das maquiagens e do cenário. Já com os personagens no hospital, novamente, o diretor acertar por usar câmeras trêmulas, mesmo que em excesso, representando a situação caótica daquele ambiente, despreparado e superlotado, e o incômodo dos personagens. No desfecho da história, o filme fica insuportável, graças ao roteiro, que escolheu usar o velho clichê das coincidências, na verdade falta delas, inverossímeis para um longa baseado em fatos reais (exemplificando: o pai procura pela família na lista de pacientes do hospital, não acha os nomes que procura e vai embora. Poucos segundos depois, um dos filhos passa pelo mesmo lugar onde o pai estava). O filme determina com um plano geral que mostra a dimensão do desastre e com ele devastou aquela região. Quanto às atuações, não há muito que falar, exceto que todas foram convincentes. O Impossível narra uma belíssima e tocante história, vem acompanhado por uma excelente trilha sonora e design de som, falha em detalhes, apenas, de roteiro e direção, mas a recomendação é mais que válida.
Henry Hill (Ray Liotta) é um garoto com um único desejo: tornar-se um “alguém“, ser significante, ter uma certa importância. A maneira mais rápida que ele encontra para atingir esse objetivo é juntando-se à máfia local. E, com o passar do tempo, ele consegue o que queria e conquista grande status dentro desse grupo de criminosos, sendo peça-chave para as feituras da gangue. Scorsese representa a grandeza da máfia através de planos fechados nas roupas luxuosas dos bandidos, em comparação com os demais personagens, seus figurinos evocam superioridade, em quanto que os daqueles de fora do grupo evocam submissão. Um recurso utilizado pelo diretor foi começar a trama com um flashfoward, causando ansiedade no espectador para o desenvolvimento da história. Outro feito interessante do Scorsese foi o congelamento da tela no auge do momento de adrenalina, acompanhado por uma narração do protagonista (voz crua, sem trilha sonora), causando uma boa mistura de curiosidade e tensão. Sobre as atuações não há muito o que falar, foram todas belíssimas, destaque ao trio que dá o título do filme. De Niro, mais uma vez, entrega tudo de si para o personagem, um popular e destemido gangster, Joe Pesci interpreta um bandido intolerante e inconsequente (repetindo a excelente química com o De Niro presente em Touro Indomável). A única falha no filme foi a irregularidade, sendo ora excitante, ora entediante, mas ainda assim, a recomendação é válida.
- SPOILER - SPOILER- SPOILER - SPOILER - SPOILER - SPOILER- SPOILER - SPOILER- SPOILER - SPOILER- SPOILER - SPOILER- SPOILER - SPOILER- SPOILER - SPOILER- SPOILER - SPOILER- SPOILER - SPOILER Durante o filme, presenciamos a bonita relação entre pai e filho, Thomas e Oscar, respectivamente. A união e amizade existentes entre eles são tocantes, mas logo ficamos sabendo sobre a morte de Thomas, no 11 de Setembro. A partir dessa tragédia, acompanhamos a busca de Oscar pela caixa que a chave, que ele acreditava que seu pai tinha deixado para ele, abriria. Tão Forte e Tão Perto possui méritos por abordar abertamente a maior tragédia ocorrida nos E.U.A., mas acaba por explorar demais esse tema, o que causa um certo incômodo. Acreditem, o garoto imprime fotos do pai caindo de uma das Torres Gêmeas, totalmente apelativo e desnecessário. O filme emociona por narrar a tentativa do protagonista de se reaproximar com o falecido pai, ocasionando um sentimento de pena e compaixão, que são, ao longo do longa, convertidos em ódio, devido à extrema ingratidão e grosseria do garoto para com a mãe e o avô (o inquilino). Há falhas gritantes no filme, como as ações do protagonista( que são muitas vezes inverossímeis para uma criança de 11 anos), a trilha sonora (que é muito repetitiva), a cena em que o garoto conhece o inquilino e fala sobre sua história (ele fala e nunca se cala, insuportável), o longa trata o espectador como um ser sem o poder da lógica (por que diabos o garoto tinha que dizer que suspeitava que o inquilino era seu avô, quando qualquer pessoa com o mais baixo QI teria certeza de que ele, de fato, era?). Uma cena, em especial, traz uma metáfora muito profunda e bela sobre o estado da criança após a morte do pai. Um plano detalhe capta o momento em que um vaso cai no chão e se espatifa em dezenas de pedaços, junto com uma trilha sonora muda e ruídos ambientes, simbolizando que o garoto havia sido quebrado, estava incompleto sem a presença paterna. As atuações de Hanks (Thomas), Bullcock (esposa de Thomas) e Sydow (inquilino) são sempre constantes, acreditamos em suas palavras, sempre que proferidas, e ações, sempre que executadas. Por outro lado, Horn (Oscar), em pequenos trechos, soa surreal e não convence. Tão Forte e Tão Perto é ambicioso e emocionante, não há dúvidas, mas acaba por beirar o insuportável em muitas partes.
O longa retrata, mesmo que ocultando muitas coisas, a biografia do matemático John Nash, desde seu tempo na faculdade, sua alucinações, o diagnóstico de esquizofrenia até quando recebeu o Prêmio Nobel. A narração é bem simples, não há nada de extravagante ou complexo empregado pelo diretor, mesmo que gire em torno de uma pessoa tão profunda e heterogênea como John, o que torna a obra muito mais crível. Indubitavelmente, as atuações de Russell Crowe (John) e Jennifer Connely (Alicia, esposa do matemático) foram simplesmente brilhantes. A do primeiro por retratar com perfeição um indivíduo denso, inseguro, tímido e egocêntrico (em alguns trechos) e a da segunda por executar uma personagem resistente e potente. Justamente por essas razões, a Alicia é um exemplo de mulher a ser seguido, por ser forte e não fugir dos problemas. O filme tem como ápice, em teor emocional, não só o momento que John recebe os cumprimentos/reconhecimento por seu trabalho e luta contra a doença, como também o discurso da premiação, onde ele agradece o eterno apoio da amada. Uma Mente Brilhante é espetacular e deve ser eternizado na memória de cada espectador.
O filme narra (pequena) parte do tempo em que o fotógrafo Jeff passou “preso” em seu quarto, recuperando-se de uma perna quebrada. Sem ter para onde ir ou o que fazer, ele passa a observar a rotina de sua vizinhança. O grande suspense da trama começa quando ele suspeita que um de seus vizinhos tenha matado a própria esposa. Nós, espectadores, sabemos e vimos somente as mesmas coisas que o protagonista, ou seja, não há nenhuma informação apresentada a nós que não seja apresentada também ao fotógrafo. O resultado dessa sacada do Hitchcock é a nossa imersão absoluta na história, parece até que somos seres invisíveis dentro daquele quarto. Não bastasse a história em si, ainda somos presenteados com belíssimas atuações, sobretudo de Jeff, de sua namorada e do vizinho assassino. Hitchcock começa o longa com planos gerais, para a apresentação da vizinhança, mas logo depois, quando o protagonista resolve bisbilhotar com um binóculo e uma câmera fotográfica, parte para primeiros planos, para o enfoque do antagonista. O filme começa a ficar tenso, de fato, da metade até a resolução do caso. Isso mesmo, a partir do meio até os minutos finais a tensão é total, mesmo com uma trilha sonora que, em outras circunstâncias, deveria acalmar os ânimos. O diretor resolveu dar atenção demais para vizinhos que em nada acrescentaram na história (como a bailarina, o músico e a solitária), mas que, em parte, não deixam de ser necessários para ilustrar uma real vizinhança. Outra coisa que deveria ter sido descartado foi o final muito “perfeitinho”. Em síntese, Janela Indiscreta é uma obra-prima do cinema, e não é a toa que Alfred Hitchcock, o Rei do Suspense, é um dos maiores diretores da história
Comprar Ingressos
Este site usa cookies para oferecer a melhor experiência possível. Ao navegar em nosso site, você concorda com o uso de cookies.
Se você precisar de mais informações e / ou não quiser que os cookies sejam colocados ao usar o site, visite a página da Política de Privacidade.
A Hora Mais Escura
3.6 1,1K Assista AgoraA Hora Mais Escura narra a busca do terrorista Osama bin Laden, a partir do ponto de vista e motivações da agente da CIA Maya (Chastain).
Logo nos primeiros minutos do longa, há cenas de torturas (bem estilo Tropa de Elite) que chocam, o que considero uma qualidade, pois demonstra a realidade, não a maquia, mostrando o exército americano como uma instituição perversa e suja.
A trama falha pela prolixidade (duas horas e meia gastas para uma premissa relativamente rasa), e pela lentidão, sobretudo na primeira metade. Há muito tempo perdido antes da localização do terrorista e depois dela ocorrer, há, novamente, tempo gasto na discussão se a missão deve ser executada ou não (devido à falta de evidências de que Osama estaria morando naquela casa).
No momento do tão aguardado plano (mais de duas horas!), não há nenhuma simples explicação à equipe de invasão (logo o mesmo ao espectador), causando uma tremenda confusão. A equipe está dividida em três, mas não sabemos qual o objetivo de cada, e isso acaba por derrubar todo o entusiasmo que deveria acompanhar a cena. Outro simples detalhe que incomoda: o rosto do famoso terrorista não é mostrado explicitamente (apenas sua barba aparece), o que muitos esperam ver.
As atuações são eficientes, e somente isso, nada tão grandioso. A Jessica Chastain pode até merecer a indicação de Melhor Atriz no Oscar desse ano, mas não tem condições de vitória.
Quando for assistir a A Hora Mais Escura, faça-o com baixas expectativas, caso contrário, terá uma gigante decepção.
O Lado Bom da Vida
3.7 4,7K Assista AgoraA trama gira em torno de Pat (Cooper), que ficou em um hospital psiquiátrico por meses, por ter sido diagnosticado como bipolar e por agredir, quase até a morte, o amante na esposa. Após sair da instituição, foi convidado para um jantar, onde lá conheceu Tiffany (Lawrence), uma viúva que não soube lidar com a morte do marido, tornando-se transtornada e instável.
O grande mérito do longa é a dinâmica, composta de diálogos e corte rápidos, que a princípio causa um incômodo, mas com o desenrolar da história, torna-se natural e orgânico.
A premissa é muito frágil e relativamente fácil de se cair em um melodrama chato e insuportável, mas David O. Russel, consegue conduzir a história de forma cômica, com diálogos repletos de sarcasmos.
Bradley Cooper e Jennifer Lawrence põem na tela uma química que não via há tempos em um filme. E com uma baita participação de De Niro, interpretando o pai do protagonista e que sofre de TOC, crê em superstições e é viciado em apostas, a atuação dele foi tão intensa que me lembrou, em alguns momentos, o Jake LaMotta, de Touro Indomável.
O Lado Bom da Vida, mesmo com alguns clichês, é adorável, engraçado, emocionante e memorável.
P.S.: A cena da dança é muito bem executada e engraçada, e me lembrou de Pequena Miss Sunshine.
Lincoln
3.5 1,5KO perigo de se fazer um filme do gênero História e Biografia é o de ser entediante e não empolgar, o que, infelizmente, acontece na maior parte do tempo, em Lincoln.
O filme narra a história do presidente Abraham Lincoln (Day-Lewis), a partir do momento em que ele deve pôr um fim na Guerra da Secessão.
Soando muitas vezes como um filme-aula, Lincoln não é capaz de pôr o espectador em total êxtase, mas tem méritos por prender a atenção, sobretudo nos debates na câmara e nas histórias contadas pelo presidente. Spielberg não foi um completo ufanista (ainda bem!), retratando o tão adorado Lincoln não como um modelo de político e pessoa, mas um ser manipulador e que tem problemas familiares.
A fotografia, com tons cinzas, é bela, conseguindo transmitir toda aquela sensação de tenebridade vivida pelo período de guerra. Os figurinos, os cenários e as maquiagens são dignos de menção.
Impossível reclamar das atuações. Daniel Day-Lewis simplesmente fantástico, conseguiu pôr um tom de voz impressionantemente doce e hipnotizante (aquele de parar tudo o que você está fazendo só para ouvir uma história narrada por aquela voz). Destaques também para Tommy Lee Jones.
Lincoln, para aqueles que conseguirem relevar a lentidão da trama, é perfeito e memorável.
Lincoln é assassinado em um teatro [haha]
Django Livre
4.4 5,8K Assista AgoraDjango Livre tem todas as características dos filmes do Tarantino: violência, humor ácido, trilha sonora impecável e excelentes atuações.
Django (Foxx) é um escravo apaixonado. Separado de sua amada, pelos cruéis donos (Irmãos Brittle), e posto à venda, Django cruza-se com o alemão Dr. King Schultz (Waltz), um caçador de recompensa, que está a procura do escravo, para ajudá-lo na missão de matar os Brittle. Desde o primeiro encontro, eles tiveram um bom entrosamento, juntaram-se e realizaram diversas caças de procurados pela justiça, até partirem para uma jornada particular: recuperar a esposa de Django, Broomhilda (Washington), propriedade do temido Calvin J. Candie (DiCaprio).
A transformação do protagonista, feita de formal gradual e bem interessante, absorvendo o poder de persuasão do mentor, Dr. Schultz, e o “sangue frio” (destaque para o diálogo da cena em que Django deve matar um homem, que estava acompanhado de seu filho), é perfeita e naturalmente executada, enriquecendo a trama.
Assim como em Kill Bill, aqui Tarantino não hesita em escancarar a violência, seja em cenas de “punição” aos escravos, seja as marcas nas costas de Broomhilda, ela está sempre presente.
Nas cenas do tiroteio, há enormes jatos de sangue para todos os lados, e quando a irmã de Calvin leva um tiro, ela voa para trás, como se tivesse sido puxada, esses exageros do diretos chegam a ser cômicos (aliás, é a assinatura do Tarantino).
O longa conta com uma trilha sonora peculiar, músicas atuais (ou pelo menos de gêneros atuais) são empregadas na composição, o que, a princípio, soa estranho, mas acaba por funcionar, e causa grande entusiasmo no espectador, aumentando ainda mais a excitação.
Melhores atuações não poderiam ter sido entregues, porque isso já beiraria o impossível. Destaques para Jamie Foxx (superou minhas expectativas), Christoph Waltz, que cativa desde a primeira aparição, e DiCaprio, mas quem rouba a cena é, sem dúvidas, Samuel L. Jackson, com um personagem que provoca raiva e simpatia, ao mesmo tempo. Menção honrosa para a pequena partição do diretor e roteirista Quentin Tarantino.
Django Livre consegue, incrivelmente, prender a atenção de qualquer espectador, mesmo com suas quase três horas de duração, e, mais importante, não sendo entediante nem por poucos segundos.
Argo
3.9 2,5KO grande problema de roteiros baseados em um história real é que, inevitavelmente, apelam para as coincidências, sendo quase impossível evitar que o espectador indague-se sobre a veracidade daqueles fatos. Em Argo, infelizmente, o mesmo acontece.
O longa ambienta-se no Irã, final da década de 70, no auge do Poder Revolucionário, e acompanha o plano elaborado pelo agente Tony Mendez (Affleck), da CIA, para resgatar seis diplomatas americanos que conseguiram fugir da invasão dos rebeldes à embaixada americana, e estavam abrigados na casa do embaixador canadense. O plano de fuga consiste em fazer com que o grupo se passe por uma equipe de produção de um filme (chamado Argo), e tem a ajuda do maquiador John Chambers (Goodman) e do produtor Lester Siegel (Arkin), que ficariam em Hollywood, comandando o fictício estúdio de cinema.
Nos primeiros minutos, há uma contextualização do que se passou naquela época, explicando o porquê da revolta do povo, feita em estilo de revista em quadrinhos, extremamente importante para o desenrolar da história, mas sendo breve e de fácil compreensão, e isso é bom para a narrativa.
É evidente a existência de dois extremos no filme: o de Hollywood e do Irã, ressaltados pela fotografia (no primeiro, as cores frias prevalecem, e no segundo, cores quentes).
Na conclusão, o filme falha por tentar criar tensão no espectador através de elementos inverossímeis, o que é totalmente desnecessário, já que, sendo uma história real, o desfecho é conhecido por todos.
O longa contém um elenco mais que excelente, com destaques para o protagonista e diretor Ben Affleck, soando sempre confiante em seu plano, e para Bryan Cranston, sobretudo na cena em que desempenha papel chave para o sucesso da fuga, além de John Goodman e Alan Arkin, que têm boa química e funcionam muito bem como alívio cômico.
Argo é uma grata surpresa vinda de um promissor diretor, que conta com uma história interessante, uma ótima trilha sonora e excelentes atuações, mas com um tropeço, a leve distorção do real.
ParaNorman
3.6 845 Assista AgoraSolitário e introvertido, Norman é visto como um estranho por onde passa, na escola e até dentro de casa. Ele é um garoto com um dom especial, ver e se comunicar com espíritos daqueles que já se foram. Este dom se transformará em responsabilidade, já que somente ele poderá acalmar o espírito de uma garotinha (que, no passado, foi condenada à morte, injustamente) que quer destruir a pequena cidade.
Feito em stop motion, o longa tem um belo visual. As expressões faciais transmitem sentimentos ao espectador (e evidenciam os dos personagens, como os olhos sempre tristes de Norman), graças à perfeição estética da animação.
Há quem diga que o filme é arrastado, por não empolgar totalmente aqueles que o assistem, e, em parte, essas pessoas estão certas.
As investidas em humor funcionam sempre que aparecem (destaque para a cena em que um rapaz compra um saco de salgadinho em uma daquelas máquinas de lanche, quando repara que zumbis estão indo em sua direção, mas não sabe se deve correr ou esperar pelo saco cair no vão da máquina), tornando a animação engraçada e divertida.
ParaNorman, com seus defeitos e qualidade, consegue entreter facilmente e, sem dúvidas, merece a indicação de Melhor Filme de Animação ao Oscar.
Detona Ralph
3.9 2,6K Assista AgoraEm um fliperama, Detona Ralph é o vilão do jogo Conserta Felix Jr.. Cansado de ser excluído das celebrações, por aqueles com quem divide a máquina, da vida solitária que leva, da falta de reconhecimento e do temor sentido por aqueles que o rodeiam, Ralph revolta-se e decide migrar para outros games, com o objetivo de conquistar uma medalha (simbolismo de benevolência e competência) e provar que pode tornar-se um “herói”. É no jogo Sugar Rush que conhece Vanellope, e lá, estabelece uma relação de amizade com a garota (vista como um “bug” pelos outros) e a ajuda a ganhar uma corrida, gerando um conflito com o cruel Rei Candy, para poder tornar-se respeitada.
O longa encanta pelo brilhantismo da animação (à la Pixar), que é cheia de detalhes, preservando a forma dos jogos antigos, como o jeito de andar de alguns personagens (em linha reta) e os movimentos do vilão de Pac-Man. A forma como se dá a migração de uma máquina para outra é bem engenhosa, as extensões elétricas são usadas como grandes estações de metrôs. O filme investe em humor metalinguístico, ao invés do referencial (destaque para a exclamação do Felix ao encontrar-se com uma personagem de um jogo mais moderno: “Olha a alta definição do seu rosto!”), o que torna a experiência muito mais agradável.
Vale notar os quadros com cores mais escuras, usados no mundo habitado pelos “vírus”, que salientam a tensão e infelicidade presentes naquela região. Em contra partida, no mundo do Sugar Rush, as cores que prevalecem são o rosa (ou salmão, como insiste o rei) e o branco, evidenciando sentimentos contrários do primeiro.
Detona Ralph é tocante, divertido e, esteticamente falando, belíssimo.
Valente
3.8 2,8K Assista AgoraA Pixar é conhecida por quebrar paradigmas de animações infantis (e adultas). Um bom exemplo: Wall-e, um filme mudo em grande parte do tempo, com uma trilha sonora ambicioso (La Vie En Rose, de Louis Armstrong, faz parte da composição) e um temática densa. No entanto, em Valente, o tão aclamado estúdio falha e incomoda.
Merida (primeira protagonista feminina da Pixar) é um princesa que, desde quando ganhou um arco do pai, apaixonou-se por aventuras e pela liberdade, mas sempre sendo repreendida pela mãe, que buscava torna-la um dama. Anos depois, descobre que sua mão será ofertada em casamento para um dos filhos dos clãs aliados. Ela revolta-se, mas sua mãe insiste na ideia, e a princesa apela para uma bruxa, que transforma a rainha em um urso.
O filme investe nos velhos clichês de filmes infantis, como números musicais (chatos e desnecessários, vale ressaltar) e o já batido “prazo limite”, para o feitiço ser desfeito. Há a tentativa de usar os irmãos da princesa como o alívio cômico da trama, mas não funciona. O temido vilão pouco aparece, e quando o faz é pouco significante.
Esteticamente falando, o longa é simplesmente fantástico. Os cenários são bem trabalhados e cheios de detalhes. O cabelo da protagonista, com belos tons vermelhos, parecem reais, os pêlos do cavalo, as feições do rei, enfim, todo a película é excelente neste requisito (destaque para quando a princesa atira uma flecha no meio de outra, partindo-a no meio, cena recheada de detalhes).
Valente pode ser considerado um pequeno deslize da Pixar. Uma história rasa, mas com um belíssimo visual (resta-me torcer para que o filme não ganhe o Oscar, então, assim, o estúdio voltará para os trilhos).
A Lenda do Cavaleiro Sem Cabeça
3.8 1,3K Assista AgoraUma das maiores qualidades do diretor Tim Burton é a capacidade de criar universos sombrios, aterrorizantes e, até mesmo, bizarros (vide o curta Vincent e os longas Beetlejuice, Edward Scissorhands e The Nigtmare Before Christmas, este último como produtor, mas tendo influência), que conseguem prender a atenção do espectador, e mais que isso, causam um estranho fascínio, e neste A Lenda do Cavaleiro Sem Cabeça não seria diferente.
No filme, Ichabod Crane (Depp) é um investigados a frente de seu tempo, ele defende o estudo meticuloso (baseado na lógica e razão) de crimes, afim de entender sua causa, desenvolvimento e motivação daquele que o cometeu, para então o bandido ser posto à julgamento. Contrariado pelos seus superiores, é mandado para Sleepy Hollow, um pequeno vilarejo, com o objetivo de investigar crimes (assassinatos onde as vítimas tinha suas cabeças decepadas) que as autoridades daquela região não conseguiram desvendar, em forma de castigo por sua ideologia.
Característico dos filmes de Burton, nesse longa a fotografia é escura (o tempo está sempre nublado, o figurino do protagonista é preto e há névoas na maioria dos planos), na maior parte da película, com a finalidade de provocar medo no espectador. Todavia, nos pesadelos do protagonista a fotografia torna-se muita clara, uma grande sacada do diretor para demonstrar que o mundo real é muito mais obscuro e amedrontador que estes sonhos desagradáveis.
A mescla de gêneros presente no longa também acaba por tornar a experiência melhor ainda, passando por investigação, mistério e até terror, sempre com um toque de romance.
Todo o elenco funciona bem, com destaque, obviamente, para Johnny Depp. Uma partição mais que especial de Christopher Lee, que em pouco tempo de aparição, conseguiu brilhar.
Uma Lenda do Cavaleiro Sem Cabeça é Tim Burton em sua mais pura essência, e isso é esplêndido.
A Janela Secreta
3.7 1,4K Assista AgoraJanela Secreta narra o conflito entre Mort Raiyne (Depp), um escritor que passa por um momento conturbado em sua vida pessoal, por ter se separado da esposa Amy, e John Shooter (Turturro), um caipira que, certo dia, bate à porta do escritor e acusa-o de plágio.
O filme falha por ser arrastado, como se estivesse apenas esperando o tempo passar ou preparando o espectador para uma grande surpresa que será apresentado ao final, porém falha, pois a previsibilidade é gritante no longa. Nos 20 minutos iniciais, já é possível saber qual será o desfecho (parcialmente, pelo menos), e o longa não tenta ao menos pôr dúvidas na cabeça daqueles que o assistem (aliás, tenta fazer o namorado atual da antiga esposa do escritor parecer suspeito, mas não investe nisto).
Apesar de tudo, Janela Secreta consegue fazer o que propõe, sendo um suspense, que é chocar e assustar, em alguns trechos (com uma grande ajuda a trilha sonora). O filme também aproveita a bela paisagem do local em que a história se passa, principalmente durante os créditos iniciais, com um traveling e plano geral sobre um rio e adentrando a floresta até a casa do protagonista, e quando o escritor joga um carro sobre um penhasco.
Méritos também para os atores que compuseram o longa, destaque para Depp (de cara limpa, sem as extravagantes maquiagens do Tim Burton), que convence, mais ainda nas cenas pós-revelação, e para Turturro, soando amedrontador sempre que presente.
Janela Secreta, mesmo com todos os defeitos e previsibilidades que tem, consegue ser um bom filme e prender a atenção.
O Segredo
2.4 337Pensar positivamente não vai me fazer nenhum mal, mas também não vai me deixar milionário. Quanta baboseira!!
Central do Brasil
4.1 1,8K Assista AgoraO filme conta a história de Dora (Montenegro), que escreve cartas para analfabetos em uma estação de trem, a partir do momento em que se vê envolvida com o recém órfão de mãe Josué, que a perdeu para um atropelamento em frente à estação. Sem nenhum parente na cidade, Josué fica perambulando pelo local onde Dora trabalha e decide procurar pelo pai, e, assim, tem-se o início da relação entre a mulher e o garoto.
O roteiro trabalha muito bem alguns aspectos do país, como a violência e o sofrimento do povo. O primeiro é evidenciado pela brutalidade executada pelos guardas, que deveriam zelar pelo respeito e ordem, quando estes matam um sujeito por ele ter roubado uma aparelho de rádio, e pela “compra“ de crianças, afim de tomarem-lhes os órgãos. O segundo torna-se explicito por aqueles que usam do serviço de Dora (como uma prostituta e um rapaz que havia sido vítima de um golpe), pela disputa de um lugar para sentar no trem e, mais importante, pela apresentação do sertão brasileiro.
A fotografia, sempre em uma tonalidade amarelada, e a trilha sonora, juntamente com as atuações, ajudam a salientar os aspectos citados, sobretudo o sofrimento do povo.
Fernanda Montenegro dá um show de interpretação, conseguindo soar como uma velha infeliz e rabugenta, mas que, no fundo, tem um carinho materno pela criança (mesmo desconhecendo o trabalho das atrizes com quem Fernanda disputou a Academy Awards de de 1999, posso afirmar que foi uma tremenda injustiça sua derrota). Outro que merece ressalto é o Vinícius de Oliveira, que põe na tela um garoto totalmente sincero e honesto, de forma muito orgânica.
Central do Brasil pode ser considerados por muitos como o melhor filme já produzido no Brasil, e com toda a razão.
Psicose
4.4 2,5K Assista AgoraEm Psicose, Marion Crane trabalha em uma empresa imobiliária. Quando seu patrão a confia 40 mil dólares para ela depositar no banco, ela rouba o dinheiro, para poder casar-se com o namorado, e foge. Na estrada, após despistar um policial, resolve passar a noite em um hótel, devido a chuva intensa. Lá, conhece Norman Bates, filho da dona do estabelecimento.
Hitchcock, brilhantemente, prega uma peça (das várias presentes) no espectador, dando a entender que o filme focaria em Marion (tanto é que, enquanto ela dirige, ouvimos o que se passa em outro local, na empresa em que ela trabalhava, especificamente, mesmo que a câmera esteja focada em suas feições), até, antes que o longo complete uma hora de duração, seu assassinato no banheiro do quarto que estava hospedada (uma das cenas mais conhecidas da história do cinema, diga-se).
A forma com que ele constrói a tensão e a dúvida no espectador é magnífica. Ele opta por planos relâmpagos, plongês e contra-plongês, sempre preservando a identidade do(a) assassino(a), acompanhados por uma trilha sonora que provoca calafrios. Hitchcock derruba todas as teorias criados por aqueles que assistem ao longa sobre quem seria o(a) grande homicida, como na cena em que o detetive conversa com Bates e avista a mãe do rapaz na janela da casa.
Nada no filme é por acaso ou sem um significado, como, por exemplo, o policial que aborda Marion na estrada. Muitos acham aquilo desnecessário, mas é essencial para a narrativa, pois representa o estado de tensão e medo da personagem, de forma natural (que atriz, Janet Leigh, executa de forma primorosa, por sinal).
Anthony Perkins realizou o trabalho da carreira em Psicose, pondo na tela um Norman Bates simpático e enigmático. Destaque também para Leigh, que nos planos próximos foi extremamente competente ao passar a tensão, preocupação e medo da personagem, sobretudo nas cenas da estrada e do assassinato do banheiro.
Psicose é um dos maiores suspenses da história do cinema e tem tudo que um filme precisa: um diretor genial, uma trilha sonora impecável, atores que convencem e grandes reviravoltas.
Os Fantasmas de Scrooge
3.6 577 Assista AgoraScrooge (Carrey) é um velho ranzinza, mesquinho e mal-humorado. Na véspera do Natal, recebe a visita da alma do falecido amigo e ex-sócio (Marley), dizendo que três espíritos apareceriam para ele: um do passado, um do presente e outro do futuro. Marley diz também que Scrooge deve se redimir, para não ser castigado após a morte.
É interessante notar que o diretor escolhe por uma fotografia escura, para representar o estado de espírito do protagonista (infelicidade) e que vai ficando mais clara, à medida que o personagem tornar-se uma pessoa melhor.
Destaque para os planos-sequência que apresentam a cidade-cenário do longa, Londres.
Jim Carrey emprega acertadamente um tom de voz mais pesado para o personagem.
Os Fantasmas de Scrooge pode não ser a melhor animação que há, mas possui uma história legal e interessante, sendo bastante divertido e servindo até para a reflexão.
Cisne Negro
4.2 7,9K Assista AgoraCisne Negro narra a conquista de Nina (Portman) ao posto mais concorrido e desejo no ballet: o papel da Rainha Cisne, personagem ambíguo, Cisne Branco (puro, inocente, casto) e Cisne Negro (provocante, sensual, malicioso).
O conflito da protagonista começa dentro de casa, com sua mãe, que trata-a como se ainda fosse uma criança (impondo horários de ir para cama, proibindo passeios, privando a filha de privicidade). A mãe transmite ainda uma certa energia negativa (pessismo), e até inveja da filha por ter conseguido o que ela mesma nunca conseguiu, através do uso constante de roupas pretas.
Essa opressão da mãe acarreta na impossibilidade de Nina soltar-se e deixar seu lado sexy se manifestar, provocando um outro conflito, com Thomas e com ela mesma. Essa perturbação, ao longo do longa, só ascende, e se expressa através de alucinações, sobretudo após a chegado de Lily (Kunis), que Nina passa a invejar por ter todas as características que faltam em sua personalidade (espontaneidade, maturidade, sensualidade).
A forma como o longa desenvolve a obsessão de Nina (ela chega a criar, inconscientemente, uma dupla personalidade, sendo uma metade ela mesma, buscando a perfeição, e a outra Lily, sendo espontânea), a encarnação em um só corpo (através do suposto assassinato de Lily, absorvendo aquilo que falta em si) e a metamorfose de mulher para cisne foram primorosas.
Para demonstrar a complexidade e a delicadeza do ballet, Darren Aronofsky optou por planos fechados nós pés das bailarinas, para demonstrar a impureza (como trocar favores sexuais por papeis em peças) daquele meio optou por cores escuras, exceto no quarto de Nina, que é todo rosa, salientando a ingenuidade e infantilidade da personagem.
As atuações foram brilhantes, sobretudo de Natalie Portman, que encarna perfeitamente uma pessoa fraca (voz sutil, corpo quase que esquelético) e pura (quem não sentiu dor quando em uma cena ela arranca um pedaço de pele do dedo?) e de Mila Kunis, que coloca na tela um poder de conquista nunca visto antes (quem não se apaixonou por aquele sorriso?).
Uma belíssima trilha sonora, cheia de pianos e violins, acompanha os passos, dramas e medos da protagonista, causando diversas emoções no espectador (o que já era de se esperar).
Cisne Negro é simplesmente excelente, inteligente, emocionante, e mais importante, instigante.
Os Muppets
3.3 847 Assista AgoraWalter sente-se como um estranho no ninho em sua cidade natal e acaba por se identificar com um grupo de artistas da televisão, Os Muppets. A grande aventura de sua vida começa quando ele descobre que visitará, junto com o irmão e cunhada, os antigos estúdios do grupo que tanto idolatrava. Chegando lá, decepciona-se por se deparar com galpões abandonados, ao invés dos tão esperados estúdios, e descobre, sem querer, os planos do Richman, homem que compraria o terreno com o falso pretexto de que preservaria a história de Os Muppets em um museu na mesma aréa que os estúdios, quando na verdade, extrairia petróleo sob o solo.
O longa destaca-se por conseguir conduzir a história de maneira que agrada tanto o público infantil (por ser de fácil compreensão e divertido) quanto o adulto (através do uso da metalinguagem, evidente nos trechos que um dos muppets fala sobre a montagem do filme e quando, nos minutos finais, o vilão fala que certa música já havia sido interpretada no início do longa, e de referências a outros filmes, como O Diabo Veste Prada).
Com partições mais que especiais de várias celebridades (destaque para Jack Black, este sendo mais fundamental e Jim Parsons, com os trejeitos do seu personagem de uma série de tv), uma trilha sonora bem eclética (indo de AC/DC até Cee Lo Green) e músicas originais que não só entretêm como provocam o riso, Os Muppets apresenta-se como uma grata surpresa.
Ignorem a falta de capacidade de dançar e cantar do Jason Segel, e divirtam-se com o musical.
O Impossível
4.1 3,1K Assista AgoraO Impossível narra a luta pela sobrevivência de uma família em meio à uma das maiores catástrofes naturais dos últimos tempos. Acompanhamos desde a chegada da família na Tailândia, passando pela noite de Natal até a manhã seguinte, quando ocorre o desastre.
Na cena onde as crianças (Lucas, Thomas e Simon) abrem os presentes, o diretor usou um found footage, demonstrando a união e amor presentes naquela família, o que soou muito espontâneo, natural.
Bayona, todavia, falhou quando, na tragédia em si, optou por fazer cortes no auge da excitação (exemplificando: na cena onde as ondas estão indo com tudo em direção à Maria, e o espectador está prestes a saber o que acontecerá, o diretor corta para um plano totalmente preto), jogando todo aquele entusiasmo (criado pouco antes pelas quedas das árvores e pelo barulho das águas) fora.
O diretor redime-se logo em seguida, ao imergir o espectador naquele drama vivido por aquelas pessoas, totalmente, através de planos muitos rápidos, dentro d’água, causando a sensação de confusão (não ter ideia do que fazer) e vulnerabilidade (ficando à mercê das ondas), os mesmos sentimentos dos personagens, creio. Isso tudo acompanhado por um excelente design de som e trilha sonora.
Algum tempo depois, quando a água “acalma-se“, Bayona usa planos fechados nos ferimentos, especialmente nos de Maria, salientando a gravidade do tsunami, e, ouso dizer, para testar a força do espectador em se adaptar àquelas situações. E aqui vai meus parabéns para a direção de arte, pela perfeição das maquiagens e do cenário.
Já com os personagens no hospital, novamente, o diretor acertar por usar câmeras trêmulas, mesmo que em excesso, representando a situação caótica daquele ambiente, despreparado e superlotado, e o incômodo dos personagens.
No desfecho da história, o filme fica insuportável, graças ao roteiro, que escolheu usar o velho clichê das coincidências, na verdade falta delas, inverossímeis para um longa baseado em fatos reais (exemplificando: o pai procura pela família na lista de pacientes do hospital, não acha os nomes que procura e vai embora. Poucos segundos depois, um dos filhos passa pelo mesmo lugar onde o pai estava). O filme determina com um plano geral que mostra a dimensão do desastre e com ele devastou aquela região.
Quanto às atuações, não há muito que falar, exceto que todas foram convincentes.
O Impossível narra uma belíssima e tocante história, vem acompanhado por uma excelente trilha sonora e design de som, falha em detalhes, apenas, de roteiro e direção, mas a recomendação é mais que válida.
Os Bons Companheiros
4.4 1,2K Assista Agora- SPOILER - - SPOILER - - SPOILER - - SPOILER - - SPOILER - - SPOILER - - SPOILER - - SPOILER - - SPOILER - - SPOILER - - SPOILER - - SPOILER - - SPOILER - - SPOILER - - SPOILER - - SPOILER - - SPOILER - - SPOILER -
Henry Hill (Ray Liotta) é um garoto com um único desejo: tornar-se um “alguém“, ser significante, ter uma certa importância. A maneira mais rápida que ele encontra para atingir esse objetivo é juntando-se à máfia local. E, com o passar do tempo, ele consegue o que queria e conquista grande status dentro desse grupo de criminosos, sendo peça-chave para as feituras da gangue.
Scorsese representa a grandeza da máfia através de planos fechados nas roupas luxuosas dos bandidos, em comparação com os demais personagens, seus figurinos evocam superioridade, em quanto que os daqueles de fora do grupo evocam submissão.
Um recurso utilizado pelo diretor foi começar a trama com um flashfoward, causando ansiedade no espectador para o desenvolvimento da história. Outro feito interessante do Scorsese foi o congelamento da tela no auge do momento de adrenalina, acompanhado por uma narração do protagonista (voz crua, sem trilha sonora), causando uma boa mistura de curiosidade e tensão.
Sobre as atuações não há muito o que falar, foram todas belíssimas, destaque ao trio que dá o título do filme. De Niro, mais uma vez, entrega tudo de si para o personagem, um popular e destemido gangster, Joe Pesci interpreta um bandido intolerante e inconsequente (repetindo a excelente química com o De Niro presente em Touro Indomável).
A única falha no filme foi a irregularidade, sendo ora excitante, ora entediante, mas ainda assim, a recomendação é válida.
Tão Forte e Tão Perto
4.0 2,0K Assista Agora- SPOILER - SPOILER- SPOILER - SPOILER - SPOILER - SPOILER- SPOILER - SPOILER- SPOILER - SPOILER- SPOILER - SPOILER- SPOILER - SPOILER- SPOILER - SPOILER- SPOILER - SPOILER- SPOILER - SPOILER
Durante o filme, presenciamos a bonita relação entre pai e filho, Thomas e Oscar, respectivamente. A união e amizade existentes entre eles são tocantes, mas logo ficamos sabendo sobre a morte de Thomas, no 11 de Setembro. A partir dessa tragédia, acompanhamos a busca de Oscar pela caixa que a chave, que ele acreditava que seu pai tinha deixado para ele, abriria.
Tão Forte e Tão Perto possui méritos por abordar abertamente a maior tragédia ocorrida nos E.U.A., mas acaba por explorar demais esse tema, o que causa um certo incômodo. Acreditem, o garoto imprime fotos do pai caindo de uma das Torres Gêmeas, totalmente apelativo e desnecessário.
O filme emociona por narrar a tentativa do protagonista de se reaproximar com o falecido pai, ocasionando um sentimento de pena e compaixão, que são, ao longo do longa, convertidos em ódio, devido à extrema ingratidão e grosseria do garoto para com a mãe e o avô (o inquilino).
Há falhas gritantes no filme, como as ações do protagonista( que são muitas vezes inverossímeis para uma criança de 11 anos), a trilha sonora (que é muito repetitiva), a cena em que o garoto conhece o inquilino e fala sobre sua história (ele fala e nunca se cala, insuportável), o longa trata o espectador como um ser sem o poder da lógica (por que diabos o garoto tinha que dizer que suspeitava que o inquilino era seu avô, quando qualquer pessoa com o mais baixo QI teria certeza de que ele, de fato, era?).
Uma cena, em especial, traz uma metáfora muito profunda e bela sobre o estado da criança após a morte do pai. Um plano detalhe capta o momento em que um vaso cai no chão e se espatifa em dezenas de pedaços, junto com uma trilha sonora muda e ruídos ambientes, simbolizando que o garoto havia sido quebrado, estava incompleto sem a presença paterna.
As atuações de Hanks (Thomas), Bullcock (esposa de Thomas) e Sydow (inquilino) são sempre constantes, acreditamos em suas palavras, sempre que proferidas, e ações, sempre que executadas. Por outro lado, Horn (Oscar), em pequenos trechos, soa surreal e não convence.
Tão Forte e Tão Perto é ambicioso e emocionante, não há dúvidas, mas acaba por beirar o insuportável em muitas partes.
Uma Mente Brilhante
4.3 1,7K Assista AgoraSPOILER - SPOILER - SPOILER - SPOILER - SPOILER - SPOILER - SPOILER - SPOILER - SPOILER - SPOILER - SPOILER - SPOILER - SPOILER - SPOILER - SPOILER - SPOILER - SPOILER - SPOILER - SPOILER - SPOILER - SPOILER - SPOILER - SPOILER - SPOILER -
O longa retrata, mesmo que ocultando muitas coisas, a biografia do matemático John Nash, desde seu tempo na faculdade, sua alucinações, o diagnóstico de esquizofrenia até quando recebeu o Prêmio Nobel.
A narração é bem simples, não há nada de extravagante ou complexo empregado pelo diretor, mesmo que gire em torno de uma pessoa tão profunda e heterogênea como John, o que torna a obra muito mais crível.
Indubitavelmente, as atuações de Russell Crowe (John) e Jennifer Connely (Alicia, esposa do matemático) foram simplesmente brilhantes. A do primeiro por retratar com perfeição um indivíduo denso, inseguro, tímido e egocêntrico (em alguns trechos) e a da segunda por executar uma personagem resistente e potente. Justamente por essas razões, a Alicia é um exemplo de mulher a ser seguido, por ser forte e não fugir dos problemas.
O filme tem como ápice, em teor emocional, não só o momento que John recebe os cumprimentos/reconhecimento por seu trabalho e luta contra a doença, como também o discurso da premiação, onde ele agradece o eterno apoio da amada.
Uma Mente Brilhante é espetacular e deve ser eternizado na memória de cada espectador.
Janela Indiscreta
4.3 1,2K Assista AgoraSPOILER - SPOILER - SPOILER - SPOILER - SPOILER - SPOILER - SPOILER - SPOILER - SPOILER - SPOILER - SPOILER - SPOILER - SPOILER - SPOILER - SPOILER - SPOILER - SPOILER - SPOILER -
O filme narra (pequena) parte do tempo em que o fotógrafo Jeff passou “preso” em seu quarto, recuperando-se de uma perna quebrada. Sem ter para onde ir ou o que fazer, ele passa a observar a rotina de sua vizinhança. O grande suspense da trama começa quando ele suspeita que um de seus vizinhos tenha matado a própria esposa.
Nós, espectadores, sabemos e vimos somente as mesmas coisas que o protagonista, ou seja, não há nenhuma informação apresentada a nós que não seja apresentada também ao fotógrafo. O resultado dessa sacada do Hitchcock é a nossa imersão absoluta na história, parece até que somos seres invisíveis dentro daquele quarto.
Não bastasse a história em si, ainda somos presenteados com belíssimas atuações, sobretudo de Jeff, de sua namorada e do vizinho assassino.
Hitchcock começa o longa com planos gerais, para a apresentação da vizinhança, mas logo depois, quando o protagonista resolve bisbilhotar com um binóculo e uma câmera fotográfica, parte para primeiros planos, para o enfoque do antagonista.
O filme começa a ficar tenso, de fato, da metade até a resolução do caso. Isso mesmo, a partir do meio até os minutos finais a tensão é total, mesmo com uma trilha sonora que, em outras circunstâncias, deveria acalmar os ânimos.
O diretor resolveu dar atenção demais para vizinhos que em nada acrescentaram na história (como a bailarina, o músico e a solitária), mas que, em parte, não deixam de ser necessários para ilustrar uma real vizinhança. Outra coisa que deveria ter sido descartado foi o final muito “perfeitinho”.
Em síntese, Janela Indiscreta é uma obra-prima do cinema, e não é a toa que Alfred Hitchcock, o Rei do Suspense, é um dos maiores diretores da história