Julia de Lacerda

Esse é um ótimo filme sobre como lidamos com nossas dores, com a convivência em uma sociedade conservadora, com valores familiares, sonhos e pesadelos.

O filme CBGB (2013), dirigido por Randall Miller, conta não só a história de um dos bares mais famosos e icônicos do mundo underground, mas também um pouco do início da carreira de nomes que viriam a ser gritados e lembrados por muitos, como Blondie, Iggy Pop, Talking Heads e The Ramones. Só pra citar alguns.

Quando abriu aquele pequeno bar em East Village (NY), Hilly Kristal COM CERTEZA não sabia no que estava de metendo... a começar pelo nome do bar, CBGB significava Country, Bluesgrass and Blues. Tudo o que não tinha lá! Dá pra perceber pelos poucos nomes que citei que tocaram lá, somente naqueles primeiros anos.

A força e coragem de Hilly (da Lisa, do Merv e de todos os outros que mantiveram aquele bar aberto por mais de 30 anos) são importantes e merecem filmes, livros e todas as honras dos que gostam de rock por eles terem aberto as portas para bandas que provavelmente não tocariam em nenhum outro lugar. Por terem incentivado as bandas a saírem de suas tocas (sejam elas em Nova York ou em qualquer outro lugar)...

Mas voltando para o filme, além das referências às bandas que passaram por lá, um personagem merece destaque pelo seu papel no mundo da música. Legs McNeil, que em 1997 escreveu o livro “Please Kill Me” (“Mate-me, por favor” na edição brasileira) contando a história do punk desde os seus primórdios. Que por sinal é um livro que eu ainda quero muito ler.

Apesar de hoje estar fechado, o CBGB continua sendo um ponto de referência para muita gente. Tanto que existem diversos produtos (camisetas, capinhas de celulares etc) com a marca do bar a venda no site oficial.

Esse filme foi lançado na metade da década de 1980, mas ainda hoje é comentado. Um motivo? Ele conta a trágica e turbulenta história de amor de um dos casais mais famosos e autodestrutivos do punk rock: Nancy Spungen e Sid Vicious.

Antes que alguém venha falar que deveriam ter dado mais enfoque ao Sex Pistols e tal. O foco principal do filme é O CASAL e a vida regada a muitas drogas que eles compartilharam. Tanto que a história começa quando eles se conhecem e não quando ele entrou pra banda alguns meses antes, em 1977.

Chloe Webb recebeu alguns prêmios por sua atuação como Nancy e, em alguns lugares, li algumas pessoas reclamando da voz irritante, mas a Nancy era daquele jeito mesmo! É só olhar as entrevistas em que ela aparece. Gary Oldman por outro lado está impecável. Ele encarnou o Sid não só fisicamente, mas também nos trejeitos.

Em quase duas horas de filme, Alex Cox conta o que se passou em pouco menos de um ano dessa relação tumultuada e de como o Sid perdeu tudo graças às drogas. Em alguns momentos o filme parece ficar cansativo, vazio... Mas acredito que essa era a intenção do diretor. Mostrar o quanto a vida dos dois se tornou vazia em meio aquela decadência. Cox utilizou muitas metáforas no decorrer do filme (uma das que eu mais gostei foi a do final, o reencontro dos dois) e infelizmente algumas pessoas (principalmente as que não conhecem a história) não entenderam.

P.S.: Pra quem não conhece a história, o Sid teve uma overdose de heroína e morreu poucos meses depois da Nancy, aos 21 anos.