Fraquíssimo. O filme não consegue aprofundar o núcleo onde um dos irmãos está no Afeganistão e muito menos não consegue desenvolver o drama humano de sua esposa que ficou. Três atores de peso num filme fraco com seguimentos totalmente previsíveis. Fica claro que se não se tem um bom diretor, mesmo o Robert de Niro ou Marlon Brando, de nada isso adiantará.
Nefarious chegou aos cinemas em Abril de 2023 com autoestima elevada, já que o filme tem baixíssimo orçamento, conta com produção independente (e cristã) modesta, atores de cachês menores, porém contam com um roteirista profundamente conhecedor de teologia e mais precisamente demonologia. Além de ser doutrinalmente correto, o elemento roteiro, a meu ver, é o ponto mais alto nesta obra. Corajoso, o filme abraça uma temática espinhosa (aborto, eutanásia, diversidade, ateísmo, etc) e faz refletir nesse tempo de relativizações e narrativas acima de qualquer coisa. Sucesso de público, fracasso para a crítica especializada e nariz torcido por parte da esquerda militante que se viu muito incomodada com o filme, pois como já foi dito e repito, trata-se de uma produção independente e cristã e que alfineta a turma progressista, “wokes” e suas pautas e agendas culturais e políticas. Os produtores são os mesmos do não tão legal “Deus não está morto”, mas em Nefarious a tônica é outra. Trata-se de um filme classificado como terror, mas na prática têm-se nada de sustos, mortes violentas e etc. Não! O filme se vale essencialmente dos diálogos entre o serial killer condenado ao corredor da morte Edward (Sean Patrick Flanery) e o psiquiatra Dr. James (Jordan Belfi) ateu, um típico playboy almofadinha que precisará emitir o laudo de sanidade, ou de loucura, nesse último caso livrando-o da pena de morte. Falando brevemente sobre o desenvolvimento, a trama é simples, contudo o que chama atenção é como a direção quis focar no quanto o demônio pode interferir e manipular as decisões humanas, quando esses imaginam agir no melhor uso de sua liberdade. Enquanto outros filmes sobre exorcismo privilegiam a manipulação da matéria, a coisa do espetáculo, Nefarious insere o expectador dentro da mente demoníaca. Critica o sacerdote moderno de uma teologia equivocada (Teologia da Libertação) que na ocasião usa uma estola colorida (alguma correlação com a bandeira pride?) e que já não mais reconhece a existência do demônio, (tudo carece de uma reinterpretação, nosso entendimento já evolui...) além de ser completamente despreparado pra lidar com um problema daquela magnitude. E segue o debate constante entre Edward e Dr James fazendo com que o espectador não veja o tempo caminhar. No 3º ato o filme consegue fechar a contento. O demônio cumpre o que “prometeu” e a trama caminha pra seu fim. Se por um lado o recém-lançado e fraquíssimo “O exorcista do Papa” incorre em todos os clichês possíveis de filme do mesmo gênero, “Nefarious” assertivamente corre as léguas deles. E ao fugir dos conceitos arcaicos, medievais sobre a manifestação diabólica, aborda a maneira sutil e silenciosa que o demônio deseja operar nesse mundo. O resultado é certeiro, tem-se um filme que na proposta da possessão demoníaca, se aproxima de fato ao que se poderia esperar de raro fenômeno. E de outro - talvez o proposito ainda maior da direção - é de maneira corajosa colocar na mesa os temas densos que vão de encontro aos valores e a moral cristã. Em Nefarious o demônio é vermelho e faz o L com as 2 mãos, todavia a ressalva que faço é que a adesão às ideologias da extrema esquerda não são fruto de uma possessão, opressão ou sujeição demoníaca como sutilmente o filme pode induzir o expectador a crer, mas sim das influências e tentações demoníacas classificadas como ações ordinárias do mal, inclusive vale lembrar a grande sacada de induzir à crença de que ele mesmo não existe. Enfim, Nefarious é um excelente filme naquilo que se propôs. Já quero assistir novamente!
Salva a segunda leva de filmes da MCU. James Gun realmente o cara tem a mão pra fazer a parada decente. Nesse tipo de filmes de premissa super-heróis, conseguiu consertar o erro ao quadrado que foi o Esquadrão Suicida do David Ayer, cria um spin off maravilhoso daí que foi O Pacificador e agora acerta mais uma vez no GG III, de longe o melhor dessa franquia. Divertido, sensível, emocionante e muito redondinho. Filme bem dirigido é outra história!
Para quem foi ao cinema esperando um filme que fizesse uma catequese sobre o tema da demonologia e exorcismo, cheio de coerências com o CIC e o magistério da igreja, lamento informá-lo que a indústria cinematográfica não foge a lógica capitalista e um filme com tais fundamentos levaria às salas de cinema, duas dúzias de católicos interessados no tema. Fracasso de bilheteria é a última coisa que os produtores e estúdios desejam. Trata-se de um filme sobre a vida do padre e não um documentário, aliás esse inclusive existe e chama-se: O Diabo e o padre Amorth (2018), portanto há várias coisas no filme que são aceitáveis sob dois pontos de vista. Primeiro, aponto para a licença poética permitida na arte e segundo, o apelo ao alvoroço demoníaco existente nos filmes de terror com viés sobrenatural, já que o estilo “terror” é muito amplo, sendo “O Exorcista do Papa” melhor enquadrado nesse sub gênero. Muito bem! Há um entendimento consensual entre os padres exorcistas de que os filmes acerca desse tema são caricaturas do que é de fato uma possessão e uma sessão de exorcismo. Pe Fortea, Pe Duarte, Mons Rubens e o próprio Pe Gabriele Amorth cujo qual o filme deseja estampar, convergem nessa ideia. Nas palavras do próprio Pe Amorth, o cinema definitivamente não deu conta de aproximar à realidade daquilo que vem a ser uma possessão e ação do exorcismo. Mesmo o clássico O Exorcista (1974) de Wiliam Friedkin incorre nos mesmos excessos. Possessos que andam na parede como baratas, que arremessam pessoas como Darth Vader, que andam como aranhas etc etc. Essas aleivosias não correspondem à ação demoníaca tal como ela é (me refiro à possessão real, não a presumida ou perturbações psíquicas), mas é o que sempre vai ocorrer em filmes assim porque é o que o público gosta de ver. Não sei quem foi o consultor do Julius Avery que dirige o filme, mas ainda que fosse o padre Pio, de nada adiantaria ele alertar que Deus não conferiu tamanho poder ao demônio e que inclusive mesmo a possessão passa pela sua permissão. Não adianta, sempre haverão estardalhaços! Sobre a trama do filme, há algumas coerências. Por exemplo: Pe Amorth acreditava que existia no Vaticano, infiltrados com a finalidade de ajudar a destruir a igreja de dentro para fora; Também sempre criticou o despreparo dos padres da atualidade em lidar com ocultismo, demonologia, possessão etc; A eficácia das orações simples (pai nosso, ave-maria, credo) alinhada à uma vida de retidão, enfim o filme trouxe elementos sutis assim que achei muito bons. E tudo caminha até OK até a sua metade, mas quando a batalha com o demônio é declarada, nossa quanta parafernália... quanto clichê. Não dá, na boa, perde a mão demais. Russell Crowe, nos entrega um Pe Amorth meia idade, bem humorado, firmão e profundamente conhecedor de seu ofício. Super condizente com o célebre exorcista de Roma, inimigo do demônio. E muito embora ele seja um ator alto nível, sua boa atuação é incapaz de garantir que o filme seja um bom filme, ainda que removendo toda a análise do fundamento católico acerca do tema, olhando apenas o quesito trama, roteiro, etc. Infelizmente o filme não consegue pagar o tributo ao saudoso Pe Amorth, mariólogo por excelência que caiu de paraquedas no ministério do exorcismo e tão lucidamente tratou o tema por tantos anos.
Cheio de problemas de direção, Marte Um pode enganar o expectador pela beleza de um trailer com bons recortes da obra somado à um hype positivo. Calma, isso não será equivalente à experiência do longa. O filme traz muitos problemas de direção. Embora eu tenha a plena convicção de que Marte Um inaugura uma conquista significativa para a comunidade negra brasileira uma vez que ele é o primeiro filme dirigido e protagonizado por elenco predominantemente negro a concorrer premiações mundo afora, o filme soa muito forçado nas questões as quais se propõe. Fica a sensação de que a obra precisa necessariamente se posicionar acima de qualquer coisa. Nesse sentido, a coisa soa forçada, parece que a direção cria situações para por nos holofotes alguma categoria das já faladas minorias: Negritude, LGBTQIA+ etc. Fica meio enfadonho e a trama parece que serve a esse propósito panfletário, só ideologia afirmativa quando não caminha pra um desenvolvimento natural de uma narrativa pensada e dirigida nessa ou naquela direção. Não flui naturalmente como filmes que problematizaram o tema de forma mais sutil e fluida. O filme cria algumas ocasiões e não as desenvolve / fecha de maneira satisfatória. Percebi alguns problemas técnicos também como o áudio dos diálogos que ficaram muito baixos e o volume da trilha/músicas estão altíssimos ou seja, dá a sensação de não ter passado por uma edição acurada. Mesmo em produções de baixo orçamento hoje é muito possível arrumar esses problemas. Por outro lado a direção de imagem é ótima. Enfim, Marte um traz a tona um tema abundantemente abordado na atualidade, porém além de não inovar em nada, o tratamento dado não foi tão feliz a ponto de agradar a grande maioria do público e crítica também já que o filme não concorrerá ao Oscar de melhor filme estrangeiro ao lado por exemplo de Argentina, 1985 do genial Darin.
Sempre que vou assistir algum filme estrangeiro é de costume trazer alguma boa expectativa baseado na minha “mão boa” na escolha de títulos nos últimos anos, porem a escolhe desse filme precisa necessariamente ser uma exceção. Refletir acerca de um assunto delicado como a adoção e ao mesmo tempo linkar com possíveis transtornos de personalidades??? Ambicioso? Talvez, mas você segue pra ver no que vai dar. O filme traz à sua narrativa algo extremamente interessante, mas infelizmente não soube problematizar e escolheu a pior forma de “resolver” a coisa no ato final. E qual será a surpresa do expectador ao perceber que a direção descamba no misticismo, na coisa da lenda urbana. Se fosse algo apenas de passagem, ok afinal, uma mãe pode chegar ao esgotamento e buscar meios improváveis para ajudar seus filhos e esgotará todos os recursos que houverem, mas eu não acreditei quando vi que o filme acabaria daquela maneira. Piegas demais!!! Dando uma conferida rápida nos indicados ao Oscar 2019 em filme estrangeiro ele não estava e de fato não faz o menor sentido ele estar lá, pois naquele ano figuraram ali por exemplo Cafarnaum e ROMA (vencedor) excelentes filmes. Baseado em 85 votos ai no Filmow, o filme tem 3 estrelas. Acho muito generoso! Dou 2 estrelas pela boa atuação da protagonista atriz mirim e pelo idioma alemão maravilhoso de ouvir.
Houveram altos e baixos, sendo que nos baixos, não podemos atribuir a atuação da protagonista que foi sensacional, pois interpretar aquele transtorno não é o mais fácil dos papéis para uma garotinha nova como ela.
Se a ideia for encerrar o terceiro ato como um dos filmes dos irmãos Coen, tudo bem!
Há clichês, o roteiro segue bastante previsível em muitas situações, sobretudo para aqueles que como eu, acompanham SW além do canônico, passeando no universo expandido (games, animação, serie, hq) porém noto que está desproporcional as avaliações e comentários sobre o filme.
Grande filme! Juliano e Kleber foram felizes na produção desse longa. Um verdadeiro tratado sobre resistência. Sobre subexistrir no Nordeste. Como nordestino me sinto ainda mais orgulhoso de saber que esse filme arrebatou um prêmio importantíssimo em Cannes. Roteiro muito bom. Grande filme!!!
Após um hiato de exatos 20 anos, George Miller nos apresenta um novo episódio da então trilogia Mad Max surgida já no final da década de 70. Meu cérebro desatento me fez perguntar a um amigo: Será se é um remake? Mas logo pensei, como poderia ser um remake se foi uma trilogia? Um remake da trilogia seria algo no mínimo estranho. É um reboot, e para quem ainda não sabe o “remake” do inglês, significa refazer, ou releitura e o “reboot” seria reinício/retomada. Enfim, Mad Mad – Fury Road (2015) portanto traz uma nova história, novo enredo e elenco. O título dessa 4ª edição da franquia não é aleatório, mas uma alusão literal à Imperatriz Furiosa (Charlize Theron) que a despeito do que eu poderia imaginar, é a verdadeira protagonista do filme ao passo que Max (Tom Hardy) é seu coadjuvante nessa aventura em meio à muita areia, fogo, carros gigantes e muitos efeitos especiais possibilitados pelos U$ 1.000.000.000 que a Warner Bros. disponibilizou ao australiano e sua equipe. O fato de eu ter assistido dublado no cinema (o anúncio da internet estava errado tanto em horário quanto à linguagem) contribui negativamente já que a dublagem foi péssima. Mas vamos lá. Um show de pirotecnia. Trata-se de um filme de 120min recheado de muita ação. Dos últimos que assisti em 3D até aqui, esse é o que mais promove interação entre o expectador e a telona. Há momentos em que a gente esboça uma esquiva pra não ter o nariz atingido por fragmentos das explosões. Exageros a parte, temos o enredo principal que para evitar maiores spoilers, digo que consiste na reviravolta da Imperatriz Furiosa que lidera um plano em favor de uma causa nobre. Busca pela libertação da submissão e domínio do vilão Joe. A figura do vilão Immortan Joe (Hugh Keays-Byrne) parece representar um pouco do individuo moderno. De aparência intimista, machista e caricato, Joe não perde tempo, faz uso do poder e toca o terror sentado de camarote em seu trono. Através dele, o diretor me parece criticar o fato do homem moderno não poder demostrar a fragilidade ou fraqueza, talvez por isso ele use uma armadura no sentido de mostrar que somos externamente fortes quando na verdade seus adornos e armadura apenas mascaram seu físico em decadência. Não que eu discorde da atividade física que torna a vida mais saudável, mas discuto aqui o exagero dessa geração fitness na busca do corpo perfeito, o culto exagerado ao corpo, hormônios anterior aos neurônios. A contradição do externo de aparência bela e sadia, mas a incapacidade de administrar os afetos, além de aspectos internos e saúde mental frágil. Esnobe e prepotente, Joe quer possuir como propriedade, cinco mulheres e as submete ao extinto cinto de castidade utilizado na idade média. Elas são como matrizes, mulheres para procriar seus filhos. Alguns elementos principais da narrativa se conecta com os filmes anteriores, a questão da escassez da água e o seu monopólio por um só individuo, o reaparecimento do anão, a clássica escopeta do primeiro e por pouco Mel Gibson não apareceu numa cena rápida como um andarilho. Que pena! A parte técnica é muito boa e envolve o expectador naquilo que se propõem. O filme passa rápido dado a intensidade de ação, os diálogos são breves e os embates longos. Outro ponto que achei interessante, embora já abordado inúmeras vezes anteriormente no cinema, foi a questão do fanatismo religioso, mas aqui houve um tom de sarcasmo e viagem. Os soldados de Joe acreditam que após uma morte em batalha, eles irão para o Valhalla comer um Mcbanquete. Reparem a mistura da concepção nórdica de morte associada à do oriente médio ironizando com uma das maiores indústrias de fast food do mundo, o Mc Donald´s. A água também traz essa conotação consumista, pois foi chamada de aqua cola, trazendo a tona a “pretinha” que é outra multi nacional gigantesca produzindo males nos mais inusitados locais desse mundo. Enfim, Fury Road traz um grito feminista em suas entrelinhas. O filme parece ter uma necessidade clara de trazer a mensagem da emancipação feminina e a Imperatriz Furiosa contou com ajuda de um grupo de motoqueiras bem experientes para o triunfo. Tudo isso não me incomodou, muito pelo contrário, foi um dos pontos altos que encontrei no filme. Ousadia do diretor já que a franquia traz no titulo o nome de Max e ele foi secundário no filme. Vale ressaltar que há muitos Immortan Joes em nossa realidade. Só pra citar, recentemente o parlamentar tucano Ademar Traiano (PSDB) postou fotos de seu gabinete da assembleia legislativa do Paraná, onde ele é presidente, ao lado de 3 “assessoras” extremamente belas e as exibe como se fossem troféus. No IMDB, talvez a maior enciclopédia sobre filmes na rede, o Fury Road leva a melhor nota entre todos os Mad Max. Não sou do tipo saudosista, mas eu discordo, prefiro os anteriores e mesmo tentado a inclinar-me pela beleza e talento de Theron, acredito que vale a pena assisti-lo e se não for dublado, melhor ainda. Numa sociedade marcada pela intolerância seja ela de gênero, (a crítica principal é ao comportamento machista) religiosa, política e de qualquer expressão de minorias, Fury Road além de muito entretenimento, endossa nossos limites na labuta com as diferenças.
Quem conhece bem o diretor espanhol Pedro Almodóvar já sabe o que esperar quando o cineasta entra em estúdio, visto que em sua filmografia é comum a busca por temas ácidos, com suas tramas e narrativas incomuns, diferentes daquelas nos moldes “superproduções hollywodyanas”. Em “Piel que habito” (Pele que habito 2011) não é diferente, o que vemos é um filme cheio de incógnitas, tensões e muitas surpresas. A história ocorre em Toledo - Espanha onde o desenvolvimento da narrativa se dá por meio do protagonista Dr. Robert Ledgard (Antônio Bandeiras) um cirurgião plástico que se ingressou num projeto particular para criar uma nova pele mais resistente na tentativa de ajudar sua esposa, visto que ela teve o corpo todo queimado após um acidente de carro. Após certo tempo ele consegue recriar a referida pele, inclusive resistente ao fogo. Em paralelo tem-se Vera (Elena Anaya), sua aparente paciente (mais parecida como uma cobaia humana, posto que ela vive o tempo todo trancada e vigiada na casa do doutor) particular a qual dedica tempo e cuidados. É possível perceber nessa relação certa obsessão de Robert por Vera, uma espécie de fetiche por observá-la, um cuidado exacerbado até então incompreensível que só com o desenrolar da trama vão sendo pouco a pouco explicados. O Dr. Robert ministra conferências e defende a importância de devolver um rosto às pessoas vítimas de queimaduras, parece muito comprometido com a condição humana e suas mazelas, mas no exercício de sua profissão não observa as orientações da bioética, quando utiliza métodos da transgêneses, alterando material genético do porco para adaptá-las ao do ser humano. Muito pior, seus ouvintes não imaginam que ele possui um ser humano num cativeiro pessoal, em cárcere privado de liberdade e de escolhas. Já aqui é possível perceber a busca a qualquer custo pela obtenção dos resultados dos seus interesses particulares, um típico exemplo do exercício do poder. Não deve ter sido mero acaso o fato de Almodóvar ter colocado justamente um médico no protagonista, talvez fosse até intencional para criticar o poder de influência e o próprio prestigio que a eles são atribuídos e que não raro se verifica na postura destes profissionais o autoritarismo e certa prepotência, salvo raras exceções.
As manifestações do poder e Michel Focault em “A pele que habito”
Não são poucas as vezes em que os romances, o teatro ou o cinema extrapolam o ambiente artístico e nos emprestam sentido, ajudando-nos a compreender um pouco da experiência real da vida. Muito bem, Almodóvar parece conceber a arte como meio peculiar de falar sobre o social, tendo como base o biopoder de que nos fala, Michael Focault, em contraponto com o filme “Pele que habito”. Biopoder é um termo criado por Focault para referi-se a prática do poder e a sua regulação daqueles que a ele estão sujeitos (1995). Poder esse que parece buscar a qualquer custo Dr. Robert, aliados ao desejo de vingança, fetichismo erótico e pretensões profissionais sem limites. O personagem demonstra um vazio interior, uma frieza diante da vida que em partes se justifica por seus problemas, tais como as perdas trágicas de sua esposa e filha. Assim, sua vida consistia em atividades como as práticas cirúrgicas, ou fazer sua pele artificial, como se dela pudesse recriar sua esposa morta, uma espécie de criação de prêmio sobre o que ele pode ver e manipular. É possível identificar no filme exemplo do poder disciplinar, isto é, a separação dos corpos, a busca pelo ordenamento pelos mecanismos do controle através do poder como nos orienta Moreira (2002). Outra coisa interessante é a possibilidade de fazer até mesmo uma alegoria entre a forma com que Vera foi aprisionada, monitorada e controlada no laboratório secreto na residência do Dr. Robert e a forma similar de aprisionamento dos corpos a que os indivíduos são submetidos no contexto do cotidiano institucional. Mondrado em seu artigo “O corpo enquanto primeiro território (...)“ salienta o poder enquanto elemento fundamental na relação corpo e na relação com a perspectiva do território que impõe fronteiras de domínio e disciplinarização; disciplina do corpo e fronteiras de agenciamento das relações; mobilidade do corpo e controle territorial das relações através da sociedade de segurança. No filme, a personagem Vera vive exatamente a ideia supracitada, uma espécie de instituição total, na qual seu corpo subjetivo é controlado através da limitação do território que ela foi submetida. Além disso, não tem autonomia alguma sobre sua rotina. Vale ressaltar ainda que ela antes de ser raptada pelo Dr. Robert era uma pessoa do sexo masculino chamado Vicente, que foi submetido contra a sua vontade a uma cirurgia de mudança de sexo, nesse caso Vera então perde toda sua subjetividade, tendo que viver e agir como uma pessoa do sexo oposto. No filme também encontramos outra forma de poder apresentada por Focault, que é o poder sob a forma do controle mais sutil e permissível que se manifesta no momento em que Dr. Robert, para fazer com que seu experimento tenha êxito instrui comportamentos para Vera e a faz acreditar que se comportar ou não de determinada forma é a melhor opção para ela. Novamente ressaltando a ideia do biopoder, o filme nos mostra certo momento no qual o médico tenta através de seu discurso nas conferências, popularizar e fazer com que os outros médicos aprovem a pele inventada por ele, o que conota uma forma de controle da vida, porque se ele consegue popularizar sua ideia e consequentemente “mutar” as pessoas, ele conseguirá de certa forma manipular as massas, pois se você cria algo que possibilita a mudança da aparência ou mesmo uma pele com “super poderes”, você estará conseguindo controlar a vida das pessoas, assim como suas expectativas, desejos e vontades. Até mesmo interrompendo o ciclo natural de vida e morte. Por certo a disseminação da ideia não seria difícil, assim ela não seria utilizada apenas por pessoas que sofreram queimaduras e etc., mas por pessoas que iriam querer ter uma pele mais resistente e rapidamente esta seria mais um bem de consumo que seria desejado e comprado por pessoas de alto poder aquisitivo. Outra inferência possível que o próprio título do filme sugere é o domínio na dimensão psicológica do individuo, o terror da consciência humana por habitar um corpo/pele que não lhe pertence, ressaltando novamente a relação de poder em consonância com uma punição inadvertida a Vera, pois ela estará para sempre presa tanto física quanto mentalmente. Os dez últimos minutos que antecedem o final do filme são geniais. São neles que serão explicadas todas ou quase todas as interrogações deixadas ao longo do filme. A surpresa de que Vera era na verdade Vicente que no passado estuprou a filha de Dr. Robert; o trágico fim do Dr. sendo assassinado por Vera; enfim sua fuga do cativeiro e a revelação quando retorna à sua casa ao encontro de sua mãe irmã onde o filme se encerra com a dramática frase de Vera: “Eu sou Vicente!” O fato de ser o filme “A pele que habito” uma adaptação do romance “Myguale” 1995 - publicado em português sob o titulo ‘Tarantula’ do escritor francês Thierry Jonquet (1954-2009) - para o cinema, só o torna ainda mais original e profundo. Uma verdadeira reflexão sobre o quanto relativizamos o conceito de moral e ética de liberdade e escolhas, de como as manipulamos de modo a adequá-las justificando nossos interesses individuais, nossa sede de poder, nossa busca pela possibilidade de domínios, da insubordinação mascarando nossas imperfeições e a limitada capacidade de lidar com a ideia de igualdades e semelhanças.
Já estava mais do que na hora de algum diretor abordar seriamente a temática da massiva invasão das redes sociais sobre as nossas vidas. Invasão mesmo, pois muitas vezes elas ocorreram sem que a desejássemos e a sua inserção em nosso meio, tem roubado cada vez mais o verdadeiro espaço social, sedenta pela substituição das relações humanas pelas virtuais. O que vemos em “Ela” (Her - 2013) por mais absurdo que possa parecer, é o caminho a que se chegar, dadas as circunstâncias, ou pelo andar da carruagem, no popular! Nós não estamos longe de protagonizar na vida “real” o que tão bem foi captado sobre o comando de Spike Jonze que o dirigiu. Logo de início o espectador leva “um tapa na cara” quando percebe que Theodore (Joaquim Phoenix) é um escritor cujo emprego consiste em enviar cartas amorosas pra quem quer que seja desde que se pague por elas. Isto é, as pessoas por conveniência necessitam expressar sentimentos e através de cartas, parece trabalhoso demais, mas a Cartasescritasamão.com faz isso por você. Observa-se aí banalização dos afetos ou pior, a comercialização deles. Não se sabe nem quando nem onde se passam aqueles maravilhosos 126 minutos, provavelmente num futuro próximo. O tratamento dado à trama parece ter outras prioridades além dessas, onde o centro dela é a relação do protagonista Theodore (Joaquim Phoenix) com um sistema operacional OS1, atendendo pelo nome de Samantha (Scarlett Johansson) que dispõe de inteligência artificial. Relação essa que se iniciará com pouco mais de 12 minutos de início do filme dando começo à história de interatividade entre o futuro “casal”. Encontros virtuais, declarações virtuais, passeios virtuais, e pasmem, relações sexuais virtuais. Assim é definido o namoro de Theodore, onde este tendo falhado em seu casamento anterior não virtual com Catherine (Rooney Mara) por motivos desconhecidos, optou por estabelecer com Samantha relações conjugais. É quase que nulo o contato físico entre as pessoas mostradas neste filme, sempre que aparecem são mostradas interagindo com seus dispositivos. Outra curiosidade é que em outros filmes com similar abordaram tais como “Eu robô” e “I.A.” etc é comum mostrarem as máquinas na busca pelo poder e consequentemente, dominação sobre a condição humana. Neste, é comum seu inverso. O interesse obsessivo das pessoas pela interatividade com a inteligência artificial, parece uma preferência humana. No quesito técnico, a fotografia é bem coerente com a posposta fílmica, a infra-estrutura urbana é espetacular, percebi até uma conexão entre a arquitetura mostrada e a própria interface dos sistemas operacionais, as cores e os formatos nos remetem a janelas, coisa bem intencional, próxima dos computadores mesmo, no entanto o céu é sempre cinza o ar é embaçado por uma névoa talvez no intuito de mostrar os efeitos da negligência quanto aos cuidados ambientais, sustentabilidade etc. A trilha sonora é discreta e fundamental pra dar a atmosfera adequada ao filme. Os últimos 20 minutos do filme são geniais, o desfecho é também muito reflexivo, mas pra não deixar maiores spoilers aqui, deixo que vocês vejam por si.
É possível analisar “Ela” do ponto de vista Psicológico, e do Filosófico então pode-se escrever um livro. Carlos Drumond já nos alertava que o amor acontece a medida que o permitimos, que ele é menos teoria e mais vivência. Se o sentimento é algo genuinamente humano, não sendo possível experimentá-lo sobre outra condição qual o sentido da relação máquina e humano? Ironia é quando um sistema operacional refere a si como tendo DNA, sentimentos e emoções. Samantha usa mecanismo de defesa (racionalização pra ser mais específico) o tempo todo para justificar suas limitações enquanto OS, relativiza tudo quando se depara com o óbvio, é um sistema, não um ser humano. Irônico e contraditório eu diria, pois tenta imitar características típicas dos humanos como o suspiro, por exemplo, é absurdo e desnecessário. Chega um determinado momento em que podemos nos questionar: Por que o óbvio não acontece? Por que Theodore simplesmente não aperta o botão “delete”, “reset” ou “reboot” whatever? Será se chegará determinado momento em que não vamos mais distinguir o real do virtual? A liquidez de que nos fala Zygmunt Bauman se faz muito presente aqui. Seria imprudente negar, ou mesmo subestimar, a profunda mudança que o advento da modernidade fluida produziu na condição humana. B. Zygmunt (1999). “Ela” é o retrato fiel da sociedade moderna, leve liquida e fluida que vive o ápice do seu colapso no que concerne os sentimentos. O adoecimento dos afetos, a fragilidade extrema aliada à super limitada ou inexistente habilidade de lidar com as relações humanas. Uma brilhante critica ao comportamento atual. Theodore é melancólico e demonstra pouco equilíbrio emocional. Preferiu um relacionamento com um sistema operacional a um real, observe mais outra critica ao jeito preguiçoso que temos assumido cada vez mais, a lei do mínimo esforço que se aplica a tudo na vida, agora sendo também aplicada à administração dos afetos. Trocar o virtual pelo real já que ninguém provavelmente irá querer pagar o preço e as dores características que qualquer parceria sofre. Longe de mim a hipocrisia. Faço uso das redes sócias, inclusive agora, assim como smartphones, headsets, mp4, notebook etc, mas pra mim nada substitui o tête-à-tête. A conclusão que chego é que nós teremos muito trabalho pela frente, uma humanidade adoecida psiquicamente há de necessitar do amparo da psicologia, mas isso só será possível, é claro, se nós não estivermos tão ocupados com nossos watsapps, facebooks, instagram, twitters e afins, inclusive durantes as aulas.
Acabo de assistir ao filme “Moneyball” (O homem que mudou o jogo) e ainda envolto pela emoção a que ele me remete, eu gostaria de indicá-lo O filme traz a tona a questão da adaptação, o dilema da tomada das decisões difíceis e inclusive a perseverança nelas. Nunca é demais assistir atuações acima da média correto? Pois bem, Brad Pit, Phillip Seymour Hoffman e Johan Hill fazem parte do elenco e mostram porque o filme concorreu ao oscar em 3 categorias, melhor filme, ator, e ator coadjuvante. A narrativa é muito boa mesmo, tinha tudo pra ser maçante com essa onda do baseboll, porém o diretor faz refletir nas entrelinhas... Legal a participação de Joe Satriani tocando o hino, enaltecendo o patriotismo deste povo, mas é massa perceber algo em comum como a distorção linda da guitarra dele. Enfim, filme acima da média em minha opinião.
Comprar Ingressos
Este site usa cookies para oferecer a melhor experiência possível. Ao navegar em nosso site, você concorda com o uso de cookies.
Se você precisar de mais informações e / ou não quiser que os cookies sejam colocados ao usar o site, visite a página da Política de Privacidade.
Entre Irmãos
3.6 966 Assista AgoraFraquíssimo. O filme não consegue aprofundar o núcleo onde um dos irmãos está no Afeganistão e muito menos não consegue desenvolver o drama humano de sua esposa que ficou. Três atores de peso num filme fraco com seguimentos totalmente previsíveis.
Fica claro que se não se tem um bom diretor, mesmo o Robert de Niro ou Marlon Brando, de nada isso adiantará.
Nefasto
3.4 202 Assista AgoraNefarious chegou aos cinemas em Abril de 2023 com autoestima elevada, já que o filme tem baixíssimo orçamento, conta com produção independente (e cristã) modesta, atores de cachês menores, porém contam com um roteirista profundamente conhecedor de teologia e mais precisamente demonologia. Além de ser doutrinalmente correto, o elemento roteiro, a meu ver, é o ponto mais alto nesta obra. Corajoso, o filme abraça uma temática espinhosa (aborto, eutanásia, diversidade, ateísmo, etc) e faz refletir nesse tempo de relativizações e narrativas acima de qualquer coisa.
Sucesso de público, fracasso para a crítica especializada e nariz torcido por parte da esquerda militante que se viu muito incomodada com o filme, pois como já foi dito e repito, trata-se de uma produção independente e cristã e que alfineta a turma progressista, “wokes” e suas pautas e agendas culturais e políticas. Os produtores são os mesmos do não tão legal “Deus não está morto”, mas em Nefarious a tônica é outra. Trata-se de um filme classificado como terror, mas na prática têm-se nada de sustos, mortes violentas e etc. Não! O filme se vale essencialmente dos diálogos entre o serial killer condenado ao corredor da morte Edward (Sean Patrick Flanery) e o psiquiatra Dr. James (Jordan Belfi) ateu, um típico playboy almofadinha que precisará emitir o laudo de sanidade, ou de loucura, nesse último caso livrando-o da pena de morte.
Falando brevemente sobre o desenvolvimento, a trama é simples, contudo o que chama atenção é como a direção quis focar no quanto o demônio pode interferir e manipular as decisões humanas, quando esses imaginam agir no melhor uso de sua liberdade. Enquanto outros filmes sobre exorcismo privilegiam a manipulação da matéria, a coisa do espetáculo, Nefarious insere o expectador dentro da mente demoníaca.
Critica o sacerdote moderno de uma teologia equivocada (Teologia da Libertação) que na ocasião usa uma estola colorida (alguma correlação com a bandeira pride?) e que já não mais reconhece a existência do demônio, (tudo carece de uma reinterpretação, nosso entendimento já evolui...) além de ser completamente despreparado pra lidar com um problema daquela magnitude.
E segue o debate constante entre Edward e Dr James fazendo com que o espectador não veja o tempo caminhar.
No 3º ato o filme consegue fechar a contento. O demônio cumpre o que “prometeu” e a trama caminha pra seu fim.
Se por um lado o recém-lançado e fraquíssimo “O exorcista do Papa” incorre em todos os clichês possíveis de filme do mesmo gênero, “Nefarious” assertivamente corre as léguas deles. E ao fugir dos conceitos arcaicos, medievais sobre a manifestação diabólica, aborda a maneira sutil e silenciosa que o demônio deseja operar nesse mundo. O resultado é certeiro, tem-se um filme que na proposta da possessão demoníaca, se aproxima de fato ao que se poderia esperar de raro fenômeno. E de outro - talvez o proposito ainda maior da direção - é de maneira corajosa colocar na mesa os temas densos que vão de encontro aos valores e a moral cristã. Em Nefarious o demônio é vermelho e faz o L com as 2 mãos, todavia a ressalva que faço é que a adesão às ideologias da extrema esquerda não são fruto de uma possessão, opressão ou sujeição demoníaca como sutilmente o filme pode induzir o expectador a crer, mas sim das influências e tentações demoníacas classificadas como ações ordinárias do mal, inclusive vale lembrar a grande sacada de induzir à crença de que ele mesmo não existe.
Enfim, Nefarious é um excelente filme naquilo que se propôs. Já quero assistir novamente!
Guardiões da Galáxia: Vol. 3
4.2 800 Assista AgoraSalva a segunda leva de filmes da MCU. James Gun realmente o cara tem a mão pra fazer a parada decente. Nesse tipo de filmes de premissa super-heróis, conseguiu consertar o erro ao quadrado que foi o Esquadrão Suicida do David Ayer, cria um spin off maravilhoso daí que foi O Pacificador e agora acerta mais uma vez no GG III, de longe o melhor dessa franquia.
Divertido, sensível, emocionante e muito redondinho. Filme bem dirigido é outra história!
O Exorcista do Papa
2.8 354 Assista AgoraPara quem foi ao cinema esperando um filme que fizesse uma catequese sobre o tema da demonologia e exorcismo, cheio de coerências com o CIC e o magistério da igreja, lamento informá-lo que a indústria cinematográfica não foge a lógica capitalista e um filme com tais fundamentos levaria às salas de cinema, duas dúzias de católicos interessados no tema. Fracasso de bilheteria é a última coisa que os produtores e estúdios desejam.
Trata-se de um filme sobre a vida do padre e não um documentário, aliás esse inclusive existe e chama-se: O Diabo e o padre Amorth (2018), portanto há várias coisas no filme que são aceitáveis sob dois pontos de vista. Primeiro, aponto para a licença poética permitida na arte e segundo, o apelo ao alvoroço demoníaco existente nos filmes de terror com viés sobrenatural, já que o estilo “terror” é muito amplo, sendo “O Exorcista do Papa” melhor enquadrado nesse sub gênero.
Muito bem! Há um entendimento consensual entre os padres exorcistas de que os filmes acerca desse tema são caricaturas do que é de fato uma possessão e uma sessão de exorcismo. Pe Fortea, Pe Duarte, Mons Rubens e o próprio Pe Gabriele Amorth cujo qual o filme deseja estampar, convergem nessa ideia.
Nas palavras do próprio Pe Amorth, o cinema definitivamente não deu conta de aproximar à realidade daquilo que vem a ser uma possessão e ação do exorcismo. Mesmo o clássico O Exorcista (1974) de Wiliam Friedkin incorre nos mesmos excessos. Possessos que andam na parede como baratas, que arremessam pessoas como Darth Vader, que andam como aranhas etc etc. Essas aleivosias não correspondem à ação demoníaca tal como ela é (me refiro à possessão real, não a presumida ou perturbações psíquicas), mas é o que sempre vai ocorrer em filmes assim porque é o que o público gosta de ver. Não sei quem foi o consultor do Julius Avery que dirige o filme, mas ainda que fosse o padre Pio, de nada adiantaria ele alertar que Deus não conferiu tamanho poder ao demônio e que inclusive mesmo a possessão passa pela sua permissão. Não adianta, sempre haverão estardalhaços!
Sobre a trama do filme, há algumas coerências. Por exemplo: Pe Amorth acreditava que existia no Vaticano, infiltrados com a finalidade de ajudar a destruir a igreja de dentro para fora; Também sempre criticou o despreparo dos padres da atualidade em lidar com ocultismo, demonologia, possessão etc; A eficácia das orações simples (pai nosso, ave-maria, credo) alinhada à uma vida de retidão, enfim o filme trouxe elementos sutis assim que achei muito bons. E tudo caminha até OK até a sua metade, mas quando a batalha com o demônio é declarada, nossa quanta parafernália... quanto clichê. Não dá, na boa, perde a mão demais.
Russell Crowe, nos entrega um Pe Amorth meia idade, bem humorado, firmão e profundamente conhecedor de seu ofício. Super condizente com o célebre exorcista de Roma, inimigo do demônio. E muito embora ele seja um ator alto nível, sua boa atuação é incapaz de garantir que o filme seja um bom filme, ainda que removendo toda a análise do fundamento católico acerca do tema, olhando apenas o quesito trama, roteiro, etc.
Infelizmente o filme não consegue pagar o tributo ao saudoso Pe Amorth, mariólogo por excelência que caiu de paraquedas no ministério do exorcismo e tão lucidamente tratou o tema por tantos anos.
Marte Um
4.1 301 Assista AgoraCheio de problemas de direção, Marte Um pode enganar o expectador pela beleza de um trailer com bons recortes da obra somado à um hype positivo.
Calma, isso não será equivalente à experiência do longa. O filme traz muitos problemas de direção. Embora eu tenha a plena convicção de que Marte Um inaugura uma conquista significativa para a comunidade negra brasileira uma vez que ele é o primeiro filme dirigido e protagonizado por elenco predominantemente negro a concorrer premiações mundo afora, o filme soa muito forçado nas questões as quais se propõe.
Fica a sensação de que a obra precisa necessariamente se posicionar acima de qualquer coisa. Nesse sentido, a coisa soa forçada, parece que a direção cria situações para por nos holofotes alguma categoria das já faladas minorias: Negritude, LGBTQIA+ etc. Fica meio enfadonho e a trama parece que serve a esse propósito panfletário, só ideologia afirmativa quando não caminha pra um desenvolvimento natural de uma narrativa pensada e dirigida nessa ou naquela direção. Não flui naturalmente como filmes que problematizaram o tema de forma mais sutil e fluida.
O filme cria algumas ocasiões e não as desenvolve / fecha de maneira satisfatória. Percebi alguns problemas técnicos também como o áudio dos diálogos que ficaram muito baixos e o volume da trilha/músicas estão altíssimos ou seja, dá a sensação de não ter passado por uma edição acurada. Mesmo em produções de baixo orçamento hoje é muito possível arrumar esses problemas. Por outro lado a direção de imagem é ótima.
Enfim, Marte um traz a tona um tema abundantemente abordado na atualidade, porém além de não inovar em nada, o tratamento dado não foi tão feliz a ponto de agradar a grande maioria do público e crítica também já que o filme não concorrerá ao Oscar de melhor filme estrangeiro ao lado por exemplo de Argentina, 1985 do genial Darin.
O Grande Silêncio
4.2 4Espetacular!!!
Sangue de Pelicano
3.0 31 Assista AgoraSempre que vou assistir algum filme estrangeiro é de costume trazer alguma boa expectativa baseado na minha “mão boa” na escolha de títulos nos últimos anos, porem a escolhe desse filme precisa necessariamente ser uma exceção.
Refletir acerca de um assunto delicado como a adoção e ao mesmo tempo linkar com possíveis transtornos de personalidades??? Ambicioso? Talvez, mas você segue pra ver no que vai dar.
O filme traz à sua narrativa algo extremamente interessante, mas infelizmente não soube problematizar e escolheu a pior forma de “resolver” a coisa no ato final. E qual será a surpresa do expectador ao perceber que a direção descamba no misticismo, na coisa da lenda urbana. Se fosse algo apenas de passagem, ok afinal, uma mãe pode chegar ao esgotamento e buscar meios improváveis para ajudar seus filhos e esgotará todos os recursos que houverem, mas eu não acreditei quando vi que o filme acabaria daquela maneira. Piegas demais!!!
Dando uma conferida rápida nos indicados ao Oscar 2019 em filme estrangeiro ele não estava e de fato não faz o menor sentido ele estar lá, pois naquele ano figuraram ali por exemplo Cafarnaum e ROMA (vencedor) excelentes filmes.
Baseado em 85 votos ai no Filmow, o filme tem 3 estrelas. Acho muito generoso!
Dou 2 estrelas pela boa atuação da protagonista atriz mirim e pelo idioma alemão maravilhoso de ouvir.
Transtorno Explosivo
4.0 158 Assista AgoraEm minha opinião o final não foi a contento.
Houveram altos e baixos, sendo que nos baixos, não podemos atribuir a atuação da protagonista que foi sensacional, pois interpretar aquele transtorno não é o mais fácil dos papéis para uma garotinha nova como ela.
Se a ideia for encerrar o terceiro ato como um dos filmes dos irmãos Coen, tudo bem!
Star Wars, Episódio IX: A Ascensão Skywalker
3.2 1,3K Assista AgoraHá clichês, o roteiro segue bastante previsível em muitas situações, sobretudo para aqueles que como eu, acompanham SW além do canônico, passeando no universo expandido (games, animação, serie, hq) porém noto que está desproporcional as avaliações e comentários sobre o filme.
Terra de Minas
4.2 260 Assista AgoraMaravilhoso!!!
Bacurau
4.3 2,7K Assista AgoraGrande filme! Juliano e Kleber foram felizes na produção desse longa.
Um verdadeiro tratado sobre resistência. Sobre subexistrir no Nordeste.
Como nordestino me sinto ainda mais orgulhoso de saber que esse filme arrebatou um prêmio importantíssimo em Cannes.
Roteiro muito bom.
Grande filme!!!
Cafarnaum
4.6 673 Assista AgoraApós o desastre da experiência de ver a Capitã Marvel no cinema, esse filme devolveu minha dignidade cinéfila de volta.
Sensacional!!!
Mad Max: Estrada da Fúria
4.2 4,7K Assista AgoraApós um hiato de exatos 20 anos, George Miller nos apresenta um novo episódio da então trilogia Mad Max surgida já no final da década de 70. Meu cérebro desatento me fez perguntar a um amigo: Será se é um remake? Mas logo pensei, como poderia ser um remake se foi uma trilogia? Um remake da trilogia seria algo no mínimo estranho. É um reboot, e para quem ainda não sabe o “remake” do inglês, significa refazer, ou releitura e o “reboot” seria reinício/retomada.
Enfim, Mad Mad – Fury Road (2015) portanto traz uma nova história, novo enredo e elenco.
O título dessa 4ª edição da franquia não é aleatório, mas uma alusão literal à Imperatriz Furiosa (Charlize Theron) que a despeito do que eu poderia imaginar, é a verdadeira protagonista do filme ao passo que Max (Tom Hardy) é seu coadjuvante nessa aventura em meio à muita areia, fogo, carros gigantes e muitos efeitos especiais possibilitados pelos U$ 1.000.000.000 que a Warner Bros. disponibilizou ao australiano e sua equipe.
O fato de eu ter assistido dublado no cinema (o anúncio da internet estava errado tanto em horário quanto à linguagem) contribui negativamente já que a dublagem foi péssima. Mas vamos lá.
Um show de pirotecnia. Trata-se de um filme de 120min recheado de muita ação. Dos últimos que assisti em 3D até aqui, esse é o que mais promove interação entre o expectador e a telona. Há momentos em que a gente esboça uma esquiva pra não ter o nariz atingido por fragmentos das explosões. Exageros a parte, temos o enredo principal que para evitar maiores spoilers, digo que consiste na reviravolta da Imperatriz Furiosa que lidera um plano em favor de uma causa nobre. Busca pela libertação da submissão e domínio do vilão Joe.
A figura do vilão Immortan Joe (Hugh Keays-Byrne) parece representar um pouco do individuo moderno. De aparência intimista, machista e caricato, Joe não perde tempo, faz uso do poder e toca o terror sentado de camarote em seu trono. Através dele, o diretor me parece criticar o fato do homem moderno não poder demostrar a fragilidade ou fraqueza, talvez por isso ele use uma armadura no sentido de mostrar que somos externamente fortes quando na verdade seus adornos e armadura apenas mascaram seu físico em decadência. Não que eu discorde da atividade física que torna a vida mais saudável, mas discuto aqui o exagero dessa geração fitness na busca do corpo perfeito, o culto exagerado ao corpo, hormônios anterior aos neurônios. A contradição do externo de aparência bela e sadia, mas a incapacidade de administrar os afetos, além de aspectos internos e saúde mental frágil. Esnobe e prepotente, Joe quer possuir como propriedade, cinco mulheres e as submete ao extinto cinto de castidade utilizado na idade média. Elas são como matrizes, mulheres para procriar seus filhos.
Alguns elementos principais da narrativa se conecta com os filmes anteriores, a questão da escassez da água e o seu monopólio por um só individuo, o reaparecimento do anão, a clássica escopeta do primeiro e por pouco Mel Gibson não apareceu numa cena rápida como um andarilho. Que pena!
A parte técnica é muito boa e envolve o expectador naquilo que se propõem. O filme passa rápido dado a intensidade de ação, os diálogos são breves e os embates longos.
Outro ponto que achei interessante, embora já abordado inúmeras vezes anteriormente no cinema, foi a questão do fanatismo religioso, mas aqui houve um tom de sarcasmo e viagem. Os soldados de Joe acreditam que após uma morte em batalha, eles irão para o Valhalla comer um Mcbanquete. Reparem a mistura da concepção nórdica de morte associada à do oriente médio ironizando com uma das maiores indústrias de fast food do mundo, o Mc Donald´s.
A água também traz essa conotação consumista, pois foi chamada de aqua cola, trazendo a tona a “pretinha” que é outra multi nacional gigantesca produzindo males nos mais inusitados locais desse mundo.
Enfim, Fury Road traz um grito feminista em suas entrelinhas. O filme parece ter uma necessidade clara de trazer a mensagem da emancipação feminina e a Imperatriz Furiosa contou com ajuda de um grupo de motoqueiras bem experientes para o triunfo. Tudo isso não me incomodou, muito pelo contrário, foi um dos pontos altos que encontrei no filme. Ousadia do diretor já que a franquia traz no titulo o nome de Max e ele foi secundário no filme.
Vale ressaltar que há muitos Immortan Joes em nossa realidade. Só pra citar, recentemente o parlamentar tucano Ademar Traiano (PSDB) postou fotos de seu gabinete da assembleia legislativa do Paraná, onde ele é presidente, ao lado de 3 “assessoras” extremamente belas e as exibe como se fossem troféus.
No IMDB, talvez a maior enciclopédia sobre filmes na rede, o Fury Road leva a melhor nota entre todos os Mad Max. Não sou do tipo saudosista, mas eu discordo, prefiro os anteriores e mesmo tentado a inclinar-me pela beleza e talento de Theron, acredito que vale a pena assisti-lo e se não for dublado, melhor ainda.
Numa sociedade marcada pela intolerância seja ela de gênero, (a crítica principal é ao comportamento machista) religiosa, política e de qualquer expressão de minorias, Fury Road além de muito entretenimento, endossa nossos limites na labuta com as diferenças.
A Pele que Habito
4.2 5,1K Assista AgoraQuem conhece bem o diretor espanhol Pedro Almodóvar já sabe o que esperar quando o cineasta entra em estúdio, visto que em sua filmografia é comum a busca por temas ácidos, com suas tramas e narrativas incomuns, diferentes daquelas nos moldes “superproduções hollywodyanas”. Em “Piel que habito” (Pele que habito 2011) não é diferente, o que vemos é um filme cheio de incógnitas, tensões e muitas surpresas. A história ocorre em Toledo - Espanha onde o desenvolvimento da narrativa se dá por meio do protagonista Dr. Robert Ledgard (Antônio Bandeiras) um cirurgião plástico que se ingressou num projeto particular para criar uma nova pele mais resistente na tentativa de ajudar sua esposa, visto que ela teve o corpo todo queimado após um acidente de carro. Após certo tempo ele consegue recriar a referida pele, inclusive resistente ao fogo. Em paralelo tem-se Vera (Elena Anaya), sua aparente paciente (mais parecida como uma cobaia humana, posto que ela vive o tempo todo trancada e vigiada na casa do doutor) particular a qual dedica tempo e cuidados. É possível perceber nessa relação certa obsessão de Robert por Vera, uma espécie de fetiche por observá-la, um cuidado exacerbado até então incompreensível que só com o desenrolar da trama vão sendo pouco a pouco explicados.
O Dr. Robert ministra conferências e defende a importância de devolver um rosto às pessoas vítimas de queimaduras, parece muito comprometido com a condição humana e suas mazelas, mas no exercício de sua profissão não observa as orientações da bioética, quando utiliza métodos da transgêneses, alterando material genético do porco para adaptá-las ao do ser humano. Muito pior, seus ouvintes não imaginam que ele possui um ser humano num cativeiro pessoal, em cárcere privado de liberdade e de escolhas. Já aqui é possível perceber a busca a qualquer custo pela obtenção dos resultados dos seus interesses particulares, um típico exemplo do exercício do poder.
Não deve ter sido mero acaso o fato de Almodóvar ter colocado justamente um médico no protagonista, talvez fosse até intencional para criticar o poder de influência e o próprio prestigio que a eles são atribuídos e que não raro se verifica na postura destes profissionais o autoritarismo e certa prepotência, salvo raras exceções.
As manifestações do poder e Michel Focault em “A pele que habito”
Não são poucas as vezes em que os romances, o teatro ou o cinema extrapolam o ambiente artístico e nos emprestam sentido, ajudando-nos a compreender um pouco da experiência real da vida. Muito bem, Almodóvar parece conceber a arte como meio peculiar de falar sobre o social, tendo como base o biopoder de que nos fala, Michael Focault, em contraponto com o filme “Pele que habito”.
Biopoder é um termo criado por Focault para referi-se a prática do poder e a sua regulação daqueles que a ele estão sujeitos (1995).
Poder esse que parece buscar a qualquer custo Dr. Robert, aliados ao desejo de vingança, fetichismo erótico e pretensões profissionais sem limites. O personagem demonstra um vazio interior, uma frieza diante da vida que em partes se justifica por seus problemas, tais como as perdas trágicas de sua esposa e filha. Assim, sua vida consistia em atividades como as práticas cirúrgicas, ou fazer sua pele artificial, como se dela pudesse recriar sua esposa morta, uma espécie de criação de prêmio sobre o que ele pode ver e manipular.
É possível identificar no filme exemplo do poder disciplinar, isto é, a separação dos corpos, a busca pelo ordenamento pelos mecanismos do controle através do poder como nos orienta Moreira (2002). Outra coisa interessante é a possibilidade de fazer até mesmo uma alegoria entre a forma com que Vera foi aprisionada, monitorada e controlada no laboratório secreto na residência do Dr. Robert e a forma similar de aprisionamento dos corpos a que os indivíduos são submetidos no contexto do cotidiano institucional.
Mondrado em seu artigo “O corpo enquanto primeiro território (...)“ salienta o poder enquanto elemento fundamental na relação corpo e na relação com a perspectiva do território que impõe fronteiras de domínio e disciplinarização; disciplina do corpo e fronteiras de agenciamento das relações; mobilidade do corpo e controle territorial das relações através da sociedade de segurança.
No filme, a personagem Vera vive exatamente a ideia supracitada, uma espécie de instituição total, na qual seu corpo subjetivo é controlado através da limitação do território que ela foi submetida. Além disso, não tem autonomia alguma sobre sua rotina. Vale ressaltar ainda que ela antes de ser raptada pelo Dr. Robert era uma pessoa do sexo masculino chamado Vicente, que foi submetido contra a sua vontade a uma cirurgia de mudança de sexo, nesse caso Vera então perde toda sua subjetividade, tendo que viver e agir como uma pessoa do sexo oposto.
No filme também encontramos outra forma de poder apresentada por Focault, que é o poder sob a forma do controle mais sutil e permissível que se manifesta no momento em que Dr. Robert, para fazer com que seu experimento tenha êxito instrui comportamentos para Vera e a faz acreditar que se comportar ou não de determinada forma é a melhor opção para ela.
Novamente ressaltando a ideia do biopoder, o filme nos mostra certo momento no qual o médico tenta através de seu discurso nas conferências, popularizar e fazer com que os outros médicos aprovem a pele inventada por ele, o que conota uma forma de controle da vida, porque se ele consegue popularizar sua ideia e consequentemente “mutar” as pessoas, ele conseguirá de certa forma manipular as massas, pois se você cria algo que possibilita a mudança da aparência ou mesmo uma pele com “super poderes”, você estará conseguindo controlar a vida das pessoas, assim como suas expectativas, desejos e vontades. Até mesmo interrompendo o ciclo natural de vida e morte. Por certo a disseminação da ideia não seria difícil, assim ela não seria utilizada apenas por pessoas que sofreram queimaduras e etc., mas por pessoas que iriam querer ter uma pele mais resistente e rapidamente esta seria mais um bem de consumo que seria desejado e comprado por pessoas de alto poder aquisitivo.
Outra inferência possível que o próprio título do filme sugere é o domínio na dimensão psicológica do individuo, o terror da consciência humana por habitar um corpo/pele que não lhe pertence, ressaltando novamente a relação de poder em consonância com uma punição inadvertida a Vera, pois ela estará para sempre presa tanto física quanto mentalmente.
Os dez últimos minutos que antecedem o final do filme são geniais. São neles que serão explicadas todas ou quase todas as interrogações deixadas ao longo do filme. A surpresa de que Vera era na verdade Vicente que no passado estuprou a filha de Dr. Robert; o trágico fim do Dr. sendo assassinado por Vera; enfim sua fuga do cativeiro e a revelação quando retorna à sua casa ao encontro de sua mãe irmã onde o filme se encerra com a dramática frase de Vera: “Eu sou Vicente!”
O fato de ser o filme “A pele que habito” uma adaptação do romance “Myguale” 1995 - publicado em português sob o titulo ‘Tarantula’ do escritor francês Thierry Jonquet (1954-2009) - para o cinema, só o torna ainda mais original e profundo. Uma verdadeira reflexão sobre o quanto relativizamos o conceito de moral e ética de liberdade e escolhas, de como as manipulamos de modo a adequá-las justificando nossos interesses individuais, nossa sede de poder, nossa busca pela possibilidade de domínios, da insubordinação mascarando nossas imperfeições e a limitada capacidade de lidar com a ideia de igualdades e semelhanças.
[spoiler][/spoiler]
Ela
4.2 5,8K Assista AgoraJá estava mais do que na hora de algum diretor abordar seriamente a temática da massiva invasão das redes sociais sobre as nossas vidas. Invasão mesmo, pois muitas vezes elas ocorreram sem que a desejássemos e a sua inserção em nosso meio, tem roubado cada vez mais o verdadeiro espaço social, sedenta pela substituição das relações humanas pelas virtuais.
O que vemos em “Ela” (Her - 2013) por mais absurdo que possa parecer, é o caminho a que se chegar, dadas as circunstâncias, ou pelo andar da carruagem, no popular! Nós não estamos longe de protagonizar na vida “real” o que tão bem foi captado sobre o comando de Spike Jonze que o dirigiu.
Logo de início o espectador leva “um tapa na cara” quando percebe que Theodore (Joaquim Phoenix) é um escritor cujo emprego consiste em enviar cartas amorosas pra quem quer que seja desde que se pague por elas. Isto é, as pessoas por conveniência necessitam expressar sentimentos e através de cartas, parece trabalhoso demais, mas a Cartasescritasamão.com faz isso por você. Observa-se aí banalização dos afetos ou pior, a comercialização deles.
Não se sabe nem quando nem onde se passam aqueles maravilhosos 126 minutos, provavelmente num futuro próximo. O tratamento dado à trama parece ter outras prioridades além dessas, onde o centro dela é a relação do protagonista Theodore (Joaquim Phoenix) com um sistema operacional OS1, atendendo pelo nome de Samantha (Scarlett Johansson) que dispõe de inteligência artificial. Relação essa que se iniciará com pouco mais de 12 minutos de início do filme dando começo à história de interatividade entre o futuro “casal”.
Encontros virtuais, declarações virtuais, passeios virtuais, e pasmem, relações sexuais virtuais. Assim é definido o namoro de Theodore, onde este tendo falhado em seu casamento anterior não virtual com Catherine (Rooney Mara) por motivos desconhecidos, optou por estabelecer com Samantha relações conjugais. É quase que nulo o contato físico entre as pessoas mostradas neste filme, sempre que aparecem são mostradas interagindo com seus dispositivos.
Outra curiosidade é que em outros filmes com similar abordaram tais como “Eu robô” e “I.A.” etc é comum mostrarem as máquinas na busca pelo poder e consequentemente, dominação sobre a condição humana. Neste, é comum seu inverso. O interesse obsessivo das pessoas pela interatividade com a inteligência artificial, parece uma preferência humana.
No quesito técnico, a fotografia é bem coerente com a posposta fílmica, a infra-estrutura urbana é espetacular, percebi até uma conexão entre a arquitetura mostrada e a própria interface dos sistemas operacionais, as cores e os formatos nos remetem a janelas, coisa bem intencional, próxima dos computadores mesmo, no entanto o céu é sempre cinza o ar é embaçado por uma névoa talvez no intuito de mostrar os efeitos da negligência quanto aos cuidados ambientais, sustentabilidade etc. A trilha sonora é discreta e fundamental pra dar a atmosfera adequada ao filme.
Os últimos 20 minutos do filme são geniais, o desfecho é também muito reflexivo, mas pra não deixar maiores spoilers aqui, deixo que vocês vejam por si.
É possível analisar “Ela” do ponto de vista Psicológico, e do Filosófico então pode-se escrever um livro.
Carlos Drumond já nos alertava que o amor acontece a medida que o permitimos, que ele é menos teoria e mais vivência. Se o sentimento é algo genuinamente humano, não sendo possível experimentá-lo sobre outra condição qual o sentido da relação máquina e humano?
Ironia é quando um sistema operacional refere a si como tendo DNA, sentimentos e emoções.
Samantha usa mecanismo de defesa (racionalização pra ser mais específico) o tempo todo para justificar suas limitações enquanto OS, relativiza tudo quando se depara com o óbvio, é um sistema, não um ser humano. Irônico e contraditório eu diria, pois tenta imitar características típicas dos humanos como o suspiro, por exemplo, é absurdo e desnecessário.
Chega um determinado momento em que podemos nos questionar: Por que o óbvio não acontece? Por que Theodore simplesmente não aperta o botão “delete”, “reset” ou “reboot” whatever? Será se chegará determinado momento em que não vamos mais distinguir o real do virtual?
A liquidez de que nos fala Zygmunt Bauman se faz muito presente aqui. Seria imprudente negar, ou mesmo subestimar, a profunda mudança que o advento da modernidade fluida produziu na condição humana. B. Zygmunt (1999).
“Ela” é o retrato fiel da sociedade moderna, leve liquida e fluida que vive o ápice do seu colapso no que concerne os sentimentos. O adoecimento dos afetos, a fragilidade extrema aliada à super limitada ou inexistente habilidade de lidar com as relações humanas. Uma brilhante critica ao comportamento atual.
Theodore é melancólico e demonstra pouco equilíbrio emocional. Preferiu um relacionamento com um sistema operacional a um real, observe mais outra critica ao jeito preguiçoso que temos assumido cada vez mais, a lei do mínimo esforço que se aplica a tudo na vida, agora sendo também aplicada à administração dos afetos. Trocar o virtual pelo real já que ninguém provavelmente irá querer pagar o preço e as dores características que qualquer parceria sofre.
Longe de mim a hipocrisia. Faço uso das redes sócias, inclusive agora, assim como smartphones, headsets, mp4, notebook etc, mas pra mim nada substitui o tête-à-tête.
A conclusão que chego é que nós teremos muito trabalho pela frente, uma humanidade adoecida psiquicamente há de necessitar do amparo da psicologia, mas isso só será possível, é claro, se nós não estivermos tão ocupados com nossos watsapps, facebooks, instagram, twitters e afins, inclusive durantes as aulas.
O Homem que Mudou o Jogo
3.7 931 Assista AgoraAcabo de assistir ao filme “Moneyball” (O homem que mudou o jogo) e ainda envolto pela emoção a que ele me remete, eu gostaria de indicá-lo
O filme traz a tona a questão da adaptação, o dilema da tomada das decisões difíceis e inclusive a perseverança nelas.
Nunca é demais assistir atuações acima da média correto? Pois bem, Brad Pit, Phillip Seymour Hoffman e Johan Hill fazem parte do elenco e mostram porque o filme concorreu ao oscar em 3 categorias, melhor filme, ator, e ator coadjuvante.
A narrativa é muito boa mesmo, tinha tudo pra ser maçante com essa onda do baseboll, porém o diretor faz refletir nas entrelinhas...
Legal a participação de Joe Satriani tocando o hino, enaltecendo o patriotismo deste povo, mas é massa perceber algo em comum como a distorção linda da guitarra dele.
Enfim, filme acima da média em minha opinião.