sem fetiches com a iconografia destas mulheres (algo raríssimo na história do cinema), jovens e senhoras, e numa crueza arrebatadora, talvez um dos filmes que toquem de forma mais pungente o âmago desta invenção histórica (a bruxaria, e nos séculos seguintes a histeria), e que tanto tem a ver com as mais diversas opressões e desconexões com a natureza com as quais nos deparamos até os dias de hoje.
LoveTrue é um doc com muitas camadas de assuntos, sem a pretensão de resolução de nenhum deles. Um mosaico de relacionamentos em suas limitações, incompletudes, falhas. Com tentativas de conversas entre nossas escolhas passadas e medos futuros. E é justamente nessas fragilidades que reside sua força como material audiovisual, pra quem se permite viver na carne a ferida de cada um dos personagens.
Inundada depois de assistir ao filme, me lembrei de uma entrevista recente de outro diretor, o Jodorowsky, falando sobre sua urgência, aos 86 anos, em produzir filmes que curam - na contramão de um cinema majoritariamente doente (mainstream ou independente), de personagens destrutivos que não conseguem aprender a amar (não o amor romântico projetivo, mas um possível sentido do viver em amor). Vejo em Malick, de maneira similar, essa difícil e corajosa busca pessoal. Em Cavaleiro de Copas, mais uma vez, ele nos presenteia com uma experiência espiritual, independente de crenças, pra absorvermos em diferentes interpretações de acordo com nossa disposição e identificações ao longo da vida.
Roberto Farias, que dirigiu e editou este primeiro longa da trilogia de Roberto Carlos, utiliza as propostas de direção e montagem dos chamados 'filmes promocionais' dos Beatles dirigidos por Richard Lester (os longas "A Hard Day's Night" de 1964, e "Help", de 1965) em seu trabalho. Assim, trata-se também um filme promocional. Apesar de toda a questão sobre o tom apolítico de Roberto Carlos em meio à ditadura, ainda assim o filme vale como possível arqueologia dos videoclipes nacionais.
Além de toda a questão narrativa da pulsão do feminino que norteia o filme (abordada de forma maravilhosa junto com as noções de prazer e morte) e de uma espécie de redenção mitológica à figura de Eva, estou apaixonada por essa fotografia escandalosa entre o 'sonho' e o 'real', um uso do som impecável e uma direção de arte em uma profundidade tamanha que ainda estou absorvendo um elemento por vez, em especial os figurinos.
Foi uma grata surpresa ver escancaradas as influências desse trabalho nas obras de Lars, de David Lynch e de outros trabalhos contemporâneos, incluindo videoclipes. Um filme pra ver e rever em sua multiplicidade de leituras.
É preciso um bocado de coragem pra mexer em feridas tão profundas e reencontrar os fantasmas. E Petra o faz com sinceridade, amor e intensidade. Mas acima de tudo, com a doçura de poucas almas. Nós só agradecemos.
Linklater nos dá um singelo presente neste filme: a chance de atravessarmos a impaciência contemporânea e nos observarmos de maneira escancarada em nossas próprias rotinas e em nossa busca por um propósito.
O tempo do personagem que, ora observado com uma certa distância - por uma câmera que é atenta, mas não invasiva - , ora nos mostrando as paisagens em primeira pessoa de seus trajetos e deslocamentos pelos trilhos e estradas, é o mesmo tempo de todos nós, que vivemos grande parte de nosso cotidiano em atividades corriqueiras, em situações passagem, ou sozinhos com nossos pensamentos.
Que feliz surpresa! Decidi assistir pela boa nostalgia de bons tempos, mas o documentário se mostrou algo muito além do que uma propaganda do grupo em um momento de novas tentativas de sucesso (acho até que a sinopse que está aqui peca por colocar o foco nisso, de um "retorno ao sucesso").
Em vinte anos, este é o primeiro relato sincero que vimos do grupo discutindo os processos da indústria cultural, a relação com o bilionário Lou Pearlman (e sua posterior prisão), a quantidade de shows, viagens e eventos empurrados pelos produtores, e a criação de vários grupos similares a partir de um "molde", com todos os integrantes refletindo e se colocando como indivíduos dentro de toda esta engrenagem que monta e desmonta popstars na fluidez dos tempos e do mercado.
A montagem e o ritmo do documentário vão construindo com muita naturalidade este "regresso" às vidas privadas de cada um, em alternância com este reencontro para a produção do disco. Um trabalho cuidadoso, sem pretensão de grandiosidade, mas honesto, com o melhor que cada um tem a oferecer em seu momento de vida atual.
Um filme pra reviver com carinho os 13 anos de idade por alguns instantes, e pra pensarmos um pouco no quanto de outras engrenagens também movemos enquanto consumidores.
Imprescindível para entender melhor nossas cidades, a função social da propriedade e o ato de morar e habitar em tempos de tristes especulações e desapropriações. Lindo e importante trabalho.
Voltei um dia depois de assistir por falta de palavras no primeiro dia. Continuo sem elas. E tudo bem, é sobre isso, sentir, prazer, dor, se acessar, existir, ser. Sobre o ser humano que vive no 'real' consciente apenas uma projeção de si mesmo, e só no mergulho na mente vive de fato. É sobre todos nós.
A trilha é linda (e o desenho do som em geral) assim como as passagens de imagens. Pra se deixar levar pensando no nosso senso de real, e no 'impossível' que cada um guarda profundamente em seu inconsciente enquanto vive seu próprio simulacro.
Além das falas de figuras inspiradoras como o Tião Rocha e o José Pacheco e das lindas iniciativas espalhadas por esse Brasilzão, uma grande alegria no coração em ouvir as próprias crianças e jovens ao longo do documentário. <3
O trabalho magnífico de Pina através do olhar único de Wim Wenders (diretor, aliás, que tem essa capacidade de transportar linguagens entre meios, vide o documentário musical sobre o Buena Vista Social Club realizado por ele em 1999). É como se as coreografias e a abordagem intensa de Pina tomassem uma nova profundeza pelos usos da câmera e pela costura com depoimentos e documentos. Um filme para dançarinos fascinados pelo trabalho dela, mas também para espectadores que se encantam pelo corpo em movimento. Lindo!
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O Martelo das Bruxas
4.1 28sem fetiches com a iconografia destas mulheres (algo raríssimo na história do cinema), jovens e senhoras, e numa crueza arrebatadora, talvez um dos filmes que toquem de forma mais pungente o âmago desta invenção histórica (a bruxaria, e nos séculos seguintes a histeria), e que tanto tem a ver com as mais diversas opressões e desconexões com a natureza com as quais nos deparamos até os dias de hoje.
LoveTrue
3.2 3LoveTrue é um doc com muitas camadas de assuntos, sem a pretensão de resolução de nenhum deles. Um mosaico de relacionamentos em suas limitações, incompletudes, falhas. Com tentativas de conversas entre nossas escolhas passadas e medos futuros. E é justamente nessas fragilidades que reside sua força como material audiovisual, pra quem se permite viver na carne a ferida de cada um dos personagens.
Sonhos em Movimento
4.0 15Ah, Pina! <3
Esse Amor Que Nos Consome
3.5 30de coração cheio, na singela lembrança de que a cidade de verdade acontece em cada cantinho de quem vive de arte.
Cavaleiro de Copas
3.2 414Inundada depois de assistir ao filme, me lembrei de uma entrevista recente de outro diretor, o Jodorowsky, falando sobre sua urgência, aos 86 anos, em produzir filmes que curam - na contramão de um cinema majoritariamente doente (mainstream ou independente), de personagens destrutivos que não conseguem aprender a amar (não o amor romântico projetivo, mas um possível sentido do viver em amor). Vejo em Malick, de maneira similar, essa difícil e corajosa busca pessoal. Em Cavaleiro de Copas, mais uma vez, ele nos presenteia com uma experiência espiritual, independente de crenças, pra absorvermos em diferentes interpretações de acordo com nossa disposição e identificações ao longo da vida.
Olmo e a Gaivota
3.9 148A Petra tinha jogado meu coração no fundo do mar em 'Elena', e agora em 'Olmo' ela tirou ele da água e o arremessou no vento.
Não sei mais que parte da nossa vida é encenada, e que parte é verdade.
Roberto Carlos em Ritmo de Aventura
2.8 67Roberto Farias, que dirigiu e editou este primeiro longa da trilogia de Roberto Carlos, utiliza as propostas de direção e montagem dos chamados 'filmes promocionais' dos Beatles dirigidos por Richard Lester (os longas "A Hard Day's Night" de 1964, e "Help", de 1965) em seu trabalho. Assim, trata-se também um filme promocional. Apesar de toda a questão sobre o tom apolítico de Roberto Carlos em meio à ditadura, ainda assim o filme vale como possível arqueologia dos videoclipes nacionais.
Os Oito Odiados
4.1 2,4K Assista AgoraTarantino + Ultra Panavision 70 = assista na sala de cinema. <3
Fruto do Paraíso
4.1 34 Assista AgoraAlém de toda a questão narrativa da pulsão do feminino que norteia o filme (abordada de forma maravilhosa junto com as noções de prazer e morte) e de uma espécie de redenção mitológica à figura de Eva, estou apaixonada por essa fotografia escandalosa entre o 'sonho' e o 'real', um uso do som impecável e uma direção de arte em uma profundidade tamanha que ainda estou absorvendo um elemento por vez, em especial os figurinos.
Foi uma grata surpresa ver escancaradas as influências desse trabalho nas obras de Lars, de David Lynch e de outros trabalhos contemporâneos, incluindo videoclipes. Um filme pra ver e rever em sua multiplicidade de leituras.
Elena
4.2 1,3K Assista AgoraÉ preciso um bocado de coragem pra mexer em feridas tão profundas e reencontrar os fantasmas. E Petra o faz com sinceridade, amor e intensidade. Mas acima de tudo, com a doçura de poucas almas. Nós só agradecemos.
É Impossível Aprender a Arar Lendo Livros
3.3 11Linklater nos dá um singelo presente neste filme: a chance de atravessarmos a impaciência contemporânea e nos observarmos de maneira escancarada em nossas próprias rotinas e em nossa busca por um propósito.
O tempo do personagem que, ora observado com uma certa distância - por uma câmera que é atenta, mas não invasiva - , ora nos mostrando as paisagens em primeira pessoa de seus trajetos e deslocamentos pelos trilhos e estradas, é o mesmo tempo de todos nós, que vivemos grande parte de nosso cotidiano em atividades corriqueiras, em situações passagem, ou sozinhos com nossos pensamentos.
Backstreet Boys: Show 'Em What You're Made Of
4.3 65Que feliz surpresa! Decidi assistir pela
boa nostalgia de bons tempos, mas o documentário se mostrou algo muito além do que uma propaganda do grupo em um momento de novas tentativas de sucesso (acho até que a sinopse que está aqui peca por colocar o foco nisso, de um "retorno ao sucesso").
Em vinte anos, este é o primeiro relato sincero que vimos do grupo discutindo os processos da indústria cultural, a relação com o bilionário Lou Pearlman (e sua posterior prisão), a quantidade de shows, viagens e eventos empurrados pelos produtores, e a criação de vários grupos similares a partir de um "molde", com todos os integrantes refletindo e se colocando como indivíduos dentro de toda esta engrenagem que monta e desmonta popstars na fluidez dos tempos e do mercado.
A montagem e o ritmo do documentário vão construindo com muita naturalidade este "regresso" às vidas privadas de cada um, em alternância com este reencontro para a produção do disco. Um trabalho cuidadoso, sem pretensão de grandiosidade, mas honesto, com o melhor que cada um tem a oferecer em seu momento de vida atual.
Um filme pra reviver com carinho os 13 anos de idade por alguns instantes, e pra pensarmos um pouco no quanto de outras engrenagens também movemos enquanto consumidores.
Leva
4.5 12 Assista AgoraImprescindível para entender melhor nossas cidades, a função social da propriedade e o ato de morar e habitar em tempos de tristes especulações e desapropriações. Lindo e importante trabalho.
Aurora
3.6 66Voltei um dia depois de assistir por falta de palavras no primeiro dia. Continuo sem elas. E tudo bem, é sobre isso, sentir, prazer, dor, se acessar, existir, ser. Sobre o ser humano que vive no 'real' consciente apenas uma projeção de si mesmo, e só no mergulho na mente vive de fato. É sobre todos nós.
A trilha é linda (e o desenho do som em geral) assim como as passagens de imagens. Pra se deixar levar pensando no nosso senso de real, e no 'impossível' que cada um guarda profundamente em seu inconsciente enquanto vive seu próprio simulacro.
Quando Sinto que Já Sei
4.4 42Além das falas de figuras inspiradoras como o Tião Rocha e o José Pacheco e das lindas iniciativas espalhadas por esse Brasilzão, uma grande alegria no coração em ouvir as próprias crianças e jovens ao longo do documentário. <3
Pina
4.4 406O trabalho magnífico de Pina através do olhar único de Wim Wenders (diretor, aliás, que tem essa capacidade de transportar linguagens entre meios, vide o documentário musical sobre o Buena Vista Social Club realizado por ele em 1999). É como se as coreografias e a abordagem intensa de Pina tomassem uma nova profundeza pelos usos da câmera e pela costura com depoimentos e documentos. Um filme para dançarinos fascinados pelo trabalho dela, mas também para espectadores que se encantam pelo corpo em movimento. Lindo!