Penso que mais do que a corrida de São Silvestre, o filme é sobre a cidade. Me emocionei com os planos correlatos entre o mesmo espaço (Peixoto Gomide/Paulista) sendo ocupados com carros e depois com pessoas correndo, ao som de música clássica. Lindo.
Leve, assim como a experiência incrível que é acompanhar o envelhecimento do Leáud através dos filmes autobiográficos de Truffaut. Não é meu preferido, mas esse filme tem uma despretensão que me agrada muito, e que me faz refletir sobre a maneira que o Doinel de vinte e poucos anos leva a vida: sossegado, ao sabor dos empregos temporários, sincero até na impossibilidade de sê-lo ("se você estivesse chateado me diria?" "não, mas garanto que não estou") e com uma certa convicção melancólica de que no fim as coisas se encaixam. Assim como eu mesma deveria levar minha vida :)
Tive a oportunidade de trabalhar na projeção do filme no CINUSP Paulo Emílio e conhecer pessoalmente a incrível Denise Crespim. Que mulher forte, que história! São três gerações marcadas pela clandestinidade da escolha pela luta política. É inspirador e ao mesmo tempo reconfortante assistir a um filme como esse em nosso país, que não tem memória. "Eu só quero que eles mostrem o rosto, que me digam o que aconteceu", me disse ela. E eu a abracei muito, muito forte!
Um ótimo estudo de mise-en-scène. Não conhecia o trovador Sayat Nova, mas não sinto que isso tenha prejudicado a experiência. "Buscamos nós mesmos nos outros".
O filme é uma realização notável por trazer, como todos sabem, três portadores de síndrome de Down como protagonistas. Não consigo mensurar o valor disso para as pessoas que têm Down, certamente é um deleite se ver, de certa forma, nas telas de cinema. Eu estava muito ansiosa pra ver esse filme. Mesmo. Mas ainda que tenha uma premissa bacana, uma intenção nobre e, diga-se de passagem, uma direção de arte muito caprichada, não consegui deixar de me decepcionar.
Já no começo, fiquei incomodada com a narração do Lima Duarte. Eu adoraria entender porquê muitos de nossos diretores - em especial os oriundos da publicidade, como o Marcelo Galvão - desacreditam no potencial da imagem de nos contar histórias e insistem nesse tique de colocar voice over em tudo, como se nós, espectadores, não fôssemos capazes de imprimir significado ao que vemos na tela. É de uma arrogância/despreparo/paternalismo/falta de conhecimento da gramática cinematográfica/sei lá o quê sem igual. Eu não sou contra o uso de narração, mas este é um recurso que deve ser usado com cautela. É como diz aquela expressão: "uma imagem vale mais do que mil palavras", então não precisa amarrar a sua narrativa com um artifício que tolhe os múltiplos significados que um filme pode assumir, explicitando a todo momento as intenções de seus personagens. Ainda mais se essa narração é feita nesse tom adocicado e fabulesco, como se vê (ouve) no filme.
Fora isso, confesso que não embarquei no humor proposto pelo filme. As situações me pareceram batidas e o humor raso, repetitivo (
é bacana colocar o toque de celular do policial trapalhão como o som de um burro, mas não precisa repetir isso três vezes. A gente já entendeu a piada, cara
).
Por fim, outro ponto que me incomodou deveras foi a total falta de respeito à cronologia das coisas. Queria saber que mundo é esse em que Tropa de Elite já estreiou e Raul Seixas ainda está vivo, e o policial tem celular. Me parece que o diretor adaptou a história que tinha em mãos aos desejos estéticos que ele tinha em mente. Até mesmo as referências a outros filmes me pareceram fora de lugar, despropositadas. Não acrescentaram nada à história, ficou parecendo exercício de escola de cinema na qual o diretor quer prestar tributos aos filmes que o despertaram pra sétima arte. Não coube.
Eu espero de coração que este filme sirva para facilitar a produção de outros com realidades que são escassas ou nunca vistas no cinema, mas não foi dessa vez que se conseguiu fazer um filme simultaneamente inclusivo e bom a respeito.
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Mother - A Busca Pela Verdade
4.1 279pra assistir depois de ver o filme: https://vimeo.com/94625104
São Silvestre
3.4 8 Assista AgoraPenso que mais do que a corrida de São Silvestre, o filme é sobre a cidade. Me emocionei com os planos correlatos entre o mesmo espaço (Peixoto Gomide/Paulista) sendo ocupados com carros e depois com pessoas correndo, ao som de música clássica. Lindo.
Beijos Proibidos
4.1 138 Assista AgoraLeve, assim como a experiência incrível que é acompanhar o envelhecimento do Leáud através dos filmes autobiográficos de Truffaut. Não é meu preferido, mas esse filme tem uma despretensão que me agrada muito, e que me faz refletir sobre a maneira que o Doinel de vinte e poucos anos leva a vida: sossegado, ao sabor dos empregos temporários, sincero até na impossibilidade de sê-lo ("se você estivesse chateado me diria?" "não, mas garanto que não estou") e com uma certa convicção melancólica de que no fim as coisas se encaixam. Assim como eu mesma deveria levar minha vida :)
Desejo e Obsessão
3.3 73 Assista AgoraVincent Gallo. apenas.
(mentira: o filme tem seu mérito com a câmera incrível que por vezes me lembra os filmes da lucrecia martel)
Repare Bem
3.8 14Tive a oportunidade de trabalhar na projeção do filme no CINUSP Paulo Emílio e conhecer pessoalmente a incrível Denise Crespim. Que mulher forte, que história! São três gerações marcadas pela clandestinidade da escolha pela luta política. É inspirador e ao mesmo tempo reconfortante assistir a um filme como esse em nosso país, que não tem memória. "Eu só quero que eles mostrem o rosto, que me digam o que aconteceu", me disse ela. E eu a abracei muito, muito forte!
A Cor da Romã
4.1 133Um ótimo estudo de mise-en-scène. Não conhecia o trovador Sayat Nova, mas não sinto que isso tenha prejudicado a experiência. "Buscamos nós mesmos nos outros".
Colegas
3.4 606 Assista AgoraO filme é uma realização notável por trazer, como todos sabem, três portadores de síndrome de Down como protagonistas. Não consigo mensurar o valor disso para as pessoas que têm Down, certamente é um deleite se ver, de certa forma, nas telas de cinema. Eu estava muito ansiosa pra ver esse filme. Mesmo. Mas ainda que tenha uma premissa bacana, uma intenção nobre e, diga-se de passagem, uma direção de arte muito caprichada, não consegui deixar de me decepcionar.
Já no começo, fiquei incomodada com a narração do Lima Duarte. Eu adoraria entender porquê muitos de nossos diretores - em especial os oriundos da publicidade, como o Marcelo Galvão - desacreditam no potencial da imagem de nos contar histórias e insistem nesse tique de colocar voice over em tudo, como se nós, espectadores, não fôssemos capazes de imprimir significado ao que vemos na tela. É de uma arrogância/despreparo/paternalismo/falta de conhecimento da gramática cinematográfica/sei lá o quê sem igual. Eu não sou contra o uso de narração, mas este é um recurso que deve ser usado com cautela. É como diz aquela expressão: "uma imagem vale mais do que mil palavras", então não precisa amarrar a sua narrativa com um artifício que tolhe os múltiplos significados que um filme pode assumir, explicitando a todo momento as intenções de seus personagens. Ainda mais se essa narração é feita nesse tom adocicado e fabulesco, como se vê (ouve) no filme.
Fora isso, confesso que não embarquei no humor proposto pelo filme. As situações me pareceram batidas e o humor raso, repetitivo (
é bacana colocar o toque de celular do policial trapalhão como o som de um burro, mas não precisa repetir isso três vezes. A gente já entendeu a piada, cara
Por fim, outro ponto que me incomodou deveras foi a total falta de respeito à cronologia das coisas. Queria saber que mundo é esse em que Tropa de Elite já estreiou e Raul Seixas ainda está vivo, e o policial tem celular. Me parece que o diretor adaptou a história que tinha em mãos aos desejos estéticos que ele tinha em mente. Até mesmo as referências a outros filmes me pareceram fora de lugar, despropositadas. Não acrescentaram nada à história, ficou parecendo exercício de escola de cinema na qual o diretor quer prestar tributos aos filmes que o despertaram pra sétima arte. Não coube.
Eu espero de coração que este filme sirva para facilitar a produção de outros com realidades que são escassas ou nunca vistas no cinema, mas não foi dessa vez que se conseguiu fazer um filme simultaneamente inclusivo e bom a respeito.