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  • Paulo Henrique

    Um verdadeiro marco. "Vale Tudo" é o supra-sumo da nossa teledramaturgia; é uma aula de roteiro, no sentido literal da palavra. Uma trama que explorou temas espinhosos, polêmicos e com uma carga de crítica social, que foi além de sua época.

    Gilberto Braga do alto do seu brilhantismo como autor, foi extremamente preciso na abordagem da situação do País, fazendo um contraponto do que é pobreza, riqueza, honestidade e malandragem; resumiu a essência de uma sociedade que carrega esses elementos e que segue na mesma toada. Conclusão: A trama se tornou atemporal, já são 34 anos, e segue sendo atual e necessária.

    Costurar esses temas sem perder a essência do que é uma "Novela", prova o quanto o autor possui qualidade artística, intelectual e conhecimento profundo pelo público do seu ofício; Gilberto naquele momento inovou, trazendo um estilo de narrativa que até então não existia, "Vale Tudo" possuía ritmo de novela atual, mesmo com a construção dos conflitos de suas personagens, até chegar nas catarses, ainda ali, nesse início de condução, a trama já mostrava a que veio, o encantamento por cada personagem já é adquirido, justamente porque o desenvolvimento de cada perfil, foi extremamente bem elaborado.

    Personagens profundos, com camadas psicológicas que permeavam entre o bem x mal, com seus defeitos e qualidades escancarados, aproximou de imediato com o público. Vale ressaltar que o texto sagaz, ácido e cheio de ritmo, trouxe um gabarito diferenciado a essa novela.

    É um caso curioso, pois não se trata de uma trama com objetivo de ser "Popular", com tipos óbvios, situações clichês e todos aqueles ingredientes que o telespectador conhece. Nesta novela, havia uma grife elaborada, um universo de requinte, um texto que oscilava apenas para o alto nível: era rebuscado e inteligente; mesmo com os núcleos secundários, com relevância ou não, o alto nível do texto se mantinha, é uma engreguenagem que funcionou maravilhosamente bem.

    Com uma direção segura, a escalação do elenco beira a perfeição, não só pelos nomes de alto escalão, mas sim porque a sensação é de que os personagens encontraram seus atores, todos caíram feito luva, se apropriaram daquele momento de Glória e fizeram com muita precisão e entrega. Não deu outra, vários atores saíram de cena, com seus personagens marcados até hoje.

    Menção honrosa ao protagonismo de Regina Duarte (não vale detalhar seu final de carreira), na ocasião, Raquel para mim, é uma das protagonistas mais críveis, viscerais e que teve uma trajetória muito rica dentro da novela, a entrega da atriz expondo seu lado de uma mulher popular e maternal, é irretocável; Antônio Fagundes como seu par, com uma química incrível, uma entrega de personagem que funcionou super bem, não tinha como não torcer por ambos ou como não comprar toda aquela ambição do Ivan; Beatriz Segall, entregou uma das interpretações mais antológicas das nossas novelas, Odete Roitman, era uma megera grã-fina, cheia de frases preconceituosas (ótimos textos), que se não fosse pela composição orgânica da atriz, poderia cair no obviedade; a mesma já declarou em entrevistas, que escolheu o caminho de interpretá-la, como se estivesse acreditando que aquilo era um valor do "bem", como se Odete não acreditasse que fosse má e sim justa, isso fez tanto sentido, que a personagem ditava os piores preconceitos com tanto cinismo, naturalidade que o ódio/admiração pela personagem foi uma febre; Nathália Timberg, no papel de uma mulher contida, totalmente do bem, sem grandes conflitos em momento algum deveu para outros personagens mais interessantes, a atriz emprestou todo seu charme, ternura, que a tia Celina não ficou de fora da galeria dos personagens queridos da novela; Glória Pires, novíssima na época e já entregando tudo como atriz, Maria de Fátima era terrivelmente má, mas havia traços de humanidade, além de ter um arco dramático ao longo da novela que exigiu da atriz inúmeras facetas, se notar, postura, olhar, voz, a atriz vai acompanhando essa evolução de maneira brilhante, é uma das piores vilãs, não tinha como não odiá-la; Lídia Brondi irretocável em cena, carismática, com uma dicção única, emprestou toda sua segurança e presença forte, Solange Duprat é um ícone, fugiu do padrão mocinha chata, ela era extremamente correta, porém sagaz, enfrentava os vilões, debatia os preconceitos, era sarcástica, havia um contraponto de humanidade com o lado dos vilões, tornando a personagem interessantíssima e ideal para o andamento da novela;

    Renata Sorrah incorporou a sua Heleninha Roitman, a atriz esteve em estado de graça, sentíamos a carência, as dores de sua personagem, o vazio existencial; e nas cenas de porres alcóolicos, na ocasião, tornou a personagem emblemática, pois o tema até então, pelo que me recordo, não havia sido explorado de maneira profunda, excelente atriz e que entregou grandes cenas apenas com o olhar; Reginaldo Faria, grandioso como Marco Aurélio, era um perfeito rico escroto, machista, desses tipos que a gente ainda encontra no meio Político e solto por aí; Carlos Alberto Ricelli figura bissexta em telenovelas, entregou tudo com o sacana César, além da química com todas as suas parceiras de cena, o ator imprimiu uma malandragem, um cinismo com muito charme, seu personagem era um misto de amor e ódio, pois até o público se enveredava pelo charme dele.

    Vale destacar o núcleo secundário como Pedro Paulo Rangel, Rosane Goffmann, Sérgio Mamberti, Cláudio Correa e Castro, sempre competentes em seus papéis.

    Apesar de ser uma trama longa, em seus 203 capítulo, não me recordo de um período de barriga na história, Gilberto Braga aproveitou de todas as possibilidades que os conflitos poderiam render e foi a forra com o roteiro, entregou muita história bom e especialmente cenas antológicas; as discussões, as armações dos vilões, os plots twists fizeram da trajetória da novela, uma das mais bem sucedidas.

    Como parte de produção, destaque aos figurinos, impecáveis, desde os núcleos mais pobres aos mais sofisticados, a produção foi incrível na composição de cada personagem e também das mudanças físicas deles ao longo da trama. A direção foi impecável, exploraram ao máximo a capacidade de cada ator, do texto da trama e do que cada cena de catarse poderia render. Trabalho impecável!

    A construção do "Quem Matou Odete Roitman?" se tornou uma das referências desse tipo de PLOT, porque ali fez todo sentido, foi um desfecho inteligentíssimo para uma mulher que se expunha ao perigo, se julgando inteligente e poderosa demais, a escolha da assassina que fugiu completamente do esperado do público, bem como a justificativa do crime, coroou de maneira brilhante esse desfecho do autor. Foi a carta na manga para colocar de vez, a novela nas referências das principais obras brasileiras.

    A trilha sonora casou perfeitamente com cada personagem e também com a mensagem de critica social, se tornou referência e lançou vários hits na época.

    A abertura de "Vale Tudo" já traduz a sua potência, "Brasil" na voz de Gal Costa, é forte e emblemática, não poderia ter outra versão e nem jogo de imagens.

    Em suma, foi uma telenovela que foi concebida para ser unânime, é um apanhado de acertos que fizeram dela uma obra antológica, atravessou gerações, assim como uma música do passado que toca até hoje, não há quem resista ao seu charme e ao seu roteiro eletrizante. "Vale Tudo" em 1988, foi uma febre, um grito de socorro ecoado por todos os brasileiros, ali estava tudo que pássavamos e que não tinha muito como exprimir a público, foi o tiro certo de um autor que falou por milhares de nossa população.

    Sorte a nossa de ser brasileiro e de poder apreciar essa obra de arte de um dos melhores autores de novela do mundo.

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