Faz tanto tempo que a arte insiste em repercutir certa ideia de que a relação entre amor e sofrimento é inexorável, que mesmo esta não sendo de fato uma regra para o bom funcionamento do mundo e seus habitantes ela já está demasiado marcada em nossos imaginários para ser desconsiderada. De todo modo, só o fato de insistir na constante exposição desses apreços e rejeições -e de quaisquer outros sentimentos que sejam- como forma de inspirar no receptor o desejo de perpetuar os seus próprios, o artista que busca em cada percalço de sua própria existência a matéria-prima da criatividade, é sábio e profeta mesmo dentro de eventual ignorância. Sendo assim, Xavier Dolan é um nome que incide diretamente sobre este tipo de leitura terapêutico-sentimentalista do fazer artístico. Talvez não tanto em Laurence Anyways ou Tom à la Ferme, mas claramente presente no resto de sua já robusta obra, a sensação de estar se encontrando com os devaneios mais turbulentos do personagem/autor/pessoa é bastante forte, e felizmente viajou do dispositivo confessional que tanto pontuava Eu Matei Minha Mãe e Amores Imaginários como experimentos estéticos falhos em sua fome por abarcar um mundo e uma sensação que jamais se disseram efetivamente palatáveis, para chegar até Mommy, onde vamos compreender o amor que circula entre Diane e Steve através de seus gestos, músicas, trocas de insultos, e janelas de exibição em metamorfose. Através de Dolan, enfim, e de seu cinema, que precisou ser boutique, boate, e consultório para finalmente conseguir se transformar em inegavelmente respeitável expressão artística. Texto completo em http://pipocracia.com/mommy/
Sendo assim muito mais sobre experimentar do que sobre agir, as personagens vivem sob certa névoa de mistério quanto à verdadeira intenção em suas ações, que também é algo nova, se comparada, por exemplo, com a claridade nas questões sentimentais/familiares de Os Donos da Noite ou Amantes. Quase como numa commedia dell'arte -e o ambiente do vaudeville em muito remete à esse tipo de encenação- onde nenhum personagem é propriamente mau, a relação que se estabelece lentamente entre Phoenix, Renner e Cotillard, onde os dois primeiros amam da maneira que se veem capazes, mas não deixam de ser algozes em meio à verdade de seus sentimentos, é tão subjetiva quanto possível, já que tudo se vê filtrado pelas barreiras que a moça cria, especialmente por não conseguir se expressar perfeitamente na nova língua. Seu encontro com a família que tanto sonhava achar é um bom exemplo de como, mesmo tendo a chance de voltar a usar sua língua nativa, a comunicação, da maneira como ela conhecia, está sofrendo com os ruídos que este novo ambiente causa.
A princípio parece bastante válido acentuar que The Rover não é acolhedor, em qualquer aspecto; especialmente para pessoas desacostumadas a experiências tão secas, a reação esperada é a completa repulsa. Mesmo sendo uma amálgama muito bem ajambrada de formatos conhecidos, como road-movie, drama pós-apocalíptico e, principalmente, faroeste, cada porção de filme parece ter sido bastante calculada de maneira à deixar o espectador alguns metros distante de qualquer verdadeira conexão com suas personagens. Guy Pearce surge na tela como um fantasma vindo de qualquer lugar tão extraterreno quanto extracampo e nada sabemos sobre ele, tem seu carro roubado por uma gangue cujos crimes nada compreendemos, e empreende atrás desses meliantes uma busca de métodos extremos, que nos infligem mais e mais dúvidas sobre dezenas de “quems” e “o quês” que podem estar em jogo; e cujas pequenas simbologias, que se amontoam mais e mais a cada sequência, acabam se provando algo primárias quando finalmente se compreendem os porquês. Leia o texto completo em: http://pipocracia.com/2014/08/06/critica-the-rover/
(...)Depois de ter sugerido um caminho diferente para sua carreira com o impecável Um Brinde à Amizade -e neste ponto eu me refiro muito mais à ideia de produção, que contava pela primeira vez com atores famosos e um calendário mais estrito de filmagens-, Swanberg parece ter voltado àquele que é seu ambiente de conforto. Esteticamente falando, as imagens em super16mm e a câmera que acompanha a organicidade do diálogo, soam muito mais próprias àquilo que seus filmes tem a dizer, do que certo rebuscamento visual que o trabalho anterior exalava -ainda que sejam igualmente pessoais, e efetivos. Mas ainda pensando na forma, me soa muito nova, e boa, a construção tão espirituosa que as elipses sugerem. Se o filme se divide entre as vidas de duas mulheres que não particularmente se antagonizam, mas estão em lugares muito distantes dentro daquele espectro familiar, cada corte entre sequências parece ter como função maior fazer aqueles universos coexistirem em sentimento; fazer com que a falta de perspectiva que as perturba e as coloca em posições “vilanescas”, justificadamente ou não, seja também aquilo que as une.(...) Leia o texto completo em: http://pipocracia.com/2014/07/19/critica-happy-christmas/
(...)Ao mesmo tempo que a tela achatada soa como um molde feito exclusivamente para comportar um único corpo, aquele tão desinteressante para a velocidade da urbe mas tão interessado nela, essa escolha também soa como uma brecha, uma janela que de certa maneira nos coloca na mesma posição quasi-voyeurista desse homem, volta e meia nos forçando a tentar encontrá-lo por trás de multidões apressadas, festivas, ou mesmo no quadro vazio, quando sua presença pode ser apenas um devaneio.(...) Leia o texto completo em: http://pipocracia.com/2014/07/30/critica-homem-das-multidoes/
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Mommy
4.3 1,2K Assista AgoraFaz tanto tempo que a arte insiste em repercutir certa ideia de que a relação entre amor e sofrimento é inexorável, que mesmo esta não sendo de fato uma regra para o bom funcionamento do mundo e seus habitantes ela já está demasiado marcada em nossos imaginários para ser desconsiderada. De todo modo, só o fato de insistir na constante exposição desses apreços e rejeições -e de quaisquer outros sentimentos que sejam- como forma de inspirar no receptor o desejo de perpetuar os seus próprios, o artista que busca em cada percalço de sua própria existência a matéria-prima da criatividade, é sábio e profeta mesmo dentro de eventual ignorância. Sendo assim, Xavier Dolan é um nome que incide diretamente sobre este tipo de leitura terapêutico-sentimentalista do fazer artístico. Talvez não tanto em Laurence Anyways ou Tom à la Ferme, mas claramente presente no resto de sua já robusta obra, a sensação de estar se encontrando com os devaneios mais turbulentos do personagem/autor/pessoa é bastante forte, e felizmente viajou do dispositivo confessional que tanto pontuava Eu Matei Minha Mãe e Amores Imaginários como experimentos estéticos falhos em sua fome por abarcar um mundo e uma sensação que jamais se disseram efetivamente palatáveis, para chegar até Mommy, onde vamos compreender o amor que circula entre Diane e Steve através de seus gestos, músicas, trocas de insultos, e janelas de exibição em metamorfose. Através de Dolan, enfim, e de seu cinema, que precisou ser boutique, boate, e consultório para finalmente conseguir se transformar em inegavelmente respeitável expressão artística.
Texto completo em http://pipocracia.com/mommy/
Era Uma Vez em Nova York
3.5 296 Assista AgoraSendo assim muito mais sobre experimentar do que sobre agir, as personagens vivem sob certa névoa de mistério quanto à verdadeira intenção em suas ações, que também é algo nova, se comparada, por exemplo, com a claridade nas questões sentimentais/familiares de Os Donos da Noite ou Amantes. Quase como numa commedia dell'arte -e o ambiente do vaudeville em muito remete à esse tipo de encenação- onde nenhum personagem é propriamente mau, a relação que se estabelece lentamente entre Phoenix, Renner e Cotillard, onde os dois primeiros amam da maneira que se veem capazes, mas não deixam de ser algozes em meio à verdade de seus sentimentos, é tão subjetiva quanto possível, já que tudo se vê filtrado pelas barreiras que a moça cria, especialmente por não conseguir se expressar perfeitamente na nova língua. Seu encontro com a família que tanto sonhava achar é um bom exemplo de como, mesmo tendo a chance de voltar a usar sua língua nativa, a comunicação, da maneira como ela conhecia, está sofrendo com os ruídos que este novo ambiente causa.
Texto completo em: http://pipocracia.com/critica-era-uma-vez/
The Rover: A Caçada
3.3 355 Assista AgoraA princípio parece bastante válido acentuar que The Rover não é acolhedor, em qualquer aspecto; especialmente para pessoas desacostumadas a experiências tão secas, a reação esperada é a completa repulsa. Mesmo sendo uma amálgama muito bem ajambrada de formatos conhecidos, como road-movie, drama pós-apocalíptico e, principalmente, faroeste, cada porção de filme parece ter sido bastante calculada de maneira à deixar o espectador alguns metros distante de qualquer verdadeira conexão com suas personagens. Guy Pearce surge na tela como um fantasma vindo de qualquer lugar tão extraterreno quanto extracampo e nada sabemos sobre ele, tem seu carro roubado por uma gangue cujos crimes nada compreendemos, e empreende atrás desses meliantes uma busca de métodos extremos, que nos infligem mais e mais dúvidas sobre dezenas de “quems” e “o quês” que podem estar em jogo; e cujas pequenas simbologias, que se amontoam mais e mais a cada sequência, acabam se provando algo primárias quando finalmente se compreendem os porquês.
Leia o texto completo em: http://pipocracia.com/2014/08/06/critica-the-rover/
Um Novo Começo
2.6 57 Assista Agora(...)Depois de ter sugerido um caminho diferente para sua carreira com o impecável Um Brinde à Amizade -e neste ponto eu me refiro muito mais à ideia de produção, que contava pela primeira vez com atores famosos e um calendário mais estrito de filmagens-, Swanberg parece ter voltado àquele que é seu ambiente de conforto. Esteticamente falando, as imagens em super16mm e a câmera que acompanha a organicidade do diálogo, soam muito mais próprias àquilo que seus filmes tem a dizer, do que certo rebuscamento visual que o trabalho anterior exalava -ainda que sejam igualmente pessoais, e efetivos. Mas ainda pensando na forma, me soa muito nova, e boa, a construção tão espirituosa que as elipses sugerem. Se o filme se divide entre as vidas de duas mulheres que não particularmente se antagonizam, mas estão em lugares muito distantes dentro daquele espectro familiar, cada corte entre sequências parece ter como função maior fazer aqueles universos coexistirem em sentimento; fazer com que a falta de perspectiva que as perturba e as coloca em posições “vilanescas”, justificadamente ou não, seja também aquilo que as une.(...)
Leia o texto completo em: http://pipocracia.com/2014/07/19/critica-happy-christmas/
O Homem das Multidões
3.4 107(...)Ao mesmo tempo que a tela achatada soa como um molde feito exclusivamente para comportar um único corpo, aquele tão desinteressante para a velocidade da urbe mas tão interessado nela, essa escolha também soa como uma brecha, uma janela que de certa maneira nos coloca na mesma posição quasi-voyeurista desse homem, volta e meia nos forçando a tentar encontrá-lo por trás de multidões apressadas, festivas, ou mesmo no quadro vazio, quando sua presença pode ser apenas um devaneio.(...)
Leia o texto completo em: http://pipocracia.com/2014/07/30/critica-homem-das-multidoes/