O filme é impecável. Ele demonstra um problema comum no mundo: o descompasso entre as Políticas Públicas do Estado e os grupos sociais vulneráveis. Claro que tabalha isso a partir da coexistência entre governo oficial e organização indigena, abordando problemas externos (como estrangeiros e pessoas brancas desumanizando nativos), políticos (debate sobre primazia de direito internacional e nacional à infância ou sistema indigena) e socio-culturais (como a fuga da norma amplia vulnerabilidade das vítimas e culmina em violências cíciclas). Tudo isso sem abandonar um viés de raça, classe, gênero e etário por meio da Shula. Uma criança que, tão silenciada, é quase muda e só encontra voz no grupo mais marginalizado, isto é: mulheres indígenas julgadas arbitrariamente e condenadas à um trabalho análogo ao escravo. Até o exemplo de superação, a esposa do servidor público, é só mais uma vítima numa gaiola bonita. Tudo isso sob transcorrendo como um fato absurdo (dependendo do ponto de vista), mas incrivelmente normal. A atuação, a trilha sonora, e toda a composição visual é belíssima e se encaixa de forma fluida.
Me lembra a discussão de um podcast sobre pulsão de morte e pulsão de vida. Cada irmã tá em um polo. A Justine só quer se autodestruir e o fim do mundo nunca foi tão acolhedor, tão confortável. É palpável como todo mundo sofre pra acomodar alguém que quer tanto largar tudo, sufocando a Justine e a forçando a um lugar de melancolia cada vez mais tangente e autodestrutivo. A outra irmã tá muito focada em querer viver e projetar esse dejeso nos outros pra aceitar a Justine de fato, por isso ela sofre horrores na iminência do fim. As duas se completam, assim como o resto da família completa o caos. Fotografía, cenário e atuação impecáveis. O tempo podia ser mais curto. Tem uns momentos pra gerar desconforto que ao invés de 6 minutos podia ser 3 e o resultado seria o mesmo.
Faltou culhão, mas isso é compreensível conhecendo as regras de produção e distribuição dos EUA. Especialmente tendo usado a transcrição verbatim do documento original. A Sydney arrasou e o resto do elenco transmite muito bem o desconforto de todo mundo messe tipo de situação. A escolha de POV, composição das imagens e etc., faz um bom trabalho ao humanizar a Reality e criar um contraste bem interessante comparado ao modo que a mídia mainstream falava dela. É um posicionamento doméstico sutil, seguro, e que ainda assim faz certa diferença na percepção de estadounidenses comuns sobre a realidade política do país.
Os atores tem química e as cenas fluem muito bem. A gente até esquece que é um filme antigo. Hoje em dia a premissa e a execução é batida, pois é um conjunto de tropes mais do que frequente. É divertido e dá pra passar o tempo se você assiste sem prestar muita atenção. Mas envelheceu igual leite em alguns aspectos. Não só não passa no teste de Bechdel, como torna bem óbvio que talvez o diretor tenha se tornado fã de Lolita (o filme criminoso, não o livro iconico) anos depois. A infantilização da mulher branca, pra alimentar o male gaze da época ao recorrer à cultura heteronormativa e os fetiches machistas dominantes são intragáveis. A FL tem a profundidade de um pires. Ela não tem interesse próprio, capacidade decisória independente, personalidade... Sua função é acessória ainda que na posição de protagonismo. Ela basicamente existe pra fazer o ML brilhar e deixar ele sexualmente satisfeito (e não, não é necessário cenas de sexo para isso). Irrita (e muito) o quanto se esforçaram pra colocar a Audrey pra interpretar uma personagem com a capacidade cognitiva de uma criança de 6 anos. Inferno. Com 6 anos tem muita criança que mente, manipula e rouba dinheiro com mais habilidade e o cérebro delas nem tá formado, a experiência de vida é limitada e etc. Arremesse seu senso crítico pela janela antes de consumir esse filme.
Eu não consigo ficar encantada porque estou revoltada. Começa como uma brincadeira da equipe e vai escalando de tom. De grandes empresas ignorando um consumidor final que questiona a origem do produto, passamos a ouvir os próprios ex-escravos. Isso porque só ouvimos quem escapou. É triste. Revoltante. E você vê o interesse real de todos os envolvidos e as frustrações de se deparar com uma indústria podre. Há certo incomodo quando intercala filmagens de 2005 com as de 2015 pela mudança de qualidade, mas de forma geral é muito bom. Só de não usar filtro amarelo nas filmagens na Africa já fico feliz.
A câmera balançando o tempo todo é o único ponto negativo do documentário. O tradicional uso do filtro amarelo para falar de África também me dá certo desgosto. A indagação do diretor é completamente válida e acompanhamos o registro de tantos crimes que é... Difícil terminar sem olhar nossos celulares e computadores de forma diferente. Não se trata só de financiar a guerra, mas todas as violências que vem com ela.
Um filme interessante sobre saúde mental e autoestima em um ambiente familiar. Os personagens são funcionais e estão em uma família relativamente saudável e bem ajustada, mas ainda tem algumas questões internas a serem trabalhadas dando uma complexidade interessante. A ausência de um vilão com dualidade como é tradição nos filmes ocidental ajudou muito. É fofo, diferente da receita usual da Disney e bastante agradável, mas na dublagem não sei se as vozes ou tradução da música... Podia ter ficado melhor.
O livro é MUITO BOM, um dos melhores que já li. Mas o filme não chega aos pés. Parece tudo muito solto, cheio de lacunas. Não souberam trabalhar bem o jogo temporal que existe no livro.
Eu Não Sou uma Bruxa
3.9 50 Assista AgoraO filme é impecável. Ele demonstra um problema comum no mundo: o descompasso entre as Políticas Públicas do Estado e os grupos sociais vulneráveis. Claro que tabalha isso a partir da coexistência entre governo oficial e organização indigena, abordando problemas externos (como estrangeiros e pessoas brancas desumanizando nativos), políticos (debate sobre primazia de direito internacional e nacional à infância ou sistema indigena) e socio-culturais (como a fuga da norma amplia vulnerabilidade das vítimas e culmina em violências cíciclas). Tudo isso sem abandonar um viés de raça, classe, gênero e etário por meio da Shula. Uma criança que, tão silenciada, é quase muda e só encontra voz no grupo mais marginalizado, isto é: mulheres indígenas julgadas arbitrariamente e condenadas à um trabalho análogo ao escravo.
Até o exemplo de superação, a esposa do servidor público, é só mais uma vítima numa gaiola bonita.
Tudo isso sob transcorrendo como um fato absurdo (dependendo do ponto de vista), mas incrivelmente normal.
A atuação, a trilha sonora, e toda a composição visual é belíssima e se encaixa de forma fluida.
Melancolia
3.8 3,1K Assista AgoraMe lembra a discussão de um podcast sobre pulsão de morte e pulsão de vida. Cada irmã tá em um polo. A Justine só quer se autodestruir e o fim do mundo nunca foi tão acolhedor, tão confortável. É palpável como todo mundo sofre pra acomodar alguém que quer tanto largar tudo, sufocando a Justine e a forçando a um lugar de melancolia cada vez mais tangente e autodestrutivo.
A outra irmã tá muito focada em querer viver e projetar esse dejeso nos outros pra aceitar a Justine de fato, por isso ela sofre horrores na iminência do fim. As duas se completam, assim como o resto da família completa o caos.
Fotografía, cenário e atuação impecáveis. O tempo podia ser mais curto. Tem uns momentos pra gerar desconforto que ao invés de 6 minutos podia ser 3 e o resultado seria o mesmo.
Reality
3.3 33 Assista AgoraFaltou culhão, mas isso é compreensível conhecendo as regras de produção e distribuição dos EUA. Especialmente tendo usado a transcrição verbatim do documento original.
A Sydney arrasou e o resto do elenco transmite muito bem o desconforto de todo mundo messe tipo de situação.
A escolha de POV, composição das imagens e etc., faz um bom trabalho ao humanizar a Reality e criar um contraste bem interessante comparado ao modo que a mídia mainstream falava dela. É um posicionamento doméstico sutil, seguro, e que ainda assim faz certa diferença na percepção de estadounidenses comuns sobre a realidade política do país.
Charada
4.1 297 Assista AgoraOs atores tem química e as cenas fluem muito bem. A gente até esquece que é um filme antigo. Hoje em dia a premissa e a execução é batida, pois é um conjunto de tropes mais do que frequente. É divertido e dá pra passar o tempo se você assiste sem prestar muita atenção.
Mas envelheceu igual leite em alguns aspectos. Não só não passa no teste de Bechdel, como torna bem óbvio que talvez o diretor tenha se tornado fã de Lolita (o filme criminoso, não o livro iconico) anos depois.
A infantilização da mulher branca, pra alimentar o male gaze da época ao recorrer à cultura heteronormativa e os fetiches machistas dominantes são intragáveis. A FL tem a profundidade de um pires. Ela não tem interesse próprio, capacidade decisória independente, personalidade... Sua função é acessória ainda que na posição de protagonismo. Ela basicamente existe pra fazer o ML brilhar e deixar ele sexualmente satisfeito (e não, não é necessário cenas de sexo para isso).
Irrita (e muito) o quanto se esforçaram pra colocar a Audrey pra interpretar uma personagem com a capacidade cognitiva de uma criança de 6 anos. Inferno. Com 6 anos tem muita criança que mente, manipula e rouba dinheiro com mais habilidade e o cérebro delas nem tá formado, a experiência de vida é limitada e etc.
Arremesse seu senso crítico pela janela antes de consumir esse filme.
O Caso do Chocolate
4.3 1Eu não consigo ficar encantada porque estou revoltada. Começa como uma brincadeira da equipe e vai escalando de tom. De grandes empresas ignorando um consumidor final que questiona a origem do produto, passamos a ouvir os próprios ex-escravos. Isso porque só ouvimos quem escapou. É triste. Revoltante. E você vê o interesse real de todos os envolvidos e as frustrações de se deparar com uma indústria podre. Há certo incomodo quando intercala filmagens de 2005 com as de 2015 pela mudança de qualidade, mas de forma geral é muito bom. Só de não usar filtro amarelo nas filmagens na Africa já fico feliz.
Celular Manchado de Sangue
4.4 4A câmera balançando o tempo todo é o único ponto negativo do documentário. O tradicional uso do filtro amarelo para falar de África também me dá certo desgosto. A indagação do diretor é completamente válida e acompanhamos o registro de tantos crimes que é... Difícil terminar sem olhar nossos celulares e computadores de forma diferente. Não se trata só de financiar a guerra, mas todas as violências que vem com ela.
Encanto
3.8 804Um filme interessante sobre saúde mental e autoestima em um ambiente familiar. Os personagens são funcionais e estão em uma família relativamente saudável e bem ajustada, mas ainda tem algumas questões internas a serem trabalhadas dando uma complexidade interessante. A ausência de um vilão com dualidade como é tradição nos filmes ocidental ajudou muito. É fofo, diferente da receita usual da Disney e bastante agradável, mas na dublagem não sei se as vozes ou tradução da música... Podia ter ficado melhor.
Ar Condicionado
3.6 19Retrato de um cotidiano anestesiado de uma sociedade presa entre passado, presente e futuro. As cores, o ritmo e a trilha sonora hipnotizam.
Oxigênio
3.4 498 Assista AgoraUm filme que consegue respeitar todas as regras de distanciamento social em tempos de pandemia.
Boneco de Neve
2.4 462 Assista AgoraO livro é MUITO BOM, um dos melhores que já li. Mas o filme não chega aos pés. Parece tudo muito solto, cheio de lacunas. Não souberam trabalhar bem o jogo temporal que existe no livro.
Entre Realidades
2.9 307 Assista AgoraParece ser algo na vibe de "The Voices". Basicamente o mundo na perspectiva de uma mulher com algum transtorno psicológico genético.