Acho que termos uma série televisiva do nível de House of Cards - todos os elementos impecáveis (roteiro, direção, arte, fotografia...) - produzida pela Netflix diz muito sobre nosso atual cenário cinematográfico. Quero dizer, por tanto tempo meteram pau na TV como um meio massificante e imbecilizante, do qual nem vale a pena investir. Fico muito feliz por ver produções como essa que invertem essa lógica e fazem da TV um meio tão viável - ou mais - quanto o cinema, já que é, na verdade, bem mais potente (em termos de presença e de influência). As possibilidades de se fazer algo criativo e atual que fale diretamente a uma grande quantidade de pessoas são muitas na TV e é preciso que se pense mais nisso. A TV dos EUA é que tem nos mostrado isso (com Breaking Bad, Game of Thrones e etc), mas infelizmente, duvido muito que essa realidade chegue um dia a nossa TV brasileira, seja aberta ou fechada, pois estamos mergulhados na mediocridade até os ossos. E vejo uma onda de pouquíssima criatividade no cinema contemporâneo - que investe cada vez mais em sequências e franquias -, uma atmosfera bem mediana mesmo. Até mesmo no cinema nacional. Virão me dizer que filmes incríveis ainda continuam sendo feitos, isso é verdade, mas me parece que algo está se perdendo. E o que é sintomático para mim é isso: todos os grandes personagens ultimamente tem sido criado nas séries. Personagens muito bem explorados, tratados com profundidade e inteligência como Frank Underwood, Claire, nascem agora nas séries (ainda que adaptado de um livro) e não mais no cinema. A complexidade do roteiro de House of Cards e a linguagem extremamente bem elaborada e ácida que ele traz é algo que não tenho encontrado com frequência no cinema. Bem, sempre temos os filmes autorais, que via de regra exploram a linguagem do cinema, mas os autores hoje já são velhos de guerra. As séries hoje trouxeram um refresh nesse meio artístico; não posso deixar de pensar que o cinema se viu impactado por isso e agora precisa também se reinventar para voltar a ter a força que tinha. Ou não, e tudo está mudando mesmo? E o futuro é a internet e o streaming? Não sei... só sei que enquanto houver criatividade e boas produções, é para onde temos que olhar.
Mas sobre House of Cards: é um exercício de roteiro, direção, fotografia, direção de arte, trilha sonora e atuação, em todos os sentidos, de todas as formas, merece todos os elogios. É um exercício também de atualidade, da capacidade de falar de maneira tão inteligente sobre o zeitgeist - o nosso espírito do tempo. É elegante, na medida, impecável, embora peca um pouco com a história boba do hacker e outras coisinhas, mas a série é mais do que isso. A intro é um resumo extremamente poético e conceitual da série, executado com maestria. Diante de tudo isso, tem como não se perguntar como é que não assistimos a produções assim com mais frequência???
Essa eu precisava marcar e comentar: começou animal! melhor timing impossível, capturaram muito bem o espírito do momento. Tiveram uma ideia sensacional de transformar essa temporada em um South Park politicamente correto, mostrando toda a hipocrisia que há nisso. Foda. Fiquei feliz pra caralho
Ok, assisti a primeira temporada com os dois pé atrás, na segunda eu resolvi dar uma chance para essa série e assistir até o final, e nessa terceira ela decididamente me pegou. É incrível o quanto conseguiram dar reviravoltas na trama e fazer todas as histórias se entrelaçarem. No episódio final (muito foda, por sinal, o Aaron Paul me surpreendendo na atuação) não tem como você não pensar em como uma "simples" escolha na vida do Walter levou tudo e todos até aquele caminho, cheio de perdas, danos e um preço realmente altíssimo. Naturalmente alguns episódios foram fracos ou cansativos, especialmente o "Fly", embora ele tenha seu sentido ao querer mostrar um W. White lunático, perdendo o sentido de viver por, talvez, lutar tanto por uma mosca inalcançável - que poderia ser representada por sua familia, pelo futuro ou pela busca da felicidade e da paz. Ou mesmo de um fim para tudo aquilo. O ponto em que ele chegaria e diria: ok, não preciso mais disso; o que talvez nunca aconteça, porque no fim acho que o Walter cozinha para se sentir vivo. Ora, a primeira temporada não começa com sua apatia diante de sua vida? Vale a pena mencionar, eu acho, que o ponto alto desse episódio da mosca é, para mim,
o quase momento em que o White enfim confessa o que houve na noite em que Jane morreu.
Sempre estive esperando pela hora em que o Walter diria algo a respeito e a câmera enquadrasse a reação de Pinkman sem acreditar no que estava ouvindo. Chegamos perto, talvez futuramente o assunto seja retomado (e eu espero que seja), mas conhecendo o Walter, só em alguma situação extrema, naquelas em que se está à beira do abismo. Bem, do jeito que a série está, situações assim é o que não faltam rs 3ª temporada teve um final à altura. Agora é acompanhar as outras e ver se a qualidade, a maturidade e o desenvolvimento dos personagens se mantêm.
Yamishibai é tudo o que eu mais procurava em termos de histórias de terror. O formato de curta duração em episódios mostrou que FUNCIONA você criar um clima de terror em menos de cinco minutos. Acompanhamos apenas o que seria determinada pessoa naquela situação. Visualmente é uma pequena obra-prima, artística, bela de se ver e o mais importante, acredito que ajuda muito na história a forma como escolheram de passar a mensagem - com desenhos e poucos movimentos. Acho que foi a descoberta audiovisual mais rica e preciosa deste semestre!
Caramba, estou de boca aberta já no segundo episódio! Acho que é um dos melhores momentos em uma série documental que eu já vi acontecer, esse episódio II é demais. Estou adorando a forma como eles estão gravando, melhoraram bastante e estão mais próximos das pessoas, a edição também está muito melhor, não estão picotando as histórias como faziam, o que ajuda a criar um aprofundamento maior. Legal, tomara que só continuem melhorando.
Desculpe, será grande. Desconfio muito quando existe uma pessoa como Lena que escreve, dirige, produz e atua o próprio seriado. É quase sempre - porque há a exceção de Seinfeld - que isso vai resultar numa eterna teorização umbiguista, recheada de conceitos e sacadas geniais próprios daquele que domina o discurso. É o que acontece com o Woody Allen - por isso não é à toa que a chamam de Woody Allen de saias ou algo do tipo. Assisti Girls acreditando na premissa, se não original, ao menos realista de tratar dessa geração de jovens de 20 e poucos anos. Um pouco com pé atrás, confesso, porque detestei o filme Tiny Furniture, e já sabia mais ou menos o que estaria por vir - a nossa Woody Allen já se mostrara nesse filme. O fato é que alguns aspectos da série são de fato interessantes, por aceitarem com uma dose de realismo e aspereza como vivem esses jovens de vinte anos - especificamente, quais são os seus discursos. Acho que Girls retrata legal como é a eterna busca pelo emprego perfeito, onde os jovens, que se sentem especiais porque dotados de habilidades únicas e com potenciais incríveis, possam mostrar ao mundo tudo o que tem para dar. Mas querem isso já, enquanto ainda são jovens, enquanto podem recorrer à ajuda dos pais e dedicar o tempo ao emprego maravilhoso ou à busca a ele. Não há porque trabalhar em algo menor, sujar ao mãos em um emprego que nada tem a ver com você, afinal, falta apenas um pequeno passo para você conseguir ser tudo aquilo que acha que é. Isso é uma constante no pensamento de Hannah. Quando consegue um trabalho e enfim uma chance de poder ganhar dinheiro e pagar o aluguel, já que seus pais pararam de ajudar (será? juro que não entendo, até agora, como ela se mantém), ela resolve sair, em dois dias, por algum motivo muito estúpido. Ou, como li numa análise uma vez, assim que consegue um contrato real para publicação, com prazo e cobranças reais, então toda sua criatividade e arrojo literário, todas as suas experiências vivenciadas somente para ser a porta voz de uma geração, se silenciam e culminam num transtorno psicológico. Bem, o contrato é uma responsabilidade real, da qual a juventude se esquiva. E isso permeia a série inteira. Não apenas no âmbito do trabalho, mas também das relações. A superficialidade, o egocentrismo, a valorização extrema do individualismo, não entender e processar e aceitar os próprios sentimentos, não aceitar negativas, esperar sempre as recompensas... Bom, tudo isso está lá. Só que isso poderia ser a apresentação da primeira temporada, que nos situaria em qual universo a obra está. Mas isso está se alogando e há tanto vazio, tanto vazio no discurso, nas ações, nas reações e nos acontecimentos que Girls parece, agora, na terceira temporada, um mimimi de um bando de jovens que quebraram a cara, cometeram erros, sofreram, mas ainda estão naquela inércia apática. Ainda estão nos joguinhos e ainda falam entre si "puxa, você é tão egoísta", a cada episódio. O egoísmo virou palavra de boteco, já perdeu todo a significação. Onde está a verdadeira epifania? O verdadeiro momento de, enfim, SENTIR algo? Me admira muito um seriado que pretende focar melhor no universo feminino, ter como melhores personagens - no sentido de mais coerentes e melhor desenvolvidos - Adam e Ray. Adam foi uma reviravolta, uma surpresa de personagem, e achei isso muito legal. Poderia ser só o tipo babaca, que realmente toda mulher fala "ele não deve fazer isso com você, você não é sua namorada", mas em algum momento ele disse à Hannah "você nunca quis me conhecer, você nunca perguntou nada" e aí abriu-se toda a maravilhosa complexidade que existe na relação humana. E o Ray é aquele cara na meia-idade cansado que admite o próprio fracasso. Ao menos ele me parece autêntico ali, no meio de tantas garotas com muito o que falar, mas com pouco a dizer. Aquele tipo que não tem muito o que perder, que não gosta de nada. É engraçado: as meninas com mil questionamentos angustiosos sobre que rumo tomar, sem, no entanto, fazerem nada para isso, e ele, que admitiu o próprio fracasso, tentou fazer alguma coisa e agora está de boa, sem precisar ter uma mega coisa feita na vida para sentir satisfação. Falei muito já. Mas Girls, agora, cansou bastante.
House of Cards (4ª Temporada)
4.5 407 Assista AgoraQUE SÉRIE!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
ave maria!!!!!!!!!!!!!!
House of Cards (2ª Temporada)
4.6 497Acho que termos uma série televisiva do nível de House of Cards - todos os elementos impecáveis (roteiro, direção, arte, fotografia...) - produzida pela Netflix diz muito sobre nosso atual cenário cinematográfico. Quero dizer, por tanto tempo meteram pau na TV como um meio massificante e imbecilizante, do qual nem vale a pena investir. Fico muito feliz por ver produções como essa que invertem essa lógica e fazem da TV um meio tão viável - ou mais - quanto o cinema, já que é, na verdade, bem mais potente (em termos de presença e de influência). As possibilidades de se fazer algo criativo e atual que fale diretamente a uma grande quantidade de pessoas são muitas na TV e é preciso que se pense mais nisso. A TV dos EUA é que tem nos mostrado isso (com Breaking Bad, Game of Thrones e etc), mas infelizmente, duvido muito que essa realidade chegue um dia a nossa TV brasileira, seja aberta ou fechada, pois estamos mergulhados na mediocridade até os ossos.
E vejo uma onda de pouquíssima criatividade no cinema contemporâneo - que investe cada vez mais em sequências e franquias -, uma atmosfera bem mediana mesmo. Até mesmo no cinema nacional. Virão me dizer que filmes incríveis ainda continuam sendo feitos, isso é verdade, mas me parece que algo está se perdendo. E o que é sintomático para mim é isso: todos os grandes personagens ultimamente tem sido criado nas séries. Personagens muito bem explorados, tratados com profundidade e inteligência como Frank Underwood, Claire, nascem agora nas séries (ainda que adaptado de um livro) e não mais no cinema. A complexidade do roteiro de House of Cards e a linguagem extremamente bem elaborada e ácida que ele traz é algo que não tenho encontrado com frequência no cinema. Bem, sempre temos os filmes autorais, que via de regra exploram a linguagem do cinema, mas os autores hoje já são velhos de guerra. As séries hoje trouxeram um refresh nesse meio artístico; não posso deixar de pensar que o cinema se viu impactado por isso e agora precisa também se reinventar para voltar a ter a força que tinha.
Ou não, e tudo está mudando mesmo? E o futuro é a internet e o streaming?
Não sei... só sei que enquanto houver criatividade e boas produções, é para onde temos que olhar.
Mas sobre House of Cards: é um exercício de roteiro, direção, fotografia, direção de arte, trilha sonora e atuação, em todos os sentidos, de todas as formas, merece todos os elogios. É um exercício também de atualidade, da capacidade de falar de maneira tão inteligente sobre o zeitgeist - o nosso espírito do tempo. É elegante, na medida, impecável, embora peca um pouco com a história boba do hacker e outras coisinhas, mas a série é mais do que isso. A intro é um resumo extremamente poético e conceitual da série, executado com maestria. Diante de tudo isso, tem como não se perguntar como é que não assistimos a produções assim com mais frequência???
South Park (19ª Temporada)
4.3 35 Assista AgoraEssa eu precisava marcar e comentar: começou animal!
melhor timing impossível, capturaram muito bem o espírito do momento. Tiveram uma ideia sensacional de transformar essa temporada em um South Park politicamente correto, mostrando toda a hipocrisia que há nisso. Foda. Fiquei feliz pra caralho
Breaking Bad (3ª Temporada)
4.6 839Ok, assisti a primeira temporada com os dois pé atrás, na segunda eu resolvi dar uma chance para essa série e assistir até o final, e nessa terceira ela decididamente me pegou. É incrível o quanto conseguiram dar reviravoltas na trama e fazer todas as histórias se entrelaçarem. No episódio final (muito foda, por sinal, o Aaron Paul me surpreendendo na atuação) não tem como você não pensar em como uma "simples" escolha na vida do Walter levou tudo e todos até aquele caminho, cheio de perdas, danos e um preço realmente altíssimo. Naturalmente alguns episódios foram fracos ou cansativos, especialmente o "Fly", embora ele tenha seu sentido ao querer mostrar um W. White lunático, perdendo o sentido de viver por, talvez, lutar tanto por uma mosca inalcançável - que poderia ser representada por sua familia, pelo futuro ou pela busca da felicidade e da paz. Ou mesmo de um fim para tudo aquilo. O ponto em que ele chegaria e diria: ok, não preciso mais disso; o que talvez nunca aconteça, porque no fim acho que o Walter cozinha para se sentir vivo. Ora, a primeira temporada não começa com sua apatia diante de sua vida?
Vale a pena mencionar, eu acho, que o ponto alto desse episódio da mosca é, para mim,
o quase momento em que o White enfim confessa o que houve na noite em que Jane morreu.
3ª temporada teve um final à altura. Agora é acompanhar as outras e ver se a qualidade, a maturidade e o desenvolvimento dos personagens se mantêm.
Yami Shibai (1ª Temporada)
4.0 26Yamishibai é tudo o que eu mais procurava em termos de histórias de terror. O formato de curta duração em episódios mostrou que FUNCIONA você criar um clima de terror em menos de cinco minutos. Acompanhamos apenas o que seria determinada pessoa naquela situação. Visualmente é uma pequena obra-prima, artística, bela de se ver e o mais importante, acredito que ajuda muito na história a forma como escolheram de passar a mensagem - com desenhos e poucos movimentos. Acho que foi a descoberta audiovisual mais rica e preciosa deste semestre!
Catfish: A Série (3ª Temporada)
4.1 13 Assista AgoraCaramba, estou de boca aberta já no segundo episódio! Acho que é um dos melhores momentos em uma série documental que eu já vi acontecer, esse episódio II é demais. Estou adorando a forma como eles estão gravando, melhoraram bastante e estão mais próximos das pessoas, a edição também está muito melhor, não estão picotando as histórias como faziam, o que ajuda a criar um aprofundamento maior. Legal, tomara que só continuem melhorando.
Girls (3ª Temporada)
4.1 184Desculpe, será grande.
Desconfio muito quando existe uma pessoa como Lena que escreve, dirige, produz e atua o próprio seriado. É quase sempre - porque há a exceção de Seinfeld - que isso vai resultar numa eterna teorização umbiguista, recheada de conceitos e sacadas geniais próprios daquele que domina o discurso. É o que acontece com o Woody Allen - por isso não é à toa que a chamam de Woody Allen de saias ou algo do tipo. Assisti Girls acreditando na premissa, se não original, ao menos realista de tratar dessa geração de jovens de 20 e poucos anos. Um pouco com pé atrás, confesso, porque detestei o filme Tiny Furniture, e já sabia mais ou menos o que estaria por vir - a nossa Woody Allen já se mostrara nesse filme.
O fato é que alguns aspectos da série são de fato interessantes, por aceitarem com uma dose de realismo e aspereza como vivem esses jovens de vinte anos - especificamente, quais são os seus discursos. Acho que Girls retrata legal como é a eterna busca pelo emprego perfeito, onde os jovens, que se sentem especiais porque dotados de habilidades únicas e com potenciais incríveis, possam mostrar ao mundo tudo o que tem para dar. Mas querem isso já, enquanto ainda são jovens, enquanto podem recorrer à ajuda dos pais e dedicar o tempo ao emprego maravilhoso ou à busca a ele. Não há porque trabalhar em algo menor, sujar ao mãos em um emprego que nada tem a ver com você, afinal, falta apenas um pequeno passo para você conseguir ser tudo aquilo que acha que é.
Isso é uma constante no pensamento de Hannah. Quando consegue um trabalho e enfim uma chance de poder ganhar dinheiro e pagar o aluguel, já que seus pais pararam de ajudar (será? juro que não entendo, até agora, como ela se mantém), ela resolve sair, em dois dias, por algum motivo muito estúpido. Ou, como li numa análise uma vez, assim que consegue um contrato real para publicação, com prazo e cobranças reais, então toda sua criatividade e arrojo literário, todas as suas experiências vivenciadas somente para ser a porta voz de uma geração, se silenciam e culminam num transtorno psicológico. Bem, o contrato é uma responsabilidade real, da qual a juventude se esquiva.
E isso permeia a série inteira. Não apenas no âmbito do trabalho, mas também das relações. A superficialidade, o egocentrismo, a valorização extrema do individualismo, não entender e processar e aceitar os próprios sentimentos, não aceitar negativas, esperar sempre as recompensas...
Bom, tudo isso está lá. Só que isso poderia ser a apresentação da primeira temporada, que nos situaria em qual universo a obra está. Mas isso está se alogando e há tanto vazio, tanto vazio no discurso, nas ações, nas reações e nos acontecimentos que Girls parece, agora, na terceira temporada, um mimimi de um bando de jovens que quebraram a cara, cometeram erros, sofreram, mas ainda estão naquela inércia apática. Ainda estão nos joguinhos e ainda falam entre si "puxa, você é tão egoísta", a cada episódio. O egoísmo virou palavra de boteco, já perdeu todo a significação. Onde está a verdadeira epifania? O verdadeiro momento de, enfim, SENTIR algo?
Me admira muito um seriado que pretende focar melhor no universo feminino, ter como melhores personagens - no sentido de mais coerentes e melhor desenvolvidos - Adam e Ray. Adam foi uma reviravolta, uma surpresa de personagem, e achei isso muito legal. Poderia ser só o tipo babaca, que realmente toda mulher fala "ele não deve fazer isso com você, você não é sua namorada", mas em algum momento ele disse à Hannah "você nunca quis me conhecer, você nunca perguntou nada" e aí abriu-se toda a maravilhosa complexidade que existe na relação humana.
E o Ray é aquele cara na meia-idade cansado que admite o próprio fracasso. Ao menos ele me parece autêntico ali, no meio de tantas garotas com muito o que falar, mas com pouco a dizer. Aquele tipo que não tem muito o que perder, que não gosta de nada. É engraçado: as meninas com mil questionamentos angustiosos sobre que rumo tomar, sem, no entanto, fazerem nada para isso, e ele, que admitiu o próprio fracasso, tentou fazer alguma coisa e agora está de boa, sem precisar ter uma mega coisa feita na vida para sentir satisfação.
Falei muito já. Mas Girls, agora, cansou bastante.