uma vez fiz uma entrevista com o Shen Ribeiro, um músico que foi ao Japão estudar shakuhachi (flauta tradicional japonesa). Ele teve um mestre, e você deve imaginar como é viver um ensinamento desse tipo morando sozinho no Japão. Ele nos disse, depois de tocar um som que era "um alce chamando o outro": nessa música a inspiração é a natureza, diferentemente da nossa, que é o relacionamento e o amor. o que me incomodou no filme foi justamente isso: a insistência no relacionamento e no amor como base para a felicidade do ser humano, ou para ele se encontrar - um pensamento tipicamente ocidental. Eu quis assistir justamente pra tentar ver qual era o tipo de ensinamento que o filme oferecia. E o tempo inteiro é só divórcio e casamento e homem e amor! É assustador, porque eu acho que é assim que o ocidente pensa sua vida, é assim que muitas pessoas pensam sobre si próprias e sua vida. Precisam ouvir conselhos de todo mundo, de amigos a xamãs, pra decidir sobre o que devem fazer e o que devem sentir em relação a algum sofrimento ou desilusão amorosa. Precisam ouvir clichês como "continue acreditando no amor" pra deixar de serem egoístas, porque são egoístas o tempo inteiro. No fim, acham que encontraram um amor individual, um equilíbrio e uma paz interior até o carinha por quem se apaixonaram ser chato e cansativo novamente. A diferença é que o filme termina antes disso...
por favor, alguém sabe onde baixar com áudio dublado? preciso alimentar a nostalgia de infância revendo este filme!!!
esse INCRIVEL JORNADA e aquele NAPOLEON, do cãozinho labrador que entrava dentro de um cesto num aniversário de criança e ia parar num deserto onde virava amigo de um lagarto, jesus cristo, como faziam minha mente criativa de infância vibrar de emoção!!!!!
Spielberg fez bem em cair fora dessa roubada... Uma pena. O filme é um espetáculo visual, mas a profundidade do roteiro e dos personagens, a coerência e os conceitos defendidos são, no bom português, uma porcaria.
Acho que termos uma série televisiva do nível de House of Cards - todos os elementos impecáveis (roteiro, direção, arte, fotografia...) - produzida pela Netflix diz muito sobre nosso atual cenário cinematográfico. Quero dizer, por tanto tempo meteram pau na TV como um meio massificante e imbecilizante, do qual nem vale a pena investir. Fico muito feliz por ver produções como essa que invertem essa lógica e fazem da TV um meio tão viável - ou mais - quanto o cinema, já que é, na verdade, bem mais potente (em termos de presença e de influência). As possibilidades de se fazer algo criativo e atual que fale diretamente a uma grande quantidade de pessoas são muitas na TV e é preciso que se pense mais nisso. A TV dos EUA é que tem nos mostrado isso (com Breaking Bad, Game of Thrones e etc), mas infelizmente, duvido muito que essa realidade chegue um dia a nossa TV brasileira, seja aberta ou fechada, pois estamos mergulhados na mediocridade até os ossos. E vejo uma onda de pouquíssima criatividade no cinema contemporâneo - que investe cada vez mais em sequências e franquias -, uma atmosfera bem mediana mesmo. Até mesmo no cinema nacional. Virão me dizer que filmes incríveis ainda continuam sendo feitos, isso é verdade, mas me parece que algo está se perdendo. E o que é sintomático para mim é isso: todos os grandes personagens ultimamente tem sido criado nas séries. Personagens muito bem explorados, tratados com profundidade e inteligência como Frank Underwood, Claire, nascem agora nas séries (ainda que adaptado de um livro) e não mais no cinema. A complexidade do roteiro de House of Cards e a linguagem extremamente bem elaborada e ácida que ele traz é algo que não tenho encontrado com frequência no cinema. Bem, sempre temos os filmes autorais, que via de regra exploram a linguagem do cinema, mas os autores hoje já são velhos de guerra. As séries hoje trouxeram um refresh nesse meio artístico; não posso deixar de pensar que o cinema se viu impactado por isso e agora precisa também se reinventar para voltar a ter a força que tinha. Ou não, e tudo está mudando mesmo? E o futuro é a internet e o streaming? Não sei... só sei que enquanto houver criatividade e boas produções, é para onde temos que olhar.
Mas sobre House of Cards: é um exercício de roteiro, direção, fotografia, direção de arte, trilha sonora e atuação, em todos os sentidos, de todas as formas, merece todos os elogios. É um exercício também de atualidade, da capacidade de falar de maneira tão inteligente sobre o zeitgeist - o nosso espírito do tempo. É elegante, na medida, impecável, embora peca um pouco com a história boba do hacker e outras coisinhas, mas a série é mais do que isso. A intro é um resumo extremamente poético e conceitual da série, executado com maestria. Diante de tudo isso, tem como não se perguntar como é que não assistimos a produções assim com mais frequência???
Ainda estou tentando compreender o emaranhado de pensamentos após ter assistido a esse filme. Algo me incomodou com o andamento da obra e principalmente com o final, ainda não sei o que é. Mas decididamente não concordo com a frase que encerra essa sinopse: a conexão dos dois é qualquer coisa menos profunda! Não consigo ver uma relação de aprofundamento "a partir daí".
Essa eu precisava marcar e comentar: começou animal! melhor timing impossível, capturaram muito bem o espírito do momento. Tiveram uma ideia sensacional de transformar essa temporada em um South Park politicamente correto, mostrando toda a hipocrisia que há nisso. Foda. Fiquei feliz pra caralho
Gaspar Noé mais uma vez sendo... pedante! Precisa aparecer no filme, ter seu nome mencionado duas vezes e ainda dar aos seus personagens seu próprio discurso, como que justificando seu filme ser assim, "visceral e escancarado", afinal, "é a vida". Às vezes parece que de tanto querer fazer um filme libertário sobre sexo e amor, por essas coisas acaba caindo em qualquer lugar, menos na liberdade (tudo bem que os críticos também não ajudam quando apontam as cenas com os dedos, chocados) e aí o sexo acaba virando discurso. Fora que temos que acompanhar a autocomiseração cansativa de um personagem que em momentos que deveria ser muito profundo, age como um babaca...e continua sendo até o fim. Como disse alguém aqui embaixo... cuidado com o que deseja? Amor e sexo levam a um caminho intenso de autoconhecimento, que não significa que seja destrutivo. O que é destrutivo é o ego, a ignorância, a insegurança, o próprio desejo até...e no final, não vejo um pingo de reconhecimento. Tanto sexo "com amor" para não chegar a nada...mas se é isso que chamam de fatalismo... Fora o roteiro, algumas cenas são belas e sensuais, e a direção de arte e a fotografia casam bem. A cena com a travesti é engraçada. E a trilha é legal em alguns momentos. E só rsrs
Estou espantada por ver que Whiplash está concorrendo ao Oscar, tem nota alta no IMDB e tem causado bastante rebuliço. Achei um filme bem mediano! A montagem estilo videoclipe é bem óbvia, do tipo "cortar ao som do prato da bateria", e acaba ficando um pouco cansativo, sem criatividade. O roteiro tem buracos, clichês muito bobos e as situações são todas muito convenientes.
Vai me botar um cara que acabou de sofrer um acidente sair correndo para fazer um show?
Não convence, força a barra por querer mostrar o tempo todo o quanto o menino é obsessivo com a perfeição. Acho a premissa muito legal, na verdade, mas três ou quatro situações para mostrar a obsessão dele é muita superficialidade. E aí o final me pareceu exatamente esse: tudo muito conveniente para dar ao cinema um final americano de heroi. A única forma que o diretor encontrou de forçar a obsessão do menino no filme são os momentos em que o mestre Fletcher (J.K. Simmons está bem legal no papel) exige a capacidade do Newman de ser músico e é justamente por esses momentos que o personagem do garoto revela ser muito fraco, uma vez que ao longo do filme inteiro ele se prova irresponsável, imaturo e ainda incapaz de ser um músico à altura, para entrar na orquestra desse conservatório. O tempo todo mediano, para no final estourar e mandar tão bem quanto Buddy Rich? Parece aquelas histórias que contam de superação, do tipo, "tenha um sonho que tudo se resolverá". Achei que esse filme seria muito mais esperto, crítico até, ao tratar de um assunto como esse. Ele é apenas legal.
Ok, assisti a primeira temporada com os dois pé atrás, na segunda eu resolvi dar uma chance para essa série e assistir até o final, e nessa terceira ela decididamente me pegou. É incrível o quanto conseguiram dar reviravoltas na trama e fazer todas as histórias se entrelaçarem. No episódio final (muito foda, por sinal, o Aaron Paul me surpreendendo na atuação) não tem como você não pensar em como uma "simples" escolha na vida do Walter levou tudo e todos até aquele caminho, cheio de perdas, danos e um preço realmente altíssimo. Naturalmente alguns episódios foram fracos ou cansativos, especialmente o "Fly", embora ele tenha seu sentido ao querer mostrar um W. White lunático, perdendo o sentido de viver por, talvez, lutar tanto por uma mosca inalcançável - que poderia ser representada por sua familia, pelo futuro ou pela busca da felicidade e da paz. Ou mesmo de um fim para tudo aquilo. O ponto em que ele chegaria e diria: ok, não preciso mais disso; o que talvez nunca aconteça, porque no fim acho que o Walter cozinha para se sentir vivo. Ora, a primeira temporada não começa com sua apatia diante de sua vida? Vale a pena mencionar, eu acho, que o ponto alto desse episódio da mosca é, para mim,
o quase momento em que o White enfim confessa o que houve na noite em que Jane morreu.
Sempre estive esperando pela hora em que o Walter diria algo a respeito e a câmera enquadrasse a reação de Pinkman sem acreditar no que estava ouvindo. Chegamos perto, talvez futuramente o assunto seja retomado (e eu espero que seja), mas conhecendo o Walter, só em alguma situação extrema, naquelas em que se está à beira do abismo. Bem, do jeito que a série está, situações assim é o que não faltam rs 3ª temporada teve um final à altura. Agora é acompanhar as outras e ver se a qualidade, a maturidade e o desenvolvimento dos personagens se mantêm.
Yamishibai é tudo o que eu mais procurava em termos de histórias de terror. O formato de curta duração em episódios mostrou que FUNCIONA você criar um clima de terror em menos de cinco minutos. Acompanhamos apenas o que seria determinada pessoa naquela situação. Visualmente é uma pequena obra-prima, artística, bela de se ver e o mais importante, acredito que ajuda muito na história a forma como escolheram de passar a mensagem - com desenhos e poucos movimentos. Acho que foi a descoberta audiovisual mais rica e preciosa deste semestre!
Caramba, estou de boca aberta já no segundo episódio! Acho que é um dos melhores momentos em uma série documental que eu já vi acontecer, esse episódio II é demais. Estou adorando a forma como eles estão gravando, melhoraram bastante e estão mais próximos das pessoas, a edição também está muito melhor, não estão picotando as histórias como faziam, o que ajuda a criar um aprofundamento maior. Legal, tomara que só continuem melhorando.
É um filme estranho mas, ao mesmo tempo, quase hipnótico. Bem feito, ótima direção de arte, bela fotografia, uma mescla de estética de game com as maravilhosas cenas de luta oriental. A princípio estava achando o roteiro confuso, mas um olhar mais observador e distante me fez perceber que é absolutamente lógico e claro que o roteiro tem consciência de seus caminhos. Não é preciso comentar que muito da apreensão do filme se dê por um conhecimento ao menos básico da cultura chinesa - como as lendas mitológicas de vampiro, que dizem que se combate um vampiro com pergaminhos escritos com feitiços (que são nada menos que ensinamentos budistas) e arroz, ou mesmo os cinco elementos chineses e como funcionam, o yin e yang (que é citado em algum momento do filme), etc - além de, é claro, saber o que significa Rigor Mortis. O título do filme já é praticamente autoexplicativo. O final, portanto, fica extremamente pertinente e interessante, ao meu ver, quando se pensa que
tudo o que se passou na tela é uma invenção resultada de efeitos químicos no corpo/cérebro do personagem, em que cada elemento - a mulher com o filho loiro, as duas irmãs, o vampiro e etc - age como uma representação de algum aspecto psicológico do personagem, ou seja, são representações de coisas, pessoas e comportamentos de sua vida.
Desculpe, será grande. Desconfio muito quando existe uma pessoa como Lena que escreve, dirige, produz e atua o próprio seriado. É quase sempre - porque há a exceção de Seinfeld - que isso vai resultar numa eterna teorização umbiguista, recheada de conceitos e sacadas geniais próprios daquele que domina o discurso. É o que acontece com o Woody Allen - por isso não é à toa que a chamam de Woody Allen de saias ou algo do tipo. Assisti Girls acreditando na premissa, se não original, ao menos realista de tratar dessa geração de jovens de 20 e poucos anos. Um pouco com pé atrás, confesso, porque detestei o filme Tiny Furniture, e já sabia mais ou menos o que estaria por vir - a nossa Woody Allen já se mostrara nesse filme. O fato é que alguns aspectos da série são de fato interessantes, por aceitarem com uma dose de realismo e aspereza como vivem esses jovens de vinte anos - especificamente, quais são os seus discursos. Acho que Girls retrata legal como é a eterna busca pelo emprego perfeito, onde os jovens, que se sentem especiais porque dotados de habilidades únicas e com potenciais incríveis, possam mostrar ao mundo tudo o que tem para dar. Mas querem isso já, enquanto ainda são jovens, enquanto podem recorrer à ajuda dos pais e dedicar o tempo ao emprego maravilhoso ou à busca a ele. Não há porque trabalhar em algo menor, sujar ao mãos em um emprego que nada tem a ver com você, afinal, falta apenas um pequeno passo para você conseguir ser tudo aquilo que acha que é. Isso é uma constante no pensamento de Hannah. Quando consegue um trabalho e enfim uma chance de poder ganhar dinheiro e pagar o aluguel, já que seus pais pararam de ajudar (será? juro que não entendo, até agora, como ela se mantém), ela resolve sair, em dois dias, por algum motivo muito estúpido. Ou, como li numa análise uma vez, assim que consegue um contrato real para publicação, com prazo e cobranças reais, então toda sua criatividade e arrojo literário, todas as suas experiências vivenciadas somente para ser a porta voz de uma geração, se silenciam e culminam num transtorno psicológico. Bem, o contrato é uma responsabilidade real, da qual a juventude se esquiva. E isso permeia a série inteira. Não apenas no âmbito do trabalho, mas também das relações. A superficialidade, o egocentrismo, a valorização extrema do individualismo, não entender e processar e aceitar os próprios sentimentos, não aceitar negativas, esperar sempre as recompensas... Bom, tudo isso está lá. Só que isso poderia ser a apresentação da primeira temporada, que nos situaria em qual universo a obra está. Mas isso está se alogando e há tanto vazio, tanto vazio no discurso, nas ações, nas reações e nos acontecimentos que Girls parece, agora, na terceira temporada, um mimimi de um bando de jovens que quebraram a cara, cometeram erros, sofreram, mas ainda estão naquela inércia apática. Ainda estão nos joguinhos e ainda falam entre si "puxa, você é tão egoísta", a cada episódio. O egoísmo virou palavra de boteco, já perdeu todo a significação. Onde está a verdadeira epifania? O verdadeiro momento de, enfim, SENTIR algo? Me admira muito um seriado que pretende focar melhor no universo feminino, ter como melhores personagens - no sentido de mais coerentes e melhor desenvolvidos - Adam e Ray. Adam foi uma reviravolta, uma surpresa de personagem, e achei isso muito legal. Poderia ser só o tipo babaca, que realmente toda mulher fala "ele não deve fazer isso com você, você não é sua namorada", mas em algum momento ele disse à Hannah "você nunca quis me conhecer, você nunca perguntou nada" e aí abriu-se toda a maravilhosa complexidade que existe na relação humana. E o Ray é aquele cara na meia-idade cansado que admite o próprio fracasso. Ao menos ele me parece autêntico ali, no meio de tantas garotas com muito o que falar, mas com pouco a dizer. Aquele tipo que não tem muito o que perder, que não gosta de nada. É engraçado: as meninas com mil questionamentos angustiosos sobre que rumo tomar, sem, no entanto, fazerem nada para isso, e ele, que admitiu o próprio fracasso, tentou fazer alguma coisa e agora está de boa, sem precisar ter uma mega coisa feita na vida para sentir satisfação. Falei muito já. Mas Girls, agora, cansou bastante.
Interessante a parafernalha visual de Greenaway. Edar Pêra parece que leu Ismail Xavier e Arlindo Machado e fez um resumo de suas teorias (ou seja, nada novo. E ainda um pouco besta, principalmente aquele final...) e Godard, bem, Godard está sendo Godard. Como era de se esperar, não faria nenhuma ficção com 3D, mas aproveitaria o 3D apenas como tema e reflexão. Mas, se é pra usar óculos 3D, que pelos menos os títulos saltem à tela. E foi somente o que fez. Interessante, mas eu particularmente não consigo apreender de primeira suas viagens.
Roteiro de trama já bem conhecida e facilmente capaz de ser desvendada logo no primeiro bloco. Mas a direção de fotografia tira um pouco da mesmice da história, o que é um mérito... alguns planos são bem explorados. Há uma certa caricatura, a meu ver, nesse tipo de personagem (e falo dos três: do irmão, da mãe e da filha) meio engessado, quase mecânico, silencioso, de atos graves e comedidos, pra dar aquele ar de mistério e suspense, que até casa com a direção de arte e com o filme em si, mas que não representa nada de novo também. Agora, essa tensão sexual entre os três ficou bem sensual,
a cena da menina imaginando (?) o Charlie tocando piano com ela, a cena dela se masturbando no chuveiro e as cenas de Charlie com a mãe
só não são orgasmáticas porque rejeitam o clímax ou a consumação daquele ato que a gente, vouyer, quer ver se desenrolar até o final. Mas tem muita sensualidade. Na minha opinião, é um filme mediano, inofensivo, muito em parte pelo roteiro. Mas bem filmado.
Depois da cereja do bolo que foi a aparição do Paul McCartney no filme (bem bacana, por sinal), isso tudo só nos dá uma certeza e uma pergunta: Dave Grohl tem os amigos mais fodas do mundo, mas como é que com tanta boa referência musical ele consegue ter uma banda tão sem graça como o Foo Fighters? Será que seus amigos curtem seu som?
Fraquíssimo. Primeiro que a fragmentação da linearidade narrativa perdeu muito pra história, tornando a frase de Cauby em um dado momento do filme ("fique aqui, a gente se ama!") uma coisa patética. Não vou comparar a relação dos dois com o livro, porque acho que temos que analisar o filme separadamente como uma obra específica e, nesse caso, a história é fraca demais. Tentar inserir momentos poéticos - ficar pintando o corpo com tinta, soprar fumaça de cigarro na foto, as próprias fotos e etc - pra mim é tentar tapar buraco de falta de drama, falta de narrativa. E o filme faz isso o tempo inteiro!! O personagem do Gero Camilo está totalmente fora do tempo, soa forçada suas declamações de poesia e seus "gestos líricos", como apontar a lupa pro Cauby e perguntar se ele tem medo da vida. Não há nada de ruim nesses lirismos, mas há muito de ruim quando esse lirismo surge sem propósito e fora de compasso. Porque de repente todo mundo é poeta e tudo é poesia. Senti um pouco de gratuidade desnecessária nisso tudo. O livro como narrativa tem uma puta carga dramática, que vai crescendo e estoura no final. O filme patina. Tem amor com açúcar de sobra e menos tesão com café amargo, que é para mim como deveria ser a essência dessa história. Merece duas estrelas por uma ou duas cenas mais pra perto do final
Esse filme não deixa de lembrar um pouco Woody Allen por essa característica de se firmar nos diálogos, porém, Polanski é um cara muito mais bacana que o Allen, fez o filme em apenas um cenário (um grande mestre dos filmes de apartamento), os atores estão na medida certa, o exagero aparente surge em momentos essenciais, o filme vai crescendo no drama e consequentemente no aprofundamento dos personagens... enquanto que o Allen fica ali muitas vezes só na superfície fazendo seus personagens vomitarem "sacadinhas geniais" o tempo inteiro. Enfim, Carnage é fantástico, realmente uma comédia inteligente. E esse poster está muito bom pra demonstrar o que o filme é!!!
Como bem lembrou alguém aqui, a história começa com "Era uma vez", pendendo, portanto, para uma história mais fabulosa. Não há problema nenhum em trazer fábulas e mitos para o cinema, Del Toro fez isso muito bem com Labirinto do Fauno, por exemplo. O problema em Mama - a meu ver - é que se utiliza de uma linguagem totalmente convencional de filmes de terror, de cortes banais e clichês e isso faz perder um pouco da mágica que se pretendia, principalmente no final, quando todo o clima criado dá uma quebra nas expectativas. Justamente porque todo o desenrolar da trama seguia uma narrativa convencional. Porém, eu vi coisas absolutamente fantásticas em Mama. Há cenas incríveis, há momentos esplendorosos e de um terror sutil, há movimentos de câmera ótimos, e eu gostaria que o filme seguisse por esses momentos ao invés de cair na mesmice dos sustos batidos de terror. Com um pouco mais de trabalho e cuidados nas sutilezas, Mama poderia ter ficado sensacional. Outro ponto positivo foi o trabalho com as crianças, sempre bem vindo no cinema, já que é tão raro (ao menos por aqui no nosso cinema brasileiro).
Só eu achei que houve uma química forçada entre a Eva Mendes e o Sam Worthington? De duas, uma: ou ela realmente não se encaixou no papel, e de alguma maneira muito mágica ela ficou menos bonita nesse filme e até menos sensual, acho que beirando o vulgar mesmo, não sei dizer exatamente onde; ou esse era de fato o papel dela, ser uma mulher chata, inconveniente e forçosamente sensual, quase mandona, pra levar o cara a ceder, ou seja, ter o papel de não ser a mulher por quem ele iria se apaixonar depois. O que é totalmente o contrário do que acontece entre a Keira e o Guillaume, que coisa linda os dois, que paixão latente, que carinho! Ok... pensando por esse lado... talvez a escolha da Eva pra forçar uma química tenha sido consciente...e, por isso mesmo, não tão ruim assim...
Assistindo, fiquei pensando: qual a diferença desse curta de 5 minutos em que um homem fala pensamentos aleatórios para uma câmera e os vídeos que as pessoas fazem para o youtube, dessa mesma forma? O que muda é apenas o conteúdo, e o nome de Gaspar Noé. De resto, a essência é a mesma. Mas gostei muito mais desses devaneios do que os do pessoal contemporâneo do youtube...
Extremamente expositivo e íntimo. Engraçado pensar que antes dessa revolução pós-moderna no comportamento (e na vida, por fim) expor a privacidade não era algo imaginado, era restrito à própria individualidade, ou no máximo compartilhado nos confessionários cristãos, como diz Bauman. Agora a cultura de subjetivação e da exposição já está arraigada...a ponto de termos um indivíduo que faz da câmera uma mediadora entre as relações que ele tem com si próprio, com os namorados e com a família. Cauoette se torna quase um dominador alfa com a câmera na mão, afinal, é pela presença dela que a mãe se sente tão inquieta para falar do passado na cena em que ele insiste e a coloca "contra a parede". Como deve ser ver uma pessoa que não larga a câmera durante mais de 20 anos de sua vida? Inquietante, no mínimo. E também assustador...
House of Cards (4ª Temporada)
4.5 407 Assista AgoraQUE SÉRIE!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
ave maria!!!!!!!!!!!!!!
Comer Rezar Amar
3.3 2,3K Assista Agorauma vez fiz uma entrevista com o Shen Ribeiro, um músico que foi ao Japão estudar shakuhachi (flauta tradicional japonesa). Ele teve um mestre, e você deve imaginar como é viver um ensinamento desse tipo morando sozinho no Japão. Ele nos disse, depois de tocar um som que era "um alce chamando o outro": nessa música a inspiração é a natureza, diferentemente da nossa, que é o relacionamento e o amor.
o que me incomodou no filme foi justamente isso: a insistência no relacionamento e no amor como base para a felicidade do ser humano, ou para ele se encontrar - um pensamento tipicamente ocidental. Eu quis assistir justamente pra tentar ver qual era o tipo de ensinamento que o filme oferecia. E o tempo inteiro é só divórcio e casamento e homem e amor! É assustador, porque eu acho que é assim que o ocidente pensa sua vida, é assim que muitas pessoas pensam sobre si próprias e sua vida. Precisam ouvir conselhos de todo mundo, de amigos a xamãs, pra decidir sobre o que devem fazer e o que devem sentir em relação a algum sofrimento ou desilusão amorosa. Precisam ouvir clichês como "continue acreditando no amor" pra deixar de serem egoístas, porque são egoístas o tempo inteiro. No fim, acham que encontraram um amor individual, um equilíbrio e uma paz interior até o carinha por quem se apaixonaram ser chato e cansativo novamente. A diferença é que o filme termina antes disso...
A Incrível Jornada
3.3 281 Assista Agorapor favor, alguém sabe onde baixar com áudio dublado?
preciso alimentar a nostalgia de infância revendo este filme!!!
esse INCRIVEL JORNADA e aquele NAPOLEON, do cãozinho labrador que entrava dentro de um cesto num aniversário de criança e ia parar num deserto onde virava amigo de um lagarto, jesus cristo, como faziam minha mente criativa de infância vibrar de emoção!!!!!
Interestelar
4.3 5,7K Assista AgoraSpielberg fez bem em cair fora dessa roubada...
Uma pena. O filme é um espetáculo visual, mas a profundidade do roteiro e dos personagens, a coerência e os conceitos defendidos são, no bom português, uma porcaria.
House of Cards (2ª Temporada)
4.6 497Acho que termos uma série televisiva do nível de House of Cards - todos os elementos impecáveis (roteiro, direção, arte, fotografia...) - produzida pela Netflix diz muito sobre nosso atual cenário cinematográfico. Quero dizer, por tanto tempo meteram pau na TV como um meio massificante e imbecilizante, do qual nem vale a pena investir. Fico muito feliz por ver produções como essa que invertem essa lógica e fazem da TV um meio tão viável - ou mais - quanto o cinema, já que é, na verdade, bem mais potente (em termos de presença e de influência). As possibilidades de se fazer algo criativo e atual que fale diretamente a uma grande quantidade de pessoas são muitas na TV e é preciso que se pense mais nisso. A TV dos EUA é que tem nos mostrado isso (com Breaking Bad, Game of Thrones e etc), mas infelizmente, duvido muito que essa realidade chegue um dia a nossa TV brasileira, seja aberta ou fechada, pois estamos mergulhados na mediocridade até os ossos.
E vejo uma onda de pouquíssima criatividade no cinema contemporâneo - que investe cada vez mais em sequências e franquias -, uma atmosfera bem mediana mesmo. Até mesmo no cinema nacional. Virão me dizer que filmes incríveis ainda continuam sendo feitos, isso é verdade, mas me parece que algo está se perdendo. E o que é sintomático para mim é isso: todos os grandes personagens ultimamente tem sido criado nas séries. Personagens muito bem explorados, tratados com profundidade e inteligência como Frank Underwood, Claire, nascem agora nas séries (ainda que adaptado de um livro) e não mais no cinema. A complexidade do roteiro de House of Cards e a linguagem extremamente bem elaborada e ácida que ele traz é algo que não tenho encontrado com frequência no cinema. Bem, sempre temos os filmes autorais, que via de regra exploram a linguagem do cinema, mas os autores hoje já são velhos de guerra. As séries hoje trouxeram um refresh nesse meio artístico; não posso deixar de pensar que o cinema se viu impactado por isso e agora precisa também se reinventar para voltar a ter a força que tinha.
Ou não, e tudo está mudando mesmo? E o futuro é a internet e o streaming?
Não sei... só sei que enquanto houver criatividade e boas produções, é para onde temos que olhar.
Mas sobre House of Cards: é um exercício de roteiro, direção, fotografia, direção de arte, trilha sonora e atuação, em todos os sentidos, de todas as formas, merece todos os elogios. É um exercício também de atualidade, da capacidade de falar de maneira tão inteligente sobre o zeitgeist - o nosso espírito do tempo. É elegante, na medida, impecável, embora peca um pouco com a história boba do hacker e outras coisinhas, mas a série é mais do que isso. A intro é um resumo extremamente poético e conceitual da série, executado com maestria. Diante de tudo isso, tem como não se perguntar como é que não assistimos a produções assim com mais frequência???
Um Alguém Apaixonado
3.6 117 Assista AgoraAinda estou tentando compreender o emaranhado de pensamentos após ter assistido a esse filme. Algo me incomodou com o andamento da obra e principalmente com o final, ainda não sei o que é. Mas decididamente não concordo com a frase que encerra essa sinopse: a conexão dos dois é qualquer coisa menos profunda! Não consigo ver uma relação de aprofundamento "a partir daí".
South Park (19ª Temporada)
4.3 35 Assista AgoraEssa eu precisava marcar e comentar: começou animal!
melhor timing impossível, capturaram muito bem o espírito do momento. Tiveram uma ideia sensacional de transformar essa temporada em um South Park politicamente correto, mostrando toda a hipocrisia que há nisso. Foda. Fiquei feliz pra caralho
Love
3.5 883 Assista AgoraGaspar Noé mais uma vez sendo... pedante!
Precisa aparecer no filme, ter seu nome mencionado duas vezes e ainda dar aos seus personagens seu próprio discurso, como que justificando seu filme ser assim, "visceral e escancarado", afinal, "é a vida". Às vezes parece que de tanto querer fazer um filme libertário sobre sexo e amor, por essas coisas acaba caindo em qualquer lugar, menos na liberdade (tudo bem que os críticos também não ajudam quando apontam as cenas com os dedos, chocados) e aí o sexo acaba virando discurso.
Fora que temos que acompanhar a autocomiseração cansativa de um personagem que em momentos que deveria ser muito profundo, age como um babaca...e continua sendo até o fim. Como disse alguém aqui embaixo... cuidado com o que deseja? Amor e sexo levam a um caminho intenso de autoconhecimento, que não significa que seja destrutivo. O que é destrutivo é o ego, a ignorância, a insegurança, o próprio desejo até...e no final, não vejo um pingo de reconhecimento. Tanto sexo "com amor" para não chegar a nada...mas se é isso que chamam de fatalismo...
Fora o roteiro, algumas cenas são belas e sensuais, e a direção de arte e a fotografia casam bem. A cena com a travesti é engraçada. E a trilha é legal em alguns momentos. E só rsrs
Whiplash: Em Busca da Perfeição
4.4 4,1K Assista AgoraEstou espantada por ver que Whiplash está concorrendo ao Oscar, tem nota alta no IMDB e tem causado bastante rebuliço. Achei um filme bem mediano! A montagem estilo videoclipe é bem óbvia, do tipo "cortar ao som do prato da bateria", e acaba ficando um pouco cansativo, sem criatividade. O roteiro tem buracos, clichês muito bobos e as situações são todas muito convenientes.
Vai me botar um cara que acabou de sofrer um acidente sair correndo para fazer um show?
Breaking Bad (3ª Temporada)
4.6 840Ok, assisti a primeira temporada com os dois pé atrás, na segunda eu resolvi dar uma chance para essa série e assistir até o final, e nessa terceira ela decididamente me pegou. É incrível o quanto conseguiram dar reviravoltas na trama e fazer todas as histórias se entrelaçarem. No episódio final (muito foda, por sinal, o Aaron Paul me surpreendendo na atuação) não tem como você não pensar em como uma "simples" escolha na vida do Walter levou tudo e todos até aquele caminho, cheio de perdas, danos e um preço realmente altíssimo. Naturalmente alguns episódios foram fracos ou cansativos, especialmente o "Fly", embora ele tenha seu sentido ao querer mostrar um W. White lunático, perdendo o sentido de viver por, talvez, lutar tanto por uma mosca inalcançável - que poderia ser representada por sua familia, pelo futuro ou pela busca da felicidade e da paz. Ou mesmo de um fim para tudo aquilo. O ponto em que ele chegaria e diria: ok, não preciso mais disso; o que talvez nunca aconteça, porque no fim acho que o Walter cozinha para se sentir vivo. Ora, a primeira temporada não começa com sua apatia diante de sua vida?
Vale a pena mencionar, eu acho, que o ponto alto desse episódio da mosca é, para mim,
o quase momento em que o White enfim confessa o que houve na noite em que Jane morreu.
3ª temporada teve um final à altura. Agora é acompanhar as outras e ver se a qualidade, a maturidade e o desenvolvimento dos personagens se mantêm.
Yami Shibai (1ª Temporada)
4.0 26Yamishibai é tudo o que eu mais procurava em termos de histórias de terror. O formato de curta duração em episódios mostrou que FUNCIONA você criar um clima de terror em menos de cinco minutos. Acompanhamos apenas o que seria determinada pessoa naquela situação. Visualmente é uma pequena obra-prima, artística, bela de se ver e o mais importante, acredito que ajuda muito na história a forma como escolheram de passar a mensagem - com desenhos e poucos movimentos. Acho que foi a descoberta audiovisual mais rica e preciosa deste semestre!
Catfish: A Série (3ª Temporada)
4.1 13 Assista AgoraCaramba, estou de boca aberta já no segundo episódio! Acho que é um dos melhores momentos em uma série documental que eu já vi acontecer, esse episódio II é demais. Estou adorando a forma como eles estão gravando, melhoraram bastante e estão mais próximos das pessoas, a edição também está muito melhor, não estão picotando as histórias como faziam, o que ajuda a criar um aprofundamento maior. Legal, tomara que só continuem melhorando.
Rigor Mortis
3.2 66É um filme estranho mas, ao mesmo tempo, quase hipnótico. Bem feito, ótima direção de arte, bela fotografia, uma mescla de estética de game com as maravilhosas cenas de luta oriental. A princípio estava achando o roteiro confuso, mas um olhar mais observador e distante me fez perceber que é absolutamente lógico e claro que o roteiro tem consciência de seus caminhos. Não é preciso comentar que muito da apreensão do filme se dê por um conhecimento ao menos básico da cultura chinesa - como as lendas mitológicas de vampiro, que dizem que se combate um vampiro com pergaminhos escritos com feitiços (que são nada menos que ensinamentos budistas) e arroz, ou mesmo os cinco elementos chineses e como funcionam, o yin e yang (que é citado em algum momento do filme), etc - além de, é claro, saber o que significa Rigor Mortis. O título do filme já é praticamente autoexplicativo. O final, portanto, fica extremamente pertinente e interessante, ao meu ver, quando se pensa que
tudo o que se passou na tela é uma invenção resultada de efeitos químicos no corpo/cérebro do personagem, em que cada elemento - a mulher com o filho loiro, as duas irmãs, o vampiro e etc - age como uma representação de algum aspecto psicológico do personagem, ou seja, são representações de coisas, pessoas e comportamentos de sua vida.
Girls (3ª Temporada)
4.1 184Desculpe, será grande.
Desconfio muito quando existe uma pessoa como Lena que escreve, dirige, produz e atua o próprio seriado. É quase sempre - porque há a exceção de Seinfeld - que isso vai resultar numa eterna teorização umbiguista, recheada de conceitos e sacadas geniais próprios daquele que domina o discurso. É o que acontece com o Woody Allen - por isso não é à toa que a chamam de Woody Allen de saias ou algo do tipo. Assisti Girls acreditando na premissa, se não original, ao menos realista de tratar dessa geração de jovens de 20 e poucos anos. Um pouco com pé atrás, confesso, porque detestei o filme Tiny Furniture, e já sabia mais ou menos o que estaria por vir - a nossa Woody Allen já se mostrara nesse filme.
O fato é que alguns aspectos da série são de fato interessantes, por aceitarem com uma dose de realismo e aspereza como vivem esses jovens de vinte anos - especificamente, quais são os seus discursos. Acho que Girls retrata legal como é a eterna busca pelo emprego perfeito, onde os jovens, que se sentem especiais porque dotados de habilidades únicas e com potenciais incríveis, possam mostrar ao mundo tudo o que tem para dar. Mas querem isso já, enquanto ainda são jovens, enquanto podem recorrer à ajuda dos pais e dedicar o tempo ao emprego maravilhoso ou à busca a ele. Não há porque trabalhar em algo menor, sujar ao mãos em um emprego que nada tem a ver com você, afinal, falta apenas um pequeno passo para você conseguir ser tudo aquilo que acha que é.
Isso é uma constante no pensamento de Hannah. Quando consegue um trabalho e enfim uma chance de poder ganhar dinheiro e pagar o aluguel, já que seus pais pararam de ajudar (será? juro que não entendo, até agora, como ela se mantém), ela resolve sair, em dois dias, por algum motivo muito estúpido. Ou, como li numa análise uma vez, assim que consegue um contrato real para publicação, com prazo e cobranças reais, então toda sua criatividade e arrojo literário, todas as suas experiências vivenciadas somente para ser a porta voz de uma geração, se silenciam e culminam num transtorno psicológico. Bem, o contrato é uma responsabilidade real, da qual a juventude se esquiva.
E isso permeia a série inteira. Não apenas no âmbito do trabalho, mas também das relações. A superficialidade, o egocentrismo, a valorização extrema do individualismo, não entender e processar e aceitar os próprios sentimentos, não aceitar negativas, esperar sempre as recompensas...
Bom, tudo isso está lá. Só que isso poderia ser a apresentação da primeira temporada, que nos situaria em qual universo a obra está. Mas isso está se alogando e há tanto vazio, tanto vazio no discurso, nas ações, nas reações e nos acontecimentos que Girls parece, agora, na terceira temporada, um mimimi de um bando de jovens que quebraram a cara, cometeram erros, sofreram, mas ainda estão naquela inércia apática. Ainda estão nos joguinhos e ainda falam entre si "puxa, você é tão egoísta", a cada episódio. O egoísmo virou palavra de boteco, já perdeu todo a significação. Onde está a verdadeira epifania? O verdadeiro momento de, enfim, SENTIR algo?
Me admira muito um seriado que pretende focar melhor no universo feminino, ter como melhores personagens - no sentido de mais coerentes e melhor desenvolvidos - Adam e Ray. Adam foi uma reviravolta, uma surpresa de personagem, e achei isso muito legal. Poderia ser só o tipo babaca, que realmente toda mulher fala "ele não deve fazer isso com você, você não é sua namorada", mas em algum momento ele disse à Hannah "você nunca quis me conhecer, você nunca perguntou nada" e aí abriu-se toda a maravilhosa complexidade que existe na relação humana.
E o Ray é aquele cara na meia-idade cansado que admite o próprio fracasso. Ao menos ele me parece autêntico ali, no meio de tantas garotas com muito o que falar, mas com pouco a dizer. Aquele tipo que não tem muito o que perder, que não gosta de nada. É engraçado: as meninas com mil questionamentos angustiosos sobre que rumo tomar, sem, no entanto, fazerem nada para isso, e ele, que admitiu o próprio fracasso, tentou fazer alguma coisa e agora está de boa, sem precisar ter uma mega coisa feita na vida para sentir satisfação.
Falei muito já. Mas Girls, agora, cansou bastante.
3x3D
3.3 17Interessante a parafernalha visual de Greenaway. Edar Pêra parece que leu Ismail Xavier e Arlindo Machado e fez um resumo de suas teorias (ou seja, nada novo. E ainda um pouco besta, principalmente aquele final...) e Godard, bem, Godard está sendo Godard. Como era de se esperar, não faria nenhuma ficção com 3D, mas aproveitaria o 3D apenas como tema e reflexão. Mas, se é pra usar óculos 3D, que pelos menos os títulos saltem à tela. E foi somente o que fez. Interessante, mas eu particularmente não consigo apreender de primeira suas viagens.
Segredos de Sangue
3.5 1,2K Assista AgoraRoteiro de trama já bem conhecida e facilmente capaz de ser desvendada logo no primeiro bloco. Mas a direção de fotografia tira um pouco da mesmice da história, o que é um mérito... alguns planos são bem explorados. Há uma certa caricatura, a meu ver, nesse tipo de personagem (e falo dos três: do irmão, da mãe e da filha) meio engessado, quase mecânico, silencioso, de atos graves e comedidos, pra dar aquele ar de mistério e suspense, que até casa com a direção de arte e com o filme em si, mas que não representa nada de novo também. Agora, essa tensão sexual entre os três ficou bem sensual,
a cena da menina imaginando (?) o Charlie tocando piano com ela, a cena dela se masturbando no chuveiro e as cenas de Charlie com a mãe
Somos Tão Jovens
3.3 2,0KMas que filminho mais ou menos, hein? É impressionante o quanto ainda esbarramos nos roteiros...
Sound City
4.4 91Depois da cereja do bolo que foi a aparição do Paul McCartney no filme (bem bacana, por sinal), isso tudo só nos dá uma certeza e uma pergunta: Dave Grohl tem os amigos mais fodas do mundo, mas como é que com tanta boa referência musical ele consegue ter uma banda tão sem graça como o Foo Fighters? Será que seus amigos curtem seu som?
Eu Receberia as Piores Notícias dos Seus Lindos Lábios
3.5 554 Assista AgoraFraquíssimo. Primeiro que a fragmentação da linearidade narrativa perdeu muito pra história, tornando a frase de Cauby em um dado momento do filme ("fique aqui, a gente se ama!") uma coisa patética. Não vou comparar a relação dos dois com o livro, porque acho que temos que analisar o filme separadamente como uma obra específica e, nesse caso, a história é fraca demais. Tentar inserir momentos poéticos - ficar pintando o corpo com tinta, soprar fumaça de cigarro na foto, as próprias fotos e etc - pra mim é tentar tapar buraco de falta de drama, falta de narrativa. E o filme faz isso o tempo inteiro!! O personagem do Gero Camilo está totalmente fora do tempo, soa forçada suas declamações de poesia e seus "gestos líricos", como apontar a lupa pro Cauby e perguntar se ele tem medo da vida. Não há nada de ruim nesses lirismos, mas há muito de ruim quando esse lirismo surge sem propósito e fora de compasso. Porque de repente todo mundo é poeta e tudo é poesia. Senti um pouco de gratuidade desnecessária nisso tudo. O livro como narrativa tem uma puta carga dramática, que vai crescendo e estoura no final. O filme patina. Tem amor com açúcar de sobra e menos tesão com café amargo, que é para mim como deveria ser a essência dessa história. Merece duas estrelas por uma ou duas cenas mais pra perto do final
(acho interessante a mise-en-scène de quando ela fala para o Cauby que está grávida, a câmera se desloca e revela que o Ernani está atrás dele, e etc)
Deus da Carnificina
3.8 1,4KEsse filme não deixa de lembrar um pouco Woody Allen por essa característica de se firmar nos diálogos, porém, Polanski é um cara muito mais bacana que o Allen, fez o filme em apenas um cenário (um grande mestre dos filmes de apartamento), os atores estão na medida certa, o exagero aparente surge em momentos essenciais, o filme vai crescendo no drama e consequentemente no aprofundamento dos personagens... enquanto que o Allen fica ali muitas vezes só na superfície fazendo seus personagens vomitarem "sacadinhas geniais" o tempo inteiro. Enfim, Carnage é fantástico, realmente uma comédia inteligente. E esse poster está muito bom pra demonstrar o que o filme é!!!
Mama
3.0 2,8K Assista AgoraComo bem lembrou alguém aqui, a história começa com "Era uma vez", pendendo, portanto, para uma história mais fabulosa. Não há problema nenhum em trazer fábulas e mitos para o cinema, Del Toro fez isso muito bem com Labirinto do Fauno, por exemplo. O problema em Mama - a meu ver - é que se utiliza de uma linguagem totalmente convencional de filmes de terror, de cortes banais e clichês e isso faz perder um pouco da mágica que se pretendia, principalmente no final, quando todo o clima criado dá uma quebra nas expectativas. Justamente porque todo o desenrolar da trama seguia uma narrativa convencional.
Porém, eu vi coisas absolutamente fantásticas em Mama. Há cenas incríveis, há momentos esplendorosos e de um terror sutil, há movimentos de câmera ótimos, e eu gostaria que o filme seguisse por esses momentos ao invés de cair na mesmice dos sustos batidos de terror. Com um pouco mais de trabalho e cuidados nas sutilezas, Mama poderia ter ficado sensacional. Outro ponto positivo foi o trabalho com as crianças, sempre bem vindo no cinema, já que é tão raro (ao menos por aqui no nosso cinema brasileiro).
Apenas uma Noite
3.5 787 Assista AgoraSó eu achei que houve uma química forçada entre a Eva Mendes e o Sam Worthington? De duas, uma: ou ela realmente não se encaixou no papel, e de alguma maneira muito mágica ela ficou menos bonita nesse filme e até menos sensual, acho que beirando o vulgar mesmo, não sei dizer exatamente onde; ou esse era de fato o papel dela, ser uma mulher chata, inconveniente e forçosamente sensual, quase mandona, pra levar o cara a ceder, ou seja, ter o papel de não ser a mulher por quem ele iria se apaixonar depois. O que é totalmente o contrário do que acontece entre a Keira e o Guillaume, que coisa linda os dois, que paixão latente, que carinho!
Ok... pensando por esse lado... talvez a escolha da Eva pra forçar uma química tenha sido consciente...e, por isso mesmo, não tão ruim assim...
Intoxicação
2.4 18Assistindo, fiquei pensando: qual a diferença desse curta de 5 minutos em que um homem fala pensamentos aleatórios para uma câmera e os vídeos que as pessoas fazem para o youtube, dessa mesma forma? O que muda é apenas o conteúdo, e o nome de Gaspar Noé. De resto, a essência é a mesma. Mas gostei muito mais desses devaneios do que os do pessoal contemporâneo do youtube...
Tarnation
4.2 28Extremamente expositivo e íntimo. Engraçado pensar que antes dessa revolução pós-moderna no comportamento (e na vida, por fim) expor a privacidade não era algo imaginado, era restrito à própria individualidade, ou no máximo compartilhado nos confessionários cristãos, como diz Bauman. Agora a cultura de subjetivação e da exposição já está arraigada...a ponto de termos um indivíduo que faz da câmera uma mediadora entre as relações que ele tem com si próprio, com os namorados e com a família. Cauoette se torna quase um dominador alfa com a câmera na mão, afinal, é pela presença dela que a mãe se sente tão inquieta para falar do passado na cena em que ele insiste e a coloca "contra a parede". Como deve ser ver uma pessoa que não larga a câmera durante mais de 20 anos de sua vida? Inquietante, no mínimo. E também assustador...