Durante as temporadas anteriores, regularidade nunca foi o forte de "Bates Motel" e nesta terceira não é muito diferente, sendo no entanto que os efeitos que prejudicam a dinâmica da narrativa são mais prejudiciais nesta que é provavelmente a mais fraca de todas. O mais significativo ocorre é um "rompimento" psicológico de Norman com sua mãe Norma, logo o jovem já dá claros sinais de distúrbios, inclusive sugerindo uma dupla personalidade claramente afetada por todos os eventos anteriores, catalisados pela obsessão com a figura da mãe que vai se tornando cada vez mais doentio por parte da mãe. Infelizmente, com o decorrer da temporada, o personagem vai perdendo um pouco do interesse pela sua natureza trágica e Norman vai se tornando uma figura mais chata e aborrecida, o que pode ser prejudicial do ponto de vista do alcance do personagem, especialmente quando suas ações se tornam mais psicóticas e menos decorrentes da sua fragilidade emocional (ou em função dela). Os eventos que envolvem Norma e que não tem ligação direta com o filho são desinteressantes e mal desenvolvidos, como o relacionamento dela com um psiquiatra, o estreitamento da sua relação com o xerife e até mesmo os ajustes emocionais com seu irmão Caleb, sendo que ao menos no caso deste último há um apelo dramático bem defendido pelos atores. A subtrama policial envolvendo o ricaço/misterioso/criminoso da vez é tão genérico quanto os outros já vistos, sendo que só serve para que o xerife suje suas mãos e se comprometa ainda mais diretamente com os meios ilegais que fazem parte da história da cidade desde que seu pai era xerife. O envolvimento entre Caleb e seu filho Dylan é mero pretexto para que eles tenham alguma função dentro da narrativa, sendo que o envolvimento do irmão de Norman com a doce Emma parece ser muito mais promissor para os dois personagens já que ambos passam a temporada inteira muito apagados. O desfecho da série é decepcionante, dando sobrevida a uma personagem que havia "desaparecido" na temporada anterior apenas para que ganhe um final definitivo com um desfecho muito similar ao que já fora visto em no meio e no final de temporadas anteriores. As atuações do elenco sustentam boa parte do apelo da série, especialmente Vera Farmiga e Freddie Highmore.
Levemente inferior à temporada anterior, esta segunda temporada consegue ampliar um pouco mais os dilemas e os envolvidos na trama sobre a clonagem, estabelecendo uma relação entre uma abordagem científica e outra de fanatismo religioso, porém o que mais prejudica a dinâmica dessa temporada é que por diversas vezes as tramas das 3 principais clones ocorrem de maneira distinta, logo o interesse não é o mesmo em cada momento. É até compreensível que se torne mais fácil e prático um planejamento de filmagem já que Tatiana Maslany precisa apresentar caracterizações diferenciadas e tal, mas a separação só chama a atenção para alguns pontos falhos. Por exemplo, a partir do momento que Alison aceita o tratamento do dr. Siekel, ainda se dá muita atenção a sua paranoia sobre quem de fato é o seu monitor e o tempo que se dedica ao teatro e a sua reabilitação parece muito mais enrolação narrativa, mesmo considerando que Alison é uma das composições mais carismáticas de Tatiana (e o envolvimento dela e do marido em uma série de crimes acaba sendo muito mais um alívio cômico dentro da temporada). Helena dá alguns sinais de desgaste, de cansaço narrativo já que ela some e reaparece nas mesmas proporções, mas de qualquer forma por ser a mais perigosa e imprevisível sempre permite que a série saia da sua zona de conforto ao abraçar a sua natureza trágica, como se ela nunca pudesse ser feliz de verdade. Cosima acaba virando uma mera coadjuvante já que a sua subtrama romântica é deixada de lado enquanto carrega por parte do roteiro a incômoda "muleta narrativa" do roteiro por causa de complicações da sua doença. Já Sarah é a mais ativa, é aquela que vai de um lado para o outro para descobrir os segredos do seu passado, mas sempre que ela está próxima de uma resposta mais concreta, ela precisa dar um passo pra trás por algum contratempo criado pelo roteiro, justificável ou não. Rachel prometia desde o final da primeira temporada ser uma personagem mais interessante e intrigante, mas com o passar dos episódios, ela vai se tornando mais caricata até os roteiristas decidirem de uma vez por todas de que ela é a verdadeira vilã trágica da temporada. E nem tudo funciona com os demais personagens também, como a falta de utilidade para Paul que parece perdido e aborrecido ao longo de toda a temporada ou até mesmo a tentativa frustrada de fazer com que Tatiana interprete um clone na versão masculina. Já não parece tão atraente quanto na primeira temporada, mas ainda tem lenha pra queimar, pelo menos material para isso tem, além do que Tatiana Maslany faz valer a pena cada minuto da série por causa do seu talento e versatilidade.
A 1ª temporada de "Orphan Black" apresenta a sua premissa central com uma agilidade e uma dinâmica contagiante, estabelecendo os principais personagens e mantendo um nível de tensão e suspense admiráveis, logo fica difícil não se envolver com o ritmo dinâmico da trama que insere o tema da clonagem dentro de uma trama policial. A atriz Tatiana Maslany é a grande surpresa e o maior trunfo dessa série, pois ela possui uma diversidade dramática impressionante já que consegue desenvolver diferentes personagens com sensibilidade, competência e até certa coragem. É uma pena que a temporada perca ritmo em seus episódios finais a partir do momento que a narrativa dá sinais de que está querendo gastar tempo justamente para carregar seus principais mistérios para a temporada seguinte, ainda assim é uma série que tem lá seu charme e personalidade.
Depois de 2 ótimas temporadas e uma 3ª temporada muito fraca, a irregular 4ª temporada não conseguiu retomar o melhor nível de qualidade da série, embora não seja totalmente um fracasso. Essa temporada é a que faz mais juz ao termo bizarro já que se concentra em uma série de aberrações que fazem parte de um circo de horrores comandado pela personagem da vez de Jessica Lange que aqui mais uma vez tem a oportunidade de ter um palco (dessa vez literalmente) para exibir todo o seu talento como atriz. Inicialmente a série parece querer chamar a atenção apenas pelo seu painel de personagens exóticos, porém a estranheza física se dissipa pela fragilidade da narrativa. O único alento é a subtrama envolvendo um palhaço macabro que assume contornos de "serial killer" que traz um senso de urgência e morbidez que são muito mais interessantes do que a dos artistas circenses. Para o bem ou para o mal, os melhores episódios são o terceiro e o quarto justamente por se concentrarem na resolução dessa subtrama (curiosamente conta com a participação do canastrão Wes Bentley, mas que aqui funciona). A partir do 5º episódio, a série parece querer adotar um outro tom ao se concentrar na história de cada um dos artistas, mostrando a história sofrida de cada um deles, como uma forma de humanizá-los e alguns até funcionam isoladamente (como a que remete a chegada de uma determinada personagem ao hospício visto na segunda temporada), porém os roteiristas da temporada dão sinais de que não sabem o que fazer é que mudam drasticamente a motivação de vários personagens de uma hora pra outra apenas pra satisfazer uma necessidade imediata da história (a personagem de Emma Roberts é a mais prejudicada) e os personagens acabam sendo mortos em uma escala exponencial e de maneira gratuita, culminando no clímax do penúltimo episódio, por exemplo. Kathy Bates tem uma ótima atuação, Evan Peters demonstra ser um jovem ator bastante promissor enquanto que Sarah Paulson faz excelentes escolhas na composição da personagem siamesa. Há uma participação curiosa, mas dessa vez irregular, de Neil Patrick Harris como uma versão bizarra do Barney de HYMYM: gosta de mágica, é sedutor e tem uma boneca de ventríloco. No geral não se trata de uma boa temporada, mas existem algumas escolhas dentro da temporada que funcionam, mesmo não sendo a maioria delas.
Depois de duas ótimas temporadas, "American Horror History" fracassou em sua tentativa de explorar o terror e o suspense através de uma trama que explora a mitologia das bruxas, tornando a jornada de se encontrar uma nova bruxa suprema para a ordem um tremendo engodo. Jessica Lange dá o seu show particular, porém nem mesmo a adição de Kathy Bates no elenco é o bastante para tirar a narrativa do marasmo que logo no início já dá sinais de cansaço quando explora de maneira frustrante a ideia da ressurreição, o que é utilizado em outros momentos, sempre que o roteiro acha necessário. Há poucas idéias sendo bem exploradas, como a do assassino de bruxas que é descartada praticamente em apenas um episódio, tornando-se um mero pretexto para que haja a oportunidade que as bruxas briguem entre si por vaidade, egoísmo e/ou qualquer outra coisa. Os "flashbacks" são mal explorados, servindo muito mais para reforçar que há pouco a ser mostrado no tempo presente, e até mesmo as situações que tenderiam a ser mais assustadoras, como as que envolvem magia negra e uma entidade maligna, acabam frustrando pela narrativa que nunca chega a lugar nenhum e que se encerra de maneira previsível.
É inegável que existe uma forte e eficiente carga nostálgica que sustenta a série, deixando-a praticamente irresístivel, porém há de se enaltecer a evolução gradativa da narrativa que a cada episódio vai revelando pequenos detalhes da trama até culminar com um clímax perfeito que unifica os 3 núcleos de ação em uma sinergia que só realça os pontos positivos apresentados ao longo da temporada. A ideia de remeter e homenagear as produções de ficção científica da década de 80 está presente na reconstituição de época, na fotografia, na construção dos personagens, na trilha sonora e até mesmo no arco dramático que mescla dramas e conflitos familiares com elementos sobrenaturais e/ou interplanetários. O elenco dá uma show de carisma, cada qual sustentando um estereótipo característico do gênero, mas com um vigor que em nenhum momento deixa de convencer, especialmente os atores mirins que roubam a cena. Winona Ryder também empresta uma intensidade dramática a sua personagem que faz toda a diferença a favor da credibilidade da narrativa. Mesmo considerando que lá pela sua metade a série tem alguns sérios problemas de ritmo, a recompensa ao final é pra lá de bem-vinda já que se trata de uma produção que não se restringe apenas à mera referência, mas consegue ser uma série suficientemente criativa e inteligente por méritos próprios.
A 6ª temporada começou de maneira promissora, mesmo com o ritmo lento da narrativa, que é algo recorrente da série e que atingiu o ápice da canastrice na sonolenta 3ª temporada. Só que a partir do 3º e 4º episódio nota-se que a narrativa só se arrastava para que o clímax fosse atingido em seus 2 episódios finais que representaram o ponto alto da narrativa. O desfecho do Alto Pardal acabou se tornando frustrante em meio a toda complexidade em que foi inserido e o seu grau de influência e articulação acabou caindo por terra até com um certo grau de ingenuidade para sorte de Cersei que teve lá o seu grau de inteligência também. O núcleo de Jon Snow acabou sendo o mais regular e o mais empolgante, especialmente a partir da chegada de Sansa Stark, o que culminou naquela que é a maior batalha já registrada pela série. Os acontecimentos envolvendo Daenerys e Tyrion acabaram ficando mais na promessa, com exceção do clímax. O núcleo da Arya Stark tornou-se cansativo pelo excesso de redundância, mas atingiu um encerramento digno para que finalmente ela possa seguir adiante. O episódio que culmina com a revelação do segredo de Hodor é frustrante em sua execução, soando menos inteligente do que quer soar. A temporada se encerra com a promessa de um novo agrupamento de forças e uma nova disposição política e de poderes que podem culminar com o início do fim da série que permanece sem conseguir manter a mesma regularidade ao longo de todos os seus episódios (a 1ª e a 4ª temporadas foram as que mais se aproximaram do nível ideal de cadência, tensão e momentos de virada), sendo mais do que necessário um encurtamento e um distanciamento cada vez maior da sua fonte.
A 6ª temporada de “The Walking Dead” começou a todo vapor com um episódio que coloca os personagens em meio a uma ação que tenta impedir que uma horda de zumbis sigam em direção à Alexandria. Usando o recurso da fotografia em preto e branco para os “flashbacks” que explicam como os personagens chegaram até ali, o episódio é realizado com uma dinâmica pulsante e a energia do episódio mantém-se inabalável ao longo da sua duração. O episódio seguinte concentra-se no grupo que permaneceu em Alexandria até que um determinado evento preenche o episódio de uma tensão cruel e angustiante que elimina qualquer possibilidade de segurança que aquele lugar poderia assegurar aos seus moradores. Já o terceiro envolve os desdobramentos da interferência externa ao plano comandado por Rick (Andrewn Lincoln) fazendo com que haja uma separação de grupos e que culmina na “morte” de um importante personagem que acaba sendo uma incômoda “âncora” para o restante da primeira metade da temporada. Pelo menos até o sétimo episódio em que tudo é esclarecido de maneira preguiçosa e sem que a narrativa saia do lugar. O 4º episódio concentrado no passado de Morgan é eficiente ao promover uma evolução vagarosa e contemplativa do personagem embora dotado de uma filosofia genérica e de um arco dramático clichê e previsível que ao menos conta com duas ótimas atuações de Lennie James e John Carroll Lynch. O 5º e o 6º episódios são sofríveis seja ao mostrar os alexandrinos em compasso de espera já que não há nenhum personagem digno de nota, pena ou qualquer coisa que valha, ou aquele que acompanha Daryl (Norman Reedus) encurralado por um grupo de novos personagens naquele que é certamente um dos piores episódios de toda a série com diálogos sofríveis, rasteiros e ação nula. O episódio que marca o final da 1ª metade da temporada consegue ser inferior até mesmo ao final da 3ª temporada de “The Walking Dead”, provavelmente um dos desfechos mais anticlimáticos da série. Uma série de ideias requentadas, mal planejadas, personagens sendo apenas a sombra do que foram um dia e nada muito digno de nota. Os últimos quatro episódios dessa metade de temporada poderiam ser perfeitamente resumidos em um só e ainda assim seria um episódio como outro qualquer. A temporada começou a todo vapor e a partir do 5º episódio foi ladeira abaixo.
O 9º episódio (ou o primeiro da segunda metade da temporada) embora eficiente e dinâmico tem seus altos e baixos (e baixas) quase que simultaneamente, colocando expectativa sobre o que poderia vir a acontecer, mas sem a garantia de que será melhor do que o fora visto até então. E não é que Jesus salva? O 10 episódio funciona muito bem basicamente pela dinâmica entre Rick, Daryl e Jesus, um novo personagem inserido no universo que traz humor, leveza e uma certa ambiguidade que o torna um sujeito suspeito, perigoso e ainda assim bastante interessante. A dinâmica do 11º episódio é bastante eficiente já que leva Rick & cia para um nova comunidade, apresenta novos personagens e estabelece os conflitos de maneira enxuta e sem maiores firulas dramáticas. E essa dinâmica permite que o 12º episódio tenha boas doses de tensão, suspense, drama e ação, na medida certa ao ponto do 13º representar um episódio que funciona muito bem isoladamente, graças à eficiência de Maggie e, especialmente, Carol sem comprometer o ritmo da narrativa, algo que o 14º episódio já deixa a desejar justamente por se concentrar personagens secundários e desfechos dramáticos de pouco apelo emocional, com exceção daqueles apresentados nos segundos finais enquanto o 15º episódio é morno demais para um episódio que antecede o desfecho de uma temporada repleta de altos e baixos. O episódio final parece ser uma longa preparação para seus 15 minutos finais com uma construção lenta e gradual que se não é brilhante, ao menos não é enfadonha, apresentando Negan, um personagem que tem tudo para acrescentar qualidade a uma série que parece sempre caminhar perigosamente sobre a linha tênue entre o indispensável e o descartável.
A 3ª temporada de “House Of Cards” consegue equilibrar brilhantemente em sua narrativa os diversos temas que deseja abordar. Se em um primeiro momento pode sugerir uma falta de foco, aos poucos as interligações entre cada um dos temas, faz com que o universo abordado torne-se mais amplo e complexo. Sendo assim, o agora presidente Francis Underwood (Kevin Spacey) precisa enfrentar a baixa aprovação dos seus primeiros 6 meses de governo, articular com seu partido que é contrário à sua reeleição, lidar com a crise conjugal em seu casamento com Claire (Robin Wright) que tem aspirações de ascender à Embaixadora das Nações Unidas a qualquer custo até mesmo limando seu pouco capital político, intermediar uma negociação de paz entre Palestina e Israel tendo um forte enfrentamento diplomático com a Rússia, envolvendo até mesmo questões ligadas à liberdade sexual e de expressão, além de emplacar um controverso plano de empregos denominado “American Works”, alvo dos seus rivais nas próximas eleições, inclusive do seu ex-fiel escudeiro Doug (Michael Kelly), recém-recuperado do atentado que sofreu no final da temporada anterior. E sem contar ainda tem um furacão a caminho dos EUA.
Se a temporada não repete a mesma experiência de mesclar diferentes e experientes diretores comandando diferentes episódios como na temporada anterior, apostando apenas em poucos e velhos conhecidos da própria série, incluindo James Foley e a própria Robin Wright, “House Of Cards” oferece um painel de personagens e situações que ampliam a dimensão das atitudes de cada um dos personagens e estabelece um jogo político ao mesmo tempo intrigante e perigoso já que, em escalas ainda maiores, pessoas e circunstâncias são usadas apenas para benefício próprio, ou seja, na política predomina-se o egoísmo até mesmo quando busca ser democrática. Logicamente que os pequenos saltos no tempo entre um episódio e outro cria alguns “buracos” e mesmo que o espectador seja obrigado a estabelecer uma ligação e/ou aceitação e/ou entendimento sobre as causas e consequências, nem tudo é satisfatório, como a inserção do hacker no FBI, a mudança do líder da oposição no Senado, a própria candidatura de Francis ou a criação de um dilema com relação a indicação de Claire às Nações Unidas, apenas para que no episódio seguinte as coisas já fiquem esclarecidas. É como se os roteiristas, com o objetivo de levar a narrativa da frente, abrissem mão de investir mais tempo em um determinado argumento já que toda a legitimidade da trama construída foi devidamente explorada até ali. É um artificio que funciona na maioria das vezes, exceto nos exemplos mencionados.
Kevin Spacey segue realizando um trabalho extraordinário, pois embora Francis seja responsável por uma série de atitudes reprováveis e comportamentos de caráter duvidoso, ainda assim, ele conduz seu personagem com extrema elegância, energia e competência ao ponto de humaniza-lo mesmo nos momentos mais repulsivos (Jackie Sharp e a própria Claire que o digam), apresentando-se como um homem que luta pelo que acredita, seja como for e por mais egocêntrico que ele seja (aqui ele se dá ao luxo de usar um jovem escritor para se autopromover). A relação de Francis com Claire permite que ambos intercalem o lado mais frio e ambicioso do casal, mas ao mesmo tempo em que ele precisa lidar com sua ardilosa esposa, e isso faz com que ele passeie no fio da navalha, apenas para dar o golpe de misericórdia avassalador e Spacey é formidável ao não transformar seu personagem em um monstro, muito menos em vítima já que é uma figura prática e pragmática. Robin Wright é uma atriz talentosa que consegue passear entre a frieza e a sensibilidade necessárias para transformar a primeira-dama em uma figura humana reconhecível, mas algumas atitudes egoístas da personagem muitas vezes revelam uma teimosia que não combina com o seu nível de inteligência (especialmente no caso que se passa na Rússia) e isso acaba enfraquecendo-a em certos momentos, especialmente quando Claire e Francis estão “rompidos”, porém sempre que a sintonia do casal é resgatada, ela e Spacey permanecem irretocáveis. Michael Kelly como Doug segue uma jornada própria de redescobrimento e seus movimentos revelam alguns passos que tornam o tabuleiro do jogo político ainda mais interessante e intrigante, além de se mostrar como um homem frágil, carente e sensível mesmo que a sua maneira. Kelly mantém um nível sóbrio de atuação que impede que o espectador desvende as reais intenções do seu personagem, o que é formidável para a evolução da série. E o seu arco dramático é um dos mais dolorosos ao longo da temporada e não apenas fisicamente (o pecado fica por conta da sua interferência na política que em determinado momento é deixada de lado). Mesmo com a participação ativa do presidente da Rússia, Viktor Petrov (Lars Mikkelsen), e da promotora Heather Dunbar (Elizabeth Marvel) como antagonistas à Francis, nenhum outro coadjuvante consegue se destacar ao ponto de apagar o brilho do trio, algo que, levada as devidas proporções, ocasionalmente ocorreu nas temporadas anteriores, porém todos estão inseridos dentro de uma narrativa forte e sólida, cada um cumprindo o seu papel dentro do tabuleiro, o que legitima o sucesso da série.
Contando com um sofisticado e elegante trabalho de fotografia (apostando especialmente em tons acinzentados e melancólicos), uma montagem ágil e enxuta mesmo em sequências pautadas por diálogos, “House Of Cards” vem se consolidando como uma série robusta e corajosa por não ter receio de investigar os meandros do universo político e o que há de mais sombrio na natureza dos seus personagens.
A 2ª temporada de “House Of Cards” se inicia dando atenção justamente ao seu pior defeito, o de transformar a série política em uma série policial, ou pior, transformando Francis Underwood (Kevin Spacey, hipnótico) em um “serial killer”. E se não bastasse essa falta de “tato” com o tom da série, o roteiro se encarrega de enfraquecer a figura dos jornalistas, criando uma frágil ilusão de que o plano executado fora perfeito e de que a integridade do político fora protegida. Além disso, o núcleo jornalístico é substituído por uma subtrama envolvendo cyber terrorismo burocrática e desinteressante que só serve para eliminar os “peões” do tabuleiro sem maiores consequências até ser retomado lá pelo final da temporada, mas ainda com pouco apelo.
Deixando essa questão de lado, felizmente não demora muito para que a série retome seu caminho e adentre nos podres da política, seja quando se concentra na escolha de Frank para vice-presidente ou na discussão sobre um novo projeto envolvendo aposentadoria, onde o jogo de cartas marcadas é responsável pelos pontos altos da série. A subtrama envolvendo o estupro que Claire (Robin Wright) sofreu na sua adolescência, incluindo um projeto de lei cujo teor se mantém às sombras e acaba tomando mais tempo que o necessário, apenas para reforçar o apelo dela como o par ideal para Francis para todos os efeitos, para o bem ou para o mal, mas dessa vez seu ter o mesmo alcance que os conflitos enfrentados por Francis (até mesmo o impacto emocional provocado parece presente apenas no último episódio).
Nesta temporada, o alvo principal do vice-presidente é Raymond Tusk (Gerald McRaney), um influente empresário que até então era um importante conselheiro do presidente norte-americano (Michell Gill, ótimo), mas que tende a atrapalhá-lo em seus planos cada vez mais ambiciosos e para isso ele não hesita criar conflitos diplomáticos com a China envolvendo uma obra de infraestrutura e doações partidárias. Além da trama principal há alguns pontos de interesse envolvendo a relação do lobista Remy Danton (Mahershala Ali) com Jackie Sharp (Molly Parker), a nova líder dos republicanos, e até mesmo Meechum (Nathan Darrow), guarda-costas de Francis e Claire, tem uma boa presença de cena, mesmo que tenham exagerado na sua contribuição para a vida íntima do casal. A figura de Freddy (Reg E, Cathey), dono da costelaria frequentada por Francis, acaba recebendo um destaque maior apenas para ser descartado logo em seguida como uma forma de ilustrar as consequências secundárias dos planos orquestrados por Francis. Já o núcleo envolvendo Doug (Michael Kelly) e Rachel (Rachel Brosnahan) só faz jus ao seu interesse no final quando ela se vê na obrigação de magoar um novo amor apenas para atender as vontades dele, deixando um rastro de consequências que pode repercutir na próxima temporada.
A série “Bates Motel” é uma poderosa ferramenta que serve para explorar os laços emocionais e psicológicas que sustentam a relação amorosa e autodestrutiva entre a mãe Norma Bates (Vera Farmiga) e o filho Norman (Freddie Highmore). Todas as mazelas e consequências dessa relação, inclusive com ecos de “Complexo de Édipo”, são exploradas com requintes de suspense e terror até mesmo pelo fato da série se mostrar como um “prequel” do clássico “Psicose”, de Alfred Hitchcock, embora ambientando nos dias de hoje.
O que enfraquece a série de uma maneira geral é que o conceito “bizarro” que faz com que mãe e filho cometam seus próprios pecados (e crimes) é que ele fica estendido para toda a cidade, ou seja, nenhum morador pode ser considerado normal, logo naturalmente nos tornamos mais cúmplices de Norma e Norman do que qualquer outro. Sendo assim, quando avistamos uma vasta plantação de maconha sendo tratada e bem cuidada nos arredores da cidade ou quando percebemos que o xerife mantém uma garota asiática presa no porão da sua casa, há uma impressão de que a relação doentia entre mãe e filho é o menor dos problemas ou apenas mais uma bizarrice daquele local como outra qualquer (a própria Norma parece se dar conta disso lá pela metade da temporada). Ainda assim as tramas se costuram de tal forma que os conflitos da relação entre mãe e filho sejam responsáveis pelas diretrizes da temporada. Vera Farmiga tem uma atuação intensa e marcante, Freddie Highmore realiza um trabalho de atuação meticuloso que até compensa certos probleminhas decorrentes da sua juventude, porém são dois trabalhos primorosos. Olivia Cooke também tem uma participação bastante sensível e emocional através da delicada Emma, melhor amiga de Norman, responsável pela sua relação humana mais saudável.
A segunda metade da temporada não consegue ter o mesmo apelo e ritmo vistos na primeira metade, o interesse sobre Jake Abernathy (Jere Burns), um misterioso cliente do hotel fica prejudicado pela falta de sutileza por parte do roteiro e da própria canastrice de Burns, o que não chega a ser um problema pelo menos quando a série retoma a relação entre mãe e filho, o “plot” principal. Na necessidade de tentar “amarrar” a construção completa de Norman Bates já na primeira temporada faz com que o seu “hobby” relacionado à taxidermia (entenda-se empalhamento) soe impositivo já que a intenção é escancarada para não dizer exagerada. E o final da temporada acaba sendo abrupto dando uma importância à figura da professora de Norman que não houve em nenhum outro momento. Ainda assim uma série que nesta primeira temporada conseguiu se desvencilhar da sua fonte na maior parte do tempo e oferecer material com personalidade própria.
“Jessica Jones” é uma série do universo Marvel que tenta se apresentar como algo diferente, “pero no mucho”. Não apenas pela protagonista feminina, mas pela própria postura da personagem que não se comporta como uma heroína, mas como uma mulher perturbada pelos fantasmas do seu passado que, na verdade, se resume à figura de Kilgrave (David Tennant), um controlador de mentes que fez com que Jessica cometesse crimes contra sua vontade. Krysten Ritter é uma atriz linda, talentosa e bastante carismática que sustenta muito bem as nuances da personagem que tem uma postura desleixada e descompromissada, mas que não esconde o seu lado sensível e existencial à espera de finalmente encontrar o seu lugar no mundo e nesse contexto a raiva e a impulsão da personagem também não deixam de ser uma forma de autodefesa.
Embora não funcione como uma série de ação (as sequências são mal dirigidas e coreografadas e não fica claro se de maneira intencional já que a personagem não fora treinada para tal), “Jessica Jones” é um ótimo thriller psicológico com requintes de cinema “noir”. A relação entre Jessica e Luke Cage (Mike Colter, ótimo) é muito bem construída já que inicialmente surge através de uma forte atração física, mas que aos poucos vai se transformação em um relacionamento mais profundo e intenso ao ponto de deixá-los vulneráveis diante das promessas não-cumpridas e/ou de segredos não-revelados. Kilgrave é um vilão sarcástico e dono de um humor negro afiado, afinal usa as pessoas e se diverte com isso e David Tennant realiza um trabalho eficiente que transita na linha tênue entre a caricatura e a canastrice, ora surgindo à vontade, ora parecendo fora do tom, o que no final das contas causa uma estranheza que agrega valor e peso ao imprevisível personagem. A relação entre Jessica e Kilgrave assume contornos de obsessão romântica, mas que agrega teor dramático muito mais a favor dele já que é através do sentimento que nutre por ela que há a possibilidade que vislumbremos algum tipo de humanidade nele, ainda mais quando descobrimos os desdobramentos da sua infância e da relação com seus pais.
Há algumas ideias descartáveis, como quando Jessica continua mandando fotos para Kilgrave mesmo após a ideia se esgotar; ou a reconstrução da casa que marcou a infância de Jessica apenas para forçar um tempo de convívio entre ela e Kilgrave; ou o exagero da “bala na cabeça”; ou até mesmo pouco desenvolvidas, como a subtrama envolvendo a advogada Jeryn Hogarth (Carrie-Anne Moss), inclusive os desdobramentos criminais envolvendo ela e a secretária (Susie Abromeit), mas nada que atrapalhe muito o ritmo da série que em determinados episódios mesmo com diversas linhas narrativas (ou investigativas) envolvendo Jessica não perde o fio condutor. Trish Walker (Rachael Taylor) e Will Simpson (Will Traval) surgem como dois personagens coadjuvantes que possuem funções narrativas acessórias, mas cujo peso dos personagens vai crescendo a cada capítulo e o envolvimento romântico entre os dois, curiosamente, gera um bom e inusitado alívio cômico, além de funcionar de maneira independente, especialmente ela na relação de amizade entre Trish e Jessica, e ele como um imprevisível agente duplo, digamos assim.
A 1ª temporada de “Jessica Jones” se mostrou de qualidade bastante linear, mas sem apresentar nenhum momento especialmente marcante e/ou fora de série (há dois momentos que ficam no quase, como na sequência que se passa dentro de uma delegacia ou em um momento onde há uma briga dentro do escritório de Jessica), logo o desfecho não alcança o potencial de um grande clímax, satisfazendo-se muito mais pela força e pelo apelo dos carismáticos personagens. Contando com pouquíssimos problemas e pormenores, a série é um produto de qualidade que possui potencial que merece ser ainda mais explorado nas próximas temporadas.
"A primeira temporada de "House Of Cards" é muito eficiente ao mostrar os meandros da política estadunidense através de uma série de personagens ardilosos e inescrupulosos, especialmente o deputado Francis Underwood (Kevin Spacey) que não mede esforços para alcançar seus objetivos e nem se incomoda de usar as pessoas para atingí-los, nem mesmo a sua esposa Claire (Robin Wright), uma mulher igualmente fria e ambiciosa que parece conhecer o jogo do marido, mas também tem lá a sua parcela de dor e de culpa. Kevin Spacey está muito bem à vontade na pele do congressista e o jogo sujo do seu personagem ganha uma roupagem sofisticada e inteligente, graças a capacidade do ator de transformá-lo em figura tão atraente quanto asquerosa. O mesmo pode ser dito de Robin Wright embora acredite que as oscilações emocionais experimentadas pela sua personagem não são tão bem exploradas quando a de Francis, sempre através de extremos, mas bem defendidos pela atriz. Kate Mara surge como uma jovem e ambiciosa jornalista que se envolve com Francis para conseguir os furos de reportagem que possam garantir sucesso em sua carreira, porém se a atriz se sai bem inicialmente à medida que a temporada avança a jornalista vai se enfraquecendo justamente ao se deixar levar cada vez mais pelo seu lado ingênuo e romântico, perdendo um pouco do seu apelo. Corey Stoll garante a Russo aquela condição de tornar o seu personagem trágico que é capaz de ganhar a simpatia ao mesmo tempo que provoca raiva pela sua fraqueza moral, uma mera peça do tabuleiro de um jogo que ele nunca esteve preparado para jogar. Dirigida por nomes como David Fincher, James Foley, Joel Schumacher e Carl Franklin, a série consegue ser muito atraente na encenação do jogo político como ao mostrar as estratégias de Francis em boicotar o novo secretário de Estado ou para a aprovação do novo projeto de educação justamente ao mostrar que dentro do Congresso todos tem seu preço ou até mesmo quando faz com que Francis tenha que voltar a sua cidade Natal para resolver um problema que pode prejudicar seu capital político ou quando ele é homenageado pela universidade em que se formou. A estratégia de usar Russo para os planos de Francis acabam ganhando contornos hollywoodianos, transformando a trama política em uma espécie de roteiro mirabolante de trama policial, o que destoa um pouco do restante da série (são nestes momentos que a série se encarrega de nos lembrar que estamos diante de uma série de TV, sem necessariamente a preocupação do tornar as reviravoltas em factíveis). E por mais escancarada que seja a estratégia de Francis, o desfecho acaba comprometendo a credibilidade do próprio, afinal ele nunca se colocou em uma situação de maneira tão expositiva como nesse final e a idéia de colocá-lo sujando as próprias mãos é algo que enfraquece a inteligência e a audácia do personagem. Ainda assim a série é muito competente ao trazer uma série de personagens com graves problemas morais e que não estão minimamente interessados em legitimar os votos recebidos e estão apenas uma constante busca de poder e cada vez mais poder, o que torna essa série norte-americana tão próxima da nossa realidade, mesmo sendo usada para garantir certa dose de puro entretenimento."
"Após uma ótima primeira temporada, "American Horror Story" segue sendo muito bem produzida, mas não mantém o mesmo nível nesta segunda, mas ainda assim é capaz de entregar um dos melhores produtos do gênero através da revisitação e exploração de clichês nesta temporada ambientada quase que exclusivamente dentro de um sanatório. A série demora um pouco a engrenar, em seus três primeiros episódios parece interessada apenas em contar um pouco da história dos principais pacientes e da freira responsável pelo sanatório, interpretada mais uma vez de forma magistral por Jessica Lange. A partir do momento que a figura do Bloody Face ganha destaque e a série deixa de ser ambientada apenas no sanatório, a série alcança melhores resultados, especialmente com o destaque dado ás personagens da escritora vivida por Sarah Paulson e do psiquiatra intepretado por Zachary Quinto que oferecem atuações impecáveis, cada um defendendo muito bem o seu lado. Já no sanatório, o espaço dedicado ao passado do médico vivido por James Cromwell jamais desperta o mesmo interesse ao passo que o conflito e o jogo de cena entre Lange e Lily Rabe se mostra mais atraente já que o roteiro consegue construir sequências de ótimos diálogos e a inversão de papéis colocando uma das freiras como paciente amplia ainda mais o arco dramática das duas dentro da série, ainda mais considerando o apelo sobrenatural da possessão. O apelo envolvendo o serial killer se mantém praticamente intacto ao longo de toda a temporada, mas após resolvidos os conflitos dentro do sanatório, os responsáveis pela série parecem ter perdido um pouco do tempo para encerrar a série, estendendo de maneira desnecessária o núcleo envolvendo o personagem de Evan Peters e Lizzie Brocheré que acaba assumindo uma conotação alienígena que reforça a tentativa da série de abordar o máximo de temas possíveis em uma mesma temporada, custe o que custar. E para isso as ações da escritora no ato final acabam perdendo um pouco o foco (é como se a escritora num primeiro momento não tivesse evoluído após tudo o que sofreu, sendo mesquinha e ambiciosa, apenas para logo em seguida retomar a sua postura natural de fechar a instituição e lutar por justiça). Ainda assim quando se observa o arco dramático traçado para os personagens de Paulson, Lange e Peters é possível reconhecer uma intensa sensibilidade por parte de direção e roteiro mesmo sendo uma série de terror repleta de bizarrices."
""Narcos" é uma série bem produzida que soube ao longo de seus 10 episódio capturar a essência e a evolução do império das drogas construído por Pablo Escobar que aqui ganha uma interpretação hipnótica por parte de Wagner Moura, um ator fenomenal em função da sua entrega e da sua performance tecnicamente irrepreensível e repleta de nuances. Mas se não bastasse apenas a memorável performance de Moura, roteiro e direção encontraram um sinergia ao longo da temporada e mesmo com a mudança do comando de um episódio para o outro a série não perde o seu ritmo e sempre consegue explorar de maneira orgânica algum determinado elemento que é importante para a evolução da trama, seja o tiroteio que abre a série ou uma simples foto. O ponto baixo da série fica para a excessiva narração em "off" que muitas vezes se torna cansativa, sendo que ela não se resume apenas em explicar tudo o que o espectador deveria deduzir ainda é capaz de dizer o que qualquer personagem sente sobre determinado evento. Belíssimo trabalho de fotografia de Lula Carvalho e uma trilha sonora que combina perfeitamente com a ambientação da série. Apesar da performance de Moura saltar os olhos, o elenco é muito homogêneo com destaque para Boyd Holbrook e Pedro Pascal, que interpreta os parceiros do DEA, que perseguem Escobar; Juan Pablo Raba, que interpreta Gustavo o primo de Escobar e Raul Mendez na pele do presidente Gaviria. Alguns eventos são tão absurdos que fica difícil de acreditar que foi inspirado em fatos reais, mas a autenticidade e a inteligência do roteiro permitem que todo e qualquer eventual excesso não seja acompanhado com incômodo, pois a série se sustenta através de uma base sólida e contundente que se encarrega de explorar todos os segmentos dentro da investigação que pretende incriminar Pablo, inclusive os políticos."
"Ao chegar em sua terceira temporada "Homeland" demonstra uma incrível capacidade de se reinventar em uma série de episódios que se equilibra pelo menos por três vezes no que se refere ao uso de uma pessoa para atingir um objetivo maior seja através de Carrie (Claire Danes) em um primeiro momento, posteriormente com Javadi (Shaun Toub) e finalmente com Brody (Damian Lewis) mais uma vez. A série atinge mais uma vez um nível de maturidade impressionante, tornando os acontecimentos ainda mais densos e tensos, repletos de autenticidade e sempre criando uma importante expectativa ao colocar mocinhos e vilões muitas vezes responsáveis por decisões que fogem do estereótipos e os tornam ainda mais complexos. Um elenco afiadíssimo que mais uma vez se sustenta pela intensa atuação de Danes e pela soberba performance do infalível Mandy Patinkin. Damian Lewis tem a oportunidade de explorar os dilemas emocionais de Brody com uma atuação vigorosa enquanto Toub se mostra uma importante adição ao elenco. O núcleo da família Brody se mostra nesta terceira temporada o calcanhar de Aquiles da série que recebe um tratamento fraco e frágil, sendo sabiamente esquecido por boa parte do tempo. Esta terceira temporada, no entanto, se mostrou a mais homogênea em termos de ritmo, detentora de um roteiro maduro, robusto e inteligente em que a evolução dos eventos se revelou poderosa e impactante, especialmente aqueles que abrem e encerram a temporada."
"“Sense 8” é uma série dramática, ousada, sensível, criativa e sensorial que explora os sentimentos de cumplicidade, tolerância, solidariedade e empatia através de uma narrativa que acompanha 8 personagens distintos em diferentes lugares do mundo em uma trama que possui ecos de ficção científica e suspense. Os irmãos Wachowski realizam um trabalho tecnicamente primoroso com o intuito de mostrar o que nos torna diferentes uns dos outros (nacionalidade, profissão, opção sexual, religião etc), mas evocando principalmente o despertar da nossa humanidade e o que nos torna semelhantes, afinal o que sentimos é o que nos torna cúmplices, é o que nos torna iguais. As nossas outras diferenças não deveriam fazer tanta diferença assim. O que sentimos é o que permite que nos preocupemos uns com os outros, é isso que nos torna humanos, independente se você é um ator homossexual mexicano ou uma DJ islandesa que vive em Londres ou uma coreana que possui habilidades no “kickbox”. Ou ainda um ladrão alemão, uma farmacêutica indiana de casamento arranjado ou uma transexual americana rejeitada pela família. Ou ainda um motorista de ônibus de Nairobi de nome Van Damme ou um policial de Chicago de nome Will. Há de se elogiar o apuro técnico e a sensibilidade de criar passagens que mesclam diálogos em diferentes localidades, como na sequência em que a indiana e o alemão flertam em um cenário que mescla calor e frio, sol e chuva ou quando coloca todos os personagens para cantar a mesma música. Da mesma forma existe a oportunidade da série explorar a ação, como na sequência em que há um perseguição automobilística em Chicago ou quando a coreana luta em nome de Van Damme. A relação entre os oito personagens funciona como uma espécie de experiência “telepática” onde cada um compartilha emoções, sensações, habilidades e conhecimentos com o outro e/ou que somente o outro tem e vice-versa, desenvolvendo uma relação íntima, embora apenas sensitiva. A primeira metade da temporada é de altíssimo nível e reserva alguns dos melhores momentos da série. A partir de então, a série perde um pouco do seu bom ritmo e a evolução da narrativa se mostra mais arrastada com destaque para ações e eventos mais secundários, mas ainda assim os dois últimos episódios são bastante eficientes."
Após a ótima 4ª temporada, boa parte da 5ª acabou sendo um tanto quanto frustrante, porém nada que se assemelhe à fatídica e tenebrosa 3ª temporada. O que houve de mais absoluto nesta temporada foi o arco dramático de Jon Snow (Kit Harington), talvez um dos poucos personagens da série a demonstrar uma inabalável lealdade e integridade de caráter e que precisa enfrentar a desconfiança de seus comandados da Patrulha da Noite ao buscar um entendimento com os Selvagens em meio a um conflito de proporções épicas contra o exército de Stannis Baratheon (Stephen Dillane) e também contra Forças do Mal que não são desse mundo (o oitavo episódio figura entre um dos pontos altos de toda a série). Kit Harington que até então tinha uma participação discreta na série, mas sem comprometer, apesar da importância do personagem, nesta temporada teve uma atuação crescente que só fortaleceu ainda mais o carisma e o apelo do personagem que se mantém intactos até o fim. Os dilemas de Stannis assim como seu destino são enfraquecidos pela insistência dos realizadores no uso de Melisandre (Carice Van Hounten, canastrona) como uma espécie de tutora espiritual, garantindo o sucesso de suas missões através de visões que só ela vê, mas que só reforça a preguiça dos roteiristas que ao invés de ilustrar a crescente loucura do rei de maneira sutil e/ou subjetiva preferem o uso de uma figura física para ilustrá-la (chega a ser constrangedor as sucessivas tentativas da personagem em usar o sexo como uma arma e isso já vem de temporadas anteriores). Não é à toa que em determinado momento ela simplesmente deixa Stannis na mão. E com isso, os momentos-chaves se tornam apelativos apenas para provocar o choque pelo choque (vide sequência da fogueira).
Já com relação a Tyrion (Peter Dinklage), a trama demora muito para engrenar já que após os marcantes eventos da temporada anterior, o personagem, um dos mais relevantes da série, basicamente vai de um lugar para o outro lamentando a falta de vinho pelo caminho. A partir do momento em que ele finalmente se encontra com a rainha Daenerys Targaryen (Emilia Clarke) é que o personagem diz ao que veio, criando boas expectativas para o futuro, mas nesse processo até mesmo a redenção de Jorah (Iain Glen) perde seu impacto em um episódio que tem seu grau de tensão anulado pela frágil presença do dragão Drogo e de fracos efeitos especiais (um dos pontos baixos da temporada). Até ali, Daenerys precisa enfrentar as dificuldades políticas e morais de governar em meio ao conflito entre os dissidentes do seu reino. Nada muito especial embora os responsáveis pela série dediquem um bom tempo para lidar com estes dilemas, apenas para que tenhamos uma noção de que o senso de justiça de Daenerys causa muito mais implicações do que ela poderia imaginar. Emilia Clarke mantém sua irregularidade em cena já que sua postura oscila muito, sendo que às vezes dá a impressão de que ela não consegue carregar a personagem sozinha enquanto que em outros momentos ela dá conta do recado. Sem querer ser repetitivo, mas sua dobradinha com Peter Dinklage pode render bons frutos mesmo que os responsáveis pela série tenham optado por uma nova fragmentação desse núcleo.
No núcleo dos Lannisters há uma divisão já que a Rainha-Mãe Cersei (Lena Headey) ordena que Jaime (Nikolaj Coster-Waldau) resgate sua filha/sobrinha de Dorne enquanto ela arquiteta um plano para desmoralizar a rainha Margaery (Natalie Dormer) e separá-la do seu filho e novo rei (Dean-Charles Chapman). Nesse ponto, a trama remete ao período da Inquisição, mostrando a mão forte da Religião sobre os destinos de homens e mulheres que viveram suas vidas contra os princípios estipulados pelos deuses, personificado pela figura do líder religioso High Sparrow (Jonathan Pryce, ótimo). Enquanto que no núcleo de Jaime nada muito digno de nota acontece (todo o plano de execução assim como sua conclusão, inclusive a sequência no barco, são risíveis pela realização canhestra), cabe a Cersei e a interpretação hipnótica de Lena Headey garantir boa parte do interesse desta subtrama mesmo quando soa redundante e/ou foca mais nas aparências antes de partir para algo definitivo. E Lena Headey entrega-se de corpo e alma a uma personagem asquerosa e desprezível (e atraente dramaticamente justamente por isso), mas que participa de uma das sequências mais marcantes e emblemáticas de toda a série quando Cersei se humilha sob um coro de vozes clamando por sua vergonha.
Enquanto que Sansa Stark (Sophie Turner) sofre nas mãos Ash Weston (Ivan Rheon) em função de um ato covarde de Mindinho (Aidan Gillen) ao deixa-la sozinha com o inimigo, apenas para atender uma necessidade genérica e repetitiva dos realizadores de transformá-la mais uma vez em uma heroína trágica (quase digna de novela mexicana, afinal ela precisa sofrer) cujo “cliffhanger” deixado para a próxima temporada também se mostra de apelo restrito, Arya (Maisie Williams) se envolve em uma subtrama igualmente fraca que a coloca em meio a uma seita que promete a seus participantes a perda da sua identidade como uma forma de atender as necessidades de uma santidade e que serve apenas para prepara-la para a sua sequência final. Duas jovens e importantes personagens sendo desperdiçadas com tramas que ao longo da temporada literalmente não saem do lugar.
Sem conseguir repetir os bons momentos da série (1ª e 4ª temporadas), a 5ª temporada de “Game Of Thrones” consegue ser tão irregular quanto a 2ª temporada apresentando graves problemas de ritmo, sendo superior apenas à fraca 3ª temporada, porém é evidente que os pontos positivos destoam e se destacam já que certamente ficarão marcados dentro da mitologia da série.
“Game Of Thrones” teve uma ótima 1ª temporada, a 2ª foi marcada por altos e baixos e a 3ª foi extremamente fraca, salvando-se basicamente pelos seus dois episódios finais. Em sua 4ª temporada a série parece ter voltado aos eixos com episódios mais dinâmicos e de contundente intensidade dramática, mesmo que alguns diálogos sigam prolixos e a estrutura dos episódios seja um tanto quanto repetitiva. O primeiro episódio é como uma espécie de interlúdio entre a temporada anterior e a atual, situando os personagens e mostrando como eles assimilaram os eventos passados e quais são as ambições futuras, valendo-se da mesma velha estrutura em dedicar de 5 a 7 minutos para cada um dos diversos núcleos, dedicando ora ou outra a um deles mais tempo ou uma ação mais grandiosa e/ou impactante. O 2º episódio talvez seja responsável por um dos pontos mais altos da série ao apresentar a icônica sequência do casamento entre Joffrey (Jack Gleeson, fraco e apropriado) e Margaery Tyrell (Natalie Dormer, ótima) e as suas terríveis consequências, além de colocar injustamente Tyrion (Peter Dinklage) como responsável pelo crime com direito a uma icônica sequência de discurso em que Dinklage dá um show de interpretação e maturidade artística.
O que dá para notar também nesta temporada de “Game Of Thrones” é uma maior proximidade entre os núcleos, fazendo com que a movimentação de um tenha impacto, mesmo que ainda sutil, em outro, como o avanço de Daenerys Targaryen (Emilia Clarke, irregular) e o crescimento do seu exército que já parece incomodar outros líderes ou o avanço dos Selvagens sobre à Muralha, potencializando os dilemas de Jon Snow (Kit Harington) que culmina em uma épica sequência de batalha envolvendo inclusive Gigantes montados em mamutes (!). Da mesma forma que Mindinho (Aindan Gillen, ótimo) parece se tornar o principal articulador da temporada usando-se da aparente fragilidade Sansa Stark (Sophie Turner, ótima), dando sinais cada vez maiores de sua ambição desmedida, a temporada aposta em alguns duetos narrativos que dão leveza à série, como o que envolve Brienne (Gwendoline Christie) ao lado do antigo servo de Tyrion, além do que envolve Arya Stark (Maisie Williams) e o Cão de Caça, em uma inusitada relação de pai e filha que também funciona um guia espiritual total e politicamente incorreto. O amadurecimento de Sansa e Arya trazem um pouco de esperança ao clã dos Stark. As relações entre Tyrion, seu irmão Jaime (Nikolaj Coster-Waldau, melhor a cada temporada) e Cersei (Lena Headey, não tão hipnótica como em temporadas anteriores) também reforçam a grandeza e a complexidade emocional de um núcleo de personagens cercados pela tragédia e mais uma vez Peter Dinklage rouba a cena.
Depois de uma segunda temporada bastante irregular e uma terceira temporada tenebrosa, “Game Of Thrones” encontrou novamente o seu caminho. Tecnicamente impecável, especialmente pelo eficiente uso da fotografia e da bela trilha sonora e suas grandiosas melodias, a série teve uma 4ª temporada elogiável e grandiosa que soube muito bem dosar os diversos núcleos de forma mais orgânica (não evitando que alguns fossem mais eficientes do outros) e esforçando-se para mesclar a sua natureza épica com seus conflitos políticos, dilemas familiares e as narrativas que flertam com a fantasia (que ainda destoam em qualidade dos demais).
“Better Call Saul” é uma série derivativa de “Breaking Bad” a partir do personagem Saul Goodman, interpretado por Bob Odenkirk, que esteve ao lado de Walter White (Bryan Cranston) e Jesse Pinkman (Aaron Paul) a partir da 2ª temporada da renomada série de Vince Gilligan. Aqui nesta série, ainda sob o nome de Jimmy McGill, temos a oportunidade de nos aprofundar mais na história de vida do personagem. O grande objetivo alcançado pela série é o de humaniza-lo, logo estamos diante de um sujeito que é muito mais do um mero advogado oportunista e/ou trambiqueiro como vimos até então. Há um sentimento de piedade diante de um sujeito que desde o início quer mostrar o seu valor, mas por uma série de contratempos escolhe o caminho errado. Coproduzida por Gilligan ao lado de Peter Gould, a série é muito bem dirigida, há belíssimos planos contemplativos (muitas vezes deixando um ou mais personagem em silêncio e/ou fora do plano), há escolhas riquíssimas como a belíssima e melancólica sequência de abertura em preto e branco que apresenta um futuro do personagem (possivelmente pós-“Breaking Bad”) até retornar ao tempo com uma paleta de cores vivas para mostrar a atuação de Saul diante de um júri em um caso praticamente perdido (e a opção da câmera em focá-lo de costas e apenas apresentar o seu rosto quando ele começa a discursar é uma solução clássica para reforçar o respeito ao personagem).
O grande problema da série em sua primeira metade é que estamos diante de um personagem atraente em sua excentricidade, mas cujos eventos nunca acompanham o seu nível ou grau de complexidade. De certa forma faz até lembrar de “Dexter” que tinha um personagem central fascinante, afinal tratava-se de um “serial killer” que tentava levar uma vida normal, porém o que acontecia ao seu redor assim como os demais personagens, em sua grande maioria, nunca alcançava o mesmo nível de interesse despertado por ele. Com “Better Call Saul” acontece praticamente a mesma coisa. Se há algo de interessante na série é o próprio Saul Goodman, digo, Jimmy McGill, um advogado cujo tom e postura flertam entre a melancolia e o sarcasmo, sendo defendido com elegância, bom humor e maestria por Bob Odenkirk naquele que é desde já o papel de uma carreira. E por ser um “spin off” é natural que a série tente evocar o produto original, mas ela precisa caminhar com as próprias pernas e dessa forma a série inicialmente torna-se apenas moderada. A presença de Tuco Salamanca (Raymond Cruz), por exemplo, nos episódios iniciais acaba sendo um recurso mais distrativo do que agregador, como se feito para não deixar o espectador escapar e permitir que ele invista mais tempo na série pelo laço afetivo criado até então até porque a trama envolvendo um casal e um desvio milionário demora a engrenar.
Curiosamente, o salto de qualidade desta temporada se deve à influência de Mike (Jonathan Banks), também do universo de “Breaking Bad”. Aparecendo em participações pontuais até então, o 6º episódio é inteiramente voltado a ele, sendo Jimmy um mero coadjuvante, em uma trama que investiga o passado traumático do policial aposentado envolvendo corrupção policial e o destino trágico do seu filho assim como sua relação com a nora e a neta (mas neste caso nada que venha a agregar muito já que ligamos os pontos facilmente). Banks também é um ator formidável e entrega uma atuação sensível e precisa. Cabe a ele no episódio seguinte ajudar Jimmy em solucionar a trama do desvio de dinheiro, permitindo que este ciclo se encerre e leve o advogado para o próximo caso e que envolve a extorsão de idosos por uma clínica de repouso. Os eventos que decorrem destes dois casos servem de combustível emocional para as conclusões finais da temporada e que envolvem diretamente a relação entre Jimmy e seu irmão Chuck (Michael McKean, ótimo), um advogado mais bem sucedido, sócio de um influente escritório, mas que sofre de um distúrbio que limita o seu convívio social. A dinâmica entre os irmãos é inicialmente burocrática, sendo ajustada no decorrer da temporada até que serve de estopim para as maiores decepções e frustrações de Jimmy.
O arco dramático de Jimmy McGill se encerra com um episódio em que ele retorna às origens que reforça o seu passado escorregadio, repleto de golpes e armações para nenhum Kevin Costner botar defeito. É um episódio ágil e divertido, mas que mesmo assim não deixa de ser triste e melancólico, especialmente pelas marcas deixadas na personalidade do advogado, não apenas pela tragédia final, mas pela forma como ele encara a realidade diante das constantes frustrações, como no discurso durante um bingo da terceira idade. E a trajetória de Jimmy McGill é uma mistura de sentimentos por traduzir um pouco dessa angústia de um homem que errou e buscou a sua redenção, mas à medida que procurava fazer a coisa certa, inevitavelmente, por força das circunstâncias, acabava se deixando levar pelo seu lado sombrio.
Após a conclusão da 4ª temporada, os responsáveis por “The Walking Dead” precisaram de apenas 3 ótimos episódios para abordar a interferência do grupo de humanos do Santuário e seguir em frente (ou quase isso). Pelo menos deveria ser assim. De maneira inteligente, apresenta dois breves “flashbacks” que servem de explicação para a natureza do grupo e a razão distorcida que eles seguem para justificar seus atos. Mas como Rick (Andrew Lincoln) fez questão de alertar ao final da temporada anterior, eles mexeram com as pessoas erradas. Logo no 1º episódio, a série experimenta uma catarse carregada de tensão e ação (contando com a interferência providencial de uma importante personagem) que vai repercutir até o final do 3º episódio com um clímax sombrio e sangrento ambientado dentro de uma igreja (ou apenas um local com 4 paredes e um teto, vale a pena destacar, em mais uma boa sacada do roteiro). Os conflitos entre os personagens aliados ao sadismo do grupo do Santuário (o desfecho de um personagem ganha contornos de filme de terror, graças a ação doentia deles) culminam em um clímax que revela (mais uma vez) a gradativa perda da humanidade daqueles personagens, deixando cada vez mais difícil acreditarmos que eles sairão ilesos, física e/ou emocionalmente, dessa jornada, especialmente Rick. A redenção parece cada vez mais difícil de ser alcançada e os personagens estão em constante conflito consigo mesmo, principalmente quando se veem diante do seu lado mais obscuro.
A partir do 4º episódio, a série se divide em 3 núcleos: o grupo que se mantém na igreja, liderados por Rick; aquele que parte com o sargento Abraham Ford (Michael Cudlitz) e o cientista Eugene Porter (Josh McDermitt) em direção à Washington, incluindo Glenn (Steven Yeun) e Maggie (Lauren Cohan); e o que acompanha a até então desaparecida Beth (Emily Kinney) que se encontra “prisioneira” de um hospital, comandado de forma ditatorial pela policial Dawn Lerner (Christine Woods). Nesse terceiro núcleo há uma certa impressão de que algumas ideias estão sendo recicladas, afinal após a cidadela liderada pelo Governador e o grupo de canibais, aqui vemos mais uma distorção da noção de comunidade sendo levada ao extremo, o que inicialmente acaba sendo frustrante e derivativa, sendo que Emily Kinney por mais efetiva e carismática não sustenta sozinha o apelo da narrativa. Não fica muito difícil juntar as peças do quebra-cabeça que unem o núcleo de Beth com a de Daryl (Norman Reedus) e Carol (Melissa Suzanne McBride) que deixam o grupo da igreja para trás afim de resgatá-la em um episódio bem morno (inclusive com explicações desnecessárias sobre as ações de Carol na temporada anterior do momento da separação do grupo principal até quando consegue salvá-lo).
A fragilidade do núcleo de Abraham Ford e Eugene Porter fica ainda mais evidente com as revelações indicadas no 5º episódio que também conta um pouco da origem do sargento que já dava indícios de um nível de stress além do normal. Dessa forma cabe a Glenn incluir um pouco de racionalidade e maturidade dentro do grupo, porém nada que venha a justificar o tempo desperdiçado com eles (curioso notar que desde a metade da temporada anterior, Maggie parece conformada com a ausência de Beth, sendo que ela tinha a oportunidade de saber que estava viva muito antes do momento em que ela finalmente toma conhecimento disso). O final dessa 1ª metade da temporada acaba se apoiando em dois episódios apenas razoáveis que parecem andar em círculos (literalmente um dos grupo retorna ao ponto de partida) ou se arrasta apenas para que os núcleos se encontrem pouco depois do clímax, incluindo a subtrama envolvendo os dilemas do padre Gabriel (Seth Gilliam), já que dessa vez é ele que pede para ser salvo, e o cerco feito pelo grupo a três policiais com o intuito de negociar a troca com Dawn.
O evento que serve de clímax para esse meio de temporada tem um alcance emocional estrondoso, mas a realização deixa a desejar pela própria composição do conflito, mesmo considerando que o efeito é devastador em função da identificação que se cria com alguns personagens. O que já não se pode dizer do 9º episódio que é praticamente feito em homenagem a um personagem que também tem um fim definitivo já que dentro da própria série ele não tinha muito brilho próprio, sempre ficando à margem e/ou participando apenas como apoio do grupo principal. E mesmo que neste episódio se invista em efeitos de edição estilizados ou se busque uma forma de encarar a morte de maneira mais poética e/ou metafórica, o resultado é apenas morno, ainda mais levando em consideração que em função dos acontecimentos dos dois últimos episódios, há muito mais motivos para “odiarmos o Chris” do que se podia imaginar (a atuação de Tyler James Williams é fraquíssima).
O 10º episódio, analisado isoladamente, é muito eficiente já que propõe a primeira passagem de tempo em que os personagens se encontram mais fragilizados física e emocionalmente em função da falta de suprimentos, especialmente comida e água. Decididos em seguir para Washington, mesmo após a descoberta da farsa de Eugene, eles literalmente se arrastam para cumprir os quilômetros de distância até o local de destino. Em determinado momento, eles se recusam até mesmo a confrontarem os zumbis afim de pouparem energia. Trata-se de uma jornada física e emocional intensa que faz até mesmo com que Rick se questione se eles não são os verdadeiros mortos-vivos deste novo mundo em que vivem, além de permitir o primeiro momento mais emocional de Daryl em que ele se deixa levar pelas lágrimas. A instalação em um celeiro para escaparem de uma forte tempestade se torna uma bonita metáfora sobre a união que os mantém vivos até então. E depois de três ótimos episódios iniciais e um restante de temporada bem irregular, a partir do 11º episódio é que a série se propõe finalmente a um novo caminho.
A preparação para a chegada do grupo em Alexandria é muito bem sustentada em torno do conflito entre a desconfiança de Rick e a esperança do restante, principalmente na figura de Michonne, a partir do momento que Aaron (Ross Marquand, eficiente) se apresenta como um integrante de uma comunidade e que está interessado em levá-los até lá. A atitude de Rick é absolutamente compreensível em função de tudo o que ocorreu dentro da série, não apenas nesta temporada, porém é natural que a decepção com o Santuário o deixe intensamente desconfiado ao ponto de ser extremamente cauteloso e até mesmo raivoso. É curioso, como espectador, experimentar das duas sensações, a de apoiar as decisões de Rick, pois sabemos que ele pensa no bem do grupo, por mais que se mostre mais afetado e instável emocionalmente pela crescente onda de acontecimentos, mas ao mesmo tempo também queremos que ele esteja errado para que, finalmente, o grupo mereça momentos de paz. O espectador também deposita esse voto de confiança, embora não demore muito para que se desconfie que há algo suspeito nesta comunidade, porém a condução dessa dúvida principal é bem conduzida justamente por colocar o grupo que acompanhamos desde o início da série como uma espécie de antagonista do grupo residente de Alexandria, liderado pela congressista Deanna Monroe (Tovah Feldshuh, canastrona).
A conclusão da temporada basicamente se resume em dois sentimentos. O primeiro é o de uma espécie de abstinência de parte dos personagens que encontram dificuldades em se adaptar a uma vida normal dentro de Alexandria, logo Carol não está muito satisfeita em preparar cookies para as crianças; Daryl se sente enclausurado e por isso aceita o convite de Aaron em ficar do lado de fora para buscar novos integrantes para a comunidade; Sasha (Sonequa Martin-Green) surge obcecada pela adrenalina de matar os zumbis como uma forma de lidar emocionalmente com as perdas enfrentadas; além de Rick que considera o grupo de Alexandria muito fraco e frágil para lidar com o novo mundo e até por isso é o que acaba se expondo mais ao ponto de colocar suas próprias atitudes em xeque, ainda mais quando se mostra emocionalmente envolvido com Jessie (Alexandra Breckenridge, ótima). Enquanto Maggie se mostra bem discreta ao se tornar uma espécie de assessora de Deanna, mas sem abandonar o grupo, Michonne (Danai Gurira) acaba sendo uma voz dissonante por acreditar na prosperidade da comunidade enquanto que o padre Gabriel dá cada vez mais sinais da perda de sua fé e da sua fraqueza de caráter. O 2º sentimento é o que acompanha as diretrizes da comunidade que se manteve intacta, mas que jogou para debaixo do tapete muitos dos seus conflitos (expulsando alguns integrantes contrários aos rumos da cidadela e/ou com relação à direção de Deanna), fazendo vista grossa a morte de outros no passado e a violência sofrida por Jessie pelo marido alcoólatra apenas porque ele é o único cirurgião do grupo. Embora o desfecho tenha seu impacto, especialmente pela chegada de um velho conhecido de Rick à comunidade, a segunda metade da temporada acaba se sustentado mais em função dos dilemas emocionais dos personagens principais (os novos que surgiram no final da temporada anterior e no início dessa são meros coadjuvantes e às vezes até figurantes) do que os eventos que ocorrem dentro de Alexandria, mesmo levando em consideração que essa comunidade é diferente do que tudo o que fora apresentado até então dentro da série.
E levando em consideração o desfecho desta temporada, “The Walking Dead” demonstra mais uma vez que é uma série que está muito mais preocupada em investigar as relações humanas a partir de uma premissa que se sustenta pela luta pela sobrevivência do que propriamente uma série interessada apenas no banho de sangue provocado pelos zumbis.
Trata-se de um erro considerar que “The Walking Dead” é apenas uma série de zumbis. Assim como “Lost”, a série é muito mais dramática e emocional, construída através da relação entre os personagens, tendo como pano de fundo o caos provocado pela horda de criaturas que se alimentam dos vivos. A 1ª temporada é enxuta, mas extremamente eficiente. A 2ª deixa um pouco a desejar na primeira metade, mas alcança um nível extraordinário na sua metade final. Já a 3ª se mostrou a melhor e mais regular de todas as temporadas até então. A 4ª temporada já se inicia em alto nível com a indicação de uma gripe que provoca a morte de muitos daqueles que se instalaram na prisão após a fuga da cidade comandada pelo Governador (David Morrissey). E como se sabe, no universo da série, morrer não é nada bom. Não deixa de ser uma solução prática e viável encontrada pelos responsáveis da série em eliminar rapidamente parte dos novos personagens que se juntaram a Rick e cia, mas sem soar como uma mera desculpa, além de proporcionar alguns ótimos momentos de tensão, especialmente na sequência da primeira vítima do surto que provoca dezena de outras mortes ou durante a corrida contra o tempo para salvar a vida de Glenn (Steven Yeun), ambos embalados por uma trilha sonora agonizante e aterrorizante.
A contaminação coloca os personagens em alerta e ainda estabelece alguns conflitos dramáticos importantes, especialmente aqueles em que se questionam conflitos morais assim como a racionalidade e a humanidade dos sobreviventes. Após terem feito tudo o que fizeram para se manter vivos, ainda haverá condições para que eles voltem a ser o que eram antes de tudo isso? Esse é o principal conflito entre os personagens na primeira metade da temporada. Rick continua sendo o centro emocional da série já que mesmo diante de tanta responsabilidade e stress, ele ainda se mantém com uma fé e uma moral inabaláveis que o transforma até em um sujeito menos ativo justamente para proteger aqueles que permanecem na prisão, especialmente seus filhos, como se não quisesse colocar mais ninguém em risco. Em um dos episódios, porém, uma sobrevivente que ele encontra nos arredores da prisão lhe faz esse questionamento e os eventos decorrentes desse encontro, até mesmo aqueles que seguem dentro da prisão, irão colocar em xeque essa sua postura aparentemente passiva (inclusive envolvendo uma tomada de decisão difícil e delicada ao final do 4º episódio decorrente de uma ação controversa, mas compreensível diante das circunstâncias, mesmo que a reação de ambos soe um pouco desproporcional). Andrew Lincoln é um ator formidável, pois ele consegue carregar um personagem complexo com serenidade, sensibilidade e extrema segurança, mas sem deixar de ilustrar a carga dramática característica de Rick que alterna entre o tom politicamente correto e um lado mais frio e calculista. Rick representa a nossa fé na humanidade mesmo quando está carregado de desesperança (e quando ele, emocionado, pede trégua a um determinado personagem não tem como não se comover com o seu alto nível de fragilidade). Scott Wilson é outro ator que oferece um trabalho de atuação maravilhoso como Hershel que se torna uma espécie de mentor moral, ético e espiritual do grupo com extrema elegância, mas mantendo em sua essência a sua personalidade rústica e simples de fazendeiro. Sem dúvida nenhuma, um personagem marcante.
O 6º e o 7º episódios estão certamente entre os melhores episódios da série como um todo e curiosamente está fora do núcleo central já que se concentra nos caminhos percorridos pelo Governador a partir do final da temporada anterior até o tempo presente. O arco dramático vivenciado pelo personagem é muito bem encenado e a sua humanização é quase que um sopro de esperança para o seu futuro ao lado de sua nova família, mas por mais que ele resista, a sua natureza doentia e perturbada parece falar mais alto. E estes dois episódios são capazes de elevá-lo e torna-lo mais complexo do que tudo o que vimos e sabemos sobre ele pela temporada anterior, logo quando ele surge ameaçador diante do grupo de Rick há novamente o pavor e o medo já experimentados, mas certamente estamos diante de um novo Governador, muito mais imprevisível, muito mais insano e muito mais perigoso (e essa constatação pode ser resumida através de uma atitude covarde e chocante). David Morrissey, que é um ator extremamente limitado, alcança um nível de interpretação compatível com seu talento, mas cuja eficiência é inquestionável já que funciona. E se na temporada anterior, mesmo que o Governador servisse como um relativo contraponto a Rick, aqui Morrissey permite que seu personagem imprima um alcance emocional maior, seja pela sua redenção ou pelo seu egoísmo, como desejado pelo roteiro.
Após o ótimo episódio que registra a catarse entre o grupo de Rick e do Governador (em que os responsáveis pela série deixam um pouco a desejar apenas na geografia das sequências de ação já que os planos e contra planos enfraquecem os duelos, especialmente os que envolvem arma de fogo), os episódios seguintes se concentram na dispersão do grupo. Em um episódio, que mais se parece com um curta e/ou um episódio experimental, Carl (Chandler Riggs) age solitariamente enquanto o pai se recupera dos efeitos do episódio anterior, mas tudo é feito de maneira bastante esquemática em que o garoto se comporta de maneira imatura e às vezes irritante, mas cujo peso não pode ser colocado apenas nas costas de Riggs já que ele se mostra um ator mirim bastante esforçado. As ações de Michonne (Danai Gurira) também são rasteiras, incluindo até um “flashback” que permite uma atuação terrivelmente canastrona de Gurira que até então não havia comprometido a série já que a sua performance como a personagem feminina durona se mostrara bastante convincente até então. As ações dos demais personagens, divididos em outros três núcleos não possuem eventos especialmente marcantes, fazendo com que a temporada perca bastante do seu ritmo, sendo mais reflexiva e contemplativa. Esse isolamento dos personagens em pequenos grupos evidencia também que nem todos os personagens funcionam isoladamente da mesma forma que em grupo seja para o bem, como no caso do sempre marcante Daryl (o ótimo Norman Reedus), ou para o mal, tratando-se de Glenn, por exemplo, apesar da presença carismática de Steven Yeun.
Essa 2ª metade da temporada se divide em episódios pouco marcantes que servem apenas para conduzir os personagens ao final da temporada (entenda-se “Santuário”) com outros que funcionam muito bem isoladamente para reforçar as relações entre um ou mais personagens. Além daquele que envolve Rick e Carl, um que merece destaque é o que se sustenta através da relação entre Daryl e Beth (Emily Kinney, ótima), dois opostos que se atraem. Porém, o episódio mais contundente é certamente aquele que acompanha Carol (Melissa Suzanne McBride, brilhante) e Tyreese (Chad L. Coleman, limitado) ao lado de das irmãs Lily e Tara através de um arco dramático repleto de esperança, mas carregado de tristeza e melancolia. Além de servir de preparação para a próxima temporada, a 4ª temporada insere alguns personagens novos, como o militar Abraham Ford (Michael Cudlitz, fraco) encarregado de proteger o cientista Eugene Porter (Josh McDermitt, fraco) que conhece o motivo que causou a epidemia até chegar à base do exército americano em Washington, porém não se explora muito o assunto classificado como confidencial.
A temporada se encerra com a apresentação de um novo grupo que promete ser antagonista de Rick & Cia, porém o mais bacana do encerramento foi justamente explorar a quebra de expectativa com relação aos conceitos entre o bem e o mal já que os próprios personagens questionam a respeito da sua própria natureza depois de tudo o que enfrentaram (retomando parte da abordagem levantada na primeira parte da temporada), logo não deixa de ser ousado e inteligente a aposta dos roteirista em colocar os personagens que acompanhamos desde o começo como responsáveis por uma carnificina, além de invasores de propriedade. Em resumo, mesmo com alguns episódios que destoam do restante da temporada em sua segunda metade, a 4ª temporada atingiu o mais alto nível que “The Walking Dead”, deixando boas perspectivas para o futuro.
A 1ª temporada de “Game Of Thrones” é fantástica. A 2ª temporada já demonstra uma falta de ritmo preocupante, mas ainda mantém intacto boa parte do seu apelo emocional. Já a 3ª temporada de “Game Of Thrones” é um longo, cansativo e exaustivo engodo. Como em um jogo de xadrez comandado em câmera lenta, cada um dos núcleos da narrativa se movimenta no tabuleiro de maneira preguiçosa ao longo da temporada já que na verdade tem pouco a apresentar, logo o que se vê ao longo dos 10 episódios nada mais é do que uma longa preparação para os seus episódios finais que reservam as maiores catarses da temporada, especialmente os dois últimos episódios. Isso tudo se ainda não bastasse o oportunista efeito de arrastar a narrativa ao longo de cada um dos episódios apenas para que reservasse algum evento digno de nota em seus cinco minutos finais, fazendo com que Dan Brown se sentisse orgulhoso da sua eficiente canastrice literária, os roteiristas da série, que se inspiram nos livros de George Martin, seguem sua cartilha fervorosamente de maneira extremamente prolixa. Ao longo desta temporada, Daenerys Targaryen (a irregular Emilia Clarke) tem uma trama que praticamente se repete a da temporada anterior já que se concentra na busca por um exército que lute ao seu lado. E dá-lhe negociação, peitos e bundas! Robb Stark (Richard Madden) possui um interessante conflito como Rei já que precisa medir as consequências de uma possível nova aliança ao mesmo tempo em que se apaixona por uma espécie de camponesa que pode comprometer um futuro casamento importante para as suas aspirações no poder. Não é à toa que o impacto provocado por esse núcleo é o mais chocante justamente pela frieza e a crueldade adotada pelos inimigos. Enquanto isso o Regicida (Nikolaj Coster-Waldau)¬, após suas atitudes desumanas, enfrenta todos os tipos de humilhação quando é mantido prisioneiro e curiosamente é aquele personagem que apresenta o arco dramático mais intenso e contundente. No mais, os demais núcleos se resumem a narrativas requentadas de romance e fantasia que não agregam muito e que nem chamam a atenção pelo estilo em que são apresentadas, como a que envolve um soldado da Patrulha da Noite, um bebê e a mãe da criança ou o romance com ecos de “Síndrome de Estocolmo” entre Jon Snow (Kit Harington) e a selvagem. Triste ver alguns dos personagens mais interessantes da série tão desperdiçados, com Tyrion (Peter Dinklage) que surge tão apagado nessa temporada mesmo assumindo uma condição de protagonismo no arranjo do seu casamento com Sansa (Sophie Turner); ou Cersei (Lena Headey) nem sendo a sombra da ardilosa articuladora que foram em temporadas anteriores assim como Mindinho (Aidan Gillen). O mesmo vale para a talentosa Maisie Williams na pele da Arya cujas ações são limitadíssimas tendo menos espaço até mesmo que a trama envolvendo seu irmão Bran interpretado pelo insonso Isaac Hempstead-Wright. Enfim, uma terceira temporada que deixa ainda mais evidenciado os pontos falhos da série não conseguindo repetir o equilíbrio visto ao menos na primeira temporada.
A 1ª temporada da série “Demolidor” demonstra um vasto repertório de personagens complexos e ações intensas que a tornam um programa vigoroso. Criado pelo co-roteirista Drew Goddard, a partir dos quadrinhos da Marvel, a série estabelece inicialmente de maneira enxuta e eficaz o evento que culminou com a cegueira de Matthew Murdock (Charlie Cox), ainda na infância, e a sua relação com o pai, um boxeador decadente, sendo que paralelamente já insere o personagem nos dias de hoje em meio ao cenário de caos e violência predominante em “Hell´s Kitchen”, um bairro fictício de Nova Iorque, dominado por atividades ilegais de chineses, russos e japoneses, mas comandados com frieza e autoritarismo por Wilson Fisk (Vicent D´Onofrio).
Apresentado como um advogado idealista, Matt encontrou nas suas ações, como uma espécie de vigilante noturno, uma forma de fazer justiça com as próprias mãos, o que não deixa de ser um contraponto interessante já que expõe a complexidade do personagem que usa da violência em suas ações heroicas ao mesmo tempo em que as pessoas mais próximas ficam igualmente ameaçadas. Inicialmente interessado em apenas defender pessoas que são inocentes, ele também não deixa de subverter essa regra quando considera mais conveniente fazer um jogo de interesses apenas para chegar mais rapidamente ao chefão do crime organizado da cidade. Esteticamente, a série se mostra extremamente atraente apostando em uma paleta de cores pesadas, reforçando o clima sombrio da série e os diretores estabelecem um alto padrão na condução das sequências, especialmente as que envolvem a ação de Matt, como quando ele invade o esconderijo de criminosos para salvar uma criança sequestrada em um longo (e falso) plano-sequência ou quando ele liberta a enfermeira Claire (Rosario Dawson) em uma sequência em que a locação é iluminada apenas pelas luzes dos faróis dos carros. Da mesma forma, a sequência em que Matt segue um carro por diversos quarteirões pulando entre os prédios se guiando pelo som de uma ópera é igualmente empolgante. Existem diversos momentos em que os responsáveis pela série fazem escolhas interessantes para explorar a tensão, seja através da violência gráfica e explícita, como a que envolve uma bola de boliche ou um suicídio, outras de maneira mais crua, como a que envolve dois personagens frente a frente em uma mesa, ou criativa quando há o close nos olhos de um determinado personagem com medo enquanto a ação ocorre fora do plano. Além, é claro, da eficiente sequência que marca o duelo final.
Charlie Cox, que até então teve participações inexpressivas em “Stardust” e “A Teoria de Tudo”, sai-se muitíssimo bem na condução de Matt Murdock, trazendo leveza e serenidade a um personagem que poderia facilmente se tornar antipático e/ou aborrecido, logo sua postura serena, enaltecida pelo seu tom de voz suave, aliado à inteligência do personagem, fazem com que a sua transformação no impiedoso vigilante mascarado torne-se reconhecível e autêntica, apenas um lado diferente da mesma moeda, seu lado mais obscuro, mas com extrema energia e vigor. Além disso, convence como herói de ação nas sequências de luta e/ou que envolvem maior esforço físico, mas a sua composição também passa por uma mudança de postura que transita entre o frágil e o descolado, dependendo do ambiente e/ou das circunstâncias, mesmo sem a máscara. Foggy Nelson (Elden Henson, carismático) é o sócio de Matt no novo escritório de advocacia criado pela dupla e funciona como um importante alívio cômico para a série. Se Claire se torna uma espécie de confidente de Matt, além de cuidar de suas feridas físicas e emocionais (e sofrer as consequências por isso), reforçando a dinâmica romântica entre os dois, Karen Page (a ótima Deborah Ann Woll, “True Blood”), secretária da dupla de advogados, por força das circunstâncias, parece caminhar com suas próprias pernas através das investigações que realiza contra os poderosos da empresa que queriam vê-la morta, contando com a ajuda do ético Ben Urich (Vondie Curtis-Hall, eficiente), um veterano jornalista, em vias de se aposentar, mas que também resiste na luta contra o sistema. Sistema este liderado por Wilson Fisk, cujo nome não deve ser citado. Vicent D´Onofrio tem uma participação arrebatadora, um trabalho de composição sutil e sofisticado que torna a sua figura ainda mais imprevisível e ainda mais assustadora. A sequência de apresentação do seu personagem é poética (remetendo ao passado e ao futuro do personagem) assim como toda a sua transformação vista no 4º episódio e que culmina com um desfecho avassalador e chocante (a crueldade provocada por um constrangimento pode ser brutalmente cruel), além de servir de aperitivo para um posterior episódio, cujo “flashback” mostra a sua infância e a influência negativa da sua figura paterna (a referência à abotoadura, por exemplo, é simples e genial), mesmo contando com alguns diálogos expositivos.
A relação entre Fisk e Vanessa (Ayelet Zurer), única mulher capaz de fazer com que ele se mostre mais vulnerável, é apresentada com um nível de tensão altíssima, apesar da sofisticação e de certa carga sexual, mas que só vem a reforçar o nível de ambição de ambos os personagens, inclusive da própria Vanessa cuja moral também não é totalmente defensável. Os roteiristas da série demonstram que sabem construir uma boa dose de expectativa quando a partir de um plano que marca a derrota dos russos em “Hell´s Kitchen” estabelece uma situação em que Matt se encontra encurralado, usando a catarse da situação para alavancar a relação entre os personagens, além de promover o primeiro embate ideológico entre ele e Fisk (e sabiamente não demora muito também para que ambos fiquem frente a frente pela primeira vez). A série sabe fazer o bom uso de eventos passados com a linha narrativa presente, sempre através de uma analogia que ecoa nos eventos atuais (ecos de “Lost”), como quando mostra o reencontro controverso entre Matt e seu tutor Stick (Scott Gleen) ou o nascimento da amizade entre Matt e Foggy (provavelmente o episódio menos marcante da temporada, apesar do seu apelo emocional). Se Wesley ganha uma interpretação refinada por parte do talentoso Toby Leonard Moore, garantindo uma fantástica dinâmica de cena ao lado de D´Onofrio, a participação de Wai Ching Ho empalidece já que a sua atuação burocrática nunca alcança o nível de projeção e importância que o roteiro busca sugerir através da Madame Gao (que também se perde na utilização de diferentes línguas, apesar de usada para construir pequenas, porém dispensáveis surpresas), sendo que Bob Gunton como Leland surge em cena muito mais à vontade e mais eficiente mesmo que em aparições menores.
De todos, o 9º episódio é o mais controverso. O reflexo do episódio anterior é que a figura de Wilson Fisk tornou-se pública e notória, tornando-se uma representação de esperança para a cidade devastada pela violência que o próprio patrocina. Se o mistério em torno de Fisk foi muito bem construído e sustentado até então, o que lhe dava ares ainda mais sombrios, já que não existiam sequer registros da sua existência (o que já era um tremendo exagero!), a partir do momento que ele passa a estar em frente às câmeras, a sua exposição lhe tira um importante álibi, embora não o impeça de agir de forma ditatorial nos bastidores do crime, afinal ele controla polícia, imprensa e justiça. Ainda assim me parece uma guinada muito mais em função do aspecto emocional (influência da chegada de Vanessa em sua vida) do que propriamente uma atitude racional e sensata por parte de Fisk. Aliás, esse é o mesmo “erro” cometido por Matt que tem um conflito moral em função das suas atitudes, até mesmo ecoando com relação a sua fé (bem representado por suas conversas com um padre e uma boa dose de diálogos expositivos), porém ele cai facilmente na armadilha de Fisk justamente por agir de maneira tempestiva, impulsiva e imprudente (e o sorriso de orgulho de Matt quando ouve Karen enaltecendo as virtudes do vigilante mascarado revela sutilmente a influência do seu ego em suas atitudes). Ou seja, a série cria uma sinergia muito forte e importante para reforçar que Matt e Fisk, embora em lados opostos, tem muito mais em comum do que se imagina, especialmente quando eles se mostram em situações mais vulneráveis. E os episódios finais da temporada exploram justamente o impacto provocado por estes “erros” dos personagens através do “rompimento” entre Matt e Foggy e as consequências sofridas pelas pessoas ao redor de Matt e Fisk, ou seja, eles acabam sendo atingidos pelas atitudes emocionais que tomaram, afetando principalmente aqueles que mais amam e mais juraram proteção.
Ao término da 1ª temporada de “Demolidor”, o arco dramático dos personagens se mostra poderoso e autêntico e a evolução da narrativa é extremamente coerente com a proposta sugerida no início, mostrando que a série se sustentou através de argumentos e elementos sólidos, muito bem orquestrados, apesar da complexidade envolvida entre a mistura do universo real e fantástico, e ainda assim dentro de uma lógica interna desenvolvida de uma forma que beira a perfeição. “Demolidor” se mostra uma série inteligente, madura, robusta e extremamente atraente não apenas por acreditar que um único homem e sua fantasia pode fazer a diferença, mas por fazer valer que a essência por trás da máscara (e da série) precisa ser, antes de tudo, honesta, legítima e palpável. E que venham muito mais temporadas.
Bates Motel (3ª Temporada)
4.3 608BATES MOTEL - 3ª TEMPORADA
Durante as temporadas anteriores, regularidade nunca foi o forte de "Bates Motel" e nesta terceira não é muito diferente, sendo no entanto que os efeitos que prejudicam a dinâmica da narrativa são mais prejudiciais nesta que é provavelmente a mais fraca de todas. O mais significativo ocorre é um "rompimento" psicológico de Norman com sua mãe Norma, logo o jovem já dá claros sinais de distúrbios, inclusive sugerindo uma dupla personalidade claramente afetada por todos os eventos anteriores, catalisados pela obsessão com a figura da mãe que vai se tornando cada vez mais doentio por parte da mãe. Infelizmente, com o decorrer da temporada, o personagem vai perdendo um pouco do interesse pela sua natureza trágica e Norman vai se tornando uma figura mais chata e aborrecida, o que pode ser prejudicial do ponto de vista do alcance do personagem, especialmente quando suas ações se tornam mais psicóticas e menos decorrentes da sua fragilidade emocional (ou em função dela). Os eventos que envolvem Norma e que não tem ligação direta com o filho são desinteressantes e mal desenvolvidos, como o relacionamento dela com um psiquiatra, o estreitamento da sua relação com o xerife e até mesmo os ajustes emocionais com seu irmão Caleb, sendo que ao menos no caso deste último há um apelo dramático bem defendido pelos atores. A subtrama policial envolvendo o ricaço/misterioso/criminoso da vez é tão genérico quanto os outros já vistos, sendo que só serve para que o xerife suje suas mãos e se comprometa ainda mais diretamente com os meios ilegais que fazem parte da história da cidade desde que seu pai era xerife. O envolvimento entre Caleb e seu filho Dylan é mero pretexto para que eles tenham alguma função dentro da narrativa, sendo que o envolvimento do irmão de Norman com a doce Emma parece ser muito mais promissor para os dois personagens já que ambos passam a temporada inteira muito apagados. O desfecho da série é decepcionante, dando sobrevida a uma personagem que havia "desaparecido" na temporada anterior apenas para que ganhe um final definitivo com um desfecho muito similar ao que já fora visto em no meio e no final de temporadas anteriores. As atuações do elenco sustentam boa parte do apelo da série, especialmente Vera Farmiga e Freddie Highmore.
6.0/10
Orphan Black (2ª Temporada)
4.4 504 Assista AgoraORPHAN BLACK - 2ª TEMPORADA
Levemente inferior à temporada anterior, esta segunda temporada consegue ampliar um pouco mais os dilemas e os envolvidos na trama sobre a clonagem, estabelecendo uma relação entre uma abordagem científica e outra de fanatismo religioso, porém o que mais prejudica a dinâmica dessa temporada é que por diversas vezes as tramas das 3 principais clones ocorrem de maneira distinta, logo o interesse não é o mesmo em cada momento. É até compreensível que se torne mais fácil e prático um planejamento de filmagem já que Tatiana Maslany precisa apresentar caracterizações diferenciadas e tal, mas a separação só chama a atenção para alguns pontos falhos. Por exemplo, a partir do momento que Alison aceita o tratamento do dr. Siekel, ainda se dá muita atenção a sua paranoia sobre quem de fato é o seu monitor e o tempo que se dedica ao teatro e a sua reabilitação parece muito mais enrolação narrativa, mesmo considerando que Alison é uma das composições mais carismáticas de Tatiana (e o envolvimento dela e do marido em uma série de crimes acaba sendo muito mais um alívio cômico dentro da temporada). Helena dá alguns sinais de desgaste, de cansaço narrativo já que ela some e reaparece nas mesmas proporções, mas de qualquer forma por ser a mais perigosa e imprevisível sempre permite que a série saia da sua zona de conforto ao abraçar a sua natureza trágica, como se ela nunca pudesse ser feliz de verdade. Cosima acaba virando uma mera coadjuvante já que a sua subtrama romântica é deixada de lado enquanto carrega por parte do roteiro a incômoda "muleta narrativa" do roteiro por causa de complicações da sua doença. Já Sarah é a mais ativa, é aquela que vai de um lado para o outro para descobrir os segredos do seu passado, mas sempre que ela está próxima de uma resposta mais concreta, ela precisa dar um passo pra trás por algum contratempo criado pelo roteiro, justificável ou não. Rachel prometia desde o final da primeira temporada ser uma personagem mais interessante e intrigante, mas com o passar dos episódios, ela vai se tornando mais caricata até os roteiristas decidirem de uma vez por todas de que ela é a verdadeira vilã trágica da temporada. E nem tudo funciona com os demais personagens também, como a falta de utilidade para Paul que parece perdido e aborrecido ao longo de toda a temporada ou até mesmo a tentativa frustrada de fazer com que Tatiana interprete um clone na versão masculina. Já não parece tão atraente quanto na primeira temporada, mas ainda tem lenha pra queimar, pelo menos material para isso tem, além do que Tatiana Maslany faz valer a pena cada minuto da série por causa do seu talento e versatilidade.
7.0/10
Orphan Black (1ª Temporada)
4.5 923 Assista AgoraORPHAN BLACK - 1ª TEMPORADA
A 1ª temporada de "Orphan Black" apresenta a sua premissa central com uma agilidade e uma dinâmica contagiante, estabelecendo os principais personagens e mantendo um nível de tensão e suspense admiráveis, logo fica difícil não se envolver com o ritmo dinâmico da trama que insere o tema da clonagem dentro de uma trama policial. A atriz Tatiana Maslany é a grande surpresa e o maior trunfo dessa série, pois ela possui uma diversidade dramática impressionante já que consegue desenvolver diferentes personagens com sensibilidade, competência e até certa coragem. É uma pena que a temporada perca ritmo em seus episódios finais a partir do momento que a narrativa dá sinais de que está querendo gastar tempo justamente para carregar seus principais mistérios para a temporada seguinte, ainda assim é uma série que tem lá seu charme e personalidade.
7.5/10
American Horror Story: Freak Show (4ª Temporada)
3.5 1,4K Assista AgoraAMERICAN HORROR HISTORY - 4ª TEMPORADA
Depois de 2 ótimas temporadas e uma 3ª temporada muito fraca, a irregular 4ª temporada não conseguiu retomar o melhor nível de qualidade da série, embora não seja totalmente um fracasso. Essa temporada é a que faz mais juz ao termo bizarro já que se concentra em uma série de aberrações que fazem parte de um circo de horrores comandado pela personagem da vez de Jessica Lange que aqui mais uma vez tem a oportunidade de ter um palco (dessa vez literalmente) para exibir todo o seu talento como atriz. Inicialmente a série parece querer chamar a atenção apenas pelo seu painel de personagens exóticos, porém a estranheza física se dissipa pela fragilidade da narrativa. O único alento é a subtrama envolvendo um palhaço macabro que assume contornos de "serial killer" que traz um senso de urgência e morbidez que são muito mais interessantes do que a dos artistas circenses. Para o bem ou para o mal, os melhores episódios são o terceiro e o quarto justamente por se concentrarem na resolução dessa subtrama (curiosamente conta com a participação do canastrão Wes Bentley, mas que aqui funciona). A partir do 5º episódio, a série parece querer adotar um outro tom ao se concentrar na história de cada um dos artistas, mostrando a história sofrida de cada um deles, como uma forma de humanizá-los e alguns até funcionam isoladamente (como a que remete a chegada de uma determinada personagem ao hospício visto na segunda temporada), porém os roteiristas da temporada dão sinais de que não sabem o que fazer é que mudam drasticamente a motivação de vários personagens de uma hora pra outra apenas pra satisfazer uma necessidade imediata da história (a personagem de Emma Roberts é a mais prejudicada) e os personagens acabam sendo mortos em uma escala exponencial e de maneira gratuita, culminando no clímax do penúltimo episódio, por exemplo. Kathy Bates tem uma ótima atuação, Evan Peters demonstra ser um jovem ator bastante promissor enquanto que Sarah Paulson faz excelentes escolhas na composição da personagem siamesa. Há uma participação curiosa, mas dessa vez irregular, de Neil Patrick Harris como uma versão bizarra do Barney de HYMYM: gosta de mágica, é sedutor e tem uma boneca de ventríloco. No geral não se trata de uma boa temporada, mas existem algumas escolhas dentro da temporada que funcionam, mesmo não sendo a maioria delas.
5.5/10
American Horror Story: Coven (3ª Temporada)
3.8 2,1KAMERICAN HORROR HISTORY - 3ª TEMPORADA
Depois de duas ótimas temporadas, "American Horror History" fracassou em sua tentativa de explorar o terror e o suspense através de uma trama que explora a mitologia das bruxas, tornando a jornada de se encontrar uma nova bruxa suprema para a ordem um tremendo engodo. Jessica Lange dá o seu show particular, porém nem mesmo a adição de Kathy Bates no elenco é o bastante para tirar a narrativa do marasmo que logo no início já dá sinais de cansaço quando explora de maneira frustrante a ideia da ressurreição, o que é utilizado em outros momentos, sempre que o roteiro acha necessário. Há poucas idéias sendo bem exploradas, como a do assassino de bruxas que é descartada praticamente em apenas um episódio, tornando-se um mero pretexto para que haja a oportunidade que as bruxas briguem entre si por vaidade, egoísmo e/ou qualquer outra coisa. Os "flashbacks" são mal explorados, servindo muito mais para reforçar que há pouco a ser mostrado no tempo presente, e até mesmo as situações que tenderiam a ser mais assustadoras, como as que envolvem magia negra e uma entidade maligna, acabam frustrando pela narrativa que nunca chega a lugar nenhum e que se encerra de maneira previsível.
4.0/10
Stranger Things (1ª Temporada)
4.5 2,7K Assista AgoraSTRANGER THINGS - 1ª TEMPORADA
É inegável que existe uma forte e eficiente carga nostálgica que sustenta a série, deixando-a praticamente irresístivel, porém há de se enaltecer a evolução gradativa da narrativa que a cada episódio vai revelando pequenos detalhes da trama até culminar com um clímax perfeito que unifica os 3 núcleos de ação em uma sinergia que só realça os pontos positivos apresentados ao longo da temporada. A ideia de remeter e homenagear as produções de ficção científica da década de 80 está presente na reconstituição de época, na fotografia, na construção dos personagens, na trilha sonora e até mesmo no arco dramático que mescla dramas e conflitos familiares com elementos sobrenaturais e/ou interplanetários. O elenco dá uma show de carisma, cada qual sustentando um estereótipo característico do gênero, mas com um vigor que em nenhum momento deixa de convencer, especialmente os atores mirins que roubam a cena. Winona Ryder também empresta uma intensidade dramática a sua personagem que faz toda a diferença a favor da credibilidade da narrativa. Mesmo considerando que lá pela sua metade a série tem alguns sérios problemas de ritmo, a recompensa ao final é pra lá de bem-vinda já que se trata de uma produção que não se restringe apenas à mera referência, mas consegue ser uma série suficientemente criativa e inteligente por méritos próprios.
8.5/10
Game of Thrones (6ª Temporada)
4.6 1,6KGAME OF THRONES - 6ª TEMPORADA
A 6ª temporada começou de maneira promissora, mesmo com o ritmo lento da narrativa, que é algo recorrente da série e que atingiu o ápice da canastrice na sonolenta 3ª temporada. Só que a partir do 3º e 4º episódio nota-se que a narrativa só se arrastava para que o clímax fosse atingido em seus 2 episódios finais que representaram o ponto alto da narrativa. O desfecho do Alto Pardal acabou se tornando frustrante em meio a toda complexidade em que foi inserido e o seu grau de influência e articulação acabou caindo por terra até com um certo grau de ingenuidade para sorte de Cersei que teve lá o seu grau de inteligência também. O núcleo de Jon Snow acabou sendo o mais regular e o mais empolgante, especialmente a partir da chegada de Sansa Stark, o que culminou naquela que é a maior batalha já registrada pela série. Os acontecimentos envolvendo Daenerys e Tyrion acabaram ficando mais na promessa, com exceção do clímax. O núcleo da Arya Stark tornou-se cansativo pelo excesso de redundância, mas atingiu um encerramento digno para que finalmente ela possa seguir adiante. O episódio que culmina com a revelação do segredo de Hodor é frustrante em sua execução, soando menos inteligente do que quer soar. A temporada se encerra com a promessa de um novo agrupamento de forças e uma nova disposição política e de poderes que podem culminar com o início do fim da série que permanece sem conseguir manter a mesma regularidade ao longo de todos os seus episódios (a 1ª e a 4ª temporadas foram as que mais se aproximaram do nível ideal de cadência, tensão e momentos de virada), sendo mais do que necessário um encurtamento e um distanciamento cada vez maior da sua fonte.
7.0/10
The Walking Dead (6ª Temporada)
4.1 1,3K Assista AgoraTHE WALKING DEAD – 6ª TEMPORADA
A 6ª temporada de “The Walking Dead” começou a todo vapor com um episódio que coloca os personagens em meio a uma ação que tenta impedir que uma horda de zumbis sigam em direção à Alexandria. Usando o recurso da fotografia em preto e branco para os “flashbacks” que explicam como os personagens chegaram até ali, o episódio é realizado com uma dinâmica pulsante e a energia do episódio mantém-se inabalável ao longo da sua duração. O episódio seguinte concentra-se no grupo que permaneceu em Alexandria até que um determinado evento preenche o episódio de uma tensão cruel e angustiante que elimina qualquer possibilidade de segurança que aquele lugar poderia assegurar aos seus moradores. Já o terceiro envolve os desdobramentos da interferência externa ao plano comandado por Rick (Andrewn Lincoln) fazendo com que haja uma separação de grupos e que culmina na “morte” de um importante personagem que acaba sendo uma incômoda “âncora” para o restante da primeira metade da temporada. Pelo menos até o sétimo episódio em que tudo é esclarecido de maneira preguiçosa e sem que a narrativa saia do lugar. O 4º episódio concentrado no passado de Morgan é eficiente ao promover uma evolução vagarosa e contemplativa do personagem embora dotado de uma filosofia genérica e de um arco dramático clichê e previsível que ao menos conta com duas ótimas atuações de Lennie James e John Carroll Lynch. O 5º e o 6º episódios são sofríveis seja ao mostrar os alexandrinos em compasso de espera já que não há nenhum personagem digno de nota, pena ou qualquer coisa que valha, ou aquele que acompanha Daryl (Norman Reedus) encurralado por um grupo de novos personagens naquele que é certamente um dos piores episódios de toda a série com diálogos sofríveis, rasteiros e ação nula. O episódio que marca o final da 1ª metade da temporada consegue ser inferior até mesmo ao final da 3ª temporada de “The Walking Dead”, provavelmente um dos desfechos mais anticlimáticos da série. Uma série de ideias requentadas, mal planejadas, personagens sendo apenas a sombra do que foram um dia e nada muito digno de nota. Os últimos quatro episódios dessa metade de temporada poderiam ser perfeitamente resumidos em um só e ainda assim seria um episódio como outro qualquer. A temporada começou a todo vapor e a partir do 5º episódio foi ladeira abaixo.
O 9º episódio (ou o primeiro da segunda metade da temporada) embora eficiente e dinâmico tem seus altos e baixos (e baixas) quase que simultaneamente, colocando expectativa sobre o que poderia vir a acontecer, mas sem a garantia de que será melhor do que o fora visto até então. E não é que Jesus salva? O 10 episódio funciona muito bem basicamente pela dinâmica entre Rick, Daryl e Jesus, um novo personagem inserido no universo que traz humor, leveza e uma certa ambiguidade que o torna um sujeito suspeito, perigoso e ainda assim bastante interessante. A dinâmica do 11º episódio é bastante eficiente já que leva Rick & cia para um nova comunidade, apresenta novos personagens e estabelece os conflitos de maneira enxuta e sem maiores firulas dramáticas. E essa dinâmica permite que o 12º episódio tenha boas doses de tensão, suspense, drama e ação, na medida certa ao ponto do 13º representar um episódio que funciona muito bem isoladamente, graças à eficiência de Maggie e, especialmente, Carol sem comprometer o ritmo da narrativa, algo que o 14º episódio já deixa a desejar justamente por se concentrar personagens secundários e desfechos dramáticos de pouco apelo emocional, com exceção daqueles apresentados nos segundos finais enquanto o 15º episódio é morno demais para um episódio que antecede o desfecho de uma temporada repleta de altos e baixos. O episódio final parece ser uma longa preparação para seus 15 minutos finais com uma construção lenta e gradual que se não é brilhante, ao menos não é enfadonha, apresentando Negan, um personagem que tem tudo para acrescentar qualidade a uma série que parece sempre caminhar perigosamente sobre a linha tênue entre o indispensável e o descartável.
7.0/10
House of Cards (3ª Temporada)
4.4 413HOUSE OF CARDS – 3ª TEMPORADA
A 3ª temporada de “House Of Cards” consegue equilibrar brilhantemente em sua narrativa os diversos temas que deseja abordar. Se em um primeiro momento pode sugerir uma falta de foco, aos poucos as interligações entre cada um dos temas, faz com que o universo abordado torne-se mais amplo e complexo. Sendo assim, o agora presidente Francis Underwood (Kevin Spacey) precisa enfrentar a baixa aprovação dos seus primeiros 6 meses de governo, articular com seu partido que é contrário à sua reeleição, lidar com a crise conjugal em seu casamento com Claire (Robin Wright) que tem aspirações de ascender à Embaixadora das Nações Unidas a qualquer custo até mesmo limando seu pouco capital político, intermediar uma negociação de paz entre Palestina e Israel tendo um forte enfrentamento diplomático com a Rússia, envolvendo até mesmo questões ligadas à liberdade sexual e de expressão, além de emplacar um controverso plano de empregos denominado “American Works”, alvo dos seus rivais nas próximas eleições, inclusive do seu ex-fiel escudeiro Doug (Michael Kelly), recém-recuperado do atentado que sofreu no final da temporada anterior. E sem contar ainda tem um furacão a caminho dos EUA.
Se a temporada não repete a mesma experiência de mesclar diferentes e experientes diretores comandando diferentes episódios como na temporada anterior, apostando apenas em poucos e velhos conhecidos da própria série, incluindo James Foley e a própria Robin Wright, “House Of Cards” oferece um painel de personagens e situações que ampliam a dimensão das atitudes de cada um dos personagens e estabelece um jogo político ao mesmo tempo intrigante e perigoso já que, em escalas ainda maiores, pessoas e circunstâncias são usadas apenas para benefício próprio, ou seja, na política predomina-se o egoísmo até mesmo quando busca ser democrática. Logicamente que os pequenos saltos no tempo entre um episódio e outro cria alguns “buracos” e mesmo que o espectador seja obrigado a estabelecer uma ligação e/ou aceitação e/ou entendimento sobre as causas e consequências, nem tudo é satisfatório, como a inserção do hacker no FBI, a mudança do líder da oposição no Senado, a própria candidatura de Francis ou a criação de um dilema com relação a indicação de Claire às Nações Unidas, apenas para que no episódio seguinte as coisas já fiquem esclarecidas. É como se os roteiristas, com o objetivo de levar a narrativa da frente, abrissem mão de investir mais tempo em um determinado argumento já que toda a legitimidade da trama construída foi devidamente explorada até ali. É um artificio que funciona na maioria das vezes, exceto nos exemplos mencionados.
Kevin Spacey segue realizando um trabalho extraordinário, pois embora Francis seja responsável por uma série de atitudes reprováveis e comportamentos de caráter duvidoso, ainda assim, ele conduz seu personagem com extrema elegância, energia e competência ao ponto de humaniza-lo mesmo nos momentos mais repulsivos (Jackie Sharp e a própria Claire que o digam), apresentando-se como um homem que luta pelo que acredita, seja como for e por mais egocêntrico que ele seja (aqui ele se dá ao luxo de usar um jovem escritor para se autopromover). A relação de Francis com Claire permite que ambos intercalem o lado mais frio e ambicioso do casal, mas ao mesmo tempo em que ele precisa lidar com sua ardilosa esposa, e isso faz com que ele passeie no fio da navalha, apenas para dar o golpe de misericórdia avassalador e Spacey é formidável ao não transformar seu personagem em um monstro, muito menos em vítima já que é uma figura prática e pragmática. Robin Wright é uma atriz talentosa que consegue passear entre a frieza e a sensibilidade necessárias para transformar a primeira-dama em uma figura humana reconhecível, mas algumas atitudes egoístas da personagem muitas vezes revelam uma teimosia que não combina com o seu nível de inteligência (especialmente no caso que se passa na Rússia) e isso acaba enfraquecendo-a em certos momentos, especialmente quando Claire e Francis estão “rompidos”, porém sempre que a sintonia do casal é resgatada, ela e Spacey permanecem irretocáveis. Michael Kelly como Doug segue uma jornada própria de redescobrimento e seus movimentos revelam alguns passos que tornam o tabuleiro do jogo político ainda mais interessante e intrigante, além de se mostrar como um homem frágil, carente e sensível mesmo que a sua maneira. Kelly mantém um nível sóbrio de atuação que impede que o espectador desvende as reais intenções do seu personagem, o que é formidável para a evolução da série. E o seu arco dramático é um dos mais dolorosos ao longo da temporada e não apenas fisicamente (o pecado fica por conta da sua interferência na política que em determinado momento é deixada de lado). Mesmo com a participação ativa do presidente da Rússia, Viktor Petrov (Lars Mikkelsen), e da promotora Heather Dunbar (Elizabeth Marvel) como antagonistas à Francis, nenhum outro coadjuvante consegue se destacar ao ponto de apagar o brilho do trio, algo que, levada as devidas proporções, ocasionalmente ocorreu nas temporadas anteriores, porém todos estão inseridos dentro de uma narrativa forte e sólida, cada um cumprindo o seu papel dentro do tabuleiro, o que legitima o sucesso da série.
Contando com um sofisticado e elegante trabalho de fotografia (apostando especialmente em tons acinzentados e melancólicos), uma montagem ágil e enxuta mesmo em sequências pautadas por diálogos, “House Of Cards” vem se consolidando como uma série robusta e corajosa por não ter receio de investigar os meandros do universo político e o que há de mais sombrio na natureza dos seus personagens.
NOTA: 9.0/10
House of Cards (2ª Temporada)
4.6 497HOUSE OF CARDS – 2ª TEMPORADA
A 2ª temporada de “House Of Cards” se inicia dando atenção justamente ao seu pior defeito, o de transformar a série política em uma série policial, ou pior, transformando Francis Underwood (Kevin Spacey, hipnótico) em um “serial killer”. E se não bastasse essa falta de “tato” com o tom da série, o roteiro se encarrega de enfraquecer a figura dos jornalistas, criando uma frágil ilusão de que o plano executado fora perfeito e de que a integridade do político fora protegida. Além disso, o núcleo jornalístico é substituído por uma subtrama envolvendo cyber terrorismo burocrática e desinteressante que só serve para eliminar os “peões” do tabuleiro sem maiores consequências até ser retomado lá pelo final da temporada, mas ainda com pouco apelo.
Deixando essa questão de lado, felizmente não demora muito para que a série retome seu caminho e adentre nos podres da política, seja quando se concentra na escolha de Frank para vice-presidente ou na discussão sobre um novo projeto envolvendo aposentadoria, onde o jogo de cartas marcadas é responsável pelos pontos altos da série. A subtrama envolvendo o estupro que Claire (Robin Wright) sofreu na sua adolescência, incluindo um projeto de lei cujo teor se mantém às sombras e acaba tomando mais tempo que o necessário, apenas para reforçar o apelo dela como o par ideal para Francis para todos os efeitos, para o bem ou para o mal, mas dessa vez seu ter o mesmo alcance que os conflitos enfrentados por Francis (até mesmo o impacto emocional provocado parece presente apenas no último episódio).
Nesta temporada, o alvo principal do vice-presidente é Raymond Tusk (Gerald McRaney), um influente empresário que até então era um importante conselheiro do presidente norte-americano (Michell Gill, ótimo), mas que tende a atrapalhá-lo em seus planos cada vez mais ambiciosos e para isso ele não hesita criar conflitos diplomáticos com a China envolvendo uma obra de infraestrutura e doações partidárias. Além da trama principal há alguns pontos de interesse envolvendo a relação do lobista Remy Danton (Mahershala Ali) com Jackie Sharp (Molly Parker), a nova líder dos republicanos, e até mesmo Meechum (Nathan Darrow), guarda-costas de Francis e Claire, tem uma boa presença de cena, mesmo que tenham exagerado na sua contribuição para a vida íntima do casal. A figura de Freddy (Reg E, Cathey), dono da costelaria frequentada por Francis, acaba recebendo um destaque maior apenas para ser descartado logo em seguida como uma forma de ilustrar as consequências secundárias dos planos orquestrados por Francis. Já o núcleo envolvendo Doug (Michael Kelly) e Rachel (Rachel Brosnahan) só faz jus ao seu interesse no final quando ela se vê na obrigação de magoar um novo amor apenas para atender as vontades dele, deixando um rastro de consequências que pode repercutir na próxima temporada.
8.5/10
Bates Motel (1ª Temporada)
4.3 1,4KBATES MOTEL – 1ª TEMPORADA
A série “Bates Motel” é uma poderosa ferramenta que serve para explorar os laços emocionais e psicológicas que sustentam a relação amorosa e autodestrutiva entre a mãe Norma Bates (Vera Farmiga) e o filho Norman (Freddie Highmore). Todas as mazelas e consequências dessa relação, inclusive com ecos de “Complexo de Édipo”, são exploradas com requintes de suspense e terror até mesmo pelo fato da série se mostrar como um “prequel” do clássico “Psicose”, de Alfred Hitchcock, embora ambientando nos dias de hoje.
O que enfraquece a série de uma maneira geral é que o conceito “bizarro” que faz com que mãe e filho cometam seus próprios pecados (e crimes) é que ele fica estendido para toda a cidade, ou seja, nenhum morador pode ser considerado normal, logo naturalmente nos tornamos mais cúmplices de Norma e Norman do que qualquer outro. Sendo assim, quando avistamos uma vasta plantação de maconha sendo tratada e bem cuidada nos arredores da cidade ou quando percebemos que o xerife mantém uma garota asiática presa no porão da sua casa, há uma impressão de que a relação doentia entre mãe e filho é o menor dos problemas ou apenas mais uma bizarrice daquele local como outra qualquer (a própria Norma parece se dar conta disso lá pela metade da temporada). Ainda assim as tramas se costuram de tal forma que os conflitos da relação entre mãe e filho sejam responsáveis pelas diretrizes da temporada. Vera Farmiga tem uma atuação intensa e marcante, Freddie Highmore realiza um trabalho de atuação meticuloso que até compensa certos probleminhas decorrentes da sua juventude, porém são dois trabalhos primorosos. Olivia Cooke também tem uma participação bastante sensível e emocional através da delicada Emma, melhor amiga de Norman, responsável pela sua relação humana mais saudável.
A segunda metade da temporada não consegue ter o mesmo apelo e ritmo vistos na primeira metade, o interesse sobre Jake Abernathy (Jere Burns), um misterioso cliente do hotel fica prejudicado pela falta de sutileza por parte do roteiro e da própria canastrice de Burns, o que não chega a ser um problema pelo menos quando a série retoma a relação entre mãe e filho, o “plot” principal. Na necessidade de tentar “amarrar” a construção completa de Norman Bates já na primeira temporada faz com que o seu “hobby” relacionado à taxidermia (entenda-se empalhamento) soe impositivo já que a intenção é escancarada para não dizer exagerada. E o final da temporada acaba sendo abrupto dando uma importância à figura da professora de Norman que não houve em nenhum outro momento. Ainda assim uma série que nesta primeira temporada conseguiu se desvencilhar da sua fonte na maior parte do tempo e oferecer material com personalidade própria.
7.5/10
Jessica Jones (1ª Temporada)
4.1 1,1K Assista AgoraJESSICA JONES
“Jessica Jones” é uma série do universo Marvel que tenta se apresentar como algo diferente, “pero no mucho”. Não apenas pela protagonista feminina, mas pela própria postura da personagem que não se comporta como uma heroína, mas como uma mulher perturbada pelos fantasmas do seu passado que, na verdade, se resume à figura de Kilgrave (David Tennant), um controlador de mentes que fez com que Jessica cometesse crimes contra sua vontade. Krysten Ritter é uma atriz linda, talentosa e bastante carismática que sustenta muito bem as nuances da personagem que tem uma postura desleixada e descompromissada, mas que não esconde o seu lado sensível e existencial à espera de finalmente encontrar o seu lugar no mundo e nesse contexto a raiva e a impulsão da personagem também não deixam de ser uma forma de autodefesa.
Embora não funcione como uma série de ação (as sequências são mal dirigidas e coreografadas e não fica claro se de maneira intencional já que a personagem não fora treinada para tal), “Jessica Jones” é um ótimo thriller psicológico com requintes de cinema “noir”. A relação entre Jessica e Luke Cage (Mike Colter, ótimo) é muito bem construída já que inicialmente surge através de uma forte atração física, mas que aos poucos vai se transformação em um relacionamento mais profundo e intenso ao ponto de deixá-los vulneráveis diante das promessas não-cumpridas e/ou de segredos não-revelados. Kilgrave é um vilão sarcástico e dono de um humor negro afiado, afinal usa as pessoas e se diverte com isso e David Tennant realiza um trabalho eficiente que transita na linha tênue entre a caricatura e a canastrice, ora surgindo à vontade, ora parecendo fora do tom, o que no final das contas causa uma estranheza que agrega valor e peso ao imprevisível personagem. A relação entre Jessica e Kilgrave assume contornos de obsessão romântica, mas que agrega teor dramático muito mais a favor dele já que é através do sentimento que nutre por ela que há a possibilidade que vislumbremos algum tipo de humanidade nele, ainda mais quando descobrimos os desdobramentos da sua infância e da relação com seus pais.
Há algumas ideias descartáveis, como quando Jessica continua mandando fotos para Kilgrave mesmo após a ideia se esgotar; ou a reconstrução da casa que marcou a infância de Jessica apenas para forçar um tempo de convívio entre ela e Kilgrave; ou o exagero da “bala na cabeça”; ou até mesmo pouco desenvolvidas, como a subtrama envolvendo a advogada Jeryn Hogarth (Carrie-Anne Moss), inclusive os desdobramentos criminais envolvendo ela e a secretária (Susie Abromeit), mas nada que atrapalhe muito o ritmo da série que em determinados episódios mesmo com diversas linhas narrativas (ou investigativas) envolvendo Jessica não perde o fio condutor. Trish Walker (Rachael Taylor) e Will Simpson (Will Traval) surgem como dois personagens coadjuvantes que possuem funções narrativas acessórias, mas cujo peso dos personagens vai crescendo a cada capítulo e o envolvimento romântico entre os dois, curiosamente, gera um bom e inusitado alívio cômico, além de funcionar de maneira independente, especialmente ela na relação de amizade entre Trish e Jessica, e ele como um imprevisível agente duplo, digamos assim.
A 1ª temporada de “Jessica Jones” se mostrou de qualidade bastante linear, mas sem apresentar nenhum momento especialmente marcante e/ou fora de série (há dois momentos que ficam no quase, como na sequência que se passa dentro de uma delegacia ou em um momento onde há uma briga dentro do escritório de Jessica), logo o desfecho não alcança o potencial de um grande clímax, satisfazendo-se muito mais pela força e pelo apelo dos carismáticos personagens. Contando com pouquíssimos problemas e pormenores, a série é um produto de qualidade que possui potencial que merece ser ainda mais explorado nas próximas temporadas.
8.0/10
House of Cards (1ª Temporada)
4.5 609 Assista Agora"A primeira temporada de "House Of Cards" é muito eficiente ao mostrar os meandros da política estadunidense através de uma série de personagens ardilosos e inescrupulosos, especialmente o deputado Francis Underwood (Kevin Spacey) que não mede esforços para alcançar seus objetivos e nem se incomoda de usar as pessoas para atingí-los, nem mesmo a sua esposa Claire (Robin Wright), uma mulher igualmente fria e ambiciosa que parece conhecer o jogo do marido, mas também tem lá a sua parcela de dor e de culpa. Kevin Spacey está muito bem à vontade na pele do congressista e o jogo sujo do seu personagem ganha uma roupagem sofisticada e inteligente, graças a capacidade do ator de transformá-lo em figura tão atraente quanto asquerosa. O mesmo pode ser dito de Robin Wright embora acredite que as oscilações emocionais experimentadas pela sua personagem não são tão bem exploradas quando a de Francis, sempre através de extremos, mas bem defendidos pela atriz. Kate Mara surge como uma jovem e ambiciosa jornalista que se envolve com Francis para conseguir os furos de reportagem que possam garantir sucesso em sua carreira, porém se a atriz se sai bem inicialmente à medida que a temporada avança a jornalista vai se enfraquecendo justamente ao se deixar levar cada vez mais pelo seu lado ingênuo e romântico, perdendo um pouco do seu apelo. Corey Stoll garante a Russo aquela condição de tornar o seu personagem trágico que é capaz de ganhar a simpatia ao mesmo tempo que provoca raiva pela sua fraqueza moral, uma mera peça do tabuleiro de um jogo que ele nunca esteve preparado para jogar. Dirigida por nomes como David Fincher, James Foley, Joel Schumacher e Carl Franklin, a série consegue ser muito atraente na encenação do jogo político como ao mostrar as estratégias de Francis em boicotar o novo secretário de Estado ou para a aprovação do novo projeto de educação justamente ao mostrar que dentro do Congresso todos tem seu preço ou até mesmo quando faz com que Francis tenha que voltar a sua cidade Natal para resolver um problema que pode prejudicar seu capital político ou quando ele é homenageado pela universidade em que se formou. A estratégia de usar Russo para os planos de Francis acabam ganhando contornos hollywoodianos, transformando a trama política em uma espécie de roteiro mirabolante de trama policial, o que destoa um pouco do restante da série (são nestes momentos que a série se encarrega de nos lembrar que estamos diante de uma série de TV, sem necessariamente a preocupação do tornar as reviravoltas em factíveis). E por mais escancarada que seja a estratégia de Francis, o desfecho acaba comprometendo a credibilidade do próprio, afinal ele nunca se colocou em uma situação de maneira tão expositiva como nesse final e a idéia de colocá-lo sujando as próprias mãos é algo que enfraquece a inteligência e a audácia do personagem. Ainda assim a série é muito competente ao trazer uma série de personagens com graves problemas morais e que não estão minimamente interessados em legitimar os votos recebidos e estão apenas uma constante busca de poder e cada vez mais poder, o que torna essa série norte-americana tão próxima da nossa realidade, mesmo sendo usada para garantir certa dose de puro entretenimento."
8.5/10
American Horror Story: Asylum (2ª Temporada)
4.3 2,7K"Após uma ótima primeira temporada, "American Horror Story" segue sendo muito bem produzida, mas não mantém o mesmo nível nesta segunda, mas ainda assim é capaz de entregar um dos melhores produtos do gênero através da revisitação e exploração de clichês nesta temporada ambientada quase que exclusivamente dentro de um sanatório. A série demora um pouco a engrenar, em seus três primeiros episódios parece interessada apenas em contar um pouco da história dos principais pacientes e da freira responsável pelo sanatório, interpretada mais uma vez de forma magistral por Jessica Lange. A partir do momento que a figura do Bloody Face ganha destaque e a série deixa de ser ambientada apenas no sanatório, a série alcança melhores resultados, especialmente com o destaque dado ás personagens da escritora vivida por Sarah Paulson e do psiquiatra intepretado por Zachary Quinto que oferecem atuações impecáveis, cada um defendendo muito bem o seu lado. Já no sanatório, o espaço dedicado ao passado do médico vivido por James Cromwell jamais desperta o mesmo interesse ao passo que o conflito e o jogo de cena entre Lange e Lily Rabe se mostra mais atraente já que o roteiro consegue construir sequências de ótimos diálogos e a inversão de papéis colocando uma das freiras como paciente amplia ainda mais o arco dramática das duas dentro da série, ainda mais considerando o apelo sobrenatural da possessão. O apelo envolvendo o serial killer se mantém praticamente intacto ao longo de toda a temporada, mas após resolvidos os conflitos dentro do sanatório, os responsáveis pela série parecem ter perdido um pouco do tempo para encerrar a série, estendendo de maneira desnecessária o núcleo envolvendo o personagem de Evan Peters e Lizzie Brocheré que acaba assumindo uma conotação alienígena que reforça a tentativa da série de abordar o máximo de temas possíveis em uma mesma temporada, custe o que custar. E para isso as ações da escritora no ato final acabam perdendo um pouco o foco (é como se a escritora num primeiro momento não tivesse evoluído após tudo o que sofreu, sendo mesquinha e ambiciosa, apenas para logo em seguida retomar a sua postura natural de fechar a instituição e lutar por justiça). Ainda assim quando se observa o arco dramático traçado para os personagens de Paulson, Lange e Peters é possível reconhecer uma intensa sensibilidade por parte de direção e roteiro mesmo sendo uma série de terror repleta de bizarrices."
8.0/10
Narcos (1ª Temporada)
4.4 898 Assista Agora""Narcos" é uma série bem produzida que soube ao longo de seus 10 episódio capturar a essência e a evolução do império das drogas construído por Pablo Escobar que aqui ganha uma interpretação hipnótica por parte de Wagner Moura, um ator fenomenal em função da sua entrega e da sua performance tecnicamente irrepreensível e repleta de nuances. Mas se não bastasse apenas a memorável performance de Moura, roteiro e direção encontraram um sinergia ao longo da temporada e mesmo com a mudança do comando de um episódio para o outro a série não perde o seu ritmo e sempre consegue explorar de maneira orgânica algum determinado elemento que é importante para a evolução da trama, seja o tiroteio que abre a série ou uma simples foto. O ponto baixo da série fica para a excessiva narração em "off" que muitas vezes se torna cansativa, sendo que ela não se resume apenas em explicar tudo o que o espectador deveria deduzir ainda é capaz de dizer o que qualquer personagem sente sobre determinado evento. Belíssimo trabalho de fotografia de Lula Carvalho e uma trilha sonora que combina perfeitamente com a ambientação da série. Apesar da performance de Moura saltar os olhos, o elenco é muito homogêneo com destaque para Boyd Holbrook e Pedro Pascal, que interpreta os parceiros do DEA, que perseguem Escobar; Juan Pablo Raba, que interpreta Gustavo o primo de Escobar e Raul Mendez na pele do presidente Gaviria. Alguns eventos são tão absurdos que fica difícil de acreditar que foi inspirado em fatos reais, mas a autenticidade e a inteligência do roteiro permitem que todo e qualquer eventual excesso não seja acompanhado com incômodo, pois a série se sustenta através de uma base sólida e contundente que se encarrega de explorar todos os segmentos dentro da investigação que pretende incriminar Pablo, inclusive os políticos."
9.5/10
Homeland: Segurança Nacional (3ª Temporada)
4.1 368"Ao chegar em sua terceira temporada "Homeland" demonstra uma incrível capacidade de se reinventar em uma série de episódios que se equilibra pelo menos por três vezes no que se refere ao uso de uma pessoa para atingir um objetivo maior seja através de Carrie (Claire Danes) em um primeiro momento, posteriormente com Javadi (Shaun Toub) e finalmente com Brody (Damian Lewis) mais uma vez. A série atinge mais uma vez um nível de maturidade impressionante, tornando os acontecimentos ainda mais densos e tensos, repletos de autenticidade e sempre criando uma importante expectativa ao colocar mocinhos e vilões muitas vezes responsáveis por decisões que fogem do estereótipos e os tornam ainda mais complexos. Um elenco afiadíssimo que mais uma vez se sustenta pela intensa atuação de Danes e pela soberba performance do infalível Mandy Patinkin. Damian Lewis tem a oportunidade de explorar os dilemas emocionais de Brody com uma atuação vigorosa enquanto Toub se mostra uma importante adição ao elenco. O núcleo da família Brody se mostra nesta terceira temporada o calcanhar de Aquiles da série que recebe um tratamento fraco e frágil, sendo sabiamente esquecido por boa parte do tempo. Esta terceira temporada, no entanto, se mostrou a mais homogênea em termos de ritmo, detentora de um roteiro maduro, robusto e inteligente em que a evolução dos eventos se revelou poderosa e impactante, especialmente aqueles que abrem e encerram a temporada."
9.5/10
Sense8 (1ª Temporada)
4.4 2,1K Assista Agora"“Sense 8” é uma série dramática, ousada, sensível, criativa e sensorial que explora os sentimentos de cumplicidade, tolerância, solidariedade e empatia através de uma narrativa que acompanha 8 personagens distintos em diferentes lugares do mundo em uma trama que possui ecos de ficção científica e suspense. Os irmãos Wachowski realizam um trabalho tecnicamente primoroso com o intuito de mostrar o que nos torna diferentes uns dos outros (nacionalidade, profissão, opção sexual, religião etc), mas evocando principalmente o despertar da nossa humanidade e o que nos torna semelhantes, afinal o que sentimos é o que nos torna cúmplices, é o que nos torna iguais. As nossas outras diferenças não deveriam fazer tanta diferença assim. O que sentimos é o que permite que nos preocupemos uns com os outros, é isso que nos torna humanos, independente se você é um ator homossexual mexicano ou uma DJ islandesa que vive em Londres ou uma coreana que possui habilidades no “kickbox”. Ou ainda um ladrão alemão, uma farmacêutica indiana de casamento arranjado ou uma transexual americana rejeitada pela família. Ou ainda um motorista de ônibus de Nairobi de nome Van Damme ou um policial de Chicago de nome Will. Há de se elogiar o apuro técnico e a sensibilidade de criar passagens que mesclam diálogos em diferentes localidades, como na sequência em que a indiana e o alemão flertam em um cenário que mescla calor e frio, sol e chuva ou quando coloca todos os personagens para cantar a mesma música. Da mesma forma existe a oportunidade da série explorar a ação, como na sequência em que há um perseguição automobilística em Chicago ou quando a coreana luta em nome de Van Damme. A relação entre os oito personagens funciona como uma espécie de experiência “telepática” onde cada um compartilha emoções, sensações, habilidades e conhecimentos com o outro e/ou que somente o outro tem e vice-versa, desenvolvendo uma relação íntima, embora apenas sensitiva. A primeira metade da temporada é de altíssimo nível e reserva alguns dos melhores momentos da série. A partir de então, a série perde um pouco do seu bom ritmo e a evolução da narrativa se mostra mais arrastada com destaque para ações e eventos mais secundários, mas ainda assim os dois últimos episódios são bastante eficientes."
8.5/10
Game of Thrones (5ª Temporada)
4.4 1,4KGAME OF THRONES – 5ª TEMPORADA
Após a ótima 4ª temporada, boa parte da 5ª acabou sendo um tanto quanto frustrante, porém nada que se assemelhe à fatídica e tenebrosa 3ª temporada. O que houve de mais absoluto nesta temporada foi o arco dramático de Jon Snow (Kit Harington), talvez um dos poucos personagens da série a demonstrar uma inabalável lealdade e integridade de caráter e que precisa enfrentar a desconfiança de seus comandados da Patrulha da Noite ao buscar um entendimento com os Selvagens em meio a um conflito de proporções épicas contra o exército de Stannis Baratheon (Stephen Dillane) e também contra Forças do Mal que não são desse mundo (o oitavo episódio figura entre um dos pontos altos de toda a série). Kit Harington que até então tinha uma participação discreta na série, mas sem comprometer, apesar da importância do personagem, nesta temporada teve uma atuação crescente que só fortaleceu ainda mais o carisma e o apelo do personagem que se mantém intactos até o fim. Os dilemas de Stannis assim como seu destino são enfraquecidos pela insistência dos realizadores no uso de Melisandre (Carice Van Hounten, canastrona) como uma espécie de tutora espiritual, garantindo o sucesso de suas missões através de visões que só ela vê, mas que só reforça a preguiça dos roteiristas que ao invés de ilustrar a crescente loucura do rei de maneira sutil e/ou subjetiva preferem o uso de uma figura física para ilustrá-la (chega a ser constrangedor as sucessivas tentativas da personagem em usar o sexo como uma arma e isso já vem de temporadas anteriores). Não é à toa que em determinado momento ela simplesmente deixa Stannis na mão. E com isso, os momentos-chaves se tornam apelativos apenas para provocar o choque pelo choque (vide sequência da fogueira).
Já com relação a Tyrion (Peter Dinklage), a trama demora muito para engrenar já que após os marcantes eventos da temporada anterior, o personagem, um dos mais relevantes da série, basicamente vai de um lugar para o outro lamentando a falta de vinho pelo caminho. A partir do momento em que ele finalmente se encontra com a rainha Daenerys Targaryen (Emilia Clarke) é que o personagem diz ao que veio, criando boas expectativas para o futuro, mas nesse processo até mesmo a redenção de Jorah (Iain Glen) perde seu impacto em um episódio que tem seu grau de tensão anulado pela frágil presença do dragão Drogo e de fracos efeitos especiais (um dos pontos baixos da temporada). Até ali, Daenerys precisa enfrentar as dificuldades políticas e morais de governar em meio ao conflito entre os dissidentes do seu reino. Nada muito especial embora os responsáveis pela série dediquem um bom tempo para lidar com estes dilemas, apenas para que tenhamos uma noção de que o senso de justiça de Daenerys causa muito mais implicações do que ela poderia imaginar. Emilia Clarke mantém sua irregularidade em cena já que sua postura oscila muito, sendo que às vezes dá a impressão de que ela não consegue carregar a personagem sozinha enquanto que em outros momentos ela dá conta do recado. Sem querer ser repetitivo, mas sua dobradinha com Peter Dinklage pode render bons frutos mesmo que os responsáveis pela série tenham optado por uma nova fragmentação desse núcleo.
No núcleo dos Lannisters há uma divisão já que a Rainha-Mãe Cersei (Lena Headey) ordena que Jaime (Nikolaj Coster-Waldau) resgate sua filha/sobrinha de Dorne enquanto ela arquiteta um plano para desmoralizar a rainha Margaery (Natalie Dormer) e separá-la do seu filho e novo rei (Dean-Charles Chapman). Nesse ponto, a trama remete ao período da Inquisição, mostrando a mão forte da Religião sobre os destinos de homens e mulheres que viveram suas vidas contra os princípios estipulados pelos deuses, personificado pela figura do líder religioso High Sparrow (Jonathan Pryce, ótimo). Enquanto que no núcleo de Jaime nada muito digno de nota acontece (todo o plano de execução assim como sua conclusão, inclusive a sequência no barco, são risíveis pela realização canhestra), cabe a Cersei e a interpretação hipnótica de Lena Headey garantir boa parte do interesse desta subtrama mesmo quando soa redundante e/ou foca mais nas aparências antes de partir para algo definitivo. E Lena Headey entrega-se de corpo e alma a uma personagem asquerosa e desprezível (e atraente dramaticamente justamente por isso), mas que participa de uma das sequências mais marcantes e emblemáticas de toda a série quando Cersei se humilha sob um coro de vozes clamando por sua vergonha.
Enquanto que Sansa Stark (Sophie Turner) sofre nas mãos Ash Weston (Ivan Rheon) em função de um ato covarde de Mindinho (Aidan Gillen) ao deixa-la sozinha com o inimigo, apenas para atender uma necessidade genérica e repetitiva dos realizadores de transformá-la mais uma vez em uma heroína trágica (quase digna de novela mexicana, afinal ela precisa sofrer) cujo “cliffhanger” deixado para a próxima temporada também se mostra de apelo restrito, Arya (Maisie Williams) se envolve em uma subtrama igualmente fraca que a coloca em meio a uma seita que promete a seus participantes a perda da sua identidade como uma forma de atender as necessidades de uma santidade e que serve apenas para prepara-la para a sua sequência final. Duas jovens e importantes personagens sendo desperdiçadas com tramas que ao longo da temporada literalmente não saem do lugar.
Sem conseguir repetir os bons momentos da série (1ª e 4ª temporadas), a 5ª temporada de “Game Of Thrones” consegue ser tão irregular quanto a 2ª temporada apresentando graves problemas de ritmo, sendo superior apenas à fraca 3ª temporada, porém é evidente que os pontos positivos destoam e se destacam já que certamente ficarão marcados dentro da mitologia da série.
7.5/10
Game of Thrones (4ª Temporada)
4.6 1,5K Assista AgoraGAME OF THRONES – 4ª TEMPORADA
“Game Of Thrones” teve uma ótima 1ª temporada, a 2ª foi marcada por altos e baixos e a 3ª foi extremamente fraca, salvando-se basicamente pelos seus dois episódios finais. Em sua 4ª temporada a série parece ter voltado aos eixos com episódios mais dinâmicos e de contundente intensidade dramática, mesmo que alguns diálogos sigam prolixos e a estrutura dos episódios seja um tanto quanto repetitiva. O primeiro episódio é como uma espécie de interlúdio entre a temporada anterior e a atual, situando os personagens e mostrando como eles assimilaram os eventos passados e quais são as ambições futuras, valendo-se da mesma velha estrutura em dedicar de 5 a 7 minutos para cada um dos diversos núcleos, dedicando ora ou outra a um deles mais tempo ou uma ação mais grandiosa e/ou impactante. O 2º episódio talvez seja responsável por um dos pontos mais altos da série ao apresentar a icônica sequência do casamento entre Joffrey (Jack Gleeson, fraco e apropriado) e Margaery Tyrell (Natalie Dormer, ótima) e as suas terríveis consequências, além de colocar injustamente Tyrion (Peter Dinklage) como responsável pelo crime com direito a uma icônica sequência de discurso em que Dinklage dá um show de interpretação e maturidade artística.
O que dá para notar também nesta temporada de “Game Of Thrones” é uma maior proximidade entre os núcleos, fazendo com que a movimentação de um tenha impacto, mesmo que ainda sutil, em outro, como o avanço de Daenerys Targaryen (Emilia Clarke, irregular) e o crescimento do seu exército que já parece incomodar outros líderes ou o avanço dos Selvagens sobre à Muralha, potencializando os dilemas de Jon Snow (Kit Harington) que culmina em uma épica sequência de batalha envolvendo inclusive Gigantes montados em mamutes (!). Da mesma forma que Mindinho (Aindan Gillen, ótimo) parece se tornar o principal articulador da temporada usando-se da aparente fragilidade Sansa Stark (Sophie Turner, ótima), dando sinais cada vez maiores de sua ambição desmedida, a temporada aposta em alguns duetos narrativos que dão leveza à série, como o que envolve Brienne (Gwendoline Christie) ao lado do antigo servo de Tyrion, além do que envolve Arya Stark (Maisie Williams) e o Cão de Caça, em uma inusitada relação de pai e filha que também funciona um guia espiritual total e politicamente incorreto. O amadurecimento de Sansa e Arya trazem um pouco de esperança ao clã dos Stark. As relações entre Tyrion, seu irmão Jaime (Nikolaj Coster-Waldau, melhor a cada temporada) e Cersei (Lena Headey, não tão hipnótica como em temporadas anteriores) também reforçam a grandeza e a complexidade emocional de um núcleo de personagens cercados pela tragédia e mais uma vez Peter Dinklage rouba a cena.
Depois de uma segunda temporada bastante irregular e uma terceira temporada tenebrosa, “Game Of Thrones” encontrou novamente o seu caminho. Tecnicamente impecável, especialmente pelo eficiente uso da fotografia e da bela trilha sonora e suas grandiosas melodias, a série teve uma 4ª temporada elogiável e grandiosa que soube muito bem dosar os diversos núcleos de forma mais orgânica (não evitando que alguns fossem mais eficientes do outros) e esforçando-se para mesclar a sua natureza épica com seus conflitos políticos, dilemas familiares e as narrativas que flertam com a fantasia (que ainda destoam em qualidade dos demais).
8.0/10
Better Call Saul (1ª Temporada)
4.3 821BETTER CALL SAUL – 1ª TEMPORADA
“Better Call Saul” é uma série derivativa de “Breaking Bad” a partir do personagem Saul Goodman, interpretado por Bob Odenkirk, que esteve ao lado de Walter White (Bryan Cranston) e Jesse Pinkman (Aaron Paul) a partir da 2ª temporada da renomada série de Vince Gilligan. Aqui nesta série, ainda sob o nome de Jimmy McGill, temos a oportunidade de nos aprofundar mais na história de vida do personagem. O grande objetivo alcançado pela série é o de humaniza-lo, logo estamos diante de um sujeito que é muito mais do um mero advogado oportunista e/ou trambiqueiro como vimos até então. Há um sentimento de piedade diante de um sujeito que desde o início quer mostrar o seu valor, mas por uma série de contratempos escolhe o caminho errado. Coproduzida por Gilligan ao lado de Peter Gould, a série é muito bem dirigida, há belíssimos planos contemplativos (muitas vezes deixando um ou mais personagem em silêncio e/ou fora do plano), há escolhas riquíssimas como a belíssima e melancólica sequência de abertura em preto e branco que apresenta um futuro do personagem (possivelmente pós-“Breaking Bad”) até retornar ao tempo com uma paleta de cores vivas para mostrar a atuação de Saul diante de um júri em um caso praticamente perdido (e a opção da câmera em focá-lo de costas e apenas apresentar o seu rosto quando ele começa a discursar é uma solução clássica para reforçar o respeito ao personagem).
O grande problema da série em sua primeira metade é que estamos diante de um personagem atraente em sua excentricidade, mas cujos eventos nunca acompanham o seu nível ou grau de complexidade. De certa forma faz até lembrar de “Dexter” que tinha um personagem central fascinante, afinal tratava-se de um “serial killer” que tentava levar uma vida normal, porém o que acontecia ao seu redor assim como os demais personagens, em sua grande maioria, nunca alcançava o mesmo nível de interesse despertado por ele. Com “Better Call Saul” acontece praticamente a mesma coisa. Se há algo de interessante na série é o próprio Saul Goodman, digo, Jimmy McGill, um advogado cujo tom e postura flertam entre a melancolia e o sarcasmo, sendo defendido com elegância, bom humor e maestria por Bob Odenkirk naquele que é desde já o papel de uma carreira. E por ser um “spin off” é natural que a série tente evocar o produto original, mas ela precisa caminhar com as próprias pernas e dessa forma a série inicialmente torna-se apenas moderada. A presença de Tuco Salamanca (Raymond Cruz), por exemplo, nos episódios iniciais acaba sendo um recurso mais distrativo do que agregador, como se feito para não deixar o espectador escapar e permitir que ele invista mais tempo na série pelo laço afetivo criado até então até porque a trama envolvendo um casal e um desvio milionário demora a engrenar.
Curiosamente, o salto de qualidade desta temporada se deve à influência de Mike (Jonathan Banks), também do universo de “Breaking Bad”. Aparecendo em participações pontuais até então, o 6º episódio é inteiramente voltado a ele, sendo Jimmy um mero coadjuvante, em uma trama que investiga o passado traumático do policial aposentado envolvendo corrupção policial e o destino trágico do seu filho assim como sua relação com a nora e a neta (mas neste caso nada que venha a agregar muito já que ligamos os pontos facilmente). Banks também é um ator formidável e entrega uma atuação sensível e precisa. Cabe a ele no episódio seguinte ajudar Jimmy em solucionar a trama do desvio de dinheiro, permitindo que este ciclo se encerre e leve o advogado para o próximo caso e que envolve a extorsão de idosos por uma clínica de repouso. Os eventos que decorrem destes dois casos servem de combustível emocional para as conclusões finais da temporada e que envolvem diretamente a relação entre Jimmy e seu irmão Chuck (Michael McKean, ótimo), um advogado mais bem sucedido, sócio de um influente escritório, mas que sofre de um distúrbio que limita o seu convívio social. A dinâmica entre os irmãos é inicialmente burocrática, sendo ajustada no decorrer da temporada até que serve de estopim para as maiores decepções e frustrações de Jimmy.
O arco dramático de Jimmy McGill se encerra com um episódio em que ele retorna às origens que reforça o seu passado escorregadio, repleto de golpes e armações para nenhum Kevin Costner botar defeito. É um episódio ágil e divertido, mas que mesmo assim não deixa de ser triste e melancólico, especialmente pelas marcas deixadas na personalidade do advogado, não apenas pela tragédia final, mas pela forma como ele encara a realidade diante das constantes frustrações, como no discurso durante um bingo da terceira idade. E a trajetória de Jimmy McGill é uma mistura de sentimentos por traduzir um pouco dessa angústia de um homem que errou e buscou a sua redenção, mas à medida que procurava fazer a coisa certa, inevitavelmente, por força das circunstâncias, acabava se deixando levar pelo seu lado sombrio.
8.0/10
The Walking Dead (5ª Temporada)
4.2 1,4K Assista AgoraTHE WALKING DEAD – 5ª TEMPORADA
Após a conclusão da 4ª temporada, os responsáveis por “The Walking Dead” precisaram de apenas 3 ótimos episódios para abordar a interferência do grupo de humanos do Santuário e seguir em frente (ou quase isso). Pelo menos deveria ser assim. De maneira inteligente, apresenta dois breves “flashbacks” que servem de explicação para a natureza do grupo e a razão distorcida que eles seguem para justificar seus atos. Mas como Rick (Andrew Lincoln) fez questão de alertar ao final da temporada anterior, eles mexeram com as pessoas erradas. Logo no 1º episódio, a série experimenta uma catarse carregada de tensão e ação (contando com a interferência providencial de uma importante personagem) que vai repercutir até o final do 3º episódio com um clímax sombrio e sangrento ambientado dentro de uma igreja (ou apenas um local com 4 paredes e um teto, vale a pena destacar, em mais uma boa sacada do roteiro). Os conflitos entre os personagens aliados ao sadismo do grupo do Santuário (o desfecho de um personagem ganha contornos de filme de terror, graças a ação doentia deles) culminam em um clímax que revela (mais uma vez) a gradativa perda da humanidade daqueles personagens, deixando cada vez mais difícil acreditarmos que eles sairão ilesos, física e/ou emocionalmente, dessa jornada, especialmente Rick. A redenção parece cada vez mais difícil de ser alcançada e os personagens estão em constante conflito consigo mesmo, principalmente quando se veem diante do seu lado mais obscuro.
A partir do 4º episódio, a série se divide em 3 núcleos: o grupo que se mantém na igreja, liderados por Rick; aquele que parte com o sargento Abraham Ford (Michael Cudlitz) e o cientista Eugene Porter (Josh McDermitt) em direção à Washington, incluindo Glenn (Steven Yeun) e Maggie (Lauren Cohan); e o que acompanha a até então desaparecida Beth (Emily Kinney) que se encontra “prisioneira” de um hospital, comandado de forma ditatorial pela policial Dawn Lerner (Christine Woods). Nesse terceiro núcleo há uma certa impressão de que algumas ideias estão sendo recicladas, afinal após a cidadela liderada pelo Governador e o grupo de canibais, aqui vemos mais uma distorção da noção de comunidade sendo levada ao extremo, o que inicialmente acaba sendo frustrante e derivativa, sendo que Emily Kinney por mais efetiva e carismática não sustenta sozinha o apelo da narrativa. Não fica muito difícil juntar as peças do quebra-cabeça que unem o núcleo de Beth com a de Daryl (Norman Reedus) e Carol (Melissa Suzanne McBride) que deixam o grupo da igreja para trás afim de resgatá-la em um episódio bem morno (inclusive com explicações desnecessárias sobre as ações de Carol na temporada anterior do momento da separação do grupo principal até quando consegue salvá-lo).
A fragilidade do núcleo de Abraham Ford e Eugene Porter fica ainda mais evidente com as revelações indicadas no 5º episódio que também conta um pouco da origem do sargento que já dava indícios de um nível de stress além do normal. Dessa forma cabe a Glenn incluir um pouco de racionalidade e maturidade dentro do grupo, porém nada que venha a justificar o tempo desperdiçado com eles (curioso notar que desde a metade da temporada anterior, Maggie parece conformada com a ausência de Beth, sendo que ela tinha a oportunidade de saber que estava viva muito antes do momento em que ela finalmente toma conhecimento disso). O final dessa 1ª metade da temporada acaba se apoiando em dois episódios apenas razoáveis que parecem andar em círculos (literalmente um dos grupo retorna ao ponto de partida) ou se arrasta apenas para que os núcleos se encontrem pouco depois do clímax, incluindo a subtrama envolvendo os dilemas do padre Gabriel (Seth Gilliam), já que dessa vez é ele que pede para ser salvo, e o cerco feito pelo grupo a três policiais com o intuito de negociar a troca com Dawn.
O evento que serve de clímax para esse meio de temporada tem um alcance emocional estrondoso, mas a realização deixa a desejar pela própria composição do conflito, mesmo considerando que o efeito é devastador em função da identificação que se cria com alguns personagens. O que já não se pode dizer do 9º episódio que é praticamente feito em homenagem a um personagem que também tem um fim definitivo já que dentro da própria série ele não tinha muito brilho próprio, sempre ficando à margem e/ou participando apenas como apoio do grupo principal. E mesmo que neste episódio se invista em efeitos de edição estilizados ou se busque uma forma de encarar a morte de maneira mais poética e/ou metafórica, o resultado é apenas morno, ainda mais levando em consideração que em função dos acontecimentos dos dois últimos episódios, há muito mais motivos para “odiarmos o Chris” do que se podia imaginar (a atuação de Tyler James Williams é fraquíssima).
O 10º episódio, analisado isoladamente, é muito eficiente já que propõe a primeira passagem de tempo em que os personagens se encontram mais fragilizados física e emocionalmente em função da falta de suprimentos, especialmente comida e água. Decididos em seguir para Washington, mesmo após a descoberta da farsa de Eugene, eles literalmente se arrastam para cumprir os quilômetros de distância até o local de destino. Em determinado momento, eles se recusam até mesmo a confrontarem os zumbis afim de pouparem energia. Trata-se de uma jornada física e emocional intensa que faz até mesmo com que Rick se questione se eles não são os verdadeiros mortos-vivos deste novo mundo em que vivem, além de permitir o primeiro momento mais emocional de Daryl em que ele se deixa levar pelas lágrimas. A instalação em um celeiro para escaparem de uma forte tempestade se torna uma bonita metáfora sobre a união que os mantém vivos até então. E depois de três ótimos episódios iniciais e um restante de temporada bem irregular, a partir do 11º episódio é que a série se propõe finalmente a um novo caminho.
A preparação para a chegada do grupo em Alexandria é muito bem sustentada em torno do conflito entre a desconfiança de Rick e a esperança do restante, principalmente na figura de Michonne, a partir do momento que Aaron (Ross Marquand, eficiente) se apresenta como um integrante de uma comunidade e que está interessado em levá-los até lá. A atitude de Rick é absolutamente compreensível em função de tudo o que ocorreu dentro da série, não apenas nesta temporada, porém é natural que a decepção com o Santuário o deixe intensamente desconfiado ao ponto de ser extremamente cauteloso e até mesmo raivoso. É curioso, como espectador, experimentar das duas sensações, a de apoiar as decisões de Rick, pois sabemos que ele pensa no bem do grupo, por mais que se mostre mais afetado e instável emocionalmente pela crescente onda de acontecimentos, mas ao mesmo tempo também queremos que ele esteja errado para que, finalmente, o grupo mereça momentos de paz. O espectador também deposita esse voto de confiança, embora não demore muito para que se desconfie que há algo suspeito nesta comunidade, porém a condução dessa dúvida principal é bem conduzida justamente por colocar o grupo que acompanhamos desde o início da série como uma espécie de antagonista do grupo residente de Alexandria, liderado pela congressista Deanna Monroe (Tovah Feldshuh, canastrona).
A conclusão da temporada basicamente se resume em dois sentimentos. O primeiro é o de uma espécie de abstinência de parte dos personagens que encontram dificuldades em se adaptar a uma vida normal dentro de Alexandria, logo Carol não está muito satisfeita em preparar cookies para as crianças; Daryl se sente enclausurado e por isso aceita o convite de Aaron em ficar do lado de fora para buscar novos integrantes para a comunidade; Sasha (Sonequa Martin-Green) surge obcecada pela adrenalina de matar os zumbis como uma forma de lidar emocionalmente com as perdas enfrentadas; além de Rick que considera o grupo de Alexandria muito fraco e frágil para lidar com o novo mundo e até por isso é o que acaba se expondo mais ao ponto de colocar suas próprias atitudes em xeque, ainda mais quando se mostra emocionalmente envolvido com Jessie (Alexandra Breckenridge, ótima). Enquanto Maggie se mostra bem discreta ao se tornar uma espécie de assessora de Deanna, mas sem abandonar o grupo, Michonne (Danai Gurira) acaba sendo uma voz dissonante por acreditar na prosperidade da comunidade enquanto que o padre Gabriel dá cada vez mais sinais da perda de sua fé e da sua fraqueza de caráter. O 2º sentimento é o que acompanha as diretrizes da comunidade que se manteve intacta, mas que jogou para debaixo do tapete muitos dos seus conflitos (expulsando alguns integrantes contrários aos rumos da cidadela e/ou com relação à direção de Deanna), fazendo vista grossa a morte de outros no passado e a violência sofrida por Jessie pelo marido alcoólatra apenas porque ele é o único cirurgião do grupo. Embora o desfecho tenha seu impacto, especialmente pela chegada de um velho conhecido de Rick à comunidade, a segunda metade da temporada acaba se sustentado mais em função dos dilemas emocionais dos personagens principais (os novos que surgiram no final da temporada anterior e no início dessa são meros coadjuvantes e às vezes até figurantes) do que os eventos que ocorrem dentro de Alexandria, mesmo levando em consideração que essa comunidade é diferente do que tudo o que fora apresentado até então dentro da série.
E levando em consideração o desfecho desta temporada, “The Walking Dead” demonstra mais uma vez que é uma série que está muito mais preocupada em investigar as relações humanas a partir de uma premissa que se sustenta pela luta pela sobrevivência do que propriamente uma série interessada apenas no banho de sangue provocado pelos zumbis.
8.0/10
The Walking Dead (4ª Temporada)
4.1 1,6K Assista AgoraTHE WALKING DEAD – 4ª TEMPORADA
Trata-se de um erro considerar que “The Walking Dead” é apenas uma série de zumbis. Assim como “Lost”, a série é muito mais dramática e emocional, construída através da relação entre os personagens, tendo como pano de fundo o caos provocado pela horda de criaturas que se alimentam dos vivos. A 1ª temporada é enxuta, mas extremamente eficiente. A 2ª deixa um pouco a desejar na primeira metade, mas alcança um nível extraordinário na sua metade final. Já a 3ª se mostrou a melhor e mais regular de todas as temporadas até então. A 4ª temporada já se inicia em alto nível com a indicação de uma gripe que provoca a morte de muitos daqueles que se instalaram na prisão após a fuga da cidade comandada pelo Governador (David Morrissey). E como se sabe, no universo da série, morrer não é nada bom. Não deixa de ser uma solução prática e viável encontrada pelos responsáveis da série em eliminar rapidamente parte dos novos personagens que se juntaram a Rick e cia, mas sem soar como uma mera desculpa, além de proporcionar alguns ótimos momentos de tensão, especialmente na sequência da primeira vítima do surto que provoca dezena de outras mortes ou durante a corrida contra o tempo para salvar a vida de Glenn (Steven Yeun), ambos embalados por uma trilha sonora agonizante e aterrorizante.
A contaminação coloca os personagens em alerta e ainda estabelece alguns conflitos dramáticos importantes, especialmente aqueles em que se questionam conflitos morais assim como a racionalidade e a humanidade dos sobreviventes. Após terem feito tudo o que fizeram para se manter vivos, ainda haverá condições para que eles voltem a ser o que eram antes de tudo isso? Esse é o principal conflito entre os personagens na primeira metade da temporada. Rick continua sendo o centro emocional da série já que mesmo diante de tanta responsabilidade e stress, ele ainda se mantém com uma fé e uma moral inabaláveis que o transforma até em um sujeito menos ativo justamente para proteger aqueles que permanecem na prisão, especialmente seus filhos, como se não quisesse colocar mais ninguém em risco. Em um dos episódios, porém, uma sobrevivente que ele encontra nos arredores da prisão lhe faz esse questionamento e os eventos decorrentes desse encontro, até mesmo aqueles que seguem dentro da prisão, irão colocar em xeque essa sua postura aparentemente passiva (inclusive envolvendo uma tomada de decisão difícil e delicada ao final do 4º episódio decorrente de uma ação controversa, mas compreensível diante das circunstâncias, mesmo que a reação de ambos soe um pouco desproporcional). Andrew Lincoln é um ator formidável, pois ele consegue carregar um personagem complexo com serenidade, sensibilidade e extrema segurança, mas sem deixar de ilustrar a carga dramática característica de Rick que alterna entre o tom politicamente correto e um lado mais frio e calculista. Rick representa a nossa fé na humanidade mesmo quando está carregado de desesperança (e quando ele, emocionado, pede trégua a um determinado personagem não tem como não se comover com o seu alto nível de fragilidade). Scott Wilson é outro ator que oferece um trabalho de atuação maravilhoso como Hershel que se torna uma espécie de mentor moral, ético e espiritual do grupo com extrema elegância, mas mantendo em sua essência a sua personalidade rústica e simples de fazendeiro. Sem dúvida nenhuma, um personagem marcante.
O 6º e o 7º episódios estão certamente entre os melhores episódios da série como um todo e curiosamente está fora do núcleo central já que se concentra nos caminhos percorridos pelo Governador a partir do final da temporada anterior até o tempo presente. O arco dramático vivenciado pelo personagem é muito bem encenado e a sua humanização é quase que um sopro de esperança para o seu futuro ao lado de sua nova família, mas por mais que ele resista, a sua natureza doentia e perturbada parece falar mais alto. E estes dois episódios são capazes de elevá-lo e torna-lo mais complexo do que tudo o que vimos e sabemos sobre ele pela temporada anterior, logo quando ele surge ameaçador diante do grupo de Rick há novamente o pavor e o medo já experimentados, mas certamente estamos diante de um novo Governador, muito mais imprevisível, muito mais insano e muito mais perigoso (e essa constatação pode ser resumida através de uma atitude covarde e chocante). David Morrissey, que é um ator extremamente limitado, alcança um nível de interpretação compatível com seu talento, mas cuja eficiência é inquestionável já que funciona. E se na temporada anterior, mesmo que o Governador servisse como um relativo contraponto a Rick, aqui Morrissey permite que seu personagem imprima um alcance emocional maior, seja pela sua redenção ou pelo seu egoísmo, como desejado pelo roteiro.
Após o ótimo episódio que registra a catarse entre o grupo de Rick e do Governador (em que os responsáveis pela série deixam um pouco a desejar apenas na geografia das sequências de ação já que os planos e contra planos enfraquecem os duelos, especialmente os que envolvem arma de fogo), os episódios seguintes se concentram na dispersão do grupo. Em um episódio, que mais se parece com um curta e/ou um episódio experimental, Carl (Chandler Riggs) age solitariamente enquanto o pai se recupera dos efeitos do episódio anterior, mas tudo é feito de maneira bastante esquemática em que o garoto se comporta de maneira imatura e às vezes irritante, mas cujo peso não pode ser colocado apenas nas costas de Riggs já que ele se mostra um ator mirim bastante esforçado. As ações de Michonne (Danai Gurira) também são rasteiras, incluindo até um “flashback” que permite uma atuação terrivelmente canastrona de Gurira que até então não havia comprometido a série já que a sua performance como a personagem feminina durona se mostrara bastante convincente até então. As ações dos demais personagens, divididos em outros três núcleos não possuem eventos especialmente marcantes, fazendo com que a temporada perca bastante do seu ritmo, sendo mais reflexiva e contemplativa. Esse isolamento dos personagens em pequenos grupos evidencia também que nem todos os personagens funcionam isoladamente da mesma forma que em grupo seja para o bem, como no caso do sempre marcante Daryl (o ótimo Norman Reedus), ou para o mal, tratando-se de Glenn, por exemplo, apesar da presença carismática de Steven Yeun.
Essa 2ª metade da temporada se divide em episódios pouco marcantes que servem apenas para conduzir os personagens ao final da temporada (entenda-se “Santuário”) com outros que funcionam muito bem isoladamente para reforçar as relações entre um ou mais personagens. Além daquele que envolve Rick e Carl, um que merece destaque é o que se sustenta através da relação entre Daryl e Beth (Emily Kinney, ótima), dois opostos que se atraem. Porém, o episódio mais contundente é certamente aquele que acompanha Carol (Melissa Suzanne McBride, brilhante) e Tyreese (Chad L. Coleman, limitado) ao lado de das irmãs Lily e Tara através de um arco dramático repleto de esperança, mas carregado de tristeza e melancolia. Além de servir de preparação para a próxima temporada, a 4ª temporada insere alguns personagens novos, como o militar Abraham Ford (Michael Cudlitz, fraco) encarregado de proteger o cientista Eugene Porter (Josh McDermitt, fraco) que conhece o motivo que causou a epidemia até chegar à base do exército americano em Washington, porém não se explora muito o assunto classificado como confidencial.
A temporada se encerra com a apresentação de um novo grupo que promete ser antagonista de Rick & Cia, porém o mais bacana do encerramento foi justamente explorar a quebra de expectativa com relação aos conceitos entre o bem e o mal já que os próprios personagens questionam a respeito da sua própria natureza depois de tudo o que enfrentaram (retomando parte da abordagem levantada na primeira parte da temporada), logo não deixa de ser ousado e inteligente a aposta dos roteirista em colocar os personagens que acompanhamos desde o começo como responsáveis por uma carnificina, além de invasores de propriedade. Em resumo, mesmo com alguns episódios que destoam do restante da temporada em sua segunda metade, a 4ª temporada atingiu o mais alto nível que “The Walking Dead”, deixando boas perspectivas para o futuro.
8.0/10
Game of Thrones (3ª Temporada)
4.6 1,8K Assista AgoraGAME OF THRONES – 3ª TEMPORADA
A 1ª temporada de “Game Of Thrones” é fantástica. A 2ª temporada já demonstra uma falta de ritmo preocupante, mas ainda mantém intacto boa parte do seu apelo emocional. Já a 3ª temporada de “Game Of Thrones” é um longo, cansativo e exaustivo engodo. Como em um jogo de xadrez comandado em câmera lenta, cada um dos núcleos da narrativa se movimenta no tabuleiro de maneira preguiçosa ao longo da temporada já que na verdade tem pouco a apresentar, logo o que se vê ao longo dos 10 episódios nada mais é do que uma longa preparação para os seus episódios finais que reservam as maiores catarses da temporada, especialmente os dois últimos episódios. Isso tudo se ainda não bastasse o oportunista efeito de arrastar a narrativa ao longo de cada um dos episódios apenas para que reservasse algum evento digno de nota em seus cinco minutos finais, fazendo com que Dan Brown se sentisse orgulhoso da sua eficiente canastrice literária, os roteiristas da série, que se inspiram nos livros de George Martin, seguem sua cartilha fervorosamente de maneira extremamente prolixa. Ao longo desta temporada, Daenerys Targaryen (a irregular Emilia Clarke) tem uma trama que praticamente se repete a da temporada anterior já que se concentra na busca por um exército que lute ao seu lado. E dá-lhe negociação, peitos e bundas! Robb Stark (Richard Madden) possui um interessante conflito como Rei já que precisa medir as consequências de uma possível nova aliança ao mesmo tempo em que se apaixona por uma espécie de camponesa que pode comprometer um futuro casamento importante para as suas aspirações no poder. Não é à toa que o impacto provocado por esse núcleo é o mais chocante justamente pela frieza e a crueldade adotada pelos inimigos. Enquanto isso o Regicida (Nikolaj Coster-Waldau)¬, após suas atitudes desumanas, enfrenta todos os tipos de humilhação quando é mantido prisioneiro e curiosamente é aquele personagem que apresenta o arco dramático mais intenso e contundente. No mais, os demais núcleos se resumem a narrativas requentadas de romance e fantasia que não agregam muito e que nem chamam a atenção pelo estilo em que são apresentadas, como a que envolve um soldado da Patrulha da Noite, um bebê e a mãe da criança ou o romance com ecos de “Síndrome de Estocolmo” entre Jon Snow (Kit Harington) e a selvagem. Triste ver alguns dos personagens mais interessantes da série tão desperdiçados, com Tyrion (Peter Dinklage) que surge tão apagado nessa temporada mesmo assumindo uma condição de protagonismo no arranjo do seu casamento com Sansa (Sophie Turner); ou Cersei (Lena Headey) nem sendo a sombra da ardilosa articuladora que foram em temporadas anteriores assim como Mindinho (Aidan Gillen). O mesmo vale para a talentosa Maisie Williams na pele da Arya cujas ações são limitadíssimas tendo menos espaço até mesmo que a trama envolvendo seu irmão Bran interpretado pelo insonso Isaac Hempstead-Wright. Enfim, uma terceira temporada que deixa ainda mais evidenciado os pontos falhos da série não conseguindo repetir o equilíbrio visto ao menos na primeira temporada.
5.0/10
Demolidor (1ª Temporada)
4.4 1,5K Assista AgoraDEMOLIDOR – 1ª TEMPORADA
A 1ª temporada da série “Demolidor” demonstra um vasto repertório de personagens complexos e ações intensas que a tornam um programa vigoroso. Criado pelo co-roteirista Drew Goddard, a partir dos quadrinhos da Marvel, a série estabelece inicialmente de maneira enxuta e eficaz o evento que culminou com a cegueira de Matthew Murdock (Charlie Cox), ainda na infância, e a sua relação com o pai, um boxeador decadente, sendo que paralelamente já insere o personagem nos dias de hoje em meio ao cenário de caos e violência predominante em “Hell´s Kitchen”, um bairro fictício de Nova Iorque, dominado por atividades ilegais de chineses, russos e japoneses, mas comandados com frieza e autoritarismo por Wilson Fisk (Vicent D´Onofrio).
Apresentado como um advogado idealista, Matt encontrou nas suas ações, como uma espécie de vigilante noturno, uma forma de fazer justiça com as próprias mãos, o que não deixa de ser um contraponto interessante já que expõe a complexidade do personagem que usa da violência em suas ações heroicas ao mesmo tempo em que as pessoas mais próximas ficam igualmente ameaçadas. Inicialmente interessado em apenas defender pessoas que são inocentes, ele também não deixa de subverter essa regra quando considera mais conveniente fazer um jogo de interesses apenas para chegar mais rapidamente ao chefão do crime organizado da cidade. Esteticamente, a série se mostra extremamente atraente apostando em uma paleta de cores pesadas, reforçando o clima sombrio da série e os diretores estabelecem um alto padrão na condução das sequências, especialmente as que envolvem a ação de Matt, como quando ele invade o esconderijo de criminosos para salvar uma criança sequestrada em um longo (e falso) plano-sequência ou quando ele liberta a enfermeira Claire (Rosario Dawson) em uma sequência em que a locação é iluminada apenas pelas luzes dos faróis dos carros. Da mesma forma, a sequência em que Matt segue um carro por diversos quarteirões pulando entre os prédios se guiando pelo som de uma ópera é igualmente empolgante. Existem diversos momentos em que os responsáveis pela série fazem escolhas interessantes para explorar a tensão, seja através da violência gráfica e explícita, como a que envolve uma bola de boliche ou um suicídio, outras de maneira mais crua, como a que envolve dois personagens frente a frente em uma mesa, ou criativa quando há o close nos olhos de um determinado personagem com medo enquanto a ação ocorre fora do plano. Além, é claro, da eficiente sequência que marca o duelo final.
Charlie Cox, que até então teve participações inexpressivas em “Stardust” e “A Teoria de Tudo”, sai-se muitíssimo bem na condução de Matt Murdock, trazendo leveza e serenidade a um personagem que poderia facilmente se tornar antipático e/ou aborrecido, logo sua postura serena, enaltecida pelo seu tom de voz suave, aliado à inteligência do personagem, fazem com que a sua transformação no impiedoso vigilante mascarado torne-se reconhecível e autêntica, apenas um lado diferente da mesma moeda, seu lado mais obscuro, mas com extrema energia e vigor. Além disso, convence como herói de ação nas sequências de luta e/ou que envolvem maior esforço físico, mas a sua composição também passa por uma mudança de postura que transita entre o frágil e o descolado, dependendo do ambiente e/ou das circunstâncias, mesmo sem a máscara. Foggy Nelson (Elden Henson, carismático) é o sócio de Matt no novo escritório de advocacia criado pela dupla e funciona como um importante alívio cômico para a série. Se Claire se torna uma espécie de confidente de Matt, além de cuidar de suas feridas físicas e emocionais (e sofrer as consequências por isso), reforçando a dinâmica romântica entre os dois, Karen Page (a ótima Deborah Ann Woll, “True Blood”), secretária da dupla de advogados, por força das circunstâncias, parece caminhar com suas próprias pernas através das investigações que realiza contra os poderosos da empresa que queriam vê-la morta, contando com a ajuda do ético Ben Urich (Vondie Curtis-Hall, eficiente), um veterano jornalista, em vias de se aposentar, mas que também resiste na luta contra o sistema. Sistema este liderado por Wilson Fisk, cujo nome não deve ser citado. Vicent D´Onofrio tem uma participação arrebatadora, um trabalho de composição sutil e sofisticado que torna a sua figura ainda mais imprevisível e ainda mais assustadora. A sequência de apresentação do seu personagem é poética (remetendo ao passado e ao futuro do personagem) assim como toda a sua transformação vista no 4º episódio e que culmina com um desfecho avassalador e chocante (a crueldade provocada por um constrangimento pode ser brutalmente cruel), além de servir de aperitivo para um posterior episódio, cujo “flashback” mostra a sua infância e a influência negativa da sua figura paterna (a referência à abotoadura, por exemplo, é simples e genial), mesmo contando com alguns diálogos expositivos.
A relação entre Fisk e Vanessa (Ayelet Zurer), única mulher capaz de fazer com que ele se mostre mais vulnerável, é apresentada com um nível de tensão altíssima, apesar da sofisticação e de certa carga sexual, mas que só vem a reforçar o nível de ambição de ambos os personagens, inclusive da própria Vanessa cuja moral também não é totalmente defensável. Os roteiristas da série demonstram que sabem construir uma boa dose de expectativa quando a partir de um plano que marca a derrota dos russos em “Hell´s Kitchen” estabelece uma situação em que Matt se encontra encurralado, usando a catarse da situação para alavancar a relação entre os personagens, além de promover o primeiro embate ideológico entre ele e Fisk (e sabiamente não demora muito também para que ambos fiquem frente a frente pela primeira vez). A série sabe fazer o bom uso de eventos passados com a linha narrativa presente, sempre através de uma analogia que ecoa nos eventos atuais (ecos de “Lost”), como quando mostra o reencontro controverso entre Matt e seu tutor Stick (Scott Gleen) ou o nascimento da amizade entre Matt e Foggy (provavelmente o episódio menos marcante da temporada, apesar do seu apelo emocional). Se Wesley ganha uma interpretação refinada por parte do talentoso Toby Leonard Moore, garantindo uma fantástica dinâmica de cena ao lado de D´Onofrio, a participação de Wai Ching Ho empalidece já que a sua atuação burocrática nunca alcança o nível de projeção e importância que o roteiro busca sugerir através da Madame Gao (que também se perde na utilização de diferentes línguas, apesar de usada para construir pequenas, porém dispensáveis surpresas), sendo que Bob Gunton como Leland surge em cena muito mais à vontade e mais eficiente mesmo que em aparições menores.
De todos, o 9º episódio é o mais controverso. O reflexo do episódio anterior é que a figura de Wilson Fisk tornou-se pública e notória, tornando-se uma representação de esperança para a cidade devastada pela violência que o próprio patrocina. Se o mistério em torno de Fisk foi muito bem construído e sustentado até então, o que lhe dava ares ainda mais sombrios, já que não existiam sequer registros da sua existência (o que já era um tremendo exagero!), a partir do momento que ele passa a estar em frente às câmeras, a sua exposição lhe tira um importante álibi, embora não o impeça de agir de forma ditatorial nos bastidores do crime, afinal ele controla polícia, imprensa e justiça. Ainda assim me parece uma guinada muito mais em função do aspecto emocional (influência da chegada de Vanessa em sua vida) do que propriamente uma atitude racional e sensata por parte de Fisk. Aliás, esse é o mesmo “erro” cometido por Matt que tem um conflito moral em função das suas atitudes, até mesmo ecoando com relação a sua fé (bem representado por suas conversas com um padre e uma boa dose de diálogos expositivos), porém ele cai facilmente na armadilha de Fisk justamente por agir de maneira tempestiva, impulsiva e imprudente (e o sorriso de orgulho de Matt quando ouve Karen enaltecendo as virtudes do vigilante mascarado revela sutilmente a influência do seu ego em suas atitudes). Ou seja, a série cria uma sinergia muito forte e importante para reforçar que Matt e Fisk, embora em lados opostos, tem muito mais em comum do que se imagina, especialmente quando eles se mostram em situações mais vulneráveis. E os episódios finais da temporada exploram justamente o impacto provocado por estes “erros” dos personagens através do “rompimento” entre Matt e Foggy e as consequências sofridas pelas pessoas ao redor de Matt e Fisk, ou seja, eles acabam sendo atingidos pelas atitudes emocionais que tomaram, afetando principalmente aqueles que mais amam e mais juraram proteção.
Ao término da 1ª temporada de “Demolidor”, o arco dramático dos personagens se mostra poderoso e autêntico e a evolução da narrativa é extremamente coerente com a proposta sugerida no início, mostrando que a série se sustentou através de argumentos e elementos sólidos, muito bem orquestrados, apesar da complexidade envolvida entre a mistura do universo real e fantástico, e ainda assim dentro de uma lógica interna desenvolvida de uma forma que beira a perfeição. “Demolidor” se mostra uma série inteligente, madura, robusta e extremamente atraente não apenas por acreditar que um único homem e sua fantasia pode fazer a diferença, mas por fazer valer que a essência por trás da máscara (e da série) precisa ser, antes de tudo, honesta, legítima e palpável. E que venham muito mais temporadas.
9.5/10