Luta greco-romana, baseball... Afinal, ligamos para estes esportes? Não interessa, Miller não pensa apenas em seu background esportivo, mas nas pessoas envolvidas nestas histórias.
Em "Moneyball", vemos um Billy Beane que não vê romantismo no esporte, apesar de guardar para si, isolado, os momentos de maior emoção. Passam-se os minutos e percebemos que sua indelicadeza e momentos de explosão são meras defesas criadas após o mesmo rapaz se isolar numa casca grossa e aparentemente inquebrável. Aparentemente. Sua busca é maior, é interna.
Pitt e Hill fazem trabalhos esplêndidos, conferindo aos personagens a verossimilhança e a sensível relação proposta por Miller. E é com diálogos longos e que dizem muito sobre cada um ali presente que Sorkin e Zaillian constroem um roteiro sólido e inteligente.
Sou daqueles que já possuem uma tendência a dar credibilidade e até mesmo concordar com a maioria dos pontos que Moore possa apontar. De qualquer maneira, é necessário diferenciar seu discurso enquanto documentário da forma como o diretor trabalha isto. Neste aspecto, sim, pode soar exagerada ou forçada a forma como "Sicko" tenta quase enfiar sua máxima de que "a saúde nos Estados Unidos é uma merda e que um sistema gratuito e universal é a solução". Por outro lado, Moore o faz muito bem, utilizando de uma vasta pesquisa e de situações em que ele se propõe, como de praxe, a encarnar um personagem real daquelas histórias. Não tem nem como esquecer da belíssima montagem de sua trupe de colaboradores e da forma bem-humorada como o documentário se desenvolve. Ainda assim, não convence ninguém a surpresa de Michael Moore ao "descobrir" que canadenses, britânicos, franceses ou cubanos não pagam nada pelos seus atendimentos.
De qualquer forma, mesmo que você exerça seu direito de discordar o que "Sicko" defende, há de se destacar as qualidades de Moore como documentarista.
Há um quê de absurdidade grande e deliciosamente divertido, coisa que Gilliam e Palim já mostraram dominar nas produções com os demais Monty Python. Mas o que realmente me fez gostar do filme é como a visão do jovem Kevin assume a forma como a trama se desenrola. É legal também observar a ótima dir. de arte de Norman Garwood e toda a ambientação do longa, que o fazem tão eficientemente bonito.
Aventuresco, imaginativo e totalmente escapista, "Os Bandidos do Tempo" merece seu lugar entre os grandes destaques oitentistas de aventura.
Fazer o espectador adentrar num mundo por ele desconhecido e surpreendê-lo com sua beleza e grandiosidade. Walsh e William Cameron trabalham maravilhosamente bem na concepção, construção e na ambientação de "O Ladrão de Bagdad", impressionam até mesmo hoje os truques usados e a coragem de utilizar alguns efeitos ainda pouco explorados na época. Influência clara de Méliès, mas seria menosprezar estas duas e outras cabeças dizer que a maior parte veio do francês.
Ainda assim, é um filme datado, em seu desenvolvimento e no próprio ritmo da história. Creio que somente aqueles que gostam de se aventurar nesse tipo de produção hollywoodiana terão paciência para ver até o final. Apesar de eu não ser um deles, me envolvi com o redondo roteiro de Fairbanks e companhia, que traz ótimos momentos e é bem humorado.
É um filme delicioso de se assistir. Leve, suave e agradável.
Há um tom autobiográfico muito forte em "Chef", coisa que eu só poderia ter certeza vendo o que ainda não vi da filmografia de Favreau. No mais, mesmo que se entregue a alguns modelos e clichês dos mais usados, o filme tem um discurso bem bacana.
O discurso quanto às classes e ao próprio racismo é superficial, apelando em diversos momentos para diálogos bem expositivos - e forçados - dos personagens representantes das minorias abordadas. Porém, "Casa Grande" é um filme muito gostoso de se ver, não sei se foi mais por acompanhar este pequeno pedaço do amadurecimento de Jean ou pela abordagem de Fellipe Barbosa na vazia vida que leva a família do jovem.
Algo que me marcou foi a forma como somos levados a nos apegar bastante àqueles que servem à tal casa. Além de muito bem interpretados, Rita e Severino são personagens densos e que, ao final, tive a vontade de saber um pouco mais da vida de cada um. Fellipe e Karen Sztajnberg desenvolveram bem os personagens.
Pra quem tá reclamando do pôster: vá ver Transformers.
Coloque as atitudes, os pensamentos e o atual momento de Luísa em seu marido. Notou algo de muito diferente dos diversos homens casados que se comportam dessa maneira? O filme de Alberto Salvá não é excelente, passa bem longe disso, na verdade. Mas não deixa de ser interessante a forma como ele quer comentar essas questões ao trazer uma protagonista bem construída e com uma atriz eficiente.
O Padilha não exclui, ele dá voz. Em busca não de provar um ponto, mas de solucionar as questões propostas em sua incessante pesquisa, seu complexo, mutável e incessantemente obscuro objeto mostra que o que vemos é apenas a superfície. Onde ele realmente se esconde é um local tão perigoso quanto os pensamentos errôneos que podem nos desviar de nosso real objetivo: solucioná-lo.
Padilha não é fascista, não é esquerdopata, não faz coitadismo de seus personagens. Ele dá voz. O que não quer dizer que seu discurso também não esteja ali no filme, mas ele não nos reprime, deixa que nossa percepção do caso, com tudo o que já experienciamos e passamos a saber da situação, se prove tão importante quanto sua visão.
Como forma de denunciar e comentar a maneira como enxerga os tais centros psiquiátricos, Laís Bodanzky faz um trabalho memorável quando retrata os delírios, maus tratos e difíceis momentos de Neto nos "hospitais" pelos quais passou. O roteiro de Bolognesi, por outro lado, me pareceu pouco preocupado em desenvolver seus personagens principais nos diálogos, jogando nas costas de seus talentosos atores a responsabilidade de tratá-los com maior densidade. Funciona? Na maior parte, mas a falta de motivação nas ações do pai do protagonista ou a unidimensionalidade de personagens secundários, como os médicos e os amigos de Neto, incomodam.
De qualquer forma, o filme ainda é assustadoramente imersivo e real. Estou curioso quanto aos demais trabalhos desta cineasta, realmente me impressionei com a intensidade das sequências no manicômio e no desenvolvimento da trama.
Apesar de algumas coisas que apontei, que realmente senti que foram chatos deslizes, "Bicho de Sete Cabeças" é extremamente recomendável. Experienciá-lo é uma coisa bem interessante.
Como quem bem precisava de música em sua vida, Barry recebe um piano quase que divinamente colocado em seu caminho. O azul escuro, cor que predomina diversos elementos da vida do protagonista, é misturado aos fortes tons de rosa e vermelho que permeiam as vestimentas de Lena. Seus encontros são mágicos, lindamente fotografados, coisa fina.
É interessante perceber que, mesmo maior e mais intenso, "Magnólia" não é tão conceitual quanto "Embriagado de Amor". O filme de Paul Thomas Anderson estrelado por, quem diria, Adam Sandler estranha bastante durante toda a projeção. Afinal, PTA e Sandler são artistas completamente diferentes (e quanto a um deles tenho bastante receio).
Acontece que o melhor dos dois mundos é trabalhado. Thomas Anderson com seu feroz simbolismo, seu uso intenso das cores e da significação dos cenários e enquadramentos. Sandler com a característica personificação de um sujeito atrapalhado com suas relações amorosas e familiares, que revela até mesmo em seu estranho andar aquilo que tanto o incomoda internamente. Ah, e os personagens instáveis...
Daria pra fazer uma tese de mestrado só com as significações desse filme.
Rever e ainda ser surpreendido, com toda força possível, pela tal sequência.
É mais um filme de Paul Thomas Anderson brincando de dar protagonismo a cada um de seus personagens - e misturar e remisturar suas histórias a fim de explorar o "acaso". Simbolismos e mensagens aparecem a rodo, dão a graça desta linda obra.
Traz também um senso de direção muito mais apurado, que sabe trabalhar os mínimos detalhes cenográficos e proporcionar belas tomadas como aquelas nos corredores do programa de pergunta e resposta.
Me emocionei bastante com o terceiro ato, coisa que eu nem esperava acontecer ao rever. Thomas Anderson é um gênio.
Um filme que pode ser analisado a partir dos inúmeros pontos que apresenta, mas que se destaca em especial pelo contraste "artístico" entre os dois irmãos. Enquanto um é a própria industria cultural, o outro é aquele que a abomina, odeia modelos ou estruturas para roteiros e acredita no filme como arte.
Fica meio difícil pegar no pé do Nicolas Cage nesse, hein?
"Não, Buck, alto é o que não quero. Quero moderado", diz Jack Horner após Buck mostrar que seu rádio pode tocar com um volume maior. De certa forma, isto resume até mesmo o único personagem "moderado" de Boogie Nights. Jack é rodeado de problemáticas pessoas, que vão desde seu assistente de som gay, que agarra Dirk para beijá-lo, até sua esposa, uma atriz pornô que não consegue ver o filho de outro casamento por já ter sido presa, se envolver com drogas ilícitas e pela própria vida na carreira pornográfica. E bem, Dirk Diggler é só um jovem que, até certo momento no filme, ainda nem chegou à maioridade e já trepa diante das câmeras com Amber, que é, vejam bem, a esposa de Jack.
Vi há dois anos e já achava fantástico, mas ainda não havia entendido esta multiplicidade de facetas (inclusive dos próprios personagens). Sem falar que assistir a "Boogie Nights" é quase como ir a uma festa boa, você mal chega e já está na hora de ir embora, e já se passou um bom tempinho. Inclusive, a sequência da primeira festa na casa de Jack é sensacional, como não lembrar da cena em que a câmera está ali como um convidado e o corte só acontece depois que ela mergulha na piscina?
"Sou uma estrela. Sou uma estrela. Uma estrela. Sou uma estrela grande, cintilante e brilhante."
Seu título original é "Sydney". "Hard Eight", segundo Paul, veio depois, por exigência da distribuidora.
Sydney é também o personagem principal da trama, que tem uma suposta "necessidade" de ajudar as outras pessoas disfarçada de um altruísmo duvidoso. Não é à toa que, num primeiro momento, John e Clementine questionem Sydney de possíveis favores sexuais como forma de explicar o porquê daquele velho senhor estar ajudando desconhecidos como eles. "Do you wanna fuck me?", pergunta Clementine logo após o personagem de Philip Baker Hall oferecê-la um lugar para passar a noite.
Por vezes ocultado dos enquadramentos, por outros, exaltados pelos planos de PTA, Sydney é uma figura enigmática. O primeiro longa do cineasta, um estudo deste.
Uma obra que pouco precisa de diálogos, faz da poesia que cria na forma de utilizar o corpo e os cenários sua maneira de tentar contar o que acontece internamente em seus personagens. Ao fim, sentimos e contemplamos mais do que acompanhamos uma história da maneira como somos/fomos acostumados, por mais que, por incrível que pareça, também tenhamos feito isso, mas de uma forma muito mais intensa.
Ah gente, parem de ter ciuminho com filme. Se, de forma indireta, o Tarantino reapresentou este clássico ao mundo, qual o problema? É um filme bom, bem construído e tem uma importância tremenda para a época e para o gênero. Então qual é o grande problema de mais pessoas estarem conhecendo o longa de Corbucci?
De qualquer forma, fiquei surpreso com o que vi. Franco Nero consegue carregar muito bem um personagem enigmático, frio, mas que possui um desenvolvimento interessante, ainda que este tente deixar sua história um pouco obscura aos demais.
O roteiro é MUITO falho, deixa diversos buracos e não se preocupa com as motivações por parte da protagonista. Inspiradíssimos, Baldini e Secco carregam o filme nas costas e até nos fazem relevar as falhas do roteiro. Pena que isso só vai até o terceiro ato.. Quando chegamos ali, não há quem salve o arco dramático bobo, sem explicações e mal desenvolvido que fecha a história que vemos de Raquel.
Uma das provas da versatilidade de Woody. "A Outra" é um longa admirável, que se afunda no interior da mente de seus personagens e as explora sem pudor. Aqui, mais do que em outro filme do diretor, a narração assume um teor literário muito grande, às vezes refletindo a forma "fria e cerebral", como relata o filme, de sua protagonista.
A tal "outra" também assume diversas personalidades, corpos e até situações. E, é claro, há um dos diálogos de Woody que mais me marcou ultimamente:
"E me pus a pensar se a recordação seria algo que se tem ou que se perdeu."
Spurlock já começa seu filme com uma guerra ganha. Afinal, quem não sabe que aquela comida ali é uma merda e que nenhuma pessoa na face da terra poderia se alimentar disso? Porém, seu convencimento funciona ao passo que ele machuca seu próprio corpo para provar seu ponto.
É manjado, tem seus momentos sensacionalistas, espetaculariza muita coisa, etc, etc. Mas tem algo a falar. Bom doc.
A falta de imparcialidade já começa no título. No decorrer do longa, John Dower ainda se esquece dos demais integrantes de todas as bandas apresentadas, se foca demais no embate Blur x Oasis e por aí vai.
Ainda assim, é um filme que recomendo. Vale a pena para conhecer algumas coisas do britpop que passaram batido e até aprender história.
E pensar que Scorsese não queria fazer esse filme de jeito nenhum, hein? Ainda bem que tivemos De Niro, em sua insistência com o cineasta e sua assustadora dedicação ao personagem, para resolver isto. As sequências no ringue são maravilhosamente bem fotografadas, toda a decadência de LaMotta, montadas com eficiência por Schoonmaker.
Um dos melhores filmes de Scorsese. E acreditar que ele quase não fez...
Vocês falam em "infidelidade na adaptação" quando, imagino eu, nunca conseguiriam explicar trechos como "Tô precisando visitar a minha filha / Eu fico aqui e você vai no meu lugar" ou aguentar motivações bobas de determinados personagens.
Sem a preocupação de referenciar forcadamente a canção de Renato, o longa de Sampaio tem um comprometimento somente com ele mesmo. E é numa obra carregada de fantásticas elipses e rimas visuais e sonoras estonteantes que brilham também as atuações de Boliveira, Valverde e Abib.
"Olha pra cá filha da puta, sem vergonha / Dá uma olhada no meu sangue e vem sentir o teu perdão" é um trecho sensacional. Mas não há fala que substitua o incisivo e forte olhar de Boliveira na mesma passagem no longa.
Assim como a música que o inspirou, "Faroeste Caboclo" é grandioso, marcante. Logo em seus primeiros minutos, alguns acordes da canção original são tocados. Somos enganados, só viríamos ouvi-la por completo nos créditos. Veem como há espaço para os dois por ali?
"Anchorman", tanto o primeiro quanto o segundo, trata de momentos importantes, mas abordados de forma satírica, absurda. No filme de 2004, havia uma discussão quanto à notoriedade ganha pela mulher dos anos 70 não somente no jornalismo como no mercado de trabalho em geral. Em "Tudo Por um Furo", é comentado, muito bem pontuadamente, a ascensão de um jornalismo que espetaculariza coisas bobas, mostra "o que as pessoas querem ver, não aquilo que precisam ver".
Mas não são apenas de boas discussões, mesmo que bem engendradas naquela proposta nonsense, que salvam um filme. A obra sofre de um roteiro que basicamente não tem muito o que contar da vida de Ferrell. Enrola demais e deixa o longa cansativo, gastando muito mais tempo do que deveria.
Ainda assim, as atuações fazem de "Tudo Por um Furo" um filme assistível. Se Ferrell, Carell e cia estão surpreendente melhores, as participações especiais são um show à parte.
O Homem que Mudou o Jogo
3.7 931 Assista AgoraLuta greco-romana, baseball... Afinal, ligamos para estes esportes? Não interessa, Miller não pensa apenas em seu background esportivo, mas nas pessoas envolvidas nestas histórias.
Em "Moneyball", vemos um Billy Beane que não vê romantismo no esporte, apesar de guardar para si, isolado, os momentos de maior emoção. Passam-se os minutos e percebemos que sua indelicadeza e momentos de explosão são meras defesas criadas após o mesmo rapaz se isolar numa casca grossa e aparentemente inquebrável. Aparentemente. Sua busca é maior, é interna.
Pitt e Hill fazem trabalhos esplêndidos, conferindo aos personagens a verossimilhança e a sensível relação proposta por Miller. E é com diálogos longos e que dizem muito sobre cada um ali presente que Sorkin e Zaillian constroem um roteiro sólido e inteligente.
Um grande filme.
Sicko - S.O.S. Saúde
4.2 301Sou daqueles que já possuem uma tendência a dar credibilidade e até mesmo concordar com a maioria dos pontos que Moore possa apontar. De qualquer maneira, é necessário diferenciar seu discurso enquanto documentário da forma como o diretor trabalha isto. Neste aspecto, sim, pode soar exagerada ou forçada a forma como "Sicko" tenta quase enfiar sua máxima de que "a saúde nos Estados Unidos é uma merda e que um sistema gratuito e universal é a solução". Por outro lado, Moore o faz muito bem, utilizando de uma vasta pesquisa e de situações em que ele se propõe, como de praxe, a encarnar um personagem real daquelas histórias. Não tem nem como esquecer da belíssima montagem de sua trupe de colaboradores e da forma bem-humorada como o documentário se desenvolve. Ainda assim, não convence ninguém a surpresa de Michael Moore ao "descobrir" que canadenses, britânicos, franceses ou cubanos não pagam nada pelos seus atendimentos.
De qualquer forma, mesmo que você exerça seu direito de discordar o que "Sicko" defende, há de se destacar as qualidades de Moore como documentarista.
Os Bandidos do Tempo
3.4 38Há um quê de absurdidade grande e deliciosamente divertido, coisa que Gilliam e Palim já mostraram dominar nas produções com os demais Monty Python. Mas o que realmente me fez gostar do filme é como a visão do jovem Kevin assume a forma como a trama se desenrola. É legal também observar a ótima dir. de arte de Norman Garwood e toda a ambientação do longa, que o fazem tão eficientemente bonito.
Aventuresco, imaginativo e totalmente escapista, "Os Bandidos do Tempo" merece seu lugar entre os grandes destaques oitentistas de aventura.
O Ladrão de Bagdá
3.9 37 Assista AgoraFazer o espectador adentrar num mundo por ele desconhecido e surpreendê-lo com sua beleza e grandiosidade. Walsh e William Cameron trabalham maravilhosamente bem na concepção, construção e na ambientação de "O Ladrão de Bagdad", impressionam até mesmo hoje os truques usados e a coragem de utilizar alguns efeitos ainda pouco explorados na época. Influência clara de Méliès, mas seria menosprezar estas duas e outras cabeças dizer que a maior parte veio do francês.
Ainda assim, é um filme datado, em seu desenvolvimento e no próprio ritmo da história. Creio que somente aqueles que gostam de se aventurar nesse tipo de produção hollywoodiana terão paciência para ver até o final. Apesar de eu não ser um deles, me envolvi com o redondo roteiro de Fairbanks e companhia, que traz ótimos momentos e é bem humorado.
Chef
3.7 784 Assista AgoraÉ um filme delicioso de se assistir. Leve, suave e agradável.
Há um tom autobiográfico muito forte em "Chef", coisa que eu só poderia ter certeza vendo o que ainda não vi da filmografia de Favreau. No mais, mesmo que se entregue a alguns modelos e clichês dos mais usados, o filme tem um discurso bem bacana.
Recomendo bastante.
Casa Grande
3.5 576 Assista AgoraO discurso quanto às classes e ao próprio racismo é superficial, apelando em diversos momentos para diálogos bem expositivos - e forçados - dos personagens representantes das minorias abordadas. Porém, "Casa Grande" é um filme muito gostoso de se ver, não sei se foi mais por acompanhar este pequeno pedaço do amadurecimento de Jean ou pela abordagem de Fellipe Barbosa na vazia vida que leva a família do jovem.
Algo que me marcou foi a forma como somos levados a nos apegar bastante àqueles que servem à tal casa. Além de muito bem interpretados, Rita e Severino são personagens densos e que, ao final, tive a vontade de saber um pouco mais da vida de cada um. Fellipe e Karen Sztajnberg desenvolveram bem os personagens.
Pra quem tá reclamando do pôster: vá ver Transformers.
Inquietações de uma Mulher Casada
2.9 5Legal mesmo é trocar os papeis.
Coloque as atitudes, os pensamentos e o atual momento de Luísa em seu marido. Notou algo de muito diferente dos diversos homens casados que se comportam dessa maneira? O filme de Alberto Salvá não é excelente, passa bem longe disso, na verdade. Mas não deixa de ser interessante a forma como ele quer comentar essas questões ao trazer uma protagonista bem construída e com uma atriz eficiente.
Ônibus 174
3.9 297O Padilha não exclui, ele dá voz. Em busca não de provar um ponto, mas de solucionar as questões propostas em sua incessante pesquisa, seu complexo, mutável e incessantemente obscuro objeto mostra que o que vemos é apenas a superfície. Onde ele realmente se esconde é um local tão perigoso quanto os pensamentos errôneos que podem nos desviar de nosso real objetivo: solucioná-lo.
Padilha não é fascista, não é esquerdopata, não faz coitadismo de seus personagens. Ele dá voz. O que não quer dizer que seu discurso também não esteja ali no filme, mas ele não nos reprime, deixa que nossa percepção do caso, com tudo o que já experienciamos e passamos a saber da situação, se prove tão importante quanto sua visão.
Bicho de Sete Cabeças
4.0 1,1K Assista AgoraComo forma de denunciar e comentar a maneira como enxerga os tais centros psiquiátricos, Laís Bodanzky faz um trabalho memorável quando retrata os delírios, maus tratos e difíceis momentos de Neto nos "hospitais" pelos quais passou. O roteiro de Bolognesi, por outro lado, me pareceu pouco preocupado em desenvolver seus personagens principais nos diálogos, jogando nas costas de seus talentosos atores a responsabilidade de tratá-los com maior densidade. Funciona? Na maior parte, mas a falta de motivação nas ações do pai do protagonista ou a unidimensionalidade de personagens secundários, como os médicos e os amigos de Neto, incomodam.
De qualquer forma, o filme ainda é assustadoramente imersivo e real. Estou curioso quanto aos demais trabalhos desta cineasta, realmente me impressionei com a intensidade das sequências no manicômio e no desenvolvimento da trama.
Apesar de algumas coisas que apontei, que realmente senti que foram chatos deslizes, "Bicho de Sete Cabeças" é extremamente recomendável. Experienciá-lo é uma coisa bem interessante.
Embriagado de Amor
3.6 479 Assista AgoraComo quem bem precisava de música em sua vida, Barry recebe um piano quase que divinamente colocado em seu caminho. O azul escuro, cor que predomina diversos elementos da vida do protagonista, é misturado aos fortes tons de rosa e vermelho que permeiam as vestimentas de Lena. Seus encontros são mágicos, lindamente fotografados, coisa fina.
É interessante perceber que, mesmo maior e mais intenso, "Magnólia" não é tão conceitual quanto "Embriagado de Amor". O filme de Paul Thomas Anderson estrelado por, quem diria, Adam Sandler estranha bastante durante toda a projeção. Afinal, PTA e Sandler são artistas completamente diferentes (e quanto a um deles tenho bastante receio).
Acontece que o melhor dos dois mundos é trabalhado. Thomas Anderson com seu feroz simbolismo, seu uso intenso das cores e da significação dos cenários e enquadramentos. Sandler com a característica personificação de um sujeito atrapalhado com suas relações amorosas e familiares, que revela até mesmo em seu estranho andar aquilo que tanto o incomoda internamente. Ah, e os personagens instáveis...
Daria pra fazer uma tese de mestrado só com as significações desse filme.
Magnólia
4.1 1,3K Assista AgoraRever e ainda ser surpreendido, com toda força possível, pela tal sequência.
É mais um filme de Paul Thomas Anderson brincando de dar protagonismo a cada um de seus personagens - e misturar e remisturar suas histórias a fim de explorar o "acaso". Simbolismos e mensagens aparecem a rodo, dão a graça desta linda obra.
Traz também um senso de direção muito mais apurado, que sabe trabalhar os mínimos detalhes cenográficos e proporcionar belas tomadas como aquelas nos corredores do programa de pergunta e resposta.
Me emocionei bastante com o terceiro ato, coisa que eu nem esperava acontecer ao rever. Thomas Anderson é um gênio.
Adaptação.
3.9 707 Assista AgoraUm filme que pode ser analisado a partir dos inúmeros pontos que apresenta, mas que se destaca em especial pelo contraste "artístico" entre os dois irmãos. Enquanto um é a própria industria cultural, o outro é aquele que a abomina, odeia modelos ou estruturas para roteiros e acredita no filme como arte.
Fica meio difícil pegar no pé do Nicolas Cage nesse, hein?
Boogie Nights: Prazer Sem Limites
4.0 551 Assista Agora"Não, Buck, alto é o que não quero. Quero moderado", diz Jack Horner após Buck mostrar que seu rádio pode tocar com um volume maior. De certa forma, isto resume até mesmo o único personagem "moderado" de Boogie Nights. Jack é rodeado de problemáticas pessoas, que vão desde seu assistente de som gay, que agarra Dirk para beijá-lo, até sua esposa, uma atriz pornô que não consegue ver o filho de outro casamento por já ter sido presa, se envolver com drogas ilícitas e pela própria vida na carreira pornográfica. E bem, Dirk Diggler é só um jovem que, até certo momento no filme, ainda nem chegou à maioridade e já trepa diante das câmeras com Amber, que é, vejam bem, a esposa de Jack.
Vi há dois anos e já achava fantástico, mas ainda não havia entendido esta multiplicidade de facetas (inclusive dos próprios personagens). Sem falar que assistir a "Boogie Nights" é quase como ir a uma festa boa, você mal chega e já está na hora de ir embora, e já se passou um bom tempinho. Inclusive, a sequência da primeira festa na casa de Jack é sensacional, como não lembrar da cena em que a câmera está ali como um convidado e o corte só acontece depois que ela mergulha na piscina?
"Sou uma estrela. Sou uma estrela. Uma estrela. Sou uma estrela grande, cintilante e brilhante."
Jogada de Risco
3.6 102 Assista AgoraSeu título original é "Sydney". "Hard Eight", segundo Paul, veio depois, por exigência da distribuidora.
Sydney é também o personagem principal da trama, que tem uma suposta "necessidade" de ajudar as outras pessoas disfarçada de um altruísmo duvidoso. Não é à toa que, num primeiro momento, John e Clementine questionem Sydney de possíveis favores sexuais como forma de explicar o porquê daquele velho senhor estar ajudando desconhecidos como eles. "Do you wanna fuck me?", pergunta Clementine logo após o personagem de Philip Baker Hall oferecê-la um lugar para passar a noite.
Por vezes ocultado dos enquadramentos, por outros, exaltados pelos planos de PTA, Sydney é uma figura enigmática. O primeiro longa do cineasta, um estudo deste.
Nada Pessoal
4.0 157Uma obra que pouco precisa de diálogos, faz da poesia que cria na forma de utilizar o corpo e os cenários sua maneira de tentar contar o que acontece internamente em seus personagens. Ao fim, sentimos e contemplamos mais do que acompanhamos uma história da maneira como somos/fomos acostumados, por mais que, por incrível que pareça, também tenhamos feito isso, mas de uma forma muito mais intensa.
Django
3.9 202 Assista AgoraAh gente, parem de ter ciuminho com filme. Se, de forma indireta, o Tarantino reapresentou este clássico ao mundo, qual o problema? É um filme bom, bem construído e tem uma importância tremenda para a época e para o gênero. Então qual é o grande problema de mais pessoas estarem conhecendo o longa de Corbucci?
De qualquer forma, fiquei surpreso com o que vi. Franco Nero consegue carregar muito bem um personagem enigmático, frio, mas que possui um desenvolvimento interessante, ainda que este tente deixar sua história um pouco obscura aos demais.
Recomendo.
Bruna Surfistinha
2.9 3,0K Assista AgoraO roteiro é MUITO falho, deixa diversos buracos e não se preocupa com as motivações por parte da protagonista. Inspiradíssimos, Baldini e Secco carregam o filme nas costas e até nos fazem relevar as falhas do roteiro. Pena que isso só vai até o terceiro ato.. Quando chegamos ali, não há quem salve o arco dramático bobo, sem explicações e mal desenvolvido que fecha a história que vemos de Raquel.
A Outra
3.8 146Uma das provas da versatilidade de Woody. "A Outra" é um longa admirável, que se afunda no interior da mente de seus personagens e as explora sem pudor. Aqui, mais do que em outro filme do diretor, a narração assume um teor literário muito grande, às vezes refletindo a forma "fria e cerebral", como relata o filme, de sua protagonista.
A tal "outra" também assume diversas personalidades, corpos e até situações. E, é claro, há um dos diálogos de Woody que mais me marcou ultimamente:
"E me pus a pensar se a recordação seria algo que se tem ou que se perdeu."
Super Size Me - A Dieta do Palhaço
3.7 496 Assista AgoraSpurlock já começa seu filme com uma guerra ganha. Afinal, quem não sabe que aquela comida ali é uma merda e que nenhuma pessoa na face da terra poderia se alimentar disso? Porém, seu convencimento funciona ao passo que ele machuca seu próprio corpo para provar seu ponto.
É manjado, tem seus momentos sensacionalistas, espetaculariza muita coisa, etc, etc. Mas tem algo a falar. Bom doc.
Live Forever: The Rise and Fall of Brit Pop
4.2 6A falta de imparcialidade já começa no título. No decorrer do longa, John Dower ainda se esquece dos demais integrantes de todas as bandas apresentadas, se foca demais no embate Blur x Oasis e por aí vai.
Ainda assim, é um filme que recomendo. Vale a pena para conhecer algumas coisas do britpop que passaram batido e até aprender história.
Vício Inerente
3.5 554 Assista AgoraQue demora inexplicável pra chegar aqui, hein? Estou lendo o livro, que já é loucaço, e imagino como deve ter ficado nas mãos do PTA.
Touro Indomável
4.2 708 Assista AgoraE pensar que Scorsese não queria fazer esse filme de jeito nenhum, hein? Ainda bem que tivemos De Niro, em sua insistência com o cineasta e sua assustadora dedicação ao personagem, para resolver isto. As sequências no ringue são maravilhosamente bem fotografadas, toda a decadência de LaMotta, montadas com eficiência por Schoonmaker.
Um dos melhores filmes de Scorsese. E acreditar que ele quase não fez...
Faroeste Caboclo
3.2 2,4KVocês falam em "infidelidade na adaptação" quando, imagino eu, nunca conseguiriam explicar trechos como "Tô precisando visitar a minha filha / Eu fico aqui e você vai no meu lugar" ou aguentar motivações bobas de determinados personagens.
Sem a preocupação de referenciar forcadamente a canção de Renato, o longa de Sampaio tem um comprometimento somente com ele mesmo. E é numa obra carregada de fantásticas elipses e rimas visuais e sonoras estonteantes que brilham também as atuações de Boliveira, Valverde e Abib.
"Olha pra cá filha da puta, sem vergonha / Dá uma olhada no meu sangue e vem sentir o teu perdão" é um trecho sensacional. Mas não há fala que substitua o incisivo e forte olhar de Boliveira na mesma passagem no longa.
Assim como a música que o inspirou, "Faroeste Caboclo" é grandioso, marcante. Logo em seus primeiros minutos, alguns acordes da canção original são tocados. Somos enganados, só viríamos ouvi-la por completo nos créditos. Veem como há espaço para os dois por ali?
Tudo por um Furo
3.2 340 Assista Agora"Anchorman", tanto o primeiro quanto o segundo, trata de momentos importantes, mas abordados de forma satírica, absurda. No filme de 2004, havia uma discussão quanto à notoriedade ganha pela mulher dos anos 70 não somente no jornalismo como no mercado de trabalho em geral. Em "Tudo Por um Furo", é comentado, muito bem pontuadamente, a ascensão de um jornalismo que espetaculariza coisas bobas, mostra "o que as pessoas querem ver, não aquilo que precisam ver".
Mas não são apenas de boas discussões, mesmo que bem engendradas naquela proposta nonsense, que salvam um filme. A obra sofre de um roteiro que basicamente não tem muito o que contar da vida de Ferrell. Enrola demais e deixa o longa cansativo, gastando muito mais tempo do que deveria.
Ainda assim, as atuações fazem de "Tudo Por um Furo" um filme assistível. Se Ferrell, Carell e cia estão surpreendente melhores, as participações especiais são um show à parte.