“Robot Dreams” diz muito, tem um “volume” muito alto e reflexivo, sem um diálogo sequer presente. Pablo Berger oferece um olhar melancólico e delicado sobre amor, solidão, amizade. E é muito fácil se identificar com o cachorro e mesmo com o robô.
A narrativa tem certa intensidade, algumas pitadas de emoção, e é capaz de deixar o público bastante irritado também. Possui uma atmosfera bem densa, e Leonie Benesch faz um trabalho excepcional à frente do elenco – assim como as crianças que possuem algum destaque ao longo da projeção.
Não sei o quão exagerado está a retratação do sistema educacional alemão, mas se for como vemos aqui, é muito frustrante. Faltou resolução para a trama, embora seu desfecho também possa ser interpretado como uma crítica à forma como professores e diretores lidam com as demandas dos alunos.
Terminei o filme me sentindo desolado de verdade. Delicado, sensível, reflexivo, autêntico. Os diálogos entre os personagens são tão naturais, objetivos e reais, e o elenco faz um trabalho belíssimo ao evocar e transparecer o que estão sentindo – até mesmo em cenas que não dizem absolutamente nada, onde temos apenas o silêncio, que ao mesmo tempo quer dizer muito.
São personagens ricos em camadas, nuances, de fácil identificação e que permitem um misto de emoções ao longo de toda a projeção. A narrativa consegue captar perfeitamente a ansiedade, a falta, os famosos “e se?” que surgem nas nossas vidas quando pensamos em caminhos que não percorremos, mas que eram uma possibilidade. E todos nós somos vulneráveis, já que confrontar as próprias escolhas é absolutamente comum do ser humano. Essa revisita não significa necessariamente algo ruim, mas o filme mostra habilmente que existe certa beleza nesta contemplação, possibilitando que os personagens encontrem algum conforto naquilo que eles não trilharam.
Animação inteligente, que utiliza um conceito que já conhecemos, mas que foi muito bem implementado na narrativa. O roteiro tem pitadas inspiradas de comédia e ainda conta com um elenco carismático. Um achado, que talvez não desse tão certo se a ideia estivesse nas mãos de um outro estúdio.
Achei tão Oscar bait. Existe com o intuito exclusivo de ser reconhecido em premiações, e essa é uma história que merecia ser tratada com mais impacto e honestidade. Não que seja ruim, temos temas importantes sendo abordados e uma atuação digna do Colman Domingo, que fazem o longa valer a pena. O ponto alto deveria ser a Marcha, mas aqui ela é retratada superficialmente, de um jeito muito menor do que foi de verdade. O que é uma pena.
Interessante toda a ideia do documentário, e bem diferente do que estamos habituados a ver. A narrativa não aprofunda de verdade as razões da radicalização de duas das filhas do título, mas é hábil ao abordar a relação entre as outras duas e também os questionamentos da Olfa como mãe. São "personagens" envolventes, o que torna o filme mais fuido.
Esse filme é um grande estudo de personagem. Com uma trama bem difícil de digerir desde seus primeiros minutos, mas que consegue prender durante as 2 horas de duração. São temas fortes que estão sendo tratados aqui, embalados por uma atmosfera sombria, cenas dinâmicas e rápidas. Aliás, a direção é realmente caprichada, com planos inspirados e vários deles contendo simbolismos interessantes para a narrativa – a parte dos espelhos e das borboletas presas escancaram isso perfeitamente.
O roteiro é muito hábil na construção e desenvolvimento de todos os personagens envolvidos. As cenas são construídas nesse objetivo e alcançam isso muito bem. Toda interação entre Elizabeth (Portman) e Joe (Melton), duas pessoas com a mesma idade, mas distantes intelectualmente, seja em maturidade ou postura, foi interessantíssimo de observar. É doloroso ver que Joe não teve a oportunidade de crescer como deveria, já que muito novo ele teve sua infância e inocência arrancadas dele por uma predadora manipuladora e desequilibrada, que é a Gracie (Moore). Joe é incapaz de manter uma conversa adulta, objetiva, ao passo que Elizabeth domina a comunicação – e quer exemplo melhor do que o monólogo que ela faz durante uma palestra para alunos de teatro? Que, diga-se de passagem, também é uma sequência muito eficaz pra demonstrar a diferença de maturidade entre gêneros naquela idade específica.
Enquanto isso, Gracie é desprezível e sempre apresentada como uma criatura que tenta convencer as pessoas de que é ingênua, inocente, quando na verdade ela está apenas se preparando pra dar um bote a qualquer momento – pois ela, sim, “é uma daquelas cobras”. O momento em que Joe tenta conversar com ela sobre o que aconteceu é doloroso e revoltante, pois o vemos em absoluto sofrimento e agonia, compreendendo que ele foi uma vítima de abuso e perdeu mais da metade de sua vida preso dentro de uma ilusão que aquela mulher criou. E nesse mesmo instante, temos que aturar Gracie dando uma de ofendida, na defensiva, sempre apontando o dedo e culpando os outros pelos próprios erros. E conforme o longa avança, podemos acompanhar como estar dentro daquela narrativa absurda acaba afetando Elizabeth, que assim como a própria comentou na palestra do teatro, sobre ficção e realidade acabarem se fundindo quando um ator se entrega completamente a um personagem.
Natalie Portman, Julianne Moore e Charles Melton estão irretocáveis em suas composições – a ponto de me deixar frustrado por eles terem sido esnobados pelo Oscar esse ano. São personagens complexos, passando por uma situação delicada, com tonalidades e nuances diferentes surgindo a cada nova cena. Melton, especialmente, me sensibilizou bastante.
Temos ainda uma trilha sonora envolvente e uma fotografia inspirada. Minha única lamentação é que quando estamos nos aproximando do final, parece que vai haver um grande clímax e ele não existe de verdade. É como se o filme termina, mas ainda tinha algo pra contar. Eu particularmente gostaria de ver o Joe desabrochando e se libertando como uma de suas borboletas. Mas acho que o propósito não era esse, no desenvolvimento da história. Um grande filme ainda assim.
Angustiante e emocionalmente. Triste de encarar o que os garotos vivenciaram no filme, levando em conta que muitas pessoas devem ter experenciado o mesmo na vida real.
É uma sátira que exige certo conhecimento prévio da história do Chile e do ditador Augusto Pinochet. Como brasileiro consegui fazer algumas associações com certa família que anda por aí. Mas é isso.
A premissa do filme não foi suficiente pra me manter focado durante as duas horas de projeção.
A fórmula do filme é batida e super previsível, mas ainda assim faz com que funcione. Mérito da direção que consegue captar muito bem e evocar para o público o que o objetivo da Diana Nyad representa.
E aí entra a atuação forte e inspirada de Annette Bening, porque convenhamos: é um papel difícil, uma vez que Nyad é cheia de nuances diferentes. E a química com Jodie Foster funcionou muito bem.
Tão excepcional pelo simples fato de ser... comum. Belíssimo em sua simplicidade, que ganha MUITO com uma atuação delicada e dedicada de Koji Yakusho. Um momento de silêncio pode sempre ter muita força e o filme prova isso constantemente.
Possivelmente o documentário mais pesado e frustrante dentre os indicados ao Oscar este ano. Difícil encarar essa história, que já é cruel por si só pela prática criminosa de estupro contra uma menina de 13 anos.
Mas os comentários de pessoas que defendem os criminosos são repugnantes, assim como ver uma mulher afirmar conscientemente que a vítima é culpada pela violência que sofreu.
O filme só peca em sua duração, já que em determinado momento você sente que aquilo tá se “arrastando”. Mas temos aqui um material forte, que inclusive serve até pra estudo de análise do ser humano.
É interessante o aconchego que esse filme proporciona do início ao fim, levando em conta que foca principalmente em três personagens durante toda a projeção, que estão isolados em um colégio interno durante o recesso de fim de ano, justamente o Natal. Tinha tudo pra ganhar uma atmosfera fria e depressiva. Mas o caminho é inverso.
São personagens humanos, que possuem falhas, mas são simpáticos cada um à sua maneira. E o filme desenvolve cada um deles muito bem, através de diálogos dinâmicos e interações orgânicas, somando a uma interpretação realmente tocante e delicada de Paul Giamatti, Da’Vine Joy Randolph e Dominic Sessa, não tem como dar errado.
Conforme a história avança, vários temas vão sendo discutidos através do que os personagens estão enfrentando pessoalmente. Temos questão de abandono parental, perda familiar, depressão, tudo discutido de um jeito consciente. E também algumas lições sobre família, reciprocidade, conexão.
Design de produção caprichado. Achei interessante demais o mundo futurístico criado pro filme. Os dois primeiros atos caminham muito bem, o terceiro deixa um pouco a desejar com algumas decisões óbvias. John David Washington e Madeleine Yuna Voyles seguram bem o filme, já que a dinâmica dos personagens é bem desenvolvida.
Não tem compromisso nenhum com fatos e realizações históricas de Napoleão. Bagunçado em sua linha do tempo, com uma duração que acaba deixando o filme bem inchado. Ninguém duvida do talento cênico de Joaquin Phoenix, mas particularmente acho que poderia ter dado um tom diferente na composição do personagem, no lugar da apatia.
Vale por algumas das cenas de confronto (são várias, mas nem todas funcionam como deveriam).
Cara, fiquei impressionado demais com o filme. Fui assistir sem saber basicamente nada sobre ele, e me prendeu de uma forma absurda, nem senti o tempo passar. O mais curioso é que tem um tema muito semelhante ao filme “Barbie”: mulheres determinadas que buscam seu lugar no mundo, e acabam descobrindo onde pertencem (e como pertencem) depois de uma longa, mas divertida jornada. A diferença é que aqui temos cenas muito mais ousadas e pesadas.
Emma Stone sempre perfeita em tudo o que se propõe, e acredito que aqui ela se sobressaiu em relação à toda sua carreira. Mark Ruffalo tem as melhores caras e bocas, as reações de seu personagem a tudo o que acontece são impagáveis e tiram gargalhadas sem soar forçado. Aliás, o humor funciona tão bem porque tudo é muito absurdo, mas ainda assim cativante. Temos uma junção perfeita de texto, direção, atuação. E um design de produção arrebatador. Figurinos, cenários... Tudo impecável.
Tina Fey faz uma comédia única, toda trabalhada em cima de reações com humor involuntário principalmente – e é o meu tipo favorito. O filme é criativo, as atrizes são carismáticas (Reneé Rapp, Avantika e Bebe Wood se destacam MUITO). As músicas ficam na cabeça fácil – Regina George que o diga. Saí do cinema com vontade de assistir de novo, e isso já é dizer muito.
Filme muito tocante, pessoal, e não é apelativo. Acompanhar esse grande momento da vida de Jon Batiste enquanto ao mesmo tempo ele precisa lidar e estar presente para a esposa, que luta contra um câncer, foi de certa forma inspirador. Além disso, a música que embala todo o longa é fascinante.
Vale pela atuação da Helen Mirren, o trabalho de maquiagem que realizaram nela é impecável, ela ficou muito diferente. E também a trilha sonora que é hábil em evocar tensão em alguns momentos específicos.
Acho que a probabilidade real de acontecer na vida de um trabalhador comum o que aconteceu com Richard Montañez, é 1 em 1 bilhão. Mas independente disso, é um filme que conta com personagens carismáticos e uma história que se desenvolve muito bem. Você se pega torcendo pra que as coisas comecem a funcionar pra família Montañez.
Devastador. Impressionante como essa doença é traiçoeira e até irônica, afetando um homem que lutou tanto para que as pessoas não esquecem o horror de um governo opressor (e assim não permitissem que aquilo fosse vivido de novo), agora vê suas próprias memórias sendo apagadas sem nada que possa fazer pra impedir.
Ao mesmo tempo, um filme sensível pela dedicação e amor da Paulina pelo Augusto. Impossível terminar sem algumas lágrimas escorrendo.
Que belíssimo trabalho da Sandra Hüller na composição da personagem Sandra. Pra mim foi um deleite vê-la evocando, mas ao mesmo tempo escondendo, a fragilidade de uma mulher traumatizada que acabou de passar por um evento traumático e nem sequer pode senti-lo. Todas as cenas do julgamento servem como exemplo de como se entregar de corpo e alma a uma personagem.
O roteiro do filme é irretocável. Eu gostei demais de como o texto desafia o público a questionar tudo o que está acontecendo ali. Primeiro, sobre quem. E depois, como um dos personagem aponta, sobre o como, sobre o motivo. Mesmo quando há uma resolução, ainda assim nos vemos na dúvida, embora as evidências sejam fortes.
A decisão da diretora Justine Triet de filmar o longa como se fosse um documentário funciona perfeitamente, uma vez que aproxima o público daqueles personagens. E a fotografia fria contribuiu pro clima crescente de tensão que a história exigia.
Filme tocante, delicado, e respeitoso em face ao peso que essa história representa. Eu mesmo não conhecia essa tragédia e fiquei chocado não só com o descaso das autoridades na época (e acredito que algumas políticas mudaram desde então), mas com o que esses homens tiveram que fazer pra conseguir sobreviver. O mérito da direção e do roteiro é que em momento algum eles tentam chocar o público por chocar. O horror tá ali presente porque é horrível por si só. Não é necessário fazer um espetáculo em cima disso, e J.A. Bayona demonstra entender esse tópico muito bem.
Terminei o filme sensibilizado de verdade e reflexivo sobre tudo o que foi nos mostrado aqui. E isso quer dizer MUITO.
Bradley Cooper peca na direção, mas não tenho o que reclamar da composição dele para o Bernstein. Se entregou totalmente. Carey Mulligan, no entanto, acaba roubando a cena dele com sua Felicia, em uma atuação devastadora e sensível.
O filme como um todo não é nada extraordinário, só é inchado, acaba se arrastando muito tempo antes de terminar.
Meu Amigo Robô
4.0 84“Robot Dreams” diz muito, tem um “volume” muito alto e reflexivo, sem um diálogo sequer presente. Pablo Berger oferece um olhar melancólico e delicado sobre amor, solidão, amizade. E é muito fácil se identificar com o cachorro e mesmo com o robô.
A Sala dos Professores
3.9 139 Assista AgoraA narrativa tem certa intensidade, algumas pitadas de emoção, e é capaz de deixar o público bastante irritado também. Possui uma atmosfera bem densa, e Leonie Benesch faz um trabalho excepcional à frente do elenco – assim como as crianças que possuem algum destaque ao longo da projeção.
Não sei o quão exagerado está a retratação do sistema educacional alemão, mas se for como vemos aqui, é muito frustrante. Faltou resolução para a trama, embora seu desfecho também possa ser interpretado como uma crítica à forma como professores e diretores lidam com as demandas dos alunos.
Vidas Passadas
4.2 752 Assista AgoraTerminei o filme me sentindo desolado de verdade. Delicado, sensível, reflexivo, autêntico. Os diálogos entre os personagens são tão naturais, objetivos e reais, e o elenco faz um trabalho belíssimo ao evocar e transparecer o que estão sentindo – até mesmo em cenas que não dizem absolutamente nada, onde temos apenas o silêncio, que ao mesmo tempo quer dizer muito.
São personagens ricos em camadas, nuances, de fácil identificação e que permitem um misto de emoções ao longo de toda a projeção. A narrativa consegue captar perfeitamente a ansiedade, a falta, os famosos “e se?” que surgem nas nossas vidas quando pensamos em caminhos que não percorremos, mas que eram uma possibilidade. E todos nós somos vulneráveis, já que confrontar as próprias escolhas é absolutamente comum do ser humano. Essa revisita não significa necessariamente algo ruim, mas o filme mostra habilmente que existe certa beleza nesta contemplação, possibilitando que os personagens encontrem algum conforto naquilo que eles não trilharam.
Nimona
4.1 234 Assista AgoraAnimação inteligente, que utiliza um conceito que já conhecemos, mas que foi muito bem implementado na narrativa. O roteiro tem pitadas inspiradas de comédia e ainda conta com um elenco carismático. Um achado, que talvez não desse tão certo se a ideia estivesse nas mãos de um outro estúdio.
Rustin
3.3 81 Assista AgoraAchei tão Oscar bait. Existe com o intuito exclusivo de ser reconhecido em premiações, e essa é uma história que merecia ser tratada com mais impacto e honestidade. Não que seja ruim, temos temas importantes sendo abordados e uma atuação digna do Colman Domingo, que fazem o longa valer a pena. O ponto alto deveria ser a Marcha, mas aqui ela é retratada superficialmente, de um jeito muito menor do que foi de verdade. O que é uma pena.
As 4 Filhas de Olfa
3.8 35 Assista AgoraInteressante toda a ideia do documentário, e bem diferente do que estamos habituados a ver. A narrativa não aprofunda de verdade as razões da radicalização de duas das filhas do título, mas é hábil ao abordar a relação entre as outras duas e também os questionamentos da Olfa como mãe. São "personagens" envolventes, o que torna o filme mais fuido.
Segredos de um Escândalo
3.5 317 Assista AgoraEsse filme é um grande estudo de personagem. Com uma trama bem difícil de digerir desde seus primeiros minutos, mas que consegue prender durante as 2 horas de duração. São temas fortes que estão sendo tratados aqui, embalados por uma atmosfera sombria, cenas dinâmicas e rápidas. Aliás, a direção é realmente caprichada, com planos inspirados e vários deles contendo simbolismos interessantes para a narrativa – a parte dos espelhos e das borboletas presas escancaram isso perfeitamente.
O roteiro é muito hábil na construção e desenvolvimento de todos os personagens envolvidos. As cenas são construídas nesse objetivo e alcançam isso muito bem. Toda interação entre Elizabeth (Portman) e Joe (Melton), duas pessoas com a mesma idade, mas distantes intelectualmente, seja em maturidade ou postura, foi interessantíssimo de observar. É doloroso ver que Joe não teve a oportunidade de crescer como deveria, já que muito novo ele teve sua infância e inocência arrancadas dele por uma predadora manipuladora e desequilibrada, que é a Gracie (Moore). Joe é incapaz de manter uma conversa adulta, objetiva, ao passo que Elizabeth domina a comunicação – e quer exemplo melhor do que o monólogo que ela faz durante uma palestra para alunos de teatro? Que, diga-se de passagem, também é uma sequência muito eficaz pra demonstrar a diferença de maturidade entre gêneros naquela idade específica.
Enquanto isso, Gracie é desprezível e sempre apresentada como uma criatura que tenta convencer as pessoas de que é ingênua, inocente, quando na verdade ela está apenas se preparando pra dar um bote a qualquer momento – pois ela, sim, “é uma daquelas cobras”. O momento em que Joe tenta conversar com ela sobre o que aconteceu é doloroso e revoltante, pois o vemos em absoluto sofrimento e agonia, compreendendo que ele foi uma vítima de abuso e perdeu mais da metade de sua vida preso dentro de uma ilusão que aquela mulher criou. E nesse mesmo instante, temos que aturar Gracie dando uma de ofendida, na defensiva, sempre apontando o dedo e culpando os outros pelos próprios erros. E conforme o longa avança, podemos acompanhar como estar dentro daquela narrativa absurda acaba afetando Elizabeth, que assim como a própria comentou na palestra do teatro, sobre ficção e realidade acabarem se fundindo quando um ator se entrega completamente a um personagem.
Natalie Portman, Julianne Moore e Charles Melton estão irretocáveis em suas composições – a ponto de me deixar frustrado por eles terem sido esnobados pelo Oscar esse ano. São personagens complexos, passando por uma situação delicada, com tonalidades e nuances diferentes surgindo a cada nova cena. Melton, especialmente, me sensibilizou bastante.
Temos ainda uma trilha sonora envolvente e uma fotografia inspirada. Minha única lamentação é que quando estamos nos aproximando do final, parece que vai haver um grande clímax e ele não existe de verdade. É como se o filme termina, mas ainda tinha algo pra contar. Eu particularmente gostaria de ver o Joe desabrochando e se libertando como uma de suas borboletas. Mas acho que o propósito não era esse, no desenvolvimento da história. Um grande filme ainda assim.
Eu, Capitão
4.0 70 Assista AgoraAngustiante e emocionalmente. Triste de encarar o que os garotos vivenciaram no filme, levando em conta que muitas pessoas devem ter experenciado o mesmo na vida real.
O Conde
3.2 95 Assista AgoraÉ uma sátira que exige certo conhecimento prévio da história do Chile e do ditador Augusto Pinochet. Como brasileiro consegui fazer algumas associações com certa família que anda por aí. Mas é isso.
A premissa do filme não foi suficiente pra me manter focado durante as duas horas de projeção.
NYAD
3.7 153A fórmula do filme é batida e super previsível, mas ainda assim faz com que funcione. Mérito da direção que consegue captar muito bem e evocar para o público o que o objetivo da Diana Nyad representa.
E aí entra a atuação forte e inspirada de Annette Bening, porque convenhamos: é um papel difícil, uma vez que Nyad é cheia de nuances diferentes. E a química com Jodie Foster funcionou muito bem.
Vale como entretenimento.
Dias Perfeitos
4.2 282 Assista AgoraTão excepcional pelo simples fato de ser... comum. Belíssimo em sua simplicidade, que ganha MUITO com uma atuação delicada e dedicada de Koji Yakusho. Um momento de silêncio pode sempre ter muita força e o filme prova isso constantemente.
Matar um Tigre
3.8 28 Assista AgoraPossivelmente o documentário mais pesado e frustrante dentre os indicados ao Oscar este ano. Difícil encarar essa história, que já é cruel por si só pela prática criminosa de estupro contra uma menina de 13 anos.
Mas os comentários de pessoas que defendem os criminosos são repugnantes, assim como ver uma mulher afirmar conscientemente que a vítima é culpada pela violência que sofreu.
O filme só peca em sua duração, já que em determinado momento você sente que aquilo tá se “arrastando”. Mas temos aqui um material forte, que inclusive serve até pra estudo de análise do ser humano.
Os Rejeitados
4.0 319 Assista AgoraÉ interessante o aconchego que esse filme proporciona do início ao fim, levando em conta que foca principalmente em três personagens durante toda a projeção, que estão isolados em um colégio interno durante o recesso de fim de ano, justamente o Natal. Tinha tudo pra ganhar uma atmosfera fria e depressiva. Mas o caminho é inverso.
São personagens humanos, que possuem falhas, mas são simpáticos cada um à sua maneira. E o filme desenvolve cada um deles muito bem, através de diálogos dinâmicos e interações orgânicas, somando a uma interpretação realmente tocante e delicada de Paul Giamatti, Da’Vine Joy Randolph e Dominic Sessa, não tem como dar errado.
Conforme a história avança, vários temas vão sendo discutidos através do que os personagens estão enfrentando pessoalmente. Temos questão de abandono parental, perda familiar, depressão, tudo discutido de um jeito consciente. E também algumas lições sobre família, reciprocidade, conexão.
Terminei o longa com o coração mais leve.
Resistência
3.3 265 Assista AgoraDesign de produção caprichado. Achei interessante demais o mundo futurístico criado pro filme. Os dois primeiros atos caminham muito bem, o terceiro deixa um pouco a desejar com algumas decisões óbvias. John David Washington e Madeleine Yuna Voyles seguram bem o filme, já que a dinâmica dos personagens é bem desenvolvida.
Napoleão
3.1 323 Assista AgoraNão tem compromisso nenhum com fatos e realizações históricas de Napoleão. Bagunçado em sua linha do tempo, com uma duração que acaba deixando o filme bem inchado. Ninguém duvida do talento cênico de Joaquin Phoenix, mas particularmente acho que poderia ter dado um tom diferente na composição do personagem, no lugar da apatia.
Vale por algumas das cenas de confronto (são várias, mas nem todas funcionam como deveriam).
Pobres Criaturas
4.1 1,2K Assista AgoraCara, fiquei impressionado demais com o filme. Fui assistir sem saber basicamente nada sobre ele, e me prendeu de uma forma absurda, nem senti o tempo passar. O mais curioso é que tem um tema muito semelhante ao filme “Barbie”: mulheres determinadas que buscam seu lugar no mundo, e acabam descobrindo onde pertencem (e como pertencem) depois de uma longa, mas divertida jornada. A diferença é que aqui temos cenas muito mais ousadas e pesadas.
Emma Stone sempre perfeita em tudo o que se propõe, e acredito que aqui ela se sobressaiu em relação à toda sua carreira. Mark Ruffalo tem as melhores caras e bocas, as reações de seu personagem a tudo o que acontece são impagáveis e tiram gargalhadas sem soar forçado. Aliás, o humor funciona tão bem porque tudo é muito absurdo, mas ainda assim cativante. Temos uma junção perfeita de texto, direção, atuação. E um design de produção arrebatador. Figurinos, cenários... Tudo impecável.
Vale o ingresso, sem dúvidas.
Meninas Malvadas
3.2 183 Assista AgoraTina Fey faz uma comédia única, toda trabalhada em cima de reações com humor involuntário principalmente – e é o meu tipo favorito. O filme é criativo, as atrizes são carismáticas (Reneé Rapp, Avantika e Bebe Wood se destacam MUITO). As músicas ficam na cabeça fácil – Regina George que o diga. Saí do cinema com vontade de assistir de novo, e isso já é dizer muito.
Jon Batiste: American Symphony
3.3 25Filme muito tocante, pessoal, e não é apelativo. Acompanhar esse grande momento da vida de Jon Batiste enquanto ao mesmo tempo ele precisa lidar e estar presente para a esposa, que luta contra um câncer, foi de certa forma inspirador. Além disso, a música que embala todo o longa é fascinante.
Golda: A Mulher De Uma Nação
3.0 64Vale pela atuação da Helen Mirren, o trabalho de maquiagem que realizaram nela é impecável, ela ficou muito diferente. E também a trilha sonora que é hábil em evocar tensão em alguns momentos específicos.
Flamin' Hot: O Sabor que Mudou a História
3.3 64 Assista AgoraAcho que a probabilidade real de acontecer na vida de um trabalhador comum o que aconteceu com Richard Montañez, é 1 em 1 bilhão. Mas independente disso, é um filme que conta com personagens carismáticos e uma história que se desenvolve muito bem. Você se pega torcendo pra que as coisas comecem a funcionar pra família Montañez.
A Memória Infinita
4.0 43Devastador. Impressionante como essa doença é traiçoeira e até irônica, afetando um homem que lutou tanto para que as pessoas não esquecem o horror de um governo opressor (e assim não permitissem que aquilo fosse vivido de novo), agora vê suas próprias memórias sendo apagadas sem nada que possa fazer pra impedir.
Ao mesmo tempo, um filme sensível pela dedicação e amor da Paulina pelo Augusto. Impossível terminar sem algumas lágrimas escorrendo.
Anatomia de uma Queda
4.0 808 Assista AgoraQue belíssimo trabalho da Sandra Hüller na composição da personagem Sandra. Pra mim foi um deleite vê-la evocando, mas ao mesmo tempo escondendo, a fragilidade de uma mulher traumatizada que acabou de passar por um evento traumático e nem sequer pode senti-lo. Todas as cenas do julgamento servem como exemplo de como se entregar de corpo e alma a uma personagem.
O roteiro do filme é irretocável. Eu gostei demais de como o texto desafia o público a questionar tudo o que está acontecendo ali. Primeiro, sobre quem. E depois, como um dos personagem aponta, sobre o como, sobre o motivo. Mesmo quando há uma resolução, ainda assim nos vemos na dúvida, embora as evidências sejam fortes.
A decisão da diretora Justine Triet de filmar o longa como se fosse um documentário funciona perfeitamente, uma vez que aproxima o público daqueles personagens. E a fotografia fria contribuiu pro clima crescente de tensão que a história exigia.
A Sociedade da Neve
4.2 720 Assista AgoraFilme tocante, delicado, e respeitoso em face ao peso que essa história representa. Eu mesmo não conhecia essa tragédia e fiquei chocado não só com o descaso das autoridades na época (e acredito que algumas políticas mudaram desde então), mas com o que esses homens tiveram que fazer pra conseguir sobreviver. O mérito da direção e do roteiro é que em momento algum eles tentam chocar o público por chocar. O horror tá ali presente porque é horrível por si só. Não é necessário fazer um espetáculo em cima disso, e J.A. Bayona demonstra entender esse tópico muito bem.
Terminei o filme sensibilizado de verdade e reflexivo sobre tudo o que foi nos mostrado aqui. E isso quer dizer MUITO.
Maestro
3.1 260Bradley Cooper peca na direção, mas não tenho o que reclamar da composição dele para o Bernstein. Se entregou totalmente. Carey Mulligan, no entanto, acaba roubando a cena dele com sua Felicia, em uma atuação devastadora e sensível.
O filme como um todo não é nada extraordinário, só é inchado, acaba se arrastando muito tempo antes de terminar.