Decepcionado. Geralmente não crio expectativas para filmes, justamente para não ficar chateado depois, mas o que fizeram neste capítulo da saga do Chucky foi covardia – ainda mais levando em conta o terror que havia sido resgatado em “A Maldição”, como tinha que ser.
Achei a história desse filme boba e esgotada – a trama em geral está assim. Tentaram dar uma inovada, mas falharam miseravelmente alterando toda a mitologia do boneco e do feitiço que nós, fãs, conhecemos desde o primeiro filme (que está pra completar 30 anos). Que limitação ABSURDA e desleixada do Don Mancini no texto. Diálogos expositivos. Piadas bobas (risíveis só por serem ruins). Desenvolvimento confuso. Buracos. Pontas soltas. Não respondeu perguntas em aberto do filme anterior, muito pelo contrário: aumentaram as dúvidas. É o que dá virar do avesso sem mais nem menos tudo aquilo que foi apresentado em seis filmes.
Na direção, Don Mancini se sai um pouquinho melhor do que no texto(é de surpreender que ele tenha sido um dos roteiristas da icônica Hannibal, série citada pelo Chucky neste “O Culto”, e ainda assim apresente um texto tão porco na franquia que ele mesmo criou). Tirando alguns momentos que não deveriam existir (tipo o Chucky gigante), ele até consegue construir a narrativa de forma tensa e desenvolve bem o mistério nos primeiros 30 minutos. A fotografia do filme também merece um crédito, além da trilha sonora.
Mas eu, como fã do Brinquedo Assassino desde que me entendo por gente, infelizmente não consegui aproveitar este capítulo como alguns conseguiram. Acho que inovações são sempre bem-vindas, ainda mais em um filme com esta temática cuja fórmula é sempre a mesma. Mas desde que faça sentido. Que o próximo filme (que provavelmente vai acontecer), seja melhor do que isso.
Desde que me entendo por gente, o Homem-Aranha é o meu herói favorito de todos os tempos. Logo, em consequência, estava muito ansioso e com boas expectativas para esta nova releitura das aventuras do “Cabeça do Teia” (e olha que não costumo criar expectativas para nada, justamente para não me decepcionar posteriormente). Felizmente, elas foram atendidas e “De Volta ao Lar” é o melhor filme do herói desde “Homem-Aranha 2”, de 2004 – lado a lado com o filme de Sam Raimi, na minha opinião.
O grande acerto do filme, além de ter construído uma trama consistente, interessante e divertida de acompanhar, é o fato de honrar os personagens de acordo com a idade dos mesmos. O Peter Parker composto por Tom Holland é, disparado, o mais humano entre as recentes versões apresentadas pelo cinema, já que sua postura e seu comportamento em nada deixa a desejar levando em conta tratar-se de um adolescente de 15 anos.
É maravilhoso, portanto, que o roteiro abra espaço, mesmo que de forma sutil, para discutir os conflitos internos do personagem em relação aos seus poderes e ao fato de levar uma vida normal na escola, com os amigos, além de ter que lidar com sentimentos amorosos que, naturalmente, começam a brotar. Holland é absolutamente hábil ao evocar a vulnerabilidade de Peter – por exemplo, na cena em que há sabe-se lá quantas toneladas de concreto sob suas costas, em que ele se mostra desesperado: um comportamento natural já que, apesar de possuir poderes e estar maravilhado com eles, continua sendo um menino.
E Michael Keaton compõe seu Toomes (ou Abutre) como um vilão que já merece pontos por divergir da maioria dos outros apresentados nos anos recentes pelos longas de heróis, já que ele não tem pretensão de destruir ou moldar o mundo ou as pessoas de acordo com seus ideais, seu propósito é o ganho de dinheiro em prol do sustento familiar – e suas motivações, na cena em que é confrontado por Peter no terceiro ato, sobre como as pessoas que estão em outros patamares financeiramente não se importam com os necessitados, são verossímeis. Keaton também soa frio e ameaçador (a sequência no carro em que ameaça matar Peter e sua família é primorosa). Fechando os destaques do elenco, temos Jacob Batalon como Ned, responsável pelos momentos mais engraçados de “De Volta ao Lar” e também composto com empenho pelo ator, além de possui uma excelente interação com o Peter de Holland.
Jon Favreau diverte com aparições pontuais como Happy Hogan. E Zendaya dá vida a uma personagem que, à primeira vista, aparenta ser apática, porém mesmo com uma participação reduzida, protagoniza as cenas em surge na tela. Marisa Tomei merece menção honrosa por sua May Parker, apesar de não ter grande função na narrativa.
O roteiro também acerta por não incluir tantas piadas ditas – as pensadas são sempre bem encaixadas, mas o longa aposta mesmo em situações cômicas que são bem trabalhadas. As sequências de ação infelizmente não são tão empolgantes. A melhor delas, no Monumento de Washington, acontece em um curto espaço de tempo e outras duas têm como ambientação o escuro da noite, que são ainda mais prejudicadas pelo fato de que o diretor John Watts ser incapaz de manter alguma coerência, promovendo cortes rápidos e abruptos que só fazem confundir o público – além disso, o embate final entre Homem-Aranha e Abutre é absolutamente decepcionante, já que o mesmo termina basicamente antes mesmo de começar. A trilha sonora de Michael Giacchino também decepciona, já que não traz nenhum tema marcante ou capaz de nos fazer lembrar logo após os créditos terminarem de subir.
Por outro lado, os efeitos especiais são todos muito bem realizados e Salvatore Torino faz um belo trabalho na fotografia do filme – que ganham um destaque prazeroso em alguns planos-chave abertos ao longo da projeção.
“Homem-Aranha: De Volta ao Lar” possui, sim, seus defeitos. Mas é um filme consistente e que honra seu personagem-título para prazer de todos que, como eu, são fãs do herói. Viva o Tom Holland!
Efeitos especiais espetaculares em todas as cenas de destruição. A sequência com os tornados em Los Angeles é foda, e a inundação de Nova York pelo aumento do nível da água do mar é impecável – pra mim, uma das melhores cenas do cinema no quesito catástrofe ambiental. Muito bem realizada.
Aliás, se tem uma coisa que “O Dia Depois de Amanhã” faz bem é criar tensão, já que desde os primeiros minutos, na geleira que se rompe, estabelece o que veremos durante os 123 minutos posteriores. Gosto do grupo de personagens que ficam presos na biblioteca. O romance pode soar batido e clichê, mas tanto o Sam quanto a Laura são carismáticos – e ambos os intérpretes, Jake Gyllenhaal e Emmy Rossum, compõem bem os papeis. Já o Dennis Quaid é aquele tipo que é o único que entende o que está acontecendo, o único que faz os alertas corretos que ninguém quer ouvir e etc. Sorte que o Jack, seu personagem, vai além, já que seu arco é movido pelo amor ao filho acima de qualquer coisa.
O roteiro tem algumas inconsistências. O que mais me incomodou foram os lobos: como é que eles conseguiram sobreviver à onda, gente? Mostra que eles fugiram lá de um local, em seguida eles ressurgem quando a água que assolou NYC já está congelada. Achei meio sem nexo. O final, apesar de ter até uma certa emoção quando pai reencontra filho, acaba sendo prejudicado ao mostrar que todos serão resgatados apenas alguns minutos após a chegada do “grupinho” – o que indica que pelo menos uma vida poderia ter sido poupada nesse percurso. Mas enfim, gosto da inspiração do diretor Roland Emmerich, que é uma previsão real, para a construção da trama. Gosto MUITO da trilha sonora – acho a música da cena da “onda” marcante.
No geral é um ótimo filme, sim. Consegue entreter, tem sempre alguma coisa acontecendo, não é cansativo. Vale a pena.
Quando conheci a franquia “Jogos Vorazes”, a primeira coisa que me cativou e que me fez interessar por toda a obra escrita por Suzanne Collins foi, justamente, sua protagonista: Katniss Everdeen, uma jovem forte, determinada e comum, absolutamente humana, que de repente se vê dentro de um jogo mortal e logo em seguida, é endeusada por uma população oprimida que enxergam nela a chance de se livrarem da mão de ferro com a qual são governados. A leitura dos livros e a exibição dos filmes sempre foram e continuam sendo algo bastante prazeroso, já que a franquia é importante, alegórica e reflete muitas coisas atuais, tanto no que diz respeito à opressão, quanto pela guerra em si.
“A Esperança: O Final” é, portanto, um desfecho bem amargo: por um lado, o filme não poupa tempo para aprofundar os personagens e seus sentimentos, na maioria das vezes complexos, descartando então o entretenimento barato e a banalização da violência; por outro, o diretor Francis Lawrence, infelizmente, mostrou certa incompetência por não compreender qual era a história que estava sendo contada e suas consequências, tornando a experiência cinematográfica um tanto aquém daquilo que poderíamos esperar.
“A Esperança: O Final” possui uma narrativa melancólica, uma atmosfera sombria, paleta de cores puxada mais para o cinza, o que ilustra bem como Katniss Everdeen se sente diante de situações que fogem completamente de seu controle. Neste quesito, Francis Lawrence é hábil, já que consegue criar urgência em diversas cenas graças à câmera na mão (e que não é usada com exaustão, como o diretor do primeiro longa) e a tensão vai crescendo conforme os minutos vão passando. As sequências de ação se destacam: aquela com o “óleo preto” é digna de aplausos, e a sequência subterrânea onde os heróis são todos atacados por criaturas chamadas “bestantes” talvez seja a melhor de toda a franquia – peca, no entanto, pelo desenvolvimento confuso, já que é um tanto difícil identificar onde os personagens estão e como eles estão. E a terceira, claro, vai para o momento em que Katniss e Gale caminham pela rua principal da Capital rumo à Capital até que um confronto mortal é iniciado, que soa verossímel, real, com cenas reais de batalha: tanto pelo confronto, como pelo pânico – e a criança que chora desesperada sobre o corpo já morto da mãe que a carregava causa um impacto e tanto.
O roteiro concebido por Danny Strong e Peter Craig continua apostando em diálogos recheados de críticas sutis e alegóricas, porém infelizmente acaba sofrendo com a quebra de ritmo, já que em pelo menos três momentos, após grandes e empolgantes cenas de ação, o filme basicamente dá uma “pausa”, levando os personagens a ambientes mais “seguros” onde eles discutem sentimentos entre si – o aprofundamento dos personagens, neste ponto, não é defeito, e sim a forma como foi incluída na narrativa.
Jennifer Lawrence é o grande nome desta franquia e sempre realizou um trabalho impecável, de entrega absoluta na composição, já que Katniss é um poço de compexidade. Em inúmeras cenas, Lawrence não precisa abrir a boca para evocar bem e trazer emoção acerca do que a personagem está sentindo. Apenas sua expressão e seu olhar já ilustram isso bem – e não concordo quando afirmam que, em determinado momento da narrativa, após viver uma situação catastrófica, a atriz adota um “olhar de paisagem”: muito pelo contrário, seu olhar inexpressivo ilustra perfeitamente que já não há mais vida dentro dela. Há também a cena em que é ameaçada por um trabalhador da Mina no Distrito 2, em que transparece toda a sua raiva e desprezo ao falar de como todos ali são escravos do Presidente Snow, entre outros grandes momentos.
Josh Hutcherson, mais uma vez, surge hábil no que diz respeito aos sentimentos complexos de Peeta – e que retornam ainda mais complicados, já que agora ele sofreu uma lavagem cerebral nas mãos da Capital e não consegue discernir o que é real e o que é falso. Da mesma forma encontra-se Liam Hemsworth e seu Gale, que mescla o personagem entre seus sentimentos por Katniss e seu desejo de derrubar a Capital à qualquer custo.
Por outro lado, Donald Sutherland volta a apostar no cinismo na construção de seu maquiavélico Presidente Snow que, mesmo abatido (já que ele é um senhor de idade que vem enfrentando uma crise imensurável em seu “governo”), é capaz de assustar só pelo fato de abrir um sorriso sádico quando dita alguma coisa. Philip Seymour Hoffman ressurge pela última vez nas telas novamente exalando segurança como Plutarch, ao passo que Julianne Moore deixa completamente de lado o comportamento mais empático de algumas cenas da “Parte 1” e mostra-se mais fria e bem mais articulada como Alma Coin.
“A Esperança: O Final” conta, ainda, com uma bela fotografia de Jo Willems e, novamente, com uma trilha sonora sublime composta por James Newton Howard (“Rebel’s Heart” talvez seja o seu melhor trabalho dentro da franquia, que proporcionou músicas icônicas).
E chegamos, então, na parte que desaponta: o desfecho. Não pela finalização da guerra em si, já que Francis Lawrence também aborda as consequências da guerra e promove reflexões importantes sobre as atitudes gerais do ser humano. A seriedade com a qual tantos temas foram abordados ao longo dos quatro filmes é o que torna o seu “epílogo”, o seu “anos depois”, tão frustrante – tanto para quem conhece a saga só pelo cinema, como para quem leu o livro –, já que Lawrence não foi capaz de respeitar as ditas consequências e os traumas da guerra de forma coesa e marcante. Não costumo fazer comparações entre livro e filme (inclusive, acho errado), mas este é um exemplo clássico de como a mudança de tom pode prejudicar tudo: a cena final do filme é exatamente a mesma do livro, as mesmas palavras de Katniss e etc. Porém, lá, nós sentimos a personagem distante, traumatizada, quase que em um estado vegetativo – ela vive porque está viva, mas é assombrada pelo passado. Até mesmo o local onde se passa este rápido momento possui um significado e um impacto no leitor (uma campina que na verdade é um cemitério). No filme, temos uma trilha sonora bonita, alegre, quente, e uma Katniss que, por mais que comente sobre seus pesadelos e como “eles nunca vão embora”, não convence como a mulher adulta que passou o que passou anos antes – infelizmente foi esta a intenção do filme e acho uma pena.
Mesmo com alguns problemas de narrativa, “A Esperança: O Final” é, sim, um bom desfecho para uma franquia tão importante.
Como fã da franquia, tanto dos livros como dos filmes, não acho que “A Esperança: Parte 1” deixe muito a desejar, depene em trama e em desenvolvimento. Pra mim é o segundo melhor da saga, perdendo apenas para “Em Chamas”. Acho que neste capítulo, os personagens foram muito bem aprofundados, tanto em cenas de ação (que não banalizam a violência), como nas cenas mais doces e sutis – algumas, é verdade, podem até não exercer função no que diz respeito ao andamento da narrativa, mas não acho que sejam desperdício ou que estejam presentes apenas para preencher a duração.
“A Esperança: Parte 1” já começa com uma atmosfera fria (reparem no som que parece um vento, que vai crescendo aos pouquinhos quando os logos da Lionsgate e da Color Force são introduzidos), e apresenta Katniss Everdeen completamente traumatizada, depressiva e temerosa em relação ao seu futuro e ao futuro de Peeta. Acho que essa cena, inclusive, já estabelece bem o tom da narrativa.
Portanto, o filme definitivamente não vai agradar aqueles que esperavam explosoões, tiros, flechas para todos os lados – o longa, obviamente, abre momentos pontuais para ilustrar a violência da Capital. A crítica de “A Esperança: Parte 1” reside, então, na guerra midiática que se forma entre o Presidente Snow e a Presidente Alma Coin, do Distrito 13, já que ambos compreendem que a melhor maneira que conseguir êxito naquilo que acreditam é vendendo, literalmente, a imagem de heróis – por um lado, Katniss é usada para incentivar os Distritos a lutarem; por outro, um Peeta cada vez mais desgastado e maltratado surge em tela implorando aos rebeldes que desistam da causa. O roteiro do filme, a partir disso, é recheado de diálogos complexos e significativos, com situações que promovem a reflexão e que jamais deixam de ser tratadas como absolutamente sérias.
Francis Lawrence retorna no comando da direção com segurança e determinação, que compreende os momentos mais delicados do roteiro, mas também capricha quando chega a hora de mostrar as consequências por trás de toda aquela guerra. As sequências de ação são todas empolgantes e muito bem realizadas: desde o ataque aéreo ao Distrito 8 até as rápidas cenas de revolta em dois distritos – com destaque para a destruição da represa ao som de “The Hanging Tree”, na voz da Jennifer Lawrence, um dos melhores momentos do filme. A cena em que contemplamos uma tentativa de resgate dentro da Capital é o ápice da tensão. Temos, ainda, espaço para mostrar os personagens retirando das costas pelo menos por alguns minutos todo aquele peso, vide o momento em que Katniss e Gale relaxam sozinhos à beira de um riacho.
Dito isso, aplaudo veemente a impecável atuação de Jennifer Lawrence, que compõe Katniss como uma jovem já “quebrada” – em várias cenas, não há a mínima necessidade que ela abra a boca para evocar seus sentimentos: a cena em que visita o Distrito 12 pela primeira vez, por exemplo, é absolutamente impactante. Josh Hutcherson, em uma aparição mais reduzida, surge sempre abatido, visivelmente maltratado e frágil que luta contra os próprios impulsos diante da tela da TV. Hutcherson rouba as cenas sempre que aparece.
Temos, também, a inclusão de Julianne Moore como Coin, que vive a personagem de maneira inteligente e mescla bem a frieza típica aos momentos em que deve demonstrar empatia. Philip Seymour Hoffman em sua última grande performance (ele tem uma participação pequena no último filme da franquia), compõe Plutarch como um sujeito que exala segurança naquilo que ele compreende, mas também evoca bem seus medos. Pra finalizar, Donald Sutherland ressurge como Snow ainda mais assustador – considero a cena em que dita a frase “são as coisas que mais amamos que nos destróem” uma das mais impactantes de sua trajetória em Jogos Vorazes, pelo sorriso sádico, maldoso e cruel que abre conforme destila todo o seu veneno.
Contando ainda com uma fotografia sombria e acizentada, e uma trilha sonora marcante de James Newton Howard, que volta a usar acordes e passagens inteiras de músicas já conhecidas do público pelos filmes anteriores, “A Esperança: Parte 1” é, sim, um filme complexo, atual engenhoso.
A coisa toda poderia ter funcionado um pouquinho, nem que fosse um tiquinho a mais, se o filme não trouxesse personagens tão irritantes, tediosos, chatos e burros como esse. Não bastasse isso, mas a própria trama também é assim – são 84 minutos e, acreditem ou não, a história só começa a ter algum efeito mesmo a partir dos 59. Roteiro absolutamente preguiçoso, incapaz de aprofundar naquilo que quer contar, além de ser bastante apelativo com sustos em cenas aleatórias (vide no início do filme quando a personagem de Sarah Hyland caminha pelo corredor do prédio, fica parada diante de uma porta e a trilha faz um crescendo daqueles só porque o homem do apartamento surgiu para fechá-lo).
Em resumo, 84 minutos de tédio em uma trama que não sabe aonde quer chegar e não se incomoda de explicar seu próprio conceito. Uma pena.
Finalmente a icônica Mulher-Maravilha ganhou a oportunidade de voar solo, em live-action, nos cinemas, e a experiência não poderia ter sido melhor. Confesso que, por mais ansioso que estivesse, também estava com certo receio (mais pela decepção que tive com Esquadrão Suicida), mas que bom que esse sentimento foi provado errado.
“Mulher-Maravilha” possui uma excelente e sólida narrativa. Não acho que as coisas são apressadas e nem muito lentas, tudo vai fluindo muito bem. A apresentação das Amazonas é excepcional e no tempo certo, logo acompanhamos o treinamento da Diana e uma evolução sutil ilustrando seu crescimento. Em seguida, já temos a chegada de Steve Trevor e não demora muito para que ambos partam para Londres e marchem rumo à guerra. Além do roteiro consistente, cheio de diálogos inteligentes e bem escritos, o filme ainda abre espaço para as habituais piadinhas/momentos cômicos que são pontuais e jamais, em momento algum, soam forçados – até porque apostam mais na reação dos personagens diante de algumas coisas do que na recitação de alguma piada em si.
O design de produção também impressiona ao conceber Themyscira como um local colorido, alegre e absolutamente convidativo, ao passo que traz Londres cinza, nublada, “feia” (como diz a própria Diana), ilustrando o horror que é a guerra e a situação precária das várias pessoas atingidas diretamente. E Parry Jenkins comanda o longa com energia, as cenas de ação são sim primorosas (alguns efeitos especiais decepcionam, mas dá pra relevar) e é fascinante o foco que é dado aos poderes e à capacidade de Diana em combate – e preciso dizer que a primeira grande cena de guerra, em que Diana decide partir pro combate apesar do protesto de Steve, é simplesmente fantástica.
Gal Gadot está impecável, poderosa e determinada como Diana/ Mulher-Maravilha, evocando bem a crença de que pode acabar com toda a guerra até a decepção quando percebe que a coisa toda é maior e mais complicada do que imaginava. E Chris Pine, que divide praticamente todas as cenas com ela, compõe Steve como um homem igualmente determinado e repleto de ideais – e é maravilhoso vê-lo dando passos para trás a fim de ver Diana fazendo o que sabe fazer. Menção honrosa para Lucy Davis como Etta que, embora não tenha muitas falas, é um adicional e tanto nas cenas em que aparece.
O único problema de “Mulher-Maravilha” vai mesmo para seus minutos finais. A última grande batalha entre Diana e o vilão não decepciona (embora seja mesmo praxe Hollywoodiano incluir esse tipo de show), mas o vilão em si é que é mal desenvolvido – particularmente, muito antes da revelação que deveria ser uma reviravolta, eu já tinha me tocado das verdadeiras intenções de determinado personagem.
“Mulher-Maravilha” não é apenas um filme sobre uma mulher forte que tem superpoderes. É, acima de tudo, uma conquista para as mulheres. O tipo de filme que é capaz de tornar os longas de super-heróis inspiradores, repleto de mensagens de igualdade, integridade feminina que é um tema sempre necessário e importante. Diana chegou no momento certo. Já não era sem tempo.
Provavelmente a animação mais divertida que vi este ano até agora. “LEGO Batman” foi muito além daquilo que eu poderia esperar: com um ritmo absolutamente alucinado e com piadas que inundam o roteiro o tempo todo – a maioria tendo um bom efeito no público, desde as mais bobas até as mais pensadas.
Recheado de referências e menções às outras retratações do Homem-Morcego no cinema e na TV – adorei a ilustração dos filmes anteriores e a ridicularização da série da década de 60, foi muito engraçado –, o roteiro ainda apresenta uma trama principal criativa e interessante o suficiente para justificar seus 104 minutos de duração (confesso que fiquei surpreso quando vi isso). Dick Grayson, posteriormente Robin, foi uma ótima e divertida surpresa no meu ponto de vista – e Michael Cera faz um trabalho irrepreensível na composição do personagem. Não só ele, como Will Arnett dá um tom escrachado e autoritário para o Batman que funciona. Zach Galifianakis provoca o riso sem esforço com o Coringa, graças às reações que evoca com sua voz.
Contando ainda com a presença de outros grandes vilões do acervo da Warner (particularmente, fiquei muito contente quando percebi que Voldemort estava incluso), “LEGO Batman” constrói bem o seu universo através das peças LEGO, aprofunda os dilemas de seu personagem-título ao mesmo tempo em que diverte sem realmente apelar. Vale muito a pena.
Eis aqui o melhor capítulo da franquia “Jogos Vorazes” no cinema. “Em Chamas” tem todos os elementos que me fizeram apaixonar pela obra criada por Suzanne Collins: apresentação e abordagem do governo opressor e ditador (as críticas aqui são impecáveis), o horror e a injustiça que simbolizam os jogos do título (que também contam com críticas aos reality shows que são sempre vazios), e ao desenvolvimento e profundidade dos personagens que, além de ricos, são absolutamente humanos e fascinantes.
“Em Chamas” já começa hábil no que diz respeito à narrativa e ao tom por conta de duas coisas: a primeira, que é o plano inicial, apresenta um Distrito 12 melancólico envolto em uma neblina cinza, que simboliza a tristeza e o medo de Katniss Everdeen mesmo após ter vencido os brutais jogos no anterior. E a segunda, que enfatiza os sentimentos da personagem principal, é justamente ao ilustrar, quando ela dispara uma flecha, todo o seu trauma desencadeado pelo horror e pelas coisas que teve que fazer quando esteve na arena.
Dito isso, o roteiro escrito por Simon Beaufoy e Michael Arndt (substituindo Gary Ross, Suzanne Collins e Billy Ray, do primeiro volume) é absolutamente engenhoso ao abordar todos os temas pesados e sombrios que o longa propõe, ao mesmo tempo em que concebe um triângulo amoroso sem tirar o foco daquilo que é realmente importante. Mais fascinante que isso é constatar que, mesmo dividida e lidando com a complexidade de seus sentimentos, Katniss jamais permite que o amor que sente por Gale/e ou Peeta se sobreponha ao medo que sente e à necessidade de salvar a si mesma e sua família – a cena em que explica isso a Gale é inteligente e coerente; qualquer outra franquia partiria para o óbvio típico de romances adolescentes. Não só isso, é igualmente interessante como Beaufoy e Arndt desenvolvem Peeta e Gale dentro deste contexto, já que não criam intrigas entre os personagens a fim de ditar para o público quem é realmente digno do amor da jovem: ambos fazem por onde evocar os sentimentos de Katniss, cada um à sua forma.
Ainda falando sobre o trabalho estupendo que fazem com Katniss neste filme, é ainda mais fascinante vê-la concebida como uma jovem pragmática, que vê e entende a necessidade de ter que consentir às ordens do Presidente Snow, e que vai mudando sua perspectiva das coisas de forma natural até decidir enfrentá-lo. Dito isso, Jennifer Lawrence ressurge na pele da heroína com determinação, entregando-se de corpo e alma às várias facetas e nuances de Katniss e ainda realizando um trabalho fenomenal no que diz respeito às reações e a forma como ela enxerga tudo aquilo que está sendo submetida – e, no meu ponto de vista, não há UMA cena dramática (e olhem que são VÁRIAS) em que ela não consiga evocar um turbilhão de sentimentos em tela e emocionar o público diante de tantas atrocidades.
Josh Hutcherson confere mais complexidade aos sentimentos de Peeta (e também surpreende com sua habilidade de manipular em uma cena chave que antece o início dos jogos), ao passo que Donald Sutherland ganha um acertado tempo adicional em tela, onde é capaz de explorar muito mais a vilania e a crueldade de seu Presidente Snow – e a sua primeira cena, onde tem uma conversa séria com Katniss, chega a ser assustadora dado o tom amigável das ameaças de morte que faz à ela às pessoas que ama. E temos a adição do saudoso Philip Seymour Hoffman, que atribui a Plutarch Heavensbee um tom cabalístico e eficiente. Menções honrosas para Woody Harrelson (a bebedeira de Haymitch faz ainda mais sentido neste filme), Elizabeth Banks (que se mostra pontualmente mais triste como Effie) e Stanley Tucci.
Francis Lawrence assume a direção de “Em Chamas” com maestria e faz um excelente trabalho – principalmente levando em consideração que não cometeu o erro medíocre de filmar o longa inteiro com uma câmera tremida que não acrescentou em nada ao primeiro filme. O diretor explora ao máximo os personagens e o universo onde a trama é ambientada (o contraste entre a Capital e os Distritos fica ainda mais evidente e frustrante aqui) e sua condução delicada emociona em várias cenas – o momento em que Katniss descobre que retornará à arena e sai desesperada de casa, por exemplo, não precisa de diálogos para que o público possa sentir a angústia da personagem. O filme conta, ainda, com uma belíssima trilha sonora de James Newton Howard que, hábil como é, reaproveita vários temas e acordes já presentes no longa anterior para construir melodias tristes e marcantes.
“Em Chamas”, portanto, firma ainda mais a importância que a franquia Jogos Vorazes possui.
O roteiro do filme acerta na enchurrada de críticas ao governo americano (à política como um todo), funciona como sátira. A cena em que a personagem da Tilda Swinton faz vários questionamentos é muito boa. Mas erra em vários outros pontos. Não tem um tom definido, fica saltando de uma coisa pra outra o tempo todo e isso acaba inchando ainda mais a obra que já tem uma duração exageradamente longa.
Brad Pitt é um dos meus atores favoritos de todos os tempos. Sempre admirei muito o trabalho dele. Mas achei a composição um verdadeiro porre neste “War Machine” – acho que isso se deve ao fato do próprio filme não conseguir encontrar o tom. Caricato e irritante demais com aquela voz forçada. Não consegui aproveitar muita coisa dessa atuação. Sinto muito, Brad. :(
“Jogos Vorazes” surgiu na minha vida no momento em que eu estava me sentindo órfão de outra: a saga “Harry Potter” tinha acabado de se despedir dos cinemas, quando reparei os comentários dos próprios Potterheads acerca da nova franquia que estava prestes a nascer cinematograficamente. E foi assim que meu amor por Katniss Everdeen surgiu – supriu a falta de uma (em termos de ansiedade por novos lançamentos, posters, trailers e todas as coisas que deixam qualquer fã em êxtase), e ainda me apresentou a um universo único, interessante, repleto de personagens carismáticos e uma trama realista (e crítica) à sua própria maneira.
Escrito por Suzanne Collins (autora da trilogia de livros), Gary Ross (diretor do filme) e Billy Ray, o roteiro deste primeiro capítulo é recheado de alegorias e simbolismos que incentivam a discussão e a reflexão do público quanto àquilo que está sendo discutido sem nenhuma dificuldade: uma clara crítica à alienação das pessoas perante o sensacionalismo barato que se alimenta do sofrimento alheio, ao mesmo tempo em que criticam um autoritatismo de um governo que comanda todo um país (batizado de Panem) com mão de ferro. Este ponto, aliás, é muito bem desenhado ao ilustrar a pobreza desesperadora do Distrito 12 em contraste com o luxo e a exuberância que existe na Capital (só pelos vestuários já podemos ver que são pessoas beeem distantes daquelas que estão se matando de trabalhar nos distritos para fornecer aquilo que a Capital precisa, como o Presidente Snow comenta rapidamente em uma cena).
O conceito do jogo em si, no meu ponto de vista, é bem apresentado também por diálogos eficientes (e que jamais soam expositivos) e por pequenos detalhes que só os mais atentos vão perceber – um exemplo é há quanto tempo os participantes estão dentro da arena em cenas que mostram os comentaristas Ceasar Flickerman e Claudiu Templesmith falando sobre os eventos do jogo. Além disso, a decisão de mostrar como funciona a arena e as decisões de seu idealizador é acertada, evidenciando que tudo o que acontece naquele espaço é manipulado por pessoas sentadas tranquilamente diante de uma “maquete” eletrônica. A crítica aos reality shows também surge sutilmente no terceiro ato quando, ao escurecer a arena de uma hora pra outra, Katniss comenta que “eles estão querendo acelerar as coisas para o Finale”.
O grande e principal problema de “Jogos Vorazes”, no entanto, reside na direção absolutamente irregular de Gary Ross, mais por conta de sua câmera tremida que acaba prejudicando o filme em DIVERSOS momentos. Claro que esse conceito funciona, como linguagem cinematográfica, em momentos de tensão, para provocar urgência – e neste quesito, as cenas com o recurso são muito bem recebidas e conduzidas, como exemplo, a fuga de Katniss por uma floresta em chamas, posteriormente a fuga de Katniss e Peeta quando estão sendo perseguidos por “cachorros” criados digitalmente. Por outro lado, é incompreensível a decisão de Ross de usar sua mão trêmula em tantos outros momentos (peguem, por exemplo, a cena logo nos primeiros minutos do filme, quando Katniss caminha pelo distrito 12 rumo à floresta e vemos um pouco de sua pobreza: há um pequeno momento em que a câmera foca em um homem “roendo” ossos e o desespero do responsável pela condução é nítido e irritante).
Por outro lado, ao mesmo tempo em que peca, Ross também é hábil ao criar momentos memoráveis e emocionantes durante todo o jogo: só a sequência em que o Timer chega ao 0 e as crianças correm rumos às armas e mochilas, por exemplo, já é digna de todos os elogios por ser sem som, simbolizando o choque de Katniss diante de tanta brutalidade dos Carreiristas (os já treinados para matar) contra crianças indefesas.
E acima da trama cativante e bem amarrada, temos os personagens que fazem tudo funcionar de vez. Katniss Everdeen é fascinante por ser uma jovem comum, que não está destinada a nada e se interessa principalmente pela sua sobrevivência (além de ter um amor e carinho comovente pela irmã), e Jennifer Lawrence faz um trabalho estupendo na composição da personagem, como uma moça forte, determinada e até pragmática. Josh Hutcherson, por sua vez, evoca muito bem os sentimentos de Peeta Mellark e toda a complexidade que vem com eles. Woody Harrelson, Stanley Tucci e Elizabeth Banks também merecem menções honrosas.
Contando com uma trilha linda e memorável de James Newton Howard, “Jogos Vorazes” vai além de uma utopia interessada unicamente no romance. E é justamente esta ambição que a tornam uma das franquias mais importantes dos últimos anos.
Sempre fui muito fã da franquia “Piratas do Caribe” (considero a trilogia original excepcional de todas as formas) e, mesmo tendo me decepcionado bastante com o último capítulo, “Navegando em Águas Misteriosas”, recebi de braços abertos e criei uma expectativa boa para “A Vingança de Salazar”. A notícia ruim é que este novo volume da saga de Jack Sparrow não é tão bom quanto “A Maldição do Pérola Negra”, “O Baú da Morte” e “O Fim do Mundo”, mas é bem mais aproveitável, divertido e interessante do que seu antecessor.
Escrito por Jeff Nathanson (pela primeira vez) a partir de argumento de Terry Rossio, o roteiro deste capítulo já conta com um ponto positivo em relação ao anterior: os diálogos não são expositivos a ponto de quebrar o ritmo da narrativa e nem perdem tempo recitando informações que nós já sabemos de cinco em cinco minutos. A trama não soa original, é desenvolvida no estilo “Piratas do Caribe” de ser e, embora acabe soando confusa em alguns momentos (eu mesmo fiquei sem entender algumas coisas quando o terceiro ato tem início), ainda assim cumpre o seu papel de entreter e divertir.
E diversão é o que não falta em “A Vingança de Salazar”, trazendo sequências de ação cômicas eficientes – aquela da gilhotina, por exemplo, é uma das melhores. E a primeira grande cena do filme em si, que traz um roubo a banco, tira risos facilmente, só acaba pecando no fato de que, mesmo para os padrões da franquia, soa ilógica DEMAIS. E um problema que permeia toda a saga é a duração inchada: mesmo sendo o mais curto dentre os cinco, este exemplar ainda consegue incluir algumas cenas que, embora tenham o intuito de fazer rir, não acrescentam em NADA à trama – o melhor exemplo é um quase casamento que ocorre dentro da ossada de um animal não-identificado. Há também algumas incoerências, como a origem da tão famosa e almejada Bússola.
Johnny Depp retorna como o notório Capitão Jack Sparrow sempre muito engraçado e reagindo às situações de forma que só ele sabe fazer – senti falta de um arco dramático para que o ator pudesse explorar um pouco mais o personagem, mas os maneirismos icônicos e únicos que compõem Sparrow já valem o ingresso por si só. Por outro lado, Javier Bardem soa ameaçador e determinado como o Capitão Salazar, tornando-se mais memorável do que Ian McShane como o Barba Negra – mas não tão impactante quanto o inesquecível Davy Jones de Bill Nighy. Kaya Scodelario e Brenton Thwaites foram ótimas adições ao elenco: ambos com personagens que marcam presença, fortes e deixam sua marca – e no meu ponto de vista, Thwaites convenceu demais na aparência como filho do Will Turner. Por fim, Geoffrey Rush desta vez aposta em um tom mais “cansado”, porém ainda forte, para o Capitão Barbossa, diferente de suas performances anteriores que puxavam mais para o lado cômico.
Fiquei um pouco decepcionado com a participação do Orlando Bloom, que é subaproveitada a duas cenas apenas. Ainda assim, para quem é fã dos filmes e criou um laço com esses personagens, ver William Turner de volta à tela é maravilhoso – assim como outra personagem que prefiro não mencionar, embora já tenha sido revelada em trailers e comerciais de TV.
Joachim Rønning e Espen Sandberg honram o trabalho de Gore Verbinski nos três primeiros filmes, conduzindo a narrativa com segurança (mesmo nas cenas que não agregam em nada, os diretores são capazes de manter o público entretido e sintonizado). Efeitos especiais grandiosos: a composição dos vilões é impecável, assim como os tubarões. E o design de produção, como sempre, inspirado com cenários grandiosos e designs únicos para os navios – tendo como destaque a embarcação de Salazar e o luxo do de Barbossa. E claro, uma trilha sonora memorável de Geoff Zanelli.
“A Vingança de Salazar” tem seus tropeços, mas faz jus à “Piratas do Caribe” entretendo e divertindo com tramas e situações que não se levam realmente à sério – e reside nisso o sucesso da franquia.
PS: Há uma cena pós-créditos que quase me fez gritar no cinema.
A dor do pai pela tragédia que se abate à família é bem evocada pelo ator Sam Worthington, que se entrega à composição do Mack perante a perda e aos questionamentos. O roteiro, no entanto, não foi capaz de trabalhar bem com os diálogos, o que acabou tornando o filme inchado e entediante.
Dos 132 minutos de duração, diria que apenas os 60 primeiros são, de alguma forma, mais proveitosos. Quando a “ação” se passa para Mack e sua interação com as várias personificações de Deus (algo que eu achei bem interessante, a forma como Ele decide aparecer para o Filho em sofrimento), o filme desanda. Não aprofunda bem as questões, não dá respostas claras sobre nada e, no meu ponto de vista, não trabalhou bem toda a questão do “perdão” que é imposta ao Mack. Acho que faltou atenção à esse ponto tão importante no desenvolvimento de Mack Phillips como Cristão, que era o objetivo do filme.
Contando com uma trilha bonitinha, e uma bela e aconchegante atuação de Octavia Spencer, “A Cabana” deixa de lado vários elementos que fazem um filme funcionar como tal e por isso, acaba decepcionando. Uma pena.
Esse arco da menina estar vivendo em um mesmo dia repetidas vezes e tem a oportunidade de fazer coisas diferentes, consertar seus erros, cometer novos, cada vez que acorda, pode até não ser das mais inovadoras, mas é interessante. O contexto dentro dela é que foi, sim, clichê – não que isso estrague a experiência do filme, deixando claro.
O mérito de “Antes que Eu Vá” é justamente a forma como aborda e desenvolve Samantha Kingston dentro deste “universo”. Nós acompanhamos a menina assustada pelo o que está acontecendo, posteriormente determinada a consertar seus erros, para logo em seguida jogar tudo para o alto e escanrar algumas verdades, até o momento em que decide abraçar este “destino” e tirar o melhor que puder dele. Dentro disso, a narrativa é construída com consistência e eficácia e não soa cansativa. O problema do roteiro está em seus minutinhos finais, já que leva o filme para um desfecho confuso e abrupto, além de não ter escancarado e nem redimido sua verdadeira vilã pelos erros que cometeu com várias pessoas. Ao menos as mensagens contra o bullying e a reflexão que propõe sobre a viva acabam se sobressaindo aos erros.
Zoey Deutch, por outro lado, contorna qualquer problema com uma atuação sólida e forte na pele de Sam. Halston Sage também merece menção por sua Lindsay Edgecomb (que personagem odiável, preciso dizer).
Com uma trilha sonora bonita e uma direção segura de Ry Russo-Young, “Antes que Eu Vá” não consegue alcançar aquilo que poderia ser, mas tampouco decepciona em sua trajetória.
As afirmações de que “Corra!” é muito Black Mirror são reais (até o pôster remete à série)! E, como um grande fã da série, não poderia ter ficado mais satisfeito com este filme. Não só pela parte científica que é surpreendente por si só, mas também por sua narrativa consistente, que desenvolve bem a tensão e o personagem principal até seu impecável terceiro ato.
Os primeiros 30 minutos são mais calmos e estabelecem bem a relação do Chris com sua namorada, Rose, e também é eficaz na apresentação da família Armitage – que, logo de cara, já levanta suspeita por conta do comportamento das pessoas contratadas como empregadas da casa. Neste quesito, o longa é hábil ao fazer o espectador questionar o que está acontecendo e ansiar o que irá acontecer a seguir – e os poucos momentos que usam para dar um susto (vide o exercício de Walter em plena madrugada) são eficazes.
Logo, quando a trama passa a mostrar a perseguição psicológica e física a qual Chris está sendo submetido, “Corra!” chega a um novo e interessante patamar. Daniel Kaluuya (que curiosamente estrelou um episódio de Black Mirror) vive Chris com intensidade, empatia e faz com que o público logo se importe com ele – e é angustiante vê-lo em tais situações, por vezes preso dentro da própria cabeça. É impossível não torcer pelo seu personagem. Já os atores Allison Williams, Catherine Keener, Bradley Whitford e Caleb Landry Jones, que vivem os membros da família Armitage, surgem absurdamente irritantes nos papeis – especialmente Williams; quem assistiu ao filme, sabe.
Jordan Peele mostrou que sabe o que é o horror e como conduzi-lo. “Corra!” é composto de vários elementos que todos os fãs do gênero horror e suspense gostam e Peele o faz com maestria. Como se não bastasse, os temas sociais permeiam pela narrativa com naturalidade e relevância, sendo discutidos e tratados de maneira sutil em diálogos bem construídos – e sempre bastante enigmáticos, o que não tira o foco da história.
Com um final imprevisível e surpreendente à sua própria maneira, “Corra!” é disparado um dos melhores longas de 2017. Vale a pena conferir.
Lembro como se fosse ontem do dia 14 de julho de 2011, quando cheguei ao cinema para a sessão das 23:59 do último capítulo daquela que considero a melhor franquia do cinema. Quando o filme abre, reapresentando Voldemort roubando a Varinha das Varinhas do túmulo de Dumbledore e em seguida o logo da Warner surgiu na tela, fiquei arrepiado dos pés à cabeça, até a alma, e me emocionei até que o logo do estúdio reapareceu após os créditos finais terminarem de subir.
E essa é a reação que tenho até os dias de hoje, quase seis anos após o lançamento e o término da saga do bruxo Harry Potter nos cinemas. É, sim, um final absolutamente satisfatório, ambicioso, e sólido para uma franquia que durou uma década e atingiu tantas e tantas pessoas, de diferentes maneiras, ao redor do mundo.
Assim como o longa anterior, “Relíquias da Morte: Parte 2” não abre espaço em sua narrativa para leveza – mesmo com o talentoso roteirista Steve Kloves incluindo diálogo ou outro contendo alguma piadinha ou frase de efeito que, felizmente, funcionam pontualmente. O filme é mergulhado em um tom sombrio e uma atmosfera tensa, ágil, sem perder tempo para explicações: por exemplo, a cena em que vemos Hermione segurando um fio de cabelo afirmando ter certeza de que é “dela”, para logo em seguida nos depararmos a personagem na pele da enlouquecida Belatriz Lestrange.
Além disso, Kloves e Yates decidem ousar ainda mais ao ilustrar a violência do mundo no qual nossos protagonistas estão vivendo: é com horror que vemos o banho de sangue realizado por Voldemort na mansão dos Malfoy, além, é claro, das ESPETACULARES sequências de batalha que tomam lugar em Hogwarts, com as mais diversas criaturas e Comensais da Morte avançando contra o castelo com ferocidade e um desejo claro e assustador de matar. Importante ressaltar, também, como o roteiro possui uma força dramática sem igual, causando o choro e deixando o público “entalado” em diversos momentos: “You have your mother’s eyes”, proferido por Severo Snape no segundo ato, é disparado uma das cenas mais emocionantes e complexas de toda a franquia.
Ainda, “Relíquias da Morte: Parte 2” também é hábil ao encontrar tempo em seus 130 minutos de duração (o filme mais curto da saga) para mostrar os personagens absorvendo as perdas e a dor que toda aquela guerra está causando: a rápida sequência em que Harry, Rony e Hermione entram no Salão Principal e se deparam com os corpos de parentes e pessoas queridas, por exemplo, é absolutamente triste e eficaz – não duvido que outros diretores optariam por mostrar a morte de cada um deles para causar tornar o longa uma obra “Hollywoodiana”, por assim dizer.
Não só isso, o fato de David Yates sempre enxergar a extensão da guerra com um olhar humano só ganha méritos para o filme, uma vez que decide ilustrar a destruição de Hogwarts e o horror das mortes com uma trilha sonora triste (quem nunca chorou com Courtyard Apocalypse, por exemplo?). A trilha de Alexandre Desplat, aliás, fecha a franquia com chave de ouro. Músicas memoráveis e emocionantes que se casam perfeitamente com cada uma das cenas, evocando as emoções que as mesmas transparecem sem esforço.
Nas atuações, temos Daniel Radcliffe se sobressaindo como Harry Potter, pela primeira vez carregando um arco pesado sozinho em suas costas – as expressões do ator após fazer uma chocante descoberta e ao reencontrar pessoas queridas na Floresta Proibida, por exemplo, dispensam comentários. Rupert Grint também ganha mais espaço para um humor inteligente e pontual, além de não precisar abrir a boca em algumas sequências para ilustrar aquilo que seu Rony Weasley está sentindo. E Emma Watson também demonstra um potencial gigantesco de emocionar evocando a lealdade de Hermione ao herói.
No entanto, a figura mais complexa e mais brilhante desde último capítulo de “Harry Potter” é, sem dúvida, o saudoso e brilhante Alan Rickman, que sempre compôs Snape como um personagem ambíguo e complexo – a pausa em suas falas para certificar que elas soem como ameaça são sempre fascinantes, e em “Relíquias da Morte: Parte 2”, ele ainda mescla com expressões que ilustram medo de estar sendo “verdadeiro” demais. Além disso, a cena em que divide a tela com Voldemort também é uma das mais tristes e excepcionais do ator ao perceber qual o destino que o vilão preparou para Snape.
A única ressalva para o volume final vão para algumas decisões precipitadas de Kloves e Yates na batalha final, já que temos algumas mortes importantes que, infelizmente, não alcançam o impacto esperado (a explosão de uma das vilãs em mil pedacinhos, por exemplo). Quanto ao fim de Voldemort, embora haja toda uma justificativa para acontecer com ele o que aconteceu – reparem como a pele do Lord das Trevas surge descascando, como se estivesse podre, e escurecendo conforme Harry destrói das horcruxes –, ainda assim não foi suficiente para que SENTÍSSEMOS aquele momento (teria sido mais acertado se tivessem seguido aquilo apresentado pela rainha J.K. Rowling no livro).
Enfim, o desfecho de “Relíquias da Morte: Parte 2” mostra que a escalação de David Yates para assumir os quatro capítulos finais da franquia, por mais controversa que seja entre os fãs, foi uma cartada de mestre, pois o diretor além de ter inovado bastante o universo mágico concebido por Chris Columbus, Alfonso Cuarón e Mike Newell, também mostra compreender que acima da BRILHANTE história, estes grandes personagens foram responsáveis pelo clamor popular da franquia.
Tenho muito orgulho de fazer parte desta geração. De amar Harry Potter incondicionalmente (e cada vez mais) sempre que revisito os filmes e os livros. E de ter crescido junto com estes personagens e com os atores que se esforçaram tanto ao longo de 10 anos para trazer este fantástico J.K. Rowling’s Wizarding World à vida. Amém, Harry Potter. Até a próxima maratona.
Chegamos, por fim, à primeira parte do épico final da saga Harry Potter. E esta parte 1 de “Relíquias da Morte” é, possivelmente, o meu filme favorito de toda a franquia – embora, como fã dos livros e dos filmes, ache muito difícil escolher um.
Se em “Ordem da Fênix” e “Enigma do Príncipe”, capítulos que já possuíam uma atmosfera mais tensa, perigosa e sombria, “Relíquias da Morte: Parte 1” se encarrega de mergulhar de vez a saga num tom bem mais tenso que não tínhamos presenciado antes: basta observar, por exemplo, os primeiros minutos do filme; uma logo da Warner “enferrujado”, um Ministro da Magia alertando a população bruxa dos perigos que precisam ser enfrentados e uma Hermione Granger, lendo em um jornal, que famílias de trouxas e bruxas estão sendo assassinadas e raptadas. E não só isso, como a sequência que sucede o logotipo do filme também já evidencia que este capítulo não é, de forma alguma, destinado para crianças, já que vemos Lord Voldemort e seus Comensais da Morte tramando para por um fim definitivo em Harry Potter – além de testemunharmos o assassinato frio e cruel de uma mulher incapaz de se defender.
Steve Kloves realiza aqui, no que diz respeito aos personagens, seu melhor trabalho em toda a franquia. O roteiro evoca muito bem a suspeita e o medo dos protagonistas, além de colocar sobre eles uma pressão absurda e angustiante, forçando-os ao seu limite. A ansiedade que as passagens silenciosas e que o comportamento irritado e à beira da loucura dos personagens provoca no público é eficiente para situar que aquele universo e situação degrada a mente até da pessoa mais sã. Os diálogos, absolutamente predominantes (o que é compreensível e coerente dada a trama), são todos eficazes e com forte significado, desde as cenas mais simples até as mais complexas – por exemplo, eu tenho um amor muito grande pelo momento em que Harry e Hermione conversam à beira do rio, na Floresta do Deão, na cena posterior a um ataque quase mortal.
David Yates realiza um trabalho marcante neste “Relíquias da Morte: Parte 1”, tanto ao evocar o desgaste de Harry, Rony e Hermione, como ao aprofundar com habilidade os temas políticos – a reação de Hermione ao ver o monumento no Ministério da Magia em que coloca os trouxas “no lugar que lhe pertence”. Além disso, é igualmente impressionante como, nesta mesma sequência de eventos, o diretor ilustra um “governo” tentando passar segurança ao mesmo tempo em que ameaça a população de maneira sutil e direta – e a opressão fica presente nos momentos em que Rony ouve o rádio, em especial em uma sequência IMPECÁVEL em que ouvimos os nomes de vários bruxos desaparecidos conforme acompanhamos a cansada jornada dos heróis.
A fotografia de Eduardo Serra destaca esta atomesfera sombria com um tom mais enegrecido e cinzento que ainda assim soa fascinante. Stuart Craig também realiza um belo e notável trabalho com o design de produção para trazer à vida esse sentimento mais tenebroso com cenários únicos (sendo o principal deles o próprio Ministério da Magia, A casa de Sirius Black e a Mansão dos Malfoy, já que na maior parte do tempo a narrativa caminha por planos abertos e ao ar livre).
Os efeitos especiais também merecem destaque (principalmente a visão de Yates para o universo da magia, que ousa ao criar elementos que não existem nos livros de Rowling e que eu, particularmente, gosto muito). À primeira vista o Dobby de “Relíquias da Morte: Parte 1” me causou mais estranheza do que em “Câmara Secreta”, já que no segundo volume ele parecia mais realista. Porém atualmente já me dou por convencido.
Nas atuações, sempre vou elogiar o trabalho de Daniel Radcliffe como Harry Potter, já que pra mim ele consegue evocar e dominar muito bem toda a carga e o peso dramático da jornada do personagem-título – as cenas em que surge mais irritado soam, sempre, muito convincentes. Rupert Grint pela primeira vez tem a oportunidade de explorar outra faceta do Rony Wasley, mesclando pontualmente o lado mais cômico do personagem com aquele que está prestes a explodir diante da pressão exercida pela situação em que se encontra. E Emma Watson se destaca positivamente, também, ao explorar com mais complexidade os conflitos internos de Hermione – tendo como fio condutor sua situação com os pais.
Finalizando com uma cena absolutamente triste e dramática e com um gancho eficaz e empolgante, “Relíquias da Morte: Parte 1” é um estudo de personagens e um incrível início para a finalização de uma franquia exemplar e inteligente.
Geralmente não crio expectativas para filmes, mas como o primeiro volume de Guardiões da Galáxia foi maravilhoso em muitos, muitos sentidos, era impossível não esperar um grande feito deste segundo – mesmo sabendo que, em maioria, das sequências acabam sendo inferiores ao original. O que, claro, não é o caso deste Volume 2 que, particularmente, enxergo no mesmo nível que seu antecessor – não consegui optar por um “melhor”, já que tive uma experiência tão boa quanto em 2014.
James Gunn sabe como fazer um filme cômico sem forçar humor o tempo todo, em momentos desnecessários e aleatórios. As piadinhas do Volume 2 são todas orgânicas, divertidas e pontuais – e ao mesmo tempo em que inclui alguns momentos de riso puramente infantis (e que funcionam, sempre importante ressaltar), foi com muita surpresa que encarei um número consideravelmente grande de diálogos com forte conotação sexual (que só adultos poderão compreender). Além disso, Gunn também aposta em um terceiro ato com um desfecho absolutamente emocional e inesperado – algo que não estamos acostumados a ver nos filmes da Marvel e que realmente me pegou de surpresa, uma vez que a carga dramática dos eventos são bastante intensas.
No entanto, o maior acerto do roteiro é como consegue convencer e fazer o público se apegar fácil à relação que os Guardiões possuem um com o outro – e quando um deles autodenomina a amizade que existe ali como “família”, a palavra possui um peso significativo incrível – algo que não ocorre em certos filmes dirigidos por David Ayer, por exemplo, que usa o mesmo artifício. Dito isso, a entrega do elenco é essencial para que a construção da relação jamais soe forçada, e todos eles compõem os personagens com carisma e profundidade: desde Chris Pratt (que possui um arco dramático complexo e interessante), até mesmo Bradley Cooper, que dá vida à Rocket como uma criatura cínica e muitas vezes arrogante, mas que por trás desse ranço todo existe apatia pelos seus companheiros de aventuras. O destaque, no entanto, vai para Kurt Russell, que faz de Ego um dos vilões mais memoráveis da Marvel no cinema – talvez o primeiro que realmente deu certo em muito tempo.
Do ponto de vista técnico, não há o que reclamar de Guardiões da Galáxia: Vol. 2. Para um filme que se sustenta de efeitos visuais, o resultado final é fantástico. Scott Chambliss faz um trabalho realmente incrível no design de produção, construindo criaturas extraterrestres diferentes e fascinantes, além dos cenários grandiosos, em especial do planeta Ego: um deleite visual. O pequeno Groot, adorável como poderíamos esperar, também merece uma menção honrável não só pela sua contrução visual, como também pela humanidade do personagem em si – ao mesmo tempo em que vibramos com o estúdio em uma cena em que Groot é hostilizado por um grupo de aliens, pela lágrima sutil que cai do rosto dele, também ficamos absolutamente tocados com a crueldade a qual a pequena criatura está sendo submetida. Palmas, James Gunn!
Com uma trilha instrumental maravilhosa e uma trilha sonora oitentista IMPECÁVEL, mais uma vez, Guardiões da Galáxia: Vol. 2 se firma como um dos melhores lançamentos da Marvel nos últimos anos.
Apesar de trazer alguns conflitos que poderiam render: Henry e Dean, pai e filho que vivem em conflito. Ou o dilema de Dean em determinado momento da narrativa, o filme é muito mal desenvolvido e maçante. Não aprofunda nenhum dos temas que propõe a discutir e sua duração de 105 minutos soa absolutamente exagerada, pois não tem força pra sustentar tudo isso.
O roteiro só ganha alguma força, significado, em uma grande reviravolta aproximadamente nos 20 minutos finais, talvez. Mas ainda assim, falha miseravelmente no desfecho. Faltou energia ao diretor Ramin Bahrani (também roteirista).
E preciso dizer: que puta personagem chato esse do Dennis Quaid, ele estava absurdamente irritante neste filme.
O tom urgente de “Enigma do Príncipe” já é notado logo nos primeiros segundos de exibição, quando o logo da Warner Bros. surge na tela acompanhado de uma trilha que remete aos acordes clássicos do John Williams, mas que logo torna-se triste e impactante mostrando um Harry em estado de choque sendo fotografado por repórteres (uma continuação da cena que sucede a batalha de Voldemort e Dumbledore em “Ordem da Fênix”), e apresenta o logotipo envolto de um céu escuro que anuncia o que iremos presenciar nas duas horas posteriores.
“Enigma do Príncipe” conta, também, com uma atmosfera bem mais pesada do que qualquer um de seus capítulos anteriores – e levando em conta como as coisas já eram tratadas como urgentes e perigosas em “Cálice de Fogo” e “Ordem da Fênix”, este é um feito e tanto. Basta observar como os adolescentes as situações fogem daquilo que é considerado habitual na vida de qualquer outro jovem: vemos um Harry desconfiado das atitudes perigosas de Draco Malfoy – e seu interesse acaba tendo, num primeiro momento, uma consequência violenta.
Ainda assim, o roteiro do sempre ótimo Steve Kloves também abre um espaço considerável de tempo para tirar os personagens do peso do retorno de Lord Voldemort para os mesmos se entregarem aos próprios hormônios naturais – e o filme é permeado de cenas assim, mostrando os corredores cheios de pessoas se beijando e etc, algo absolutamente comum para jovens de 16 anos. O fio condutor, no entanto, é a relação entre Harry e Dumbledore que já começa a ser estabelecida logo nos primeiros minutos de projeção – e por mais que pudessem ter dedicado um tempo maior a isso, é impossível não encontrar absoluta verdade na interação entre os dois: Dumbledore demonstra o tempo todo o quanto gosta e o quanto se preocupa com Harry, mesmo sendo obrigado a incubi-lo de tarefas perigosas e nada fáceis, sempre reconhecendo esse esforço e se desculpando por “exigir demais dele”.
A fotografia de Bruno Delbonnel (criticatada de forma injusta) é excepcional por ilustrar não só o tom sombrio, pesado e urgente, como também cria um mundo realista e deprimido, tanto o Mágico quanto o dos Trouxas – quando o mesmo é assolado pelos Comensais da Morte na destruição da Ponte. E Start Craig se supera no design de produção para conferir veracidade ao perigo que a comunidade bruxa agora enfrenta: basta ver como o Beco Diagonal, um local sempre alegre, colorido e cheio, estar vazio, fechado e cinzento (a IMPECÁVEL loja dos gêmeos é a ressalva).
David Yates conduz a narrativa com segurança, esgueirando suas câmeras pelo Castelo de Hogwarts, em muitas cenas focando os personagens por trás de paredes, o que contribui para o tom imediato. Particularmente, gosto muito da cena de destruição à Toca (algo que não temos no livro), já que é eficaz na tensão. E o confronto de Harry e Draco, cru, só não é melhor porque o roteiro falha em abordar alguma consequência para tal ato. Aliás, o mistério que o subtítulo do longa sugere não é tão bem aprofundado como deveria.
Não só isso, Yates também constrói bem o amendrontamento de algumas sequências-chave: como a busca de Dumbledore e Harry à beira do oceano, que é SENSACIONAL. Além disso, a tragédia fatídica que marca para sempre “Enigma do Príncipe”, no meu ponto de vista, é absolutamente emocional em todos os sentidos: os diálogos que antecedem um dos AVADA KEDAVRA mais marcantes da franquia só contribuem para crescer um sentimento de impotência e medo – e até hoje, mesmo quase oito anos após o lançamento deste filme, eu ainda fico absolutamente abalado com a última imagem que temos de Dumbledore vivo. Único momento que eu tiraria do corte final seria a cena em que Gina coloca um biscoito (?) na boca de Harry e o momento em que se ajoelha para amarrar seus cadarços.
Nas atuações, acho que Daniel Radcliffe foi evoluindo, sim, com o passar dos anos – uma vez que a responsabilidade dramática no que diz respeito ao Harry Potter também foi crescendo consideravelmente, e ele se sai muito bem nessa ilustração. Rupert Grint e Emma Watson, agora com mais destaque do que em “Ordem da Fênix”, mostram-se sempre à vontade na composição de Rony e Hermione e desta vez, Tom Felton tem uma oportunidade maior de explorar os conflitos internos angustiantes de Draco Malfoy – sua postura antes do confronto com Harry no banheiro, por exemplo, é tocante. Assim como, também temos Alan Rickman ganhando mais tempo de tela (e eu sempre me encanto quando o personagem entra em cena com seu tom único). E Jim Broadbent se diverte como Horácio Slughorn.
Mas acho que o maior destaque do filme é mesmo Michael Gambon, que aposta numa composição um tanto mais cansada neste “Enigma do Príncipe” totalmente condizente com a jornada do personagem no longa, que vai sendo revelada aos poucos. E seu comportamento mais agitado em alguns momentos, a expressão de choque em outros, é ideal para que o público entenda de uma vez que os personagens estão diante de algo realmente ameaçador.
Como filme (obra audiovisual, cinema, roteiro, direção), “Enigma do Príncipe” é um exemplo de como explorar bem personagens em uma atmosfera trágica e assoladora.
Roteiro arrastado e até confuso, se você não prestar muita atenção – particularmente fiquei meio perdido com a quantidade de nomes nas conversas, sem ter um rosto para assimilar a eles. Além disso, é um problema sério um longa ter apenas 95 minutos de duração e ainda assim conseguir ser maçante.
A trama não é ruim, apesar de não ser original também. Só faltou mesmo um roteiro mais bem trabalhado e uma direção mais objetiva e com ritmo. Algumas sequências se sobressaem, mas no geral acaba sendo um filme beeeem fraco. Esperava mais.
O mérito de Fifty Shades Darker é ser um pouquinho, um tiquinho, melhor do que o primeiro filme. Mas levando em conta a bomba que é a história original, a sequência ser melhor não quer dizer muita coisa.
Como um todo, é um filme vazio e superficial. Não chega a abordar bem as próprias tramas que até soam interessantes – e introduz MUITOS núcleos paralelos ao casal também, como a menina submissa stalker, o patrão que parece estar querendo tirar proveito da assistente. Mas o pior de todos mesmo é o passado do Christian Grey: se estavam tentando convencer ou justificar o que ele gosta de fazer com mulheres, falharam miseravelmente.
Se você encara o roteiro de Fifty Shades Darker como uma comédia pastelão, ele é maravilhoso. Os diálogos, grande parte deles pavorosos, fazem rir quase que o tempo todo – em especial pelas reações da Ana às decisões impostas por Grey, como quando ela afirma “você não vai enfiar isso na minha bunda”, como não morrer rindo disso? Quanto às cenas de sexo: também uma piada. Mais pelo fato do Jamie Dornan aparecer transando na maioria das vezes de roupa – quando não está devidamente vestido com camisa e calça, está usando ao menos uma das peças.
James Foley até que se esforça para retirar do roteiro o melhor possível, mas sendo raso como é, não há como fazer grandes milagres. É patética, por exemplo, a cena em que uma repórter na TV anuncia que um determinado personagem foi encontrado com vida após o acidente, só para 10 segundos depois ele aparecer dentro de casa. Sem falar, claro, no sexo BDSM após uma experiência naturalmente traumática, mas ok. O diretor merece méritos, ao menos, por não repetir a analogia visual tosca e óbvia de Sam Taylor-Johnson com prédios e com a chuva.
John Schwartzman faz um belíssimo trabalho com a fotografia do filme, assim como Nelson Coates no design de produção. Trilha sonora de Danny Elfman absoluamente esquecível – na verdade passa despercebida dentro do próprio filme, de tão desinteressante.
O forte dessa franquia não é história e mesmo quando criam uma historinha para criar tensão (por mais boba que seja), ainda conseguem falhar.
Este e “Enigma do Príncipe” são os dois capítulos mais polêmicos da franquia Harry Potter – creio que mais pela adaptação, o que é totalmente injusto em todos os sentidos. E até hoje, quase 10 anos após o lançamento do quinto volume, não consigo entender a razão de “Ordem da Fênix” ser tão menosprezado por muita gente. Pode até não ser o melhor filme da saga, mas é consistente e dá segmento à trama de modo eficiente.
Além do tom cada vez mais sombrio, “Ordem da Fênix” também apresenta um roteiro mais político que discute bem todas as questões que são propostas (e atualíssimas!): observem como o Ministro da Magia usa sua influência no famoso jornal O Profeta Diário para espalhar mentiras e incitar a população bruxa contra Harry e Alvo Dumbledore, só pelo mesmo não querer abrir os olhos para enxergar a voz da verdade. Em contrapartida, um dos problemas encontrados em “Pedra Filosofal” retorna aqui: em nenhum momento parece que o tempo está passando e que, ao final do filme, um ano letivo inteiro chegou ao fim. Mesmo com cenas pontuais ilustrando o inverno, o verão e etc, Michael Goldenberg falhou neste quesito e David Yates não conseguiu reverter a situação. Em contrapartida, apesar de termos poucas cenas, “Ordem da Fênix” também trabalha bem a relação de Harry e Sirius, apresentando cenas entre os dois cujos diálogos ficaram marcados em todos aqueles que amam a saga tanto quanto eu – sequências estas que também funcionam como preparação para um grande evento do terceiro ato.
Falando em Yates, por fim entra o diretor que definitivamente revolucionou, visualmente, o universo de Harry Potter (sim, porque sim). A atenção que os diretores dão aos elementos mágicos do mundo de J.K. Rowling sempre foi de suma importância e Yates trouxe componentes diferentes que acho fascinantes: o lampejo dos feitiços, a “fumaça negra” em que se transformam os comensais da morte – algo já incluído por Mike Newell no capítulo anterior, mas amplificado neste volume. Além disso, o diretor também evoca um tom urgente com facilidade, através do nervosismo de Harry e do tom impaciente e mais afastado de Dumbledore.
Nas atuações, temos Daniel Radcliffe com uma carga dramática ainda maior em mãos, uma vez que além de estar crescendo e com hormônios à flor da pele, o jovem ainda se depara com uma atenção absurda por conta das acusações de mentiras, além de toda a pressão que algo assim certamente traria para qualquer pessoa. Emma Watson surge BEM mais natural como Hermione do que em “Cálice de Fogo”, sem fazer caras e bocas, demonstrando reações para TUDO o que vê e ouve. Temos a introdução de Imelda Staunton como a odiosa Dolores Umbridge, que surge em tela como uma mulher severa, sedente por poder e por controle e absolutamente reacionária – odeio esta personagem muito mais do que odeio Lord Voldemort. Alan Rickman tem uma chance maior de explorar o caráter dúbio de Severo Snape. Michael Gambon surge quase sempre impaciente como Dumbledore, evocando o tom preocupado do filme. Importante mencionar, também, Evanna Lynch como Luna Lovegood: uma atriz que nasceu para interpretar essa encantadora personagem.
As sequências de ação, mais concentradas no terceiro ato, são magistrais. Particularmente, gosto muito de todo o embate no Ministério, desde os meninos lutando com os Comensais no Salão das Profecias, até o grande e aguardado confronto entre Dumbledore e Voldemort, que exala o quanto ambos os personagens são absolutamente poderosos. Destaque, também, para as cenas em que Harry se torna mentor de alguns alunos, que são divertidíssimas e enriquecem o filme. E os efeitos especiais funcionam relativamente bem, tendo como sua maior falha a criação digital do gigante Grope, que soa artificial DEMAIS – mesmo interagindo bem com os atores em cena; a iluminação foi responsável por torná-lo “aceitável”. Temos ainda uma bela direção de arte, um incrível design de produção e uma trilha memorável de Nicholas Hooper – os temas de Umbridge, do Salão das Profecias e das Aulas de Harry são todos maravilhosos.
“Ordem da Fênix” é, sim, um grande filme e uma grande preparação para os perigos e reviravoltas que ainda estão por vir nos capítulos posteriores.
O Culto de Chucky
2.3 611 Assista AgoraDecepcionado. Geralmente não crio expectativas para filmes, justamente para não ficar chateado depois, mas o que fizeram neste capítulo da saga do Chucky foi covardia – ainda mais levando em conta o terror que havia sido resgatado em “A Maldição”, como tinha que ser.
Achei a história desse filme boba e esgotada – a trama em geral está assim. Tentaram dar uma inovada, mas falharam miseravelmente alterando toda a mitologia do boneco e do feitiço que nós, fãs, conhecemos desde o primeiro filme (que está pra completar 30 anos). Que limitação ABSURDA e desleixada do Don Mancini no texto. Diálogos expositivos. Piadas bobas (risíveis só por serem ruins). Desenvolvimento confuso. Buracos. Pontas soltas. Não respondeu perguntas em aberto do filme anterior, muito pelo contrário: aumentaram as dúvidas. É o que dá virar do avesso sem mais nem menos tudo aquilo que foi apresentado em seis filmes.
Na direção, Don Mancini se sai um pouquinho melhor do que no texto(é de surpreender que ele tenha sido um dos roteiristas da icônica Hannibal, série citada pelo Chucky neste “O Culto”, e ainda assim apresente um texto tão porco na franquia que ele mesmo criou). Tirando alguns momentos que não deveriam existir (tipo o Chucky gigante), ele até consegue construir a narrativa de forma tensa e desenvolve bem o mistério nos primeiros 30 minutos. A fotografia do filme também merece um crédito, além da trilha sonora.
Mas eu, como fã do Brinquedo Assassino desde que me entendo por gente, infelizmente não consegui aproveitar este capítulo como alguns conseguiram. Acho que inovações são sempre bem-vindas, ainda mais em um filme com esta temática cuja fórmula é sempre a mesma. Mas desde que faça sentido. Que o próximo filme (que provavelmente vai acontecer), seja melhor do que isso.
Homem-Aranha: De Volta ao Lar
3.8 1,9K Assista AgoraDesde que me entendo por gente, o Homem-Aranha é o meu herói favorito de todos os tempos. Logo, em consequência, estava muito ansioso e com boas expectativas para esta nova releitura das aventuras do “Cabeça do Teia” (e olha que não costumo criar expectativas para nada, justamente para não me decepcionar posteriormente). Felizmente, elas foram atendidas e “De Volta ao Lar” é o melhor filme do herói desde “Homem-Aranha 2”, de 2004 – lado a lado com o filme de Sam Raimi, na minha opinião.
O grande acerto do filme, além de ter construído uma trama consistente, interessante e divertida de acompanhar, é o fato de honrar os personagens de acordo com a idade dos mesmos. O Peter Parker composto por Tom Holland é, disparado, o mais humano entre as recentes versões apresentadas pelo cinema, já que sua postura e seu comportamento em nada deixa a desejar levando em conta tratar-se de um adolescente de 15 anos.
É maravilhoso, portanto, que o roteiro abra espaço, mesmo que de forma sutil, para discutir os conflitos internos do personagem em relação aos seus poderes e ao fato de levar uma vida normal na escola, com os amigos, além de ter que lidar com sentimentos amorosos que, naturalmente, começam a brotar. Holland é absolutamente hábil ao evocar a vulnerabilidade de Peter – por exemplo, na cena em que há sabe-se lá quantas toneladas de concreto sob suas costas, em que ele se mostra desesperado: um comportamento natural já que, apesar de possuir poderes e estar maravilhado com eles, continua sendo um menino.
E Michael Keaton compõe seu Toomes (ou Abutre) como um vilão que já merece pontos por divergir da maioria dos outros apresentados nos anos recentes pelos longas de heróis, já que ele não tem pretensão de destruir ou moldar o mundo ou as pessoas de acordo com seus ideais, seu propósito é o ganho de dinheiro em prol do sustento familiar – e suas motivações, na cena em que é confrontado por Peter no terceiro ato, sobre como as pessoas que estão em outros patamares financeiramente não se importam com os necessitados, são verossímeis. Keaton também soa frio e ameaçador (a sequência no carro em que ameaça matar Peter e sua família é primorosa). Fechando os destaques do elenco, temos Jacob Batalon como Ned, responsável pelos momentos mais engraçados de “De Volta ao Lar” e também composto com empenho pelo ator, além de possui uma excelente interação com o Peter de Holland.
Jon Favreau diverte com aparições pontuais como Happy Hogan. E Zendaya dá vida a uma personagem que, à primeira vista, aparenta ser apática, porém mesmo com uma participação reduzida, protagoniza as cenas em surge na tela. Marisa Tomei merece menção honrosa por sua May Parker, apesar de não ter grande função na narrativa.
O roteiro também acerta por não incluir tantas piadas ditas – as pensadas são sempre bem encaixadas, mas o longa aposta mesmo em situações cômicas que são bem trabalhadas. As sequências de ação infelizmente não são tão empolgantes. A melhor delas, no Monumento de Washington, acontece em um curto espaço de tempo e outras duas têm como ambientação o escuro da noite, que são ainda mais prejudicadas pelo fato de que o diretor John Watts ser incapaz de manter alguma coerência, promovendo cortes rápidos e abruptos que só fazem confundir o público – além disso, o embate final entre Homem-Aranha e Abutre é absolutamente decepcionante, já que o mesmo termina basicamente antes mesmo de começar. A trilha sonora de Michael Giacchino também decepciona, já que não traz nenhum tema marcante ou capaz de nos fazer lembrar logo após os créditos terminarem de subir.
Por outro lado, os efeitos especiais são todos muito bem realizados e Salvatore Torino faz um belo trabalho na fotografia do filme – que ganham um destaque prazeroso em alguns planos-chave abertos ao longo da projeção.
“Homem-Aranha: De Volta ao Lar” possui, sim, seus defeitos. Mas é um filme consistente e que honra seu personagem-título para prazer de todos que, como eu, são fãs do herói. Viva o Tom Holland!
O Dia Depois de Amanhã
3.2 1,2K Assista AgoraEfeitos especiais espetaculares em todas as cenas de destruição. A sequência com os tornados em Los Angeles é foda, e a inundação de Nova York pelo aumento do nível da água do mar é impecável – pra mim, uma das melhores cenas do cinema no quesito catástrofe ambiental. Muito bem realizada.
Aliás, se tem uma coisa que “O Dia Depois de Amanhã” faz bem é criar tensão, já que desde os primeiros minutos, na geleira que se rompe, estabelece o que veremos durante os 123 minutos posteriores. Gosto do grupo de personagens que ficam presos na biblioteca. O romance pode soar batido e clichê, mas tanto o Sam quanto a Laura são carismáticos – e ambos os intérpretes, Jake Gyllenhaal e Emmy Rossum, compõem bem os papeis. Já o Dennis Quaid é aquele tipo que é o único que entende o que está acontecendo, o único que faz os alertas corretos que ninguém quer ouvir e etc. Sorte que o Jack, seu personagem, vai além, já que seu arco é movido pelo amor ao filho acima de qualquer coisa.
O roteiro tem algumas inconsistências. O que mais me incomodou foram os lobos: como é que eles conseguiram sobreviver à onda, gente? Mostra que eles fugiram lá de um local, em seguida eles ressurgem quando a água que assolou NYC já está congelada. Achei meio sem nexo. O final, apesar de ter até uma certa emoção quando pai reencontra filho, acaba sendo prejudicado ao mostrar que todos serão resgatados apenas alguns minutos após a chegada do “grupinho” – o que indica que pelo menos uma vida poderia ter sido poupada nesse percurso. Mas enfim, gosto da inspiração do diretor Roland Emmerich, que é uma previsão real, para a construção da trama. Gosto MUITO da trilha sonora – acho a música da cena da “onda” marcante.
No geral é um ótimo filme, sim. Consegue entreter, tem sempre alguma coisa acontecendo, não é cansativo. Vale a pena.
Jogos Vorazes: A Esperança - O Final
3.6 1,9K Assista AgoraQuando conheci a franquia “Jogos Vorazes”, a primeira coisa que me cativou e que me fez interessar por toda a obra escrita por Suzanne Collins foi, justamente, sua protagonista: Katniss Everdeen, uma jovem forte, determinada e comum, absolutamente humana, que de repente se vê dentro de um jogo mortal e logo em seguida, é endeusada por uma população oprimida que enxergam nela a chance de se livrarem da mão de ferro com a qual são governados. A leitura dos livros e a exibição dos filmes sempre foram e continuam sendo algo bastante prazeroso, já que a franquia é importante, alegórica e reflete muitas coisas atuais, tanto no que diz respeito à opressão, quanto pela guerra em si.
“A Esperança: O Final” é, portanto, um desfecho bem amargo: por um lado, o filme não poupa tempo para aprofundar os personagens e seus sentimentos, na maioria das vezes complexos, descartando então o entretenimento barato e a banalização da violência; por outro, o diretor Francis Lawrence, infelizmente, mostrou certa incompetência por não compreender qual era a história que estava sendo contada e suas consequências, tornando a experiência cinematográfica um tanto aquém daquilo que poderíamos esperar.
“A Esperança: O Final” possui uma narrativa melancólica, uma atmosfera sombria, paleta de cores puxada mais para o cinza, o que ilustra bem como Katniss Everdeen se sente diante de situações que fogem completamente de seu controle. Neste quesito, Francis Lawrence é hábil, já que consegue criar urgência em diversas cenas graças à câmera na mão (e que não é usada com exaustão, como o diretor do primeiro longa) e a tensão vai crescendo conforme os minutos vão passando. As sequências de ação se destacam: aquela com o “óleo preto” é digna de aplausos, e a sequência subterrânea onde os heróis são todos atacados por criaturas chamadas “bestantes” talvez seja a melhor de toda a franquia – peca, no entanto, pelo desenvolvimento confuso, já que é um tanto difícil identificar onde os personagens estão e como eles estão. E a terceira, claro, vai para o momento em que Katniss e Gale caminham pela rua principal da Capital rumo à Capital até que um confronto mortal é iniciado, que soa verossímel, real, com cenas reais de batalha: tanto pelo confronto, como pelo pânico – e a criança que chora desesperada sobre o corpo já morto da mãe que a carregava causa um impacto e tanto.
O roteiro concebido por Danny Strong e Peter Craig continua apostando em diálogos recheados de críticas sutis e alegóricas, porém infelizmente acaba sofrendo com a quebra de ritmo, já que em pelo menos três momentos, após grandes e empolgantes cenas de ação, o filme basicamente dá uma “pausa”, levando os personagens a ambientes mais “seguros” onde eles discutem sentimentos entre si – o aprofundamento dos personagens, neste ponto, não é defeito, e sim a forma como foi incluída na narrativa.
Jennifer Lawrence é o grande nome desta franquia e sempre realizou um trabalho impecável, de entrega absoluta na composição, já que Katniss é um poço de compexidade. Em inúmeras cenas, Lawrence não precisa abrir a boca para evocar bem e trazer emoção acerca do que a personagem está sentindo. Apenas sua expressão e seu olhar já ilustram isso bem – e não concordo quando afirmam que, em determinado momento da narrativa, após viver uma situação catastrófica, a atriz adota um “olhar de paisagem”: muito pelo contrário, seu olhar inexpressivo ilustra perfeitamente que já não há mais vida dentro dela. Há também a cena em que é ameaçada por um trabalhador da Mina no Distrito 2, em que transparece toda a sua raiva e desprezo ao falar de como todos ali são escravos do Presidente Snow, entre outros grandes momentos.
Josh Hutcherson, mais uma vez, surge hábil no que diz respeito aos sentimentos complexos de Peeta – e que retornam ainda mais complicados, já que agora ele sofreu uma lavagem cerebral nas mãos da Capital e não consegue discernir o que é real e o que é falso. Da mesma forma encontra-se Liam Hemsworth e seu Gale, que mescla o personagem entre seus sentimentos por Katniss e seu desejo de derrubar a Capital à qualquer custo.
Por outro lado, Donald Sutherland volta a apostar no cinismo na construção de seu maquiavélico Presidente Snow que, mesmo abatido (já que ele é um senhor de idade que vem enfrentando uma crise imensurável em seu “governo”), é capaz de assustar só pelo fato de abrir um sorriso sádico quando dita alguma coisa. Philip Seymour Hoffman ressurge pela última vez nas telas novamente exalando segurança como Plutarch, ao passo que Julianne Moore deixa completamente de lado o comportamento mais empático de algumas cenas da “Parte 1” e mostra-se mais fria e bem mais articulada como Alma Coin.
“A Esperança: O Final” conta, ainda, com uma bela fotografia de Jo Willems e, novamente, com uma trilha sonora sublime composta por James Newton Howard (“Rebel’s Heart” talvez seja o seu melhor trabalho dentro da franquia, que proporcionou músicas icônicas).
E chegamos, então, na parte que desaponta: o desfecho. Não pela finalização da guerra em si, já que Francis Lawrence também aborda as consequências da guerra e promove reflexões importantes sobre as atitudes gerais do ser humano. A seriedade com a qual tantos temas foram abordados ao longo dos quatro filmes é o que torna o seu “epílogo”, o seu “anos depois”, tão frustrante – tanto para quem conhece a saga só pelo cinema, como para quem leu o livro –, já que Lawrence não foi capaz de respeitar as ditas consequências e os traumas da guerra de forma coesa e marcante. Não costumo fazer comparações entre livro e filme (inclusive, acho errado), mas este é um exemplo clássico de como a mudança de tom pode prejudicar tudo: a cena final do filme é exatamente a mesma do livro, as mesmas palavras de Katniss e etc. Porém, lá, nós sentimos a personagem distante, traumatizada, quase que em um estado vegetativo – ela vive porque está viva, mas é assombrada pelo passado. Até mesmo o local onde se passa este rápido momento possui um significado e um impacto no leitor (uma campina que na verdade é um cemitério). No filme, temos uma trilha sonora bonita, alegre, quente, e uma Katniss que, por mais que comente sobre seus pesadelos e como “eles nunca vão embora”, não convence como a mulher adulta que passou o que passou anos antes – infelizmente foi esta a intenção do filme e acho uma pena.
Mesmo com alguns problemas de narrativa, “A Esperança: O Final” é, sim, um bom desfecho para uma franquia tão importante.
Jogos Vorazes: A Esperança - Parte 1
3.8 2,4K Assista AgoraComo fã da franquia, tanto dos livros como dos filmes, não acho que “A Esperança: Parte 1” deixe muito a desejar, depene em trama e em desenvolvimento. Pra mim é o segundo melhor da saga, perdendo apenas para “Em Chamas”. Acho que neste capítulo, os personagens foram muito bem aprofundados, tanto em cenas de ação (que não banalizam a violência), como nas cenas mais doces e sutis – algumas, é verdade, podem até não exercer função no que diz respeito ao andamento da narrativa, mas não acho que sejam desperdício ou que estejam presentes apenas para preencher a duração.
“A Esperança: Parte 1” já começa com uma atmosfera fria (reparem no som que parece um vento, que vai crescendo aos pouquinhos quando os logos da Lionsgate e da Color Force são introduzidos), e apresenta Katniss Everdeen completamente traumatizada, depressiva e temerosa em relação ao seu futuro e ao futuro de Peeta. Acho que essa cena, inclusive, já estabelece bem o tom da narrativa.
Portanto, o filme definitivamente não vai agradar aqueles que esperavam explosoões, tiros, flechas para todos os lados – o longa, obviamente, abre momentos pontuais para ilustrar a violência da Capital. A crítica de “A Esperança: Parte 1” reside, então, na guerra midiática que se forma entre o Presidente Snow e a Presidente Alma Coin, do Distrito 13, já que ambos compreendem que a melhor maneira que conseguir êxito naquilo que acreditam é vendendo, literalmente, a imagem de heróis – por um lado, Katniss é usada para incentivar os Distritos a lutarem; por outro, um Peeta cada vez mais desgastado e maltratado surge em tela implorando aos rebeldes que desistam da causa. O roteiro do filme, a partir disso, é recheado de diálogos complexos e significativos, com situações que promovem a reflexão e que jamais deixam de ser tratadas como absolutamente sérias.
Francis Lawrence retorna no comando da direção com segurança e determinação, que compreende os momentos mais delicados do roteiro, mas também capricha quando chega a hora de mostrar as consequências por trás de toda aquela guerra. As sequências de ação são todas empolgantes e muito bem realizadas: desde o ataque aéreo ao Distrito 8 até as rápidas cenas de revolta em dois distritos – com destaque para a destruição da represa ao som de “The Hanging Tree”, na voz da Jennifer Lawrence, um dos melhores momentos do filme. A cena em que contemplamos uma tentativa de resgate dentro da Capital é o ápice da tensão. Temos, ainda, espaço para mostrar os personagens retirando das costas pelo menos por alguns minutos todo aquele peso, vide o momento em que Katniss e Gale relaxam sozinhos à beira de um riacho.
Dito isso, aplaudo veemente a impecável atuação de Jennifer Lawrence, que compõe Katniss como uma jovem já “quebrada” – em várias cenas, não há a mínima necessidade que ela abra a boca para evocar seus sentimentos: a cena em que visita o Distrito 12 pela primeira vez, por exemplo, é absolutamente impactante. Josh Hutcherson, em uma aparição mais reduzida, surge sempre abatido, visivelmente maltratado e frágil que luta contra os próprios impulsos diante da tela da TV. Hutcherson rouba as cenas sempre que aparece.
Temos, também, a inclusão de Julianne Moore como Coin, que vive a personagem de maneira inteligente e mescla bem a frieza típica aos momentos em que deve demonstrar empatia. Philip Seymour Hoffman em sua última grande performance (ele tem uma participação pequena no último filme da franquia), compõe Plutarch como um sujeito que exala segurança naquilo que ele compreende, mas também evoca bem seus medos. Pra finalizar, Donald Sutherland ressurge como Snow ainda mais assustador – considero a cena em que dita a frase “são as coisas que mais amamos que nos destróem” uma das mais impactantes de sua trajetória em Jogos Vorazes, pelo sorriso sádico, maldoso e cruel que abre conforme destila todo o seu veneno.
Contando ainda com uma fotografia sombria e acizentada, e uma trilha sonora marcante de James Newton Howard, que volta a usar acordes e passagens inteiras de músicas já conhecidas do público pelos filmes anteriores, “A Esperança: Parte 1” é, sim, um filme complexo, atual engenhoso.
Satânico
1.6 180 Assista AgoraA coisa toda poderia ter funcionado um pouquinho, nem que fosse um tiquinho a mais, se o filme não trouxesse personagens tão irritantes, tediosos, chatos e burros como esse. Não bastasse isso, mas a própria trama também é assim – são 84 minutos e, acreditem ou não, a história só começa a ter algum efeito mesmo a partir dos 59. Roteiro absolutamente preguiçoso, incapaz de aprofundar naquilo que quer contar, além de ser bastante apelativo com sustos em cenas aleatórias (vide no início do filme quando a personagem de Sarah Hyland caminha pelo corredor do prédio, fica parada diante de uma porta e a trilha faz um crescendo daqueles só porque o homem do apartamento surgiu para fechá-lo).
Em resumo, 84 minutos de tédio em uma trama que não sabe aonde quer chegar e não se incomoda de explicar seu próprio conceito. Uma pena.
Mulher-Maravilha
4.1 2,9K Assista AgoraFinalmente a icônica Mulher-Maravilha ganhou a oportunidade de voar solo, em live-action, nos cinemas, e a experiência não poderia ter sido melhor. Confesso que, por mais ansioso que estivesse, também estava com certo receio (mais pela decepção que tive com Esquadrão Suicida), mas que bom que esse sentimento foi provado errado.
“Mulher-Maravilha” possui uma excelente e sólida narrativa. Não acho que as coisas são apressadas e nem muito lentas, tudo vai fluindo muito bem. A apresentação das Amazonas é excepcional e no tempo certo, logo acompanhamos o treinamento da Diana e uma evolução sutil ilustrando seu crescimento. Em seguida, já temos a chegada de Steve Trevor e não demora muito para que ambos partam para Londres e marchem rumo à guerra. Além do roteiro consistente, cheio de diálogos inteligentes e bem escritos, o filme ainda abre espaço para as habituais piadinhas/momentos cômicos que são pontuais e jamais, em momento algum, soam forçados – até porque apostam mais na reação dos personagens diante de algumas coisas do que na recitação de alguma piada em si.
O design de produção também impressiona ao conceber Themyscira como um local colorido, alegre e absolutamente convidativo, ao passo que traz Londres cinza, nublada, “feia” (como diz a própria Diana), ilustrando o horror que é a guerra e a situação precária das várias pessoas atingidas diretamente. E Parry Jenkins comanda o longa com energia, as cenas de ação são sim primorosas (alguns efeitos especiais decepcionam, mas dá pra relevar) e é fascinante o foco que é dado aos poderes e à capacidade de Diana em combate – e preciso dizer que a primeira grande cena de guerra, em que Diana decide partir pro combate apesar do protesto de Steve, é simplesmente fantástica.
Gal Gadot está impecável, poderosa e determinada como Diana/ Mulher-Maravilha, evocando bem a crença de que pode acabar com toda a guerra até a decepção quando percebe que a coisa toda é maior e mais complicada do que imaginava. E Chris Pine, que divide praticamente todas as cenas com ela, compõe Steve como um homem igualmente determinado e repleto de ideais – e é maravilhoso vê-lo dando passos para trás a fim de ver Diana fazendo o que sabe fazer. Menção honrosa para Lucy Davis como Etta que, embora não tenha muitas falas, é um adicional e tanto nas cenas em que aparece.
O único problema de “Mulher-Maravilha” vai mesmo para seus minutos finais. A última grande batalha entre Diana e o vilão não decepciona (embora seja mesmo praxe Hollywoodiano incluir esse tipo de show), mas o vilão em si é que é mal desenvolvido – particularmente, muito antes da revelação que deveria ser uma reviravolta, eu já tinha me tocado das verdadeiras intenções de determinado personagem.
“Mulher-Maravilha” não é apenas um filme sobre uma mulher forte que tem superpoderes. É, acima de tudo, uma conquista para as mulheres. O tipo de filme que é capaz de tornar os longas de super-heróis inspiradores, repleto de mensagens de igualdade, integridade feminina que é um tema sempre necessário e importante. Diana chegou no momento certo. Já não era sem tempo.
LEGO Batman: O Filme
3.9 383 Assista AgoraProvavelmente a animação mais divertida que vi este ano até agora. “LEGO Batman” foi muito além daquilo que eu poderia esperar: com um ritmo absolutamente alucinado e com piadas que inundam o roteiro o tempo todo – a maioria tendo um bom efeito no público, desde as mais bobas até as mais pensadas.
Recheado de referências e menções às outras retratações do Homem-Morcego no cinema e na TV – adorei a ilustração dos filmes anteriores e a ridicularização da série da década de 60, foi muito engraçado –, o roteiro ainda apresenta uma trama principal criativa e interessante o suficiente para justificar seus 104 minutos de duração (confesso que fiquei surpreso quando vi isso). Dick Grayson, posteriormente Robin, foi uma ótima e divertida surpresa no meu ponto de vista – e Michael Cera faz um trabalho irrepreensível na composição do personagem. Não só ele, como Will Arnett dá um tom escrachado e autoritário para o Batman que funciona. Zach Galifianakis provoca o riso sem esforço com o Coringa, graças às reações que evoca com sua voz.
Contando ainda com a presença de outros grandes vilões do acervo da Warner (particularmente, fiquei muito contente quando percebi que Voldemort estava incluso), “LEGO Batman” constrói bem o seu universo através das peças LEGO, aprofunda os dilemas de seu personagem-título ao mesmo tempo em que diverte sem realmente apelar. Vale muito a pena.
Jogos Vorazes: Em Chamas
4.0 3,3K Assista AgoraEis aqui o melhor capítulo da franquia “Jogos Vorazes” no cinema. “Em Chamas” tem todos os elementos que me fizeram apaixonar pela obra criada por Suzanne Collins: apresentação e abordagem do governo opressor e ditador (as críticas aqui são impecáveis), o horror e a injustiça que simbolizam os jogos do título (que também contam com críticas aos reality shows que são sempre vazios), e ao desenvolvimento e profundidade dos personagens que, além de ricos, são absolutamente humanos e fascinantes.
“Em Chamas” já começa hábil no que diz respeito à narrativa e ao tom por conta de duas coisas: a primeira, que é o plano inicial, apresenta um Distrito 12 melancólico envolto em uma neblina cinza, que simboliza a tristeza e o medo de Katniss Everdeen mesmo após ter vencido os brutais jogos no anterior. E a segunda, que enfatiza os sentimentos da personagem principal, é justamente ao ilustrar, quando ela dispara uma flecha, todo o seu trauma desencadeado pelo horror e pelas coisas que teve que fazer quando esteve na arena.
Dito isso, o roteiro escrito por Simon Beaufoy e Michael Arndt (substituindo Gary Ross, Suzanne Collins e Billy Ray, do primeiro volume) é absolutamente engenhoso ao abordar todos os temas pesados e sombrios que o longa propõe, ao mesmo tempo em que concebe um triângulo amoroso sem tirar o foco daquilo que é realmente importante. Mais fascinante que isso é constatar que, mesmo dividida e lidando com a complexidade de seus sentimentos, Katniss jamais permite que o amor que sente por Gale/e ou Peeta se sobreponha ao medo que sente e à necessidade de salvar a si mesma e sua família – a cena em que explica isso a Gale é inteligente e coerente; qualquer outra franquia partiria para o óbvio típico de romances adolescentes. Não só isso, é igualmente interessante como Beaufoy e Arndt desenvolvem Peeta e Gale dentro deste contexto, já que não criam intrigas entre os personagens a fim de ditar para o público quem é realmente digno do amor da jovem: ambos fazem por onde evocar os sentimentos de Katniss, cada um à sua forma.
Ainda falando sobre o trabalho estupendo que fazem com Katniss neste filme, é ainda mais fascinante vê-la concebida como uma jovem pragmática, que vê e entende a necessidade de ter que consentir às ordens do Presidente Snow, e que vai mudando sua perspectiva das coisas de forma natural até decidir enfrentá-lo. Dito isso, Jennifer Lawrence ressurge na pele da heroína com determinação, entregando-se de corpo e alma às várias facetas e nuances de Katniss e ainda realizando um trabalho fenomenal no que diz respeito às reações e a forma como ela enxerga tudo aquilo que está sendo submetida – e, no meu ponto de vista, não há UMA cena dramática (e olhem que são VÁRIAS) em que ela não consiga evocar um turbilhão de sentimentos em tela e emocionar o público diante de tantas atrocidades.
Josh Hutcherson confere mais complexidade aos sentimentos de Peeta (e também surpreende com sua habilidade de manipular em uma cena chave que antece o início dos jogos), ao passo que Donald Sutherland ganha um acertado tempo adicional em tela, onde é capaz de explorar muito mais a vilania e a crueldade de seu Presidente Snow – e a sua primeira cena, onde tem uma conversa séria com Katniss, chega a ser assustadora dado o tom amigável das ameaças de morte que faz à ela às pessoas que ama. E temos a adição do saudoso Philip Seymour Hoffman, que atribui a Plutarch Heavensbee um tom cabalístico e eficiente. Menções honrosas para Woody Harrelson (a bebedeira de Haymitch faz ainda mais sentido neste filme), Elizabeth Banks (que se mostra pontualmente mais triste como Effie) e Stanley Tucci.
Francis Lawrence assume a direção de “Em Chamas” com maestria e faz um excelente trabalho – principalmente levando em consideração que não cometeu o erro medíocre de filmar o longa inteiro com uma câmera tremida que não acrescentou em nada ao primeiro filme. O diretor explora ao máximo os personagens e o universo onde a trama é ambientada (o contraste entre a Capital e os Distritos fica ainda mais evidente e frustrante aqui) e sua condução delicada emociona em várias cenas – o momento em que Katniss descobre que retornará à arena e sai desesperada de casa, por exemplo, não precisa de diálogos para que o público possa sentir a angústia da personagem. O filme conta, ainda, com uma belíssima trilha sonora de James Newton Howard que, hábil como é, reaproveita vários temas e acordes já presentes no longa anterior para construir melodias tristes e marcantes.
“Em Chamas”, portanto, firma ainda mais a importância que a franquia Jogos Vorazes possui.
Máquina de Guerra
2.7 150 Assista AgoraO roteiro do filme acerta na enchurrada de críticas ao governo americano (à política como um todo), funciona como sátira. A cena em que a personagem da Tilda Swinton faz vários questionamentos é muito boa. Mas erra em vários outros pontos. Não tem um tom definido, fica saltando de uma coisa pra outra o tempo todo e isso acaba inchando ainda mais a obra que já tem uma duração exageradamente longa.
Brad Pitt é um dos meus atores favoritos de todos os tempos. Sempre admirei muito o trabalho dele. Mas achei a composição um verdadeiro porre neste “War Machine” – acho que isso se deve ao fato do próprio filme não conseguir encontrar o tom. Caricato e irritante demais com aquela voz forçada. Não consegui aproveitar muita coisa dessa atuação. Sinto muito, Brad. :(
Animais Fantásticos e Onde Habitam
4.0 2,2K Assista AgoraWill we die just a little?
Jogos Vorazes
3.8 5,0K Assista Agora“Jogos Vorazes” surgiu na minha vida no momento em que eu estava me sentindo órfão de outra: a saga “Harry Potter” tinha acabado de se despedir dos cinemas, quando reparei os comentários dos próprios Potterheads acerca da nova franquia que estava prestes a nascer cinematograficamente. E foi assim que meu amor por Katniss Everdeen surgiu – supriu a falta de uma (em termos de ansiedade por novos lançamentos, posters, trailers e todas as coisas que deixam qualquer fã em êxtase), e ainda me apresentou a um universo único, interessante, repleto de personagens carismáticos e uma trama realista (e crítica) à sua própria maneira.
Escrito por Suzanne Collins (autora da trilogia de livros), Gary Ross (diretor do filme) e Billy Ray, o roteiro deste primeiro capítulo é recheado de alegorias e simbolismos que incentivam a discussão e a reflexão do público quanto àquilo que está sendo discutido sem nenhuma dificuldade: uma clara crítica à alienação das pessoas perante o sensacionalismo barato que se alimenta do sofrimento alheio, ao mesmo tempo em que criticam um autoritatismo de um governo que comanda todo um país (batizado de Panem) com mão de ferro. Este ponto, aliás, é muito bem desenhado ao ilustrar a pobreza desesperadora do Distrito 12 em contraste com o luxo e a exuberância que existe na Capital (só pelos vestuários já podemos ver que são pessoas beeem distantes daquelas que estão se matando de trabalhar nos distritos para fornecer aquilo que a Capital precisa, como o Presidente Snow comenta rapidamente em uma cena).
O conceito do jogo em si, no meu ponto de vista, é bem apresentado também por diálogos eficientes (e que jamais soam expositivos) e por pequenos detalhes que só os mais atentos vão perceber – um exemplo é há quanto tempo os participantes estão dentro da arena em cenas que mostram os comentaristas Ceasar Flickerman e Claudiu Templesmith falando sobre os eventos do jogo. Além disso, a decisão de mostrar como funciona a arena e as decisões de seu idealizador é acertada, evidenciando que tudo o que acontece naquele espaço é manipulado por pessoas sentadas tranquilamente diante de uma “maquete” eletrônica. A crítica aos reality shows também surge sutilmente no terceiro ato quando, ao escurecer a arena de uma hora pra outra, Katniss comenta que “eles estão querendo acelerar as coisas para o Finale”.
O grande e principal problema de “Jogos Vorazes”, no entanto, reside na direção absolutamente irregular de Gary Ross, mais por conta de sua câmera tremida que acaba prejudicando o filme em DIVERSOS momentos. Claro que esse conceito funciona, como linguagem cinematográfica, em momentos de tensão, para provocar urgência – e neste quesito, as cenas com o recurso são muito bem recebidas e conduzidas, como exemplo, a fuga de Katniss por uma floresta em chamas, posteriormente a fuga de Katniss e Peeta quando estão sendo perseguidos por “cachorros” criados digitalmente. Por outro lado, é incompreensível a decisão de Ross de usar sua mão trêmula em tantos outros momentos (peguem, por exemplo, a cena logo nos primeiros minutos do filme, quando Katniss caminha pelo distrito 12 rumo à floresta e vemos um pouco de sua pobreza: há um pequeno momento em que a câmera foca em um homem “roendo” ossos e o desespero do responsável pela condução é nítido e irritante).
Por outro lado, ao mesmo tempo em que peca, Ross também é hábil ao criar momentos memoráveis e emocionantes durante todo o jogo: só a sequência em que o Timer chega ao 0 e as crianças correm rumos às armas e mochilas, por exemplo, já é digna de todos os elogios por ser sem som, simbolizando o choque de Katniss diante de tanta brutalidade dos Carreiristas (os já treinados para matar) contra crianças indefesas.
E acima da trama cativante e bem amarrada, temos os personagens que fazem tudo funcionar de vez. Katniss Everdeen é fascinante por ser uma jovem comum, que não está destinada a nada e se interessa principalmente pela sua sobrevivência (além de ter um amor e carinho comovente pela irmã), e Jennifer Lawrence faz um trabalho estupendo na composição da personagem, como uma moça forte, determinada e até pragmática. Josh Hutcherson, por sua vez, evoca muito bem os sentimentos de Peeta Mellark e toda a complexidade que vem com eles. Woody Harrelson, Stanley Tucci e Elizabeth Banks também merecem menções honrosas.
Contando com uma trilha linda e memorável de James Newton Howard, “Jogos Vorazes” vai além de uma utopia interessada unicamente no romance. E é justamente esta ambição que a tornam uma das franquias mais importantes dos últimos anos.
Piratas do Caribe: A Vingança de Salazar
3.3 1,1K Assista AgoraSempre fui muito fã da franquia “Piratas do Caribe” (considero a trilogia original excepcional de todas as formas) e, mesmo tendo me decepcionado bastante com o último capítulo, “Navegando em Águas Misteriosas”, recebi de braços abertos e criei uma expectativa boa para “A Vingança de Salazar”. A notícia ruim é que este novo volume da saga de Jack Sparrow não é tão bom quanto “A Maldição do Pérola Negra”, “O Baú da Morte” e “O Fim do Mundo”, mas é bem mais aproveitável, divertido e interessante do que seu antecessor.
Escrito por Jeff Nathanson (pela primeira vez) a partir de argumento de Terry Rossio, o roteiro deste capítulo já conta com um ponto positivo em relação ao anterior: os diálogos não são expositivos a ponto de quebrar o ritmo da narrativa e nem perdem tempo recitando informações que nós já sabemos de cinco em cinco minutos. A trama não soa original, é desenvolvida no estilo “Piratas do Caribe” de ser e, embora acabe soando confusa em alguns momentos (eu mesmo fiquei sem entender algumas coisas quando o terceiro ato tem início), ainda assim cumpre o seu papel de entreter e divertir.
E diversão é o que não falta em “A Vingança de Salazar”, trazendo sequências de ação cômicas eficientes – aquela da gilhotina, por exemplo, é uma das melhores. E a primeira grande cena do filme em si, que traz um roubo a banco, tira risos facilmente, só acaba pecando no fato de que, mesmo para os padrões da franquia, soa ilógica DEMAIS. E um problema que permeia toda a saga é a duração inchada: mesmo sendo o mais curto dentre os cinco, este exemplar ainda consegue incluir algumas cenas que, embora tenham o intuito de fazer rir, não acrescentam em NADA à trama – o melhor exemplo é um quase casamento que ocorre dentro da ossada de um animal não-identificado. Há também algumas incoerências, como a origem da tão famosa e almejada Bússola.
Johnny Depp retorna como o notório Capitão Jack Sparrow sempre muito engraçado e reagindo às situações de forma que só ele sabe fazer – senti falta de um arco dramático para que o ator pudesse explorar um pouco mais o personagem, mas os maneirismos icônicos e únicos que compõem Sparrow já valem o ingresso por si só. Por outro lado, Javier Bardem soa ameaçador e determinado como o Capitão Salazar, tornando-se mais memorável do que Ian McShane como o Barba Negra – mas não tão impactante quanto o inesquecível Davy Jones de Bill Nighy. Kaya Scodelario e Brenton Thwaites foram ótimas adições ao elenco: ambos com personagens que marcam presença, fortes e deixam sua marca – e no meu ponto de vista, Thwaites convenceu demais na aparência como filho do Will Turner. Por fim, Geoffrey Rush desta vez aposta em um tom mais “cansado”, porém ainda forte, para o Capitão Barbossa, diferente de suas performances anteriores que puxavam mais para o lado cômico.
Fiquei um pouco decepcionado com a participação do Orlando Bloom, que é subaproveitada a duas cenas apenas. Ainda assim, para quem é fã dos filmes e criou um laço com esses personagens, ver William Turner de volta à tela é maravilhoso – assim como outra personagem que prefiro não mencionar, embora já tenha sido revelada em trailers e comerciais de TV.
Joachim Rønning e Espen Sandberg honram o trabalho de Gore Verbinski nos três primeiros filmes, conduzindo a narrativa com segurança (mesmo nas cenas que não agregam em nada, os diretores são capazes de manter o público entretido e sintonizado). Efeitos especiais grandiosos: a composição dos vilões é impecável, assim como os tubarões. E o design de produção, como sempre, inspirado com cenários grandiosos e designs únicos para os navios – tendo como destaque a embarcação de Salazar e o luxo do de Barbossa. E claro, uma trilha sonora memorável de Geoff Zanelli.
“A Vingança de Salazar” tem seus tropeços, mas faz jus à “Piratas do Caribe” entretendo e divertindo com tramas e situações que não se levam realmente à sério – e reside nisso o sucesso da franquia.
PS: Há uma cena pós-créditos que quase me fez gritar no cinema.
A Cabana
3.6 828 Assista AgoraA dor do pai pela tragédia que se abate à família é bem evocada pelo ator Sam Worthington, que se entrega à composição do Mack perante a perda e aos questionamentos. O roteiro, no entanto, não foi capaz de trabalhar bem com os diálogos, o que acabou tornando o filme inchado e entediante.
Dos 132 minutos de duração, diria que apenas os 60 primeiros são, de alguma forma, mais proveitosos. Quando a “ação” se passa para Mack e sua interação com as várias personificações de Deus (algo que eu achei bem interessante, a forma como Ele decide aparecer para o Filho em sofrimento), o filme desanda. Não aprofunda bem as questões, não dá respostas claras sobre nada e, no meu ponto de vista, não trabalhou bem toda a questão do “perdão” que é imposta ao Mack. Acho que faltou atenção à esse ponto tão importante no desenvolvimento de Mack Phillips como Cristão, que era o objetivo do filme.
Contando com uma trilha bonitinha, e uma bela e aconchegante atuação de Octavia Spencer, “A Cabana” deixa de lado vários elementos que fazem um filme funcionar como tal e por isso, acaba decepcionando. Uma pena.
Antes Que Eu Vá
3.5 474 Assista AgoraEsse arco da menina estar vivendo em um mesmo dia repetidas vezes e tem a oportunidade de fazer coisas diferentes, consertar seus erros, cometer novos, cada vez que acorda, pode até não ser das mais inovadoras, mas é interessante. O contexto dentro dela é que foi, sim, clichê – não que isso estrague a experiência do filme, deixando claro.
O mérito de “Antes que Eu Vá” é justamente a forma como aborda e desenvolve Samantha Kingston dentro deste “universo”. Nós acompanhamos a menina assustada pelo o que está acontecendo, posteriormente determinada a consertar seus erros, para logo em seguida jogar tudo para o alto e escanrar algumas verdades, até o momento em que decide abraçar este “destino” e tirar o melhor que puder dele. Dentro disso, a narrativa é construída com consistência e eficácia e não soa cansativa. O problema do roteiro está em seus minutinhos finais, já que leva o filme para um desfecho confuso e abrupto, além de não ter escancarado e nem redimido sua verdadeira vilã pelos erros que cometeu com várias pessoas. Ao menos as mensagens contra o bullying e a reflexão que propõe sobre a viva acabam se sobressaindo aos erros.
Zoey Deutch, por outro lado, contorna qualquer problema com uma atuação sólida e forte na pele de Sam. Halston Sage também merece menção por sua Lindsay Edgecomb (que personagem odiável, preciso dizer).
Com uma trilha sonora bonita e uma direção segura de Ry Russo-Young, “Antes que Eu Vá” não consegue alcançar aquilo que poderia ser, mas tampouco decepciona em sua trajetória.
Corra!
4.2 3,6K Assista AgoraAs afirmações de que “Corra!” é muito Black Mirror são reais (até o pôster remete à série)! E, como um grande fã da série, não poderia ter ficado mais satisfeito com este filme. Não só pela parte científica que é surpreendente por si só, mas também por sua narrativa consistente, que desenvolve bem a tensão e o personagem principal até seu impecável terceiro ato.
Os primeiros 30 minutos são mais calmos e estabelecem bem a relação do Chris com sua namorada, Rose, e também é eficaz na apresentação da família Armitage – que, logo de cara, já levanta suspeita por conta do comportamento das pessoas contratadas como empregadas da casa. Neste quesito, o longa é hábil ao fazer o espectador questionar o que está acontecendo e ansiar o que irá acontecer a seguir – e os poucos momentos que usam para dar um susto (vide o exercício de Walter em plena madrugada) são eficazes.
Logo, quando a trama passa a mostrar a perseguição psicológica e física a qual Chris está sendo submetido, “Corra!” chega a um novo e interessante patamar. Daniel Kaluuya (que curiosamente estrelou um episódio de Black Mirror) vive Chris com intensidade, empatia e faz com que o público logo se importe com ele – e é angustiante vê-lo em tais situações, por vezes preso dentro da própria cabeça. É impossível não torcer pelo seu personagem. Já os atores Allison Williams, Catherine Keener, Bradley Whitford e Caleb Landry Jones, que vivem os membros da família Armitage, surgem absurdamente irritantes nos papeis – especialmente Williams; quem assistiu ao filme, sabe.
Jordan Peele mostrou que sabe o que é o horror e como conduzi-lo. “Corra!” é composto de vários elementos que todos os fãs do gênero horror e suspense gostam e Peele o faz com maestria. Como se não bastasse, os temas sociais permeiam pela narrativa com naturalidade e relevância, sendo discutidos e tratados de maneira sutil em diálogos bem construídos – e sempre bastante enigmáticos, o que não tira o foco da história.
Com um final imprevisível e surpreendente à sua própria maneira, “Corra!” é disparado um dos melhores longas de 2017. Vale a pena conferir.
Harry Potter e as Relíquias da Morte - Parte 2
4.3 5,2K Assista AgoraLembro como se fosse ontem do dia 14 de julho de 2011, quando cheguei ao cinema para a sessão das 23:59 do último capítulo daquela que considero a melhor franquia do cinema. Quando o filme abre, reapresentando Voldemort roubando a Varinha das Varinhas do túmulo de Dumbledore e em seguida o logo da Warner surgiu na tela, fiquei arrepiado dos pés à cabeça, até a alma, e me emocionei até que o logo do estúdio reapareceu após os créditos finais terminarem de subir.
E essa é a reação que tenho até os dias de hoje, quase seis anos após o lançamento e o término da saga do bruxo Harry Potter nos cinemas. É, sim, um final absolutamente satisfatório, ambicioso, e sólido para uma franquia que durou uma década e atingiu tantas e tantas pessoas, de diferentes maneiras, ao redor do mundo.
Assim como o longa anterior, “Relíquias da Morte: Parte 2” não abre espaço em sua narrativa para leveza – mesmo com o talentoso roteirista Steve Kloves incluindo diálogo ou outro contendo alguma piadinha ou frase de efeito que, felizmente, funcionam pontualmente. O filme é mergulhado em um tom sombrio e uma atmosfera tensa, ágil, sem perder tempo para explicações: por exemplo, a cena em que vemos Hermione segurando um fio de cabelo afirmando ter certeza de que é “dela”, para logo em seguida nos depararmos a personagem na pele da enlouquecida Belatriz Lestrange.
Além disso, Kloves e Yates decidem ousar ainda mais ao ilustrar a violência do mundo no qual nossos protagonistas estão vivendo: é com horror que vemos o banho de sangue realizado por Voldemort na mansão dos Malfoy, além, é claro, das ESPETACULARES sequências de batalha que tomam lugar em Hogwarts, com as mais diversas criaturas e Comensais da Morte avançando contra o castelo com ferocidade e um desejo claro e assustador de matar. Importante ressaltar, também, como o roteiro possui uma força dramática sem igual, causando o choro e deixando o público “entalado” em diversos momentos: “You have your mother’s eyes”, proferido por Severo Snape no segundo ato, é disparado uma das cenas mais emocionantes e complexas de toda a franquia.
Ainda, “Relíquias da Morte: Parte 2” também é hábil ao encontrar tempo em seus 130 minutos de duração (o filme mais curto da saga) para mostrar os personagens absorvendo as perdas e a dor que toda aquela guerra está causando: a rápida sequência em que Harry, Rony e Hermione entram no Salão Principal e se deparam com os corpos de parentes e pessoas queridas, por exemplo, é absolutamente triste e eficaz – não duvido que outros diretores optariam por mostrar a morte de cada um deles para causar tornar o longa uma obra “Hollywoodiana”, por assim dizer.
Não só isso, o fato de David Yates sempre enxergar a extensão da guerra com um olhar humano só ganha méritos para o filme, uma vez que decide ilustrar a destruição de Hogwarts e o horror das mortes com uma trilha sonora triste (quem nunca chorou com Courtyard Apocalypse, por exemplo?). A trilha de Alexandre Desplat, aliás, fecha a franquia com chave de ouro. Músicas memoráveis e emocionantes que se casam perfeitamente com cada uma das cenas, evocando as emoções que as mesmas transparecem sem esforço.
Nas atuações, temos Daniel Radcliffe se sobressaindo como Harry Potter, pela primeira vez carregando um arco pesado sozinho em suas costas – as expressões do ator após fazer uma chocante descoberta e ao reencontrar pessoas queridas na Floresta Proibida, por exemplo, dispensam comentários. Rupert Grint também ganha mais espaço para um humor inteligente e pontual, além de não precisar abrir a boca em algumas sequências para ilustrar aquilo que seu Rony Weasley está sentindo. E Emma Watson também demonstra um potencial gigantesco de emocionar evocando a lealdade de Hermione ao herói.
No entanto, a figura mais complexa e mais brilhante desde último capítulo de “Harry Potter” é, sem dúvida, o saudoso e brilhante Alan Rickman, que sempre compôs Snape como um personagem ambíguo e complexo – a pausa em suas falas para certificar que elas soem como ameaça são sempre fascinantes, e em “Relíquias da Morte: Parte 2”, ele ainda mescla com expressões que ilustram medo de estar sendo “verdadeiro” demais. Além disso, a cena em que divide a tela com Voldemort também é uma das mais tristes e excepcionais do ator ao perceber qual o destino que o vilão preparou para Snape.
A única ressalva para o volume final vão para algumas decisões precipitadas de Kloves e Yates na batalha final, já que temos algumas mortes importantes que, infelizmente, não alcançam o impacto esperado (a explosão de uma das vilãs em mil pedacinhos, por exemplo). Quanto ao fim de Voldemort, embora haja toda uma justificativa para acontecer com ele o que aconteceu – reparem como a pele do Lord das Trevas surge descascando, como se estivesse podre, e escurecendo conforme Harry destrói das horcruxes –, ainda assim não foi suficiente para que SENTÍSSEMOS aquele momento (teria sido mais acertado se tivessem seguido aquilo apresentado pela rainha J.K. Rowling no livro).
Enfim, o desfecho de “Relíquias da Morte: Parte 2” mostra que a escalação de David Yates para assumir os quatro capítulos finais da franquia, por mais controversa que seja entre os fãs, foi uma cartada de mestre, pois o diretor além de ter inovado bastante o universo mágico concebido por Chris Columbus, Alfonso Cuarón e Mike Newell, também mostra compreender que acima da BRILHANTE história, estes grandes personagens foram responsáveis pelo clamor popular da franquia.
Tenho muito orgulho de fazer parte desta geração. De amar Harry Potter incondicionalmente (e cada vez mais) sempre que revisito os filmes e os livros. E de ter crescido junto com estes personagens e com os atores que se esforçaram tanto ao longo de 10 anos para trazer este fantástico J.K. Rowling’s Wizarding World à vida. Amém, Harry Potter. Até a próxima maratona.
Harry Potter e as Relíquias da Morte - Parte 1
4.2 3,1K Assista AgoraChegamos, por fim, à primeira parte do épico final da saga Harry Potter. E esta parte 1 de “Relíquias da Morte” é, possivelmente, o meu filme favorito de toda a franquia – embora, como fã dos livros e dos filmes, ache muito difícil escolher um.
Se em “Ordem da Fênix” e “Enigma do Príncipe”, capítulos que já possuíam uma atmosfera mais tensa, perigosa e sombria, “Relíquias da Morte: Parte 1” se encarrega de mergulhar de vez a saga num tom bem mais tenso que não tínhamos presenciado antes: basta observar, por exemplo, os primeiros minutos do filme; uma logo da Warner “enferrujado”, um Ministro da Magia alertando a população bruxa dos perigos que precisam ser enfrentados e uma Hermione Granger, lendo em um jornal, que famílias de trouxas e bruxas estão sendo assassinadas e raptadas. E não só isso, como a sequência que sucede o logotipo do filme também já evidencia que este capítulo não é, de forma alguma, destinado para crianças, já que vemos Lord Voldemort e seus Comensais da Morte tramando para por um fim definitivo em Harry Potter – além de testemunharmos o assassinato frio e cruel de uma mulher incapaz de se defender.
Steve Kloves realiza aqui, no que diz respeito aos personagens, seu melhor trabalho em toda a franquia. O roteiro evoca muito bem a suspeita e o medo dos protagonistas, além de colocar sobre eles uma pressão absurda e angustiante, forçando-os ao seu limite. A ansiedade que as passagens silenciosas e que o comportamento irritado e à beira da loucura dos personagens provoca no público é eficiente para situar que aquele universo e situação degrada a mente até da pessoa mais sã. Os diálogos, absolutamente predominantes (o que é compreensível e coerente dada a trama), são todos eficazes e com forte significado, desde as cenas mais simples até as mais complexas – por exemplo, eu tenho um amor muito grande pelo momento em que Harry e Hermione conversam à beira do rio, na Floresta do Deão, na cena posterior a um ataque quase mortal.
David Yates realiza um trabalho marcante neste “Relíquias da Morte: Parte 1”, tanto ao evocar o desgaste de Harry, Rony e Hermione, como ao aprofundar com habilidade os temas políticos – a reação de Hermione ao ver o monumento no Ministério da Magia em que coloca os trouxas “no lugar que lhe pertence”. Além disso, é igualmente impressionante como, nesta mesma sequência de eventos, o diretor ilustra um “governo” tentando passar segurança ao mesmo tempo em que ameaça a população de maneira sutil e direta – e a opressão fica presente nos momentos em que Rony ouve o rádio, em especial em uma sequência IMPECÁVEL em que ouvimos os nomes de vários bruxos desaparecidos conforme acompanhamos a cansada jornada dos heróis.
A fotografia de Eduardo Serra destaca esta atomesfera sombria com um tom mais enegrecido e cinzento que ainda assim soa fascinante. Stuart Craig também realiza um belo e notável trabalho com o design de produção para trazer à vida esse sentimento mais tenebroso com cenários únicos (sendo o principal deles o próprio Ministério da Magia, A casa de Sirius Black e a Mansão dos Malfoy, já que na maior parte do tempo a narrativa caminha por planos abertos e ao ar livre).
Os efeitos especiais também merecem destaque (principalmente a visão de Yates para o universo da magia, que ousa ao criar elementos que não existem nos livros de Rowling e que eu, particularmente, gosto muito). À primeira vista o Dobby de “Relíquias da Morte: Parte 1” me causou mais estranheza do que em “Câmara Secreta”, já que no segundo volume ele parecia mais realista. Porém atualmente já me dou por convencido.
Nas atuações, sempre vou elogiar o trabalho de Daniel Radcliffe como Harry Potter, já que pra mim ele consegue evocar e dominar muito bem toda a carga e o peso dramático da jornada do personagem-título – as cenas em que surge mais irritado soam, sempre, muito convincentes. Rupert Grint pela primeira vez tem a oportunidade de explorar outra faceta do Rony Wasley, mesclando pontualmente o lado mais cômico do personagem com aquele que está prestes a explodir diante da pressão exercida pela situação em que se encontra. E Emma Watson se destaca positivamente, também, ao explorar com mais complexidade os conflitos internos de Hermione – tendo como fio condutor sua situação com os pais.
Finalizando com uma cena absolutamente triste e dramática e com um gancho eficaz e empolgante, “Relíquias da Morte: Parte 1” é um estudo de personagens e um incrível início para a finalização de uma franquia exemplar e inteligente.
Guardiões da Galáxia Vol. 2
4.0 1,7K Assista AgoraGeralmente não crio expectativas para filmes, mas como o primeiro volume de Guardiões da Galáxia foi maravilhoso em muitos, muitos sentidos, era impossível não esperar um grande feito deste segundo – mesmo sabendo que, em maioria, das sequências acabam sendo inferiores ao original. O que, claro, não é o caso deste Volume 2 que, particularmente, enxergo no mesmo nível que seu antecessor – não consegui optar por um “melhor”, já que tive uma experiência tão boa quanto em 2014.
James Gunn sabe como fazer um filme cômico sem forçar humor o tempo todo, em momentos desnecessários e aleatórios. As piadinhas do Volume 2 são todas orgânicas, divertidas e pontuais – e ao mesmo tempo em que inclui alguns momentos de riso puramente infantis (e que funcionam, sempre importante ressaltar), foi com muita surpresa que encarei um número consideravelmente grande de diálogos com forte conotação sexual (que só adultos poderão compreender). Além disso, Gunn também aposta em um terceiro ato com um desfecho absolutamente emocional e inesperado – algo que não estamos acostumados a ver nos filmes da Marvel e que realmente me pegou de surpresa, uma vez que a carga dramática dos eventos são bastante intensas.
No entanto, o maior acerto do roteiro é como consegue convencer e fazer o público se apegar fácil à relação que os Guardiões possuem um com o outro – e quando um deles autodenomina a amizade que existe ali como “família”, a palavra possui um peso significativo incrível – algo que não ocorre em certos filmes dirigidos por David Ayer, por exemplo, que usa o mesmo artifício. Dito isso, a entrega do elenco é essencial para que a construção da relação jamais soe forçada, e todos eles compõem os personagens com carisma e profundidade: desde Chris Pratt (que possui um arco dramático complexo e interessante), até mesmo Bradley Cooper, que dá vida à Rocket como uma criatura cínica e muitas vezes arrogante, mas que por trás desse ranço todo existe apatia pelos seus companheiros de aventuras. O destaque, no entanto, vai para Kurt Russell, que faz de Ego um dos vilões mais memoráveis da Marvel no cinema – talvez o primeiro que realmente deu certo em muito tempo.
Do ponto de vista técnico, não há o que reclamar de Guardiões da Galáxia: Vol. 2. Para um filme que se sustenta de efeitos visuais, o resultado final é fantástico. Scott Chambliss faz um trabalho realmente incrível no design de produção, construindo criaturas extraterrestres diferentes e fascinantes, além dos cenários grandiosos, em especial do planeta Ego: um deleite visual. O pequeno Groot, adorável como poderíamos esperar, também merece uma menção honrável não só pela sua contrução visual, como também pela humanidade do personagem em si – ao mesmo tempo em que vibramos com o estúdio em uma cena em que Groot é hostilizado por um grupo de aliens, pela lágrima sutil que cai do rosto dele, também ficamos absolutamente tocados com a crueldade a qual a pequena criatura está sendo submetida. Palmas, James Gunn!
Com uma trilha instrumental maravilhosa e uma trilha sonora oitentista IMPECÁVEL, mais uma vez, Guardiões da Galáxia: Vol. 2 se firma como um dos melhores lançamentos da Marvel nos últimos anos.
A Qualquer Preço
2.4 53Apesar de trazer alguns conflitos que poderiam render: Henry e Dean, pai e filho que vivem em conflito. Ou o dilema de Dean em determinado momento da narrativa, o filme é muito mal desenvolvido e maçante. Não aprofunda nenhum dos temas que propõe a discutir e sua duração de 105 minutos soa absolutamente exagerada, pois não tem força pra sustentar tudo isso.
O roteiro só ganha alguma força, significado, em uma grande reviravolta aproximadamente nos 20 minutos finais, talvez. Mas ainda assim, falha miseravelmente no desfecho. Faltou energia ao diretor Ramin Bahrani (também roteirista).
E preciso dizer: que puta personagem chato esse do Dennis Quaid, ele estava absurdamente irritante neste filme.
Harry Potter e o Enigma do Príncipe
4.0 1,7K Assista AgoraO tom urgente de “Enigma do Príncipe” já é notado logo nos primeiros segundos de exibição, quando o logo da Warner Bros. surge na tela acompanhado de uma trilha que remete aos acordes clássicos do John Williams, mas que logo torna-se triste e impactante mostrando um Harry em estado de choque sendo fotografado por repórteres (uma continuação da cena que sucede a batalha de Voldemort e Dumbledore em “Ordem da Fênix”), e apresenta o logotipo envolto de um céu escuro que anuncia o que iremos presenciar nas duas horas posteriores.
“Enigma do Príncipe” conta, também, com uma atmosfera bem mais pesada do que qualquer um de seus capítulos anteriores – e levando em conta como as coisas já eram tratadas como urgentes e perigosas em “Cálice de Fogo” e “Ordem da Fênix”, este é um feito e tanto. Basta observar como os adolescentes as situações fogem daquilo que é considerado habitual na vida de qualquer outro jovem: vemos um Harry desconfiado das atitudes perigosas de Draco Malfoy – e seu interesse acaba tendo, num primeiro momento, uma consequência violenta.
Ainda assim, o roteiro do sempre ótimo Steve Kloves também abre um espaço considerável de tempo para tirar os personagens do peso do retorno de Lord Voldemort para os mesmos se entregarem aos próprios hormônios naturais – e o filme é permeado de cenas assim, mostrando os corredores cheios de pessoas se beijando e etc, algo absolutamente comum para jovens de 16 anos. O fio condutor, no entanto, é a relação entre Harry e Dumbledore que já começa a ser estabelecida logo nos primeiros minutos de projeção – e por mais que pudessem ter dedicado um tempo maior a isso, é impossível não encontrar absoluta verdade na interação entre os dois: Dumbledore demonstra o tempo todo o quanto gosta e o quanto se preocupa com Harry, mesmo sendo obrigado a incubi-lo de tarefas perigosas e nada fáceis, sempre reconhecendo esse esforço e se desculpando por “exigir demais dele”.
A fotografia de Bruno Delbonnel (criticatada de forma injusta) é excepcional por ilustrar não só o tom sombrio, pesado e urgente, como também cria um mundo realista e deprimido, tanto o Mágico quanto o dos Trouxas – quando o mesmo é assolado pelos Comensais da Morte na destruição da Ponte. E Start Craig se supera no design de produção para conferir veracidade ao perigo que a comunidade bruxa agora enfrenta: basta ver como o Beco Diagonal, um local sempre alegre, colorido e cheio, estar vazio, fechado e cinzento (a IMPECÁVEL loja dos gêmeos é a ressalva).
David Yates conduz a narrativa com segurança, esgueirando suas câmeras pelo Castelo de Hogwarts, em muitas cenas focando os personagens por trás de paredes, o que contribui para o tom imediato. Particularmente, gosto muito da cena de destruição à Toca (algo que não temos no livro), já que é eficaz na tensão. E o confronto de Harry e Draco, cru, só não é melhor porque o roteiro falha em abordar alguma consequência para tal ato. Aliás, o mistério que o subtítulo do longa sugere não é tão bem aprofundado como deveria.
Não só isso, Yates também constrói bem o amendrontamento de algumas sequências-chave: como a busca de Dumbledore e Harry à beira do oceano, que é SENSACIONAL. Além disso, a tragédia fatídica que marca para sempre “Enigma do Príncipe”, no meu ponto de vista, é absolutamente emocional em todos os sentidos: os diálogos que antecedem um dos AVADA KEDAVRA mais marcantes da franquia só contribuem para crescer um sentimento de impotência e medo – e até hoje, mesmo quase oito anos após o lançamento deste filme, eu ainda fico absolutamente abalado com a última imagem que temos de Dumbledore vivo. Único momento que eu tiraria do corte final seria a cena em que Gina coloca um biscoito (?) na boca de Harry e o momento em que se ajoelha para amarrar seus cadarços.
Nas atuações, acho que Daniel Radcliffe foi evoluindo, sim, com o passar dos anos – uma vez que a responsabilidade dramática no que diz respeito ao Harry Potter também foi crescendo consideravelmente, e ele se sai muito bem nessa ilustração. Rupert Grint e Emma Watson, agora com mais destaque do que em “Ordem da Fênix”, mostram-se sempre à vontade na composição de Rony e Hermione e desta vez, Tom Felton tem uma oportunidade maior de explorar os conflitos internos angustiantes de Draco Malfoy – sua postura antes do confronto com Harry no banheiro, por exemplo, é tocante. Assim como, também temos Alan Rickman ganhando mais tempo de tela (e eu sempre me encanto quando o personagem entra em cena com seu tom único). E Jim Broadbent se diverte como Horácio Slughorn.
Mas acho que o maior destaque do filme é mesmo Michael Gambon, que aposta numa composição um tanto mais cansada neste “Enigma do Príncipe” totalmente condizente com a jornada do personagem no longa, que vai sendo revelada aos poucos. E seu comportamento mais agitado em alguns momentos, a expressão de choque em outros, é ideal para que o público entenda de uma vez que os personagens estão diante de algo realmente ameaçador.
Como filme (obra audiovisual, cinema, roteiro, direção), “Enigma do Príncipe” é um exemplo de como explorar bem personagens em uma atmosfera trágica e assoladora.
Pequenos Delitos
2.5 54 Assista AgoraRoteiro arrastado e até confuso, se você não prestar muita atenção – particularmente fiquei meio perdido com a quantidade de nomes nas conversas, sem ter um rosto para assimilar a eles. Além disso, é um problema sério um longa ter apenas 95 minutos de duração e ainda assim conseguir ser maçante.
A trama não é ruim, apesar de não ser original também. Só faltou mesmo um roteiro mais bem trabalhado e uma direção mais objetiva e com ritmo. Algumas sequências se sobressaem, mas no geral acaba sendo um filme beeeem fraco. Esperava mais.
Cinquenta Tons Mais Escuros
2.5 762 Assista AgoraO mérito de Fifty Shades Darker é ser um pouquinho, um tiquinho, melhor do que o primeiro filme. Mas levando em conta a bomba que é a história original, a sequência ser melhor não quer dizer muita coisa.
Como um todo, é um filme vazio e superficial. Não chega a abordar bem as próprias tramas que até soam interessantes – e introduz MUITOS núcleos paralelos ao casal também, como a menina submissa stalker, o patrão que parece estar querendo tirar proveito da assistente. Mas o pior de todos mesmo é o passado do Christian Grey: se estavam tentando convencer ou justificar o que ele gosta de fazer com mulheres, falharam miseravelmente.
Se você encara o roteiro de Fifty Shades Darker como uma comédia pastelão, ele é maravilhoso. Os diálogos, grande parte deles pavorosos, fazem rir quase que o tempo todo – em especial pelas reações da Ana às decisões impostas por Grey, como quando ela afirma “você não vai enfiar isso na minha bunda”, como não morrer rindo disso? Quanto às cenas de sexo: também uma piada. Mais pelo fato do Jamie Dornan aparecer transando na maioria das vezes de roupa – quando não está devidamente vestido com camisa e calça, está usando ao menos uma das peças.
James Foley até que se esforça para retirar do roteiro o melhor possível, mas sendo raso como é, não há como fazer grandes milagres. É patética, por exemplo, a cena em que uma repórter na TV anuncia que um determinado personagem foi encontrado com vida após o acidente, só para 10 segundos depois ele aparecer dentro de casa. Sem falar, claro, no sexo BDSM após uma experiência naturalmente traumática, mas ok. O diretor merece méritos, ao menos, por não repetir a analogia visual tosca e óbvia de Sam Taylor-Johnson com prédios e com a chuva.
John Schwartzman faz um belíssimo trabalho com a fotografia do filme, assim como Nelson Coates no design de produção. Trilha sonora de Danny Elfman absoluamente esquecível – na verdade passa despercebida dentro do próprio filme, de tão desinteressante.
O forte dessa franquia não é história e mesmo quando criam uma historinha para criar tensão (por mais boba que seja), ainda conseguem falhar.
Harry Potter e a Ordem da Fênix
4.0 1,1K Assista AgoraEste e “Enigma do Príncipe” são os dois capítulos mais polêmicos da franquia Harry Potter – creio que mais pela adaptação, o que é totalmente injusto em todos os sentidos. E até hoje, quase 10 anos após o lançamento do quinto volume, não consigo entender a razão de “Ordem da Fênix” ser tão menosprezado por muita gente. Pode até não ser o melhor filme da saga, mas é consistente e dá segmento à trama de modo eficiente.
Além do tom cada vez mais sombrio, “Ordem da Fênix” também apresenta um roteiro mais político que discute bem todas as questões que são propostas (e atualíssimas!): observem como o Ministro da Magia usa sua influência no famoso jornal O Profeta Diário para espalhar mentiras e incitar a população bruxa contra Harry e Alvo Dumbledore, só pelo mesmo não querer abrir os olhos para enxergar a voz da verdade. Em contrapartida, um dos problemas encontrados em “Pedra Filosofal” retorna aqui: em nenhum momento parece que o tempo está passando e que, ao final do filme, um ano letivo inteiro chegou ao fim. Mesmo com cenas pontuais ilustrando o inverno, o verão e etc, Michael Goldenberg falhou neste quesito e David Yates não conseguiu reverter a situação. Em contrapartida, apesar de termos poucas cenas, “Ordem da Fênix” também trabalha bem a relação de Harry e Sirius, apresentando cenas entre os dois cujos diálogos ficaram marcados em todos aqueles que amam a saga tanto quanto eu – sequências estas que também funcionam como preparação para um grande evento do terceiro ato.
Falando em Yates, por fim entra o diretor que definitivamente revolucionou, visualmente, o universo de Harry Potter (sim, porque sim). A atenção que os diretores dão aos elementos mágicos do mundo de J.K. Rowling sempre foi de suma importância e Yates trouxe componentes diferentes que acho fascinantes: o lampejo dos feitiços, a “fumaça negra” em que se transformam os comensais da morte – algo já incluído por Mike Newell no capítulo anterior, mas amplificado neste volume. Além disso, o diretor também evoca um tom urgente com facilidade, através do nervosismo de Harry e do tom impaciente e mais afastado de Dumbledore.
Nas atuações, temos Daniel Radcliffe com uma carga dramática ainda maior em mãos, uma vez que além de estar crescendo e com hormônios à flor da pele, o jovem ainda se depara com uma atenção absurda por conta das acusações de mentiras, além de toda a pressão que algo assim certamente traria para qualquer pessoa. Emma Watson surge BEM mais natural como Hermione do que em “Cálice de Fogo”, sem fazer caras e bocas, demonstrando reações para TUDO o que vê e ouve. Temos a introdução de Imelda Staunton como a odiosa Dolores Umbridge, que surge em tela como uma mulher severa, sedente por poder e por controle e absolutamente reacionária – odeio esta personagem muito mais do que odeio Lord Voldemort. Alan Rickman tem uma chance maior de explorar o caráter dúbio de Severo Snape. Michael Gambon surge quase sempre impaciente como Dumbledore, evocando o tom preocupado do filme. Importante mencionar, também, Evanna Lynch como Luna Lovegood: uma atriz que nasceu para interpretar essa encantadora personagem.
As sequências de ação, mais concentradas no terceiro ato, são magistrais. Particularmente, gosto muito de todo o embate no Ministério, desde os meninos lutando com os Comensais no Salão das Profecias, até o grande e aguardado confronto entre Dumbledore e Voldemort, que exala o quanto ambos os personagens são absolutamente poderosos. Destaque, também, para as cenas em que Harry se torna mentor de alguns alunos, que são divertidíssimas e enriquecem o filme. E os efeitos especiais funcionam relativamente bem, tendo como sua maior falha a criação digital do gigante Grope, que soa artificial DEMAIS – mesmo interagindo bem com os atores em cena; a iluminação foi responsável por torná-lo “aceitável”. Temos ainda uma bela direção de arte, um incrível design de produção e uma trilha memorável de Nicholas Hooper – os temas de Umbridge, do Salão das Profecias e das Aulas de Harry são todos maravilhosos.
“Ordem da Fênix” é, sim, um grande filme e uma grande preparação para os perigos e reviravoltas que ainda estão por vir nos capítulos posteriores.