o primeiro, quando tá com a coleguinha que, provavelmente pela inocência da infância, não a julga e não a estranha, permite que troque as roupas de banho para que ela mergulhe na água e resgate a imagem de São João Batista, justamente aquele conhecido por fazer batismos da Bíblia. Há um plano muito bonito das duas garotas deitadas ao lado do santo resgatado aqui.
O segundo obedece não a uma tradição religiosa de imposições sociais, mas à tradição familiar e de conexão com a natureza, ou conexão com as abelhas. Ao se descobrir Lucía, a garota segue aquilo que a tia disse que fez em nascimentos e falecimentos: bate nas caixas das abelhas e avisa que quem está falando é Lucia. No carro, já durante os créditos, a garota faz o mesmo gesto com a boca e rosto que fez ao ficar “tranquila” com as abelhas.
No entanto, se antes ela precisava se concentrar e encontrar formas de se acalmar perante os animais, agora, no carro, é para o mundo que ela julga perigoso que ela tem que dizer: “eu venho em paz”.
Ali pelo miolo, dá a impressão de que as coisas estão sendo cozidas em banho-maria (perdão) por muito tempo, mas o final arrebatador compensa e dá mais sentido aquilo que foi construído até então. Lindo, lindo.
Responsável por longas-metragens como Lavoura Arcaica, minisséries como Capitu (pela qual nutro uma enorme paixão) e episódios de novela como O Rei do Gado, o diretor Luiz Fernando Carvalho aceitou o difícil desafio de trazer às telas do cinema Clarice Lispector em um texto complicado de se adaptar. Não que a autora já não tenha sido transposta ao audiovisual (o foi muito bem feito em A Hora da Estrela, de Suzana Amaral), mas A Paixão Segundo G.H. constitui outro tipo de obra literária, muito mais labiríntica.
G.H. (Maria Fernanda Cândido) é uma mulher bela, rica, que trabalha com arte e vive no Rio de Janeiro dos Anos 60. Organizada, inteligente, mas também assombrada e sensível, após o término de um relacionamento e a demissão da empregada, passa a fazer o que normalmente se faz em dias tediosos de quem não tem muitos boletos a pagar: questiona a própria existência. É com se Cate Blanchett interpretasse Bella Baxter, porém já mais madura e restrita ao luxuoso apartamento da orla carioca, sem as visitas a Paris ou a Alexandria.
O texto completo está no TardesdeCinema .com .br/post/a-paixão-segundo-g-h-crítica Acessa lá.
Não gosto de como em muitas situações parece não lidar com pessoas reais, constituindo muito mais uma comédia que a todo momento tira o peso das situações. Mas Emma Stone e algumas sacadas engraçadas compensam (a cena do cartão de aniversário). Divertido.
DiCaprio já mostrando aqui o porquê de ser um ator que desde cedo chama atenção: o modo como ele cerra os olhos, move as mãos ou modifica a voz (desafinando ou falhando) faz com que o personagem se torne mais crível e muito mais marcante.
Reichardt trabalha novamente com o humor cuidadosamente construído em situações de desconforto, sem chamar muita atenção a si mesma ou maneirismos, o que pode causar um ritmo lento até demais ali no meio, mas que ainda consegue cativar em sua natureza irônica e personagens calcados no real.
A 20th Century Studios contratou uma diretora estreante em longas-metragens e uma protagonista sem muita experiência no cinema… E deu certo. Apesar de uma ou outra decisão que concede uma quebra de ritmo (flashbacks… pra quê…), a direção de Arkasha Stevenson consegue justificar a existência dessa história de origem.
E ainda tem a Sônia Braga. E o Bill Nighy!
Crítica Completa aqui: youtu. be /xcKF2sU-s_k?si=PDKjE35gu-GOFwwd
O que o primeiro tinha de bem feito em questões de ritmo, esse aqui joga no lixo do genérico. Até um telefonema é mostrado com falas apressadas e sem naturalidade. Mostrar alguém morrendo em um elevador em slow motion também não ajuda.
É muito bem construído para manter a tensão que os bons suspenses possuem. No primeiro encontro do Padre Brennan com Robert Thorne em Londres, por exemplo, apesar de o espectador já saber qual seria a notícia que o religioso estava ali para dar, a retração dos diálogos e a quantidade de cortes colabora para aumentar ainda mais a ansiedade.
Outra coisa: que loucura deve ter sido Ave Satani indicada ao Oscar de Melhor Canção Original e PERFORMADA na cerimônia em 1977.
Gosto muito do trabalho da Anne Hathaway aqui. É bacana, por exemplo, como ela muda o tom de voz ao falar com determinado personagem no final, quase como se as cordas vocais fossem substituídas por as de uma bruxa. Como suspense, no entanto, o filme deixa muito a desejar.
Kurosawa constrói composições imagéticas simples, mas incríveis, como o plano geral das “árvores”, ou o garoto se escondendo atrás de uma árvore enquanto as raposas olham para o lado. O filme tem uma aura de passeio pelo onírico e reflexões sobre a vida, juntamente com uma certa decepção com o que a humanidade fez ao mundo.
E eu não fazia a menor ideia que o "casamento da raposa" era universal.
Eu gosto muito do trabalho sonoro e do início em geral (a cena das naves que surgem da curva planando é linda, dando a dimensão do quão estupefatos os humanos ficariam com aquela aparição), mas infelizmente o terço final possui um misto de energia comportada e tentativa de passar grandiloquência que não funcionou tanto comigo.
Ainda assim, é um filme acima da média das ficções em geral.
Olha, eu até gosto de Kong Ilha da Caveira, ou do Godzilla do Gareth Edwards, mas esse me deixou triste de tanta bobagem. Talvez uma ou outra batalha salte aos olhos ali no final, mas, céus, até chegarmos nela é um amontoado de clichês sonolentos, decisões implausíveis e tentativas de humor que falham na redundância (pra quê dois alívios cômicos)?
O Cinema Novo e o realismo na literatura brasileira andam de mãos dadas pela afinidade temática. Nada melhor, então, do que unir o texto de um mestre com as imagens de outro mestre, cada um em sua arte.
Talvez o final tenha estendido demais a surpresa dramática, mas não deixa de ser bom por isso. Anthony Hopkins se garante demais e é impressionante como fizeram o Johnny Flynn ficar parecido com ele aqui (especialmente o olhar).
A parte política possui um tom sóbrio, elegante, onde todos os responsáveis pelas casas, famílias ou grupos parecem ser estrategistas em algum nível. Os que são inertes, no caso do Imperador (Christopher Walken), ainda conseguem justificar essa inação, constituindo então um mosaico de personagens cujo desenvolvimento e relação se tornam mais complexos e instigantes ao mesmo tempo.
O mergulho na complexidade e paciência no desenvolvimento dos personagens fascina em cada história paralela, fortalecido pelos looooongos diálogos, que até causam um certo afastamento do protagonista por se mostrar alguém tão desagradável. Mas, ei, ele é humano. E é isso que o filme quer mostrar, não há dicotomias fáceis entre vilões e mocinhos.
Além disso, a forma como tudo é amarrado no final é muito bonita e seca ao mesmo tempo. Mesmo depois da neve opressiva, não há primavera.
Ok, muita coragem dos jornalistas da AP (Associated Press) que cobriram tudo ali arriscando as próprias vidas. Mas que cara chato em ficar narrando o tempo todo o que acontece, não cala a boca. E outra: se acha, né? O cúmulo foi ELE MESMO NARRAR: “eu agradeci a um médico por ele ter me protegido. Então o médico me disse: “não. EU quem agradeço a você por enviar essas imagens ao mundo””.
???
O que ele quer? Um Oscar? Ganhou. Mas talvez devesse ter ficado no Pulitzer.
Usa muito bem pistas e recompensas para instigar o espectador durante toda a projeção, sabendo construir a personalidade daquela família, nos deixar mais próximos das particularidades e mudanças que ocorrem com cada mulher dali, para que o impacto final seja ainda mais forte, ao mesmo tempo em que não se traveste de suspense aproveitador da dor alheia. Meu preferido da categoria.
20.000 Espécies de Abelhas
4.1 12Lucía passa por dois batismos:
o primeiro, quando tá com a coleguinha que, provavelmente pela inocência da infância, não a julga e não a estranha, permite que troque as roupas de banho para que ela mergulhe na água e resgate a imagem de São João Batista, justamente aquele conhecido por fazer batismos da Bíblia. Há um plano muito bonito das duas garotas deitadas ao lado do santo resgatado aqui.
O segundo obedece não a uma tradição religiosa de imposições sociais, mas à tradição familiar e de conexão com a natureza, ou conexão com as abelhas. Ao se descobrir Lucía, a garota segue aquilo que a tia disse que fez em nascimentos e falecimentos: bate nas caixas das abelhas e avisa que quem está falando é Lucia. No carro, já durante os créditos, a garota faz o mesmo gesto com a boca e rosto que fez ao ficar “tranquila” com as abelhas.
No entanto, se antes ela precisava se concentrar e encontrar formas de se acalmar perante os animais, agora, no carro, é para o mundo que ela julga perigoso que ela tem que dizer: “eu venho em paz”.
O Sabor da Vida
3.8 30Ali pelo miolo, dá a impressão de que as coisas estão sendo cozidas em banho-maria (perdão) por muito tempo, mas o final arrebatador compensa e dá mais sentido aquilo que foi construído até então. Lindo, lindo.
A Paixão Segundo G.H.
2.9 35Responsável por longas-metragens como Lavoura Arcaica, minisséries como Capitu (pela qual nutro uma enorme paixão) e episódios de novela como O Rei do Gado, o diretor Luiz Fernando Carvalho aceitou o difícil desafio de trazer às telas do cinema Clarice Lispector em um texto complicado de se adaptar. Não que a autora já não tenha sido transposta ao audiovisual (o foi muito bem feito em A Hora da Estrela, de Suzana Amaral), mas A Paixão Segundo G.H. constitui outro tipo de obra literária, muito mais labiríntica.
G.H. (Maria Fernanda Cândido) é uma mulher bela, rica, que trabalha com arte e vive no Rio de Janeiro dos Anos 60. Organizada, inteligente, mas também assombrada e sensível, após o término de um relacionamento e a demissão da empregada, passa a fazer o que normalmente se faz em dias tediosos de quem não tem muitos boletos a pagar: questiona a própria existência. É com se Cate Blanchett interpretasse Bella Baxter, porém já mais madura e restrita ao luxuoso apartamento da orla carioca, sem as visitas a Paris ou a Alexandria.
O texto completo está no TardesdeCinema .com .br/post/a-paixão-segundo-g-h-crítica Acessa lá.
A Mentira
3.6 2,2K Assista AgoraNão gosto de como em muitas situações parece não lidar com pessoas reais, constituindo muito mais uma comédia que a todo momento tira o peso das situações. Mas Emma Stone e algumas sacadas engraçadas compensam (a cena do cartão de aniversário). Divertido.
Gilbert Grape: Aprendiz de Sonhador
4.1 1,1K Assista AgoraDiCaprio já mostrando aqui o porquê de ser um ator que desde cedo chama atenção: o modo como ele cerra os olhos, move as mãos ou modifica a voz (desafinando ou falhando) faz com que o personagem se torne mais crível e muito mais marcante.
Esculturas da Vida
3.3 17 Assista AgoraReichardt trabalha novamente com o humor cuidadosamente construído em situações de desconforto, sem chamar muita atenção a si mesma ou maneirismos, o que pode causar um ritmo lento até demais ali no meio, mas que ainda consegue cativar em sua natureza irônica e personagens calcados no real.
A Primeira Profecia
3.5 87A 20th Century Studios contratou uma diretora estreante em longas-metragens e uma protagonista sem muita experiência no cinema… E deu certo. Apesar de uma ou outra decisão que concede uma quebra de ritmo (flashbacks… pra quê…), a direção de Arkasha Stevenson consegue justificar a existência dessa história de origem.
E ainda tem a Sônia Braga. E o Bill Nighy!
Crítica Completa aqui: youtu. be /xcKF2sU-s_k?si=PDKjE35gu-GOFwwd
Damien: A Profecia 2
3.3 153 Assista AgoraO que o primeiro tinha de bem feito em questões de ritmo, esse aqui joga no lixo do genérico. Até um telefonema é mostrado com falas apressadas e sem naturalidade. Mostrar alguém morrendo em um elevador em slow motion também não ajuda.
A Profecia
3.9 591 Assista AgoraÉ muito bem construído para manter a tensão que os bons suspenses possuem. No primeiro encontro do Padre Brennan com Robert Thorne em Londres, por exemplo, apesar de o espectador já saber qual seria a notícia que o religioso estava ali para dar, a retração dos diálogos e a quantidade de cortes colabora para aumentar ainda mais a ansiedade.
Outra coisa: que loucura deve ter sido Ave Satani indicada ao Oscar de Melhor Canção Original e PERFORMADA na cerimônia em 1977.
Lugares Escuros
3.1 411 Assista AgoraIncrível como Charlize Theron consegue dar complexidade e emoção a uma personagem tão rasa em um suspense mequetrefe.
Instinto Materno
3.4 54 Assista AgoraGosto muito do trabalho da Anne Hathaway aqui. É bacana, por exemplo, como ela muda o tom de voz ao falar com determinado personagem no final, quase como se as cordas vocais fossem substituídas por as de uma bruxa. Como suspense, no entanto, o filme deixa muito a desejar.
Sonhos
4.4 381 Assista AgoraKurosawa constrói composições imagéticas simples, mas incríveis, como o plano geral das “árvores”, ou o garoto se escondendo atrás de uma árvore enquanto as raposas olham para o lado. O filme tem uma aura de passeio pelo onírico e reflexões sobre a vida, juntamente com uma certa decepção com o que a humanidade fez ao mundo.
E eu não fazia a menor ideia que o "casamento da raposa" era universal.
Contatos Imediatos do Terceiro Grau
3.7 578 Assista AgoraEu gosto muito do trabalho sonoro e do início em geral (a cena das naves que surgem da curva planando é linda, dando a dimensão do quão estupefatos os humanos ficariam com aquela aparição), mas infelizmente o terço final possui um misto de energia comportada e tentativa de passar grandiloquência que não funcionou tanto comigo.
Ainda assim, é um filme acima da média das ficções em geral.
O Quatrilho
3.2 132Filme essencial pro Cinema da Retomada. Curioso ver um cinema nacional tentando se distanciar da pornochanchada e todo mundo fazendo sexo de roupa.
Godzilla e Kong: O Novo Império
3.1 168 Assista AgoraOlha, eu até gosto de Kong Ilha da Caveira, ou do Godzilla do Gareth Edwards, mas esse me deixou triste de tanta bobagem. Talvez uma ou outra batalha salte aos olhos ali no final, mas, céus, até chegarmos nela é um amontoado de clichês sonolentos, decisões implausíveis e tentativas de humor que falham na redundância (pra quê dois alívios cômicos)?
Vidas Secas
3.9 277O Cinema Novo e o realismo na literatura brasileira andam de mãos dadas pela afinidade temática. Nada melhor, então, do que unir o texto de um mestre com as imagens de outro mestre, cada um em sua arte.
O Homem dos Sonhos
3.5 139Gostei. Crítica completa aqui:
youtu. be/EJZvAWpJtpQ
Uma Vida: A História de Nicholas Winton
3.9 25 Assista AgoraTalvez o final tenha estendido demais a surpresa dramática, mas não deixa de ser bom por isso. Anthony Hopkins se garante demais e é impressionante como fizeram o Johnny Flynn ficar parecido com ele aqui (especialmente o olhar).
Todos Nós Desconhecidos
3.9 180 Assista AgoraParabéns pra quem conseguiu se conectar com os personagens aqui, porque eu mesmo… Passei foi longe dessa languidez.
Duna: Parte 2
4.4 622A parte política possui um tom sóbrio, elegante, onde todos os responsáveis pelas casas, famílias ou grupos parecem ser estrategistas em algum nível. Os que são inertes, no caso do Imperador (Christopher Walken), ainda conseguem justificar essa inação, constituindo então um mosaico de personagens cujo desenvolvimento e relação se tornam mais complexos e instigantes ao mesmo tempo.
Crítica completa no Canal Messias Adriano.
Ervas Secas
4.0 12O mergulho na complexidade e paciência no desenvolvimento dos personagens fascina em cada história paralela, fortalecido pelos looooongos diálogos, que até causam um certo afastamento do protagonista por se mostrar alguém tão desagradável. Mas, ei, ele é humano. E é isso que o filme quer mostrar, não há dicotomias fáceis entre vilões e mocinhos.
Além disso, a forma como tudo é amarrado no final é muito bonita e seca ao mesmo tempo. Mesmo depois da neve opressiva, não há primavera.
Encurralado
3.9 432 Assista AgoraSpielbergzinho botando uma cena de acidente entre um caminhão e um carro depois de passar 75 mil horas botando carro e trem de brinquedo pra bater: :)
Spielbergzinho enquadrando o horizonte no meio: :(
20 Dias em Mariupol
3.9 57 Assista AgoraOk, muita coragem dos jornalistas da AP (Associated Press) que cobriram tudo ali arriscando as próprias vidas. Mas que cara chato em ficar narrando o tempo todo o que acontece, não cala a boca. E outra: se acha, né? O cúmulo foi ELE MESMO NARRAR: “eu agradeci a um médico por ele ter me protegido. Então o médico me disse: “não. EU quem agradeço a você por enviar essas imagens ao mundo””.
???
O que ele quer? Um Oscar? Ganhou. Mas talvez devesse ter ficado no Pulitzer.
As 4 Filhas de Olfa
3.8 35 Assista AgoraUsa muito bem pistas e recompensas para instigar o espectador durante toda a projeção, sabendo construir a personalidade daquela família, nos deixar mais próximos das particularidades e mudanças que ocorrem com cada mulher dali, para que o impacto final seja ainda mais forte, ao mesmo tempo em que não se traveste de suspense aproveitador da dor alheia. Meu preferido da categoria.