O aspecto mais interessante do filme é quando Manny indaga ao Hank "para que voltar para casa se não se pode fazer nada"?
Para os atentos a crítica social central do filme está justamente aí. Hank é um fracassado, desajustado social, "covarde" e motivo de vergonha para o seu pai (eis os vários trocadilhos com a palavra "retardado"), logo, por que ele acha que a solução está em voltar para "casa"?
Manny, o seu amigo-defunto, aquele que entende ele de verdade, ao contrário dos outros, incluindo a "crush" de Hank, pontua essa questão: como é que aqueles que são invisíveis, inúteis e "retardados" podem ser felizes quando "em casa", ou seja, no ântro da sociedade? Ironicamente, para Manny, a real conexão se deu em vários momentos de delírios, desrealizações, despersonalizações com um defunto embuído de "super poderes".
Tema importantíssimo desenrolado no filme ~ dúvida. O homem desde sempre tem facilidade em ter crenças em tudo, menos no metafísico, no divino, e portanto peca, muita vezes, mesmo em vestes de virtude!
É de fato uma sátira com os valores das crendices religiosas e seus efeitos "placebos", mas tolo são esses comentaristas abaixo que concebem a experiência religiosa como sendo limitada aos placebos apenas. O filme parece tentar passar uma ideia de arbitrariedade, pois no fim "tudo volta ao normal", e mesmo tentando apelar pra sátira o conceito do filme não consegue deixar de discordar da real experiência religiosa - de fato, no mundo "de baixo do sol", no mundo onde vivemos em carne e osso, tudo é impermanente, tanto a boa sorte quanto a má sorte, mas isso não quer dizer que a relação de uma e outra seja arbitrária, pelo contrário, é só que a ignorância imediata não permite perceber a relação meta-causal pro trás de tudo.
Filme profundamente "eclesiástico", mostrando o quão podre o mundo é, fora da arte, dentro da arte e que nesse mundo, com essa estrutura em que vivemos tudo só estará "certo", "de boas", na medida em que os interesses egoístas forem todos atendidos, na medida em que o medo de "se fuder" não estiver na reta. É um filme existencialista, ele mostra os limites de onde nós normalmente vivemos.
Acredito que o filme põe em questão o drama de viver entre o niilismo e a "verdadeira espiritualidade", a não-dualidade, a ideia de que não separação entre sujeito e objeto, pois os tolos se tornam niilistas, e os grandes sábios se tornam não-duais, e na tensão do meio está a maioria dos humanos semiconscientes. A comédia aponta para não se levar a sério essas tensões e entender que de fato o drama humano não possui sentido metafísico, mas dizer que a realidade em si não possui sentido metafísico seria outro erro, sendo o ideal considerar que a consciência universal é o verdadeiro objetivo.
Sátira muito interessante. A sociedade tenta impor a construção de casais com base em relacionamentos superficiais, e quando não dá certo, incentiva-se o casal a procriar, para que com os filhos, se amenize a situação. No outro extremo há os solitários que buscam provar outro ponto, de que é possível ficar "de boas" sendo extremamente solitário, mas como as cenas na floresta mostram, os comportamentos dos membros ainda são muito bizarros, continuam a ser robóticos mesmo tentando ser espontâneos e livres, e todos continuam amuados, sentados em troncos de árvores sozinhos e com expressões apáticas. No fim não é nos extremos que pode-se achar o amor, que bem a dizer ninguém é capaz praticar o mesmo de forma incondicional, e na recusa do amor, nasce as psicopatias, os fanatismos ideológicos como vemos nas formas extremas atuais do feminismo, e de certos graus dos "MGTOW" também - nem por um, nem por outro há o amor, e os indivíduos irão continuar errando, tal como no fim,
David ponde se irá se cegar ou não, para insistir numa construção superficial de similaridade com sua amada, sendo que, ironicamente, verdadeiro amor não é implicado nas semelhanças físicas por exemplo.
A luta contra a corrupção do ser! Nada mais nada menos do que isso é o tema central do filme. Como Soren Kierkgaard já disse, em vista dos males do mundo, o caminho da fé é mesmo um salto ABSURDO de fé. Ironicamente o próprio protagonista reconheceu a necessidade de sustentar os paradoxos do bem e do mal na vida (esperança e desespero) para abarcar a fé, mas na prática é onde as pessoas realmente são restadas e provadas, e nisso o filme caracteriza com excelência o conflito.
A maioria que for ver o filme infelizmente não vai compreender a crítica mensagem que ela carrega, e isso a gente pode ver em comentários como esse "mas os diálogos são muito vazios de base teórica (o que piora sendo um dos personagens um professor universitário)". O filme não é sobre uma exposição de um ensaio acadêmico, não propõe educar nenhuma teoria, nenhuma apologia, a proposta é sutil demais para isso, e tal se revolve no fato de que o mundo racional é falível, de que o hedonismo tem data de validade, e que nas alturas do desespero apenas o salto da fé pode salvar do aterrorizador e gélido assombro da morte decaida pela apatia e pelo niilismo.
Mais alguém notou Margaret Qualley do filme como sendo uma personagem do jogo Death Stranding do ps4? lol O filme em si, é... meio fraco, a atuação dela no jogo foi mais interessante!
Este é um daqueles filmes que é difícil de fazer comentários críticos. Por um lado, eu achei a trilha sonora muito boa, no aspecto estético a mesma satisfaz o enaltecimento da tragédia em forma artística. Por outro lado, o conteúdo reflexivo do filme remete ao aspecto trágico da vida, em que muitas vezes eventos absurdos acontecem quase que de maneira gratuita, ou até mesmo de maneira predeterminada, e disso extraímos uma visão pessimista da realidade, em que, apesar de haver elementos bons nela, há elementos inexplicáveis através da razão humana comum, e nisso Stephen King nos trás o choque perceptivo de que a realidade humana pode ser injustificável, de que a existência do mundo que permite esse palco humano pode também ser injustificável, ao menos, é claro dentro da limitada e parca capacidade da razão humana.
Pois, como pode um fazendeiro achar que simplesmente matando a esposa poderia resolver todos os problemas? Poderia um animal, um inseto acreditar que isso seria uma boa ideia? E mesmo sua esposa, a mesma parecia simplesmente não se importar com a própria família e com o que a mesma pensava sobre se mudar, e ainda a mesma não se reteve em fazer piadinhas bem inapropriadas sobre a vida afetiva e sexual do filho em uma cena. O próprio filho também, junto com o pai, pareceu não estar distante de um quadro psicopata ao concordar com o crime.
Como explicar em última instância tamanha capacidade da perversão humana?
Enredo e narrativas fracas, personagens com presença fraca, trama que não envolve e prende, troca de cenas desconexa. Diria que apenas a fotografia do filme se salva, belas imagens.
Atenção: spoilers abaixo, só leia se você assistiu o filme.
Filme realmente complexo. Não é uma distopia futurística, mas ao mesmo tempo não é num passado longínquo, fica num meio-termo entre uma construção de concreto massiva, fria e funcional e um visual retrô nos trajes e automóveis o que gera uma sensação de "outro-mundo" na ambientação do filme - o que serve como um interessante contraste com o sentimento de destruição do ID desenfreado que é desencadeado na rixa dicotômica entre a nobreza elitista opressora e a plebe que mantém decoros só na superfície.
O doutor Robert Laing, o protagonista, não é necessariamente um protagonista e nem um vilão. Por um lado ele se identifica com a ideologia esterilizante, fria e funcional do "condomínio de concreto", por outro encontra maior realização em suas aventuras sexuais com as outras moradoras do mesmo. O Arquiteto Anthony Royal, talvez uma das personagens mais controversas, parece sugerir uma personalidade vanguardista, mas oscila entre um "deus indiferente" e um patético ser humano que objetifica e oprime a própria esposa, embora, sendo fraco e medíocre, é dependente da mesma e ao menos com ela tenta salvá-la do "mayhem" que estoura na classe plebeia no momento do fracasso do sistema hierárquico do condomínio.
O ponto crítico do filme parece ser quando o "rioting" do condomínio inteiro explode, pois, enquanto Laing procura se encaixar em algum lado enquanto contraditoriamente mantém indiferença generalizada com os outros moradores (mesmo sendo um médico), e Royal parece não ser capaz de definir a forma de seus ideais se mantendo inerte, algumas personagens mostram a faceta do ID desenfreado no calor das crises sócio-econômicas; Richard Wilder mostra a faceta feral do povo oprimido, e do indivíduo de desejo frustrado, buscando ter a força a carismática Charlotte Melville; e Elizabth Moss mostra uma vulnerabilidade emocional manchada que se funde a uma luxuriante fuga negligente para com os próprios filhos, em favor de estar com Laing como um produto, embora, ironicamente, é Laing que acaba sendo uma "boa comodidade" em sua visão.
Em suma, o filme espelha uma crítica social clássica de uma classe elitista opressora e de uma classe plebeia quando rompe as barreiras do super-ego coletivo e bestializam a la Hobbes. O diferencial é que não há heróis homéricos, não heróis at all, o que há é o que o diretor mostra provocativamente: a mediocridade do homem-mediano-filisteu que oscila entre um decoro de ordem e justeza social, uma busca egocêntrica e gananciosa de poder e uma total indiferença e perversão moral para com o próximo no contexto de uma crise.
É difícil descrever a miríade de sentimentos, sensações e comoções que esse filme passa, Richard Curtis fez um trabalho genial, brincando com um tema complexo do tema da viagem ao tempo porém sem perder o apelo espiritual por trás da magnificência que é a simplicidade do dia-a-dia da vida, da felicidade e alegria que é viver com alguém que se ama e de ter uma família com essa pessoa.
O a narrativa se desdobra sobre a vida de Tim, um garoto um tanto desengonçado e sem sorte que parecia sempre perder o que era melhor da vida, tal como deixar de se expressar ao seu primeiro amo de vida ou deixar de aproveitar aquela garota "dando sopa" na virada do ano; mas apenas parecia, pois seu pai, veterano da vida logo conta o segredo dos homens de sua família: a habilidade de viajar no tempo.
E assim começa a "pequena" Odisseia de Tim quando este conhece Mary, por quem se encanta, mas logo quase a perde por tentar voltar no tempo e corrigir uma má execução da peça de seu colega de quarto. Assim, Tim consegue reverter o "erro", e logo dá um outro jeito de conhecer Mary aparecendo na festa em que ela estava já com "todas as linhas de paquera" corretas, afinal de contas, será que era destino eles se encontrarem?
Seja numa linha de tempo ou noutra? Talvez sim, talvez se não fosse destino, não importaria que linha de tempo eles se encontrassem que eles não iriam ficar juntos. Acredito que aqui há uma provocação implícita no filme: será que podemos realmente "escapar" de algumas pessoas e eventos na nossa vida, por mais que pudêssemos efetivamente voltar no tempo?
Tim chega inclusive a ter uma chance de dormir com seu primeiro amor, Charlotte, mas se recusa no último momento
, pois, no limiar de uma grande tentação ele nota que não valeria a pena "trair" Mary, que no fim, quando viu uma chance de "se divertir" e "vingar" uma impotência do passado, ele percebe que em verdade o que ele mais queira era o verdadeiro amor, era quem realmente se encantou desde o início por ele. Talvez fique outra grande provocação de Curtis, desafiar os valores morais costumeiros, quando este conduz Tim num caminho mais profundo e intenso de vida.
Outro marco muito interessante do filme, é o de seu relacionamento com seu pai. A ligação de Tim e seu pai é imensa, é rica, é belíssima, de um pai que realmente enxerga uma extensão preciosa de sua vida em seu filho, e de um filho que enxerga o mesmo.
O pai de Tim dá vários conselhos ao longo de sua vida casada, tal como a de reviver mesmo os dias mais desagradáveis e de finalmente, e de viver cada dia como se fosse o último (fingindo não possuir tal habilidade de viajem ao tempo), explica também dos vários perigos da viajem ao tempo, como o de acabar perdendo a filha caso mexesse com certos pontos chaves do tempo geral.
No fim, num momento chocante, de derrubar lágrimas,
Tim se depara com a escolha de ter mais um filho e de perder os últimos momentos de vida com seu pai que já estaria com câncer, ambos se encontram numa partida de pingue-pongue e se emocionam num beijo fraternal. Tim decide viver a vida completamente, sem se resguardar, pois sabia que no fundo seu próprio pai acharia que sua família deveria ser maior.
O filme nos toca com uma espiritualidade profunda e emocionante, mostra uma cronologia típica do "herói" que nem sempre começa a vida nas melhores condições, mas que com boas escolhas, com uma família unida e sábia, e faz isso com uma trilha sonora belíssima, além de uma fotografia bem trabalhada junto com o fluxo da narrativa e do desenrolar do enredo. A atuação de Tim, seu pai, Mary são os destaques, todos esses se mostram como excelentes atores(as).
Eu diria que, de fato, o enquadramento, fotografia e trilha sonora do filme são incríveis, há um toque intenso de arte visual no modo como as imagens do filme foram trabalhadas. A atuação de Alicia Rodriguez é impressionante, ela encarna muito bem a psicologia de uma mulher tensionada entre um moralismo evangélico sufocante e sua natureza cheia de volúpia.
Quanto à temática do filme, achei provocante. Alicia vive o drama interno de uma adolescente cuja personalidade e temperamento certamente não se desenvolveu para o Ethos evangélico-cristão de moralidade. Embora, como é característico desse Ethos a manipulação emocional pela culpa e vergonha acerca da moralidade de seus membros, Alicia se viu num tensionamento agonizante de um autoconceito casto e "reto", e de outro hedonista ou como ela mesmo diz "fornicadora".
Há uma cena em que Alicia destaca um ponto provocante acerca da moralidade introjetada (absorvida e internalizada) por parte de sua mãe:
ela diz que ela poderia ter feito vários outros crimes quando foi pega em evento indecente com um colega, que poderia inclusive ter matado um professor, mas que para sua mãe com sua moralidade, "fornicar" era mesmo o pior de todos os pecados.
Assim, sua mãe realmente se comporta como uma neurótica, ela vive espionando o computador e as saídas de Alice, tornando-se sempre
a ameaçá-la de mandar numa missão ao Equador caso "saísse da linha".
Conseguintemente, é notável essa crítica que Marialy Rivas faz ao Ethos evangélico-cristão, tal é visível tanto na ambiguidade comportamental de Alice que não consegue conciliar seus instintos e impulsos sexuais intensos - de que esse Ethos cobra um ideologismo descabido e patológico para certos perfis psicológicos de pessoas -, quanto também na cena em que ambas Alicia e sua amiga entrevistam um
homem convertido, quando Alicia provoca o crente se este não tinha ressentido sua namorada não ter seguido a mesma conversão - afinal de contas, se o crente "perdeu o ego" mesmo, isso não deveria ser uma pergunta incômoda certo?
Rivas contrapõe uma cultura e uma sociedade contemporânea que se estranha com a moralidade arcaica e muitas vezes destrutiva do Ethos evangélico-cristão, pois valores como sexualidade, relacionamentos se encontram cada vez mais incompatíveis com essas velhas moralidades do passado, e isso é bem reproduzido no drama interno de Alicia - precisamente na cena final quando ambos seu namorado e sua amiga-amante descobrem que Alicia mantinha um blog pessoal com seus relatos sexuais, em que Alicia fica devastada, pois no fim sua conversão havia se tornado uma
farsa e ela não havia conseguido "perder seu ego", ainda era profundamente escravizada por seus instintos e impulsos sexuais contraditórios aos seus sentimentos amorosos.
Vou tentar ser sucinto nessa análise. Acredito que 'Para o que Der e Vier' é um filme que discute um amplo leque de temas filosóficos, tal como a ambiguidade de Ben Baker em ter um ideologismo utopista e ecológico, porém ao mesmo tempo de ser viciado em maconha e em uma atitude psicológica excêntrica de modo acentuadamente mal ajustado com a sociedade (sendo esta o "câncer que ele acredita ser a representação da mesma),
além também da posterior crise existencial de Ben em enxergar seus próprios limites e sua crise neurótica de grandeza que no fim se equiparava a uma miragem.
Steve, seu melhor amigo, é um típico hedonista "porra-louca", inconsciente da pertinência de sua própria vida, a não ser ao fato de "buscar sempre aproveitar o momento", a la carpe diem, porém que ainda assim tem qualidades positivas, reconhece o valor da amizade mesmo para além dos prazeres hedonistas, que é o que faz ambos se conectarem apesar de suas discrepâncias pessoais.
E é nesses dois personagens que se centram algumas questões filosóficas interessantes. Ben acredita que a sociedade atual é um "câncer", de que as pessoas se drogam o tempo inteiro, o que aponta para a hipocrisia da instituição psiquiátrica quando seu psiquiatra comenta "esta é uma imagem interessante", sem deixar assim o embaraço implícito, talvez sentido como uma crítica oculta em seus meandros ideológicos da medicina neuro-química que não enxerga possibilidades de valores humanitários maiores.
Porém, Ben é um neurótico, sofre de um "narcisismo megalomaníaco altruísta", se vê inicialmente como um grande visionário, se colocando num orgulho rente aos demais - que seriam tão somente os sonambúlicos em relação a todos esses problemas sociais e ambientais.
O ponto crítico é no final do filme, Ben cede à ideologia pelo qual sua irmã insiste durante o filme todo, de que o "correto" e a "prosperidade" está nos ideais capitalistas, no conformamento de uma vida sócio-doméstica, e de que o resto seriam só bobagens utópicas.
Mas a questão que se abre é: será mesmo que Ben "recuperou" ou decaiu? Claro que o Ben Utopista era uma máscara irreal, porém o "Ben ajustado" não era mais se não do que mais um ex-sonhador conformado com a medianidade.
Steve também é confrontado por um dilema de valores profundos acerca de sua frivolidade "carpe dieminiana", pois é Angela quem questiona seus vícios e incapacidade de ter interações humanas verdadeiras; isto mexe profundamente com Steve, pois este inclusive tenta ficar sóbrio para se aproximar de Angela, mas logo repara que não faz realmente parte desse mundo dos Sentimentos Elevados pelo qual Angela parece estar imersa.
A ironia é: no fim parece que Angela não tem um propósito sólido e real em sua vida, que talvez seja mesmo, como Steve argumenta, "uma garotinha perdida que fala de coisas bonitas, mas que no fim só tem companhia por ser muito bonita", e isso silencia Angela na mesma cena. Assim, por um lado Steve vive a vida do maconheiro frívolo e ganancioso, pois parte de sua motivação para ajudar Ben era de lucrar com a herança de seu amigo, porém há aparentemente uma chance de salvação quando este é desafiado existencialmente para redescobrir os valores mais profundos e elevados de se sentir a vida por Angela.
Há uma cena em que Steve critica Ben por ter transado com Angela e derruba a mesa, enxota Angela e se afasta.
Parece que mesmo Ben não sabia o que estava fazendo, tão pouco Angela, porém que nesse erro "inocente", Angela com sua áurea místico-natural de sentir a vida resgata Ben da depressão e do niilismo. Steve decai novamente para os vícios, mas logo quando nota a frivolidade de seu trabalho em apresentar uma notícia que a população alvo nem poderia ver, percebe que no fim Angela apesar de não ser uma santa elevada, ainda assim sabia de mais coisas sobre a vida do que ele - é no momento crítico de ver uma árvore cortada desimpedindo suas espiadelas à vizinha, que este vê que o sexo hedônico não é assim tão importante quanto o amor. Sua rendição acontece quando este visita Ben e chora aos braços de seu amigo.
Ben parece ter se recuperado, melhorado, e inclusive se aproxima de conhecer uma parceira, porém este é novamente atordoado por seu brilhantismo sócio-ecológico e espiritual de ter sido um potencial transformador social e ecológico quando este fita as expressões entristecidas de um cavalo sendo "explorado" e "subjugado" tanto por um campônio quanto pela criança, sendo esta alheia do "mal" que estaria fazendo ao cavalo de brinquedo metafórico.
American Sniper é um ótimo filme, ele demonstra bem um tipo psicológico muito comum dentre aqueles que escolhem entrar no exército para "servir a pátria". Tal é o caso de Chris Kyle que desde a infância demonstra possuir um "espírito de guerreiro", sendo esse também incentivado pelo seu pai quando este fala que no mundo existem "ovelhas", "lobos" e "pastores de ovelhas", que seriam os que usariam da força e violência para defender o seu "rebanho", t
al como Kyle faz quando vê seu irmão sofrendo bullying e decide intervir.
Assim, o filme prossegue passando-se alguns anos além quando Kyle cansado de viver a vida como um "mero peão de rodeio", decide se alistar como um "Navy Seal" do exército americano. Logo então, surgem vários acontecimentos interessantes. Kyle se depara com uma mulher e uma criança que se precipitam em lançar uma granada num comboio do exército americano.
Kyle nota e reporta ao seu superior e este o responde dizendo que estaria em sua jurisdição tomar a decisão de atirar ou não, e assim num derradeiro momento cheio de drama, a criança e a mãe tentam jogar a granada e assim Kyle sofre a primeira experiência que tornaria a torná-lo traumatizado posteriormente, ele atira nos dois.E é desse modo que o filme prossegue, com Kyle se tornando uma lenda reconhecida dentro do exército americano com mais de 130 mortes creditadas a ele.
Em paralelo com esses eventos, Kyle conheceu Taya, que se tornou sua esposa. E assim, durante os eventos que se passaram no Iraque e regiões próximas, Kyle se vê num dilema entre abraçar sua "família coletiva", representados por seus companheiros do Seals, pelo seu país, e sua real família com Taya e suas duas filhas.
Taya percebe o quão perturbado e psicologicamente prejudicado Kyle vai se tornando e sofre consideravelmente, até que ela quase perde Kyle num conflito em que Kyle busca vingar seus amigos e companheiros caçando Mustafa, o sniper inimigo.
num momento crítico, Kyle se dá conta de que já estava se perdendo no meio de seu forte senso de dever e decide então, no calor da batalha retornar à sua família
. E assim, pode-se ver os efeitos da guerra entre os veteranos. Kyle retorna fisicamente para sua terra e família, mas seu espírito ainda percorre o campo de batalha, ele não consegue se adaptar e compensa esse quadro com uma persona, uma máscara do homem-forte, de que não há problema nenhum acontecendo, pois afinal, ele seria o "pastor do rebanho", não caberia a ele em se permitir ser vulnerável e fraco também.
O filme mostra bem como o exército, a ética do nacionalismo podem alterar a saúde mental e emocional dos veteranos, pois muitos voltaram da guerra, mas nunca plenamente, sofrendo tanto de sequelas físicas como psicológicas. Kyle foi um exemplo disso, e claro, o desfecho é triste e lamentável, pois parece que ele estaria melhorando, superando,
até que um próprio veterano acaba assassinando Kyle
, o que no mínimo é motivo de revolta, mas contra quem? Com o veterano ou com esse moralismo patriota e o efeito político da guerra com o oriente?
Enfim, Sniper Americano é um ótimo filme, a narrativa é bem construída, com momentos críticos bem concatenados entre o drama familiar de Kyle e questões maiores. Destaco a atuação de Bradley Cooper que se saiu muito bem como um papel de soldado e também Sienna Miller como uma mulher que escapa uma fácil esteriotipização em sua personagem.
Planeta dos Macacos: A Origem é um filme interessantíssimo por dois elementos; as provocações científicas, tanto de encontrarem uma cura para a doença degenerativa que acometia o pai de Will Rodman, como também da familiarização/domesticação de Ceasar.
O filme começa assim a apreensão de espécimes de chimpanzés para testes laboratoriais, em cuja empresa que Will trabalhara tal estaria empreendendo pesquisas científicas para que Steve Jacobs pudesse fazer a empresa lucrar.
E é num acidente que Ceasar acaba ficando sem sua mãe e é adotado por Will Rodman que para não vivenciar um extermínio acaba decidindo cuidar do chimpanzé filhote.
Assim, no decorrer do filme Ceasar cresce e Will quase descobre a cura para a doença degenerativa de seu pai, por onde a família vive um breve período de alegria. Porém, é no decorrer do crescimento de Ceasar que este, num incidente com o vizinho acaba sendo capturado num cativeiro de chimpanzés. Algum tempo passa e Ceasar descobre sua "nova família" recusando assim um retorno infantil à casa de Will. Ceasar utiliza sua inteligência superior, conquista os demais de sua espécie e por uma façanha os torna inteligente também, arquitetando uma invasão à empresa de Will e uma fuga para a floresta de sequoias pela qual havia passado sua infância.
E é particularmente nesse meio para o fim que o filme se torna muito envolvente e perpassado por fortes cenas de ação, drama e aventura.
Ceasar por um momento grita "Não!" num conflito com o maltratador (cuidador sic) de chimpanzés do cativeiro, e nisso ele passa a permanecer em pé, simbolizando a crescente valorização da posição bípede ereto. Logo então, Ceasar se torna o Macho Alpha de seu bando, se torna um primata superior, pois rompe com os laços paternos (Will), porém ainda mantendo o respeito, de certo modo, o filme mostra que Ceasar humanizou, pois recusava a morte desnecessária, mas ainda assim não cedia às tentativas de aprisionamento por parte dos humanos, cultivando assim um peculiar senso de justiça animal.
O fim não é nada drástico, é previsível e esperado, mas não deixa de desmerecer o enredo e a narrativa que foram muito bem executadas. A trilha sonora é ok; gostei particularmente da atuação de James Franco, houve fluidez e uma simpatia em sua atuação. Em suma, Planeta dos Macacos: A Origem é um ótimo filme.
Acredito que salve a fotografia e os efeitos especiais Oblivion deixou muito a desejar, parece que Joseph Kosinski fez um filme de última hora, de forma a ter tido um desenvolvimento não tão bom, pois pelos menos em relação à temática e a participação de Tom Cruise eu esperava um filme tão impactante quanto um Guerra dos Mundos, ou se for mesmo pensar nesse ambiente pós-apocalíptico, algo próximo ao Mad Max, mas Oblivion não parece demonstrar os elementos nem de um e nem de outro.
Assim logo vemos a história em que Jack Harper é um mecânico de Drones na semidestruída Terra junto com sua parceira Victoria, na qual prestava auxílio em suas jornadas de trabalho. Diz-se que a terra fora devastada devido ao detonamento de bombas atômicas contra uma luta frente a alienígenas, conhecidos como "carniceiros"; nesse breve momento inicial, o modo como o enigma dos acontecimentos é jogado no espectador mostrando apenas duas pessoas no vasto ambiente da Islândia (local das filmagens), o que eu particularmente achei o ponto mais forte e salvável do filme - o cenário é espetacular, não é sempre que se vê filmes trabalhando bem nesse aspecto.
Logo a seguir, Jack vai percebendo que há algo de errado na história toda desde que fora lavado cerebralmente, porém Victoria insiste em rechaçá-lo todas as vezes que ele questiona ela, mas mesmo assim por forças maiores Jack se mantém despertando sutilmente, colecionando livros antigos, como um de Horácio
Momentos depois, Jack é capturado pelos "carniceiros" e conhece sua ex-esposa Julia em uma cena crítica na qual ele descobre sobreviventes humanos e consegue por fim salvar Julia. Então, Jack é capturado pelos carniceiros numa viagem de reparos de um drone e descobre inicialmente a verdade histórica pela qual fora velado - a de que a inteligência das maquinas havia usurpado a raça humana em guerras, possivelmente, consigo mesmo, fazendo com que assim uma nave gigantesca estática no espaço controlasse tudo através de uma virtualização representada por
e assim, ele logo parte para tentar virar o jogo e por fim consegue derrotar a tal nave por onde se operava as explorações de energia dos planetas numa consumação parasitária.
Como brevemente expus, a trama e a narrativa não tem um conteúdo muito complexo, o que possibilita contar a história em poucas linhas sem muito poder de comoção frente ao espectador, pois, é claro, sempre quando vejo algum tema futurista, apocalíptico, já sinto um certo receio por parte da direção do filme, pois tais são muito interessantes, e não é mesmo qualquer produção que irá fazer um bom trabalho. Falando dos atores e atrizes, gostei, como sempre, da atuação de Tom Cruise, talvez ele não tenha podido brilhar muito nesse filme, mas ainda assim suas atuações são lendárias. Diria que foi razoável a atuação de Andrea Riseborough, e um tanto notável a de Olga Kuylenko. A trilha sonora fez seu papel também; em suma, acho um filme fraco, mas bom para distrair se for olhar por esse viés.
Tomorrowland é quase uma "epopeia futurista", com personagens heroicos destinados a decidirem o rumo a humanidade, bom pelo menos é como o gênero do filme aparenta ser, pois este é previsível, não há uma narração complexa, muito menos um forte elemento trágico e dramático, porém Tomorrowland, apesar de carregar essa forte impressão de ser mais uma outra produção a la Disney, carrega uma mensagem, uma inspiração interessante. Tal é um lembrete das grandes possibilidades da vida, de sonhar com novas perspectivas e descobertas tecnológicas incríveis; de fato, o futurismo tecnológico foi o elemento mais forte da temática do filme, por exemplo, até onde seria possível a tecnologia progredir na física? Haverá ainda uma maquina capaz de simular o passado e o futuro? São questões provocantes.
Além disso, há uma crítica interessantíssima esboçada por Nix (Hugh Laurie), de que mesmo tendo esses gênios de outra dimensão espaço-temporal terem avisado a dimensão de Casey Newton e Frank Walker sobre diversos riscos de destruição de seu mundo, as pessoas de tal, mesmo assim, ainda continuaram fechando os olhos, numa letargia autoindulgente - comercializando o "fim do mundo", pouco ligando para efetivamente tentar fazer alguma coisa sobre os problemas crescentes da humanidade, como o derretimento das geleiras, o sumiço de abelhas, etc.
E nisso o próprio Frank e Casey parecem atônitos e incapazes de responder por um breve momento,
embora eles logam cumpram seus papéis de heróis e destroem o transmissor alienante dessas mensagens acerca do fim do mundo
. Pois então, essa mensagem persiste ao espectador atento depois do happy ending - afinal de contas, estamos sendo sonhadores? Estamos vivendo nosso potencial criativo? Ou só estamos falando sobre as distopias huxleyanas numa aula de literatura no ensino médio?
Enfim, a fotografia do filme é linda, há um fortíssimo elemento surrealista mesclado com futurismo nas fotografias do filme, além da orquestral trilha sonora reforçando o sentimento fantasioso que a temática do filme trás. Os efeitos especiais são impressionantes também, muito bem construídos. Raffey Cassidy e Thomas Robinson tiveram uma atuação bem interessante para suas tenra idades, dá para se imaginar um futuro promissor para ambos. E claro, apesar de eu não ter notado nada muito impactante na atuação de George Clooney e Hugh Laurie, ambos fizeram bem, com especial atenção a como Hugh parece se destacar como papel de vilão (e assim vemos seu brilhantismo imbatível como um ator magnético e chocante).
Juan José Campanella é um gênio, fez um filme excelente! A trama se passa dentro do assassinato da esposa de Ricado Morales, por onde o perito Benjamín Espósito e seu parceiro Pablo Sandoval passam a investigar o possível assassino. E assim, o filme se desenrola numa multiplicidade de nuances e detalhes criando um clima de mistério, quase um enigma, cujo os "segredos dos olhos" de Isidoro Gómez, em suas fotografias, denuncia uma intencionalidade implícita em seu comportamento, e é dentro desse espírito (se me permitirem)
Noir que os dois investigadores passam a embarcar em uma aventura espionando uma parente de Isidoro
- é neste ponto que o trabalho dos investigadores ganha um caráter de surrealismo, tal como Sandoval comenta na cena do carro em que Espósito estava "vendo filmes demais".
E é no desenrolar da trama que surge a "história dentro da história", pois a vida de Espósito passa a se envolver com a vida de Morales, pois esse percebe o comportamento obsessivo deste em ir para as estações de trem todos os dias tentar flagrar o assassino de sua esposa, e essa obsessão de fato se aprofunda quando, em uma parte do filme, Morales pergunta qual seria a punição pela justiça da captura do assassino e sobre isto Espósito diz: "prisão perpétua", e num outro momento Morales faz várias indagações do que ocorreria se ele fizesse justiça com as próprias mãos e logo perceberia que não valeria a pena ser preso por vários anos enquanto o criminoso teria uma morte tranquila. E é desse modo que surge uma teia de eventos em que a vida dessas personagens, incluindo a paixão de Espósito por sua chefe, a Irene Menéndez Hastings, se mescla e difundi em três histórias diferentes.
O amor grandioso e Morales, o amor intocável de Espósito e o romance que este narra de toda essa trama, que na verdade não era mais que uma tentativa catártica de vivenciar o que não teve coragem de fazer na vida real.
O fim é uma derradeira surpresa, pois Espósito se despede numa versão romanciada de Irene, o criminoso é preso mas solto devido ao sistema falho da justiça, pois o assassino passa a trabalhar para o governo, e num retorno neurótico de Espósito (ou talvez ainda da reminiscência de seu espírito de detetive reagindo ao recalque),
esse visita Morales e descobre que tal havia matado o assassino com quatro tiros, mas logo no fim seguindo seus instintos descobre que Morales fez justiça com as próprias mãos encarcerando Isidoro em sua própria casa, tal como quando diz "prisão perpétua"
. E então numa cena confusa parece que Espósito e Irene compreendem bem o que a escolha do "vazio-confortável" ocasionou em suas vidas e aparentemente, concordam em reviver o antigo romance, embora tal fosse ser "muito complicado".
Enfim, a atuação de Ricardo Darín, Soledad Villamil e Guillermo Francella foram ótimas, com especial destaque para o galã Ricardo Darín interpretando com maestria o espírito de detetive. As cenas são bem fluídas, a fotografia é legal, mostra bem o contraste entre diferentes recortes temporais do passado, em suma é um ótimo filme.
Filme excepcional de Stanley Kubrick, simplesmente fascinante. Em "Eyes Wide Shut", o tema se passa acerca das incertezas do típico casamento, da arrogância masculina em achar que as mulheres também não tem suas fantasias sexuais reprimidas, que por vezes um relacionamento sério não equivale à sentimentos passionais intensos, que como a própria Alice diz, é mais um "amor terno e triste", já que nessa fase de vida, abandona-se a euforia para o aprendizado espiritual da familiarização.
A narrativa é misterioso a cada instante, criando um longo desconforto no espectador com uma melodia mórbida de piano, assim Dr. Bill numa discussão com sua esposa Alice, acaba ouvindo esta, sob efeitos de entorpecentes confessar uma fantasia sexual que havia reprimido há anos, o que perturba profundamente a mente de Bill, pois este se sente traído, mesmo que por uma fantasia, uma imaginação; Bill sente-se certa infidelidade de sua esposa, pois acredita que o fato de ela ter guardado por tantos anos uma fascinação por um marinheiro desconhecido, significaria que ela não o valorizaria de verdade, que poderia ter vivido um falso amor com ela, o que faz Bill ser testado pelo destino, através da prostituta da rua, da filha do dono da loja de fantasias.
O filme parece provocar constantemente o espectador, pois mostra uma realidade distópica por onde o normal é aquele clima a la Sodoma e Gomorra, pois a cada momento há cenas de indecência e cupidez moral.
Tanto que uma cena muito peculiar é daquela em que o dono da loja de fantasias descobre dois orientais fazendo programa com sua filha, e este num comportamento esperado ameaça chamar a polícia, mas no dia seguinte, aos próprios olhos de Bill, todos eles acabam "negociando um acordo melhor", onde o espectador logo vê nos olhos da filha do dono da loja.
Assim, Bill se reencontra com um velho colega, Nick que o provoca sutilmente sobre um lugado misterioso, com as mulheres mais deslumbrantes, o que, somando a perturbação psicológica de Bill com a fantasia de sua esposa, desencadeia-se um movimento pelo qual Bill é seduzido à ideia e decide penetrar a festa. N
o fim, acontece que por esses eventos a prostituta que ele havia visitado anteriormente e que o ajudou na festa a se livrar de um destino terrível, é morta de overdose num hotel;
e assim não fica claro se como mostrou a cena da sinuca, foi mesmo uma "fatalidade previsível" o que aconteceu com Amanda, a prostitua, tal como o colega de Bill o faz acreditar, ou se realmente, na "falsa encenação" eles abusaram tanto da prostituta que isso desencadeou em sua morte, devido a um psicológico abusado e torturado.
No fim Bill conta tudo para Alice quando esta descobre sua máscara de fantasia e desaba em lágrimas, temendo que o pior fosse acontecer então. Alice logo sente a repercussão dramática que seu sarcasmo ressentido - da repressão sexual - causou em Bill e também se sensibiliza, e nesse fim um tanto intenso Alice confirma que seu amor por Bill ainda estava vivo, e este num grave tom de insegurança diz que ambos ficariam bem para sempre; que é justamente o desfecho crítico do filme,
pois Alice diz que "para sempre" poderia ser um exagero, que talvez fosse melhor simplesmente eles aproveitarem que no final das contas "não deu merda" e irem logo para o coito.
A atuação de Tom Cruise e Nicole Kidman é incrível, fora uma combinação engenhosa e forte de atores (as). "Eyes Wide Shut" é um ótimo filme.
Precisamos falar sobre Kevin levanta sérias questões sobre o que esperar no tratamento dos próprios filhos; não se sabe que problemas se podem esperar numa unidade familiar, tal como o mutismo, o autismo e até a psicopatia. Existe uma narração mixa entre o passado e o presente, por onde uma angústia enigmática mostra cenas de tragédia, de destruição com um tom de nostalgia em relação ao passado de Eva.
Esta quando gera Kevin, se depara com uma criança que se recusa a participar das brincadeiras que uma criança saudável normalmente participaria. Eva cresce com um filho que a desafia que a repudia, e mesmo quando ela leva Kevin para o médico, este demonstra a incompetência de diagnosticar qualquer problema mental e para piorar, tanto Eva quanto Franklin não têm a menor ideia do que fazer, não passa a ideia de levar Kevin a um psiquiatra por exemplo;
Eva se encontra desamparada, não sabe o que fazer, talvez ela tenha nutrido uma esperança de que as coisas iriam mudar e melhorarem em algum momento no futuro, já Franklin acredita que inicialmente o que Kevin fazia era normal, pois "crianças são assim", e num segundo momento, que era inveja de sua irmão Celia, que surgiu como um motivador para Kevin piorar, já que então sua atenção iria passar a ser dividida.
Nota-se bem como o filme vai se contorcendo na derradeira conclusão fatalista em que Kevin comete assassinatos em série, Franklin estimula as tendências à violência em Kevin quando o induz a praticar arquearia, apresentando uma arma letal para Kevin.
Assim, num presente em que há uma tentativa fugidia e pálida de Eva realizar uma catarse pela vida simples, esta desenvolve um quadro mental debilitado, pois ela é julgada pelos atos do filho em relação às vítimas que Kevin fez,
tal como mostra bem uma cena em que ela foge de uma conhecida no mercado e aceita os ovos trincados, ou quando ela recebe um tapa na cara e diz que a culpa era dela mesmo.
Eva apesar de tudo sempre nutriu o natural amor materno pelo filho, como bem mostra a cena final em que o próprio Kevin já não compreende a persistência de seu estado mental e psicológico, quando aponta nunca ter sentido "felicidade" por sua vida toda.
Kevin acreditou que o assassinato de sua irmã, de seus colegas e sua fama midiática momentânea seria uma forma de autoexpressão em que ele poderia purgar sua aversão ao tradicionalismo familiar em que fora imposto a vida toda, além de suas tendências violentas.
Precisamos falar sobre Kevin, tem um ótimo elenco com a atuação dramática de Tilda Swinton e a incorporação de um perfil psicótico por parte de Ezra Miller, Lynne Ramsay apresenta uma bela provocação acerca da imprevisibilidade e incompetência geral na educação de perfis patológicos nas unidades familiares, e de como há uma forte necessidade de se discutir além essas questões a fim de identificar mais cedo e prevenir mais casos semelhantes de chacinas como o caso do "Massacre de Columbine". Ademais, a narração do filme é boa, ela vai concatenando com precisão os fatos numa versão não necessariamente linear, em que o espectador é fisgado pelo drama sem que tal se torne pequeno mediante o desfecho final.
John Maybury produziu um filme no mínimo interessante, não é uma trama super complexa, mas também não deixa de confundir o espectador com algumas possíveis incoerências metafísicas em relação às viagens no tempo que Jack Starks realiza. A trama se passa quando um soldado americano é baleado na cabeça na Guerra do Golfo, fazendo com que ele sofra de amnésia e, em um momento posterior, depois de ajuda uma mãe e uma garotinha no conserto de um carro, seja injustamente acusado do assassinato de um policial sendo que na verdade tal foi armação do homem que Jack havia pedido carona.
Assim, é num ambiente que destila uma obscuridade dentro de um tom depressivo que Jack sofre estranhas experiências em um hospital psiquiátrico por Dr. Becker, onde Jack é drogado e depois depositado numa gaveta hermética, que é justamente os momentos mais claustrofóbicos do filme.
Jack está em busca de respostas e nisso, de algum modo, ele consegue acessar uma realidade temporal paralela e ir aos poucos descobrindo os motivos pelos quais ele foi acusado das várias injustiças tanto com a mãe e a criança que ele ajudou como quanto o policial, revelando assim um meio de ajuda um paciente da Dra. Beth Lorenson
Jack obtém suas respostas junto com a Jackie Price crescida em 2007, que aos poucos vai desvelando todos os focos causais que determinaram o futuro daquela realidade paralela, e assim no momento presente, Jack comunica as respostas do futuro daquela realidade paralela para o tempo anterior desta, assim Jack consegue antecipar algumas informações que ele não poderia saber de nenhum outro modo salvo uma viagem no futuro, o que contribui para que ele consiga convencer a Dra. Beth Lorenson a ajudá-lo
.
A questão é que parece haver uma tese de um "paralelismo temporal", pois a explicação do tempo presente só é possível através das respostas de uma realidade paralela futura t1, e parece que ambos estão intrinsecamente conectados, pois Jack só poderia conectar a causalidade dos fatos dessa realidade t1 com o presente se ele mantivesse a consciência presente em ambos os tempos, tal como indicia as cenas em que quando este estava em t1 ele dizia que "no atual momento ele estava engavetado", o que insinua não haver realmente uma distinção entre passado, presente e futuro em uma cadeia linear de eventos e sim de que só há um fluxo temporal simultâneo com a aparência de passado, presente e futuro. Mas se isso está correto eu não sei dizer, o que o filme parece evidenciar é que há realidades temporais paralelas e que de alguma forma elas estão interconectadas entre si,
De certo o filme é permeado de mistérios, como a constatação de que ele prejudicou Jackie e sua mãe no tribunal, pois em nenhum tempo futuro t1 ou t2 isso parece ter ocorrido.
De resto, eu diria que a fotografia e a trilha sonora do filme são muito boas, com destaque para a atuação de Adrien Brody e Keira Knightley, o primeiro com sua autenticidade vivaz de autor e a segunda com seu charme e elegância confiante, já a atuação de Daniel Craig foi mediana, para um ator como ele talvez faltou maior desenvolvimento.
Não gostei muito do final, e do romance repentino de Jack com Jackie, pareceu ser forçado e mal desenvolvido em termos de complexidade, parece que John se apressou logo em colocar um desfecho feliz.
Um Homem Sério é um filme estranho, ele tem uma atmosfera "non-sense" e é um tanto vertiginoso. Porém, este está repleto de simbolismos em forma de críticas religiosas. A primeira cena parece demonstrar um trecho histórico de possivelmente, parentes antigos de Larry.
O marido acaba contando uma história em que um grande rabino ajuda-o com um problema na carruagem, mas sua mulher logo o interpela dizendo que tal rabino já havia morrido há três anos
, e que desse modo o marido acabou colaborando com uma possível maldição e tal iria se (possivelmente) se repercutir na família de Larry Gopnik, tanto como uma "punição" pelo assassinato ou como uma maldição.
O ponto principal é que o filme centra a degeneração do espírito judaico quanto à veracidade e honradez moral e o comportamento atual dos membros da comunidade.
Assim, o espectador logo percebe que Judith Gopnik, esposa de Larry está para se casar com um amante, quero dizer, com quem ela realmente passou a amar depois de anos de casamento ausente de sexo frustrado por parte de Larry;
que é onde entra a ironia, pois ela almeja um casamento em "boa fé" de acordo com a tradição, o que denuncia o caráter pútrido em que o judaísmo tradicional vai se revelando nessas personagens, pois o valor se atém mais às regras do que na observância de um cumprimento genuíno de uma moral elevada. E é por isso que Larry, por regras dos escritos religiosos do judaísmo deve ser ostracizado de sua própria família para que essa instância absurda se concretize em prol de Judith e Sy, que seria o amante dela.
Assim, ao longo do filme Larry consulta três rabinos, cada um mostrando-se como antiquários degenerados do espírito e sabedoria judaica.
O primeiro, Scott, é um jovem tolo que apresenta generalizações de perspectiva dando um exemplo efêmero como o parque de estacionamento; o segundo Nachtner, um pastor que nada presta, pois apenas repete o "bom aconselhamento" de não questionar os mistérios e finalmente, o rabino Marshak - um erudito que desistiu da teologia e acabou se um excêntrico recluso, colecionando vários artefatos científicos, capaz apenas de recitar um trecho musical em honra ao Bar Mitzvá de Danny, filho de Larry.
No fim das contas, percebe-se bem como o filme retrata o decaimento do espírito da religião judaica dentro de um contexto moderno - tudo é hipocrisia e fingimento, uma obediência estulta de preceitos que ninguém compreende de um Deus que ninguém faz qualquer sentido
. E claro, o estranho final do filme, Larry aceita o suborno do aluno oriental cujo pai o chantageia e ao mesmo tempo perde o filho (com um tornado indo em direção à sinagoga onde este estava). Logo, parece que Deus se preocupou mais em punir um capricho do que em fazer real justiça, ao que assim aparenta a critica do filme.
A atuação dos personagens é boa, mas não vejo destaque quanto à fotografia e a trilha sonora, a narrativa é um pouco apressada e batida, senti falta de um drama maior na crítica, no fim a temática beirou mais o cômico o que ironiza com o título, "Um Homem Sério".
Um Cadáver para Sobreviver
3.5 936 Assista AgoraO aspecto mais interessante do filme é quando Manny indaga ao Hank "para que voltar para casa se não se pode fazer nada"?
Para os atentos a crítica social central do filme está justamente aí. Hank é um fracassado, desajustado social, "covarde" e motivo de vergonha para o seu pai (eis os vários trocadilhos com a palavra "retardado"), logo, por que ele acha que a solução está em voltar para "casa"?
Manny, o seu amigo-defunto, aquele que entende ele de verdade, ao contrário dos outros, incluindo a "crush" de Hank, pontua essa questão: como é que aqueles que são invisíveis, inúteis e "retardados" podem ser felizes quando "em casa", ou seja, no ântro da sociedade? Ironicamente, para Manny, a real conexão se deu em vários momentos de delírios, desrealizações, despersonalizações com um defunto embuído de "super poderes".
Dúvida
3.9 1,0K Assista AgoraTema importantíssimo desenrolado no filme ~ dúvida. O homem desde sempre tem facilidade em ter crenças em tudo, menos no metafísico, no divino, e portanto peca, muita vezes, mesmo em vestes de virtude!
Um Homem Sério
3.5 574 Assista AgoraÉ de fato uma sátira com os valores das crendices religiosas e seus efeitos "placebos", mas tolo são esses comentaristas abaixo que concebem a experiência religiosa como sendo limitada aos placebos apenas. O filme parece tentar passar uma ideia de arbitrariedade, pois no fim "tudo volta ao normal", e mesmo tentando apelar pra sátira o conceito do filme não consegue deixar de discordar da real experiência religiosa - de fato, no mundo "de baixo do sol", no mundo onde vivemos em carne e osso, tudo é impermanente, tanto a boa sorte quanto a má sorte, mas isso não quer dizer que a relação de uma e outra seja arbitrária, pelo contrário, é só que a ignorância imediata não permite perceber a relação meta-causal pro trás de tudo.
Dogville
4.3 2,0K Assista AgoraFilme profundamente "eclesiástico", mostrando o quão podre o mundo é, fora da arte, dentro da arte e que nesse mundo, com essa estrutura em que vivemos tudo só estará "certo", "de boas", na medida em que os interesses egoístas forem todos atendidos, na medida em que o medo de "se fuder" não estiver na reta. É um filme existencialista, ele mostra os limites de onde nós normalmente vivemos.
Huckabees - A Vida é uma Comédia
3.4 120Acredito que o filme põe em questão o drama de viver entre o niilismo e a "verdadeira espiritualidade", a não-dualidade, a ideia de que não separação entre sujeito e objeto, pois os tolos se tornam niilistas, e os grandes sábios se tornam não-duais, e na tensão do meio está a maioria dos humanos semiconscientes. A comédia aponta para não se levar a sério essas tensões e entender que de fato o drama humano não possui sentido metafísico, mas dizer que a realidade em si não possui sentido metafísico seria outro erro, sendo o ideal considerar que a consciência universal é o verdadeiro objetivo.
O Lagosta
3.8 1,4K Assista AgoraSátira muito interessante. A sociedade tenta impor a construção de casais com base em relacionamentos superficiais, e quando não dá certo, incentiva-se o casal a procriar, para que com os filhos, se amenize a situação. No outro extremo há os solitários que buscam provar outro ponto, de que é possível ficar "de boas" sendo extremamente solitário, mas como as cenas na floresta mostram, os comportamentos dos membros ainda são muito bizarros, continuam a ser robóticos mesmo tentando ser espontâneos e livres, e todos continuam amuados, sentados em troncos de árvores sozinhos e com expressões apáticas. No fim não é nos extremos que pode-se achar o amor, que bem a dizer ninguém é capaz praticar o mesmo de forma incondicional, e na recusa do amor, nasce as psicopatias, os fanatismos ideológicos como vemos nas formas extremas atuais do feminismo, e de certos graus dos "MGTOW" também - nem por um, nem por outro há o amor, e os indivíduos irão continuar errando, tal como no fim,
David ponde se irá se cegar ou não, para insistir numa construção superficial de similaridade com sua amada, sendo que, ironicamente, verdadeiro amor não é implicado nas semelhanças físicas por exemplo.
Fé Corrompida
3.7 375 Assista AgoraA luta contra a corrupção do ser! Nada mais nada menos do que isso é o tema central do filme. Como Soren Kierkgaard já disse, em vista dos males do mundo, o caminho da fé é mesmo um salto ABSURDO de fé. Ironicamente o próprio protagonista reconheceu a necessidade de sustentar os paradoxos do bem e do mal na vida (esperança e desespero) para abarcar a fé, mas na prática é onde as pessoas realmente são restadas e provadas, e nisso o filme caracteriza com excelência o conflito.
The Sunset Limited
3.9 157 Assista AgoraA maioria que for ver o filme infelizmente não vai compreender a crítica mensagem que ela carrega, e isso a gente pode ver em comentários como esse "mas os diálogos são muito vazios de base teórica (o que piora sendo um dos personagens um professor universitário)". O filme não é sobre uma exposição de um ensaio acadêmico, não propõe educar nenhuma teoria, nenhuma apologia, a proposta é sutil demais para isso, e tal se revolve no fato de que o mundo racional é falível, de que o hedonismo tem data de validade, e que nas alturas do desespero apenas o salto da fé pode salvar do aterrorizador e gélido assombro da morte decaida pela apatia e pelo niilismo.
IO: O Último na Terra
2.2 276 Assista AgoraMais alguém notou Margaret Qualley do filme como sendo uma personagem do jogo Death Stranding do ps4? lol O filme em si, é... meio fraco, a atuação dela no jogo foi mais interessante!
1922
3.2 797 Assista AgoraEste é um daqueles filmes que é difícil de fazer comentários críticos. Por um lado, eu achei a trilha sonora muito boa, no aspecto estético a mesma satisfaz o enaltecimento da tragédia em forma artística. Por outro lado, o conteúdo reflexivo do filme remete ao aspecto trágico da vida, em que muitas vezes eventos absurdos acontecem quase que de maneira gratuita, ou até mesmo de maneira predeterminada, e disso extraímos uma visão pessimista da realidade, em que, apesar de haver elementos bons nela, há elementos inexplicáveis através da razão humana comum, e nisso Stephen King nos trás o choque perceptivo de que a realidade humana pode ser injustificável, de que a existência do mundo que permite esse palco humano pode também ser injustificável, ao menos, é claro dentro da limitada e parca capacidade da razão humana.
Pois, como pode um fazendeiro achar que simplesmente matando a esposa poderia resolver todos os problemas? Poderia um animal, um inseto acreditar que isso seria uma boa ideia? E mesmo sua esposa, a mesma parecia simplesmente não se importar com a própria família e com o que a mesma pensava sobre se mudar, e ainda a mesma não se reteve em fazer piadinhas bem inapropriadas sobre a vida afetiva e sexual do filho em uma cena. O próprio filho também, junto com o pai, pareceu não estar distante de um quadro psicopata ao concordar com o crime.
Redbad: A Invasão dos Francos
2.8 23 Assista AgoraEnredo e narrativas fracas, personagens com presença fraca, trama que não envolve e prende, troca de cenas desconexa. Diria que apenas a fotografia do filme se salva, belas imagens.
No Topo do Poder
2.7 173 Assista AgoraAtenção: spoilers abaixo, só leia se você assistiu o filme.
Filme realmente complexo. Não é uma distopia futurística, mas ao mesmo tempo não é num passado longínquo, fica num meio-termo entre uma construção de concreto massiva, fria e funcional e um visual retrô nos trajes e automóveis o que gera uma sensação de "outro-mundo" na ambientação do filme - o que serve como um interessante contraste com o sentimento de destruição do ID desenfreado que é desencadeado na rixa dicotômica entre a nobreza elitista opressora e a plebe que mantém decoros só na superfície.
O doutor Robert Laing, o protagonista, não é necessariamente um protagonista e nem um vilão. Por um lado ele se identifica com a ideologia esterilizante, fria e funcional do "condomínio de concreto", por outro encontra maior realização em suas aventuras sexuais com as outras moradoras do mesmo. O Arquiteto Anthony Royal, talvez uma das personagens mais controversas, parece sugerir uma personalidade vanguardista, mas oscila entre um "deus indiferente" e um patético ser humano que objetifica e oprime a própria esposa, embora, sendo fraco e medíocre, é dependente da mesma e ao menos com ela tenta salvá-la do "mayhem" que estoura na classe plebeia no momento do fracasso do sistema hierárquico do condomínio.
O ponto crítico do filme parece ser quando o "rioting" do condomínio inteiro explode, pois, enquanto Laing procura se encaixar em algum lado enquanto contraditoriamente mantém indiferença generalizada com os outros moradores (mesmo sendo um médico), e Royal parece não ser capaz de definir a forma de seus ideais se mantendo inerte, algumas personagens mostram a faceta do ID desenfreado no calor das crises sócio-econômicas; Richard Wilder mostra a faceta feral do povo oprimido, e do indivíduo de desejo frustrado, buscando ter a força a carismática Charlotte Melville; e Elizabth Moss mostra uma vulnerabilidade emocional manchada que se funde a uma luxuriante fuga negligente para com os próprios filhos, em favor de estar com Laing como um produto, embora, ironicamente, é Laing que acaba sendo uma "boa comodidade" em sua visão.
Em suma, o filme espelha uma crítica social clássica de uma classe elitista opressora e de uma classe plebeia quando rompe as barreiras do super-ego coletivo e bestializam a la Hobbes. O diferencial é que não há heróis homéricos, não heróis at all, o que há é o que o diretor mostra provocativamente: a mediocridade do homem-mediano-filisteu que oscila entre um decoro de ordem e justeza social, uma busca egocêntrica e gananciosa de poder e uma total indiferença e perversão moral para com o próximo no contexto de uma crise.
Questão de Tempo
4.3 4,0K Assista AgoraÉ difícil descrever a miríade de sentimentos, sensações e comoções que esse filme passa, Richard Curtis fez um trabalho genial, brincando com um tema complexo do tema da viagem ao tempo porém sem perder o apelo espiritual por trás da magnificência que é a simplicidade do dia-a-dia da vida, da felicidade e alegria que é viver com alguém que se ama e de ter uma família com essa pessoa.
O a narrativa se desdobra sobre a vida de Tim, um garoto um tanto desengonçado e sem sorte que parecia sempre perder o que era melhor da vida, tal como deixar de se expressar ao seu primeiro amo de vida ou deixar de aproveitar aquela garota "dando sopa" na virada do ano; mas apenas parecia, pois seu pai, veterano da vida logo conta o segredo dos homens de sua família: a habilidade de viajar no tempo.
E assim começa a "pequena" Odisseia de Tim quando este conhece Mary, por quem se encanta, mas logo quase a perde por tentar voltar no tempo e corrigir uma má execução da peça de seu colega de quarto. Assim, Tim consegue reverter o "erro", e logo dá um outro jeito de conhecer Mary aparecendo na festa em que ela estava já com "todas as linhas de paquera" corretas, afinal de contas, será que era destino eles se encontrarem?
Tim chega inclusive a ter uma chance de dormir com seu primeiro amor, Charlotte, mas se recusa no último momento
Outro marco muito interessante do filme, é o de seu relacionamento com seu pai. A ligação de Tim e seu pai é imensa, é rica, é belíssima, de um pai que realmente enxerga uma extensão preciosa de sua vida em seu filho, e de um filho que enxerga o mesmo.
O pai de Tim dá vários conselhos ao longo de sua vida casada, tal como a de reviver mesmo os dias mais desagradáveis e de finalmente, e de viver cada dia como se fosse o último (fingindo não possuir tal habilidade de viajem ao tempo), explica também dos vários perigos da viajem ao tempo, como o de acabar perdendo a filha caso mexesse com certos pontos chaves do tempo geral.
No fim, num momento chocante, de derrubar lágrimas,
Tim se depara com a escolha de ter mais um filho e de perder os últimos momentos de vida com seu pai que já estaria com câncer, ambos se encontram numa partida de pingue-pongue e se emocionam num beijo fraternal. Tim decide viver a vida completamente, sem se resguardar, pois sabia que no fundo seu próprio pai acharia que sua família deveria ser maior.
O filme nos toca com uma espiritualidade profunda e emocionante, mostra uma cronologia típica do "herói" que nem sempre começa a vida nas melhores condições, mas que com boas escolhas, com uma família unida e sábia, e faz isso com uma trilha sonora belíssima, além de uma fotografia bem trabalhada junto com o fluxo da narrativa e do desenrolar do enredo. A atuação de Tim, seu pai, Mary são os destaques, todos esses se mostram como excelentes atores(as).
Jovem Aloucada
3.2 337 Assista AgoraEu diria que, de fato, o enquadramento, fotografia e trilha sonora do filme são incríveis, há um toque intenso de arte visual no modo como as imagens do filme foram trabalhadas. A atuação de Alicia Rodriguez é impressionante, ela encarna muito bem a psicologia de uma mulher tensionada entre um moralismo evangélico sufocante e sua natureza cheia de volúpia.
Quanto à temática do filme, achei provocante. Alicia vive o drama interno de uma adolescente cuja personalidade e temperamento certamente não se desenvolveu para o Ethos evangélico-cristão de moralidade. Embora, como é característico desse Ethos a manipulação emocional pela culpa e vergonha acerca da moralidade de seus membros, Alicia se viu num tensionamento agonizante de um autoconceito casto e "reto", e de outro hedonista ou como ela mesmo diz "fornicadora".
Há uma cena em que Alicia destaca um ponto provocante acerca da moralidade introjetada (absorvida e internalizada) por parte de sua mãe:
ela diz que ela poderia ter feito vários outros crimes quando foi pega em evento indecente com um colega, que poderia inclusive ter matado um professor, mas que para sua mãe com sua moralidade, "fornicar" era mesmo o pior de todos os pecados.
a ameaçá-la de mandar numa missão ao Equador caso "saísse da linha".
Conseguintemente, é notável essa crítica que Marialy Rivas faz ao Ethos evangélico-cristão, tal é visível tanto na ambiguidade comportamental de Alice que não consegue conciliar seus instintos e impulsos sexuais intensos - de que esse Ethos cobra um ideologismo descabido e patológico para certos perfis psicológicos de pessoas -, quanto também na cena em que ambas Alicia e sua amiga entrevistam um
homem convertido, quando Alicia provoca o crente se este não tinha ressentido sua namorada não ter seguido a mesma conversão - afinal de contas, se o crente "perdeu o ego" mesmo, isso não deveria ser uma pergunta incômoda certo?
Rivas contrapõe uma cultura e uma sociedade contemporânea que se estranha com a moralidade arcaica e muitas vezes destrutiva do Ethos evangélico-cristão, pois valores como sexualidade, relacionamentos se encontram cada vez mais incompatíveis com essas velhas moralidades do passado, e isso é bem reproduzido no drama interno de Alicia - precisamente na cena final quando ambos seu namorado e sua amiga-amante descobrem que Alicia mantinha um blog pessoal com seus relatos sexuais, em que Alicia fica devastada, pois no fim sua conversão havia se tornado uma
farsa e ela não havia conseguido "perder seu ego", ainda era profundamente escravizada por seus instintos e impulsos sexuais contraditórios aos seus sentimentos amorosos.
Para o Que Der e Vier
2.4 106 Assista AgoraVou tentar ser sucinto nessa análise. Acredito que 'Para o que Der e Vier' é um filme que discute um amplo leque de temas filosóficos, tal como a ambiguidade de Ben Baker em ter um ideologismo utopista e ecológico, porém ao mesmo tempo de ser viciado em maconha e em uma atitude psicológica excêntrica de modo acentuadamente mal ajustado com a sociedade (sendo esta o "câncer que ele acredita ser a representação da mesma),
além também da posterior crise existencial de Ben em enxergar seus próprios limites e sua crise neurótica de grandeza que no fim se equiparava a uma miragem.
Steve, seu melhor amigo, é um típico hedonista "porra-louca", inconsciente da pertinência de sua própria vida, a não ser ao fato de "buscar sempre aproveitar o momento", a la carpe diem, porém que ainda assim tem qualidades positivas, reconhece o valor da amizade mesmo para além dos prazeres hedonistas, que é o que faz ambos se conectarem apesar de suas discrepâncias pessoais.
E é nesses dois personagens que se centram algumas questões filosóficas interessantes. Ben acredita que a sociedade atual é um "câncer", de que as pessoas se drogam o tempo inteiro, o que aponta para a hipocrisia da instituição psiquiátrica quando seu psiquiatra comenta "esta é uma imagem interessante", sem deixar assim o embaraço implícito, talvez sentido como uma crítica oculta em seus meandros ideológicos da medicina neuro-química que não enxerga possibilidades de valores humanitários maiores.
Porém, Ben é um neurótico, sofre de um "narcisismo megalomaníaco altruísta", se vê inicialmente como um grande visionário, se colocando num orgulho rente aos demais - que seriam tão somente os sonambúlicos em relação a todos esses problemas sociais e ambientais.
O ponto crítico é no final do filme, Ben cede à ideologia pelo qual sua irmã insiste durante o filme todo, de que o "correto" e a "prosperidade" está nos ideais capitalistas, no conformamento de uma vida sócio-doméstica, e de que o resto seriam só bobagens utópicas.
Steve também é confrontado por um dilema de valores profundos acerca de sua frivolidade "carpe dieminiana", pois é Angela quem questiona seus vícios e incapacidade de ter interações humanas verdadeiras; isto mexe profundamente com Steve, pois este inclusive tenta ficar sóbrio para se aproximar de Angela, mas logo repara que não faz realmente parte desse mundo dos Sentimentos Elevados pelo qual Angela parece estar imersa.
Há uma cena em que Steve critica Ben por ter transado com Angela e derruba a mesa, enxota Angela e se afasta.
O final é provocador:
Ben parece ter se recuperado, melhorado, e inclusive se aproxima de conhecer uma parceira, porém este é novamente atordoado por seu brilhantismo sócio-ecológico e espiritual de ter sido um potencial transformador social e ecológico quando este fita as expressões entristecidas de um cavalo sendo "explorado" e "subjugado" tanto por um campônio quanto pela criança, sendo esta alheia do "mal" que estaria fazendo ao cavalo de brinquedo metafórico.
O
Sniper Americano
3.6 1,9K Assista AgoraAmerican Sniper é um ótimo filme, ele demonstra bem um tipo psicológico muito comum dentre aqueles que escolhem entrar no exército para "servir a pátria". Tal é o caso de Chris Kyle que desde a infância demonstra possuir um "espírito de guerreiro", sendo esse também incentivado pelo seu pai quando este fala que no mundo existem "ovelhas", "lobos" e "pastores de ovelhas", que seriam os que usariam da força e violência para defender o seu "rebanho", t
al como Kyle faz quando vê seu irmão sofrendo bullying e decide intervir.
Assim, o filme prossegue passando-se alguns anos além quando Kyle cansado de viver a vida como um "mero peão de rodeio", decide se alistar como um "Navy Seal" do exército americano. Logo então, surgem vários acontecimentos interessantes. Kyle se depara com uma mulher e uma criança que se precipitam em lançar uma granada num comboio do exército americano.
Kyle nota e reporta ao seu superior e este o responde dizendo que estaria em sua jurisdição tomar a decisão de atirar ou não, e assim num derradeiro momento cheio de drama, a criança e a mãe tentam jogar a granada e assim Kyle sofre a primeira experiência que tornaria a torná-lo traumatizado posteriormente, ele atira nos dois.E é desse modo que o filme prossegue, com Kyle se tornando uma lenda reconhecida dentro do exército americano com mais de 130 mortes creditadas a ele.
Em paralelo com esses eventos, Kyle conheceu Taya, que se tornou sua esposa. E assim, durante os eventos que se passaram no Iraque e regiões próximas, Kyle se vê num dilema entre abraçar sua "família coletiva", representados por seus companheiros do Seals, pelo seu país, e sua real família com Taya e suas duas filhas.
Taya percebe o quão perturbado e psicologicamente prejudicado Kyle vai se tornando e sofre consideravelmente, até que ela quase perde Kyle num conflito em que Kyle busca vingar seus amigos e companheiros caçando Mustafa, o sniper inimigo.
num momento crítico, Kyle se dá conta de que já estava se perdendo no meio de seu forte senso de dever e decide então, no calor da batalha retornar à sua família
O filme mostra bem como o exército, a ética do nacionalismo podem alterar a saúde mental e emocional dos veteranos, pois muitos voltaram da guerra, mas nunca plenamente, sofrendo tanto de sequelas físicas como psicológicas. Kyle foi um exemplo disso, e claro, o desfecho é triste e lamentável, pois parece que ele estaria melhorando, superando,
até que um próprio veterano acaba assassinando Kyle
Enfim, Sniper Americano é um ótimo filme, a narrativa é bem construída, com momentos críticos bem concatenados entre o drama familiar de Kyle e questões maiores. Destaco a atuação de Bradley Cooper que se saiu muito bem como um papel de soldado e também Sienna Miller como uma mulher que escapa uma fácil esteriotipização em sua personagem.
Planeta dos Macacos: A Origem
3.8 3,1K Assista AgoraPlaneta dos Macacos: A Origem é um filme interessantíssimo por dois elementos; as provocações científicas, tanto de encontrarem uma cura para a doença degenerativa que acometia o pai de Will Rodman, como também da familiarização/domesticação de Ceasar.
O filme começa assim a apreensão de espécimes de chimpanzés para testes laboratoriais, em cuja empresa que Will trabalhara tal estaria empreendendo pesquisas científicas para que Steve Jacobs pudesse fazer a empresa lucrar.
E é num acidente que Ceasar acaba ficando sem sua mãe e é adotado por Will Rodman que para não vivenciar um extermínio acaba decidindo cuidar do chimpanzé filhote.
Assim, no decorrer do filme Ceasar cresce e Will quase descobre a cura para a doença degenerativa de seu pai, por onde a família vive um breve período de alegria. Porém, é no decorrer do crescimento de Ceasar que este, num incidente com o vizinho acaba sendo capturado num cativeiro de chimpanzés. Algum tempo passa e Ceasar descobre sua "nova família" recusando assim um retorno infantil à casa de Will. Ceasar utiliza sua inteligência superior, conquista os demais de sua espécie e por uma façanha os torna inteligente também, arquitetando uma invasão à empresa de Will e uma fuga para a floresta de sequoias pela qual havia passado sua infância.
E é particularmente nesse meio para o fim que o filme se torna muito envolvente e perpassado por fortes cenas de ação, drama e aventura.
Ceasar por um momento grita "Não!" num conflito com o maltratador (cuidador sic) de chimpanzés do cativeiro, e nisso ele passa a permanecer em pé, simbolizando a crescente valorização da posição bípede ereto. Logo então, Ceasar se torna o Macho Alpha de seu bando, se torna um primata superior, pois rompe com os laços paternos (Will), porém ainda mantendo o respeito, de certo modo, o filme mostra que Ceasar humanizou, pois recusava a morte desnecessária, mas ainda assim não cedia às tentativas de aprisionamento por parte dos humanos, cultivando assim um peculiar senso de justiça animal.
O fim não é nada drástico, é previsível e esperado, mas não deixa de desmerecer o enredo e a narrativa que foram muito bem executadas. A trilha sonora é ok; gostei particularmente da atuação de James Franco, houve fluidez e uma simpatia em sua atuação. Em suma, Planeta dos Macacos: A Origem é um ótimo filme.
Oblivion
3.2 1,7K Assista AgoraAcredito que salve a fotografia e os efeitos especiais Oblivion deixou muito a desejar, parece que Joseph Kosinski fez um filme de última hora, de forma a ter tido um desenvolvimento não tão bom, pois pelos menos em relação à temática e a participação de Tom Cruise eu esperava um filme tão impactante quanto um Guerra dos Mundos, ou se for mesmo pensar nesse ambiente pós-apocalíptico, algo próximo ao Mad Max, mas Oblivion não parece demonstrar os elementos nem de um e nem de outro.
Assim logo vemos a história em que Jack Harper é um mecânico de Drones na semidestruída Terra junto com sua parceira Victoria, na qual prestava auxílio em suas jornadas de trabalho. Diz-se que a terra fora devastada devido ao detonamento de bombas atômicas contra uma luta frente a alienígenas, conhecidos como "carniceiros"; nesse breve momento inicial, o modo como o enigma dos acontecimentos é jogado no espectador mostrando apenas duas pessoas no vasto ambiente da Islândia (local das filmagens), o que eu particularmente achei o ponto mais forte e salvável do filme - o cenário é espetacular, não é sempre que se vê filmes trabalhando bem nesse aspecto.
Logo a seguir, Jack vai percebendo que há algo de errado na história toda desde que fora lavado cerebralmente, porém Victoria insiste em rechaçá-lo todas as vezes que ele questiona ela, mas mesmo assim por forças maiores Jack se mantém despertando sutilmente, colecionando livros antigos, como um de Horácio
Momentos depois, Jack é capturado pelos "carniceiros" e conhece sua ex-esposa Julia em uma cena crítica na qual ele descobre sobreviventes humanos e consegue por fim salvar Julia. Então, Jack é capturado pelos carniceiros numa viagem de reparos de um drone e descobre inicialmente a verdade histórica pela qual fora velado - a de que a inteligência das maquinas havia usurpado a raça humana em guerras, possivelmente, consigo mesmo, fazendo com que assim uma nave gigantesca estática no espaço controlasse tudo através de uma virtualização representada por
e assim, ele logo parte para tentar virar o jogo e por fim consegue derrotar a tal nave por onde se operava as explorações de energia dos planetas numa consumação parasitária.
Como brevemente expus, a trama e a narrativa não tem um conteúdo muito complexo, o que possibilita contar a história em poucas linhas sem muito poder de comoção frente ao espectador, pois, é claro, sempre quando vejo algum tema futurista, apocalíptico, já sinto um certo receio por parte da direção do filme, pois tais são muito interessantes, e não é mesmo qualquer produção que irá fazer um bom trabalho. Falando dos atores e atrizes, gostei, como sempre, da atuação de Tom Cruise, talvez ele não tenha podido brilhar muito nesse filme, mas ainda assim suas atuações são lendárias. Diria que foi razoável a atuação de Andrea Riseborough, e um tanto notável a de Olga Kuylenko. A trilha sonora fez seu papel também; em suma, acho um filme fraco, mas bom para distrair se for olhar por esse viés.
Tomorrowland: Um Lugar Onde Nada é Impossível
3.2 737 Assista AgoraTomorrowland é quase uma "epopeia futurista", com personagens heroicos destinados a decidirem o rumo a humanidade, bom pelo menos é como o gênero do filme aparenta ser, pois este é previsível, não há uma narração complexa, muito menos um forte elemento trágico e dramático, porém Tomorrowland, apesar de carregar essa forte impressão de ser mais uma outra produção a la Disney, carrega uma mensagem, uma inspiração interessante. Tal é um lembrete das grandes possibilidades da vida, de sonhar com novas perspectivas e descobertas tecnológicas incríveis; de fato, o futurismo tecnológico foi o elemento mais forte da temática do filme, por exemplo, até onde seria possível a tecnologia progredir na física? Haverá ainda uma maquina capaz de simular o passado e o futuro? São questões provocantes.
Além disso, há uma crítica interessantíssima esboçada por Nix (Hugh Laurie), de que mesmo tendo esses gênios de outra dimensão espaço-temporal terem avisado a dimensão de Casey Newton e Frank Walker sobre diversos riscos de destruição de seu mundo, as pessoas de tal, mesmo assim, ainda continuaram fechando os olhos, numa letargia autoindulgente - comercializando o "fim do mundo", pouco ligando para efetivamente tentar fazer alguma coisa sobre os problemas crescentes da humanidade, como o derretimento das geleiras, o sumiço de abelhas, etc.
E nisso o próprio Frank e Casey parecem atônitos e incapazes de responder por um breve momento,
embora eles logam cumpram seus papéis de heróis e destroem o transmissor alienante dessas mensagens acerca do fim do mundo
Enfim, a fotografia do filme é linda, há um fortíssimo elemento surrealista mesclado com futurismo nas fotografias do filme, além da orquestral trilha sonora reforçando o sentimento fantasioso que a temática do filme trás. Os efeitos especiais são impressionantes também, muito bem construídos. Raffey Cassidy e Thomas Robinson tiveram uma atuação bem interessante para suas tenra idades, dá para se imaginar um futuro promissor para ambos. E claro, apesar de eu não ter notado nada muito impactante na atuação de George Clooney e Hugh Laurie, ambos fizeram bem, com especial atenção a como Hugh parece se destacar como papel de vilão (e assim vemos seu brilhantismo imbatível como um ator magnético e chocante).
O Segredo dos Seus Olhos
4.3 2,1K Assista AgoraJuan José Campanella é um gênio, fez um filme excelente! A trama se passa dentro do assassinato da esposa de Ricado Morales, por onde o perito Benjamín Espósito e seu parceiro Pablo Sandoval passam a investigar o possível assassino. E assim, o filme se desenrola numa multiplicidade de nuances e detalhes criando um clima de mistério, quase um enigma, cujo os "segredos dos olhos" de Isidoro Gómez, em suas fotografias, denuncia uma intencionalidade implícita em seu comportamento, e é dentro desse espírito (se me permitirem)
Noir que os dois investigadores passam a embarcar em uma aventura espionando uma parente de Isidoro
E é no desenrolar da trama que surge a "história dentro da história", pois a vida de Espósito passa a se envolver com a vida de Morales, pois esse percebe o comportamento obsessivo deste em ir para as estações de trem todos os dias tentar flagrar o assassino de sua esposa, e essa obsessão de fato se aprofunda quando, em uma parte do filme, Morales pergunta qual seria a punição pela justiça da captura do assassino e sobre isto Espósito diz: "prisão perpétua", e num outro momento Morales faz várias indagações do que ocorreria se ele fizesse justiça com as próprias mãos e logo perceberia que não valeria a pena ser preso por vários anos enquanto o criminoso teria uma morte tranquila. E é desse modo que surge uma teia de eventos em que a vida dessas personagens, incluindo a paixão de Espósito por sua chefe, a Irene Menéndez Hastings, se mescla e difundi em três histórias diferentes.
O amor grandioso e Morales, o amor intocável de Espósito e o romance que este narra de toda essa trama, que na verdade não era mais que uma tentativa catártica de vivenciar o que não teve coragem de fazer na vida real.
O fim é uma derradeira surpresa, pois Espósito se despede numa versão romanciada de Irene, o criminoso é preso mas solto devido ao sistema falho da justiça, pois o assassino passa a trabalhar para o governo, e num retorno neurótico de Espósito (ou talvez ainda da reminiscência de seu espírito de detetive reagindo ao recalque),
esse visita Morales e descobre que tal havia matado o assassino com quatro tiros, mas logo no fim seguindo seus instintos descobre que Morales fez justiça com as próprias mãos encarcerando Isidoro em sua própria casa, tal como quando diz "prisão perpétua"
. E então numa cena confusa parece que Espósito e Irene compreendem bem o que a escolha do "vazio-confortável" ocasionou em suas vidas e aparentemente, concordam em reviver o antigo romance, embora tal fosse ser "muito complicado".
Enfim, a atuação de Ricardo Darín, Soledad Villamil e Guillermo Francella foram ótimas, com especial destaque para o galã Ricardo Darín interpretando com maestria o espírito de detetive. As cenas são bem fluídas, a fotografia é legal, mostra bem o contraste entre diferentes recortes temporais do passado, em suma é um ótimo filme.
De Olhos Bem Fechados
3.9 1,5K Assista AgoraFilme excepcional de Stanley Kubrick, simplesmente fascinante. Em "Eyes Wide Shut", o tema se passa acerca das incertezas do típico casamento, da arrogância masculina em achar que as mulheres também não tem suas fantasias sexuais reprimidas, que por vezes um relacionamento sério não equivale à sentimentos passionais intensos, que como a própria Alice diz, é mais um "amor terno e triste", já que nessa fase de vida, abandona-se a euforia para o aprendizado espiritual da familiarização.
A narrativa é misterioso a cada instante, criando um longo desconforto no espectador com uma melodia mórbida de piano, assim Dr. Bill numa discussão com sua esposa Alice, acaba ouvindo esta, sob efeitos de entorpecentes confessar uma fantasia sexual que havia reprimido há anos, o que perturba profundamente a mente de Bill, pois este se sente traído, mesmo que por uma fantasia, uma imaginação; Bill sente-se certa infidelidade de sua esposa, pois acredita que o fato de ela ter guardado por tantos anos uma fascinação por um marinheiro desconhecido, significaria que ela não o valorizaria de verdade, que poderia ter vivido um falso amor com ela, o que faz Bill ser testado pelo destino, através da prostituta da rua, da filha do dono da loja de fantasias.
O filme parece provocar constantemente o espectador, pois mostra uma realidade distópica por onde o normal é aquele clima a la Sodoma e Gomorra, pois a cada momento há cenas de indecência e cupidez moral.
Tanto que uma cena muito peculiar é daquela em que o dono da loja de fantasias descobre dois orientais fazendo programa com sua filha, e este num comportamento esperado ameaça chamar a polícia, mas no dia seguinte, aos próprios olhos de Bill, todos eles acabam "negociando um acordo melhor", onde o espectador logo vê nos olhos da filha do dono da loja.
Assim, Bill se reencontra com um velho colega, Nick que o provoca sutilmente sobre um lugado misterioso, com as mulheres mais deslumbrantes, o que, somando a perturbação psicológica de Bill com a fantasia de sua esposa, desencadeia-se um movimento pelo qual Bill é seduzido à ideia e decide penetrar a festa. N
o fim, acontece que por esses eventos a prostituta que ele havia visitado anteriormente e que o ajudou na festa a se livrar de um destino terrível, é morta de overdose num hotel;
No fim Bill conta tudo para Alice quando esta descobre sua máscara de fantasia e desaba em lágrimas, temendo que o pior fosse acontecer então. Alice logo sente a repercussão dramática que seu sarcasmo ressentido - da repressão sexual - causou em Bill e também se sensibiliza, e nesse fim um tanto intenso Alice confirma que seu amor por Bill ainda estava vivo, e este num grave tom de insegurança diz que ambos ficariam bem para sempre; que é justamente o desfecho crítico do filme,
pois Alice diz que "para sempre" poderia ser um exagero, que talvez fosse melhor simplesmente eles aproveitarem que no final das contas "não deu merda" e irem logo para o coito.
A atuação de Tom Cruise e Nicole Kidman é incrível, fora uma combinação engenhosa e forte de atores (as). "Eyes Wide Shut" é um ótimo filme.
A
Precisamos Falar Sobre o Kevin
4.1 4,2K Assista AgoraPrecisamos falar sobre Kevin levanta sérias questões sobre o que esperar no tratamento dos próprios filhos; não se sabe que problemas se podem esperar numa unidade familiar, tal como o mutismo, o autismo e até a psicopatia. Existe uma narração mixa entre o passado e o presente, por onde uma angústia enigmática mostra cenas de tragédia, de destruição com um tom de nostalgia em relação ao passado de Eva.
Esta quando gera Kevin, se depara com uma criança que se recusa a participar das brincadeiras que uma criança saudável normalmente participaria. Eva cresce com um filho que a desafia que a repudia, e mesmo quando ela leva Kevin para o médico, este demonstra a incompetência de diagnosticar qualquer problema mental e para piorar, tanto Eva quanto Franklin não têm a menor ideia do que fazer, não passa a ideia de levar Kevin a um psiquiatra por exemplo;
Nota-se bem como o filme vai se contorcendo na derradeira conclusão fatalista em que Kevin comete assassinatos em série, Franklin estimula as tendências à violência em Kevin quando o induz a praticar arquearia, apresentando uma arma letal para Kevin.
tal como mostra bem uma cena em que ela foge de uma conhecida no mercado e aceita os ovos trincados, ou quando ela recebe um tapa na cara e diz que a culpa era dela mesmo.
Kevin acreditou que o assassinato de sua irmã, de seus colegas e sua fama midiática momentânea seria uma forma de autoexpressão em que ele poderia purgar sua aversão ao tradicionalismo familiar em que fora imposto a vida toda, além de suas tendências violentas.
Precisamos falar sobre Kevin, tem um ótimo elenco com a atuação dramática de Tilda Swinton e a incorporação de um perfil psicótico por parte de Ezra Miller, Lynne Ramsay apresenta uma bela provocação acerca da imprevisibilidade e incompetência geral na educação de perfis patológicos nas unidades familiares, e de como há uma forte necessidade de se discutir além essas questões a fim de identificar mais cedo e prevenir mais casos semelhantes de chacinas como o caso do "Massacre de Columbine". Ademais, a narração do filme é boa, ela vai concatenando com precisão os fatos numa versão não necessariamente linear, em que o espectador é fisgado pelo drama sem que tal se torne pequeno mediante o desfecho final.
Camisa de Força
3.7 436John Maybury produziu um filme no mínimo interessante, não é uma trama super complexa, mas também não deixa de confundir o espectador com algumas possíveis incoerências metafísicas em relação às viagens no tempo que Jack Starks realiza. A trama se passa quando um soldado americano é baleado na cabeça na Guerra do Golfo, fazendo com que ele sofra de amnésia e, em um momento posterior, depois de ajuda uma mãe e uma garotinha no conserto de um carro, seja injustamente acusado do assassinato de um policial sendo que na verdade tal foi armação do homem que Jack havia pedido carona.
Assim, é num ambiente que destila uma obscuridade dentro de um tom depressivo que Jack sofre estranhas experiências em um hospital psiquiátrico por Dr. Becker, onde Jack é drogado e depois depositado numa gaveta hermética, que é justamente os momentos mais claustrofóbicos do filme.
Jack está em busca de respostas e nisso, de algum modo, ele consegue acessar uma realidade temporal paralela e ir aos poucos descobrindo os motivos pelos quais ele foi acusado das várias injustiças tanto com a mãe e a criança que ele ajudou como quanto o policial, revelando assim um meio de ajuda um paciente da Dra. Beth Lorenson
Jack obtém suas respostas junto com a Jackie Price crescida em 2007, que aos poucos vai desvelando todos os focos causais que determinaram o futuro daquela realidade paralela, e assim no momento presente, Jack comunica as respostas do futuro daquela realidade paralela para o tempo anterior desta, assim Jack consegue antecipar algumas informações que ele não poderia saber de nenhum outro modo salvo uma viagem no futuro, o que contribui para que ele consiga convencer a Dra. Beth Lorenson a ajudá-lo
A questão é que parece haver uma tese de um "paralelismo temporal", pois a explicação do tempo presente só é possível através das respostas de uma realidade paralela futura t1, e parece que ambos estão intrinsecamente conectados, pois Jack só poderia conectar a causalidade dos fatos dessa realidade t1 com o presente se ele mantivesse a consciência presente em ambos os tempos, tal como indicia as cenas em que quando este estava em t1 ele dizia que "no atual momento ele estava engavetado", o que insinua não haver realmente uma distinção entre passado, presente e futuro em uma cadeia linear de eventos e sim de que só há um fluxo temporal simultâneo com a aparência de passado, presente e futuro. Mas se isso está correto eu não sei dizer, o que o filme parece evidenciar é que há realidades temporais paralelas e que de alguma forma elas estão interconectadas entre si,
tanto que com o conhecimento da realidade t1 Jack conseguiu mudar o curso de evento do presente para passar a existir em t2
De certo o filme é permeado de mistérios, como a constatação de que ele prejudicou Jackie e sua mãe no tribunal, pois em nenhum tempo futuro t1 ou t2 isso parece ter ocorrido.
Não gostei muito do final, e do romance repentino de Jack com Jackie, pareceu ser forçado e mal desenvolvido em termos de complexidade, parece que John se apressou logo em colocar um desfecho feliz.
Um Homem Sério
3.5 574 Assista AgoraUm Homem Sério é um filme estranho, ele tem uma atmosfera "non-sense" e é um tanto vertiginoso. Porém, este está repleto de simbolismos em forma de críticas religiosas. A primeira cena parece demonstrar um trecho histórico de possivelmente, parentes antigos de Larry.
O marido acaba contando uma história em que um grande rabino ajuda-o com um problema na carruagem, mas sua mulher logo o interpela dizendo que tal rabino já havia morrido há três anos
O ponto principal é que o filme centra a degeneração do espírito judaico quanto à veracidade e honradez moral e o comportamento atual dos membros da comunidade.
Assim, o espectador logo percebe que Judith Gopnik, esposa de Larry está para se casar com um amante, quero dizer, com quem ela realmente passou a amar depois de anos de casamento ausente de sexo frustrado por parte de Larry;
Assim, ao longo do filme Larry consulta três rabinos, cada um mostrando-se como antiquários degenerados do espírito e sabedoria judaica.
No fim das contas, percebe-se bem como o filme retrata o decaimento do espírito da religião judaica dentro de um contexto moderno - tudo é hipocrisia e fingimento, uma obediência estulta de preceitos que ninguém compreende de um Deus que ninguém faz qualquer sentido
. E claro, o estranho final do filme, Larry aceita o suborno do aluno oriental cujo pai o chantageia e ao mesmo tempo perde o filho (com um tornado indo em direção à sinagoga onde este estava). Logo, parece que Deus se preocupou mais em punir um capricho do que em fazer real justiça, ao que assim aparenta a critica do filme.
A atuação dos personagens é boa, mas não vejo destaque quanto à fotografia e a trilha sonora, a narrativa é um pouco apressada e batida, senti falta de um drama maior na crítica, no fim a temática beirou mais o cômico o que ironiza com o título, "Um Homem Sério".