Confesso que me decepcionei ao terminar de assistir a este filme. Apesar de concordar com Truffaut quando diz que "a arte cinematográfica só existe por meio de uma traição bem organizada da realidade. Todos os grandes cineastas dizem NÃO a alguma coisa". Ainda assim, achei a película muito voltada apenas para uma parte da vida de Maria Luisa Bombal. Apesar de ter sido esta a mais trágica e a que diz alguma coisa sobre a Santiago provinciana e não aceitadora do comportamento livre e excêntrico da escritora. Porém, no filme, o aspecto da escritora é abafado por uma obsessão amorosa. A fotografia é bonita, o figurino impecável, a atuação da Blanca Lewin tem força de ímã, porém a personagem da prima (Beatriz) é estupendo e muito pouco aproveitado até mesmo no que tange a uma teoria do feminino (nem mesmo falo no feminismo) numa América Latina espezinhada por piadas de escritores europeus (isso aparece de forma muito solta, como conversa de figurantes em uma festa onde o cheiro de tragédia mais uma vez é enfatizado na vida pessoal de Bombal). A relação dela com Pablo Neruda não é mencionada, nem a importância de sua formação em Paris como escritora e como mulher livre. Uma pena a condução ter sido tão estreita. Resta uma vontade imensa de conhecer o trabalho (os textos) dela que me pareceu enfrentar problemas de distribuição e de aceitação ao modo dos que enfrentou Anaïs Nin, por exemplo. No entanto, posso dizer que vale como ponta pé para pesquisas outras.
As memórias se apoiam nas pedras das cidades, em alguns casos, pois temos com a paisagem que nos rodeia um tipo de comunicação silenciosa que marca nossas relações mais profundas. É o sumiço, a mudança abrupta da paisagem neste curta-metragem genial que desencadeia o clima de agonia e "perdição" (perda de identidade, perda de chão, perda da comunicação com o vendedor de relógio da passarela...a personagem se vê subsumida pelos signos todos da grande cidade, do capitalismo cruel e tirano (vire-se) (vide o telão de propagandas inúteis que em nada a ajudam pois que não compõem um mapa afetivo e sonoro em suas lembranças tanto quanto o comportamento do guarda/policial)). Genial o trabalho do Tsai Ming-liang com a memória, com o tempo, com a inserção em tempos agoniantes onde a frase "tudo o que é sólido desmancha no ar" faz muito sentido. E me foi impossível não lembrar do trecho de "Memória e Sociedade - lembranças de velhos": "As histórias que ouvimos referem-se, do início ao fim, a velhos lugares, inseparáveis dos eventos neles ocorridos. A casa, o bairro, algumas ruas, em geral o trajeto para a escola e o centro da cidade são descritos de um modo dispersivo nas lembranças várias, mas com alguns focos: o viaduto do Chá, a Catedral, a rua Direita, o museu do Ipiranga, o Parque Siqueira Campos, o Teatro Municipal... Esses lugares são descritos sob vários pontos de vista. O senhor Ariosto que ia ao centro da cidade com seu pai, observa: "Naquela época estavam fazendo a Catedral da praça da Sé: vi quatro, seus operários carregando um bloco de pedra para a igreja". Observa o sr. Amadeu que a Catedral levou vinte anos para terminar, tanto que d. Brites nos conta um entrevero com os integralistas no largo da Sé: "Comunistas, socialistas, anarquistas, todos se juntaram e se esconderam na própria Catedral que ainda estava com andaimes e desses andaimes mandaram pedras lá de cima". As lembranças, a memória dos lugares também é política e é ação. O curta é perfeito para desencadear a discussão.
Eu só acho que para quem vive numa nave espacial forrada de pelúcia e que se comunica com um computador que acorda a pessoa dizendo "Barbarella, levante e brilhe", fazer a felicidade da "The Great Tyrant" não teria sido nada demais. Mas, ok, fico conformada e tentando encontrar justificativa na reunião de mulheres, antes do corredor nº 12, ao redor de um aquário com um cara, fumando "essência de homem". Mas, juro que Duran Duran possesso porque Barbarella destruiu (derreteu) sua "máquina musical" (leia-se: máquina matar de prazer) e gritano: "Que garota você é? Não tem vergonha não, é?" é impagável. O roteiro do filme pode ser fraco, mas Jane Fonda está deliciosamente boa no papel de heroína e "terráquea mediana" e a trilha sonora é tão boa, tão boa e os efeitos especiais são tão trash que vale a pena todo o conjunto, ah se vale! A metáfora do anjo (o anjo que não faz amor, mas é amor = a não ter memória (o perdão para as guerras históricas?) também é digna de se prestar atenção. Tosquices à parte, a abertura do filme é de dar água na boca de tão legal! Ironia + boas sacadas = pano de manga para se discutir (do fazer cinematográfico à revolução sexual dos anos 60).
Gostei muito do documentário. Acervo riquíssimo e uma condução afetiva e segura para a utilização da pesquisa, das entrevistas e das canções na montagem do doc. Não concordo que há muito Gil e Caetano em detrimento do que há no tropicalismo. O tropicalismo foi um movimento abrangente e o diretor tem que fazer opções, pois do contrário cai naquilo que já foi alertado por um famoso cineasta francês: "querer colocar tudo um filme (princípio do amálgama) ou nada colocar ele (princípio da vanguarda) é impedir os outros de manifestar sua opinião aterrorizado-os com a obscuridade de suas intenções". A qualidade de um filme é frequentemente proporcional à inteligência das decisões tomadas, sua lógica, sua coerência e a escolha de Gil e Caetano funciona como fio condutor da narrativa escolhida pelo diretor. Entendo isso muito mais fortemente os momentos finais do filme quando aparecem os dois (separados) vedo imagens e cantarolando junto com as imagens "Back i Bahia". Para mim, esses minutos finais estão amarrados coerentemente com o início e meio do filme onde eles aparecem um programa português falado sobre o tropicalismo como algo maior que eles dois e que só a música. As falas estão equilibradas e não teve jeito de eu não amar muito ouvir Araldo Baptista falar sobre Rogério Duprat: "Se eu pedia um pouco de ópera, se eu pedia um pouquinho de dez mandamentos, se eu pedia um pouquinho de paz: ele conseguia tudo". Um filme bom, que cumpre direitinho seu papel (especialmente para quem é muito ligado ao Tropicalismo) e que carrega boa pesquisa e utilização de preciosidades da época (diga-se de passagem que ver pedaços de filmes como "Nosferatu no Brasil" e "O demiurgo" instiga e muito o espectador).
Dorothy Malone sabe bem fazer (boa) oposição à Lauren Bacall para que o melodrama aconteça de maneira acertada - a cena do julgamento (o testemunho da irmã) é carregada de previsibilidade, mas não decepciona! Tudo é tão over e levando em conta o desenvolvimento dos personagens masculinos não fica muito difícil não pensar em Almodóvar...Melodrama digníssimo!
"Sou um deserto que monologa". Melhor descrição de si mesma não poderia haver para Violette Leduc, escritora francesa marginal que até a publicação de "A bastarda", em 1964, livro autobiográfico e prefaciado por Simone de Beauvoir, era totalmente desconhecida. E era desconhecida porque "bastarda, feia, pobre, apaixonada por mulheres e homossexuais, ladra e traficante do mercado negro...", se atrevia a escrever "sem falso pudor" sobre seu universo: o amor entre mulheres. É assim a novela "Teresa e Isabel - num colégio interno, duas ninfetas descobrem o amor. Há intensidade erótica e ternura apaixonada, mas também há muita crítica a como a homossexualidade feminina é vista. E assim foram vários romances que elegi para ler sobre a temática. Anais Nïn discute especialmente em Heny&June a liberação do corpo e do desejo e de uma forma bastante psicanalítica ela aborda o amor entre mulheres. Patrícia Highsmith, com "Carol" também aborda a epifania erótica e o surgimento de um amor condenado por todos. Falei nessas três autoras específicas e nessas três obras específicas porque concordo com uma matéria que li recentemente sobre a necessidade de se subverter o cinema gay. E a pergunta-mote para a matéria do Bruno Carmelo era: "Por que o cinema gay comercial está tão contaminado pelo amor romântico, com homens belos em tramas açucaradas?". O mote também serve para alguns muitos filmes de temática lésbica. Amor romântico e tramas açucaradas são alinhavos que tenho visto em vários filmes e que me causa incômodo, pois sinto falta da subverção de abordagens que experienciei na literatura. Essa observação não é genérica, inclusive há filmes como XXY e Tomboy que fogem a esse tipo de açucaramento. E vários outros. Porém, ao desejar assistir este "Yes or No", vim antes no site ver comentários. Quase nunca faço isso antes de ver filme algum. E, para minha não grande surpresa, se eu fizesse uma estatística, a palavra que mais li foi "fofo". Fora do site do Filmow, encontrei apenas uma crítica sobre o filme, que nem crítica se intitulava, mas sim "resenha" e lá também li a palavra "fofo". Dei chance ao filme porque li que era o primeiro filme com temática lésbica Tailandês. Não sei a veracidade da informação, mas queria eliminar a ideia de apenas "fofura" que se fez em minha cabeça. É um filme adolescente ou melhor: é um filme sobre o amor entre adolescentes. Pie não é meiga como diz na sinopse e Kim, a tomboy, sim exala doçura. O filme já começou a me fisgar por aí porque, sutilmente, percebi que a construção de feminilidade relacionada à doçura, aos cuidados com as plantas e ao ato de cozinhar não estavam com a "mais feminina delas" no modo de vestir. É um filme de descoberta, portanto, coerente com a idade das protagonistas, coerente com o ambiente (a escola) e o filme não deixa de trazer conflitos e tensões acerca da descoberta sexual. A trilha sonora é bastante boa, o que ajuda muito na construção da história que não tem necessariamente um final feliz, tem um final que dá a chance de se vivenciar o desejo... Há sim romance no filme. Mas, eu não o consideraria "fofo". É um filme delicado. Talvez seja didático demais. É linear em sua forma. Mas, para este filme-bilhete-de-escola talvez seja a abordagem mais acertada. Para mim, Yes or no é um filme bonito, dá conta do recado quando aborda os conflitos entre o desejo do corpo amoroso e a dureza do corpo receoso e tradiconal das duas adolescentes. E a personagem Kim é tão cativante que rouba várias cenas. Vale a pena assisti-lo para se conversar sobre o amor e sua construção social. Mas, no meu caso, que sou piegas assumida, confesso: eu me emocionei, fazer o quê? Importa que se abram debates, que se perceba a construção delicada e singela para a abordagem...que aos poucos se deixe de ser "um deserto que monologa", mas sem jamais se ser inocente e crítico. Falar que o filme é apenas fofo é muito pouco. Se faz necessário combatê-lo, compará-lo. Temos o "Amigas de colégio" mais sombrio para contrapor e começar a dialogar, por exemplo. É a possibilidade de marcar de verde a opção Yes. :)
Conhecia o Kiko Dinucci músico. O primeiro contato que tive com o seu trabalho foi ouvindo o álbum de 2011, o "Metá Metá". Álbum belíssimo e corajoso onde a música brasileira se etrelaça às referências africanas de modo poético e bastante singular, diferente de tudo o que eu já havia escutado quando o assunto era essa imbricação. Depois do Metá Metá, busquei mais trabalhos seus. Fui compreendendo suas referências: Itamar Assumpção, Jards Macalé, Luiz Tati e a grande sacada e o grande amor pela referências da musicalidade africana. Daí para conhecer o álbum "Pastiche nagô", com o Bando Afromacarrônico, foi um passo delicosamente rápido e que me remeteu a um link sobre este documentário Dança das cabaças. Kiko Dinucci pesquisa sobre Exu, entidade africana que mais apresenta contradições no imaginário popular. Faz uma direção segura, arrisca numa estética poética sem exagerar e, por isso, traz entrevistas que podem até parecer de discurso de autoridade, mas que estão postas com tanta afeição que de maneira alguma nos faz pensar em um documentário do tipo quadradão. Gostei do que vi e do que ouvi: a trilha sonora é coerente e muito bonita. E gostei de verificar que o diretor é sim um pesquisador. "Metá Metá", "Padê" e "Pastiche nagô" não são apenas bons álbuns da recente música brasileira: são pesquisas, são trabalhos árduos: a realização do documentário confirma. E o Kiko, um artista que procura se expressar de maneira plural.
"Belezas são coisas acesas por dentro. Tristezas são belezas apagadas pelo sofrimento" escreveu Jorge Mautner e seu conceito cai como uma luva para o Invention of Love. Este curta é esteticamente perfeito, a escolha por se trabalhar com contra-luz casada com a trilha sonora estupenda cria um ambiente de melancolia no sentido benjaminiano de perda e renúncia pela vida uma vez que o personagem vive em um mundo-máquina e já não sabe mais como viver o amor. O sombreado desperta a sensação de que a beleza evapora e com ela a imagem se apaga e o símile se dissolve: as imagens são metáforas para uma leitura crítica de tempos de modernização.
Depois de defesa de dissertação sobre memória, assistir a esse filme foi "emblemático". Um filme que fala sobre a necessidade de fechamentos de ciclos. A referência direta a Adele H. me fez compartilhar sorrisos de satisfação com o amigo-irmão que me acompanhava durante a sessão. Um filme com direção segura, atuação na medida exata para capturar nossas atenções e despertar sentimentos de identificação ou até mesmo de compreensão...E Gael García Bernal está passionalmente bom no papel de garoto perdido...rsrsrsrsrsrs
Sensibilidade, inteligência, conhecimento histórico e muito amor ao cinema. A fotografia é de uma acuidade e de um primor extraordinários. As homenagens rendidas a grandes cineastas são feitas com uma delicadeza e um humor que só poderiam ter partido de um diretor italiano. Após a sessão, além da emoção: muitos detalhes e muita coisa para ser digerida. Filme para se rever várias vezes e todas elas com paixão, apesar de ser sim "uma aula de cinema".
Estética fantástica (pura psicodelia!) e trilha sonora poderosíssima. Alegorias muitas, porém: o fim é abrupto...Resolve-se muito rapidamente os conflitos criados num ritmo bastante interessante e esta disritmia deixa gosto de quero mais, impressão de que falta alguma coisa... :/
Aqui, aprendi a ter raiva das bailarinas (ou das gurias que são potenciais nojentinhas do futuro como aquela irmã mais nova que não é afortunada nada, apenas sabe é tirar proveito de situações com arzinho de "sou um doce e não tô querendo nada" (eca!) - quase morro com aquela da sobremesa - ódio mortal, comentário personalíssimo!) rsrsrsrsrsrs. Eu não esperava que o filme abordasse temática tão clássica quanto os tempos duros da escola de maneira tão cruel.
Gostei do clima sombrio-quase-engraçado do filme. As alucinações de Klara são imágáveis, a maldade de Vicktoria é novelesca, mas isso não tira o mérito do filme de forma alguma. A fotografia é coerente com a proposta do filme assim como o é a trilha sonora. E Morgiana muito provavelmente virará nome de cria de minha gata se ela vier a dar crias. A câmera em alguns momentos quando Morgiana entra em cena é boa, muito boa. Eu compreendo esse filme como uma boa ironia e o desfecho com a citação de que existem plantas venenosas, animais venenosos e que o homem carrega veneno na saliva podendo passá-lo para outrem através da língua só me faz pensar que se o filme parece simplezinho não o é no sentido chulo que alguém possa pensar/falar. E o figurino é um show à parte!
Talvez eu não estivesse com o espírito preparado para ver o filme...o filme traz coisas que me interessam e me fazem gostar de um filme. E a temática é interessantíssima...há busca desesperada por sexo, há a questao do incesto (e sim, lembrei também do Forever, do Walter Hugo Khouri), há a solidao, há o caos emocional e há a ideia do suicidio...porém, alguma coisa me incomodou profundamente e não me fez sentir toda a carga do sofrimento metafísico da personagem. Ao menos até a cena final, que sim, me tomou um tantinho... :/
Diz Primo Levi em "Os afogados e os sobreviventes" que "São inúmeros aqueles que levantam âncora, fastam-se momentaneamente ou para sempre, das recordações genuínas e fabricam uma realidade conveniente. Para eles, o passado pesa; experimentam repugnância pelas coisas feitas ou sofridas e tendem a substituí-las por outras. A substituição pode começar em plena consciência, com um cenário inventado, mendaz, restaurado, mas menos penoso do que o real; repetindo sua descrição para outros, mas também para si mesmo, a distinção entre verdadeiro e falso perde progressivamente suas linhas, e o homem termina por acreditar plenamente na narrativa que fez tão frequentemente e que ainda continua a fazer, ou incongruentes entre si, ou ainda incompatíveis com o quadro dos acontecimentos sabidos: a má-fé inicial tornou-se boa-fé". Aqui, em "O amor", a mentira que Luca inventa para a sua sogra é para doar e viver um tiquinho da dignidade que o regime opressor do lugar onde vivem não permite. Outros filmes que tratam da mesma temática, o entrelaçamento da vida política com a afetiva-familiar, vez por outra colocam seus personagens para viver essa passagem silenciosa da mentira para o auto-engano. "A vida é bela" aborda isso, "O ano em que meus pais saíram de férias" também o faz, assim como acontece o mesmo em "Adeus Lênin" e outros tantos - cada um desses com suas peculiaridades e diferenças entre si. A grande diferença (ou o plus) entre os que lembrei e este "O amor" é que verdadeiramente, em relação à fotografia, montagem, direção de atores e à postura mesmo da direção, este filme é uma obra-prima.
"Os filósofos devem se aliar aos párias e aos desempregados". e "Mesotodimento" (mistura de método com sentimento para definir, por fim, som e imagem), me fisgaram entre tantas coisas outras. Um filme-aprendizagem.
Já tenho o filme mais belo sobre a mulher mais bela que eu deveria já ter conhecido e reconhecido. Se o filme apresenta alguns problemas, especialmente no que diz sobre a relação de amizade entre Violeta e Neruda e mais especialmente ainda quanto à influência do contexto político-histórico que tantas vezes aparece diluído, dá para inferir que tamanha força, que tamanha garra de Violeta não estava apartada das disputas políticas, da luta pela arte de seu povo. Para mim, foi perfeito ter assistido a este filme e ter escutado de minha admirável e companheira de cinefilia e amiga dizer: "Esse filme mexeu com meus brios de mulher". Sim. Mexeu também com os meus brios: de mulher, de gente, de quem está aí para ouvir, de quem não é "surdo". E no mais:
"Maldigo del alto cielo La estrella con su reflejo Maldigo los azulejos Destellos del arroyuelo Maldigo del bajo suelo La piedra con su contorno Maldigo el fuego del horno Porque mi alma está de luto Maldigo los estatutos Del tiempo con sus bochornos Cuánto será mi dolor. Maldigo la cordillera De los andes y de la costa Maldigo señor la angosta Y larga faja de tierra También la paz y la guerra Lo franco y lo veleidoso Maldigo lo perfumoso Porque mi anhelo está muerto Maldigo todo lo cierto Y lo falso con lo dudoso Cuánto será mi dolor. Maldigo la primavera Con sus jardines en flor Y del otoño el color Yo lo maldigo de veras A la nube pasajera La maldigo tanto y tanto Porque me asiste un quebranto Maldigo el invierno entero Con el verano embustero Maldigo profano y santo Cuánto será mi dolor. Maldigo a la solitaria Figura de la bandera Maldigo cualquier emblema La venus y la araucaria El trino de la canaria El cosmo y sus planetas La tierra y todas sus grietas Porque me aqueja un pesar Maldigo del ancho mar Sus puertos y sus caletas Cuánto será mi dolor. Maldigo luna y paisaje Los valles y los desiertos Maldigo muerto por muerto Y al vivo de rey a paje Al ave con su plumaje Yo la maldigo a porfia Las aulas , las sacrsitias Porque me aflije un dolor Maldigo el vocablo amor Con toda su porquería Cuánto será mi dolor. Maldigo por fin lo blanco Lo negro con lo amarillo Obispos y monaguillos Ministros y predicantes Yo los maldigo llorando Lo libre y lo prisionero Lo dulce y lo pendenciero Le pongo mi maldición En griego y español Por culpa de un traicionero Cuánto será mi dolor".
Não tem grandes coisas...mas os créditos finais são criativos. E mais uma vez a música que me tem perseguido: "Que tontos, que loucos que somos nós dois..." rsrsrsrsrsrss
Antes de tudo, para mim: Bergman não tem isso de "filme menor". E sim: entre tantas coisas (fotografia fodona, cenas arrasadoras, paisagens idílicas e a abordagem das relações humanas), concordo que essa é a história de alguém que escolhe o inferno em lugar do céu. E o rosto de Harriet Andersson em close-up: (tristemente) belo.
Há filmes que são os nossos filmes prediletos, há filmes que sabemos que são obras-primas, há filmes nos quais encontramos personagens (ou enredos) com os quais nos identificamos, há filmes que parecem contar "a história de nossas vidas" (para comungar com o que quse sempre diz um amigo querido) e há filmes que dizem de nosso estado de alma. Este "As filhas do fogo" diz do meu estado de alma há seis anos. A cena-alegoria final, diz muito do que venho sentindo. Aquela janela-bosque-cerrado-labirinto...
Bombal
3.5 6Confesso que me decepcionei ao terminar de assistir a este filme. Apesar de concordar com Truffaut quando diz que "a arte cinematográfica só existe por meio de uma traição bem organizada da realidade. Todos os grandes cineastas dizem NÃO a alguma coisa". Ainda assim, achei a película muito voltada apenas para uma parte da vida de Maria Luisa Bombal. Apesar de ter sido esta a mais trágica e a que diz alguma coisa sobre a Santiago provinciana e não aceitadora do comportamento livre e excêntrico da escritora. Porém, no filme, o aspecto da escritora é abafado por uma obsessão amorosa. A fotografia é bonita, o figurino impecável, a atuação da Blanca Lewin tem força de ímã, porém a personagem da prima (Beatriz) é estupendo e muito pouco aproveitado até mesmo no que tange a uma teoria do feminino (nem mesmo falo no feminismo) numa América Latina espezinhada por piadas de escritores europeus (isso aparece de forma muito solta, como conversa de figurantes em uma festa onde o cheiro de tragédia mais uma vez é enfatizado na vida pessoal de Bombal). A relação dela com Pablo Neruda não é mencionada, nem a importância de sua formação em Paris como escritora e como mulher livre. Uma pena a condução ter sido tão estreita. Resta uma vontade imensa de conhecer o trabalho (os textos) dela que me pareceu enfrentar problemas de distribuição e de aceitação ao modo dos que enfrentou Anaïs Nin, por exemplo. No entanto, posso dizer que vale como ponta pé para pesquisas outras.
A Passarela Se Foi
3.8 11As memórias se apoiam nas pedras das cidades, em alguns casos, pois temos com a paisagem que nos rodeia um tipo de comunicação silenciosa que marca nossas relações mais profundas. É o sumiço, a mudança abrupta da paisagem neste curta-metragem genial que desencadeia o clima de agonia e "perdição" (perda de identidade, perda de chão, perda da comunicação com o vendedor de relógio da passarela...a personagem se vê subsumida pelos signos todos da grande cidade, do capitalismo cruel e tirano (vire-se) (vide o telão de propagandas inúteis que em nada a ajudam pois que não compõem um mapa afetivo e sonoro em suas lembranças tanto quanto o comportamento do guarda/policial)). Genial o trabalho do Tsai Ming-liang com a memória, com o tempo, com a inserção em tempos agoniantes onde a frase "tudo o que é sólido desmancha no ar" faz muito sentido. E me foi impossível não lembrar do trecho de "Memória e Sociedade - lembranças de velhos": "As histórias que ouvimos referem-se, do início ao fim, a velhos lugares, inseparáveis dos eventos neles ocorridos. A casa, o bairro, algumas ruas, em geral o trajeto para a escola e o centro da cidade são descritos de um modo dispersivo nas lembranças várias, mas com alguns focos: o viaduto do Chá, a Catedral, a rua Direita, o museu do Ipiranga, o Parque Siqueira Campos, o Teatro Municipal... Esses lugares são descritos sob vários pontos de vista. O senhor Ariosto que ia ao centro da cidade com seu pai, observa: "Naquela época estavam fazendo a Catedral da praça da Sé: vi quatro, seus operários carregando um bloco de pedra para a igreja". Observa o sr. Amadeu que a Catedral levou vinte anos para terminar, tanto que d. Brites nos conta um entrevero com os integralistas no largo da Sé: "Comunistas, socialistas, anarquistas, todos se juntaram e se esconderam na própria Catedral que ainda estava com andaimes e desses andaimes mandaram pedras lá de cima".
As lembranças, a memória dos lugares também é política e é ação. O curta é perfeito para desencadear a discussão.
Barbarella
3.2 277 Assista AgoraEu só acho que para quem vive numa nave espacial forrada de pelúcia e que se comunica com um computador que acorda a pessoa dizendo "Barbarella, levante e brilhe", fazer a felicidade da "The Great Tyrant" não teria sido nada demais. Mas, ok, fico conformada e tentando encontrar justificativa na reunião de mulheres, antes do corredor nº 12, ao redor de um aquário com um cara, fumando "essência de homem". Mas, juro que Duran Duran possesso porque Barbarella destruiu (derreteu) sua "máquina musical" (leia-se: máquina matar de prazer) e gritano: "Que garota você é? Não tem vergonha não, é?" é impagável. O roteiro do filme pode ser fraco, mas Jane Fonda está deliciosamente boa no papel de heroína e "terráquea mediana" e a trilha sonora é tão boa, tão boa e os efeitos especiais são tão trash que vale a pena todo o conjunto, ah se vale! A metáfora do anjo (o anjo que não faz amor, mas é amor = a não ter memória (o perdão para as guerras históricas?) também é digna de se prestar atenção. Tosquices à parte, a abertura do filme é de dar água na boca de tão legal! Ironia + boas sacadas = pano de manga para se discutir (do fazer cinematográfico à revolução sexual dos anos 60).
Tropicália
4.1 289 Assista AgoraGostei muito do documentário. Acervo riquíssimo e uma condução afetiva e segura para a utilização da pesquisa, das entrevistas e das canções na montagem do doc. Não concordo que há muito Gil e Caetano em detrimento do que há no tropicalismo. O tropicalismo foi um movimento abrangente e o diretor tem que fazer opções, pois do contrário cai naquilo que já foi alertado por um famoso cineasta francês: "querer colocar tudo um filme (princípio do amálgama) ou nada colocar ele (princípio da vanguarda) é impedir os outros de manifestar sua opinião aterrorizado-os com a obscuridade de suas intenções". A qualidade de um filme é frequentemente proporcional à inteligência das decisões tomadas, sua lógica, sua coerência e a escolha de Gil e Caetano funciona como fio condutor da narrativa escolhida pelo diretor. Entendo isso muito mais fortemente os momentos finais do filme quando aparecem os dois (separados) vedo imagens e cantarolando junto com as imagens "Back i Bahia". Para mim, esses minutos finais estão amarrados coerentemente com o início e meio do filme onde eles aparecem um programa português falado sobre o tropicalismo como algo maior que eles dois e que só a música. As falas estão equilibradas e não teve jeito de eu não amar muito ouvir Araldo Baptista falar sobre Rogério Duprat: "Se eu pedia um pouco de ópera, se eu pedia um pouquinho de dez mandamentos, se eu pedia um pouquinho de paz: ele conseguia tudo".
Um filme bom, que cumpre direitinho seu papel (especialmente para quem é muito ligado ao Tropicalismo) e que carrega boa pesquisa e utilização de preciosidades da época (diga-se de passagem que ver pedaços de filmes como "Nosferatu no Brasil" e "O demiurgo" instiga e muito o espectador).
Palavras ao Vento
3.9 53 Assista AgoraDorothy Malone sabe bem fazer (boa) oposição à Lauren Bacall para que o melodrama aconteça de maneira acertada - a cena do julgamento (o testemunho da irmã) é carregada de previsibilidade, mas não decepciona! Tudo é tão over e levando em conta o desenvolvimento dos personagens masculinos não fica muito difícil não pensar em Almodóvar...Melodrama digníssimo!
Sim ou Não
3.9 210"Sou um deserto que monologa". Melhor descrição de si mesma não poderia haver para Violette Leduc, escritora francesa marginal que até a publicação de "A bastarda", em 1964, livro autobiográfico e prefaciado por Simone de Beauvoir, era totalmente desconhecida. E era desconhecida porque "bastarda, feia, pobre, apaixonada por mulheres e homossexuais, ladra e traficante do mercado negro...", se atrevia a escrever "sem falso pudor" sobre seu universo: o amor entre mulheres. É assim a novela "Teresa e Isabel - num colégio interno, duas ninfetas descobrem o amor. Há intensidade erótica e ternura apaixonada, mas também há muita crítica a como a homossexualidade feminina é vista. E assim foram vários romances que elegi para ler sobre a temática. Anais Nïn discute especialmente em Heny&June a liberação do corpo e do desejo e de uma forma bastante psicanalítica ela aborda o amor entre mulheres. Patrícia Highsmith, com "Carol" também aborda a epifania erótica e o surgimento de um amor condenado por todos.
Falei nessas três autoras específicas e nessas três obras específicas porque concordo com uma matéria que li recentemente sobre a necessidade de se subverter o cinema gay. E a pergunta-mote para a matéria do Bruno Carmelo era: "Por que o cinema gay comercial está tão contaminado pelo amor romântico, com homens belos em tramas açucaradas?". O mote também serve para alguns muitos filmes de temática lésbica. Amor romântico e tramas açucaradas são alinhavos que tenho visto em vários filmes e que me causa incômodo, pois sinto falta da subverção de abordagens que experienciei na literatura.
Essa observação não é genérica, inclusive há filmes como XXY e Tomboy que fogem a esse tipo de açucaramento. E vários outros. Porém, ao desejar assistir este "Yes or No", vim antes no site ver comentários. Quase nunca faço isso antes de ver filme algum. E, para minha não grande surpresa, se eu fizesse uma estatística, a palavra que mais li foi "fofo". Fora do site do Filmow, encontrei apenas uma crítica sobre o filme, que nem crítica se intitulava, mas sim "resenha" e lá também li a palavra "fofo". Dei chance ao filme porque li que era o primeiro filme com temática lésbica Tailandês. Não sei a veracidade da informação, mas queria eliminar a ideia de apenas "fofura" que se fez em minha cabeça.
É um filme adolescente ou melhor: é um filme sobre o amor entre adolescentes. Pie não é meiga como diz na sinopse e Kim, a tomboy, sim exala doçura. O filme já começou a me fisgar por aí porque, sutilmente, percebi que a construção de feminilidade relacionada à doçura, aos cuidados com as plantas e ao ato de cozinhar não estavam com a "mais feminina delas" no modo de vestir.
É um filme de descoberta, portanto, coerente com a idade das protagonistas, coerente com o ambiente (a escola) e o filme não deixa de trazer conflitos e tensões acerca da descoberta sexual. A trilha sonora é bastante boa, o que ajuda muito na construção da história que não tem necessariamente um final feliz, tem um final que dá a chance de se vivenciar o desejo...
Há sim romance no filme. Mas, eu não o consideraria "fofo". É um filme delicado. Talvez seja didático demais. É linear em sua forma. Mas, para este filme-bilhete-de-escola talvez seja a abordagem mais acertada. Para mim, Yes or no é um filme bonito, dá conta do recado quando aborda os conflitos entre o desejo do corpo amoroso e a dureza do corpo receoso e tradiconal das duas adolescentes. E a personagem Kim é tão cativante que rouba várias cenas. Vale a pena assisti-lo para se conversar sobre o amor e sua construção social. Mas, no meu caso, que sou piegas assumida, confesso: eu me emocionei, fazer o quê?
Importa que se abram debates, que se perceba a construção delicada e singela para a abordagem...que aos poucos se deixe de ser "um deserto que monologa", mas sem jamais se ser inocente e crítico. Falar que o filme é apenas fofo é muito pouco. Se faz necessário combatê-lo, compará-lo. Temos o "Amigas de colégio" mais sombrio para contrapor e começar a dialogar, por exemplo.
É a possibilidade de marcar de verde a opção Yes. :)
Dança das Cabaças
4.2 7Conhecia o Kiko Dinucci músico. O primeiro contato que tive com o seu trabalho foi ouvindo o álbum de 2011, o "Metá Metá". Álbum belíssimo e corajoso onde a música brasileira se etrelaça às referências africanas de modo poético e bastante singular, diferente de tudo o que eu já havia escutado quando o assunto era essa imbricação. Depois do Metá Metá, busquei mais trabalhos seus. Fui compreendendo suas referências: Itamar Assumpção, Jards Macalé, Luiz Tati e a grande sacada e o grande amor pela referências da musicalidade africana. Daí para conhecer o álbum "Pastiche nagô", com o Bando Afromacarrônico, foi um passo delicosamente rápido e que me remeteu a um link sobre este documentário Dança das cabaças. Kiko Dinucci pesquisa sobre Exu, entidade africana que mais apresenta contradições no imaginário popular. Faz uma direção segura, arrisca numa estética poética sem exagerar e, por isso, traz entrevistas que podem até parecer de discurso de autoridade, mas que estão postas com tanta afeição que de maneira alguma nos faz pensar em um documentário do tipo quadradão. Gostei do que vi e do que ouvi: a trilha sonora é coerente e muito bonita. E gostei de verificar que o diretor é sim um pesquisador. "Metá Metá", "Padê" e "Pastiche nagô" não são apenas bons álbuns da recente música brasileira: são pesquisas, são trabalhos árduos: a realização do documentário confirma. E o Kiko, um artista que procura se expressar de maneira plural.
Invenção do Amor
4.0 135"Belezas são coisas acesas por dentro. Tristezas são belezas apagadas pelo sofrimento" escreveu Jorge Mautner e seu conceito cai como uma luva para o Invention of Love. Este curta é esteticamente perfeito, a escolha por se trabalhar com contra-luz casada com a trilha sonora estupenda cria um ambiente de melancolia no sentido benjaminiano de perda e renúncia pela vida uma vez que o personagem vive em um mundo-máquina e já não sabe mais como viver o amor. O sombreado desperta a sensação de que a beleza evapora e com ela a imagem se apaga e o símile se dissolve: as imagens são metáforas para uma leitura crítica de tempos de modernização.
O Passado
3.3 131 Assista AgoraDepois de defesa de dissertação sobre memória, assistir a esse filme foi "emblemático". Um filme que fala sobre a necessidade de fechamentos de ciclos. A referência direta a Adele H. me fez compartilhar sorrisos de satisfação com o amigo-irmão que me acompanhava durante a sessão. Um filme com direção segura, atuação na medida exata para capturar nossas atenções e despertar sentimentos de identificação ou até mesmo de compreensão...E Gael García Bernal está passionalmente bom no papel de garoto perdido...rsrsrsrsrsrs
Nós que nos Amávamos Tanto
4.4 79Sensibilidade, inteligência, conhecimento histórico e muito amor ao cinema. A fotografia é de uma acuidade e de um primor extraordinários. As homenagens rendidas a grandes cineastas são feitas com uma delicadeza e um humor que só poderiam ter partido de um diretor italiano. Após a sessão, além da emoção: muitos detalhes e muita coisa para ser digerida. Filme para se rever várias vezes e todas elas com paixão, apesar de ser sim "uma aula de cinema".
Planeta Fantástico
4.3 319Estética fantástica (pura psicodelia!) e trilha sonora poderosíssima. Alegorias muitas, porém: o fim é abrupto...Resolve-se muito rapidamente os conflitos criados num ritmo bastante interessante e esta disritmia deixa gosto de quero mais, impressão de que falta alguma coisa... :/
Bem-Vindo à Casa de Bonecas
3.9 228Aqui, aprendi a ter raiva das bailarinas (ou das gurias que são potenciais nojentinhas do futuro como aquela irmã mais nova que não é afortunada nada, apenas sabe é tirar proveito de situações com arzinho de "sou um doce e não tô querendo nada" (eca!) - quase morro com aquela da sobremesa - ódio mortal, comentário personalíssimo!) rsrsrsrsrsrs. Eu não esperava que o filme abordasse temática tão clássica quanto os tempos duros da escola de maneira tão cruel.
Szamanka
3.8 23"Eu não sei se estou ficando louca ou se você está me destruindo".
Morgiana
3.8 19Gostei do clima sombrio-quase-engraçado do filme. As alucinações de Klara são imágáveis, a maldade de Vicktoria é novelesca, mas isso não tira o mérito do filme de forma alguma. A fotografia é coerente com a proposta do filme assim como o é a trilha sonora. E Morgiana muito provavelmente virará nome de cria de minha gata se ela vier a dar crias. A câmera em alguns momentos quando Morgiana entra em cena é boa, muito boa. Eu compreendo esse filme como uma boa ironia e o desfecho com a citação de que existem plantas venenosas, animais venenosos e que o homem carrega veneno na saliva podendo passá-lo para outrem através da língua só me faz pensar que se o filme parece simplezinho não o é no sentido chulo que alguém possa pensar/falar. E o figurino é um show à parte!
Confiança
4.1 65Estrelinha de preferido nele!!! Senti o filme do começo ao fim. E sim: eu sou tragicômica.
Hemel
2.8 37Talvez eu não estivesse com o espírito preparado para ver o filme...o filme traz coisas que me interessam e me fazem gostar de um filme. E a temática é interessantíssima...há busca desesperada por sexo, há a questao do incesto (e sim, lembrei também do Forever, do Walter Hugo Khouri), há a solidao, há o caos emocional e há a ideia do suicidio...porém, alguma coisa me incomodou profundamente e não me fez sentir toda a carga do sofrimento metafísico da personagem. Ao menos até a cena final, que sim, me tomou um tantinho... :/
O Amor
4.1 11 Assista Agora"Por todas as noite...enquanto eu viver".
Diz Primo Levi em "Os afogados e os sobreviventes" que "São inúmeros aqueles que levantam âncora, fastam-se momentaneamente ou para sempre, das recordações genuínas e fabricam uma realidade conveniente. Para eles, o passado pesa; experimentam repugnância pelas coisas feitas ou sofridas e tendem a substituí-las por outras. A substituição pode começar em plena consciência, com um cenário inventado, mendaz, restaurado, mas menos penoso do que o real; repetindo sua descrição para outros, mas também para si mesmo, a distinção entre verdadeiro e falso perde progressivamente suas linhas, e o homem termina por acreditar plenamente na narrativa que fez tão frequentemente e que ainda continua a fazer, ou incongruentes entre si, ou ainda incompatíveis com o quadro dos acontecimentos sabidos: a má-fé inicial tornou-se boa-fé".
Aqui, em "O amor", a mentira que Luca inventa para a sua sogra é para doar e viver um tiquinho da dignidade que o regime opressor do lugar onde vivem não permite. Outros filmes que tratam da mesma temática, o entrelaçamento da vida política com a afetiva-familiar, vez por outra colocam seus personagens para viver essa passagem silenciosa da mentira para o auto-engano. "A vida é bela" aborda isso, "O ano em que meus pais saíram de férias" também o faz, assim como acontece o mesmo em "Adeus Lênin" e outros tantos - cada um desses com suas peculiaridades e diferenças entre si. A grande diferença (ou o plus) entre os que lembrei e este "O amor" é que verdadeiramente, em relação à fotografia, montagem, direção de atores e à postura mesmo da direção, este filme é uma obra-prima.
A Gaia Ciência
3.8 30"Os filósofos devem se aliar aos párias e aos desempregados". e "Mesotodimento" (mistura de método com sentimento para definir, por fim, som e imagem), me fisgaram entre tantas coisas outras. Um filme-aprendizagem.
As Bodas de Deus
4.1 4Preciso com urgência ver os outros dois da trilogia! o.O
O Abilolado Endoidou
3.6 8"Mas tem que haver algo bonito por aí, tem que haver".
Violeta Foi para o Céu
4.0 107 Assista AgoraJá tenho o filme mais belo sobre a mulher mais bela que eu deveria já ter conhecido e reconhecido. Se o filme apresenta alguns problemas, especialmente no que diz sobre a relação de amizade entre Violeta e Neruda e mais especialmente ainda quanto à influência do contexto político-histórico que tantas vezes aparece diluído, dá para inferir que tamanha força, que tamanha garra de Violeta não estava apartada das disputas políticas, da luta pela arte de seu povo. Para mim, foi perfeito ter assistido a este filme e ter escutado de minha admirável e companheira de cinefilia e amiga dizer: "Esse filme mexeu com meus brios de mulher". Sim. Mexeu também com os meus brios: de mulher, de gente, de quem está aí para ouvir, de quem não é "surdo". E no mais:
"Maldigo del alto cielo
La estrella con su reflejo
Maldigo los azulejos
Destellos del arroyuelo
Maldigo del bajo suelo
La piedra con su contorno
Maldigo el fuego del horno
Porque mi alma está de luto
Maldigo los estatutos
Del tiempo con sus bochornos
Cuánto será mi dolor.
Maldigo la cordillera
De los andes y de la costa
Maldigo señor la angosta
Y larga faja de tierra
También la paz y la guerra
Lo franco y lo veleidoso
Maldigo lo perfumoso
Porque mi anhelo está muerto
Maldigo todo lo cierto
Y lo falso con lo dudoso
Cuánto será mi dolor.
Maldigo la primavera
Con sus jardines en flor
Y del otoño el color
Yo lo maldigo de veras
A la nube pasajera
La maldigo tanto y tanto
Porque me asiste un quebranto
Maldigo el invierno entero
Con el verano embustero
Maldigo profano y santo
Cuánto será mi dolor.
Maldigo a la solitaria
Figura de la bandera
Maldigo cualquier emblema
La venus y la araucaria
El trino de la canaria
El cosmo y sus planetas
La tierra y todas sus grietas
Porque me aqueja un pesar
Maldigo del ancho mar
Sus puertos y sus caletas
Cuánto será mi dolor.
Maldigo luna y paisaje
Los valles y los desiertos
Maldigo muerto por muerto
Y al vivo de rey a paje
Al ave con su plumaje
Yo la maldigo a porfia
Las aulas , las sacrsitias
Porque me aflije un dolor
Maldigo el vocablo amor
Con toda su porquería
Cuánto será mi dolor.
Maldigo por fin lo blanco
Lo negro con lo amarillo
Obispos y monaguillos
Ministros y predicantes
Yo los maldigo llorando
Lo libre y lo prisionero
Lo dulce y lo pendenciero
Le pongo mi maldición
En griego y español
Por culpa de un traicionero
Cuánto será mi dolor".
Faço de Mim o que Quero
3.5 16Não tem grandes coisas...mas os créditos finais são criativos. E mais uma vez a música que me tem perseguido: "Que tontos, que loucos que somos nós dois..." rsrsrsrsrsrss
Monika e o Desejo
4.0 120 Assista AgoraAntes de tudo, para mim: Bergman não tem isso de "filme menor". E sim: entre tantas coisas (fotografia fodona, cenas arrasadoras, paisagens idílicas e a abordagem das relações humanas), concordo que essa é a história de alguém que escolhe o inferno em lugar do céu. E o rosto de Harriet Andersson em close-up: (tristemente) belo.
As Filhas do Fogo
3.8 24Há filmes que são os nossos filmes prediletos, há filmes que sabemos que são obras-primas, há filmes nos quais encontramos personagens (ou enredos) com os quais nos identificamos, há filmes que parecem contar "a história de nossas vidas" (para comungar com o que quse sempre diz um amigo querido) e há filmes que dizem de nosso estado de alma. Este "As filhas do fogo" diz do meu estado de alma há seis anos. A cena-alegoria final, diz muito do que venho sentindo. Aquela janela-bosque-cerrado-labirinto...