Evito cair no mérito de dizer o que é bom ou ruim. São sete segmentos simples amarrados por um oitavo que demonstra a degradação biológica de um corpo ao som de uma trilha que lembra muito as trilhas do Golden Axe do Mega Drive. Cada curta um dia da semana. Talvez a ideia fosse demonstrar que a morte é uma sentença corriqueira. Ou não? Não sabemos, o problema de filmes nesse segmento é que nunca se pressupõe um pressuposto - tudo é nada - então, caímos no abismo do abstrato.
Mas a morte é concreta. Precisa, tão precisa quantos os pés sujos no curta "Sexta-feira". Delinear o espectro niilista na obra é chover no molhado, entretanto - embora eu ache tudo muito duvidoso e questionável, eu tenho que admitir que o curta "Quinta-feira" é fantástico, sinceramente, na mão do CVV esse curta-metragem iria ser prêmio. A melancolia em vastidão espacial é sentida via do intertextualidade póstuma.
Longevo - ente e tempo. Vejo em "Faraway, So Close!" - embora continuação sequência de "Wings of Desire" - a transgressão de Cassiel muito mais próximo de "Paris, Texas. Refiro-me à complexidade heideggeriana em relação ao tempo; em uma determinada parte do filme, Emit Flesti (Williem Dafoe) diz a Cassiel (Você é o relógio) paráfrase conveniente de "Homem é o tempo" e convence bem com o argumento do filme que reconfigura o véu angelical sobre os homens e veste Cassiel com o peso da moral e existência.
O homem pesa.
De fato, desnecessário discorrer a respeito do cinema de Wenders, o cronotopo (esse também em Paris, Texas) e a fantasmagoria de Wings of Desire estão fortemente naquele espaço que reflete rupturas da história humana.
Tudo tem um tempo, é fato. Mas o tempo desvirtua a ideia de posse. Resta à existência o visível, o que se ouve e toca.
Uma extensão de "Carne" (1991) - curta-metragem pressuposto deste longa - acho que Gaspar Noé (se não me engano) é um enunciado da "New French Extremity" e não seria muito justo começar a falar de "Sozinho Contra Todos" (1998) via uma apresentação do diretor. Mas, a propor uma experiência estética - a qual está bem reafirmada pelo movimento que inerentemente conduz as obras do diretor - Sozinho Contra Todos é um devaneio moral traumático e de proposta apercebida pela externo e interno vivido por Butcher (Phillipe Nahon) - destaque para a ausência de aprofundamento no núcleo de personagem cuja significação nasce da perspectiva desiludida do personagem central - e não é por menos; a narrativa delineia bem a relação mundo e homem pós uma experiência que o iguala diante de um contexto que outrora fora subjugado por ele; não é uma verdade absoluta, longe disso, acho até que a intensão é ojerizar e inspirar um clamor pelo inferno que recaí sobre o personagem de Phillipe Nahon. Vou abrir uma parênteses só para comentar como o diretor utiliza de recursos sonoros para dar ênfase nos diálogos ou cortes; é muito curioso você ouvir uma única nota em tom de tensão a complementar a face de desdenho do personagem ou uma ação simples como tomar um café, penso até que isso funciona como uma espécie de prontidão prometida para o que é banal. Citei acima sobre "experiência estética" e eu sou muito bem convencido que essa é a principal função do cinema de Gaspar Noé, a violência estetizada aqui é precisamente diluída no conflito moral de Butcher e intrigantemente manifesta-se via da misantropia não desenvolvida durante a narrativa, mas cultivada - o nojo pelo o mundo vem desde "Carne" e penso que há uma demanda narcisista que promove um tratado entre mundo e personagem, a própria narrativa rompe com essa retórica: externo e interno, quando via de outras perspectivas (que não são aprofundadas, mas serve para reforçar a perspectiva deturpada de Butcher) descreve as dificuldades enfrentadas naquele contexto (crise, desemprego etc) e Sozinho Contra Todos pode até reforçar um paralelo com "Ódio" (1995) de Mathieu Kassovitz que também empresta da França à época a validação de seu argumento.
Além da violência (o que é óbvio falar, afinal exerce função estética) - há um reforço das rupturas traumáticas somadas à desilusão política e um ódio culminado por um espectro ególatra.
E que rupturas são essas?
- Penso serem o ser ou não ser do homem diante da realidade - é por isso que há uma contemplação dessa estética de violência; busquemos razão na violência que não queremos viver (Hal Foster exemplifica bem isso no capítulo de título "realismo traumático" no livro Retorno do Real).
A fantasmagoria do intimismo. À perspectiva ultra sensível de Kleber Mendonça somos introduzidos à metalinguagem poética a respeito de espaço, cinema e vida. Trata-se de uma relação de vida e cinema nas região do centro de Recife. Para os familiarizados com a Veneza brasileira, Recife é um espaço que inspira caos e transpira poesia, as pontes, calçadas desalinhadas e o sumiço de vidas mesclados ao concreto resfriado pela maresia é a banal natural cena, essa que a ficção mimetiza em direção de arte. Sobre os fantasmas, pensemos nos latidos do cachorro (jaz em realidade) e a concepção de fantasmas que são imagens que se reconfiguram no presente - não é nada concreto em si, entretanto um espectro que, distante de pareidolia, é familiar ao tempo em que deixou de existir. Um bom exemplo é "Bacurau" e os fantasmas do ódio - seja o ódio pela resistência ou o ódio em expulsar aqueles que foram subjugados.
A fantasmagoria do cinema está na resistência - o cinema é uma linguagem atemporal - lembre-se (eu, você que amamos ele) os cinemas tornam-se invisíveis (seja pela vontade maldosa do mercado ou pelo pragmatismo deste mundo) o cinema está lá.
Talvez tenha algo a ver com nossas vidas. Digo. Assisti a esse filme com uma pessoa muito especial e enquanto eu assistia ao filme, eu notava em seu olhar uma admiração muito grande pela linguagem do cinema e e era como se o áudio filme reconfigurasse ao meu lado - o filme não estava ao meu lado, mas de certa forma ali estava ele. Enfim...
Abordar o cotidiano é uma linha tênue entre o blasé e fabuloso. Recordo-me de quando li "A Vida como Ela é..." e o tão absurdo, sobretudo plausível soava as crônicas debochadas de Nelson Rodrigues. Na contramão do trágico romantizado em Nelson Rodrigues, o filme "Temporada" é um fragmento temporal e geográfico de uma persona realocada na vida, sobretudo uma distanciamento emocional. Quando pensamos em "O filme mostra" o distanciamento de Carlos, então marido da personagem, é construído geograficamente e emocionalmente. Não que haja um dedicação para trabalhar esse lance do distanciamento (acho que vemos escancarado em "Paris, Texas" por exemplo) mas isso é um fragmento passado que não temos no decorrer do filme, o que de fato me pareceu ser ruptura traumática, vide a cena em que Juliana encontra seu pai e o tão distante estão.
A distância pressupõe o recomeço, o que me faz pensar que o filme entrega uma personagem sem um plano de fundo aprofundado e sua rotina complementada pelas relações com o pessoal do trabalho aponta para uma nova vida. Essa característica de "falta de plano de fundo" é preenchida com sutis detalhes que aos poucos molda a personagem que de princípio é uma espécie de Macabea sem todo o derrotismo envolta da não-heroína de Clarice, e aos poucos torna-a parte do corpo que é: trabalho, amigos, distrações, frustrações, traumas, identidade, sobretudo a existência.
Temporada é lindo, íngreme (literalmente) e o extraordinário está em contar o cotidiano sem os malefícios de uma fofoca, mas num viés documental poetizado por seu texto humano.
Abro um parênteses aqui para cena com Russão. Ele foi desleal com Juliana, afinal ele sabia jogar. E como sei? Bem, ele usa os gatilhos de cima "socos e chutes mais forte" e todo mundo manja de SF sabe que usar eles resulta em hadoukens mais rápidos, enfim.
Acho que é daqueles filmes que nos desperta o espírito "E se..." colocamos-nos nas situações à parte da real tensão que o filme constrói. Não é lá o melhor A24, mas tem seu charme e confesso que o meu passa-tempo principal foi ficar caçando referência às bandas Punk e HC.
Conta-se história pela boca. Na particularidade de Dez/Ten ou Dah (aka: número de atos da narrativa) vislumbramos a rotina, vivência e a complexa dialética entre sentimentos e vida pela perspectiva interna de um carro dirigido por Mania Akbari. Dirigir é um verbo interessante a ser empregado, visto que enquanto Mania transita pelas ruas da capital iraniana, a personagem também dirige as conversas, torna-se quase um fragmento documentarístico dado o realismo dos diálogos. São profundos sem passar por uma estrutura metódica, o que me fez pensar que: A maneira que o texto é contado é o modular estético, visto que: Se eu repassar a mesma história, por exemplo a da garota de programa, possivelmente soaria como uma espécie de fofoca. O filme é simples dentro de sua proposta como filme, entretanto mostra-se complexo dentro do seu contexto. Li por aí que o filme foi proibido no Irã devido ao seu teor ativista, o contexto e tempo da obra é importantíssimo, conforme uma amiga minha levantou hoje mesmo (22/12/2023) é o cronotopo. Esse fato da proibição torna-o muito mais interessante, afinal - o intimismo da obra que fragmenta um espaço interno em um veículo para suprimir todas angústias externas intrínsecas às frustrações das relações: ser e sociedade, também ser e sentimento, manifesta semioticamente um espaço de segurança à parte da censura que pode ser vista no estreitamento contexto e obra ou então na representação de afrontas de Amin, filho de Mania Akbari, cujo discurso ressoa adulto e oriundo de um machismo político bem estruturado.
E eu nunca em minha existência contarei um fragmento sobre vidas de forma tão impecável quanto Abbas Kiarostami faz em "Ten".
Troma. Caótico e estético, dentro do que apontamos como Trash, The Taint é um interessantíssima banalização da misoginia, senão suas limitações no que entende por cinema, o filme é interessante. Interessantemente ruim, eu diria. Dotado (leia-se pela ambiguidade) de ar debochado (um comentário suscitou Hermes e Renato para uma ótima exemplificação) a temática central é permeada de exageros estéticos (de mau gosto) e constroem o amálgama que acima chamei de "banalização da misoginia". É uma simples junção da Femme Fatale wanna be adjunta ao bobalhão canastrão e é nesse ponto que o filme me ganha, sejamos lógicos que se trata de um filme sobre zumbis de membro eretos e com ejaculação ultra irreal que têm como principal objetivo matar mulheres, e a dupla principal não é menos irreal que os próprios zumbis, e embora o argumento tenha uma temática complexa, The Taint é só um filme trash.
Tudo pela estética. E por isso amamos. * Obs. Poderiam adicionar o poster da caveira, né? Hahahah! Ele é fantástico.
Sobre traumas deixados pelas fraturas históricas. Embora tenha alguns deslizes (mínimos) o filme é bem competente ao suscitar os fantasmas da história brasileira.
Olha. Eu não conheço o trabalho de Demián Rugna e tive contato com "When Evil Lurks" devido a notoriedade que ele adquiriu, entretanto em síntese, este filme é muito bom no sentido de nascer com alma de clássico, não se trata de um filme bom, trata-se de uma obra-prima realizada com esmero onde cada ponto, repito, cada ponto é minuciosamente trabalhado. Iria até gastar caracteres descrevendo a minha leitura sobre o filme, todavia se você veio ver as opiniões para tentar dar uma chance para o filme, pois bem, vai na fé. Vai que o filme é pica mesmo, é tudo isso que andam falando por aí.
O discurso da violência social é bilíngue. A traçar um paralelo com a onda de abusos de poder que o Brasil vem vivendo esses últimos anos, o argumento é facilmente adaptável com a realidade de inúmeras zonas urbanas brasileiras. O espírito individualista revolucionário aliena três jovens parisiense, a fragilidade da relação entre sociedade e poder é apresentada logo na introdução e com isso o porquê das vinte e quatro horas seguintes. Vinte e quatro horas sem rumo a um desfecho violento em nome de justiça. É uma balança social cujo peso é definido por valores deterministas. Isso me lembra aquela canção "Selvagem" de Paralamas do Sucesso. Todo mundo apresenta suas armas, todavia mediante à conjectura social moral, sabemos que a violência institucionalidade é justificada como dever à lei. Já outros exercícios violentos são barbáries e tudo é válido para conter esse mal que assombra a sociedade moderna.
Em determinada parte é dito "Você pensa que isto aqui é um filme" (algo mais ou menos parecido com isso)
Conscientemente, embora passivos, gostaríamos que só fosse um filme.
Em 7 de Setembro deste mesmo ano (2023) estreou nos cinemas "Freira 2". Bem, esse é o parâmetro comparativo que quero deixar, afinal um dos principais erros de "Exorcista - O Devoto" é trazer em sua síntese uma nada essencial continuação (não sei bem dizer se é uma continuação) da obra-prima de William Peter Blatty e William Friedkin. Quando penso no filme de 1973 vem à cabeça uma obra atemporal cujo argumento se sustenta do princípio ao fim, com nuances que passeiam entre ciência e religião, enfoque em personagens notoriamente necessários e uma narrativa que se transforma junto à personagem reafirmam o porquê de Exorcista ser um clássico. Aí está o maior pecado do filme de David G. Green, a métrica comparativa é muito elevada, o filme não é de todos erros, alguns momentos a atmosfera é bem condutiva e a ausência de sonoplastia ajuda muito na criação da tensão, entretanto nos momentos mais tensos a direção parece manifestar um interesse grotesco em destruir isso e então simplesmente acaba com a tensão seja com um comentário frouxo ou uma mera fumacinha em CGI. Green até tenta pegar de Friedkin algumas características, seja um plano fechado na cara da garota que é a réplica de Reagan ou os cortes para uma cena com barulho (dessa ele abusou em) mas falta um capricho. Onde quero chegar, bem - comparado a "O Exorcista" (1973) o filme é um fiasco, todavia se pensarmos nele como um blockbuster de terror é de certa forma um filme competente comparado ao seu rival de gênero "A Freira 2" (2023).
Um "Evil Dead" contemporâneo na era da informação. Competente e criativo e se tratando de um trabalho independente, o filme realizado pelo casal Vanessa e Joseph Winter reafirma aquela velha história que “uma câmera na mão e uma ideia na cabeça” é um dos principais aliados do cinema.
Penso que antologias caminham sobre corda bamba. Entre as possibilidades de acerto e erro (aqui se não me engano são cinco) o fator individual criativo sobressai na medida que a narrativa exibe a já famosas "lost tape" - essa é uma particularidade da série V/H/S que já tem em seus maneirismos seja narrativo ou estético. V/H/S 85 talvez precisasse de tempo, afinal tudo soa como se estivesse ultrapassado o tempo, então o bruto fosse submetido à cortes preguiçosos para atender ao prazo do lançamento. Bem, essa foi a primeira impressão que tive quando iniciou a primeira tape "Pet Sematary Wanna be"; contudo, essa impressão permaneceu predominantemente até a última tape (a menos interessante) não considero os seguimentos ruins, sobretudo alguns têm uma criatividade estética bem interessante, vide o "Tron, Synthpop e Modernidade Líquida" onde o argumento constrói uma espécie de crítica ao 'culto tecnológico' estruturado com em uma espécie de paráfrase de "A Sociedade do Espetáculo" mas, o fator aceleração deixa tudo muito confuso e somada alguns exageros estéticos da montagem desperta um sentimento de desinteresse somada a uma dor de cabeça.
Dito isso, o excesso deixou o filme a desejar, mas eu vou dar destaque a uma cena em específico. Talvez a melhor cena do filme inteiro: a perspectiva de um assassino ao som de Throbbing Gristle, sério, a música por si só é tenebrosa, somada a fotografia e direção ficou desconfortável e dialogou bem com a proposta da tape, entretanto, a pressa foi inimiga da perfeição, bem, ao menos do trabalho competente.
Roteiro ok. Todavia, ele força uma empatia com John Kramer fazendo-nos esquecer da persona psicopata com um senso de justiça delirante. Com exceção do primeiro e segundo, eu não assisti aos demais filmes da série, então eu não tenho certeza se perdi algo. Duas questões: filtro de fotografia quente nojento, cortes blasés sem dinâmica alguma e não tenho certeza, mas parece que os monitores das câmeras do galpão onde tudo ocorre são CGI.
Atente-se "Êxodo 21:24: "Olho por olho, dente por dente, mão por mão, pé por pé."
Deus, Moisés e violência. Afinal, é sobre isso que "Crueldade Mortal" (1976) argumenta, pode se dizer que a ideia central é: o homem mediante ao homem é sentença racional vocalizada pelo animalesco, cruel e sádico senso de justiça. Entretanto, o filme embora seja interessantíssimo nos momentos de oscilação mental de Antônio (Jofre Soares) e diga-se de passagem uma atuação competente (a única) as demais personagens são um misto de maneirismo e blasé que mesmo alguns tendo uma subenrendo não convence. A respeito dos subenredos, eu acredito que existem somente para complementar o tempo necessário para um longa, o contrário não há propósito, o exemplo maior é o casal que resolve roubar o bar para ir embora da cidade, talvez haja um fator crítico ao espaço periférico e inóspito, por sua vez o casal mediante à violência e irracionalidade da cidade parte do imoral para acalmar as atribulações inspiradas pela falta de perspectiva. Destrinchar o roteiro do filme propõe ótimas reflexões sobre questões sociais, a relação sociedade e religião, a falsa justiça social acima da ética e moral, sociedade e espetáculo etc.
O argumento é atual e se não me engano aqui nos comentários fizeram um paralelo com um caso real que ocorreu há uns anos na baixada santista e digo mais, o filme também fala do declínio do Flamengo, mas esse não é escopo para o objetivo central, o objeto em questão é, conforme um amigo utilizou aqui em um comentário, o "linchamento social" e a mimese de violência em justiça.
Por último e tão importante quanto, embora a sonoplastia em geral seja horrível às vezes parecia que eu estava ouvindo uma versão sonora mais orgânica daquele filme Ciberpunk Japonês (Tetsuo, 1989) eu sinceramente achei a parte de direção fantástica, uns planos ousados e diferentes, o plano da Cruz, a câmera em plano fechado no rosto de Antônio, um plano sequência com J e L e dada as limitações a direção é fantástica, sério. Agora não podemos dizer a parte da montagem, a passagem de tempo fica confusa ao amanhecer e sem contar que a cena do casal fugindo e que está ocorrendo uma queimada em um matagal, eu nem sei como foram parar naquela cena, mas a impressão que tenho é que faltou algum pedaço durante a montagem.
Não o vejo como um roteiro pretencioso, contrapartida é muito bem dirigido e tem uns momentos que a fotografia é um show à parte, as cenas do filme adulto são um exemplo, além disso temos um elenco muito bom com personagens bem construídos, exemplo Wayne, o sacana mais gente boa dos filmes slashers, e contramão ao estereótipo do gênero mostra-se uma figura centrada e passiva a diálogos para a resolução dos conflitos do grupo. Mas, embora haja essa distinção na construção de personagens, o roteiro impõe alguns maneirismos do gênero para ser desenvolvido, entre uma vilã que a direção inteligentemente constrói com uma áurea sobrenatural e uma nuance crítica ao corpo, as relações da carne com o tempo e o desejo, X (2022) é um competente slasher moderno.
Sobre isso.
Mia Goth é perfeita e acho que desenvolvi uma paixão platônica.
A ODE do paulistano médio à modernidade. Antes de mais nada, eu vou recorrer a um fato que ocorrera em minha cidade em meados de 98. Em resumo; Uma garota de programa, 22 anos, foi arrastada por cerca de 2,5 km, o homem que a arrastou à época com 24 ou 25 anos, o típico 'badboy' classe média (alta) elaborou algumas 'verdades' para sustentar o homicídio culposo. Cama de Gato (2002) traz em trama um delineado sombroso e mórbido sobre uma juventude que culminava a ideia do 'tudo posso e tudo devo' em uma era de frutos verdes do globalismo, entre uma direção que em certos momentos manifesta uma criatividade principiante e em outros uma certa preguiça, a fonte de direção é muito provavelmente as etílica Dogma 95, essa que sem moderação embebeda e entorpece, o que ocorre com o filme em questão visto que há uma tentativa de criar um manifesto, aka Trauma, manifesto esse que muito provavelmente não resultou em êxito (uma pena, eu adoraria ver mais filmes, inclusive fica a dica: quem quiser fazer algo dê-me um toque :) tenho uma câmera). Considero o filme mais acertos do que erro, especialmente com sua trilha sonora que chega ser um pecado não estar no spotify. sobre os erros, confio que há um diálogo entre estética e argumento, senão as atuações um pouco anti-clima, o restante endossa esse retratado do paulistano classe média que vislumbrado com o poder adulto põe-se à frente da ética e subverte sendo o idólatra anarco das subversões dos valores. Acredito que boa parte dos jovens adultos dessa época hoje tornaram-se reaças e são aqueles que começam o discurso moral para a nova geração da seguinte forma:
"Veja bem. Eu também já fui igual você, esquerdista e blá blá blá"
Cama de Gato (2002) não é o KIDS (1995) Brasileiro e em frente de batalha não é de longe um ótimo representante do neorrealismo brasileiro, Amarelo Manga (2002) saiu no mesmo ano, mas de certa forma é um filme único e charmoso e tem seu lugar na cinematografia brasileira.
Sobre a garota arrastada, estava grávida de 3 meses de seu assassino, arrastada por uma hora (de acordo com fontes) agonizou enquanto era exposta madrugada adentro por um jovem adulto inconsequente, a sentença do monstro só veio sair em 2019 (21 anos depois).
OBS:
Só eu vi um cu piscando nessa porra em uma cena à la Clube da Luta.
Ao reassistir nota-se o tão problemático é cumprir a simples função de ser um filme. Penso que boa parte das pessoas o assistiu durante os tempos áureos de televisão aberta e sabemos que a nostalgia é amiga da mau senso. Entretanto, revê-lo mais adulto me fez perceber uma espécie de crítica ao corporativismo a passividade nos consumos de ultraprocessados e como o fator publicitário ajuda na passividade social quanto a isso, é um filme com uma crítica acentuada ao capitalismo e olhar por essa perspectiva deixa-o com um primor a mais. Um ótimo trash
Normalmente filmes franquiados não demonstram narrativas trabalhadas, mas esse do 'invocaverso' é um deboche com o telespectador. Relíquia preciosíssima cuja casualidade ajuda a protagonista encontrá-la, um conglomerados de cristãos patéticos submissos à força do mal (cheguei a cogitar a eficácia do cristianismo neste universo, afinal o diabo pinta o sete dentro da casa de Deus) dois núcleos de personagens patéticos onde a casualidade (que recheia o filme) une-os a concluir o terceiro ato de maneira tedioso e sem grandiosidade (talvez, digo talvez forçando mesmo, as referências ao cânone católico pode até dar confete neste grande bolo de bosta).
Re-Animator Wanna be. Entretanto, há um tom especial no roteiro que só toca para frente a narrativa dando impressão de longo take, o filme só acontece sem respeitar as próprias regras criadas pelo roteiro, destaque para a cena no açougue onde nitidamente todo o orçamento se encontra. Não trata-se de um filme ruim, o contrário, é legal de assistir e eu não consigo entender o porquê de quatro pessoas marcar como "Não quero ver" todavia, eu consigo entender o porquê de dezesseis pessoas marcarem como favorito.
James Gunn tem um tato bem singular para esse tipo de filme. Mais uma vez entrega um produto com mais certos do que erros (por exemplo um vilão aquém de uma conclusão de arco) e repleto de carisma. Trilha Sonora e uma atração à parte nos filmes do Guardiões (talvez nos filmes do Gunn) e essa em particular foi a que mais me cativou, bandas como Radiohead, The The, Faith no More e Beastie Boys embarcam a narrativa conduzida por Gunn e sua direção que rompe o padrão entalado dos filmes marvel.
Inteligentíssimo dentro das possibilidades significativas. O ambiente plástico (literal e figurativamente) desenvolve um dilema entre a relação ser, sociedade e o produto. A existência da Barbie (personagem e produto) é questionada quando exposta a um mundo dubitável e suas regências (ideologias, consumo, corporativismo, família, vida, sentimentos etc); sobre o feminismo, talvez não haveria problemática social para sustentar o argumento que permeia as relações sociais, dessa forma acredito moldar conforme à necessidade de atender uma demanda, entretanto - eu enxerguei um filme consciente e autocrítico, contundente ao ponto de instigar a opinião pública a digladiar em nome de convicções, crenças e políticas.
No final.
É um filme da Barbie e como sempre dependerá exclusivamente de quem está consumindo.
O Rei da Morte
3.8 60 Assista AgoraEvito cair no mérito de dizer o que é bom ou ruim. São sete segmentos simples amarrados por um oitavo que demonstra a degradação biológica de um corpo ao som de uma trilha que lembra muito as trilhas do Golden Axe do Mega Drive.
Cada curta um dia da semana. Talvez a ideia fosse demonstrar que a morte é uma sentença corriqueira. Ou não? Não sabemos, o problema de filmes nesse segmento é que nunca se pressupõe um pressuposto - tudo é nada - então, caímos no abismo do abstrato.
Mas a morte é concreta.
Precisa,
tão precisa quantos os pés sujos no curta "Sexta-feira". Delinear o espectro niilista na obra é chover no molhado, entretanto - embora eu ache tudo muito duvidoso e questionável, eu tenho que admitir que o curta "Quinta-feira" é fantástico, sinceramente, na mão do CVV esse curta-metragem iria ser prêmio. A melancolia em vastidão espacial é sentida via do intertextualidade póstuma.
Tão Longe, Tão Perto
4.0 91Longevo - ente e tempo. Vejo em "Faraway, So Close!" - embora continuação sequência de "Wings of Desire" - a transgressão de Cassiel muito mais próximo de "Paris, Texas. Refiro-me à complexidade heideggeriana em relação ao tempo; em uma determinada parte do filme, Emit Flesti (Williem Dafoe) diz a Cassiel (Você é o relógio) paráfrase conveniente de "Homem é o tempo" e convence bem com o argumento do filme que reconfigura o véu angelical sobre os homens e veste Cassiel com o peso da moral e existência.
O homem pesa.
De fato, desnecessário discorrer a respeito do cinema de Wenders, o cronotopo (esse também em Paris, Texas) e a fantasmagoria de Wings of Desire estão fortemente naquele espaço que reflete rupturas da história humana.
Tudo tem um tempo, é fato.
Mas o tempo desvirtua a ideia de posse.
Resta à existência o visível, o que se ouve e toca.
Obs.
A dobradinha Wenders e Cave é majestosa.
Sozinho Contra Todos
4.0 313Uma extensão de "Carne" (1991) - curta-metragem pressuposto deste longa - acho que Gaspar Noé (se não me engano) é um enunciado da "New French Extremity" e não seria muito justo começar a falar de "Sozinho Contra Todos" (1998) via uma apresentação do diretor. Mas, a propor uma experiência estética - a qual está bem reafirmada pelo movimento que inerentemente conduz as obras do diretor - Sozinho Contra Todos é um devaneio moral traumático e de proposta apercebida pela externo e interno vivido por Butcher (Phillipe Nahon) - destaque para a ausência de aprofundamento no núcleo de personagem cuja significação nasce da perspectiva desiludida do personagem central - e não é por menos; a narrativa delineia bem a relação mundo e homem pós uma experiência que o iguala diante de um contexto que outrora fora subjugado por ele; não é uma verdade absoluta, longe disso, acho até que a intensão é ojerizar e inspirar um clamor pelo inferno que recaí sobre o personagem de Phillipe Nahon.
Vou abrir uma parênteses só para comentar como o diretor utiliza de recursos sonoros para dar ênfase nos diálogos ou cortes; é muito curioso você ouvir uma única nota em tom de tensão a complementar a face de desdenho do personagem ou uma ação simples como tomar um café, penso até que isso funciona como uma espécie de prontidão prometida para o que é banal.
Citei acima sobre "experiência estética" e eu sou muito bem convencido que essa é a principal função do cinema de Gaspar Noé, a violência estetizada aqui é precisamente diluída no conflito moral de Butcher e intrigantemente manifesta-se via da misantropia não desenvolvida durante a narrativa, mas cultivada - o nojo pelo o mundo vem desde "Carne" e penso que há uma demanda narcisista que promove um tratado entre mundo e personagem, a própria narrativa rompe com essa retórica: externo e interno, quando via de outras perspectivas (que não são aprofundadas, mas serve para reforçar a perspectiva deturpada de Butcher) descreve as dificuldades enfrentadas naquele contexto (crise, desemprego etc) e Sozinho Contra Todos pode até reforçar um paralelo com "Ódio" (1995) de Mathieu Kassovitz que também empresta da França à época a validação de seu argumento.
Além da violência (o que é óbvio falar, afinal exerce função estética) - há um reforço das rupturas traumáticas somadas à desilusão política e um ódio culminado por um espectro ególatra.
E que rupturas são essas?
- Penso serem o ser ou não ser do homem diante da realidade - é por isso que há uma contemplação dessa estética de violência; busquemos razão na violência que não queremos viver (Hal Foster exemplifica bem isso no capítulo de título "realismo traumático" no livro Retorno do Real).
Sozinho contra todos,
Sozinho contra si.
Retratos Fantasmas
4.2 228 Assista AgoraA fantasmagoria do intimismo. À perspectiva ultra sensível de Kleber Mendonça somos introduzidos à metalinguagem poética a respeito de espaço, cinema e vida. Trata-se de uma relação de vida e cinema nas região do centro de Recife. Para os familiarizados com a Veneza brasileira, Recife é um espaço que inspira caos e transpira poesia, as pontes, calçadas desalinhadas e o sumiço de vidas mesclados ao concreto resfriado pela maresia é a banal natural cena, essa que a ficção mimetiza em direção de arte. Sobre os fantasmas, pensemos nos latidos do cachorro (jaz em realidade) e a concepção de fantasmas que são imagens que se reconfiguram no presente - não é nada concreto em si, entretanto um espectro que, distante de pareidolia, é familiar ao tempo em que deixou de existir. Um bom exemplo é "Bacurau" e os fantasmas do ódio - seja o ódio pela resistência ou o ódio em expulsar aqueles que foram subjugados.
A fantasmagoria do cinema está na resistência - o cinema é uma linguagem atemporal - lembre-se (eu, você que amamos ele) os cinemas tornam-se invisíveis (seja pela vontade maldosa do mercado ou pelo pragmatismo deste mundo) o cinema está lá.
Talvez tenha algo a ver com nossas vidas.
Digo. Assisti a esse filme com uma pessoa muito especial e enquanto eu assistia ao filme, eu notava em seu olhar uma admiração muito grande pela linguagem do cinema e e era como se o áudio filme reconfigurasse ao meu lado - o filme não estava ao meu lado, mas de certa forma ali estava ele.
Enfim...
Temporada
3.9 145 Assista AgoraAbordar o cotidiano é uma linha tênue entre o blasé e fabuloso. Recordo-me de quando li "A Vida como Ela é..." e o tão absurdo, sobretudo plausível soava as crônicas debochadas de Nelson Rodrigues. Na contramão do trágico romantizado em Nelson Rodrigues, o filme "Temporada" é um fragmento temporal e geográfico de uma persona realocada na vida, sobretudo uma distanciamento emocional.
Quando pensamos em "O filme mostra" o distanciamento de Carlos, então marido da personagem, é construído geograficamente e emocionalmente. Não que haja um dedicação para trabalhar esse lance do distanciamento (acho que vemos escancarado em "Paris, Texas" por exemplo) mas isso é um fragmento passado que não temos no decorrer do filme, o que de fato me pareceu ser ruptura traumática, vide a cena em que Juliana encontra seu pai e o tão distante estão.
A distância pressupõe o recomeço, o que me faz pensar que o filme entrega uma personagem sem um plano de fundo aprofundado e sua rotina complementada pelas relações com o pessoal do trabalho aponta para uma nova vida. Essa característica de "falta de plano de fundo" é preenchida com sutis detalhes que aos poucos molda a personagem que de princípio é uma espécie de Macabea sem todo o derrotismo envolta da não-heroína de Clarice, e aos poucos torna-a parte do corpo que é: trabalho, amigos, distrações, frustrações, traumas, identidade, sobretudo a existência.
Temporada é lindo, íngreme (literalmente) e o extraordinário está em contar o cotidiano sem os malefícios de uma fofoca, mas num viés documental poetizado por seu texto humano.
Abro um parênteses aqui para cena com Russão. Ele foi desleal com Juliana, afinal ele sabia jogar. E como sei? Bem, ele usa os gatilhos de cima "socos e chutes mais forte" e todo mundo manja de SF sabe que usar eles resulta em hadoukens mais rápidos, enfim.
Sala Verde
3.3 546 Assista AgoraAcho que é daqueles filmes que nos desperta o espírito "E se..." colocamos-nos nas situações à parte da real tensão que o filme constrói. Não é lá o melhor A24, mas tem seu charme e confesso que o meu passa-tempo principal foi ficar caçando referência às bandas Punk e HC.
Dez
4.1 54 Assista AgoraConta-se história pela boca. Na particularidade de Dez/Ten ou Dah (aka: número de atos da narrativa) vislumbramos a rotina, vivência e a complexa dialética entre sentimentos e vida pela perspectiva interna de um carro dirigido por Mania Akbari.
Dirigir é um verbo interessante a ser empregado, visto que enquanto Mania transita pelas ruas da capital iraniana, a personagem também dirige as conversas, torna-se quase um fragmento documentarístico dado o realismo dos diálogos. São profundos sem passar por uma estrutura metódica, o que me fez pensar que: A maneira que o texto é contado é o modular estético, visto que: Se eu repassar a mesma história, por exemplo a da garota de programa, possivelmente soaria como uma espécie de fofoca.
O filme é simples dentro de sua proposta como filme, entretanto mostra-se complexo dentro do seu contexto. Li por aí que o filme foi proibido no Irã devido ao seu teor ativista, o contexto e tempo da obra é importantíssimo, conforme uma amiga minha levantou hoje mesmo (22/12/2023) é o cronotopo.
Esse fato da proibição torna-o muito mais interessante, afinal - o intimismo da obra que fragmenta um espaço interno em um veículo para suprimir todas angústias externas intrínsecas às frustrações das relações: ser e sociedade, também ser e sentimento, manifesta semioticamente um espaço de segurança à parte da censura que pode ser vista no estreitamento contexto e obra ou então na representação de afrontas de Amin, filho de Mania Akbari, cujo discurso ressoa adulto e oriundo de um machismo político bem estruturado.
E eu nunca em minha existência contarei um fragmento sobre vidas de forma tão impecável quanto Abbas Kiarostami faz em "Ten".
A Mácula
2.9 9Troma. Caótico e estético, dentro do que apontamos como Trash, The Taint é um interessantíssima banalização da misoginia, senão suas limitações no que entende por cinema, o filme é interessante. Interessantemente ruim, eu diria.
Dotado (leia-se pela ambiguidade) de ar debochado (um comentário suscitou Hermes e Renato para uma ótima exemplificação) a temática central é permeada de exageros estéticos (de mau gosto) e constroem o amálgama que acima chamei de "banalização da misoginia". É uma simples junção da Femme Fatale wanna be adjunta ao bobalhão canastrão e é nesse ponto que o filme me ganha, sejamos lógicos que se trata de um filme sobre zumbis de membro eretos e com ejaculação ultra irreal que têm como principal objetivo matar mulheres, e a dupla principal não é menos irreal que os próprios zumbis, e embora o argumento tenha uma temática complexa, The Taint é só um filme trash.
Tudo pela estética. E por isso amamos.
* Obs. Poderiam adicionar o poster da caveira, né? Hahahah! Ele é fantástico.
O Nó do Diabo
3.0 46 Assista AgoraSobre traumas deixados pelas fraturas históricas. Embora tenha alguns deslizes (mínimos) o filme é bem competente ao suscitar os fantasmas da história brasileira.
O Mal Que Nos Habita
3.6 534 Assista AgoraOlha. Eu não conheço o trabalho de Demián Rugna e tive contato com "When Evil Lurks" devido a notoriedade que ele adquiriu, entretanto em síntese, este filme é muito bom no sentido de nascer com alma de clássico, não se trata de um filme bom, trata-se de uma obra-prima realizada com esmero onde cada ponto, repito, cada ponto é minuciosamente trabalhado. Iria até gastar caracteres descrevendo a minha leitura sobre o filme, todavia se você veio ver as opiniões para tentar dar uma chance para o filme, pois bem, vai na fé. Vai que o filme é pica mesmo, é tudo isso que andam falando por aí.
O Ódio
4.2 314O discurso da violência social é bilíngue. A traçar um paralelo com a onda de abusos de poder que o Brasil vem vivendo esses últimos anos, o argumento é facilmente adaptável com a realidade de inúmeras zonas urbanas brasileiras. O espírito individualista revolucionário aliena três jovens parisiense, a fragilidade da relação entre sociedade e poder é apresentada logo na introdução e com isso o porquê das vinte e quatro horas seguintes.
Vinte e quatro horas sem rumo a um desfecho violento em nome de justiça. É uma balança social cujo peso é definido por valores deterministas.
Isso me lembra aquela canção "Selvagem" de Paralamas do Sucesso. Todo mundo apresenta suas armas, todavia mediante à conjectura social moral, sabemos que a violência institucionalidade é justificada como dever à lei. Já outros exercícios violentos são barbáries e tudo é válido para conter esse mal que assombra a sociedade moderna.
Em determinada parte é dito "Você pensa que isto aqui é um filme" (algo mais ou menos parecido com isso)
Conscientemente, embora passivos, gostaríamos que só fosse um filme.
O Exorcista: O Devoto
2.1 396 Assista AgoraEm 7 de Setembro deste mesmo ano (2023) estreou nos cinemas "Freira 2". Bem, esse é o parâmetro comparativo que quero deixar, afinal um dos principais erros de "Exorcista - O Devoto" é trazer em sua síntese uma nada essencial continuação (não sei bem dizer se é uma continuação) da obra-prima de William Peter Blatty e William Friedkin.
Quando penso no filme de 1973 vem à cabeça uma obra atemporal cujo argumento se sustenta do princípio ao fim, com nuances que passeiam entre ciência e religião, enfoque em personagens notoriamente necessários e uma narrativa que se transforma junto à personagem reafirmam o porquê de Exorcista ser um clássico.
Aí está o maior pecado do filme de David G. Green, a métrica comparativa é muito elevada, o filme não é de todos erros, alguns momentos a atmosfera é bem condutiva e a ausência de sonoplastia ajuda muito na criação da tensão, entretanto nos momentos mais tensos a direção parece manifestar um interesse grotesco em destruir isso e então simplesmente acaba com a tensão seja com um comentário frouxo ou uma mera fumacinha em CGI.
Green até tenta pegar de Friedkin algumas características, seja um plano fechado na cara da garota que é a réplica de Reagan ou os cortes para uma cena com barulho (dessa ele abusou em) mas falta um capricho.
Onde quero chegar, bem - comparado a "O Exorcista" (1973) o filme é um fiasco, todavia se pensarmos nele como um blockbuster de terror é de certa forma um filme competente comparado ao seu rival de gênero "A Freira 2" (2023).
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Deadstream
3.2 91Um "Evil Dead" contemporâneo na era da informação. Competente e criativo e se tratando de um trabalho independente, o filme realizado pelo casal Vanessa e Joseph Winter reafirma aquela velha história que “uma câmera na mão e uma ideia na cabeça” é um dos principais aliados do cinema.
V/H/S/85
2.4 67Penso que antologias caminham sobre corda bamba. Entre as possibilidades de acerto e erro (aqui se não me engano são cinco) o fator individual criativo sobressai na medida que a narrativa exibe a já famosas "lost tape" - essa é uma particularidade da série V/H/S que já tem em seus maneirismos seja narrativo ou estético. V/H/S 85 talvez precisasse de tempo, afinal tudo soa como se estivesse ultrapassado o tempo, então o bruto fosse submetido à cortes preguiçosos para atender ao prazo do lançamento. Bem, essa foi a primeira impressão que tive quando iniciou a primeira tape "Pet Sematary Wanna be"; contudo, essa impressão permaneceu predominantemente até a última tape (a menos interessante) não considero os seguimentos ruins, sobretudo alguns têm uma criatividade estética bem interessante, vide o "Tron, Synthpop e Modernidade Líquida" onde o argumento constrói uma espécie de crítica ao 'culto tecnológico' estruturado com em uma espécie de paráfrase de "A Sociedade do Espetáculo" mas, o fator aceleração deixa tudo muito confuso e somada alguns exageros estéticos da montagem desperta um sentimento de desinteresse somada a uma dor de cabeça.
Dito isso, o excesso deixou o filme a desejar, mas eu vou dar destaque a uma cena em específico. Talvez a melhor cena do filme inteiro: a perspectiva de um assassino ao som de Throbbing Gristle, sério, a música por si só é tenebrosa, somada a fotografia e direção ficou desconfortável e dialogou bem com a proposta da tape, entretanto, a pressa foi inimiga da perfeição, bem, ao menos do trabalho competente.
Jogos Mortais X
3.4 481 Assista AgoraRoteiro ok. Todavia, ele força uma empatia com John Kramer fazendo-nos esquecer da persona psicopata com um senso de justiça delirante. Com exceção do primeiro e segundo, eu não assisti aos demais filmes da série, então eu não tenho certeza se perdi algo.
Duas questões: filtro de fotografia quente nojento, cortes blasés sem dinâmica alguma e não tenho certeza, mas parece que os monitores das câmeras do galpão onde tudo ocorre são CGI.
Crueldade Mortal
3.5 10Atente-se
"Êxodo 21:24: "Olho por olho, dente por dente, mão por mão, pé por pé."
Deus, Moisés e violência. Afinal, é sobre isso que "Crueldade Mortal" (1976) argumenta, pode se dizer que a ideia central é: o homem mediante ao homem é sentença racional vocalizada pelo animalesco, cruel e sádico senso de justiça. Entretanto, o filme embora seja interessantíssimo nos momentos de oscilação mental de Antônio (Jofre Soares) e diga-se de passagem uma atuação competente (a única) as demais personagens são um misto de maneirismo e blasé que mesmo alguns tendo uma subenrendo não convence.
A respeito dos subenredos, eu acredito que existem somente para complementar o tempo necessário para um longa, o contrário não há propósito, o exemplo maior é o casal que resolve roubar o bar para ir embora da cidade, talvez haja um fator crítico ao espaço periférico e inóspito, por sua vez o casal mediante à violência e irracionalidade da cidade parte do imoral para acalmar as atribulações inspiradas pela falta de perspectiva.
Destrinchar o roteiro do filme propõe ótimas reflexões sobre questões sociais, a relação sociedade e religião, a falsa justiça social acima da ética e moral, sociedade e espetáculo etc.
O argumento é atual e se não me engano aqui nos comentários fizeram um paralelo com um caso real que ocorreu há uns anos na baixada santista e digo mais, o filme também fala do declínio do Flamengo, mas esse não é escopo para o objetivo central, o objeto em questão é, conforme um amigo utilizou aqui em um comentário, o "linchamento social" e a mimese de violência em justiça.
Por último e tão importante quanto, embora a sonoplastia em geral seja horrível às vezes parecia que eu estava ouvindo uma versão sonora mais orgânica daquele filme Ciberpunk Japonês (Tetsuo, 1989) eu sinceramente achei a parte de direção fantástica, uns planos ousados e diferentes, o plano da Cruz, a câmera em plano fechado no rosto de Antônio, um plano sequência com J e L e dada as limitações a direção é fantástica, sério. Agora não podemos dizer a parte da montagem, a passagem de tempo fica confusa ao amanhecer e sem contar que a cena do casal fugindo e que está ocorrendo uma queimada em um matagal, eu nem sei como foram parar naquela cena, mas a impressão que tenho é que faltou algum pedaço durante a montagem.
X: A Marca da Morte
3.4 1,2K Assista AgoraNão o vejo como um roteiro pretencioso, contrapartida é muito bem dirigido e tem uns momentos que a fotografia é um show à parte, as cenas do filme adulto são um exemplo, além disso temos um elenco muito bom com personagens bem construídos, exemplo Wayne, o sacana mais gente boa dos filmes slashers, e contramão ao estereótipo do gênero mostra-se uma figura centrada e passiva a diálogos para a resolução dos conflitos do grupo. Mas, embora haja essa distinção na construção de personagens, o roteiro impõe alguns maneirismos do gênero para ser desenvolvido, entre uma vilã que a direção inteligentemente constrói com uma áurea sobrenatural e uma nuance crítica ao corpo, as relações da carne com o tempo e o desejo, X (2022) é um competente slasher moderno.
Sobre isso.
Mia Goth é perfeita e acho que desenvolvi uma paixão platônica.
O Animal Cordial
3.4 618 Assista AgoraNão sei se perdi algo mas não me pegou não. E sendo justo o filme todo sussurrado deixou tudo muito menos interessante.
Cama de Gato
3.0 178A ODE do paulistano médio à modernidade. Antes de mais nada, eu vou recorrer a um fato que ocorrera em minha cidade em meados de 98. Em resumo; Uma garota de programa, 22 anos, foi arrastada por cerca de 2,5 km, o homem que a arrastou à época com 24 ou 25 anos, o típico 'badboy' classe média (alta) elaborou algumas 'verdades' para sustentar o homicídio culposo.
Cama de Gato (2002) traz em trama um delineado sombroso e mórbido sobre uma juventude que culminava a ideia do 'tudo posso e tudo devo' em uma era de frutos verdes do globalismo, entre uma direção que em certos momentos manifesta uma criatividade principiante e em outros uma certa preguiça, a fonte de direção é muito provavelmente as etílica Dogma 95, essa que sem moderação embebeda e entorpece, o que ocorre com o filme em questão visto que há uma tentativa de criar um manifesto, aka Trauma, manifesto esse que muito provavelmente não resultou em êxito (uma pena, eu adoraria ver mais filmes, inclusive fica a dica: quem quiser fazer algo dê-me um toque :) tenho uma câmera). Considero o filme mais acertos do que erro, especialmente com sua trilha sonora que chega ser um pecado não estar no spotify.
sobre os erros, confio que há um diálogo entre estética e argumento, senão as atuações um pouco anti-clima, o restante endossa esse retratado do paulistano classe média que vislumbrado com o poder adulto põe-se à frente da ética e subverte sendo o idólatra anarco das subversões dos valores.
Acredito que boa parte dos jovens adultos dessa época hoje tornaram-se reaças e são aqueles que começam o discurso moral para a nova geração da seguinte forma:
"Veja bem. Eu também já fui igual você, esquerdista e blá blá blá"
Cama de Gato (2002) não é o KIDS (1995) Brasileiro e em frente de batalha não é de longe um ótimo representante do neorrealismo brasileiro, Amarelo Manga (2002) saiu no mesmo ano, mas de certa forma é um filme único e charmoso e tem seu lugar na cinematografia brasileira.
Sobre a garota arrastada, estava grávida de 3 meses de seu assassino, arrastada por uma hora (de acordo com fontes) agonizou enquanto era exposta madrugada adentro por um jovem adulto inconsequente, a sentença do monstro só veio sair em 2019 (21 anos depois).
OBS:
Só eu vi um cu piscando nessa porra em uma cena à la Clube da Luta.
A Coisa
2.9 370Ao reassistir nota-se o tão problemático é cumprir a simples função de ser um filme. Penso que boa parte das pessoas o assistiu durante os tempos áureos de televisão aberta e sabemos que a nostalgia é amiga da mau senso. Entretanto, revê-lo mais adulto me fez perceber uma espécie de crítica ao corporativismo a passividade nos consumos de ultraprocessados e como o fator publicitário ajuda na passividade social quanto a isso, é um filme com uma crítica acentuada ao capitalismo e olhar por essa perspectiva deixa-o com um primor a mais.
Um ótimo trash
A Freira 2
2.6 421 Assista AgoraNormalmente filmes franquiados não demonstram narrativas trabalhadas, mas esse do 'invocaverso' é um deboche com o telespectador. Relíquia preciosíssima cuja casualidade ajuda a protagonista encontrá-la, um conglomerados de cristãos patéticos submissos à força do mal (cheguei a cogitar a eficácia do cristianismo neste universo, afinal o diabo pinta o sete dentro da casa de Deus) dois núcleos de personagens patéticos onde a casualidade (que recheia o filme) une-os a concluir o terceiro ato de maneira tedioso e sem grandiosidade (talvez, digo talvez forçando mesmo, as referências ao cânone católico pode até dar confete neste grande bolo de bosta).
Um Tira do Outro Mundo
3.3 38Re-Animator Wanna be. Entretanto, há um tom especial no roteiro que só toca para frente a narrativa dando impressão de longo take, o filme só acontece sem respeitar as próprias regras criadas pelo roteiro, destaque para a cena no açougue onde nitidamente todo o orçamento se encontra.
Não trata-se de um filme ruim, o contrário, é legal de assistir e eu não consigo entender o porquê de quatro pessoas marcar como "Não quero ver" todavia, eu consigo entender o porquê de dezesseis pessoas marcarem como favorito.
Guardiões da Galáxia: Vol. 3
4.2 800 Assista AgoraJames Gunn tem um tato bem singular para esse tipo de filme. Mais uma vez entrega um produto com mais certos do que erros (por exemplo um vilão aquém de uma conclusão de arco) e repleto de carisma. Trilha Sonora e uma atração à parte nos filmes do Guardiões (talvez nos filmes do Gunn) e essa em particular foi a que mais me cativou, bandas como Radiohead, The The, Faith no More e Beastie Boys embarcam a narrativa conduzida por Gunn e sua direção que rompe o padrão entalado dos filmes marvel.
Barbie
3.9 1,6K Assista AgoraInteligentíssimo dentro das possibilidades significativas. O ambiente plástico (literal e figurativamente) desenvolve um dilema entre a relação ser, sociedade e o produto. A existência da Barbie (personagem e produto) é questionada quando exposta a um mundo dubitável e suas regências (ideologias, consumo, corporativismo, família, vida, sentimentos etc); sobre o feminismo, talvez não haveria problemática social para sustentar o argumento que permeia as relações sociais, dessa forma acredito moldar conforme à necessidade de atender uma demanda, entretanto - eu enxerguei um filme consciente e autocrítico, contundente ao ponto de instigar a opinião pública a digladiar em nome de convicções, crenças e políticas.
No final.
É um filme da Barbie e como sempre dependerá exclusivamente de quem está consumindo.