Hitchcock disse uma vez: “A duração de um filme deveria estar diretamente relacionada à paciência da bexiga urinária humana.” (curso online “ROTEIRO DE CINEMA – UMA INTRODUÇÃO” por Hugo Moss)
A frase de Hitchcock sobre o quão é importante que um filme seja sucinto, não se aplica muito ao gênero western, já que a maioria dos filmes de western possui a característica de ter cenas longas e ociosas. Obras como a “Trilogia dos Dólares”, composta pelos filmes “Por um punhado de dólares”, “Por uns dólares a mais” e “Três homens em conflito” que na época que foram filmados eram considerados filmes de ação rápida, porém, ironicamente essa visão mudou e são considerados filmes lentos hoje em dia. A trilogia foi dirigida por Sergio Leone.
Em “Era uma Vez no Oeste”, dirigido também pelo italiano Sergio Leone, o foco do enredo é justamente o ritmo que o filme deve ter. Logo na primeira cena temos uma ideia de que estamos diante de um épico western. A obra inicia de forma crua com três homens de sobretudo chegando a uma estação de trem no meio do nada. Não sabemos o que querem e nem porque estão ali. Somos hipnotizados durante quase 15 minutos na primeira cena, ao som constante de um velho moinho e com a maximização dos sons naturais, como o vento, a goteira, o estalar de dedos e uma mosca persistente e irritante. Todo o som é voltado para essas pequenas coisas, tornando-as mais irritantes do que já são. Toda essa cena inicial tem apenas um diálogo e se sustenta apenas com o poder da imagem. O longa é extremamente lento, lírico e nostálgico. Há longos espaços sem diálogo e quando acontecem são marcados pela morbidez que acompanha os personagens no encalço da morte.
Em 1968, ano de lançamento de Era Uma Vez no Oeste, filmes do mesmo gênero estavam cada vez mais escassos, fazendo com que Era uma Vez no Oeste fosse considerado quase como que um velório para o gênero, por ter um tom narrativo lento que dá a característica de despedida, de adeus. O som e a trilha sonora têm importante papel em toda a construção do enredo. Desde a primeira cena, com o girar do velho moinho, as gotas que caem no chapéu e a mosca irritante, já mencionados anteriormente, até o desfecho do filme, onde o diretor Sergio Leone pediu a Ennio Morricone, compositor responsável pela trilha sonora, que cortasse a trilha antes do filme acabar, para dar a ideia de fim e ao mesmo tempo de um novo começo, já que o western apresentado em Era Uma vez no Oeste, já não é mais constituído com histórias de cowboys que chegam a uma pequena cidade, geralmente com apenas uma avenida e travam um duelo com alguém da região. Durante todo o filme nos é apresentado um mundo novo, com novas tecnologias e Sergio Leone nos dá uma visão nostálgica e paradoxalmente pessimista já que o filme cheira a morte e presenciamos a morte dos últimos pistoleiros violentos da região.
Como Sergio Leone mesmo disse: “O ritmo do filme pretendeu criar a sensação dos últimos suspiros que a pessoa exala antes de morrer. Era Uma Vez No Oeste é do começo ao fim, uma dança da morte. Todos os personagens, exceto Claudia (Cardinale), têm consciência de que não chegarão vivos no fim.” (Frase na capa do DVD de Era Uma Vez no Oeste)
Por: Daniel Lopes – Portal Crítico