Filho de Trauco (Hijo de Trauco), 2014 – Direção de Alan Fischer | Nota: 2/5
O longa chileno nos conta uma história baseada num mito do folclore local, sobre o Trauco. Trauco é uma espécie de duende que vive escondido nas regiões rurais do Chile à espera de mulheres jovens e solteiras, para com seus poderes sexuais místicos atraí-las e engravidá-las antes do casamento. Por isso que lá se diz, quando um filho não conhece o pai, ele é filho de Trauco.
O filme tenta misturar a narrativa de uma trágica história de um filho que não conheceu seu pai, que vive com a mãe e o avô, às crenças tradicionais chilenas e ao próprio imaginário do protagonista de 14 anos. Porém, falha nessa tarefa. A história parece se perder ao longo do filme e as interações de animação digital simplesmente não funcionam aqui e parecem fora de contexto (o que não quer dizer que não se possa misturar atuação real com animação na tela, o que dá muito certo, vide “Allegro Non Troppo”, os filmes de Terry Gilliam etc.). O ponto positivo é que o diretor não gasta isso, e essas interações que neste filme não funcionam, passam releváveis (contei apenas 03 durante a fita).
Saindo um dia, portando sua imaginação e os pedaços de história que sabe sobre a verdade da morte de seu pai, Jaime começa uma jornada que esperava ser mais longa, porém acaba não saindo de sua comunidade, porque lá encontra o bastante para se meter numa aventura até um pouco perigosa e encontra o seu par feminino.
A narrativa parece não se decidir entre a ação, o suspense, a fantasia e o drama. Embora seja elementos muito comuns de seu juntar no mesmo filme, aqui o responsável perdeu a mão na receita e o resultado final ficou indigesto. A história fica mal contada, o desenvolvimento dos personagens é fraco e o final é até um pouco dotado de “vergonha alheia”. Infelizmente. Porque a ideia era boa.
Por: Guilherme Augusto Ramos Alves
Foxcatcher – Uma História que Chocou o Mundo (Foxcatcher), 2014 – Direção de Bennett Miller | Nota: 5/5
Bennett Miller faz novamente o que fez de maneira competente em Capote [2005] e Moneyball [2011], retratando uma história real e trazendo sensibilidade para seus personagens.
Foxcatcher conta a história verídica do jovem lutador olímpico Mark Schultz [Channing Tatum] que, ao ser abordado por um técnico veterano e milionário [Steve Carell] para que Mark e seu irmão David [Mark Ruffalo] se mudassem para o seu enorme rancho a fim de treinarem e viverem lá viu uma possibilidade de mudança em sua vida. Porém, assim que os irmãos Schultz aceitam, as coisas em suas vidas começam a desandar.
Este filme é levado por suas performances e não poderia ser diferente tendo Steve Carell e Channing Tatum nas melhores performances de suas carreiras. Enquanto Tatum faz um personagem mais físico e perturbado, Carell dá um show como o milionário megalomaníaco. E apesar de trazer as risadas durante os poucos momentos cômicos, a performance que pode ser considerada a primeira realmente dramática da carreira de Carell é densa e traz uma profundidade necessária para o filme.
Outro setor que também merece todo reconhecimento é a maquiagem que transformou rostos hollywoodianos, como Tatum e Carell, em monstros irreconhecíveis. O roteiro é muito bem contextuado e bastante fiel aos fatos reais. Já a cinematografia destaca bem as performances dos três brilhantes atores, mas não chama muita atenção por si só.
O filme é cheio de pequenas subtramas - como a relação de Carell com a sua mãe e a eterna busca pela aprovação materna, ou o rancor da inevitável competitividade entre os irmãos Schultz -, contudo nenhuma é desnecessária e/ou mal explorada. Bennett Miller sabe conduzir uma história sem deixá-la cansativa ou apressada demais.
Faltando, mais ou menos, dez minutos para o fim do filme temos um evento surpreendente. Apesar de ser algo que aconteceu na realidade, não citarei aqui para evitar estragar a experiência dos espectadores. Mas é algo que acontece sem motivo e sem antecipação e deixa o público descadeirado.
Foxcatcher é um filme excelente, com performances magníficas e uma direção precisa. O filme é longo, mas compensa cada minuto e tem um twist no final que deixa um gosto amargo na boca de quem assiste. O amargo não é o melhor dos gostos, realmente, mas é sempre bom quando um filme deixa qualquer gosto em quem o assiste.
Por: Pedro Dib
Heróis Improváveis (Schweizer Helden), 2014 – Direção de Peter Luisi | Nota: 1/5
É sempre triste quando reconhecemos que a obra à qual estamos assistindo abandona o potencial mostrado em seu início. Heróis Improváveis é um exemplo: Começa interessante e engraçado até perder-se em subtramas mal concluídas.
A protagonista do filme é Sabine (Esther Gemsch), uma mulher divorciada cujos filhos vão passar o natal longe. Decepcionada por não obter a aprovação das colegas para liderar seu pequeno grupo de teatro de improviso, ela sai em uma caminhada e descobre um abrigo que serve de asilo para refugiados enquanto estes aguardam sua aprovação (ou não) para a entrada no país. Ela decide então organizar uma encenação de Guilherme Tell com os estrangeiros, mas será obrigada a lidar com seus problemas, com a barreira linguística (visto que nem todos falam bem o idioma alemão) e com o fato de que eles correm constantemente o risco de serem deportados.
Apesar de leves incoerências, Heróis Improváveis apresenta inicialmente uma energia agradável. Introduzindo Sabine com sua família (suas filhas e um homem que poderia ser tomado como seu marido, mas posteriormente descobrimos que ela é divorciada, então a identidade daquele homem permanece um mistério) e depois com suas colegas (pessoas extremamente fúteis que esnobam e tratam mal a protagonista, sem razão aparente) até seu contato com o asilo.
Lá, encontramos personagens extremamente distintos e todos com um imenso potencial, pelo menos em um primeiro momento. As dificuldades com o idioma e a interação entre estes proporciona diversos pequenos momentos de alegria e calor, essenciais em um filme assim. Porém, eis que o roteiro tenta desenvolver esses personagens por meio de subtramas, que vão de um romance que gera atritos com o pai da garota envolvida até a amargura de um homem por não conseguir contatar sua família, passando pela busca de um dos refugiados por uma parceira, entre outras.
Todas essas subtramas teriam o propósito de desenvolver os muitos personagens, o que se revela uma tarefa perigosa em um filme com tantos deles e tão pouco tempo (o filme tem apenas 94 minutos), e receio dizer que é aí que moram os problemas. As motivações desses refugiados muitas vezes necessitam de diálogos expositivos para serem reconhecidos pelo público, como em um momento específico no qual um personagem grita "espero que vocês sofram como meus irmãos sofreram!".
Até que chega ao ponto de mandar a peça, que seria o objetivo final da protagonista, para o segundo plano. Os momentos nos quais presenciamos os ensaios soam vazios e parecem não ter uma evolução.
Enquanto isso, os personagens vivem seus dilemas e seus dramas e as conclusões destes são extremamente anticlimáticas, fazendo com que inicialmente o espectador sinta empatia pelo personagem, apenas para depois vê-lo ter um fim rápido e simplesmente sair de cena sem nenhuma depuração. Isso quando o roteiro oferece de fato um fim à subtrama, visto que nem todas têm esse privilégio. Certos conflitos são estabelecidos apenas para nunca mais serem mencionados.
Tudo isso faz com que a energia agradável de Heróis Improváveis se esvaia. Apesar das brilhantes atuações e da ótima fotografia, é um filme que se perde e jamais consegue alcançar aquilo que seria essencial na narrativa: a preocupação com o destino das personagens.
Por: Luiz Moura
Os textos publicados aqui são colaborativos e de responsabilidade do usuário.Clique aqui para maiores informações.